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Sumário - V.6, N.1 (2018) EDITORIAL SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL: FORTALECENDO A IDENTIDADE DA PROFISSÃO Cristiane Apio Motta Dias 1-2 ARTIGOS ORIGINAIS QUALIDADE DE VIDA EM ENFERMEIROS ATUANTES EM UMA INSTITUIÇÃO HOSPITALAR Zelane Zappas, Arlete Eli Kunz da Costa, Luís Felipe Pissaia 3-13 SITUAÇÕES DE VULNERABILIDADE VIVIDAS POR ADOLESCENTES ESTUDANTES IDENTIFICADAS NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE: PESQUISA DOCUMENTAL Graziela Piovesan, Marinez Koller Pettenon, Edna Margarete Fortes, Vivian Steffen Heimerdinger, Silvia Cristina Segatti Colombo 14-30 PREVALÊNCIA DE INTERNAÇÕES POR TRAUMATISMO CRANIOENCEFÁLICO EM UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA DA SERRA GAÚCHA Ruy de almeida barcellos, Tais Cardoso de Lima, Angela Enderle Candaten 31-40 A IMPLANTAÇÃO DA CONSULTA DE ENFERMAGEM EM PUERICULTURA NO MUNICÍPIO DE QUINZE DE NOVEMBRO – RS Clediane Cristina Kunz Merg, Luana Possamai Menezes 41-55 ASSISTÊNCIA MULTIPROFISSIONAL AO IDOSO COM DOENÇA DE ALZHEIMER INSTITUCIONALIZADO Rafaela Zatt, Arlete Eli Kunz da Costa, Luís Felipe Pissaia 56-69 A PERCEPÇÃO DOS USUÁRIOS DE UMA REDE SOCIAL ACERCA DO PARTO HUMANIZADO Kamila Ramos Elias Krauss, Maristela Cássia de Oliveira Peixoto, Tiago Esteves da Silva, Andreia Simone Müller 70-85 ARTIGOS DE RELATO DE EXPERIÊNCIA SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM A UM PACIENTE COM CÂNCER COLORRETAL: CONTRIBUIÇÕES PARA ENFERMAGEM Cristina Numer, Caroline Thaís Both, Cleci Lourdes Schmidt Piovesan Rosanelli 86-96 EDITORIAL 1 REVISTA ESPAÇO CIÊNCIA & SAÚDE v.6, n.1, p.1-2, jul./2018 SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL: FORTALECENDO A IDENTIDADE DA PROFISSÃO DIAS, Cristiane Apio Motta 1 De acordo com Delgado (2010), a humanidade está constantemente à procura de si mesmo, de suas referências, de seus laços identificadores. A identidade, não só apresenta dimensão individual, mas também coletiva e diz respeito a atributos culturais, crenças, simbologias, valores, experiências e hábitos, isto é, retrata a um conjunto de variáveis em constante construção. Além disso, tanto economicamente como culturalmente, a compreensão do trabalho como forma de interferir a integração social, é de fundamental importância para a vida do individuo, pois isso se percebe a medida em que o trabalho fornece uma identidade a quem trabalha, que nem sempre de outra forma se conseguiria simplesmente existindo ou relacionando-se com outros. Além disso, a enfermagem encontra-se em meio a outras profissões da área da saúde e possui características que relativamente se identificam, assim como entre os trabalhadores de enfermagem, possuem a forma como os seus saberes se organizam, suas preferências, seus instrumentos e objetos de trabalho (PRESTES, 2006). No trabalho da enfermagem, a procura por uma identidade profissional, inicia-se por meio do trabalho de Florence Nightingale, logo depois da Guerra da Criméia no ano de 1856. Florence tinha como foco, medidas de conforto e preservação da higiene. Além disso, procurava se diferenciar da medicina, estabelecendo assim premissas que serviriam de base para a profissão. A contar do século 20, a atenção com a execução de princípios científicos que orientassem a prática da enfermagem fez instituir o planejamento da assistência de enfermagem, indo a busca de uma postura menos intuitiva e mais científica. Dessa forma, com as mudanças na prática da enfermagem, almejava-se a independência e autonomia da profissão (MARQUES; CARVALHO, 2005). A Sistematização da Assistência da enfermagem tem como respaldo legal a resolução COFEN n. 358/2009, que dispõe sobre a SAE nas instituições de saúde brasileiras. A SAE tem como objetivo a qualidade da assistência. No entanto, dentre os fatores que influenciam a 1 Mestre em Práticas Socioculturais e Desenvolvimento Social da UNICRUZ Universidade de Cruz Alta – UNICRUZ, Cruz Alta, RS, Brasil. E-mail: crisapiomotta@hotmail.com. mailto:crisapiomotta@hotmail.com 2 REVISTA ESPAÇO CIÊNCIA & SAÚDE v.6, n.1, p.1-2, jul./2018 qualidade da assistência, há a formação profissional (D‘INNOCENZO, 2006). Morais (2015) menciona, que por não se conhecer a SAE de forma mais aprofundada, acaba por gerar desinteresse e perda do sentido da ação, causando uma execução superficial, sem comprometimento que tem dificultado a implementação do processo de enfermagem. Gonçalves (2007) relata essa superficialidade de conhecimento sobre a SAE no campo de ensino, onde gera impacto no campo profissional, muitas vezes reflexo da falta de desenvolver o pensamento crítico, que possibilitasse o despertar para uma postura crítica, dentro de cada contexto da enfermagem durante a prática assistencial. Assim, é pertinente afirmar, que fomentar a importância da SAE na formação, implica consequências na qualidade da assistência depois na prática profissional, pois possibilita organizar o cuidado, obter visibilidade social, delimita-se o espaço de atuação dessa profissão à medida que colabora na manutenção das conquistas legais da profissão e consequentemente fortalece a sua identidade profissional a medida em que a solidifica. REFERÊNCIAS DELGADO, L. A. N. História oral: memória, tempo, identidades 2 ed. Belo Horizonte - Ed. Autêntica, 2010 D´INNOCENZO, M. D.; ADAMI, N. P.; CUNHA, I. C. O movimento pela qualidade nos serviços de saúde e enfermagem. Rev Bras Enferm, v. 59, n. 1, p. 84-8, 2006. PRESTES, F. C. et al. Construção da identidade profissional da enfermagem: revisão da literatura Disponível em: <http://www.abennacional.org.br/2SITEn/Arquivos/N.037.pdf>. Acesso em: 01 jun. 2018. GONÇALVES, L.R et al. O desafio de implantar a sistematização da assistência de enferma- gem sob a ótica de discentes. Esc Anna Nery R. Enferm, v. 11, n. 3, p. 459-65, 2007. MARQUES, L. V.P.; CARVALHO, D.V. Sistematização da assistência de enfermagem em centro de tratamento intensivo: percepção das enfermeiras. REME – Rev. Min. Enf.; v. 9, n. 3, p. 199-205, 2005. MORAIS, L. B. et al. Implicações para o processo de enfermagem na unidade de terapia intensiva. Perspectivas On line: biol & saúde, v. 19, n. 5, p. 35-52, 2015. http://www.abennacional.org.br/2SITEn/Arquivos/N.037.pdf 3 REVISTA ESPAÇO CIÊNCIA & SAÚDE v.6, n.1, p.3-13, jul./2018 QUALIDADE DE VIDA EM ENFERMEIROS ATUANTES EM UMA INSTITUIÇÃO HOSPITALAR Life quality of nurses working in a hospital institution Calidad de vida en enfermeros actuantes en una institución hospitalaria ZAPPAS, Zelane 1 COSTA, Arlete Eli Kunz da 2 PISSAIA, Luís Felipe 3 RESUMO O presente estudo possui por objetivo conhecer a compreensão de qualidade de vida de enfermeiros que atuam no setor clínico em uma instituição hospitalar do interior do Rio Grande do Sul, Brasil. A metodologia baseou-se na pesquisa descritiva e exploratória, com abordagem qualitativa, sendo realizada a Análise de Conteúdo proposta por Bardin (2011). Os participantes foram quatro enfermeiros, sendo que a coleta de dados ocorreu por meio de entrevista gravada, com questões norteadoras realizadas durante o mês de agosto de 2017. Como resultados pode-se dizer que emergiram quatro categorias que retratamas compreensões sobre qualidade de vida para indivíduo, as questões relativas a atuação do enfermeiro, bem como as atividades realizadas para manutenção desta qualidade enquanto profissional atuante e por fim as facilidades e dificuldades na manutenção da qualidade de vida. Sendo assim, pode-se concluir que os enfermeiros possuem qualidade de vida, cada um com sua percepção e singularidade/particularidade de expressar e usufruir seu tempo fora do ambiente de trabalho. Descritores: Enfermagem; Qualidade de vida; Saúde; Assistência de Enfermagem. ABSTRACT The objective of this study is to learn about the comprehension of life quality by nurses who work in the clinical wing of a hospital institution in the interior of Rio Grande do Sul, Brazil. The methodology is based on a descriptive, exploratory research from a qualitative approach, followed by the Content Analysis proposed by Bardin (2011) The participants were four nurses, with data collection taking place by means of recorded interviews containing guidance questions during August 2017. From the results, it can be said that four categories emerged that draw the comprehension of life quality for the individual, the questions related to the nurse work, as well as the activity performed to maintain such quality as working professionals, and lastly, how easy and how difficult it is to maintain the life quality. Thus, it can be concluded that nurses have a life quality, each with their own perception and singularity/peculiarity to express and enjoy their time outside the work environment. 