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Artigo 4 - Desdobramento da Posse

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1 
DESDOBRAMENTO DA POSSE 
 
Rogério Ribeiro Domingues 
Advogado 
Professor de Direito Civil da Universidade Cândido Mendes 
Ex-Professor de Direito Civil da Universidade Estácio de Sá 
 
RESUMO 
 
Este estudo tem por objeto o desdobramento da posse em mediata e imediata, com o exame de 
sua origem, com análise do direito romano, onde era admitida a divisão entre duas pessoas das 
vantagens de só uma posse, até a coexistência de duas posses sobre a mesma coisa, que surge 
no século XX com o Código Civil alemão, bem como as diversas situações especiais que há 
no direito moderno, que não se confundem com a composse. 
 
Palavras-chave: Posse Direta. Posse Indireta. Desdobramento voluntário da posse. 
Desdobramento legal da posse. Composse. 
 
RÉSUMÉ 
 
Cette étude a pour objetc le partage de la possession en mediate et immédiate, avec l´examen 
de son origine et I´analyse du droit romain, où le partage entre deux persones des avantages 
d´une seule possession était admis, jusqu'à a la coexistence de deux possessions sur la même 
chose, qui émerge au XXe siècle avec le Code Civil Allemand, et aussi sur les différentes 
situations particulières qui existent dans le droit moderne, qui ne doivent pas être confondues 
avec la possession comun. 
 
Mots clés: Possession directe. Possession indirecte. Partage volontaire de la possession. 
Partage legal de la possession. Possession comun. 
 
 
 
 
 
2 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 2 
2 POSSE DIRETA ............................................................................................................. 3 
3 POSSE INDIRETA ......................................................................................................... 5 
4 SITUAÇÕES ESPECIAIS ............................................................................................. 6 
4.1 DO INVENTARIANTE.................................................................................................... 7 
4.2 DO CURADOR E DO TUTOR ........................................................................................ 7 
4.3 DO PODER FAMILIAR .................................................................................................. 8 
4.4 DA PESSOA JURÍDICA .................................................................................................. 9 
4.5 DO DESCOBRIDOR ........................................................................................................ 9 
5 ORIGEM ........................................................................................................................ 10 
6 PROTEÇÃO POSSESSÓRIA ..................................................................................... 13 
7 COMPOSSE .................................................................................................................. 14 
8 CONCLUSÃO ............................................................................................................... 15 
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 15 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
O desdobramento da posse em direta ou imediata e indireta ou mediata não constitui 
uma classificação, mas sim uma cisão que eventualmente pode advir à posse. Quando se 
classifica a posse ela há de ser forçosamente legítima ou ilegítima. Se ilegítima será 
necessariamente justa ou injusta e de boa-fé ou de má-fé, já que se for legítima será sempre 
justa e de boa-fé. O desdobramento ocorre quando o possuidor cede a utilização da coisa a 
outrem, que passa a possui-la por direito próprio, diferentemente do detentor, mas em nome 
alheio, por força de relação jurídica com o possuidor, que, ao ceder a detenção direta da coisa, 
conserva um poder mediato sobre ela. Para que haja o desdobramento é necessária uma 
relação jurídica na qual o possuidor transfere a outra pessoa a utilização da coisa. Se tal não se 
der não há que se falar em posse direta e indireta, pois haverá simplesmente posse, que alguns 
doutrinadores denominam posse plena. Logo, o desdobramento da posse é eventual. 
 
 
3 
Pontes de Miranda1, para quem a posse situa-se fora do mundo do direito, nega que a 
relação, da qual resulta o desdobramento, seja jurídica. Para ele a relação é fática, sendo 
impertinente exigir-se-lhe validade ou eficácia jurídica. Refutando que seja jurídica a 
subordinação da posse imediata à mediata dá como exemplo a posse direta do locatário sem 
que tenha havido efetivamente locação, como nos casos de contrato inexistente ou nulo, 
arrematando: “o possuidor imediato só o é porque se porta como tal, e não porque exista a 
relação jurídica da locação”. .2 
Como situamos a posse dentro do mundo jurídico, constituindo inclusive um direito, 
mesmo atrelado ao fato da posse, entendemos que se impõe uma relação jurídica, ainda que 
seja inexistente, nula ou ilícita, para que haja o desdobramento. José Carlos Moreira Alves3, 
opondo-se a Pontes de Miranda, diz que, se a posse fosse um puro estado de fato situado no 
campo do mundo extrajurídico, não bastaria saber que os sujeitos da posse são as pessoas. 
Seria mister examinar, quanto às pessoas físicas, estarem dotadas de consciência e vontade. 
Para Moreira Alves essa investigação seria necessária, pois no mundo fático é preciso a 
vontade para configurar a posse. Concordamos plenamente, vez que a capacidade de direito 
seria insuficiente ao titular da posse. Haveria precisão de capacidade de fato. 
 
