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Reações transfusionais Cenário 8 - Reação Transfusional 1. Compreenda os critérios utilizados para identificar um paciente apto a receber Transfusão do CHs; 2. Defina Reação Transfusional e classifique-a quanto ao tempo de início (imediata ou tardia); 3. Diferencie Reação Transfusional quanto ao sua gravidade (leve, moderada e grave); 4. Elucide a etiologia (imunológica e não imunológica) da Reação Transfusional; 5. Entenda os tipos de maior incidência das Reações Transfusionais (Alérgica, Hemolítica Aguda, Febril Não Hemolítica e TRAL), e descreva sobre suas manifestações clinicas e laboratoriais; 6. Reconheça os sinais e sintomas para a detecção de uma Reação Transfusional (foco nas imediatas); 7. Cite os achados laboratoriais da Reação Transfusional; 8. Descreva o Manejo Terapêutico na conduta para Reação Transfusional (e dos 4 principais tipos); 9. Liste as condutas profiláticas para a Reação Transfusional (e dos 4 principais tipos). A transfusão é classificada quanto ao tipo em autóloga – quando o doador do hemocomponente e o receptor são a mesma pessoa e alogênica – quando o doador do hemocomponente e o receptor são pessoas diferentes. Uma vez identificada a RHAI, infundir solução cristaloide com o intuito de manter uma diurese de 100 mL/h por, pelo menos, 18 a 24 horas. A administração de diuréticos pode ser recomendada, bem como o uso de aminas vasoativas, em caso de hipotensão refratária a volume. O tratamento da CIVD pode requerer a transfusão de concentrado de plaquetas, plasma e, eventualmente, crioprecipitado, além de outras medidas específicas. Reação transfusional é definida como qualquer intercorrência que ocorra como consequência da transfusão de sangue, durante ou após a sua administração. As reações transfusionais podem ser classificadas de acordo com: o tempo de aparecimento do quadro clínico ou laboratorial; a gravidade; o mecanismo fisiopatológico; a correlação com a transfusão (imputabilidade). Os sinais e sintomas mais comumente relacionados às reações transfusionais imediatas são os seguintes: febre e/ou calafrios; náuseas, com ou sem vômitos; dor no local da infusão, e dor na região torácica ou lombar; alterações agudas da pressão arterial: hipotensão ou hipertensão; alterações respiratórias, como dispneia, taquipneia, hipóxia, sibilos; alterações cutâneas, como prurido, urticária, exantema, edema generalizado ou localizado. Quanto à gravidade, a reação transfusional é classificada em: Grau 1 – LEVE: Ausência de risco à vida. Pode ser requerida intervenção médica, mas a falta desta não resulta em danos permanentes ou em comprometimento de um órgão ou função. Grau 2 – MODERADA: Morbidade em longo prazo. Em consequência da reação transfusional houve: Necessidade de hospitalização ou prolongamento desta e/ou Deficiência ou incapacidade persistente ou significativa ou Necessidade de intervenção médica ou cirúrgica para evitar danos permanentes ou comprometimento de um órgão ou função. Reação Hemolítica Aguda Imune (RHAI) Definição: reação em que ocorre hemólise intravascular das hemácias incompatíveis transfundidas, devido à presença de anticorpos pré-formados na circulação do paciente. Sua gravidade e prognóstico estão em grande parte relacionados ao volume de hemácias infundido e às características da reação entre antígeno e anticorpo, principalmente quanto à capacidade desse último de fixar complemento. O diagnóstico da RHAI pode ser dificultado na ocorrência de hemólise após transfusão em paciente portador de deficiência de G6PD (glicose-6-fosfato- desidrogenase), assim como em paciente com anemia hemolítica autoimune ou anemia falciforme pela presença de autoanticorpos ou múltiplos aloanticorpos, principalmente quando