1 Acadêmica de Enfermagem. Universidade do Vale do Taquari – UNIVATES, Lajeado, RS, Brasil. E-mail: lpissaia@universo.univates.br. 2 Enfermeira. Mestre em Desenvolvimento Regional. Doutora em Ambiente e Desenvolvimento. Universidade do Vale do Taquari – UNIVATES, Lajeado, RS, Brasil. E-mail: arlete.costa@univates.br. 3 Enfermeiro. Especialista em Gestão e Auditoria de Serviços da Saúde. Mestrando em Ensino. Universidade do Vale do Taquari – UNIVATES, Lajeado, RS, Brasil. E-mail: lpissaia@universo.univates.br. 4 REVISTA ESPAÇO CIÊNCIA & SAÚDE v.6, n.1, p.3-13, jul./2018 Descriptors: Nursing; Life Quality; Health; Nursing Assistance. RESUMEN Este estudio tiene por objetivo conocer la comprensión de la calidad de vida de enfermeros que actúan en el sector clínico en una institución hospitalaria del interior de Rio Grande do Sul, Brasil. La metodología se basó en la investigación descriptiva y exploratoria, con abordaje cualitativo, en el que se aplicó el Análisis de Contenido propuesto por Bardin (2011). Los participantes fueron cuatro enfermeros y la recolección de datos ocurrió por medio de entrevista grabada, con cuestiones orientadoras hechas a lo largo del mes de agosto de 2017. Como resultados se puede decir que emergieron cuatro categorías que retratan las comprensiones sobre la calidad de vida para el individuo, las cuestiones relativas a la actuación del enfermero, las actividades realizadas para el mantenimiento de esta calidad como profesional actuante y, por último, las facilidades y dificultades en la manutención de la calidad de vida. Así, se puede concluir que los enfermeros poseen calidad de vida, cada uno con su percepción y singularidad/particularidad de expresar y disfrutar su tiempo fuera del ambiente de trabajo. Descriptores: Enfermería; Calidad de vida; Salud; Asistencia de Enfermería. 1 INTRODUÇÃO Conforme Pereira, Teixeira e Santos (2012), o conceito de Qualidade de Vida (QV) vem sendo uma preocupação na contemporaneidade e é abordado de duas maneiras: como sinônimo e condições de saúde. Segundo Amaral, Ribeiro e Paixão (2015), o conceito QV vem sendo empregado frequentemente na área da saúde e do trabalho com o objetivo de discernir indicadores que possam ser substituídos através da implantação das políticas de saúde ou das estratégias de gestão empresarial. De acordo com Mascarenhas et al. (2013), a preocupação com a QV tem aumentado nos últimos anos sendo empregado no campo da saúde, conduzindo e definindo condutas e tratamentos específicos. É de suma importância ressaltar a necessidade de avaliação da QV dos profissionais de saúde, os quais, podem influenciar diretamente na prestação da assistência, afetando o atendimento e causando prejuízos aos pacientes (AMARAL; RIBEIRO; PAIXÃO, 2015). Araújo, Soares e Henriques (2009), relatam que a QV passou a ser o foco de estudos a partir da década de 1990, principalmente questionando os campos da existência e da relação humana. O termo QV aparece com frequência nas mídias, o qual, muitas vezes é confundido com uma “vida boa”, sendo muito mais amplo, envolvendo: segurança, felicidade, lazer, saúde, condição financeira estável, amor e trabalho. Na área da saúde sua busca influenciou as 5 REVISTA ESPAÇO CIÊNCIA & SAÚDE v.6, n.1, p.3-13, jul./2018 políticas e as práticas de saúde a partir das últimas décadas. Daubermann (2012), relata que na contemporaneidade, a qualidade de vida no trabalho (QVT), engloba dimensões físicas, tecnológicas, psicológicas e sociais do trabalho, apresentando uma organização mais humana e saudável, relacionando a satisfação dos trabalhadores em um ambiente de trabalho seguro, de respeito mútuo, com oportunidades para a execução de suas funções. Acredita-se que para atingir a satisfatória QVT, há a necessidade de valorizar o trabalhador, sua participação no processo decisório, o incentivo do potencial criativo, a satisfação de suas necessidades, a humanização das relações de trabalho e a melhoria das condições laborais. O presente estudo possui por objetivo verificar a compreensão de QV no trabalho de enfermeiros que atuam em um setor clínico de uma instituição hospitalar do interior do Rio Grande do Sul, Brasil. 2 MATERIAIS E MÉTODOS Trata-se de uma pesquisa de caráter descritiva e exploratória com abordagem qualitativa conforme preconizado por Bardin (2011), tendo como participantes quatro enfermeiros de um setor clínico de uma instituição hospitalar do interior do Rio Grande do Sul, Brasil. A amostra foi composta por quatro indivíduos atuantes no referido setor. Os critérios de inclusão para os participantes foram: atuar no mínimo há seis meses no setor de pesquisa e possuir seis meses ou mais de conclusão da graduação. Os critérios de exclusão foram definidos a todos os profissionais que se encontravam em período de folga, férias, licença ou afastado de suas atividades independentes do motivo. Inicialmente os pesquisadores realizaram contato com a coordenação do setor, que realizou o mapeamento dos profissionais, com base nesta lista realizou-se a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão. Após a definição dos participantes, os mesmos foram contatados individualmente no setor onde foi apresentado o projeto, bem como seus objetivos e critérios éticos envolvidos. Na oportunidade realizou-se o convite para participação, a qual após o aceite foi agendado momentos secundários para a entrevista individual. As entrevistas individuais ocorreram em espaço cedido pela instituição hospitalar, seguindo os preceitos éticos de sigilo previstos pelo projeto. As entrevistas ocorreram durante o mês de agosto de 2017, sendo que cada entrevista possuiu duração média de 30 minutos. Na ocasião foram apresentados aos participantes o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 6 REVISTA ESPAÇO CIÊNCIA & SAÚDE v.6, n.1, p.3-13, jul./2018 (TCLE), o qual realizou-se a leitura e assinatura em duas vias de igual teor. A entrevista foi realizada com base em cinco questões norteadoras. Sendo elas: 1- Há quanto tempo trabalha no setor? 2 - O que é qualidade de vida para você? 3- Você possui qualidade de vida enquanto enfermeiro? 4 - Quais atividades você realiza para alcançar a qualidadede vida? 5 - Quais são as facilidades e as dificuldades que você encontra para ter a qualidade de vida? Os diálogos foram gravados e após transcritos, onde o nome dos profissionais foi resguardado, substituindo-os pela sigla “Enf.”, seguido de números ordinais de 1 a 4, sorteados aleatoriamente. Acordou-se que os dados levantados pela pesquisa seriam apresentados formalmente pelos pesquisadores em formato de trabalhos científicos à comunidade e aos participantes do estudo. As informações coletadas foram agrupadas e analisadas conforme prevê a Análise de Conteúdo de Bardin (2011), seguindo as etapas: Pré-análise; Exploração do material; Tratamento dos resultados obtidos e interpretação. Durante todo o processo de realização da pesquisa, foram observados e respeitados os aspectos legais e éticos, conforme a Resolução N° 466, de 12 de dezembro de 2012, do Conselho Nacional de Saúde (CNS), que determina as diretrizes e normas reguladoras de estudos que envolvem seres humanos. O estudo possui aprovação da instituição hospitalar alvo de estudo, recebendo autorização pela Pró-Reitoria de Ensino e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (COEP) do Centro Universitário Univates, através do parecer nº 1.379.976. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO A seguir serão apresentados os resultados e discussões referentes a coleta de informações realizadas em campo que originaram as quatro categorias temáticas subsequentes. Acredita-se ser válido mencionar que no que tange a caracterização dos participantes, três são do sexo feminino e um do sexo masculino, com idades entre 27 e 49 anos e com tempo de atuação de um ano e oito meses a doze anos. 3.1 Qualidade de vida e o ambiente hospitalar De acordo com a 8ª Conferência Nacional de Saúde (1986) o significado de saúde é resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, 7 REVISTA ESPAÇO CIÊNCIA & SAÚDE v.6, n.1, p.3-13, jul./2018 transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse de terra e acesso à saúde. É assim, antes de tudo, o resultado das formas de organização social da produção, as quais podem gerar desigualdades nos níveis de vida (MASCARENHAS et al., 2013). Neste sentido percebeu-se que alguns profissionais relacionaram a saúde com qualidade de vida, trazendo a tona algumas situações que lembram sua definição, conforme a realizada por Enf. 3, descrita a seguir: Na minha opinião qualidade de vida é tu ter uma disponibilidade para realizar atividades fora do ambiente hospitalar, poder conviver com a família, ter um hobby, praticar atividade física. No setor eu trabalho há dois anos. (Enf. 3) O relato apresenta uma visão ampliada do conceito de QV, transpondo as barreiras hospitalares e domiciliares, inserindo o indivíduo no próprio contexto social de convivência, conduzindo a práticas consistentes de convivência comunitária. Conforme Freire et al. (2015) relatam que o trabalho e a QV tem relação direta, pois é nele que o trabalhador passa a maior parte de sua vida influenciando nas questões de saúde, relações afetivas e do próprio indivíduo. O mesmo autor demonstra que a atividade física é justificada, como um importante elemento na promoção da saúde e QV da população, sabendo-se que são muitos os seus benefícios, sendo: físicos, mentais, reduz os níveis de ansiedade, depressão e raiva (FREIRE et al., 2015). Fatores como a rotina externa, as atividades que o profissional realiza além do tempo que passa no trabalho também são elencados como benéficos para a QV e aparecem nas falas de Enf. 1 e Enf. 4 respectivamente a seguir: Pra mim qualidade de vida hoje, é poder realizar um bom trabalho, ter tempo pra mim, tirar um tempo pra mim, que hoje com a idade que eu tenho é o que eu consigo fazer, fazer uma atividade que me recupere do cansaço, que me alivia, isso que é qualidade de vida, poder ter uma conversa tranquila com alguém, entendeu, poder aproveitar meus momentos fora do meu trabalho, poder aproveitar as coisas que eu consegui adquirir com o trabalho no tempo de vida. (Enf. 1) Ter qualidade de vida é ter trabalho, ter lazer, ter momentos de descontração né, mas acho que se tu tiver a descontração, pra ti ter a descontração tu vai ter que o trabalho primeiro, né. No setor trabalho à 7 anos. (Enf. 4) 8 REVISTA ESPAÇO CIÊNCIA & SAÚDE v.6, n.1, p.3-13, jul./2018 Os conceitos de QV conforme os relatos acima evidenciaram a importância da decisão pessoal e intransferível de decisão sobre suas atividades e condução do ponto de vista do que é melhor para si e o grupo familiar, sendo elencadas além de atividades de lazer, as próprias condições de trabalho e econômicas. A QV vem sendo utilizada constantemente nos campos da saúde e do trabalho com objetivo de identificar indicadores que possam ser modificados através da implementação das políticas de saúde ou das estratégias de gestão empresarial (AMARAL; RIBEIRO; PAIXÃO, 2015). De acordo com Haddad (2000), entre os fatores que contribuem para a QV de um indivíduo, o trabalho, talvez seja, um dos mais marcantes porque é por meio do trabalho que as pessoas conseguem ter acesso à educação, à cultura e ao lazer; e, de um modo geral, passa a maior parte ativa de seu tempo trabalhando. Ainda segundo Haddad (2000) QV no trabalho em saúde é o maior determinante sobre a maneira com que a qualidade da assistência está sendo realizada. 3.2 A qualidade de vida e o “ser” enfermeiro Quando se infere sobre a atuação do enfermeiro, uma questão que recebeu destaque é o trabalho noturno, normalmente vinculado à exaustão física e psicológica. Ele também está relacionado a aspectos positivos, pesquisadores nos demonstram que ocorre uma maior interação entre membros da equipe e com os pacientes, redução do número de exames e do fluxo de pessoas na unidade, quando comparado ao turno diurno, ambiente mais calmo e silencioso, a disponibilidade do horário diurno para realizar outras atividades, mais tempo para dedicar à criação dos filhos, possibilidade de maiores ganhos financeiros com o adicional noturno e/ou outros empregos (SILVEIRA, 2014). Um dos exemplos verificados de aspectos positivos pode ser verificado na fala a seguir, que trata da rotina do participante Enf. 3, descrita a seguir: Eu acredito que sim, porque no momento eu trabalho só aqui no hospital, então eu tenho praticamente 36 horas pós plantão disponível para realizar minhas atividades e eu consigo fazer, conviver com minha família, eu consigo ter um tempo livre, consigo ler, consigo praticar atividades, consigo fazer meu pilates, eu acredito que sim. (Enf. 3) A disponibilidade te tempo para realizar as atividades e compromissos pessoais, bem como conviver mais com a família estiveram presentes na fala acida, destacando a 9 REVISTA ESPAÇO CIÊNCIA & SAÚDE v.6, n.1, p.3-13, jul./2018 necessidade de conduzir uma rotina equilibrada entre trabalho e lazer. Em contrapartida, Enf. 2 comenta sobre sua QV enquanto enfermeiro, inferindo sobre outras questões relacionadas, como a realização pessoas e necessidade de uma análise criteriosa dos fluxos de trabalho, conforme é verificado a seguir: Eu acho que eu possuo, mas nem sempre, porque muitas vezes é muito corrido, não dá pra fazer tudo o que eu quero fazer, fazer um bom trabalho, muitas vezes falta funcionário, falta mão de obra e muitas vezes eu me sinto frustrado de não poder fazer o que eu tenho pra fazer, porque não dá tempo. (Enf. 3) Ao contrario do relato anterior, o profissional relata falta de tempo e dificuldade em organizar suas atividades externas ao trabalho, por momentos demonstrando sua insatisfação em permanecer com esta rotina. De acordo com Zambiazi e Costa (2013) nas instituições de saúde, a gerência é uma das funções principais do enfermeiro, pois é ele que organiza o trabalho e os recursos humanosde enfermagem. Para executar essa função, ele utiliza um conjunto de instrumentos técnicos da gerência, sendo: o planejamento, o dimensionamento de pessoal, a educação continuada, a supervisão, a avaliação de desempenho e os recursos físicos, materiais e financeiro. 3.3 O contexto social e a qualidade de vida Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS) a QV é equivalente ao nível perceptível dos indivíduos diante da posição na vida, abrangendo as culturas, sistemas de valores em que vivenciam em relação aos objetivos, expectativas, padrões e preocupações. A expressão de QV é empregada por segmentos da sociedade que são aspectos subjetivos e objetivos que se pautam na necessidade do indivíduo em proporcionar a busca do equilíbrio interno e externo (FREIRE; COSTA, 2016). Neste sentido, torna-se importante incorporar práticas secundárias ao trabalho, com a finalidade de estimular a exacerbação de suas próprias compreensões enquanto ser humano, conforme Enf. 1, Enf. 2 e Enf. 3 comentam respectivamente a seguir: Pra mim alcançar a qualidade de vida eu em meus momentos de lazer, eu faço caminhadas, eu leio, eu escuto músicas, eu saio, saio com amigos, é isso que eu faço pra mim alcançar essa qualidade de vida assim. (Enf. 1) 10 REVISTA ESPAÇO CIÊNCIA & SAÚDE v.6, n.1, p.3-13, jul./2018 Olha eu procuro estar sempre (...), procuro fazer meus exames, fazer meu check – up anual, procuro fazer uma atividade física, caminho, faço pilates, convivo com minha família. (Enf. 2) Gosto de escutar música, gosto de ler um pouco, faço pilates à 2 anos tá me ajudando bastante, procuro ficar mais em contato com o meio ambiente, procuro evitar ficar muito dentro de casa, ambiente fechado, quando eu tô fora do hospital eu prefiro desparecer, ficar ao ar livre. (Enf. 3) Nestes relatos em especial, chama a atenção que além de rotinas organização e realização de atividades recreativas, a saúde foi pontuada como importante na manutenção e contexto da QV. Além disto, os modelos teóricos de QV, bem como o conceito e a construção da personalidade, emoções e presença de dimensão negativa induzem sua compreensão de tal maneira que estuda-las se torna um desafio na atualidade, englobando aspectos: sociais, transculturais, estudos conceituais, metodológicos, psicométricos e estatísticos (CONCEIÇÃO et al., 2012). 