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HISTÓRICO Psicossomática – termo cunhado no século XIX relacionado a condições como insônia, tuberculose, epilepsia e cancro (câncer). A história da psicossomática pode ser dividida em 2 grandes correntes: - correntes inspiradas na psicanálise - correntes de inspiração biológica, alicerçada no conceito de estresse (Dantzer, 1989). Mello-Filho (1992) aponta a evolução da psicossomática abrangendo 3 fases distintas: 1) Fase inicial/psicanalítica (interesse voltado para estudo da origem inconsciente das doenças – início século XIX) Alicerçada nos trabalhos de Freud sobre mecanismos de conversão. Embora Freud nunca tenha falado de fato sobre a psicossomática, ele não tinha como explicar na época como uma paralisia surgia sem nenhuma evidência de alteração ou lesão anato-patológica. O corpo serviria de expressão de um conflito inconsciente. Para Freud, existe uma interação entre psique e soma, que proporcionava aos “processos psíquicos inconscientes uma saída corporal”. 2) Fase intermediaria (influenciada pelos estudos de Pavlov e fisiologistas como Bernard, Cannon e Selye – início século XX) 2.1. Escola Psicossomática Americana Estados Unidos: interesse pela psicossomática surge por volta de 1930. 1929 – Cannon propõe conceito homeostase: qualquer estímulo, inclusive psicossocial, que perturba o organismo, perturba a sua totalidade. O movimento da Escola Psicossomática Americana vai se consolidar dos trabalhos de Alexander (1952) que propunha que fatores psicológicos causam e predispõe vários estágios patológicos. Para ele, o sintoma conversivo é uma expressão simbólica de um conteúdo “psicológico emocionalmente definido, cuja finalidade é expressar e aliviar tensões”. O alívio das tensões ocorreria através dos sistemas neuromusculares voluntário (lisa – gastrite, dermatite, rinite, bronquite...) e perceptivo. Teoria da especificidade (especificidade orgânica que é responsável pela fragilidade de determinados órgãos) Essa especificidade orgânica aliada a determinados conflitos psíquicos poderia levar ao aparecimento de determinadas doenças. 1956 – Hans Selye propõe o conceito de estresse e Síndrome Geral de Adaptação: ideia de como o corpo se modifica sob condições desfavoráveis – dirige os estudos para uma etiologia multifatorial das doenças. O corpo utiliza os sinais e sintomas sinalizando o adoecimento. 2.2. Escola Psicossomática Francesa Em oposição à escola americana, no final dos anos 1950, a França inicia a investigação em psicossomática com os trabalhos dos psicanalistas Marty e M’Uzan. Analisando a vida de pacientes psicossomáticos, perceberam que possuem uma vida onírica precária, pobreza simbólica e pouca capacidade de elaboração psíquica. Trata-se de um pensamento aprisionado ao concreto e à orientação pragmática. 2.3. Escola de Boston e o conceito de Alexitimia 1972 – Nemiah e Sifneos, analistas americanos, atentaram para a dificuldade de alguns pacientes psicossomáticos em expressar ou descrever emoções através da palavra. Perceberam nítida diferença entre a maneira de se comunicar entre pacientes psicossomáticos e neuróticos: - Neuróticos se queixam de sintomas emocionais e dificuldades psicológicas nas sessões. Conseguem fazer ligação entre o sofrimento emocional e o sintoma no corpo. - Alexitímicos davam maior importância aos sintomas somáticos (doenças corpóreas); os pensamentos são voltados para o mundo exterior em detrimento do mundo interior. Há então um funcionamento que, embora diferentes, andam em conjunto. O pensamento operatório está no concreto, já o Alexitímico é incapaz de descrever um estado interno (ex: medo, ansiedade, raiva...). Ambos podem vir juntos. PSICOSSOMÁTICA 3) Fase atual ou multidisciplinar (interdisciplinar, segundo a Vanessa): incorpora aspectos socio-culturais na etiologia da doença – todo ser humano é um ser humano biopsicossocial. Se ele adoece por estresse, pelo lugar que ele vive (marginalidade, esgoto a céu aberto, etc) se fala de uma doença psicossomática. 