2 POSSE DIRETA 
 
Para haver posse direta é porque alguém tem a posse indireta. O proprietário que 
possui, assim como o esbulhador, tem simplesmente posse. Quando, por conta de uma relação 
jurídica, o possuidor desdobra sua posse, cedendo a utilização da coisa a outrem, este, embora 
exerça a posse por direito próprio, o faz em nome alheio, sendo sua posse imprestável para 
fins de usucapião. Quando o possuidor direto recusa-se a devolver a coisa ao possuidor 
indireto, quando instado a tanto, ele pratica esbulho possessório, põe fim ao desdobramento e 
transforma sua posse direta em posse precária, que, por ser exercida em nome próprio, com 
“animus domini”, é “ad usucapionem”. É completamente equivocado e inócuo o raciocínio 
jurídico no sentido de que a posse precária convalida por razões de ordem constitucional, com 
a invocação da função social da posse, do direito à moradia e outras razões assemelhadas, 
podendo, a partir do suposto convalescimento, quando haveria a manifesta mudança do 
“animus” do possuidor precarista, tornar-se “ad usucapionem”. 
 
1 MIRANDA, Francisco Cavalcanti Pontes de. Tratado de Direito Privado. 3.ed. Rio de Janeiro: Borsoi, 1971. 
Tomo X. Cap. II, §1071- 1, p.96. 
2 Ibidem, §1071- 3, p.99. 
3 ALVES, José Carlos Moreira. Posse. 2.ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999. Tomo I. v. II, Cap. III-12, p.149. 
 
 
4 
Ora, como é cristalino, a posse direta não leva à propriedade pela usucapião, tanto por 
ser exercida em nome alheio, malgrado por direito próprio, como por coexistir com a posse 
indireta de quem cedeu, temporariamente, a posse direta. Mas, no momento em que há a 
recusa em restituir a coisa, acaba o desdobramento, o possuidor indireto é esbulhado e a posse 
do esbulhador, que era direta, passa a ser precária, sendo de sua essência ser exercida em 
nome próprio. Assim, como qualquer posse “pro suo”, é “ad usucapionem”. Não há um 
momento em que o vício convalesce na precariedade e a posse se torna “ad usucapionem”. A 
posse precária surge na ocasião do esbulho com a recusa em restituir. É um vício que não é 
sanável, por haver permanente abuso de confiança, ao contrário da violência e da 
clandestinidade, que cessam. Mas é um vício que gera efeitos “ad interdicta” e “ad 
usucapionem” desde que surge, pondo fim ao desdobramento da posse, por ser exercida como 
própriadesde que a posse direta, ou até mesmo a detenção, se tornou posse precária. 
É importante não confundir a utilização da coisa pelo dono ou outro que possua em 
seu próprio nome, com ou sem boa-fé, com a posse direta. Esse erro é frequente, tendo o 
legislador, de modo injustificável, feito referência à posse direta no artigo 1240-A, do Código 
Civil, quando deveria ter dito posse exclusiva. O Enunciado 502, da V Jornada de Direito 
Civil, não é feliz ao dispor: “O conceito de posse direta referido no art. 1240-A do Código 
Civil não coincide com a acepção empregada no art. 1197 do mesmo Código”. Melhor seria 
dizer que se trata de posse exclusiva, que é o que o legislador tinha em mente, já que é um 
despropósito cogitar que o cônjuge que permanece no imóvel comum tenha posse direta. Se 
assim fosse o cônjuge ausente teria posse indireta e não poderia haver usucapião. 
Com acerto Paulo Nader4 afirma que “quando todos os poderes se reúnem na pessoa 
do proprietário, a posse se apresenta sem qualquer adjetivação, embora alguns prefiram 
denominá-la “posse absoluta” ou “plena””. Orlando Gomes5 diz que posse indireta “é a que o 
proprietário conserva quando se demite, temporariamente, de um dos direitos fundamentais do 
domínio, cedendo a outrem o seu exercício”. Mas tal não se dá apenas com o proprietário. 
Para desdobrar a posse, cedendo a utilização direta da coisa a outra pessoa, basta que a posse 
seja “pro suo”. Aquele que se encontra na posse, supondo ser dono, com boa-fé, pode 
desdobrá-la. Do mesmo modo o esbulhador pode fazê-lo. A legitimidade da posse é 
 
4 NADER, Paulo. Curso de Direito Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2006. v. 4. Cap. III-18, p. 50. 
5 GOMES, Orlando. Direito Reais. 8.ed. Rio de Janeiro: Forense, 1983. Cap. IV-28, p. 42. 
 
 
5 
irrelevante, como ensina Marco Aurélio Bezerra de Melo6, nada impedindo que o esbulhador 
dê em locação o imóvel esbulhado. 
Se o proprietário der seu imóvel em usufruto a posse estará desdobrada, permanecendo 
o dono com a posse indireta, cabendo ao usufrutuário a posse direta. Mas, se esse usufrutuário 
der esse imóvel em locação a terceiro, este terá a posse direta, restando ao usufrutuário e ao 
dono a posse indireta. Pode ocorrer de o proprietário vir a ter a posse direta desse imóvel, se 
vier a locá-lo do usufrutuário. Terá então, esse proprietário, a posse indireta e a posse direta, 
sem tê-la de modo pleno. Pode vir até mesmo a ser detentor da coisa se o possuidor direto o 
permitir, sem decair de sua posse indireta. Se ocorrer desse imóvel vir a ser esbulhado por 
alguém, este terá posse, que não será direta, tampouco indireta, por isto que não houve 
desdobramento. O proprietário e o usufrutuário terão perdido suas posses indiretas e o 
locatário a posse direta. Todos foram desapossados e o esbulhador estará simplesmente na 
posse. Todavia, se esse esbulhador der em locação o imóvel esbulhado, ocorrerá novo 
desdobramento, ficando o esbulhador com a posse indireta e o locatário com a direta. 
 