3.4 Facilidades e dificuldades na manutenção da qualidade de vida Segundo Yamaguti et al. (2015), a enfermagem é reconhecida pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), como uma das profissões mais desgastantes, devido a carga horária excessiva, o tipo de trabalho e também pelos risco iminentes. Os profissionais de enfermagem estão vulneráveis ao estresse que está relacionado à exposição crônica aos estressores no dia a dia de trabalho, podendo sobrecarregar a reação adaptativa de estresse e tornar esses indivíduos vulneráveis ao adoecimento (YAMAGUTI et al., 2015). Sobre os aspectos referentes às dificuldades e facilidades, identificou-se que o participante Enf. 1 retrata em seu comentário uma ampla gama de informações que condiz com a realidade vivenciada pelos enfermeiros, verificado a seguir: Dificuldade é a questão do trabalho da gente né, os horários, os plantões né, o estres do dia a dia, o tipo de paciente que a gente tem, isso são as dificuldades né, e não tem como não ter essas dificuldades que elas vem, entendeu, você não escolhe, tu não escolhe paciente, tu não escolhe plantão, tu não escolhe quem tu vai atender, entendeu, essas são as dificuldades. Tem as compensações também, onde tu consegue ter solução para aquilo que tu tinha como dificuldade. E as facilidades é poder com o passar do tempo, manejar bem as coisas que aparecem no teu dia a dia, e as situações que aparecem no teu dia a dia, com o passar do tempo tu vê que tu vai conseguir, passar bem por esses caminhos, isso são as facilidades. (Enf. 1) 11 REVISTA ESPAÇO CIÊNCIA & SAÚDE v.6, n.1, p.3-13, jul./2018 O relato do profissional espelha a dificuldade em organizar o tempo de trabalho com as atividades externas, devido principalmente a realização de horários diferenciados e com plantões extensos. Silva et al. (2011), comentam sobre as os prejuízos decorrentes da realização do trabalho de enfermagem na saúde do trabalhador, apresentando-se como alterações no equilíbrio biológico, dos hábitos alimentares e do sono, na perda de atenção, na acumulação de erros, no estado de ânimo e na vida familiar e social. O trabalho noturno reaparece pelo participante Enf. 3 que relata dificuldades em manter a sua QV por este motivo, bem como, após é apresentada a fala de Enf. 4 que traz a falta de tempo como dificuldade na manutenção de uma QV, visto a seguir: Como dificuldade principal por trabalhar à noite tem dias que é bem extenuantes que eu acabo estando bem cansada então praticamente no outro dia eu não aproveito porque eu fico dormindo, tô muito cansada, e a facilidade é bem o que eu falei na primeira pergunta que eu não, como eu não tenho duas atividades, eu tenho um pouco mais de tempo pra realizar isso. (Enf. 3) Acho que é tempo, facilidade é complicado, facilidade acho que não se tem muito, mas a dificuldade é o tempo mesmo que a gente acaba trabalhando bastante tendo pouco tempo pra ter o lazer, mas eu no meu ponto de vista assim vou te dizer bem francamente gosto tanto da minha profissão que pra mim é, o trabalho não deixa de ser, o meu trabalho é minha qualidade de vida é uma boa qualidade de vida. (Enf. 4) Novamente os participantes expõem a dificuldade em organizar atividades recreativas a partir da rotina de trabalho em horários diferenciados, realizando plantões em diferentes momentos, tais rotinas acabam interferindo na QV dos indivíduos. Segundo Talhaferro, Barboza e Domingos (2006), a vida sem trabalho não tem significado, mas ela não pode se tornar um fator negativo, funcionado como mediador entre o processo saúde-doença e sofrimento. Nessa trama cada vez mais evidente na luta pela sobrevivência, o trabalhador se submete a uma jornada excessiva de trabalho que, aliada às condições em que o trabalho se realiza, repercute diretamente na fisiologia do corpo. De acordo com Lentz et al. (2000) vários autores têm conceituado qualidade de vida como um indicador global de bem-estar e satisfação de vida dos profissionais de enfermagem. 12 REVISTA ESPAÇO CIÊNCIA & SAÚDE v.6, n.1, p.3-13, jul./2018 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Este estudo evidenciou que os profissionais possuem QV em sua maioria e os mesmos relacionam com seus trabalhos, os quais estão interligados. Dessa forma percebe-se que o trabalho também é um fator essencial para alcançar a QV, sem esquecer da família, atividade física, hobby, aproveitar o tempo fora do ambiente de trabalho, ter tempo para si, conversar, lazer, descontração relatado pelos profissionais. Devido a grande demanda do setor de pesquisa, muitas vezes, torna-se exaustivas as jornadas de trabalho, dificultando na realização de funções em seu turno, reforçado pela falta de profissionais na equipe de enfermagem. Influenciando na dificuldade em realizar um bom trabalho e no aparecimento de sentimentos de frustração sobre a vontade em idealizar mais ações. Acredita-se que este estudo demonstra de forma parcial a realidade de um setor hospitalar, apresentando-se como limitara esta característica, no entanto, nos impulsionando a buscar o desenvolvimento de projetos futuros na tentativa de preencher a lacuna presente na área. REFERÊNCIAS AMARAL, J. F.; RIBEIRO, J. P.; PAIXÃO, D. X. Qualidade de vida no trabalho dos profissionais de enfermagem em ambiente hospitalar: uma revisão integrativa. Revista Espaço para a Saúde, Londrina, v. 16, n. 1, p. 66-74, jan./mar. 2015. ARAÚJO, G. A.; SOARES, M. J. G. O.; HENRIQUES, M. E. R. M. 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Os dados foram sistematizados e analisados por meio da análise temática, dando origem a três categorias: desinteresse às práticas de atividade física e alimentar pelos adolescentes; carência de apoio familiar e social na adolescência; prática profissional e institucional ofertadas aos adolescentes. Os resultados revelaram que os adolescentes apresentam vulnerabilidades relativas ao âmbito individual, social e programático, no que tange à má alimentação, relações sexuais sem proteção, gravidez não planejada e ao consumo de drogas devido à convivência e influência familiar. 1 Artigo originado do Trabalho de Conclusão de Residência do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul e Fundação Municipal de Saúde de Santa Rosa (UNIJUI/FUMSSAR/RS). 2 Graduação em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Palmeira das Missões, RS, Brasil. Mestre em Enfermagem pelo Programa de Pós-graduação em Enfermagem (PPGEnf/UFSM) Santa Maria, RS, Brasil. Especialista em Saúde da Família pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ) e Fundação Municipal de Saúde de Santa Rosa UNIJUÍ/FUMSSAR. Docente do Curso de Enfermagem da Fundação Educacional Machado de Assis (FEMA). E-mail: grazielapiovesan@hotmail.com. Endereço: Av João Muniz Reis, nº1187, Bairro Centro, Frederico Westphalen, RS, CEP: 98400-000. Telefone: (55) 99908-0905. 3 Graduação em Enfermagem pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUI). Mestre em Educação nas Ciências pela UNIJUI. Docente do Curso de Enfermagem da UNIJUI, Ijuí, RS, Brasil. Orientadora do trabalho. E-mail: marinez.koller@ unijui.edu.br. 4 Graduação em Enfermagem pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUI). Especialista em Nutrição e Saúde pela Universidade Federal de Lavras (UFLA) LAVRAS/MG. Enfermeira da Estratégia da Saúde da Família na Fundação Municipal de Saúde de Santa Rosa (FUMSSAR/RS). Preceptora e Tutora de campo vinculada ao Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família (UNIJUI/FUMSSAR) Santa Rosa, RS, Brasil. E-mail: edna_maf@yahoo.com.br. 5 Graduação em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS). Especialização em Saúde Pública pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUI). Psicóloga do Núcleo de Apoio a Saúde da Família (NASF) da Fundação Municipal de Saúde de Santa Rosa (FUMSSAR) Santa Rosa, RS, Brasil. E-mail: fabio.turra@yahoo.com.br. 6 Graduação em Pedagogia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Dom Bosco/Santa Rosa/RS. Graduação em Psicologia pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUI/RS). Mestrado em Educação nas Ciências pela UNIJUI, Ijuí, RS, Brasil. E-mail: colombo@unijui.edu.br. 15 REVISTA ESPAÇO CIÊNCIA & SAÚDE v.6, n.1, p.14-30, jul./2018 Descritores: Atenção primária à saúde; Vulnerabilidade; Saúde do adolescente; Enfermagem; Pesquisa qualitativa. ABSTRACT The objective of this study is to describe the situations of vulnerability experienced by adolescents of Basic Education attended in the Primary Attention to Health. It is a documentary research, developed in a municipality of Rio Grande do Sul, Brazil, from May to June 2016. Data were collected in 74 records of adolescents from a state school. The data were systematized and analyzed through the thematic analysis, giving rise to three categories: disinterest to the practices of physical activity and feeding by adolescents; lack of family and social support in adolescence; professional and institutional practices offered to adolescents. The results showed that adolescents present vulnerabilities related to the individual, social and programmatic scope, regarding poor nutrition, unprotected sexual intercourse, unplanned pregnancy and drug use due to coexistence and family influence. Descriptors: Primary health care; Vulnerability; Adolescent health; Nursing; Qualitative research. RESUMEN El objetivo del estudio es describir las situaciones de vulnerabilidad vividas por adolescentes de la Educación Básica atendidos en Atención Primaria a la Salud. Se realizó una investigación documental, desarrollada en un municipio de Rio Grande del Sur, Brasil, en elperíodo de mayo al junio de 2016. La recogida de los datos se realizó en 74 registros de adolescentes de una escuela estatal. Los datos fueron sistematizados y analizados por medio del análisis temático, dando origen a tres categorías: desinterés a las prácticas de actividad física y alimentar por los adolescentes; carencia de apoyo familiar y social en la adolescencia; prácticas profesionales e institucionales ofrecidas a los adolescentes. Los resultados revelaron que los adolescentes presentan vulnerabilidades relativas al ámbito individual, social y programático, en lo que se refiere a la mala alimentación, las relaciones sexuales sin protección, el embarazo no planificado y el consumo de drogas debido a la convivencia e influencia familiar. Descriptores: Atención Primaria a la Salud; Vulnerabilidad; Salud del adolescente; Enfermería; Investigación cualitativa. 