ocorre febre e hipotensão. Etiologia e Incidência: causada pela ação de anticorpos presentes no receptor que interagem com antígenos do doador. As principais reações estão relacionadas à transfusão de hemácias ABO incompatíveis, mas também pode acontecer com a transfusão de plasma ABO incompatível, caso o doador apresente altos títulos de anticorpos ABO. Anticorpos anti-Lea, com amplitude térmica, anti-vel, anti-PP1 e anti-P1, também podem estar implicados nesse tipo de reação. Anticorpos da classe IgM e algumas subclasses de IgG (IgG4 não fixa complemento), especialmente em altos títulos, são fortes ativadores de complemento e podem ativar C3a e C5a e promover a liberação de histamina e serotonina dos mastócitos, levando à vasodilatação e contração da musculatura lisa, especialmente de brônquios e trato gastrointestinal. Também ocorre a liberação de citocinas, leucotrienos, fator de necrose tumoral (TNF-α), radicais livres e óxido nítrico, com efeitos clínicos variáveis. Esse processo de fixação de complemento resulta na formação de um “poro” na membrana das hemácias, seguida do extravasamento de seu conteúdo (hemólise intravascular). Em consequência, haveria aumento dos níveis de hemoglobina livre (hemoglobinemia), que, por sua vez, seria filtrada pelos glomérulos, podendo ser detectada na urina (hemoglobinúria). Todo esse mecanismo pode explicar a febre, os calafrios, a dor torácica e a lombar, e a ativação dos leucócitos e da coagulação. . A principal causa é atribuída a erros de identificação do receptor ou das amostras coletadas para os testes pré-transfusionais. Diagnóstico: o paciente pode apresentar dores torácica, lombar e/ou no local da punção, febre e/ou calafrios, mal- estar, náusea e vômitos, hipotensão grave, ansiedade, inquietação e sensação de morte iminente. Além do quadro clínico, os achados laboratoriais evidenciam provas de hemólise positivas (teste direto da antiglobulina positivo [TDA], queda de hemoglobina e hematócrito, hemoglobinúria e haptoglobina diminuída; mais tardiamente, pode-se observar elevação da desidrogenase lática e da bilirrubina indireta). O paciente pode cursar com alteração da função renal e das provas de coagulação. Tratamento: deve-se interromper a transfusão e manter o acesso venoso com solução salina. Conferir a identificação da bolsa e do receptor (número e ABO/Rh da bolsa, e nome, registro e ABO/Rh do paciente) para evidenciar possível troca de amostra/paciente. Colher sangue da bolsa e do paciente para a realização de hemocultura (para descartar contaminação bacteriana dos hemocomponentes). Enviar a bolsa de sangue e amostra do receptor para realização de exames imuno-hematológicos (tipagem sanguínea, PAI e TDA). Colher exames para avaliação de hemólise (LDH, bilirrubinas, haptoglobina), hemostasia (TP, TTPa, TT, fibrinogênio, PDF e dímeros D), função renal e hemograma com contagem de plaquetas. A análise do esfregaço de sangue periférico pode mostrar hemácias fragmentadas e esferócitos. Prevenção: identificação ativa do paciente e conferência de seus dados pessoais no momento da coleta da amostra pré- transfusional e no momento da instalação do hemocomponente. Também deve ser feita a conferência com os dados da bolsa e da requisição de transfusão/prescrição. Além disso, outros cuidados recomendados são infusão lenta dos primeiros 50 mL da transfusão e monitoramento dos sinais vitais e de possíveis queixas. Durante a transfusão, no caso de paciente anestesiados ou inconscientes, devem ser monitorados o volume e a coloração da diurese, uma vez que, nessa situação, a ausência de sintomas pode retardar o diagnóstico. Reação Febril não Hemolítica (RFNH) Definição: caracterizada como o aumento da temperatura corporal em 1°C ou mais, com ou sem