3 POSSE INDIRETA 
 
Tem posse indireta ou mediata o possuidor que através de uma relação jurídica, seja de 
direito real ou obrigacional, cede a utilização da coisa a outrem, que passa a ser possuidor 
direto ou imediato. Não é preciso que seja proprietário, sequer que tenha direito para estar na 
posse, como o usufrutuário e o locatário, quando dão a coisa em locação ou sublocação, 
respectivamente. Basta que haja posse própria, isto é, que não seja exercida em nome alheio. 
Para simplificar podemos dizer que é suficiente para poder desdobrar a posse que ela seja 
plena, ou, vendo por outro ângulo, se a posse não é desdobrada é plena e própria. 
Ao contrário da posse direta, a posse indireta pode ser “ad usucapionem”. Se ocorrer 
de uma pessoa ter posse ilegítima, mas própria, e desdobrá-la, poderá, preenchido o lapso 
temporal, adquirir o domínio pela usucapião, por ser a posse indireta, neste caso, exercida 
como dono. Pode ocorrer com o possuidor de boa-fé, que crê ser dono, e com o possuidor de 
má-fé, cabendo-lhes respectivamente a usucapião ordinária e a extraordinária. Mas pode não 
ser “ad usucapionem”, como a do usufrutuário que loca a coisa recebida em usufruto, 
 
6 MELO, Marco Aurélio Bezerra de. Direito Civil: Coisas. 2.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017. Cap. II-8.1, p. 
35 -“Para que haja desdobramento da posse não é necessário que o possuidor indireto seja proprietário do 
bem, bastando que seja titular de posse, mesmo que essa posse não seja legítima à luz do ordenamento jurídico, 
pois, nesse caso, com o desdobramento, o que terá efeito será a visibilidade do direito à posse, ressalvada a 
hipótese de má-fe do possuidor direto.” 
 
 
6 
tornando-se possuidor indireto. Essa posse mediata não será “ad usucapionem” por não ser 
“pro suo”, faltando-lhe o “animus domini”. 
A possibilidade de usucapir é, ao nosso ver, uma prova de que a posse indireta não é 
mera ficção, como defendem alguns doutrinadores. Gondim Neto7 afirma que a posse indireta 
não é, na realidade, posse como a dos demais possuidores, constituindo mera ficção. No 
entanto, se considerarmos a posse como o exercício de um dos poderes da propriedade, nos 
termos do artigo 1196, do Código Civil, o possuidor indireto, se for proprietário, pode alienar, 
como salienta San Tiago Dantas8, e dispõe da ação reivindicatória. Se o possuidor indireto 
tiver posse ilegítima, com ou sem boa-fé, poderá propor a ação de usucapião, que tem como 
pressuposto a posse. Ora, não há como negar que a posse indireta é uma posse real, não 
constituindo ficção. Além do poder de conceder a posse direta a outrem, da possibilidade de 
torná-la plena com a extinção da posse direta e de poder usucapir, o possuidor indireto pode 
exercer dois dos poderes inerentes à propriedade, quais sejam, dispor (alienar) e reaver. 
Como ensina Pontes de Miranda9 o desdobramento da posse não é ficção, decorrendo 
da evolução histórica da posse. Uma vez que os suportes fáticos das detenções do locatário, 
do comodatário e outras tornaram-se posse, umas sobrepondo-se a outras, restou apenas o 
problema de terminologia. Sustenta o grande jurista10 que a posse indireta não está fora da 
definição de posse, saindo do mundo fático. A legitimação para as ações reivindicatória e de 
usucapião comprovam que a posse indireta é poder fático. Com propriedade Orlando Gomes11 
diz que “pouco importa, porém, que a posse indireta seja uma ficção como alguns sustentam. 
As necessidades do comércio jurídico justificam-na”. 
 
4 SITUAÇÕES ESPECIAIS 
 
 
7 GONDIM NETO, Joaquim Guedes Corrêa. Posse Indireta. Recife: Imprensa Industrial, 1943. Cap. Primeiro, 
p. 9 - “A posse indireta não é, na realidade, aquilo que as palavras parecem indicar, não é posse como a dos 
outros possuidores, constitue unicamente uma ficção, que se reduz ao direito de exercer, subsidiariamente, as 
ações possessórias, para reprimir atos ilegais praticados contra o verdadeiro possuidor. Não vai além a 
importância da posse indireta.” 
8 DANTAS, San Tiago. Programa de Direito Civil III. Rio de Janeiro: Editora Rio, 1979. Cap. III, p. 54 -“Por 
outro lado, o dono, se perde a detenção da coisa em proveito do possuidor derivado, também deve ser 
considerado possuidor, em virtude da própria conceituação da posse, que se apresenta como o exercício de um 
dos poderes inerentes ao domínio. Ora, uma das formas deste exercício está, por exemplo, em locar, em 
depositar, em comprar, em praticar enfim todos os atos de disposição ou de gozo de utilidades, que só o 
dominus pode praticar. Alugar. Por exemplo, a coisa é uma das maneiras de exercer o domínio, mas o 
proprietário conserva outras, como a de alienar, de tal maneira que continua a haver nas mãos dele uma posse, 
embora uma posse mais difícil de provar, em virtude da falta de detenção, mas, nem por isso, deixa de ser 
provada. ” 
9 MIRANDA, Op. Cit., Tomo X. Cap. II, §1064-9-1979, p.53-54. 
10 Ibidem,§1064-3, p. 44. 
11 GOMES, Op. Cit., Cap. IV-27, p.41. 
 