1 INTRODUÇÃO A APS (Atenção Primária à Saúde) se configura como a melhor forma para organização da atenção à saúde, indicada como ponto preferencial de contato dos usuários, famílias e comunidade com o sistema nacional de saúde. Nesses serviços são ofertados os cuidados essenciais de modo integral no que tange à promoção da saúde, à redução de risco e/ou manutenção da saúde, à detecção precoce e ao rastreamento de doenças, assim como ao tratamento e reabilitação (FERTONANI, 2015). 16 REVISTA ESPAÇO CIÊNCIA & SAÚDE v.6, n.1, p.14-30, jul./2018 A coerência da APS deve ser a busca permanente para atender adolescentes, sendo a porta de entrada para promover ações que os aproximem do serviço de saúde: para isso, a compreensão da adolescência se faz importante (BRASIL, 2017). Historicamente, a adolescência é um período de transição da infância à fase adulta e esta transitoriedade é marcada por processos de transformação física, psicológica, biológica e emocional. Então, a adoção da perspectiva sociocultural, histórica e dialética mostra-se ímpar para compreensão do desenvolvimento da adolescência (DAVIM; DAVIM, 2016). Nesta perspectiva, o conhecimento acerca das situações de vulnerabilidade em que o adolescente vive fornece elementos para avaliar as diferentes chances que tem de sofrer algum dano e de lidar com ausência do direito à saúde. Essas chances estão imersas em um conjunto de características de vulnerabilidade individual, social e programática política que estabelecem normas e condutas do cotidiano, julgadas relevantes para maior exposição ou menor chance de proteção diante do problema (AYRES, 1996; ROSELLÓ, 2009). Para isso, percebe-se a importância de investir na criação e manutenção de uma rede de apoio afetiva e próxima da realidade onde os adolescentes vivem, seja na família, escola e/ou na comunidade. Dessa forma, faz-se possível a diminuição de riscos para saúde sexual, reprodutiva, familiar e social em que adolescentes estão expostos (PONCIANO; MARQUES; SOARES, 2012). Sendo assim, é indispensável para os profissionais identificar características próprias do contexto das necessidades de saúde, para possibilitar a promoção da saúde e melhora da qualidade de vida desses adolescentes. Por isso, este estudo tem como objetivo descrever as situações de vulnerabilidade vividas por adolescentes da Educação Básica atendidos na Atenção Primária à Saúde. 2 MÉTODO Trata-se de uma pesquisa documental, de caráter descritivo com abordagem qualitativa. Com efeito, a pesquisa documental refere-se à “utilização de documentos que podem ser escrito ou não” e consiste em identificar, verificar e apreciar os documentos com a finalidade de contextualizar as informações contidas neles (LAKATOS, 2003). Para tanto, Minayo (2011) define que a pesquisa qualitativa “possibilita a compreensão e aprofundamento de diferentes microrrealidades. Aproxima o pesquisador de determinados 17 REVISTA ESPAÇO CIÊNCIA & SAÚDE v.6, n.1, p.14-30, jul./2018 problemas, expressos em opiniões, crenças, valores, relações, atitudes e práticas”, sendo esse o critério para utilização desse método no estudo. Para escolha do espaço territorial para realização da pesquisa, a pesquisadora considerou algumas particularidades. Uma delas é pelo território pertencer a uma área que apresenta características de vulnerabilidade; outra, é por tratar-se de um campo de prática da Residência Multiprofissional em Saúde da Família e consequentemente ser um território de conhecimento da pesquisadora. Assim, foram consideradas algumas características locais: a comunidade é formada por trabalhadores informais e assalariados de baixa renda, sendo que algumas famílias sobrevivem apenas com o auxílio de programas assistenciais do governo. Parte da comunidade não dispõe de infraestrutura básica. O nível de escolaridade das famílias é baixo. Dessa forma, é possível perceber que esse território localizado em um município do Rio Grande do Sul/Brasil apresenta vulnerabilidade individual, social e programática. As fragilidades precisam ser primeiramente reconhecidas para que seja possível ofertar ao adolescente que ali vive melhor cuidado por parte dos profissionais da saúde, da gestão municipal de saúde e da própria sociedade. A pesquisa de campo foi realizada no período de maio a junho de 2016, utilizando-se de um formulário de perguntas para obter os dados por meio dos documentos. Descreve-se a seguir a processualidade para a realização da coleta de dados. Na Estratégia de Saúde da Família (ESF) do território pesquisado, existe um projeto desde 2014 realizado pela enfermeira responsável técnica, enfermeiras residentes e estagiários do curso de enfermagem da ESF. Esse projeto contempla estudantes adolescentes da educação básica, por meio de consultas/conversas individuais realizadas no ambiente escolar. Com intuito de seguir um linear para cada adolescente estudante, foi criado um instrumento com perguntas. Este instrumento foi construído pela enfermeira responsável técnica da ESF e demais enfermeiras residentes, observando livros e cadernos do Ministério da Saúde que contemplavam a adolescência. Ao se visualizar a importância desse projeto, percebeu-se a necessidade de desenvolver um trabalho científico com estes documentos arquivados na ESF. A coleta de dados incluiu questões utilizadas nas consultas/espaço de diálogo com o adolescente, as quais estão arquivadas na ESF em formulário individual. Para coletar os dados, foi utilizado um formulário de perguntas norteadoras, o qual abordou as questões sócio demográficas do adolescente: data de nascimento; idade; escolaridade; pressão arterial 18 REVISTA ESPAÇO CIÊNCIA & SAÚDE v.6, n.1, p.14-30, jul./2018 sistêmica (PAS); peso; altura; índice de massa corporal (IMC); sexo; data da avaliação; possui ou pratica alguma religião. E um instrumento com as seguintes variáveis: atividades realizadas diariamente/alimentação; educação; família/lar; sexualidade; drogas. A população de estudo pesquisada nos documentos foram adolescentes estudantes do 6º ano do ensino fundamental ao 1º ano do Ensino Médio de uma escola estadual, os quais participaram da consulta/ espaço de diálogo individual do projeto desenvolvido no ambiente escolar no ano de 2014 a 2016, num total de 74 adolescentes estudantes. Como critério para participação do estudo, foram incluídos os adolescentes com idade entre 11 e 18 anos e que participaram do projeto no ambiente escolar. Dessa forma, para garantir o anonimato nos formulários, optou-se por identificar os sujeitos por meio de números sequenciais (01, 02, 03, 04, 05, 06, 07, 08 e assim sucessivamente). Os dados coletados dos prontuários foram transcritos e analisados por meio da análise temática proposta por Minayo (2012), que se constituiu dos seguintes passos: pré-análise, exploração do material e interpretação dos resultados. Na primeira etapa, tomou-se contato com o material produzido na fase de transcriçãodos dados por meio de leitura exaustiva, com vistas a uma impregnação das informações nele contidas; na exploração, categorizaram-se os dados, realizaram-se recortes do texto e agruparam-se as unidades de registro a partir de suas afinidades temáticas; por fim, na fase de interpretação, buscou-se a compreensão e interpretação dos dados. Assim, a partir da análise foram construídas as seguintes categorias: desinteresse às práticas de atividade física e alimentar pelos adolescentes; carência de apoio familiar e social na adolescência; práticas profissional e institucional ofertadas aos adolescentes. Essas categorias serão expressas abaixo nos resultados e discussão. Referente às questões éticas, o trabalho foi submetido para apreciação e aprovação do Núcleo de Estudos e Pesquisa (NEP) da Fundação Municipal de Saúde de Santa Rosa – FUMSSAR, e ao Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da Universidade Regional de Ijuí (UNIJUÍ), aprovado sobre o parecer do CEP nº 1.566.524. Os dados coletados nos documentos são de propriedade do próprio sujeito e por isso a pesquisadora afirmou guardar sigilo e confidencialidade, além de tratar os resultados com dignidade, respeitando a singularidade de cada sujeito. Desta forma, a pesquisa documental não necessita da anuência do participante da pesquisa e/ou de representante legal, pois não oferece risco ou incômodo ao sujeito pesquisado. 