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W BA 01 38 _v 2. 1 POLÍTICA PÚBLICA DA FAMÍLIA E DE DEFESA DOS DIREITOS 22 José Antonio da Costa Fernandes Londrina Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2019 Política pública da família e de defesa dos direitos 1ª edição 33 3 2019 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ Presidente Rodrigo Galindo Vice-Presidente de Pós-Graduação e Educação Continuada Paulo de Tarso Pires de Moraes Conselho Acadêmico Carlos Roberto Pagani Junior Camila Braga de Oliveira Higa Carolina Yaly Giani Vendramel de Oliveira Juliana Caramigo Gennarini Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Giani Vendramel de Oliveira Revisor Giani Vendramel de Oliveira Editorial Alessandra Cristina Fahl Beatriz Meloni Montefusco Daniella Fernandes Haruze Manta Hâmila Samai Franco dos Santos Mariana de Campos Barroso Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Fernandes, José Antonio da Costa F363p Política pública da família e de defesa dos direitos/ José Antonio da Costa Fernandes, – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2019. 120 p. ISBN 978-85-522-1632-2 1. Serviço Social. 2. Assistente Social. I. Fernandes, José Antonio da Costa. Título. CDD 360 Thamiris Mantovani CRB: 8/9491 © 2019 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. 44 SUMÁRIO Apresentação da disciplina 5 Concepções e caracterização da família contemporânea: aspectos históricos, demográficos, políticos e sociais 6 A estratégia da saúde da família como opção política e modelo de assistência 18 Marco legal da política de defesa da pessoa idosa e sua materialização nas políticas públicas 30 Histórico da política de defesa dos direitos do idoso. Conselhos e controle social: papel do conselho e do conselheiro 45 A pessoa idosa e a política pública da assistência social e da saúde: intersetorialidade com o SUAS e o SUS 56 Política de defesa da criança e do adolescente e sua materialização nas políticas públicas. ECA; Planos nacionais de defesa da criança e do adolescente. Desafios atuais 69 O papel dos órgãos oficiais na escola frente à demanda por políticas educacionais que atendam aos desafios de uma sociedade multicultural 80 Ações afirmativas e minorias: principais marcos legais e sua materialização na atualidade 93 POLÍTICA PÚBLICA DA FAMÍLIA E DE DEFESA DOS DIREITOS 55 5 Apresentação da disciplina O objetivo deste material é apresentar um conteúdo básico de políticas públicas, pelas quais podemos compreender a própria concepção de família para o Estado. Essa intenção possibilita uma melhor compreensão do seu significado e alcance, além das interfaces possíveis. Esperamos que através da disseminação do conteúdo presente neste material ocorra uma melhor compreensão da definição de políticas públicas, bem como das competências e habilidades no reconhecimento das políticas públicas da família e de defesa dos direitos. 66 Concepções e caracterização da família contemporânea: aspectos históricos, demográficos, políticos e sociais Autor: José Antonio da Costa Fernandes Objetivos • Apresentar o significado de Estado e das Políticas Públicas. • Refletir sobre políticas públicas e concepção de família para a sociedade e para o Estado. • Possibilitar uma melhor compreensão sobre o significado de políticas públicas e seu alcance, bem como das interfaces possíveis nesta área. 77 7 1. Introdução A compreensão das políticas públicas está atrelada à própria ideia do Estado e da democracia. Neste sentido, é por meio da ação da sociedade e do processo democrático que podemos observar o funcionamento do Estado e da adequação de suas políticas no atendimento das necessidades do povo e na própria concepção do significado da família. A função que o Estado exerce nas sociedades teve diversas transformações ao longo do tempo. Ao longo dos séculos XVIII e XIX, o principal objetivo era o de assegurar a segurança pública e a garantia da defesa externa de ataques. Porém, com o aprofundamento e ampliação da democracia, principalmente após a Primeira Guerra Mundial, as responsabilidades do Estado se diversificaram na perspectiva de um Estado que tenha como objetivo proporcionar o bem-estar para a sua população, tendo como maior exemplo deste processo o caso da Suécia (PRZEWORSKI, 1988). Na atualidade, tornou-se comum associar que a função do Estado é promover o bem-estar da sociedade e, portanto, da família. Para tanto, faz-se necessário o desenvolvimento de uma série de ações e, ao mesmo tempo, atuar de forma direta em diferentes áreas, tais como segurança, saúde, educação, meio ambiente, e de forma interligada com o desenvolvimento. PARA SABER MAIS O significado das Políticas Públicas está entrelaçado ao que o Estado, prioritariamente, pode desenvolver para que a sociedade viva em mais harmonia. Neste sentido são criadas Políticas Públicas para várias áreas, até mesmo para a segurança pública. Em relação as Políticas Públicas voltadas para segurança, por exemplo, podemos observar 88 o surgimento de políticas públicas que privilegiam o não encarceramento, principalmente na Europa. No caso europeu, e em decorrência destas políticas, há a diminuição da população carcerária, diferente do que ocorre no Brasil, que privilegia o cárcere e tem uma das maiores populações carcerárias do planeta. Já a ideia do Estado como garantidor de bem estar social e, portanto, do bem comum que envolve a família, iniciou-se na Suécia e foi denominado de Estado de bem estar social, que se difundiu por toda a Europa, porém teve seu modelo questionado de forma mais acentuada a partir da década de 1990. Neste sentido, a própria concepção do papel do Estado também foi questionada. 2. Estado, governo e políticas públicas: ontem e hoje Para atingir determinados resultados em áreas diversas, ou ainda promover o bem-estar da sociedade, os governos se utilizam das Políticas Públicas que podemos definir como o como o conjunto de ações que envolvem ações políticas desencadeadas por ações da sociedade ou de grupos sociais no Estado ou mesmo a partir dele próprio. Assim, poderíamos resumir: [...] como o campo do conhecimento que busca, ao mesmo tempo, “colocar o governo em ação” e/ou analisar essa ação (variável independente) e, quando necessário, propor mudanças no rumo ou curso dessas ações (variável dependente). A formulação de políticas públicas constitui-se no estágio em que os governos democráticos traduzem seus propósitos e plataformas eleitorais em programas e ações que produzirão resultados ou mudanças no mundo real. (SOUZA, p. 26). 99 9 Portanto, podemos afirmar de outra forma que as Políticas Públicas são desenvolvidas por meio de ações históricos e sociais, e que refletem o conjunto de ações, metas e planos que os governos (nacionais, estaduais ou municipais) estabelecem para desenvolver o bem-estar da sociedade e da família. Claro que estas ações, devidamente delimitadas pelos dirigentes públicos (os governantes ou os tomadores de decisões), são estabelecidas como prioridades de determinado momento e invariavelmente definidas pelo que eles, os dirigentes políticos, entendem ser as demandas ou expectativas da sociedade. Ou seja, o bem-estar da sociedade é definido por uma correlação de forças que envolve a definição do que o governo, o governantede “plantão”, define como sendo a prioridade para a sociedade. Esta circunstância ocorre porque a sociedade, na maioria das vezes, não expressa de forma plena suas intenções, até porque há disputas que se estabelecem no processo democrático, principalmente no processo eleitoral, da definição de quais políticas serão adotadas. Assim, as demandas da sociedade são represadas aos seus representantes, ou seja, deputados, senadores e vereadores, que se mobilizam para atender ou fazer com que os membros do Poder Executivo, também eleitos, atendam estas demandas. Estas demandas sociais são apresentadas, tanto em momentos eleitorais como também em outros, por meio de grupos organizados – denominados de sociedade civil organizada –, que exigem do Estado a aplicação de determinadas políticas públicas, identificadas acima. Fazem parte dos grupos organizados: sindicatos, entidades de representação empresarial, associação de moradores, associações patronais e ONGs em geral. Os recursos para atender a sociedade e suas demandas, no caso do Brasil principalmente e dos diversos grupos sociais organizados, são limitados ou escassos. Desta forma, os bens e serviços públicos desejados pelos indivíduos se transformam em motivo de disputa. 