 
7 
Situações há em que o desdobramento da posse não decorre de relações jurídicas 
voluntárias, mas sim da lei, como ocorre com o inventariante e o herdeiro, o curador e o 
incapaz, o tutor e o menor e no poder familiar. Merecem exame situações em que, ao nosso 
ver, não há desdobramento, como a da pessoa jurídica e a do nascituro, e em que pode haver 
ou não o desdobramento, como a daquele que encontra algo perdido. 
 
4.1 DO INVENTARIANTE 
 
Pelo princípio da “saisine”, adotado em nosso direito sucessório, o herdeiro legítimo 
ou testamentário entra na posse da herança quando da abertura da sucessão. Contudo, o 
Código Civil confere a administração dos bens da herança ao inventariante, após a assinatura 
do termo de compromisso, que a exercerá até a homologação da partilha. Do mesmo modo o 
Código de Processo Civil determina que o administrador provisório permaneça na posse da 
herança até que o inventariante preste o compromisso. Há, pois, uma cisão na posse, ficando o 
herdeiro com a posse indireta e o inventariante com a posse direta. Se assim não fosse, como 
bem observa Silvio de Sávio Venosa12, haveria contradição com princípio fundamental de 
nosso direito sucessório. 
Pode ocorrer, por circunstâncias fáticas, de o herdeiro já se encontrar na posse de um 
bem da herança, tornando-se possuidor indireto, por força da “saisine”, e possuidor direto, 
por ter a utilização da coisa, sem ser possuidor pleno, pois o inventariante terá uma posse 
indireta intercalar sobre esse bem e será responsável por sua administração. 
Também é possível que o herdeiro herde uma posse indireta, pois, como esclarece 
Pontes de Miranda13, herda-se qualquer posse: direta ou indireta. Nesse caso o inventariante 
terá uma posse indireta situada entre a posse indireta do herdeiro e a do possuidor direto. Se 
herdar uma posse direta, esta se tornará indireta, ficando o inventariante com a posse direta. 
 
4.2 DO CURADOR E DO TUTOR 
 
Igualmente os curadores e tutores têm posse direta dos bens dos curatelados e dos 
menores, os quais, por sua vez, têm posse indireta. Como bem observa Pontes de Miranda14 se 
a posse do incapaz for mediata, o representante legal terá posse mediata em grau inferior. Se a 
 
12 VENOSA, Silvio de Savio. Direitos Reais. 6.ed. São Paulo: Atlas, 2006. v.4.1, p. 50. 
13 MIRANDA, Op. Cit., Tomo X. Cap. II, §1092- 2, p.212. 
14 Ibidem, §1079- 4, p.140. 
 
 
8 
posse do incapaz for imediata, mediatiza-se, para que o representante legal fique com a posse 
imediata. 
Quanto à posse do curador dos bens do nascituro, acreditamos que não há 
desdobramento por não existir o possuidor indireto, que só terá personalidade jurídica se 
nascer com vida. Por falta de possuidor indireto não pode haver possuidor direto, tendo o 
curador apenas posse, com as limitações decorrentes de sua resolubilidade. Em sentido 
contrário Pontes de Miranda15 diz que “a posse vai ao nascituro, como se já estivesse nascido; 
ou a quem, se o feto não nasce com vida, é herdeiro”. Mas preferimos acompanhar a opinião 
de Moreira Alves16 de que o nosso ordenamento jurídico não antecipa a personalidade jurídica 
ao momento da concepção e que a proteção que é conferida ao nascituro só lhe permite ter 
direitos eventuais e expectativas de direito. 
 
4.3 DO PODER FAMILIAR 
 
Dispõe o Código Civil, no artigo 1689 e incisos I e II, que o pai e a mãe, enquanto no 
exercício do poder familiar, são usufrutuários dos bens dos filhos, competindo-lhes a 
administração. 
Assim, não só a administração confere aos pais a posse direta dos bens dos filhos, mas 
também o usufruto legal ratifica essa condição, cabendo aos filhos a posse mediata. Sem 
dúvida essa situação faz com o que o filho que utiliza a coisa da qual é possuidor indireto 
torne-se detentor, por conta do consentimento do possuidor imediato. O mesmo ocorre na 
curatela e na tutela. 
O usufruto decorrente do poder familiar não precisa ser levado a registro, como 
dispunha o artigo 715, do Código Civil de 1916. Inexplicavelmente, o Código em vigor, no 
artigo 1391, substituiu o usufruto decorrente do direito de família pelo usufruto adquirido por 
 