19 REVISTA ESPAÇO CIÊNCIA & SAÚDE v.6, n.1, p.14-30, jul./2018 Nesse sentido, para compreensão acerca dos 74 adolescentes participantes da pesquisa, serão concedidas algumas informações para caracterização do cenário pesquisado. A maioria dos adolescentes era do sexo feminino, 45 participantes. Quanto à escolaridade, 19 participantes estavam no 1º ano do Ensino Médio, 09 participantes na 8ª série, 18 participantes na 7º série, 25 participantes na 6º série e de 03 participantes não havia registro. Quanto à idade dos adolescentes, 37 participantes apresentavam entre 11 a 13 anos, 32 participantes apresentavam entre 14 a 16 anos e somente 05 participantes apresentavam entre 17 a 18 anos. Quanto à situação do IMC, somente 30 participantes estavam com o peso normal e com uma pequena margem de diferença entre o peso normal e o baixo peso, 29 participantes. Ademais, 14 participantes estavam com o peso variando de marginalmente acima do peso, acima do peso e obeso, e um participante sem registro. Cabe destacar que 56 participantes apresentaram Pressão Arterial Sistêmica normal. Também importa a informação da presença da prática religiosa na vida dos adolescentes, já que 40 deles declararam ter alguma religião. No entanto, 17 participantes não tinham nenhuma religião e os outros 17 participantes não havia registros. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Do processo de análise dos prontuários, surgiram três categorias, uma versa sobre desinteresse às práticas de atividade física e alimentar pelos adolescentes, a outra sobre carência de apoio familiar e social na adolescência e a última sobre práticas profissional e institucional ofertadas aos adolescentes. 3.1 Desinteresse às práticas de atividade física e alimentar pelos adolescentes Essa dimensão é observada ao analisar a alimentação de um dia típico desses adolescentes. Percebe-se que alimentos como frutas e verduras - que deveriam ser consumidos diariamente para um desenvolvimento saudável - não estão presentes no prato. Também não se valoriza a primeira refeição do dia, o café da manhã, o qual deveria ser uma das refeições de maior importância, sendo o lanche na escola a primeira refeição para alguns estudantes. Surgem, nos registros das falas dos adolescentes, citações relacionadas ao aumento do consumo de guloseimas - como refrigerante e salgadinhos- quase diariamente. É preconizado 20 REVISTA ESPAÇO CIÊNCIA & SAÚDE v.6, n.1, p.14-30, jul./2018 que se faça diversas refeições durante o dia sempre que sentir fome, que o prato seja o mais colorido possível, porém chama atenção neste estudo a falta de alimentos e de dinheiro de alguns participantes, para se alimentar. Para confirmar essas informações, destacamos algumas frases: “Não toma café da manhã, não lancha na escola. Não gosta de verduras e legumes. Gosta de melancia e maçã. Almoça: arroz, feijão, massa e carne” (08, 09, 18, 59). “Como fica o dia todo sozinho em casa, as vezes não faz almoço porque tem preguiça. Acaba comendo o que tem em casa. Refrigerante as vezes, toma mais água” (11). “Almoça arroz, feijão, carne e repolho. Come frutas banana, maçã, laranja. Não gosta de salada verde. Falta comida em casa. A mãe manda trabalhar para ganhar dinheiro” (45). “Toma coca cola, come salgadinho. Gosta de maçã. Gosta de verduras. Não tem hora para jantar, (22-23h). Vai dormir pela meia noite” (67, 72). “Acha que está gorda, come besteira, toma coca-cola e salgadinho. Não almoça. Toma tererê e pipoca à tarde” (74). A infância e a adolescência são as fases em que se iniciam os hábitos alimentares. Por isso, os hábitos alimentares saudáveis devem acontecer desde a infância para que na fase adulta eles se perpetuem. É fundamental que o desjejum faça parte das refeições desses adolescentes para adequar a nutrição e a qualidade dela no restante do dia, contribuindo para diminuição do sobrepeso e obesidade (PINHO et al., 2014). Hodiernamente, a alimentação adotada na adolescência tem correspondido a dietas ricas em gorduras, açúcares e sódio, com pouca participação de frutas e hortaliças (PINHO et al., 2014). Assim, a má alimentação desta fase está relacionada à manifestação cada vez mais precoce de doenças crônicas entre os adolescentes, como sobrepeso, obesidade, hipertensão arterial e diabetes melittus, causando um grande impacto na vida adulta desse adolescente (MOREIRA; GOMES; DE SÁ, 2014). No Brasil, de acordo com a condição econômica da pessoa, o significado da alimentação muda. Para a população de baixa renda, os alimentos são classificados entre os alimentos fortes, que sustentam - como o arroz, feijão e carne-, e os fracos, que são as frutas, verduras e legumes, que servem somente para “tapear” a fome (BRASIL, 2007). Porém a alimentação forte não significa alimentação saudável e nutritiva para o bom desenvolvimento. 21 REVISTA ESPAÇO CIÊNCIA & SAÚDE v.6, n.1, p.14-30, jul./2018 A alimentação saudável reflete a imagem do adolescente, ou seja, não só o corpo, mas a mente que se desenvolve com sua alimentação. Por isso, para o crescimento e desenvolvimento saudável do ser, o governo institui em 2004 um programa chamado Bolsa Família. Nele está instituída a transferência de renda à população com vulnerabilidade socioeconômica para possibilitar as necessidades básicas, como a alimentação (BRASIL, 2004). É uma estratégia de possibilitar a alimentação para famílias de baixa renda. Também essa categoria se justifica pela prática de atividade física que deveria ser essencial na vida desses adolescentes que estão em pleno desenvolvimento. Porém, o esporte está presente na vida desses adolescentes majoritariamente no ambiente escolar e para outros ele não se faz presente. Os registros a seguir corroboram o que foi relatado acima: “Não pratica exercícios físicos fora da escola” (02, 08, 20, 21, 36, 47, 52, 63, 76). “Joga futebol na aula de educação física, 2-3 vezes por semana” (21, 61). “Não pratica esportes” (11, 14, 25, 46, 70). Para um estilo de vida saudável, não basta ter boa alimentação: é necessário que o adolescente pratique regularmente alguma atividade física. Porém, em muitos estudos com adolescentes, percebe-se alto índice de sedentarismo, o que é uma preocupação para saúde pública. Sabe-se que a vulnerabilidade para adquirir doenças futuramente poderia ser minimizada se essa prática fosse alcançada (LIMA et al., 2017). 3.2 Carência de apoio familiar e social na adolescênciaEssa situação de vulnerabilidade pode ser encontrada na possibilidade de uma gravidez não planejada ou desejada, que parece não ser percebida como algo preocupante pelos adolescentes, o que reforça a vulnerabilidade a que eles estão expostos. Nesta pesquisa, percebe-se a exposição de adolescentes, por exemplo com relação a uma gravidez não planejada, mas sonhada, pois pode ser uma forma de visualização na sociedade e não um problema identificado pelo adolescente. Essas informações podem ser percebidas abaixo: “Não usa anticoncepcional, suspendeu por conta, diz que quer tomar outro anticoncepcional injetável, mensalmente. Já tem um filho de 01 ano e nove meses. Contou que engravidou aos 15 anos, parto cesariana” (03). 