1010 Para garantir êxito, os indivíduos que têm objetivos próximos tendem a se unir, formando grupos que irão disputar as Políticas Públicas. Estas disputas não podem ser consideradas como algo necessariamente ruim ou negativo. Estes conflitos se inserem na ideia da democracia e, portanto, servem como estímulos a mudanças e melhorias na sociedade. A compreensão teórica aqui estabelecida vincula-se à concepção pluralista, o que não significa que não existam outras. A concepção estabelecida acima teve como objetivo estabelecer de forma sintética a concepção de Políticas Públicas, mas é importante destacar que os processos históricos delinearam o papel do Estado na formulação de Políticas Públicas, em razão de sua maior ou menor participação e de que como se combinaram a intensidade da atuação do estado ou do mercado na definição destas políticas. Assim, temos uma variação da intensidade da participação do estado e do mercado, e mesmo da sociedade civil na definição das Políticas Públicas. Neste sentido, podemos delimitar uma menor participação do Estado nos anos 1990 e uma maior participação do Estado no novo milênio, que estão representadas, respectivamente, pelos governos COLLOR e FHC, na década de 1990, e no novo milênio nos governos LULA e DILMA, iniciado em 2003 com a posse do governo LULA. Após o impeachment1 da presidenta Dilma e no transcorrer dos governos Temer e Bolsonaro, houve mudança na compreensão da ação do Estado, considerando que deveria ocorrer uma diminuição da sua ação, principalmente após a promulgação da Emenda Constitucional do Teto de Gastos Públicos, Emenda Constitucional 95, que limita por 20 anos os gastos públicos. 1111 11 ASSIMILE A emenda constitucional que limita os gastos públicos têm sido motivo de diversos questionamentos, pois “estrangula” a capacidade do Estado de impulsionar o desenvolvimento. Há vários questionamentos na sociedade, na própria atividade política e no judiciário, o que implica na possível revisão desse dispositivo legal. 3. Definição de família Para compreendermos o significado da ideia de família poderíamos conceber modelos teóricos ou históricos sociais. Neste sentido, iríamos ter uma conceituação bastante ampla do significado ou mesmo reducionista, pois envolveria concepções religiosas ideológicas, entre outras, com formações históricas e sociais distintas, e, portanto, com significados também diversos. Assim, optou-se neste trabalho em conceituar a família a partir do que está definido em nossa Constituição Federal e nos marcos regulatórios legais. A partir da compreensão da temática abordada nesta Leitura Fundamental podemos definir que concepção de Estado está franqueada na ideia da política e que a definição de políticas públicas se encontra muito mais vinculada às propostas implementadas pelo governante a partir de determinadas demandas sociais, mas que não necessariamente estão definidas na Constituição Federal. 1212 ASSIMILE A concepção definida juridicamente sobre a ideia de família também interfere no dia a dia, pois na compra de um imóvel ou de um plano de saúde a definição jurídica tende a prevalecer, mesmo que o cotidiano de um agrupamento familiar seja distinto. Mesmo que o grupo originário familiar – pai, mãe e filhos – tenda a agregar outros membros, o mesmo pode não ocorrer no mundo jurídico. Já a caracterização da família envolve questões morais, religiosas e até mesmo ideológicas, e no caso do Brasil, para a aplicação das Políticas Públicas, a caracterização da família está baseada em nossa Constituição Federal. TEORIA EM PRÁTICA Você já parou para refletir sobre o significado da palavra “estado”? Podemos atribuir diferentes significados para uma mesma palavra, tais como: • Estado (grafado com letra inicial maiúscula): “Nação politicamente organizada por leis próprias. Conjunto das estruturas institucionais que asseguram a ordem e o controle de uma nação”. • estado (inicial minúscula): “Cada um dos territórios de certos países”. ou ainda, • estado (inicial minúscula): “Forma de ser ou estar. Condição em que as coisas se encontram. Disposição física de uma pessoa ou de um animal”. 1313 13 Fonte: ESTADO. In: MICHAELIS. Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa [dicionário online]. São Paulo: Editora Melhoramentos, 2019. A partir do texto acima, podemos identificar que o governo federal, os governos estaduais e municipais definem o significado do que é o “Estado”. Podemos afirmar, então, que as Políticas Públicas são decorrentes de determinadas ações do Estado, mesmo que em nível municipal. Você consegue apontar se sua cidade implementa alguma política pública própria com Orçamento Participativo? Existe algum programa de bônus para os profissionais do magistério ou algo que julgar peculiar em seu município? VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. A compreensão das políticas públicas está atrelada à própria ideia do Estado e da democracia. Neste sentido, é por meio da ação da sociedade e do processo democrático que podemos observar o funcionamento do Estado e da adequação de suas políticas no atendimento das necessidades do povo e na própria concepção do significado da família. A partir desta afirmação podemos considerar que o significado de família advém, no contexto da Administração Pública: a. De um contexto histórico e social que acaba por se definir também na Igreja, por meio de suas políticas públicas. b. De um contexto histórico que acaba por se definir também no Estado, na Igreja e nas comunidades. 1414 c. De um contexto histórico e social que acaba por se definir também na Igreja e em outras instituições e não interfere no Estado e nem nas políticas públicas. d. Do Estado, por meio de suas políticas públicas. e. De um contexto histórico e social que acaba por se definir também no Município. 2. Para atingir determinados resultados em áreas diversas, ou ainda promover o bem-estar da sociedade, os governos se utilizam ______________, que podemos definir como o conjunto de ações que envolvem ações políticas desencadeadas por ações da sociedade ou de grupos sociais no Estado. Complete a frase. a. Das políticas públicas. b. Do Estado. c. Do estado. d. Das administrações. e. Dos governos. 3. As políticas públicas são desenvolvidas por meio de ações históricas e sociais, e que refletem o conjunto de ações, metas e planos que os governos (nacionais, estaduais ou municipais) estabelecem para desenvolver o bem-estar da sociedade e da família. Claro que estas ações, devidamente delimitadas pelos dirigentes públicos (os governantes ou os tomadores de decisões), são estabelecidas como prioridades de determinado momento e invariavelmente definidaspelo que eles, os dirigentes políticos, entendem ser as demandas ou 1515 15 expectativas da sociedade. Considerando a afirmação acima, podemos estabelecer que os governos podem: a. Desenvolver mais ações para defender o Estado com medidas de cunho repressivo, pois em último caso as políticas públicas a serem implementadas dependem de quem foi eleito. b. Não seguir o que a Constituição Federal diz sobre as políticas públicas. c. Devem seguir as orientações da ONU sobre a proteção à família. d. Desenvolver mais ações para defender a família com medidas de cunho assistencial, pois a família é soberana e está acima do Estado. e. Desenvolver mais ações para defender a família com medidas de cunho social, pois as políticas públicas a serem implementadas dependem primordialmente de quem foi eleito. Referências bibliográficas ABRAMOVAY, Ricardo. Desenvolvimento Rural Territorial e Capital Social. In: SABOURIN, Eric, TEIXEIRA, Olívio (orgs). Planejamento do Desenvolvimento dos Territórios Rurais – Conceitos, controvérsias e experiências. Brasília: UFPB/ CIRAD/EMBRAPA, 2002. p. 113-128. BELLUZO, Luiz Gonzaga. Globalização, império e dinheiro. In: TAVARES, Maria da Conceição; FIORI, José Luis (Orgs). Poder e dinheiro: uma economia política da globalização. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997. COUTO, Berenice. Direito Social e a Assistência Social na Sociedade Brasileira: uma equação possível? São Paulo: Cortez, 2006. 1616 CHAUÍ, Marilena. Brasil: Mito fundador e sociedade autoritária. São Paulo: Ed. Fundação Perseu Abramo, 2000. ESTADO. In: MICHAELIS. Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa [dicionário online]. 