15 MIRANDA, Op. Cit., Tomo X. Cap. II, §1092- 2, p.213. 
16 ALVES, Op. Cit., v.II. Tomo I. Cap. III-11, p.140-141. “Mesmo em face do direito civil brasileiro, não se nos 
afigura correta a afirmação de que o nascituro, enquanto assim o é, seja possuidor. Examinando, com 
profundidade, o problema da personalidade do nascituro em nosso sistema jurídico, demonstraram Espínola e 
Espínola Filho que a doutrina que vingou em nosso Código Civil ─ a de que a personalidade jurídica do homem 
começa com o nascimento com vida ─ não só é doutrinariamente a melhor, mas também é a preferida pela 
maioria de nossos autores; e que a proteção aos interesses do nascituro ─ que fora fixada com precisão técnica 
pela Comissão revisora do Projeto Primitivo de Clóvis Beviláqua (“(...) desde a concepção a lei garante os 
direitos eventuais do nascituro”) ─ não traduz a existência de direitos em favor do nascituro, nem determina que, 
com o seu nascimento com vida, se tenha como antecipada a sua personalidade jurídica ao momento da 
concepção. O nascituro, em verdade, enquanto não nasce com vida, só tem direitos eventuais e expectativas de 
direito, como bem acentuam os dois autores acima referidos:” . 
 
 
9 
usucapião, dispensando o registro. Apesar do erro evidente, o usufruto proveniente do poder 
familiar independe de registro, enquanto o adquirido por usucapião dele necessita. 
 
4.4 DA PESSOA JURÍDICA 
 
Sendo a posse o exercício ou a possibilidade de exercício de fato dos poderes inerentes 
à propriedade, é indiscutível que as pessoas físicas podem ser possuidores. Todavia, com 
relação às pessoas jurídicas há divergências, por se tratar de entes ideais. Há quem entenda ter 
a pessoa jurídica a posse indireta, sendo seus representantes legais possuidores diretos. Outros 
entendem que a pessoa jurídica tem a posse plena, sendo os representantes legais detentores, 
servidores da posse. 
Contudo, a melhor posição, parece-nos, é a de Pontes de Miranda17, que observa que o 
órgão da pessoa jurídica não é representante, afirmando categoricamente: “o órgão da pessoa 
jurídica é o órgão: quem possui é a pessoa jurídica; o órgão não é servidor da posse, porém, 
como servidor da posse, não possui: funciona; o poder fáctico, que exerce, é da pessoa 
jurídica, como os seus atos de exercício são atos da pessoa jurídica.” 
Portanto, no que tange à pessoa jurídica, não há desdobramento da posse, o que não 
impede, ao nosso ver, que haja situações de detenção, tanto por servidão da posse, como por 
tolerância. Também, como é lógico, pode a pessoa jurídica ser possuidora indireta ou direta. 
 
4.5 DO DESCOBRIDOR 
 
O descobridor, ou inventor, como dispunha o Código Civil de 1916, ou seja, aquele 
que encontra coisa alheia perdida, pode ter a intenção de ficar com a coisa para si, sendo, 
portanto, possuidor com posse própria, “ad interdicta” e “ad uducapionem”. Mas se seu 
intento for o de restituir terá posse direta enquanto procura o dono ou possuidor, como ensina 
Pontes de Miranda18, com a consequente posse indireta daquele que perdeu o objeto, mesmo 
sem saber. Nesse espaço de tempo o inventor terá posse direta, agindo como se fora gestor de 
negócios. Se entregar o objeto achado à autoridade competente, esta terá a posse direta até 
completar o prazo de 60 dias previsto no artigo 1237, do Código Civil. 
O fato de o possuidor que perdeu o objeto ter perdido a posse não é óbice a que a 
recupere, como mediata, mesmo sem o saber, pois a posse pode ser adquirida sem 
 
17 MIRANDA, Op. Cit., Tomo X. Cap. II, §1079-4, p.140. 
18 Ibidem,, §1072- 7-1979, p.104. 
 
 
10 
conhecimento pelo adquirente, como pode ocorrer na sucessão hereditária, ou com o 
nascimento de um bezerro napropriedade de um fazendeiro, ou com a carta colocada na caixa 
de correio, ou em inúmeras outras hipóteses em que não há conhecimento pelo possuidor de 
que adquiriu a posse. 
Como se vê, pode haver ou não o desdobramento da posse quando alguém encontra 
um objeto perdido, dependendo da intenção de dele se apossar ou de restitui-lo ao que perdeu. 
 