1981 – Ader marcou o início de uma nova abordagem multidisciplinar com a publicação de seu artigo: Psiconeuroimunologia: áreas que explora interações entre psíquico, sistema nervoso central e sistema imune e endócrino. Tálamo envia comandos para o hipotálamo que envia sinais para hipófise que envia comandos para as glândulas liberar hormônios. Nesta fase também são retomados conceitos de como o ambiente sociocultural pode influenciar na saúde e na doença. (Ex: controle do mosquito da dengue) Damásio (2004): homem é um organismo integrado e singular, “onde pensamentos desencadeiam emoções e estas, modificações no corpo”. PSICOSSOMÁTICA HOJE Mente X Corpo Visão dividida do homem. Muitos acreditam em um corpo que AGE e uma cabeça constituída por uma mente que SENTE. Especialização (fragmentação) conhecimento: Medicina: trata o ser humano como “mula sem cabeça”. Psicologia Clínica: vê o homem como um “fantasma”, que possui um psiquismo e que predomina sobre o corpo. (Rodrigues, 2000) Esse diálogo vai permitir a construção de novas informações e intervenções sobre o ser humano e o processo de adoecer. Psicossomática “Somos seres psicossomáticos” (Debray, 2001) fim da dualidade psique/soma ou mente/corpo. Toda doença é psicossomática porque incide em um ser provido sempre de soma e psique, inseparáveis, anatômica e funcionalmente. (Mello Filho, 1978) É uma palavra que designa a interface entre processos somáticos e psicológicos e que não deve ser utilizado no sentido de causalidade, mas no sentido de relações complexas que se dão entre mente e corpo. Doenças enunciam dificuldades do organismo em se ajustar a mudanças do ambiente interno e/ou externo. O adoecer, portanto, não deve ser visto do ponto de vista causal (seu filho “fez” febre/câncer...), mas como uma representação ou resposta do organismo. O indivíduo está em relação recíproca com outras pessoas, faz parte ativa de uma microestrutura familiar que está inserida na macroestrutura social, engajado na resolução de problemas referentes à sua existência no mundo. Da emoção ao sintoma Desde que o sujeito está inserido no mundo e se vê inserido no contexto das relações, vive conflitos, que é um estado de incongruência cognitiva. É querer algo e não poder fazer ou não querer fazer algo e ter que fazer. Oposição entre duas forças muito grandes entre desejo X prescrições morais. Esses estados de conflitos geram sensações de desconforto que desencadeiam processos emocionais. À medida que o sujeito vai se inserindo na cultura, isso tende a se repetir com mais frequência. Querer algo e alguém ou cultura impor que não pode/não deve, ou vice-versa, gera mobilização de afeto. Qual a relação que temos entre as emoções e as alterações fisiológicas? A emoção e alterações fisiológicas são processos que devem ser considerados separados, sendo um resultado do outro? A elevação da pressão arterial pode ocorrer sob a influência da raiva; é um componente fisiológico de um fenômeno complexo (Alexander, 1989). Então, não se trata de modificações fisiológicas produzirem modificações nos processos mentais. Alterações no nível do corpo ocorrem em termos fisiológicos e funcionais concomitantemente. Estados/alterações afetivas ocorrem simultaneamente a alterações funcionais nos órgãos. Estes se modificam conjuntamente (Pontes, 1980). Quando a mobilização de afeto é gerada, essa emoção busca forma de expressão por meio da linguagem. Se a expressão da emoção é bloqueada (normalmente por questões ideológicas/culturais): esta se expressa de forma de doença (via indireta). Desenvolve uma série de processos em SNC que faz com que aquele desconforto se manifeste de forma de doença. Se a interpretação gerou mudança no tônusafetivo, gerando um incomodo/desconforto, há ativação