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In: VII CONGRESSO INTERNACIONAL DEL CLAD SOBRE LA REFORMA DEL ESTADO Y DE LA ADMINISTRACIÓN PÚBLICA, out. 2002. Lisboa, Portugal. Mimeo. Lisboa, Portugal, 2002, p. 8-11. SILVA, Maria Ozanira; YASBEK, Maria Carmelita; GIOVANNI, Geraldo di. A política social brasileira no século XXI: a prevalência dos programas de transferência de renda.São Paulo: Cortez, 2006. SILVA, Ivan Prado e; VAZ, José Carlos; FRANÇA, Luiz de França (Orgs.). Aspectos econômicos de experiências de desenvolvimento local. São Paulo: Pólis, 2002. SPINK, Peter. O lugar do lugar na Análise Organizacional. Revista de Administração Contemporânea, São Paulo, n. 5, Edição Especial, p. 11–34., RAC: 2001. SOUZA, Celina. Políticas Públicas: uma revisão da literatura. Sociologias, Porto Alegre, ano 8, n. 16, 2006: 20-45. STARLING, Heloisa Maria Murgel. Travessia: A narrativa da República em Grande Sertão Veredas. Pensar a República. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2000. Gabarito Questão 1 – Resposta: D Resolução: O significado de família pode ter várias concepções, porém na formulação das políticas públicas a concepção do Estado prevalece. Questão 2 – Resposta: A Resolução: O desenvolvimento do bem-estar social depende da formulação, adequação e implementação de políticas públicas. Questão 3 – Resposta: E Resolução: A implementação das políticas públicas depende, primordialmente, dos governantes eleitos. 1818 A estratégia da saúde da família como opção política e modelo de assistência Autor: José Antonio da Costa Fernandes Objetivos • Apresentar o significado da família em nossa Constituição Federal. • Demonstrar o ordenamento jurídico infraconstitucional acerca da concepção política e das políticas públicas que permeiam o atendimento da saúde da família. • Apresentar os programas: Programa da Saúde, Programa Mais Médicos e Médicos pelo Brasil. 1919 19 1. Políticas públicas de saúde para a família A concepção estratégica da Saúde da Família será apresentada aqui como um salto conceitual, pois envolveu uma transição paradigmática implementada nos últimos anos, pois alia os princípios do Sistema Único de Saúde que envolvem a ideia de integralidade, equidade, universalidade, descentralização, hierarquização, comando único e participação popular com os outros princípios garantidores da atenção básica à saúde e balizadas nos principais princípios da saúde pública. Apresentar o significado da Saúde da Família perpassa também o Programa Mais Médicos, rebatizado pelo governo Bolsonaro de “Médicos pelo Brasil”, e o Programa Mais Médicos Nordeste, que serão apresentados aqui em uma perspectiva introdutória, mas que permite o aprofundamento do tema neste e em outros momentos dos estudos (AGÊNCIA BRASIL, 2019). 2. Definição de família Optou-se neste trabalho em conceituar a família a partir do que está definido em nossa Constituição, até porque a própria concepção de atendimento à saúde perpassa esta compreensão. Neste sentido, citamos a conceituação de família presente na CF: Capítulo VII Da Família, da Criança, do Adolescente, do Jovem e do Idoso. Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. § 1º O casamento é civil e gratuita a celebração. § 2º O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei. § 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. 2020 § 4ºEntende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes. § 5º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher. § 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio. § 7º Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas. § 8º O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações. Art. 227 É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. § 1º O Estado promoverá programas de assistência integral à saúde da criança, do adolescente e do jovem, admitida a participação de entidades não governamentais, mediante políticas específicas e obedecendo aos seguintes preceitos: I. aplicação de percentual dos recursos públicos destinados à saúde na assistência materno-infantil; II. criação de programas de prevenção e atendimento especializado para as pessoas portadoras de deficiência física, sensorial ou mental, bem como de integração social do adolescente e do jovem portador de deficiência, mediante o treinamento para o trabalho e a convivência, e a facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos, com a eliminação de obstáculos arquitetônicos e de todas as formas de discriminação. (Constituição Federal, 1988) 2121 21 PARA SABER MAIS A definição constitucional sobre a família é a que foi apresentada. Porém, não devemos confundir união estável de homem e mulher com união homoafetiva e nem tampouco considerar que esta definição é definitiva. O STF entende que o Estado brasileiro deve reconhecer a união homoafetiva para determinados casos. Para saber mais, acesse o portal do STF e acompanhe as atualizações sobre esta informação. Como foi possível observar, a definição de família, bem como ação do Estado, seja pela proteção social ou outras questões, depende de como a Constituição define seu significado. Neste sentido, devemos observar que as ações e a defesa da promoção social e do bem-estar social como um todo dependem de como é a definição constitucional, sua legislação correlata ou derivativa. 3. Políticas públicas: a questão da família e da saúde As políticas públicas, conforme observamos definem a concepção que determinado governo tem sobre a política e sobre o próprio Estado. Já a concepção de Administração Pública envolve a compreensão do ente que desenvolve a regulação e que, portanto, envolve planejamento e organização, bem como a direção e controle dos serviços do governo nas esferas públicas, sejam elas na esfera federal, estadual ou municipal, na perspectiva do bem comum. Assim, a administração pode ser entendida de três formas: 2222 O aparelho administrativo executa basicamente algumas funções, diferentes entre si, que poderíamos estabelecer em três esferas: 1. Tem ingerência nas relações entre particulares, garantindo-lhes maior segurança jurídica, dá publicidade aos atos em que são interessados e realiza sua fiscalização. 2. A ação administrativa ou gestão manifesta-se no condicionamento da liberdade e da propriedade dos particulares, no exercício do chamado poder de polícia. 3. O objetivo é harmonizar o direito do indivíduo com o de seus semelhantes. O poder de polícia traduz-se na faculdade de que dispõe a Administração Pública para condicionar e restringir o uso e o gozo de bens, atividades e direitos individuais em benefício da coletividade e do próprio Estado. A polícia administrativa diz respeito à segurança da ordem pública, à proteção da saúde, ao resguardo da educação, à tutela da economia, à defesa da vida social e dos princípios morais. 2323 23 Neste sentido, insere-se o papel fundamental do Sistema de Saúde e da Assistência. Refere-se, mais especificamente, às atividades de Vigilância em Saúde, Sanitária e Epidemiológica, destinadas a assegurar o bem de todos a partir da promoção do bem individual ou grupal, sem exceções, com base em privilégios ou discriminação de qualquer sorte, e sem prejuízo de um número maior de indivíduos. Além dessa ação negativa de condicionamento da liberdade, e eventualmente até da propriedade, as repartições administrativas atuam na realização de ações e serviços públicos em que se destacam a assistência médico-hospitalar, o saneamento básico, a educação, os serviços de transporte e o fornecimento de energia, dentre outras. Neste sentido, deve ser ressaltado o papel exercido pelas Secretarias Estaduais ou Municipais da Saúde como agentes deste processo regulatório que envolve à promoção de ações e serviços preventivos e curativos, ou seja, mantenedores das condições de saúde, capazes de desenvolver plenamente o cidadão como agente da “construção” de uma “sociedade livre, justa e solidária”, objetivo constitucional fundamental (art. 3º, I, Constituição Federal). Neste sentido, ao conjunto de ações e serviços de saúde prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais, da administração direta e indireta, e das funções mantidas pelo poder público, dá-se nome de Sistema Único de Saúde (SUS). São consideradas inerentemente do SUS as instituições públicas federais, estaduais e municipais prestadoras ou contratadoras de ações e serviços de saúde e desenvolvedoras de controle de qualidade, pesquisa e produção de insumos, medicamentos, inclusive de sangue e hemoderivados, e de equipamentos para saúde. A iniciativa privada poderá participar do SUS, em caráter complementar. Isto quer dizer que nenhuma ajuda deve ser dispensada no esforço conjunto de se alcançar as metas de saúde do povo brasileiro. 