5 ORIGEM 
 
Com a evolução histórica da posse e sob o impacto causado pela teoria de Ihering as 
situações de locatário, usufrutuário, de comodatário e outras análogas, que para Sariguy 
importavam em detenção, foram elevadas à categoria de posse, sem destituir os possuidores 
originários da totalidade dos poderes sobre a coisa, surgindo o denominado desdobramento 
vertical da posse, com a convivência de duas posses sobre a mesma coisa, sem que uma colida 
com a outra. 
A consagração legislativa deu-se com o Código Civil alemão, cujo artigo 868 dispõe: 
“se alguém possuir uma coisa na qualidade de usufrutuário, credor pignoratício, rendeiro, 
locatário, depositário ou por título análogo, temporariamente, com direito ou obrigação em 
face de outro possuidor, este último é igualmente possuidor (possuidor indireto)” 19. 
Como se percebe, com o advento do Código Civil alemão, que entrou em vigor em 1º 
de janeiro de 1900, foi concedida posse não só aos titulares de direito sobre a coisa, conforme 
o artigo 2228, do Código Civil francês, mas também aos titulares de direito decorrente de 
relações obrigacionais. 
No direito pátrio o “Projeto” de Clóvis Bevilacqua, aderiu à teoria de Ihering, que 
acabou por prevalecer com o apoio de Lacerda de Almeida e de Epitácio Pessoa, apesar da 
oposição de Joaquim da Costa Barradas e de Olegário Maciel, que recusavam a qualidade de 
possuidor aos titulares de direitos pessoais, como o locatário e o comodatário, que seriam 
detentores, em consonância com a teoria de Savigny e com o Código Civil francês. Desse 
modo, a redação final do artigo 486, do Código Civil de 1916, acabou próxima à do Código 
Civil tedesco: “quando, por força de obrigação ou direito, em casos como o do usufrutuário, 
do credor pignoratício, do locatário, se exerce temporariamente a posse direta, não anula esta 
às pessoas, de quem eles a houveram, a posse indireta”. 
 
19 Conforme tradução francesa de Meulenaere. 
 
 
11 
O atual Código Civil dispõe de modo semelhante no artigo 1197: “a posse direta, de 
pessoa que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, 
não anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender sua 
posse contra o indireto” 
Temos convicção de que o desdobramento da posse, acolhido nos Códigos do século 
XX, decorre da concepção de Ihering, que confere posse a quem tiver a utilização econômica 
da coisa, embora haja quem entenda que o desdobramento não se harmoniza nem com a teoria 
de Savigny nem com a de Ihering. Sílvio de Salvo Venosa20, apegando-se à afirmação de 
Ihering de que a posse é a visibilidade do domínio, acredita que em sua teoria o possuidor 
indireto não seria considerado possuidor, pois “quem efetivamente se mostra com os poderes 
aparentes de proprietário são efetivamente o locatário, o usufrutuário, o depositário etc.” 
Igualmente Darcy Bessone21 ressalta que o possuidor indireto não se comporta como 
possuidor, não se encaixando na teoria de Ihering. Para Venosa o desdobramento seria um 
critério técnico, o que é corroborado por Darcy Bessone, para quem o legislador acolheu o 
desdobramento “em atenção a razões de interesse prático, evidente e notório”. 
Contudo, exatamente por se considerar possuidor quem tem a detenção, exceto se 
houver um impedimento legal, como sustenta Ihering, é que se tornou possível atribuir posse 
àquele que da coisa se utiliza, na qualidade de possuidor direto, ensejando o desdobramento 
da posse. Caio Mário da Silva Pereira22, referindo-se ao desdobramento da posse diz que 
“somente a teoria de Ihering a comporta, pois que basta à determinação da posse que se 
proceda em relação à coisa como o faz o proprietário”. Moreira Alves23 pondera que, por 
adotar a teoria de Ihering, no direito brasileiro, afora as relações de justaposição, indiferentes 
ao direito, as relações fáticas entre pessoa e coisa se encaixam em posse plena, posse 
desdobrada e detenção. 
Assim, ao atribuir posse aos que têm a coisa em virtude de uma relação jurídica 
obrigacional, a teoria de Ihering possibilitou o seu desdobramento, por critério técnico e em 
atenção a razões de interesse prático. Não se pode perder de vista que, preso à concepção de 
Savigny, o conceito de posse não comporta a posse direta, do mesmo modo que o Código 
Civil francês, em seu artigo 2228, que atribui posse a quem tem a detenção e o desfrute da 
coisa, ou direito sobre ela, exercido por si próprio ou por outro que a detém e a exerce em seu 
 
20 VENOSA, Op. Cit., v. 4.1, p.53. 
21 BESSONE, Darcy. Da Posse. São Paulo: Saraiva, 1996. Cap. XI-63, p.104. 
22 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. 12.ed. Rio de Janeiro: Forense, 1997. v. IV. 
Cap. XIV-287, p.26. 
23 ALVES, Op. Cit., v. II. Tomo I. Cap. I- 6, p.66-67 . 
 
 
12 
nome. Já sob a influência de Ihering, na aurora de século XX, surgiram as posses direta e 
indireta no direito positivo alemão e, pouco depois, no direito brasileiro. 
A coexistência de duas posses sobre a mesma coisa não era admitida no direito 
romano, mas era possível a divisão entre duas pessoas das vantagens de uma só posse, como 
esclarece George Cornil24. Era o que ocorria com as situações em que o “jus possessionis” era 
transferido juntamente com a detenção, que Savigny25 explicava como posse derivada, 
dizendo que havia três situações distintas. Em alguns casos havia sempre essa transferência, 
como acontecia com o credor pignoratício e com o sequestratário. Em outras, como no 
“precário” e no depósito, podia haver ou não a transferência. Nas demais hipóteses de 
transferência da detenção, como na locação, não havia a transmissão do “jus possessionis”. 
Também a denominada “quasi-possessio”, como consequência do surgimento dos 
direitos reais sobre coisas alheias, limitando a propriedade, propiciava essa partilha das 
vantagens de uma posse sobre uma coisa por duas pessoas. 
Gondin Neto, ferrenho opositor da bipartição da posse em direta e indireta, que 
considera não ser lógica nem cientifica26, ressalta que os romanos separaram as coisas em 
corpóreas e incorpóreas, considerando a propriedade como o único bem corpóreo e todos os 
demais direitos como incorpóreos, quando todos os direitos considerados abstratamente são 
incorpóreos, inclusive a propriedade27. Por conta dessa confusão dos romanos, prossegue 
Gondin Neto, não foi concedida posse a outros direitos que não a propriedade e as 
necessidades práticas foram sendo satisfeitas com a concessão de posse nos casos de posse 
derivada e nas servidões28. 
Portanto, ainda que não admitisse duas posses sobre uma coisa, o direito romano 
permitia que duas pessoas dividissem as vantagens dessa posse, o que, não é de todo diferente 
do que ocorre no atual desdobramento da posse em mediata e imediata. 
Mas, sem dúvida alguma, no nosso entender, não há como negar que a teoria de 
Ihering propiciou o desdobramento da posse, conferindo a denominada posse direta aos 
 