22 REVISTA ESPAÇO CIÊNCIA & SAÚDE v.6, n.1, p.14-30, jul./2018 “Menarca aos 14 anos. Ciclo irregular. Muita cólica na menstruação. Amenorreia a 2 meses e 7 dias” (02, 09). Referente à gravidez na adolescência, apesar de causar preocupação com as consequências para a criança e para a adolescente gestante, ela pode não ser um problema. Pode acontecer para solucionar situações conflituosas, desajustes familiares de gerações e até mesmo dificuldade de inserção no mercado de trabalho (RODRIGUES; BARROS; SOARES, 2016). Isso pode ser percebido quando é analisada a rede multicausal em que torna a adolescente vulnerável. Para Santosa et al. (2015), há uma precocidade na iniciação sexual de adolescentes. No entanto, é compreensível isso acontecer no contexto em que os adolescentes que participaram desta pesquisa vivem. A história vai se repetindo de geração para geração, pois há pouca instrução familiar, o que resulta em pouco apoio e estímulo para estudar, sonhar, pensar em outra possibilidade de vida que não a de gerar filhos. Um alerta é pensar se essas adolescentes sonham em gerar filhos e/ou ser mães, ou somente serem vistas com filhos para serem valorizadas como mulheres na sociedade. O fruto da gestação é o nascimento, que sempre acontece, mas a geração de uma mãe pode não acontecer em nove meses, entretanto é esse o problema que acontece com as famílias, não somente as que gestam na adolescência. No período da adolescência, o adolescente pode iniciar a vida sexual sem que esteja física e/ou psicologicamente preparado para isso. Por isso, a adolescência caracteriza-se por ser um grupo vulnerável ao risco de gravidez e de contaminação por Infecção Sexualmente Transmissível (IST) (ALVES; OLIVEIRA, 2017). O conhecimento sobre as ISTs é algo distante da realidade desses adolescentes. A crença de que a camisinha não é necessária ou não protege contra essas IST, ou de que, quando em um relacionamento duradouro, não há a necessidade de se precaver, também contribui para a não adesão deste método, expondo esse adolescente ao risco de contrair alguma infecção. Essa situação é inconscientemente reconhecida pelo próprio adolescente, ao afirmar que: “Usa anticoncepcional. Namora a um ano e meio. Não usam preservativo” (08). “Já namorou. Indagou sobre o teste de HIV. Teve uma namorada a muito 23 REVISTA ESPAÇO CIÊNCIA & SAÚDE v.6, n.1, p.14-30, jul./2018 tempo, depois descobriu que ela fazia programa, ficou muito decepcionado, quebrou tudo em casa” (15). O conhecimento e a reflexão por parte dos adolescentes em relação ao risco advindo de relações sexuais desprotegidas são fundamentais (MISTURA et al., 2017) para que o adolescente possa vivenciar o sexo de maneira adequada e saudável, assegurando a prevenção da gravidez indesejada e de ISTs e exercer seu direito que possibilite cada vez mais ao exercício da sexualidade desvinculado da procriação (QUEIROZ et al., 2016). Nesse sentido, ressalta-se a necessidade de construção de espaços de diálogo entre adolescentes e a família como um importante dispositivo para construir uma resposta social com vista à superação da vulnerabilidade social. Silva, Jacob, Hirdes (2015) relatam que o uso do preservativo ganha um destaque como método contraceptivo, pois é um recurso disponível de fácil acesso, que atende a função de proteção contra a gravidez e também contra as ISTs simultaneamente. Outro fator influente é o tabu sobre a própria sexualidade presente na família e na sociedade, que indiretamente influencia o adolescente. A estrutura cultural pode influenciar nesses contextos, seja na forma de não reconhecer o próprio corpo, ignorar as formas de proteção de uma IST ou gravidez não planejada, ou ainda se negando a falar sobre o assunto. Podemos evidenciar essa realidade no registro abaixo: “Se negou falar sobre sexualidade, durante a conversa” (25). Já existe uma maior consciência e conhecimento sobre a sexualidade; no entanto, falar desse tema ainda é um desafio para adolescente, pois ele continua cercado de mitos e preconceitos (FERREIRA; ARAÚJO; OLIVEIRA, 2014). A sexualidade se faz presente em todas as etapas do desenvolvimento como ser humano, diariamente manifesta-se, sendo necessário falar deste assunto como se fala de qualquer outro, inclusive no ambiente familiar. Mas falar sobre sexualidade no ambiente familiar não significa falar de sexo em si: é falar sobre o desenvolvimento do corpo, sobre as descobertas, sobre o respeito, sobre as diferenças. Isso não é uma construção fácil de fazer nas famílias, mas precisa estar presente no diálogo do dia a dia, tanto no ambiente escolar como na saúde, quando se cuida de família. O início de uma vida sexual precocemente pode ser produto de uma fase da adolescência desprovida de orientações ou baseada em informações inadequadas de parceiros. 24 REVISTA ESPAÇO CIÊNCIA & SAÚDE v.6, n.1, p.14-30, jul./2018 Muitas vezes, os pais ou cuidadores esperam um sinal de que o adolescente iniciou a sua sexualidade, pois até então esse assunto é velado no ambiente familiar. De acordo com a participante: “Usa anticoncepcional. Sexarca aos 10 anos. Ficou 05 anos ajuntada, mas tinham muitos conflitos, ele foi embora para o Paraguai. Não tem namorado no momento” (28). Os registros dos adolescentes tiveram semelhanças no que diz respeito ao contato precoce com as drogas, principalmente por meio do próprio ambiente familiar e através das condições impostas pelo tráfico de drogas vigente. Com os pais presos em regime fechado por conta do tráfico de drogas, os adolescentes são criados por avós, tios e demais irmãos. O consumo de drogas pelos familiares e amigos é muito frequente. O álcool é consumido majoritariamente pelos homens. “Os pais estão presos devido ao tráfico de drogas. Mora com avó, irmãs e tio” (21). “Mora com a família. Pai não mora com ele. Irmão está preso por tráfico de drogas. A família está cuidando dos 3 filhos dele” (26). “Mora com o pai e irmã, a mãe está presa” (71). “Tio fuma e bebe. O outro tio vende drogas” (50). “Cunhado usa drogas. Os pais bebem cerveja, adolescente bebe raramente” (08). “Tio usuário de drogas” (09). “Pai é alcoolista” (41). “Família bebe socialmente. Mãe, irmã e padrasto são tabagistas” (25, 27). Entre os registros, percebe-se que há uma submissão constante por parte dos adolescentes à oferta de drogas por amigos, porém sem detalhes dos motivos que impediram ou não ao consumo. “Tem um tio que é alcoolista. Esse tio mora em Porto Alegre. O pai bebe socialmente. Tem um amigo que usa maconha, já ofereceu para ele, mas não usou” (71). “Amigos usam e já lhe ofereceram drogas. Pai bebe no final de semana, mas sem sair do limite” (10). 25 REVISTA ESPAÇO CIÊNCIA & SAÚDE v.6, n.1, p.14-30, jul./2018 A transcrição do discurso abaixo apresenta, de forma suave, a violência no ambiente familiar, como consequência do álcool: “Pai bebe no final de semana, fuma, xinga e briga quando bebe bebida alcoólica, é agressivo. Amigos usam drogas” (24). Percebe-se a influência do consumode cigarro, álcool e outras drogas pelos pais e amigos, seja por meio do estímulo da própria convivência, como da própria oferta das drogas. “Fuma de uma a duas carteiras de cigarro por dia. Gosta de fumar. Se desestressa” (15, 16, 43). “Fumava desde os 13 anos. Uma carteira por dia. Parou de fumar a uma semana porque faz mal” (21). “Já fumou, hoje não mais. Só parou de fumar pela questão financeira” (22). “A 3 meses atrás estava bebendo muito, diminuiu. Chegou entrar em coma alcoólico. Mas ainda bebe com os amigos. Uísque” (15). “Já usou maconha. Diz que usou porque estava bêbado. Mas nunca usou crack” (01). “Já usou maconha, cocaína” (21). A família está implicada no desenvolvimento saudável ou não de seus membros, pois ela é compreendida como elo entre as diversas esferas da sociedade. Entre os fatores de risco ao uso de drogas dos adolescentes está o uso pelos pais, a não integração às atividades escolares, a necessidade de integração social, a desestrutura familiar, a violência doméstica, a busca pela independência familiar (ELICKER et al., 2015). O uso de drogas por pais, tios, primos ou amigos assume uma cultura familiar implícita de uso de drogas. Ao tentar identificar os fatores de risco que levaram o adolescente utilizar drogas, esses fatores foram identificados como a falta de carinho dos pais, ciúmes entre os irmãos e principalmente a influência dos pares, ou seja, amigos (as), namorados (as) (BITTENCOURT; FRANÇA; GOLDIM, 2015). A reprovação e o abandono escolar, presentes nessa fase da adolescência, reflete em como a falta de estímulo tanto dos pais como de seus pares pode influenciar negativamente no futuro da vida profissional de um adolescente. 