2424 4. Saúde da família O Programa Saúde da Família (PSF) foi criado na gestão FHC e ampliado nas gestões posteriores, e principalmente após a criação do programa Mais Médicos, pois permitiu maior acesso ao médico de família. A estratégia deste tipo de programa visa equalizar o significado da ideia da atenção básica à saúde, que estabelece a prevenção e deve ocorrer primordialmente na residência. ASSIMILE O PSF – Programa Saúde da Família procura integrar diversas especialidades médicas, sociais e de assistência. O Ministério da Saúde divulga suas ações por meio de diversas publicações que podem ser encontradas no portal oficial do governo federal ou do ministério. Assim, a Saúde da Família foi um salto conceitual que permitiu uma transição paradigmática, coroado com o Programa Mais Médicos, rebatizado de Médicos pelo Brasil, pois os pilares destes programas aliam os princípios do Sistema Único de Saúde que envolvem integralidade, equidade, universalidade, descentralização, hierarquização, comando único e participação popular com os princípios da atenção primária que envolve a atenção ao primeiro contato/acessibilidade, integralidade, longitudinalidade, coordenação, abordagem familiar, orientação comunitária e competência cultural. Podemos considerar que a conciliação de tantos princípios permitiu um novo enfoque sobre a saúde que está em processo. 2525 25 PARA SABER MAIS O médico da família já é uma realidade em diversos países. A Espanha é um dos países da Europa que se destaca nesta frente. De qualquer forma, devemos considerar que no cotidiano da gestão de saúde, estabelecendo ainda o território nacional e as diversas modalidades de trabalho representado neste programabem como no Programa Mais Médicos, é efetivamente um novo paradigma na saúde brasileira, pois é uma nova fronteira do conhecimento, de inovação em gestão na saúde, ambiente de constante criação e adaptação de tecnologias de atenção à saúde. TEORIA EM PRÁTICA Faça uma pesquisa na internet e veja como está o debate sobre a definição da união homoafetiva no Congresso Nacional, bem como sobre o conceito de família. Observe que este tema já se arrasta no Brasil há alguns anos, diferente de outros países como Portugal, por exemplo. O que podemos destacar sobre esta questão? 2626 VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. Segundo nossa Constituição, a ideia de família fundamenta-se em artigos que estabelecem que: a. Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes. Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher, ou pela união homoafetiva. b. Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais, descendentes ou membros de união homoafetiva. Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher. c. Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes. Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher. d. Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais, descendentes ou pela união homoafetiva. Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher e pelos membros de união homoafetiva. e. Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher. 2727 27 2. A concepção de ____________ envolve a compreensão do ente que desenvolve a regulação e que, portanto, envolve planejamento e organização, bem como a direção e controle dos serviços do governo nas esferas públicas, sejam elas na esfera federal, estadual ou municipal, na perspectiva do bem comum. Complete a frase. a. Administração Pública. b. Estado. c. Política. d. Política Econômica. e. Economia. 3. Ao conjunto de ações e serviços de saúde prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais, da administração direta e indireta, e das funções mantidas pelo poder público dá-se nome de: a. Sistema único e Integrado de Saúde (SUS). b. Sistema Integrado de Saúde (SUS). c. Sistema único de Assistência Social (SUAS). d. Sistema Único e Descentralizado de Saúde (SUDS). e. Sistema Único de Saúde (SUS). 2828 Referências bibliográficas ABRAMOVAY, Ricardo. Desenvolvimento Rural Territorial e Capital Social. In: SABOURIN, Eric, TEIXEIRA, Olívio (orgs). Planejamento do Desenvolvimento dos Territórios Rurais – Conceitos, controvérsias e experiências. Brasília: UFPB/ CIRAD/EMBRAPA, 2002. p. 113-128. BELLUZO, Luiz Gonzaga. Globalização, império e dinheiro. In: TAVARES, Maria da Conceição; FIORI, José Luis (Orgs). Poder e dinheiro: uma economia política da globalização. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997. COUTO, Berenice. Direito Social e a Assistência Social na Sociedade Brasileira: uma equação possível? São Paulo: Cortez, 2006. AGÊNCIA BRASIL. Governo Bolsonaro substitui programa Mais Médicos por Médicos pelo Brasil. Disponível em: https://exame.abril.com.br/brasil/bolsonaro- substitui-programa-mais-medicos-por-medicos-pelo-brasil/. Acesso em: 21 set. 2019. BRASIL. 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Governadores firmam parceria e aprovam mais médicos. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/07/governadores- firmam-parceria-e-aprovam-mais-medicos-nordeste.shtml. Acesso em: 21 set. 2019. PREZWORSKI, Adam. A socialdemocracia como fenômeno histórico. Lua Nova, São Paulo, n. 15, 1988. Disponível em:http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102- 64451988000200004&script=sci_arttext. Acesso em: 22 set. 2019. SILVA, Maria Ozanira; YASBEK, Maria Carmelita; GIOVANNI, Geraldo di. A política social brasileira no século XXI: a prevalência dos programas de transferência de renda. São Paulo: Cortez, 2006. SILVA, Ivan Prado e; VAZ, José Carlos; FRANÇA, Luiz de França (Orgs.). Aspectos econômicos de experiências de desenvolvimento local. São Paulo: Pólis, 2002. SPINK, Peter. O lugar do lugar na Análise Organizacional. Revista de Administração Contemporânea, São Paulo, n. 5, Edição Especial, p. 11–34., RAC: 2001. SOUZA, Celina. Políticas Públicas: uma revisão da literatura. Sociologias, Porto Alegre, ano 8, n.16, 2006: 20-45. Gabarito Questão 1 – Resposta: C Resolução: Texto retirado da definição constitucional. Questão 2 – Resposta: A Resolução: Questão baseada nos fundamentos da Administração Pública, com respaldo na análise lógica da pergunta. Questão 3 – Resposta: E Resolução: Nome correto do Sistema definido pela Constituição. Ele é único, pois antes havia o INAMPS, que atendia apenas os trabalhadores com registro em Carteira – CTPS. https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/07/governadores-firmam-parceria-e-aprovam-mais-medicos-nordeste.shtml https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/07/governadores-firmam-parceria-e-aprovam-mais-medicos-nordeste.shtml http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-64451988000200004&script=sci_arttext http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-64451988000200004&script=sci_arttext 3030 Marco legal da política de defesa da pessoa idosa e sua materialização nas políticas públicas Autor: José Antonio da Costa Fernandes Objetivos • Apresentar os conceitos que definem o marco legal da política de defesa da pessoa idosa. • Contextualização histórica das políticas públicas para a população idosa. • Compreender o desenvolvimento econômico e social e as normativas do Estado para a população idosa. 