24 CORNIL, George. Traité de La Possession Dans Le Droit Romain. Paris: Albert Fontemoing, 1905. Cap. 
II-III, §5º-6, p. 66: “Ainsi, il n’y a pas deux possessions simultanées pour le tout, mais bien portage entre deux 
personnes des avantajes d’ une seule possession”. 
25 SAVIGNY, Friedrich Carl Von. Traité de la Possession en Droit Romain. Tradução de Henri Staedler. 7.ed. 
Paris: Auguste Durand, Librairie, 1866. 1º Tomo, §23º, p. 252-253. “Ces actes juridiques se subdivisent em trois 
classes. Les uns ne donnent jamais lieu à une possession dérivée, les autres toujours, d’autres enfin danscertains cas seulement.” 
26 GANDIN NETO, Op. Cit., Cap. Primeiro, p. 22. 
27 Ibidem, p.26. 
28 Ibidem, p.27. 
 
 
13 
titulares de direitos reais e pessoais, inspirando o legislador alemão e outros que o seguiram, 
entre eles o brasileiro. 
 
6 PROTEÇÃO POSSESSÓRIA 
 
Tanto o possuidor direto como o indireto desfrutam de proteção possessória contra 
terceiros tendo ambos proteção um contra o outro. Apesar de algumas divergências iniciais 
acerca do artigo 486, do Código Civil de 1916, acabou assentado que o possuidor indireto 
desfrutava proteção perante o possuidor direto. Entretanto, a redação do artigo 1197, do 
Código Civil atual, ao permitir expressamente ao possuidor direto defender sua posse contra o 
indireto, sem menção a este poder defender sua posse contra aquele, pode dar margem a 
dúvidas. Paulo Nader29, considerando que o artigo 1197 refere-se apenas à hipótese do 
possuidor direto defender sua posse contra o possuidor indireto, entende que até mesmo a 
ação do comodante não tem por fim defender a posse, mas sim recobrar a coisa em poder do 
comodatário. Nesse diapasão, Paulo Nader considera imprópria a redação do enunciado nº76, 
da I Jornada de Direito Civil: “o possuidor direto tem direito de defender sua posse contra o 
indireto, e este, contra aquele (art.1197, “in fine”, do Novo Código Civil)”. 
Não concordamos com esse posicionamento. A ação do comodante para recobrar a 
coisa dada em empréstimo, findo o prazo, se houver recusa em restituir, é a de reintegração de 
posse. Do mesmo modo é de reintegração de posse a ação do nu-proprietário para recobrar a 
coisa em poder do usufrutuário. Assim ocorre em todas as situações de desdobramento da 
posse, com exceção da locação, em que o locador só poderá valer-se da ação de despejo, por 
expressa determinação da Lei nº 8245/91, artigo 5º: “seja qual for o fundamento do término 
da locação, a ação do locador para reaver o imóvel é a de despejo”. 
Comentando o artigo 1197, do Código Civil, Marco Aurélio Bezerra de Melo30 
esclarece: “a despeito do silêncio da lei, absolutamente possível que o possuidor indireto 
também proteja sua posse em relação ao direto. Tomemos como exemplo a situação em que o 
comodatário se recuse espontaneamente a sair do imóvel findo o prazo do contrato. Ora, não 
 
29 NADER, Op. Cit., Cap. III-19, p.52 : “Quando à relação entre o possuidor direto e o indireto, o art. 1.197 
refere-se apenas à hipótese de o primeiro defender a sua posse contra o segundo, mas, de acordo com a 
interpretação sistemática, havemos de reconhecer ao possuidor indireto a possibilidade de acionar o direto, não a 
fim de defender a sua posse, mas para recobrar a coisa em poder daquele. No vínculo comodatício, o comodante 
dispõe de ação de reintegração de posse, caso o comodatário se recuse à entrega do objeto, findo o prazo 
contratual ou, sendo este por tempo indeterminado, após a sua notificação. Observe-se que, in casu, ao possuidor 
indireto a lei não confere poder para defender a sua posse contra o direto, mas para o fim de concentrar, 
unitariamente, a posse”. 
30 MELO, Op. Cit., Cap. II-8.1, p.35. 
 