de algumas estruturas, principalmente ativação do eixo neuroendócrino e secreção de alguns hormônios. Em termos de resposta afetiva, há ativação de estruturações do sistema límbico. O mesmo ocorre com o tônus funcional dos órgãos (motilidade, secreção, circulação sanguínea da mucosa ou pele). A situação de conflito (geradora de emoção) é suficiente para originar transtornos funcionais (fisiológicos). A persistência dessa condição altera o funcionamento celular, acarretando lesões orgânicas (Pontes, 1980). As alterações no nível somático (decorrente da emoção) pode resultar na alteração da fibra muscular lisa que reveste vários órgãos e quando as perturbações ocorrem na motilidade: - Disfunções motoras no nível do aparelho digestivo; vômitos, diarreia, prisão de ventre; síndrome hipoestênica (disfunções do aparelho gastrointestinal) - Disfunções do aparelho respiratório: asma, bronquite - Disfunções do aparelho circulatório: hipertensão, enxaqueca, cefaleia tensional - Disfunções da pele: dermatites, eczemas, pruridos (coceira) Quando a disfunção é secretora, manifesta-se não só na produção de muco, mas também na produção de secreção endócrinas: - Alterações na produção de hormônios do aparelho digestivo, secreção gástrica, pancreática e biliar A disfunção na irrigação sanguínea nos órgãos pode ocasionar diminuição da resistência da mucosa a outros agentes agressivos – hemorragias e ulcerações. As alterações dessas 3 funções parciais ocorrem em combinações múltiplas, ao saber das mais variadas situações da vida e em variados graus: raiva, sentimentos de hostilidade, medo, dor (mal-estar), fome, humilhação, depressão, desesperança, tristeza, etc. Os sintomas são tentativas do organismo se ajustar. Enquanto ele tentar se ajustar, é visto como algo bom. A Medicina psicossomática – estuda relação dos processos mentais e corporais com ênfase na explicação da patologia somática (orgânica) (Alexander, 1989). Também se revela restritivo estudar a emoção em si; só poderemos entender o processo considerando o ser humano na interação com seu ambiente físico e psicossocial. Sabe-se que agentes estressores ambientais são tão potentes quanto microorganismos ou a insalubridade no desencadeamento de doenças. ALEXITIMIA E PENSAMENTO OPERATÓRIO Autores franceses e americanos encontraram características comuns e frequentes durante acompanhamento de pacientes definidos como psicossomáticos (que apresentavam quadros clínicos e nenhuma explicação biológica). Encontraram uma forma peculiar de pensamento e manejo de emoções. Marty e Múzan (1983) postularam a hipótese de uma estrutura psíquica, que não se encaixaria em nenhuma das estruturas neurótica, psicótica e perversa: Pensamento Operatório. Essa proposição não vingou muito. Sifneos (1983) assinalou que tais pacientes apresentavam dificuldades em descrever suas emoções e consequentemente até mesmo senti-las/vivenciar as emoções. Este autor criou o termo alexitimia: (do grego) A= ausência LEXIS= palavra TIMIA= ânimo, emoção Ausência de palavras para nomear e descrever emoções. A alexitimia e o pensamento operatório são termos amplamente utilizados. Deve-se ressaltar que estas características também são encontradas em outros paciente: a frequência é significativamente maior nos psicossomáticos. A clínica nos mostra que a característica dos pacientes operatórios, é muito comum em indivíduos que tem pouca capacidade de reflexão. Mas será que a pessoa realmente não tem capacidade de reflexão e descrever emoções ou porque nunca tiverem a oportunidade de estimulação a descrever emoções e sentimentos? Pensamento Operatório: pessoas que investem intensamente na realidade externa (pouca capacidade de simbolização, excessivamente pragmático, voltado para o concreto). Le Shan (1994) – pesquisa com pacientes com câncer: “todos davam a impressão de possuir maior energia emocional do que formas para manifestá-las”. Há afeto em sua vivência, mas muito provavelmente esse sujeito não encontra formas adequadas a demonstrar esse aspecto. A ausência de formas de expressão para as emoções e a incapacidade de manifestá-las afetavam os pacientes de duas formas: 1- Eram incapazes de dar vazão (expressar) seus sentimentos; de deixar que os demais soubessem quando estavam magoados, zangados ou hostis. Ficava claro que pacientes com câncer, nas mais variadas situações, sentiam dificuldade para demonstrar raiva ou agressividade em defesa própria. 