26 REVISTA ESPAÇO CIÊNCIA & SAÚDE v.6, n.1, p.14-30, jul./2018 “Reprovou ano passado, por causa do ex-namorado. Mas agora percebeu que os estudos são importantes. Diz que o companheiro incentiva os estudos” (18). “Mora atualmente com o pai. Os pais se separaram. No início ficou com a mãe. Mas isso dificultava o acesso a escola. Agora não falta mais as aulas. Aceitou bem a relação dos pais, está bem” (13). Um estudo escrito por Cano, Ferriani e Mendonça (1999), a partir da opinião dos adolescentes repetentes derivados de algumas escolas da rede de ensino de Ribeirão Preto, referiu que as causas mais apontadas pelos adolescentes para justificar o fracasso escolar foram: a falta de estímulo ou exigência dos pais com relação aos estudos em 58,5% e a necessidade de trabalhar para ajudar no orçamento doméstico em 55,6%. Pela complexidade das escolhas, a fase da adolescência é marcada por incertezas e dúvidas, na qual muitos adolescentes se sentem confusos em relação ao futuro. “Não sabe o que quer para o futuro” (27,71). Referente aos sonhos dos adolescentes para o futuro, reconhece-se uma carência de literatura. Isso pode significar a falta de registros, pesquisas que identifiquem os sonhos dos adolescentes, ou mesmo que não é dada voz aos adolescentes para falar sobre seu desejo de vida. 3.2 Prática profissional e institucional ofertadas aos adolescentes Referente a essa categoria, que emerge como resultado no contexto da vulnerabilidade programática, destaca-se a necessidade de os adolescentes também serem acompanhados por outros profissionais da APS, incluindo os profissionais do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), pois é de atendimento multiprofissional que os adolescentes necessitam no momento para serem contempladas suas diversas transformações nesse período. Durante as consultas realizadas na escola, muitos adolescentes precisaram de encaminhamentos para a ESF para consultar com profissionais de saúde como por exemplo: psicóloga, enfermeira, nutricionista e odontólogo. Além disso, foi necessário chamar um cuidador para conversar sobre a situação familiar. Percebe-se, dessa forma, que há acesso para esses adolescentes à saúde, por meio da APS, como se percebe nos registros das falas a seguir: 27 REVISTA ESPAÇO CIÊNCIA & SAÚDE v.6, n.1, p.14-30, jul./2018 “Encaminhado ao psicólogo” (24). “Marcar consulta de enfermagem no posto” (01, 02, 03, 28, 41). “Agendada revisão para o dentista” (63). “Orientação, agendada para acompanhamento nutricional” (47, 46, 59). “Chamada a mãe para conversar sobre a situação familiar” (43). Em um estudo realizado com 211 prontuários de adolescentes atendidos em clínicas- escola, houve 68 encaminhamentos para especialistas, destes 43 foram encaminhados para psiquiatria, 27 para psicopedagogia, 13 para outras especialidades médicas e 07 para orientação e avaliação neurológica. E os motivos apontados com maior frequência para o encaminhamento foram conflitos de interação social e os problemas de externalização (REPPOLD; HUTZ, 2008). Dessa forma, nessa pesquisa foi possível perceber que a escola mostrou-se uma estratégia importante para visualizar vulnerabilidades de adolescentes. O estabelecimento de ensino foi eficiente em detectar situações que muitas vezes eram expressas somente por meio de patologias já instaladas ou encontradas na APS por meio de demanda de familiares ou pessoas próximas dos adolescentes, além de ter sido um espaço de construção de vínculo entre profissionais da saúde e adolescentes. 4 CONCLUSÃO Neste estudo, foram identificadas as situações de vulnerabilidade vividas por adolescentes por meio de registros documentais. Identificaram-se situações relativas ao âmbito individual, social e programático. Os adolescentes não se alimentam de forma saudável, comem guloseimas e poucas frutas e verduras, além de praticarem atividade física majoritariamente no ambiente escolar. Têm escassa compreensão da importância que a alimentação juntamente da atividade física possui para se viver saudável futuramente. Os adolescentes, sem medo, sem reflexão do que pode advir de uma gravidez na adolescência e de doenças transmitidas sexualmente, expõem-se a essas circunstancias, por vezes tentando substituir a falta de amor, atenção e valorização pessoal. A convivência com familiares, amigos influenciam indiretamente ao uso de drogas, sejam lícitas ou ilícitas, e 28 REVISTA ESPAÇO CIÊNCIA & SAÚDE v.6, n.1, p.14-30, jul./2018 mais uma vez a reprovação e abandono escolar vêm acompanhados pela falta de apoio, estímulo de pares e/ou familiares. Referente ao acompanhamento da saúde dos adolescentes pelos profissionais da saúde, o espaço de atendimento de enfermagem na escola foi uma estratégia inovadora para acolher e ofertar saúde a esse público. Por meio dessa temática, foi possível para os pesquisadores, para além da construção de pensamento, um processo reflexivo de decisão, no qual os profissionais da saúde e os educadores precisam trabalhar conjuntamente para que as situações de vulnerabilidade dos adolescentes sejam observadas e cuidadas coletivamente no ambiente familiar, e não na individualização do sujeito ou não somente por meio de encaminhamentos a outros profissionais quando se há quase nada a fazer para solucionar tal situação de vulnerabilidade. O processo para alcançar esse cuidado integral, por parte de profissionais da saúde e educadores, ao adolescente no ambiente familiar, pode ser buscado por meio da singularidade da história de vida de cada adolescente. Esse trabalho pode ser desenvolvido por meio da formação de vínculos de afetividade e conhecimento, da transmissão de amor, da formação de espaços de diálogo na própria comunidade sobre os valores familiares, culturais e sociais. E até mesmo trabalhando problemas pontuais de adolescentes no âmbito familiar. Tomando-se a vulnerabilidade como referência para o desenvolvimento do estudo, percebe-se que o ser humano é um ser vulnerável, que passa ininterruptamente por riscos ao longo de seu desenvolvimento e crescimento e que pode aprender/reaprendera solucionar situações por meio de reflexão, mas sem apoio de outros a vida se torna um labirinto. Todavia, a limitação do estudo observada foi a realização da pesquisa documental na visão dos adolescentes, em um único território do município, uma só realidade. Sugere-se a realização de novos estudos sobre a temática estudada na visão de educadores e profissionais da saúde. REFERÊNCIAS ALVES, K. R. C. L.; OLIVEIRA, P. S. D. Sexualidade na adolescência, percepção e cuidados na prevenção de doenças sexualmente transmissíveis: uma revisão da literatura. Revista Rede de Cuidados em Saúde, v. 11, n.1, p.1-15, 2017. AYRES, J. R. C. M. O jovem que buscamos e o encontro que queremos ser. In: HIV/AIDS, DST e abuso de drogas entre adolescentes: vulnerabilidade e avaliação de ações preventivas. São Paulo: Ed eletrônica, 1996. 29 REVISTA ESPAÇO CIÊNCIA & SAÚDE v.6, n.1, p.14-30, jul./2018 BITTENCOURT, A. L. P.; FRANÇA, L. G.; GOLDIM, J. R. Adolescência vulnerável: fatores biopsicossociais relacionados ao uso de drogas. Rev. bioét. v. 23, p. 311-319, 2015. BRASIL. Ministério da Saúde. LEI nº 10.836, DE 9 DE JANEIRO DE 2004. Cria o Programa Bolsa Família e dá outras providências. Diário Oficial [da] União, Brasília, DF, 2004. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004- 2006/2004/lei/l10.836.htm>. Acessado em: 03 dez. 2017. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Alimentação e nutrição no Brasil. RODRIGUES, M. de L. C. F.; SCHMITZ, B. A. S.; CARDOSO, G. T.; SOUSA, E. O. Universidade de Brasília, 2007, p. 93. 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Trata-se de um estudo transversal que se realizou em uma instituição hospitalar, a qual é referência para trauma e neurocirurgia para 48 municípios da região nordeste do Rio Grande do Sul – RS. A prevalência de internações por traumatismo cranioencefálico em unidade de terapia intensiva foi de 11,4%. A taxa de sobrevivência dos pacientes vítimas de TCE foi de 83,3% na UTI e hospitalar de 75,5%. Considerando os estudos realizados no Estado do Rio Grande do Sul, observa-se que a prevalência de TCE vem se mantendo com uma tendência crescente, em diferentes regiões do estado, fato este, que nos reafirma a magnitude desta morbidade. Descritores: Prevalência, Traumatismos Encefálicos, Unidades de Terapia Intensiva, Epidemiologia. ABSTRACT Severe brain injury is considered to be the major cause of mortality and morbidity in communities, being the third largest cause of death in the world. The objective of the study was to measure the hospitalization prevalence for traumatic brain injury in intensive care units. This is a cross-sectional study carried out in a hospital institution, which is a reference for trauma and neurosurgery for 48 municipalities in the northeast region of Rio Grande do Sul - RS. The prevalence of hospitalizations for traumatic brain injury in an intensive care unit was 11.4%. The survival rate of TBI patients was 83.3% in the intensive care units and 75.5% in the hospital. Considering the studies carried out in the State of Rio Grande do Sul, it is observed that the prevalence of TBI has been maintained with a growing trend in different 1 Enfermeiro, Mestre em Educação, Docente do Curso de Enfermagem do Centro Universitário da Serra Gaúcha
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