 
14 
restará outra saída ao comodante senão propor a competente ação de reintegração de posse, 
que será a competente manifestação de oposição do possuidor indireto contra o direto”. 
Quanto ao desforço imediato, outorgado pelo §1º, do artigo 1210, do Código Civil, 
somente o possuidor direto poderá exercê-lo por ser quem está com a coisa em seu poder. O 
detentor, malgrado não seja possuidor, também poderá fazê-lo para defender a posse do 
possuidor. Mas ao possuidor indireto é vedado o denominado desforço imediato pela razão 
lógica de não estar com a coisa em seu poder. 
 
7 COMPOSSE 
 
A posse, a princípio é exercida com exclusividade, seja ela plena, direta ou indireta. 
Quando mais de uma pessoa exerce posse sobre a mesma coisa dá-se a composse. Não se 
confunde de modo algum com o desdobramento da posse. A composse contrapõe-se à posse 
exclusiva e não à posse desdobrada, como ensina Carlos Roberto Gonçalves31. 
Assim, como a propriedade pode ser comum, a posse também pode. Mas nem sempre 
no condomínio há composse. Pode ocorrer de um dos condôminos, ou terceiro, exercer a 
posse direta com exclusividade. 
Ocorre não só no condomínio, mas também com os coerdeiros, com os cônjuges, 
companheiros, sócios, nas partes comuns do condomínio edilício e com outros mais. 
Há a composse simples, do direito romano, em que cada possuidor pode exercer os 
atos possessórios, contanto que não excluam os dos outros possuidores, conforme a redação 
do artigo 1.199, do Código Civil. Mas há também a denominada composse de mão comum, 
cuja origem remonta ao antigo direito germânico. Nessa compossessão nenhum dos 
compossuidores tem poder sobre a coisa independente dos demais compossuidores. Todos, 
conjuntamente, possuem. 
Malgrado o Código Civil só regule a composse simples “pro indiviso”, a posse de 
mão comum está presente no direito pátrio, pois, como observa Pontes de Miranda32, com 
argúcia, a posse indireta, via de regra, é de mão comum, com o que concordamos. 
Como deflui da redação do artigo 1.199, que proíbe que qualquer dos compossuidores, 
ao exercer a posse, excluir os demais, pode qualquer deles se valer dos remédios possessórios 
 
31 GONÇALVES, Carlos Alberto. Direito Civil Brasileiro. 11.ed. São Paulo: Saraiva, 2016. v.5. Cap. II-3, p. 
83 : “A posse exclusiva se contrapõe não à posse desdobrada em direta ou indireta, porém à composse. Na 
primeira, seja ela direta ou indireta, um só possuidor exerce os poderes de fato inerentes à propriedade. Na 
composse, porém, há varios compossuidores que têm, sobre a mesma coisa, posse direta ou posse indireta.” 
32 MIRANDA, Op. Cit., Tomo X. Cap. II, §1074-2-b, p.112. 
 
 
15 
se for tolhido em seu exercício. Como possuidores que são eles podem, sem a menor dúvida, 
defender sua posse de terceiros sem necessidade do consentimento dos outros 
compossuidores. 
 
8 CONCLUSÃO 
 
Como visto o desdobramento da posse é uma cisão de uma posse decorrente de uma 
relação jurídica, que pode ser voluntária, nas hipóteses da locação e do usufruto, mas pode 
também advir da lei, como nos casos do inventariante e do descobridor. Se não houver essa 
relação jurídica, seja voluntária, seja legal, não haverá desdobramento, mas apenas posse, que, 
como visto, muitos autores denominam posse plena. 
 
REFERÊNCIAS 
 
ALVES, José Carlos Moreira. Posse. 2.ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999. Tomo I. v. II. 
 
BESSONE, Darcy. Da Posse. São Paulo: Saraiva, 1996. 
 
CORNIL, George. Traité de La Possession Dans Le Droit Romain. Paris: Albert 
Fontemoing, 1905. 
 
DANTAS, San Tiago. Programa de Direito Civil III. Rio de Janeiro: Editora Rio, 1979. 
 
GOMES, Orlando. Direito Reais. 8.ed. Rio de Janeiro: Forense, 1983. 
 
GONÇALVES, Carlos Alberto. Direito Civil Brasileiro. 11.ed. São Paulo: Saraiva, 2016. 
v.5. 
 
GONDIM NETO, Joaquim Guedes Corrêa. Posse Indireta. Recife: Imprensa Industrial, 
1943. 
 
MELO, Marco Aurélio Bezerra de. Direito Civil: Coisas. 2.ed. Rio de Janeiro: Forense, 
2017. 
 
MIRANDA, Francisco Cavalcanti Pontes de. Tratado de Direito Privado. 3.ed. Rio de 
Janeiro: Borsoi, 1971. Tomo X. 
 
NADER, Paulo. Curso de Direito Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2006. v. 4. 
 
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. 12.ed. Rio de Janeiro: 
Forense, 1997. v. IV. 
 
 
 
16 
SAVIGNY, Friedrich Carl Von. Traité de la Possession en Droit Romain. Tradução de 
Henri Staedler. 7. ed. Paris: Auguste Durand, Librairie,1866. 1º Tomo. 
 
VENOSA, Silvio de Savio. Direitos Reais. 6.ed. São Paulo: Atlas, 2006. v.4.1.

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