3131 31 1. Introdução Ao apresentar os conceitos que definem o marco legal da política de defesa da pessoa idosa devemos ter claro que esta concepção se inicia de forma muito lentacom a Revolução de 1930, pois o planejamento de Estado, burocracia e os direitos sociais advêm deste período. Assim, devemos ter claro que a materialização do conceito de pessoa idosa nas políticas públicas é extremamente recente, já que o processo histórico de avanço de um estado de Bem Estar Social e, portanto de defesa dos trabalhadores no país, atingiu períodos de agudização e de exclusão presentes na Ditadura Militar e no modelo gerencial do Estado, que é mais recente. Assim, a defesa da pessoa idosa é reflexo de um processo que envolve, no máximo, vinte anos da história do país. 2. Concepção de pessoa idosa e a Revolução de 1930: planejamento de estado, burocracia e direitos sociais Até 1934, a concepção da velhice, e mesmo sua proteção social, não era tarefa de Estado, até porque o próprio conceito de idoso, da sua defesa e da promoção de sua igualdade é muito recente. Antes da Constituição de 1934, a questão da velhice não era uma preocupação de nossa jovem República, até porque não era compreendida pela nossa elite senhorial. Assim, devemos observar que apenas após a Revolução de 1930 a questão da velhice é tratada, porém dentro dos marcos da defesa do trabalhador e de uma nova concepção para a economia e mesmo para o Estado brasileiro. O momento pós 1930 deve ser analisado, considerando-se, portanto, uma nova adequação política e social, não apenas no núcleo 3232 hegemônico dirigente, mas na própria concepção do que deveria ser o Brasil. Desta forma, é importante destacar que no transcorrer da História, mesmo que as elites não tenham mudado sobremaneira, devemos considerar alguns períodos de agudização, principalmente em 1930, dos conflitos entre os estratos mais abastados da população, leia-se a burguesia, que surgia da cafeicultura e da industrialização em São Paulo, conjuntamente com as novas classes agrárias do Sul do país, de Minas Gerais e do Rio de Janeiro. A abolição da escravidão e a República são elementos de uma mesma transição que forjam uma nova classe social hegemônica no país: a burguesia industrial. Há, portanto, a transição de uma elite senhorial para uma empresarial e, consequentemente, uma “sociedade senhorial para a empresarial” (COSTA, 1982, p. 459). É dentro dessa disputa pela hegemonia que surgem os outros grupos sociais para além da oligarquia da cafeicultura. A revolução de 1930 enquadra-se num período de muitas transformações históricas na realidade brasileira, desencadeadas principalmente pela alteração da economia financeira internacional, que com a crise de 1929 modificou o panorama internacional. A crise do modelo econômico do capitalismo mundial reflete-se em boa parte nas medidas tomadas pelo governo de Getúlio Vargas, ou seja, suas ações estavam atreladas à crise sistêmica mundial e suas contradições. Getúlio Vargas, como parte deste processo, também vivencia essas incongruências e modifica suas perspectivas políticas, passando de um político pertencente ao grupo oligárquico do Rio Grande do Sul e aos quadros tradicionais de carreira gaúcha para tornar-se um modernizador. Ao assumir a presidência, transforma-se em um personagem centralizador e ao mesmo tempo reformista do Brasil, guiado por medidas autoritárias e populares. 3333 33 Várias mudanças acompanham o novo regime. Na hegemonia do sistema político, por exemplo, verificamos a pulverização dos grupos e a centralização do Estado a partir de Vargas. Essa centralização faz com que as oligarquias estaduais percam prestígio e assim uma nova ordenação política acompanha o processo de mudança. A constituinte instalada em 3 de maio de 1933 enquadra o Brasil num capitalismo moderno e industrial, trazendo profundas modificações no campo da indústria, com nacionalizações e estatizações, e no trabalho, com direitos garantidos: jornada de trabalho, descanso semanal, férias, salários mínimos regionais e outros. No período getulista, desenvolve-se no país a importância do planejamento a partir do Estado. A criação de empresas e instituições públicas, que organizam a produção, a proteção social por parte do Estado é uma constante. Ao longo dos primeiros anos tinham sido criadas 35 agências estatais; no período compreendido entre 1940 e 1945 surgiram 21 agências, englobando empresas públicas, sociedades de economia mista e fundações (COSTA, 2008). Até o ano de 1930 havia no país 12 empresas públicas; já no período de 1930 a 1945 foram criadas 13 novas empresas, sendo 10 delas do setor produtivo. Antes do governo Vargas não existia uma previdência pública, no máximo uma parca legislação para acolher alguns institutos de proteção social e aposentadorias que foram criados ou regulados por meio da criação de Caixas de Aposentadoria e Pensões, que foram instituídas pela chamada Lei Elói Chaves, em janeiro de 1923. Esta lei teve como objetivo beneficiar as poucas categorias profissionais que estavam organizadas. Após a Revolução de 1930, o novo Ministério do Trabalho não só incorpora estes Institutos e Caixas como garante providências para que essa garantia trabalhista fosse estendida a um número maior de trabalhadores. Assim foi criado o Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Marítimos (IAPM), em junho de 1933, ao qual se seguiram o dos Comerciários (IAPC), em maio de 1934, o dos Bancários (IAPB), em julho de 1934, o dos Industriários (IAPI), em dezembro de 1936, e os de outras categorias profissionais nos anos seguintes. Em fevereiro de 3434 1938 foi criado o Instituto de Previdência e Assistência aos Servidores do Estado (IPASE). Foi também no período Vargas que ocorreram as primeiras mudanças no sentido de defender os trabalhadores e garantir, por conseguinte, melhores condições de vida à população e à questão da velhice. Neste sentido, a criação em 1930 do Ministério do Trabalho dá um salto mais significativo. Já em 1934 a Constituição definiu um campo de direitos aos trabalhadores e ao povo brasileiro, com principal destaque para a legislação trabalhista, pois ocorre a regulamentação do trabalho feminino e dos menores no âmbito industrial, o salário mínimo, o repouso remunerado, a fixação da jornada de trabalho de oito horas, férias anuais remuneradas, regulamentação especial para o trabalho agrícola, amparo aos desvalidos, amparo à maternidade e à infância, direito à educação primária integral e gratuita. PARA SABER MAIS Para compreender melhor o significado da velhice na Constituição de 1934, observem que ela só é tratada na questão da saúde: Art. 121 [...] h) assistência médica e sanitária ao trabalhador e à gestante, assegurando a esta descanso antes e depois do parto, sem prejuízo do salário e do emprego, e instituição de previdência, mediante contribuição igual da União, do empregador e do empregado, a favor da velhice, da invalidez, da maternidade e nos casos de acidentes de trabalho ou de morte. (CF, 1942) 3535 35 Devemos observar, portanto, que a legislação de 1934 procura defender o trabalhador, porém não equaliza a questão da previdência e da aposentadoria aos trabalhadores da iniciativa privada. Neste sentido, veja o art. 121 da Constituição de 1934 que traduz a proteção social do trabalhador. Art. 121 A lei promoverá o amparo da produção e estabelecerá as condições do trabalho, na cidade e nos campos, tendo em vista a proteção social do trabalhador e os interesses econômicos do País. § 1º A legislação do trabalho observará os seguintes preceitos, além de outros que colimem melhorar as condições do trabalhador: a) proibição de diferença de salário para um mesmo trabalho, por motivo de idade, sexo, nacionalidade ou estado civil. b) salário mínimo, capaz de satisfazer, conforme as condições de cada região, às necessidades normais do trabalhador. c) trabalho diário não excedente de oito horas, reduzíveis, mas só prorrogáveis nos casos previstos em lei. d) proibição de trabalho a menores de 14 anos; de trabalho noturno a menores de 16 e em indústriasinsalubres, a menores de 18 anos e a mulheres. e) repouso hebdomadário, de preferência aos domingos. f) férias anuais remuneradas. g) indenização ao trabalhador dispensado sem justa causa. h) assistência médica e sanitária ao trabalhador e à gestante, assegurando a esta descanso antes e depois do parto, sem prejuízo do salário e do emprego, e instituição de previdência, mediante contribuição igual da União, do empregador e do empregado, a favor da velhice, da invalidez, da maternidade e nos casos de acidentes de trabalho ou de morte. i) regulamentação do exercício de todas as profissões. j) reconhecimento das convenções coletivas, de trabalho. 3636 § 2º Para o efeito deste artigo, não há distinção entre o trabalho manual e o trabalho intelectual ou técnico, nem entre os profissionais respectivos. § 3º Os serviços de amparo à maternidade e à infância, os referentes ao lar e ao trabalho feminino, assim como a fiscalização e a orientação respectivas, serão incumbidos de preferência a mulheres habilitadas. É importante observar que há a criação da CTPS – Carteira de Trabalho e Previdência Social em 1937, regularizando direitos que já estavam apresentados na Constituição de 1934. Na sequência de seu governo, há a criação da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) em 1943, que reúne toda a legislação social da área desde o início do governo de Vargas em 1930. PARA SABER MAIS A Carteira de Trabalho em breve será digital. Acompanhe as notícias pelo portal do Governo Federal e verifique sua implementação. Fonte: BRASIL. Carteira de Trabalho digital vai simplificar contratações. eSocial. Ministério da Economia. Publicado em 24 de set. de 2019. 