2- Sempre achavam que o outro é que estaria certo e não protestavam. O sujeito que manifesta sintoma, ainda é uma tentativa de adaptação (na maioria dos casos). Para os pacientes Alexitimicos e Operatórios, essa dificuldade de expressar afeto e capacidade de reflexão faz com que eles tenham com mais frequência sintomas psicossomáticos. Pensamento Operatório trata o tempo dentro de limites preciosos e curtos; se liga somente a coisas concretas (pouca simbolização) e vê no médico uma figura que vai resolver seus problemas articulando-os com o real, de forma concreta, como se fosse um operador. Cuidado para não realizar correlações diretas entre características alexitímicas e psicossomáticas: pessoas com manifestações somáticas podem não apresentar características alexetímicas. Assim como os alexetímicos, são vistos sem indícios de manifestações somáticas (Nemiah, Freyberger e Signeos, 1976). Kristal (1973) coloca que o termo infans (de infância), do latim, significa “que não pode falar ainda”. É o meio ambiente (mãe/cuidadores) que nomeia os afetos do filho no início. Muitas vezes os pais criticam ou deixam dúvida quanto ao afeto da criança – lhe indicam o que deve ou não sentir, ou mesmo proíbem de sentir. O adulto alexitímico funciona como a criança não verbal, no que se relaciona a seus afetos. Não sabe medir seus afetos, ficando prejudicada. Nos operatórios ou alexitímicos, pensa-se que a família também seria alexitímica. Se esse alexitímico não teve referência em distinguir seus sentimentos e afetos, provavelmente ele cresceu em um ambiente o qual tinha essas características também. Sifneos e Nemiah (1974) levantaram a hipótese de que estes pacientes teriam uma predisposição biológica em dois níveis: - Nível central – neurológico: caracterizado por anormalidades morfológicas ou neuroquímicas no sistema límbico (que gera e modula emoções); Nem todos alexitimicos e operatórios são necessariamente psicossomático. - Nível periférico – visceral (simpático e parassimpático): caracterizada por alterações hormonais ou funcionais, sem as quais os estados psicossomáticos não apareciam. Sistema nervoso periférico > as entradas são sensoriais e saídas são viscerais. No sistema nervoso periférico tem um componente sensorial (entra no Sistema Nervoso Central) e um componente visceral (sai do Sistema Nervoso Central). Eles entram e saem dos nossos órgãos. Exemplo: o coração tem um componente sensorial que entra nele, e um componente visceral que sai do coração. A diferença entre um pensamento (sentimento) e uma emoção, do ponto de vista em ativação no corpo: quando nosso corpo muda, houve uma ativação da emoção – sistema nervoso simpático (ex: raiva, o coração bate mais forte, ativa secreção visceral). Por conta de uma deficiência visceral o sujeito não consegue descrever. O Operatório é aquele sujeito pragmático, que tem o pensamento muito voltado para o concreto, pouca capacidade de simbolização, pouca vida onírica... Normalmente ele é alexitimico, porque ele tem dificuldade em identificar seus afetos. O Alexitimico tende a ter dificuldade importante nas verbalizações e expressões de afeto. É aquele sujeito que não só tem dificuldade para falar o que estão sentindo,mas também para descrever/nomear. Nem todos são operatórios. Por que ele tem dificuldade em expressar suas emoções? Uma possibilidade está no SNC