calafrios, sensação de frio e desconforto, que ocorre durante ou até 24 horas após o início da transfusão, sem outros motivos associados. É a reação adversa à transfusão mais comumente descrita na literatura. Etiologia: há dois mecanismos etiológicos envolvidos e, em ambos, a presença dos leucócitos nos hemocomponentes é condição fundamental: Presença de citocinas pró-inflamatórias e interleucinas nos componentes celulares que são liberadas pelos leucócitos residuais; Presença de anticorpos antileucocitários, no paciente,que interagem com antígenos do doador, como, por exemplo, da classe HLA, levando à formação do complexo antígeno- anticorpo, ativação do complemento e liberação de pirógenos endógenos. Mesmo não sendo o tipo mais comum de reação (0,1 a 1%), é a mais notificada e mais frequentemente observada pelo profissional de Saúde em transfusão de concentrado de plaquetas (maior frequência) e de concentrado de hemácias. Presença de febre (temperatura ≥ 38 ᵒC) com aumento de pelo menos 1 ᵒC (um grauCelsius) em relação ao valor pré-transfusional; E/OU tremores (espasmos) e calafrios, durante a transfusão ou até 4h (quatro horas) após; E Ausência de outras causas, tais como contaminação bacteriana, reação hemolítica ou outra condição subjacente. Podem ocorrer náuseas, vômitos e cefaleia e os sintomas podem ceder espontaneamente. Diagnóstico: a RFNH ocorre no momento da transfusão ou até 24 horas após a instalação do hemocomponente. O paciente pode cursar com febre (t > 38°C) associada à elevação de pelo menos 1°C da temperatura inicial, tremor e/ou calafrios. s. O quadro é benigno e autolimitado, porém justifica-se a coleta de microbiológico e provas imuno- hematológicas se houver dúvida entre a possibilidade de contaminação bacteriana e reação hemolítica aguda; Tratamento: interromper a transfusão e manter o acesso com solução salina SF 0,9%. O uso de antitérmicos e/ou meperidina é recomendado para o alívio dos sintomas. O hemocomponente envolvido deve ser descartado e, depois que o paciente se restabelecer, novo hemocomponente pode ser instalado. Anti-histamínicos não são recomendados, por não haver liberação de histamina nesse tipo de reação. Prevenção: pelo fato de as RFNH serem condições autolimitadas e benignas, o uso de pré-medicações (como antitérmicos e/ou meperidina) em pacientes sem história prévia de reações não está justificado. Após dois ou mais episódios de RFNH, ou após o primeiro, se ele for considerado grave, é indicada a transfusão de hemocomponentes celulares leucorreduzidos. O seu uso reduz a quantidade de leucócitos para menos que 5x106 /unidade, minimizando ou eliminando as reações. . Devem ser usados filtros pré-armazenamento (bancada ou em linha) antes da estocagem, com o objetivo de remover os leucócitos (ou impedir o seu acúmulo, no caso dos filtros em linha) dos hemocomponentes antes da sua apoptose ou necrose, e antes da liberação de citocinas e dos produtos da desintegração. Reações Alérgicas Definição: aparecimento de reação de hipersensibilidade durante a transfusão ou até 24 horas após o seu início. Em geral, é benigna e autolimitada, mas pode ser grave, principalmente quando houver comprometimento respiratório ou circulatório. Etiologia: é causada pela presença, no receptor, de anticorpos contra proteínas plasmáticas do doador. Anticorpos pré-formados (geralmente da classe IgE) no receptor interagem com o alérgeno, usualmente presente no plasma do doador. Mastócitos são ativados, resultando na sua degranulação e liberação de histamina pré-formada, fatores quimiotáticos, proteases e proteoglicanos. Além disso, ocorre a liberação de metabólitos do ácido araquidônico, leucotrienos, prostaglandina D2 e fator ativador de plaquetas. A reação alérgica leve e a reação moderada