3737 37 Já na Assembleia Constituinte de 1946, convocada após o fim do governo Vargas, há o acréscimo à legislação de uma série de direitos antes não consagrados e que seguiam ignorados, como o reconhecimento do direito de greve, do repouso remunerado em domingos e feriados e a extensão à estabilidade do trabalhador rural. Neste sentido, outra conquista da época foi a integração do seguro contra acidentes do trabalho ao sistema da Previdência Social. Ao longo dos anos 1950 e 1960 há uma ampliação do crescimento econômico do país, o que não necessariamente representou distribuição de riqueza, pois era um modelo de desenvolvimento excludente que transcorreu nos anos 1950 a 1980, mas principalmente no período do regime militar, em razão dos modelos de industrialização excludente e autoritário, franqueados na ideia de uma “modernização conservadora” (CHAUÍ, 1986, p. 47-49). No entanto, para esclarecer essa perspectiva é importante destacar que os principais elementos que solidificaram a concentração de riqueza e da não distribuição do “bolo” ocorreram no transcorrer da década de 1960 e 1970. 3. Capitalismo excludente, classes urbanas e diminuição dos benefícios sociais As empresas multinacionais desde a década de 1950 e, principalmente, em 1960 e 1970 se converteram no centro dinâmico da economia e o Estado assumiu a forma de empresário privilegiado (SKIDMORE, 1998, p. 206), baseando seu modelo numa receita inflacionária com efeito nocivo na sociedade, principalmente porque atingia a massa trabalhadora. Esse procedimento transferiu de forma indireta a riqueza da massa assalariada para os empresários, deixando os ricos cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais 3838 pobres. Não obstante essa transferência de forma indireta, os trabalhadores ainda foram prejudicados com a priorização do investimento em tecnologia que beneficiava o setor empresarial e com as mudanças na legislação do trabalho para garantir a efetivação de um modelo de exploração do trabalho que permitisse a aplicação de um modelo industrial excludente. ASSIMILE O período do regime militar fez várias mudanças que prejudicaram os trabalhadores, entre elas alterações constitucionais. Como exemplo, a Constituição de 1967 criou medidas que prejudicaram os trabalhadores e a própria condição de vida da pessoa e de sua aposentadoria, pois extinguiu a estabilidade no emprego e criou um novo sistema que permitia a lógica do desemprego por meio da criação do FGTS. Essa circunstância restringiu o aumento de novas vagas, alijando boa parcela da sociedade do setor industrial de ponta ou de transformação, como a indústria automobilística, jogando-os para os setores agrícolas, agropecuários, da indústria extrativa ou então para o setor de comércio e serviço, onde os salários eram mais baixos. Concomitantemente, o subemprego tornou-se inevitável, ocasionando a ampliação do “subproletariado marginal urbano” (SKIDMORE, 1998, p. 206-207). Em consequência da escolha dos investimentos houve o desperdício de altas somas de determinados setores em detrimento de outros, ou seja, houve alta concentração de capital, como é o caso da construção civil, da construção de estradas e sua correspondente especulação imobiliária. Esse modelo excludente e autoritário só piorou a situação dos trabalhadores, mantendo, portanto, um modelo de desenvolvimento excludente. Porém, pode-se observar 3939 39 o planejamento estatal como elemento central na aplicação dos recursos do Estado, baseado principalmente na tecnocracia. Durante o período militar, a industrialização excludente permaneceu como modelo econômico, e a tecnocracia disciplinava os modelos estratégicos para sua implementação. Porém, o modelo, ao privilegiar determinados setores na distribuição, implicava em concentração de riqueza e, assim, nem mesmo no transcorrer do milagre econômico (1970-1973) essa situação se inverteu ou se tornou menos aguda. Esse período denominado de milagre foi o momento de ampliação do autoritarismo, do “endurecimento do regime” (FAUSTO, 1995). No campo econômico houve melhoras para a população, no entanto o modelo estava assentado em três pilares: o endividamento externo, com o objetivo de agregar tecnologia externa; a concentração de renda; e a criação de um setor social que consumisse os produtos, como uma espécie de fordismo às avessas, ou ainda um fordismo autoritário. Esse momento durou pouco, pois em 1973, com a crise do petróleo, a economia do país foi atingida, desacelerando-a numa espiral inflacionária, colocando o regime em situação de crise e fazendo ressurgir os movimentos sociais, bem como novos personagens1 da luta pela democracia e pelo fim da ditadura no país. A ditadura militar buscou a superação da crise do período posterior ao milagre brasileiro por meio de um programa de estabilização econômica que indicava os instrumentos “clássicos” para este fim: cortes nos gastos públicos, aumento da carga tributária, diminuição do crédito e arrocho salarial. O Brasil, que no início da década de 1960 ocupava o 50º lugar entre as economias capitalistas mundiais, em meados da década de 1970 ocupava o 8º lugar. A imponente classificação encobre as características e contradições de um desenvolvimento capitalista desigual em relação aos países centrais e dá a exata medida do seu significado dentro do país: acumulação 1 O título da obra de Eder Sader é ilustrativo desse novo momento, pois o país viu passar novos movimentos sociais nas décadas de 1970-1980. “Quando novos personagens entraram em cena: experiências, falas e lutas dos trabalhadores da Grande São Paulo em 1970-80”. 4040 acelerada do capital e concentração de renda baseadas no extraordinário crescimento das desigualdades sociais. A década de 1980 caracteriza-se por ser um momento de contestação e de consolidação da governança civil na transição do regime militar que se encerrou em 1984, com a eleição indireta de um civil para a presidência da República. Ao mesmo tempo, no campo econômico, sucessivos planos foram criados para combater a inflação, considerada nessa década como o principal vetor da fome, miséria e desigualdade que ocorria na sociedade brasileira, fenômeno que permaneceu na década de 1990 concomitantemente ao fenômeno da globalização.No período da redemocratização brasileira, com o advento da Constituição cidadã, houve um avanço na consolidação da defesa dos trabalhadores e, por conseguinte, da população idosa, entre outros direitos que se apresentaram. Porém, esses direitos percorreram um longo caminho até sua implantação, pois na década de 1990 ocorreu um novo ciclo no país em que houve uma nova concepção no modelo estratégico do Estado, baseado na Administração Pública, reconhecida como gerencial, e como consequência a diminuição do Estado como regulador da economia e dos direitos sociais. TEORIA EM PRÁTICA O conceito de idoso pós-Revolução de 1930 compreende que a idade e sua “maioridade” estão vinculadas à compreensão do trabalho como elemento central do ser humano. No entanto, conforme observamos nos estudos, nem todos conseguem ingressar no mercado de trabalho com carteira registrada e contribuem para a Previdência Pública, ou se o fazem, isto ocorre tardiamente ou com pouco tempo de contribuição. Daí, que muitos não conseguem a aposentadoria por tempo de contribuição 4141 41 ou só têm acesso em razão da aposentadoria por tempo de idade. Reflita sobre conhecidos e ou familiares que demoraram para ingressar no mercado de trabalho e a atual situação de empregabilidade do país. Faça um paralelo com base nas informações coletadas, o que podemos destacar de tais levantamentos? VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. No período do regime militar várias mudanças, entre elas alterações constitucionais, afetaram os trabalhadores. Neste sentido, podemos afirmar que: a. A Constituição de 1967 criou medidas que prejudicaram os trabalhadores e a própria condição de vida da pessoa e de sua aposentadoria, pois extinguiu a estabilidade no emprego e criou um novo sistema que permitia a lógica do desemprego por meio da criação do FGTS. b. Houve a criação de empresas públicas para garantir o emprego dos trabalhadores. c. A Constituição de 1988 criou medidas que prejudicaram os trabalhadores e a própria condição de vida da pessoa e de sua aposentadoria, pois extinguiu a estabilidade no emprego e criou um novo sistema que permitia a lógica do desemprego por meio da criação do FGTS. d. A Constituição de 1967 criou medidas que prejudicaram os trabalhadores e a própria condição de vida da pessoa e de sua aposentadoria, pois não extinguiu a estabilidade no emprego, mas criou um 4242 novo sistema que permitia a lógica do desemprego por meio da criação do INSS. e. A Constituição de 1967 não criou medidas que prejudicaram os trabalhadores e a própria condição de vida da pessoa e de sua aposentadoria, pois apenas criou um novo sistema que permitia a lógica do emprego por meio da criação do FGTS. 2. Durante o período militar, a industrialização excludente permaneceu como modelo econômico que permitiu: a. A melhora das condições sociais e ampliação da exploração dos trabalhadores. b. O agravamento das condições sociais e ampliação da exploração dos trabalhadores. c. A melhora das condições sociais e ampliação do emprego dos trabalhadores. d. O agravamento das condições do Estado, ampliação da exportação de trabalhadores para o exterior e aumento da igualdade social. e. O agravamento das condições climáticas e ampliação da exploração dos trabalhadores domésticos. 