na questão de alterações morfológicas em sistema de neurotransmissão. Há uma dificuldade da expressão/reconhecimento do afeto/emoção, portanto, o corpo dele não muda. Esse problema em nível visceral impediria a ativação corpórea das emoções, que um estado emocional produz. Comum aparecer junto = operatório + alexitímico Comum aparecer isolado = alexitímico -- Processo de somatização e seus padrões de atribuição O paciente somatizador tende a ser ignorado/rejeitado, porque ele frequenta muito os serviços de saúde. São vistos como “pacientes-problema”, “poliqueixosos” e não são considerados verdadeiros doentes. Somatização é o processo onde diversos fatores e mecanismos interagem para o surgimento de queixas físicas (sintomas) sem a presença de alterações anatomopatológicas. Quando o indivíduo se vê diante de uma sensação somática a normal, este pode considerá-la como tendo uma de três distintas origens: • Sujeitos chamados de normatizador, de origem nas “coisas da vida”: ele considera que alguma coisa na rotina normal causou a sensação anômala no corpo dele. • Sujeitos chamados de somatizadores, de origem do próprio corpo: ele explica a sensação anômala que ele teve no corpo como causa de uma alteração orgânica digna de uma investigação. • Sujeitos chamados de psicologizador: ele explica os sintomas com base nos sintomas emocionais como origem. O somatizador vai ser somente um padrão de explicação e não uma tentativa de adaptação!!!! Como os fenômenos Ilness e Disease se relacionam à psicossomática Eisenberg formulou os seguintes conceitos abaixo, originados na antropologia médica, que foi utilizado por Helman em 2005: • Disease (doença – disfunção que ocorre no organismo) • Ilness (adoecimento – experiencia subjetiva que cada um vive, repercutindo nas relações sociais) A diferença entre os dois conceitos resume grande parte das dificuldades na relação médico-paciente. Para que se estabeleça um vínculo terapêutico realmente eficaz, deve-se cuidar da pessoa que adoeceu e não da sua doença. Porem, para cuidar da pessoa que adoeceu é preciso olhar para o processo de adoecimento. A grande dificuldade é que as queixas físicas são reconhecidas como legítimas pelos familiares e profissionais da saúde, enquanto as queixas psicológicas não encontram o mesmo grau de aceitação. Segundo Goldberg, Garcia e Kirmayer, existem as seguintes formas de apresentação do sofrimento emocional na busca de cuidados: • Pacientes psicologizadores: apresentam queixas psicológicas na consulta; padrão geralmente associado ao diagnostico mais rápido do problema por parte dos profissionais. • Pacientes somatizadores: apresentam queixas somáticas nas consultas. São divididos em: ➢ Opcionais ou de apresentação: o Geralmente agudos, muitas vezes sem transtorno psiquiátrico associado (como ansiedade ou depressão) o Facilmente reconhecem a origem psíquica de suas queixas quando o sofrimento emocional é abordado na consulta; o Tem pouca adesão ao papel de doente o Praticamente nenhum ganho secundário estabelecido o Pequeno comprometimento funcional e social ➢ Verdadeiros: Geralmente as queixas ocorrem em associação com transtornos psiquiátricos: o Correspondem as síndromes ditas funcionais (fibromialgia, colón irritável, fadiga crônica, entre outras) o Demonstram grande adesão ao papel de doente (normalmente há ganho secundário) o Geralmente negam a presença de qualquer queixa de sintomas psicológicos (porque não conseguem fazer a conexão entre sintomas psicológicos e somáticos) o Apresentam curso crônico com grande comprometimento funcional, social e laborativo Diante disso, Lipowsky coloca que a somatização se refere à: o Presença de sintomas físicos sem explicação médica o Os sintomas não apresentam substrato anatomopatológoco que os justifiquem o Verifica-se que os sintomas estão associados a sofrimento psicológico e ate mesmo a transtornos mentais – pode ocorrer dessa associação não ser reconhecida pelo paciente o Levam a busca de tratamento médico com uma demanda de cuidado para a sua solução Ex: na fibromialgia, como na maioria das síndromes funcionais, não se detecta lesão específica. O sintoma não é a dor, embora para o paciente seja. O sintoma é o processo inflamatório. Mas estudos já consideram alterações fisiopatológicas que aparecem envolver alterações neuroquímicas e processos de hipersensibilização neuronal: o Hipersensibilização neuronal: anormalidades no sistema aferente envolvido no processamento de informações sensoriais – ampliação de estímulos. o No caso da fibromialgia, parece haver também diminuição da atividade descendente inibitória córtico-espinhal e alterações nos níveis de serotonina e noradrenalina. Psicoimunologia e doenças psicossomáticas Quando o sujeito está sob estresse crônico, o eixo neuroendócrino será ativado. O hipotálamo secreta o hormônio CRH (corticotrófico) que irá agir na hipófise liberando o hormônio ACTH (adrenocorticotrófico, alimentando o córtex da adrenal). O hormônio ACTH vai agir nas glândulas adrenais (na parte externa) secretando cortisol. Com uma interpretação de ameaça (pq o sujeito está sob estresse), a amígdala vai enviar um sinal para todas as estruturas do SNC e o hipotálamo vai secretar CRH, precursor adrenal. Será estimulado então, a hipófise a liberar hormônio adrenocorticotrófico na corrente sanguínea. Quando o hormônio é liberado na corrente sanguínea, ele chega nas adrenais para fazer o córtex das glândulas adrenais liberar cortisol. Então, os estressores psicológicos e vivenciais são mais poderosos e potentes na ativação do SNS e eixo HHA. Temos 2 tipos diferentes de resposta: • Resposta imediata/aguda ao estresse: a hipófise vai estimular a medula (parte interna da adrenal) a liberar adrenalina, sob a influência de citocinas, servindo de sinalização inicial e consequentemente inflamação (é aí que acontece a estimulação do sistema imune – daí os clássicos sinais de dor, rubor, turgor e calor, febre e lassidão). • Resposta prolongada ao estresse: há uma mudança de padrão – quando o sujeito é exposto de forma prolongada a estressores, seja real ou fruto de interpretação, mas de forma crônica, sai de um padrão que desloca a homeostase o tempo todo desse indivíduo, ocorrendo a ativação do sistema de defesa que está no encéfalo. Esse sistema de defesa é composto pela amigdala e pelo hipocampo, que passa a ativar cronicamente a hipófise, que passa a estimular cronicamente o córtex da adrenal a produzir cortisol (hormônio do estresse). Pensamentos e emoções são produtos de atividade física do encéfalo. Se os pensamentos e a evocação de afeto é produto de atividade física do encéfalo, quando interpreto um contexto como ameaçador, meu sistema de defesa acende a sirene da amigdala enviando mensagem de alerta para todo o encéfalo. A amigdala também envia projeções ao córtex atribuindo significado às coisas. Sistema imune Se um micro-organismo penetrar no organismo (através do sistema respiratório, digestório e/ou dermatológico), este é transportado do líquido intersticial (líquido extracelular – citosol) pelos vasos linfáticos até o linfoide para ser destruído (pela fagocitose, liberando enzimas no micro-organismo degradando-o). Tipos de linfócitos: • Linfócitos T (células T – três tipos): o Linfócitos Th (linfócitos auxiliares – do inglês helper): auxiliam na produção de anticorpos pelos linfócitos B; atuam também no que diz respeito a rejeição de transplantes. o Linfócitos T citotóxicos (eliminam as células que estão em processo de degradação): reconhecem antígenos (proteínas) em células infectadas e as matam. o Linfócitos T regulatório ou supressor:limitam a ativação de outros linfócitos, prevenindo atividade autoimune, das doenças autoimunes. • Linfócitos B (células B). Sistema imune e sistema neuroendócrino Linfócitos Th