3. A concentração de renda e um capitalismo excludente, principalmente no período militar, devem ser considerados elementos que atrasaram o processo de desenvolvimento: a. De um tipo ideal de sistema conforme o pensamento weberiano e assim também de um modelo de administração pública. 4343 43 b. De um tipo ideal de capitalismo conforme o pensamento marxista e assim também de um modelo de administração pública legal. c. De um modelo de estado de bem-estar social baseado no pensamento de Marx. d. O processo de desenvolvimento de um tipo ideal de capitalismo conforme o pensamento weberiano e assim também de um modelo de administração pública racional legal. e. Do capitalismo brasileiro e latino americano, pois a ditadura interferia no continente como um todo. Referências bibliográficas ABRAMOVAY, Ricardo. Desenvolvimento Rural Territorial e Capital Social. In: SABOURIN, Eric, TEIXEIRA, Olívio (orgs.). Planejamento do Desenvolvimento dos Territórios Rurais – Conceitos, controvérsias e experiências. Brasília: UFPB/ CIRAD/EMBRAPA, 2002. p. 113-128. BELLUZO, Luiz Gonzaga. Globalização, império e dinheiro. 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Questão 3 – Resposta: D Resolução: Atrasou o processo de desenvolvimento de um tipo ideal de capitalismo conforme o pensamento weberiano e assim também de um modelo de administração pública racional legal. http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-64451988000200004&script=sci_arttext http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-64451988000200004&script=sci_arttext 4545 45 Histórico da política de defesa dos direitos do idoso. Conselhos e controle social: papel do conselho e do conselheiro Autor: José Antonio da Costa Fernandes Objetivos • Conceituar o que denominamos idoso. • Reconhecer a concepção do Estado e as Políticas Públicas desenvolvidas, bem como a legislação infraconstitucionalda defesa da pessoa idosa. • Analisar o Estatuto do Idoso como política pública de atenção aos idosos. 4646 1. Introdução O significado de pessoa idosa mudou no mundo e no nosso país, pois é uma contingência que envolve uma questão histórico social, já que tem a ver com a melhora nas condições de vida da população no mundo. Devemos então observar que a longevidade da pessoa está vinculada a melhores condições de vida, que perpassam melhores salários, condições de saneamento, assistência social e a própria aposentadoria. Se ontem as pessoas envelheciam mais rapidamente, hoje há a tendência de o envelhecimento ser mais longevo da população, principalmente em países europeus, mas também em nosso país. Assim, os Estados têm desenvolvido políticas públicas no sentido de enfrentar essa nova demanda social. O Estado e as políticas públicas desenvolvidas, bem como a legislação infraconstitucional, procuram garantir a defesa da pessoa idosa por meio de legislação própria, o que, no caso do Brasil, reflete-se no Estatuto do Idoso e no ordenamento jurídico correlato. 2. Política de defesa da pessoa idosa e sua materialização nas políticas públicas Para compreendermos o conceito de idoso devemos ter em mente o que o Estado elabora como definição e qual a idade que caracteriza essa condição. Assim, é importante destacar que o conceito de idoso é explanado na Constituição de1988 que, embora recente não define claramente a política pública a ser adotada. Então devemos observar que apesar desta conquista na Constituição de 1988, de lá até 1994 não existia no Brasil uma política nacional para 4747 47 os idosos. Observamos, então, que o que havia era um conjunto de iniciativas privadas e algumas medidas públicas estabelecidas em alguns programas (como o PAI, Papi, Conviver, Saúde do Idoso) destinados a idosos em situação de carência. Tínhamos muito mais uma ação assistencial em “favor” desta população idosa do que uma política de estado que proporcionasse atenção e proteção social adequada por meio de ações preventivas e reabilitadoras. Neste sentido, os movimentos sociais, sindicatos e entidades procuram o enfrentamento dessa realidade por meio de ações para que o Estado assegure uma nova lógica no entendimento da situação do idoso no país. Assim, a conquista de sua cidadania passou a ser a reinvenção da própria velhice. Portanto, há uma ressignificação sobre a ideia de velhice e do conceito da pessoa idosa. Desta forma, a própria concepção que o Estado confere à pessoa que se encontra nesta posição delimita que a pessoa idosa é definida a partir dos 60 anos, de acordo com o Estatuto do Idoso. Devemos observar então que há um debate sobre o significado de quando se inicia a terceira idade e mesmo a concepção do ser idoso, pois a aposentadoria atualmente define que a idade ideal é aos 60 anos e a nossa Constituição não estabelece a idade de forma expressa, porém garante a gratuidade no uso do transporte público aos 60 anos. Para aprofundar o debate a partir da definição da nossa Constituição Federal citamos abaixo: Capítulo VII Da Família, da Criança, do Adolescente, do Jovem e do Idoso. Art. 230. A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida. § 1º Os programas de amparo aos idosos serão executados preferencialmente em seus lares. 4848 § 2º Aos maiores de sessenta e cinco anos é garantida a gratuidade dos transportes coletivos urbanos. Podemos observar do estudo efetuado até aqui que a questão da significação da pessoa idosa ainda é recente no país e implica várias variáveis na promoção do bem estar social. Ou seja, a Constituição de 1988 quis delimitar que o país avançaria para um Estado de Bem Estar Social, e podemos notar um esforço de toda a sociedade refletido no Estado nesse sentido. ASSIMILE O Estatuto do Idoso é recente em nosso país e tem como perspectiva garantir uma velhice mais digna. A leitura do Estatuto do Idoso garante uma melhor compreensão do significado do idoso. Veja nas referências bibliográficas a legislação do Estatuto. 3. Terceiro setor, participação e políticas públicas para idosos O terceiro setor pode ser compreendido como aquele composto por entidades da sociedade civil, sem fins lucrativos, que tenham finalidade pública e que de qualquer forma coexistam com o chamado primeiro setor, definido como o Estado, e o segundo setor, estabelecido na ideia do mercado. Deriva de atividade realizada por particulares e tem como desempenho principal atividades de interesse público, o que não implica necessariamente em entidades com a característica inicial de atuar na substituição do Estado, mas no auxílio da promoção e implementação de políticas públicas. Em razão desta 4949 49 característica é que muitas entidades integrantes desse setor recebem subvenções e auxílios por parte do Estado. O recente interesse pela área de políticas públicas e organizações sociais reflete-se em razão da importância da nossa recente história, que envolve diversos fatores, e na atualidade se apresenta com maior intensidade, seja em razão dos parâmetros regulatórios – que exigem a participação de novos atores sociais – ou mesmo pela maior importância na construção de políticas públicas, com a participação ou mesmo a gestão de organizações sociais. Assim, a importância do terceiro setor ampliou-se no país em razão dos processos de alteração do modelo de gestão do estado, até mesmo com a substituição das tarefas do estado por meio do