são divididos em Th1 e Th2: • Linfócitos Th1: são importantes por promover reação inflamatória que é benéfica para o início da resposta imune. Liberam citocinas (sinalizadoras) que ativam os macrófagos (células que fazem fagocitose), estimulando a ingestão e morte de micro-organismos. Sem resposta inflamatória inicial, nosso sistema imune não vale de nada. • Linfócitos Th2: liberam citocinas que induzem a produção de anticorpos (principalmente o IgE). A regulação do SNC sobre o sistema imune se estabelece principalmente pela resposta hormonal de liberação de gicocorticóides. O cortisol é o regulador do sistema imune. Quando os níveis de cortisol começam a oscilar demais, o que bagunça é o sistema imune (principalmente o sistema respiratório, gastrointestinal e dermatológico). Nas fases de estresse, no modelo quadrifásico de Lipp (fase de alerta, resistência, quase exaustão e exaustão): • Na fase de alerta, há o hiperfuncionamento (ativação do SNS) do eixo HHA, aumentando o cortisol e a resposta imune (inata + adaptativa). Quando o estresse se torna crônico, há persistência e conicidade dos altos níveis de cortisol. Com isso, há um desequilíbrio no funcionamento do sistema imune – esse desequilíbrio é abarcado principalmente entre os sistemas Th1 e Th2. O sistema imune pode ser: o Inato: composta por células componentes do sistema imune que nascem com o indivíduo. É ativada pela penetração de patógenos dotados de propriedades proliferativas no meio orgânico. o Adaptativo (adquirido): varia à medida que um conjunto de células (linfócito T e B) reage em um primeiro contato com o antígeno. A resposta adaptativa possui memória e passa de uma resposta inicial para uma resposta altamente eficaz, muito rica em anticorpos e células de defesa. • Na fase de resistência, continua um hiperfuncionamento do eixo HHA, com alto nível de cortisol e alto nível de funcionamento do sistema imune (inata e adaptativa). A amígdala está sendo estimulada, estimulando o hipotálamo mandando a hipófise secretar CRH, e a hipófise está secretando o cortisol. Quando a adrenal secreta cortisol, os altos níveis de cortisol chegam até o SNC. O próprio hipotálamo, enquanto funções do SNC, é a homeostase corpórea (temperatura, pressão arterial, frequência respiratória e cardíaca) e quando ele detecta que tem muito cortisol na corrente sanguínea, ele deixa de estimular a hipófise, uma vez que ele entende que já há muito cortisol no sistema, deixando de estimular a adrenal. Quando o hipotálamo deixa de estimular a hipófise, esta deixa de estimular a adrenal e os níveis de cortisol despencam bruscamente. Essa diminuição acontece por feedback negativo (porque os próprios aumentos geram a sua diminuição em uma tentativa de reestabelecer equilíbrio e homeostase). Esse feedback negativo coincide com a fase de exaustão, ocorrendo um hipofuncionamento do eixo HHA (funcionamento diminuído) onde os níveis de cortisol caem e a partir disso o sistema imune (inata). É nesta fase que o indivíduo apresenta sintomas de fato, ocorrendo o adoecimento. Em contrapartida, a resposta imune intermediada pelas células Th1 diminuem e ficamos mais suscetíveis a infecções, havendo um aumento na intensidade e duração das respostas inflamatórias mediadas por células Th2 (imunidade adaptativa – ativação dos anticorpos IgE) promovendo alergias e doenças autoimunes. Supõe-se ainda que uma atividade diminuída de células T supressoras permitiria esse tipo de reação. Seu objetivo é regular o funcionamento de outras células do sistema imune. Sabe-se que o estresse via ação neuroendócrina pode modificar o funcionamento do sistema imune, incluindo sua atividade supressora. Doença autoimune é falta de ação supressora do sistema imune. Doenças alérgicas Os alérgicos possuem predisposição genética a formar anticorpos em maior quantidade para antígenos (proteínas) que são comuns/inócuos do meio ambiente (fungos, epitélios de animais, microparasitos). Imagina-se que alérgicos sofram de um desequilíbrio entre citocinas produzidas por células Th1 e citocinas produzidas por células Th2, predispondo-os às reações alérgicas. Os linfócitos Th dos alérgicos diante desses antígenos dão origem a linfócitos Th2 (favorecem reações alérgicas). À medida que o sujeito vai entrando em contato com os antígenos, é como se a reação alérgica ficasse cada vez mais violenta. Exposições posteriores ao antígeno geram uma hipersensibilização (respostas imunes exageradas). Essas reações de hipersensibilidade mediada por IgE são denominadas alergia ou atopia (reações alérgicas muito fortes). Essas reações de hipersensibilidade podem ocorrer de 2 formas: 1. As respostas a antígenos tornam-se desequilibradas, resultando em lesão tecidual: ocorre uma reação entre anticorpos IgE e mastócitos (células do sistema imune que teriam função de liberar enzimas para digerir esses microorganismos) a determinados antígenos que resulta em dilatação vascular e secreções de mucosas, geralmente acompanhado por inflamação. 2. As respostas imunes podem ser direcionadas contra constituintes do próprio organismo (auto-antígenos) resultando nas doenças auto-imunes: anticorpos não IgE podem se ligar a proteínas do próprio corpo nas células ou nos tecidos ou formar complexos imunes que se depositam nos vasos sanguíneos, gerando manifestações sistêmicas que se apresentam pela vasculite difusa (inflamação da parede do vaso: estreitamento calibre vascular e isquemia/obstrução). Quando esses complexos imunes não IgE se ligam e se depositam também nos vasos sanguíneos, causa a artrite. A reação antígeno-anticorpo estimula uma cadeia de reações que culmina na destruição celular e necrose tissular, com consequências para o órgão ou sistema atingido. Manifestações autoimune mais comuns: • Hipertireoidismo: anticorpos se ligam aos receptores do hormônio que seria o estimulador da tireóide (TSH). • Miastenia grave: o anticorpo impede a ligação de um neurotransmissor importante (acetilcolina) na junção muscular. Fraqueza muscular, falta de ar, cansaço excessivo, dificuldade para mastigar e engolir, visão dupla e pálpebras caídas. Doença neurodegenerativa. Uma tentativa de tratamento seria introduzir imunossupressores para tentar diminuir atividade exagerada do sistema imune. Mas o problema é que o sistema imune dessa pessoa irá rebaixar, ficando suscetível a uma infecção e pode até mesmo morrer. • Lúpus Eritematoso Sistêmico: nesta condição, há a formação de inúmeros auto-antígenos e auto-anticorpos que “encalham” nos vasos sanguíneos de múltiplos tecidos nobres do organismo produzindo lesões: Eritema cutânceo, Artrite, Nefrite, Lesão Cerebral. Doenças Multissistêmicas: não se pode determinar qual órgão ou sistema será afetado. Alterações Dermatoloficas: alopcia, sensibilidade solar, lesões cutâneas Alterações SNC: convulsões, confusão mental, psicoses Alterações Rins: lesão tecido renal – insuficiência renal • Doenças Inflamatórias do Intestino (DII): caracterizada por um processo inflamatório da parede intestinal. Em função dessa inflamação, existe um quadro marcado por diarreia, que pode ser acompanhada de muco e sangue, podendo ocorrer verdadeiras hemorragias intestinais. • Esclerose múltipla: ocorre uma desmielinização no SNC, causando disfunção sensorial e motora. Anticorpos nas bainhas de mielina e não deixa transitar entre os neurônios. • Diabetes melito tipo 1: lesão das ilhotas pancreáticas – pâncreas não produz insulina porque o sistema imune da criança ataca as células pancreáticas, prejudicando o metabolismo de glicose e causando doença vascular. • Artrite reumatoide: inflamação sinovial e erosão de cartilageme ossos nas articulações. Entre a articulação tem um líquido que lubrifica a articulação, chamado de sinovial.
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