oferecimento e execução de determinados serviços. Neste sentido, as modificações legislativas proporcionadas pela inclusão das organizações sociais nas tarefas do estado tiveram uma ampliação com a publicação das leis 9.637 e 9.548, implementadas na gestão FHC, e que faziam parte da concepção de reforma do estado. Neste contexto, as duas mais recentes qualificações jurídicas para entidades do Terceiro Setor são as OS (Organizações Sociais) e as (OSCIP Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público), além da mais conhecida, que são as Organizações Não Governamentais – ONGs. Devemos observar então, que a nossa Constituição estabelece a participação do terceiro setor na promoção da assistência social e na seguridade. Neste sentido, observe como a questão da saúde é considerada pela Constituição Federal de 1988 no atendimento dos jovens e adolescentes, e, no caso do idoso, o próprio Estatuto: § 1º O Estado promoverá programas de assistência integral à saúde da criança, do adolescente e do jovem, admitida a participação de entidades não governamentais, mediante políticas específicas e obedecendo aos seguintes preceitos. (Constituição Federal, 1988, Art. 227) 5050 Ao analisarmos a implementação da Reforma do Estado e o transcorrer desta concepção gerencial do Estado, é possível observar que as Políticas Públicas de proteção social tiveram uma modificação no papel do Estado como indutor e, portanto, poderíamos afirmar que houve um vácuo na construção de uma real política de atuação do Estado. No entanto, nos anos 1990 há a criação de uma Política Nacional do Idoso que vai permitir a aglutinação dos direitos dos idosos até culminar com o estabelecimento do estatuto do Idoso. A Política Nacional do Idoso foi instituída pela Lei 8.842/94, que foi regulamentada pelo Decreto 1.948/96. Esta lei permitiu ampliar significativamente os direitos dos idosos, pois desde a LOAS as prerrogativas de atenção a este setor social não estavam garantidas de forma ampla. Era uma política baseada em alguns princípios já estabelecidos na Constituição. PARA SABER MAIS A Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) teve diversas modificações na última década. Para ter acesso às modificações e à nova lei consolidada, verifique nas referências bibliográficas a Constituição Federal e a legislação própria do LOAS. Somentecom a implementação do Estatuto do Idoso há o estabelecimento de prioridade absoluta às normas de proteção à pessoa idosa, pois estabelece novos direitos e cria vários mecanismos específicos de proteção. Estes mecanismos estão atrelados e balizadas na ideia do atendimento permanente e no aprimoramento da condição de vida da população idosa, até mesmo sobre a inviolabilidade física, psíquica e moral. Podemos afirmar, então, que o Estatuto constitui um 5151 51 marco legal para a consciência da pessoa idosa no país, pois foi a partir dele que os idosos puderam exigir maior proteção aos seus direitos e até mesmo que a própria sociedade compreendesse esses direitos. Fonte: BRASIL. Ministério lança Campanha de Atendimento Prioritário à Pessoa Idosa. Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Publicado em 05 dez. 2018 [última modificação: 29 mar. 2019]. Na perspectiva de que a sociedade possa compreender o ativismo da pessoa idosa no sentido de ampliar e garantir os direitos, organizaram-se várias conferências da pessoa idosa no período entre 2010 e 2015. Como exemplo desta circunstância o país realizou, em 2015, a 4ª Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa, que teve como temática: “Protagonismo e Empoderamento da Pessoa Idosa – Por um Brasil de Todas as Idades”. Neste sentido, observamos que esse debate tem como objetivo sensibilizar as instituições, a sociedade e os próprios idosos sobre a importância da sua participação ativa no meio social, daí a necessidade do protagonismo da pessoa idosa. O papel dos conselhos municipais e dos conselheiros é significativo para a ampliação do conceito de cidadania. 5252 TEORIA EM PRÁTICA Identifique se em sua cidade há o conselho municipal do idoso. A pesquisa poderá ser feita acessando o portal de sua cidade. Após a pesquisa, identifique se há reuniões ordinárias e se o governo municipal tem efetivamente se dedicado a cumprir o estatuto, por exemplo, no uso do transporte público e em outras políticas públicas. VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. Se ontem as pessoas envelheciam mais rapidamente em razão das próprias condições de vida, hoje há a tendência de o envelhecimento ser mais longevo da população, principalmente nos países europeus, mas também em nosso país. Assinale a alternativa correta. a. Assim as sociedades, independentes dos Estados, têm desenvolvido políticas públicas no sentido de enfrentar esta nova demanda social. b. Assim os municípios têm desenvolvido políticas públicas no sentido de enfrentar esta nova demanda social. c. Assim apenas os governos europeus têm desenvolvido políticas públicas no sentido de enfrentar esta nova demanda social. d. Assim os Estados têm desenvolvido políticas públicas no sentido de enfrentar esta nova demanda social. 5353 53 e. Assim os Estados não têm desenvolvido políticas públicas no sentido de enfrentar esta nova demanda social. 2. Assinale a alternativa correta. No Brasil, o que delimita que a pessoa idosa é definida a partir dos 60 anos: a. Estatuto do Idoso. b. Constituição. c. Estatuto da previdência social. d. Convenção da ONU. e. Estatuto da previdência privada. 3. O significado de terceiro setor pode ser compreendido como aquele: a. Composto por entidades da sociedade civil, com fins lucrativos, que tenham finalidade privada, e que de qualquer forma coexistam com o chamado o primeiro setor, definido como o Estado, e o segundo setor, estabelecido na ideia do mercado. b. Composto por entidades da sociedade civil, sem fins lucrativos, que tenham finalidade pública, e que de qualquer forma coexistam com o chamado primeiro setor, definido como o Estado, e o segundo setor, estabelecido na ideia do mercado. c. Composto por entidades da sociedade civil, com fins lucrativos, que tenham finalidade pública, e 5454 que de qualquer forma coexistam com o chamado primeiro setor, definido como o Estado, e o segundo setor, estabelecido na ideia da relação com os estados e municípios. d. Composto por entidades do governo, com ou sem fins lucrativos, que tenham finalidade pública, e que de qualquer forma coexistam com o chamado primeiro setor, definido como o Estado, e o segundo setor, estabelecido na ideia do mercado. e. Composto por entidades da sociedade, sem fins lucrativos, que não tenham finalidade pública, e que de qualquer forma não coexistam com o chamado primeiro setor, definido como o Estado, e o segundo setor, estabelecido na ideia do mercado. Referências bibliográficas ABRAMOVAY, Ricardo. Desenvolvimento Rural Territorial e Capital Social. In: SABOURIN, Eric, TEIXEIRA, Olívio (orgs.). Planejamento do Desenvolvimento dos Territórios Rurais – Conceitos, controvérsias e experiências. Brasília: UFPB/ CIRAD/EMBRAPA, 2002. p. 113-128. BELLUZO, Luiz Gonzaga. Globalização, império e dinheiro. In: TAVARES, Maria da Conceição; FIORI, José Luis (Orgs). Poder e dinheiro: uma economia política da globalização. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997. BRASIL. Ministério lança Campanha de Atendimento Prioritário à Pessoa Idosa. Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Publicado em 05 de dez. de 2018. Disponível em: https://www.mdh.gov.br/todas-as-noticias/2018/dezembro/ ministerio-lanca-campanha-de-atendimento-prioritario-a-pessoa-idosa. Acesso em: 21 set. 2019. ______. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2016]. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao.htm. Acesso em: 21 set. 2019. ______. Estatuto do idoso: lei federal nº 10.741, de 01 de outubro de 2003. Brasília, DF: Secretaria Especial dos Direitos Humanos [2013]. Disponível em: http://bvsms. saude.gov.br/bvs/publicacoes/estatuto_idoso_3edicao.pdf. 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Gabarito Questão 1 – Resposta: D Resolução: Os Estados (governos dos países de forma geral) têm desenvolvido políticas públicas no sentido de enfrentar esta nova demanda social, pois ela é recorrente. Questão 2 – Resposta: A Resolução: Faz parte da legislação infraconstitucional. Questão 3 – Resposta: B Resolução: Definição conceitual, porque no caso do
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