são as reações transfusionais mais comuns ocorrendo em 1% (um por cento) a 3% (três por cento) dos casos. Os sintomas geralmente surgem alguns minutos após iniciar a transfusão. Na reação alérgica grave (anafilatoide ou anafilática) estão envolvidos citoquinas e anticorpos anti- IgE contra proteínas plasmáticas do doador incluindo IgA, haptoglobina e C4 e também causas como uso de inibidores de ECA (enzima conversora de angiotensina), penicilina, aspirina. Alergia ao óxido de etileno utilizado na esterilização de insumos médicos também é descrita, entre outras causas. O caso confirmado deve apresentar dois ou mais dos seguintes sinais e sintomas: Pápulas; Prurido; Urticária; Edema labial, de língua e de úvula ou periorbital/conjuntival; tosse, rouquidão. Na reação anafilática – caso grave da reação alérgica – os sinais e sintomas ocorrem rapidamente, em poucos segundos ou minutos após o início da transfusão. Observam- se, obrigatoriamente, distúrbios respiratórios e os sintomas abaixo: Edema de laringe; Cianose; Insuficiência respiratória; Broncoespasmo; Estridor respiratório. Podem ocorrer também: ansiedade, taquicardia, perda da consciência, hipotensão arterial e choque Pápulas e urticária são relativamente comuns, enquantoreações anafilactoides e anafiláticas são bem menosfrequentes. Diagnóstico: a maioria das manifestações é decomprometimento cutâneo e pode cursar com eritemacutâneo, prurido, pápulas, exantema, urticária,tosse, rouquidão e edema palpebral. A intensidade das lesões pode ser de leve a grave, com acometimento de vias aéreas superiores e/ou inferiores. Os pacientes podem queixar-se ou apresentar edema de laringe, rouquidão, estridor laríngeo e sensação de aperto na garganta ou sibilos, sensação de aperto torácico, dor subesternal, dispneia, ansiedade ou cianose. Os pacientes também podem apresentar manifestações gastrintestinais, que incluem náuseas, vômitos, dor abdominal e diarreia. Podem se classificada em: reação alérgica: lesões cutâneas, que podem variar desde pápulas pruriginosas, placas eritematosas e elevadase/ou vermelhidão da pele; reação anafilactoide: lesões de pele combinadas aossintomas de hipotensão e comprometimento de vias aéreas;reação anafilática: sintomas semelhantes ao da reaçãoanafilactoide, porém com hipotensão e perda daconsciência, e de difícil manejo Tratamento: a maioria das reações alérgicas é considerada benigna e pode cessar após a interrupção do hemocomponente. Caso a reação persista, pode ser administrado anti-histamínico VO ou IV e, em algumas situações, pode ser necessário o uso de corticoide. Se os sintomas cessarem, e a reação tiver sido considerada leve, a unidade de hemocomponente pode ser reinstalada. Se as lesões cutâneas forem extensas ou houver comprometimento de vias aéreas, hipotensão ou sintomas gastrointestinais, pode ser necessário o usode corticoide, adrenalina, reposição com solução fisiológica 0,9% e/ou suplementação de oxigênio. Nessas situações, o hemocomponente não deve ser reinstalado. Prevenção: em pacientes com episódios frequentes de reação alérgica, ou mesmo único, mas grave, pode ser administrada medicação anti-histamínica profilática 30 minutos antes da transfusão. Caso a medicação não evite a ocorrência de reação alérgica, pode-se optar pela lavagem com solução fisiológica do hemocomponente celular, a fim de remover o plasma nele contido. No caso de concentrado de plaquetas, a lavagem somente estaria indicada em reações graves, já que ela reduz consideravelmente a eficácia transfusional. Recomenda-se pesquisar a presença de IgA e anti-IgA no paciente e, quando se identificar receptor deficiente de IgA, deve-se transfundir, se disponível, hemocomponentes de doadores também deficientes de IgA, ou então transfundir produtos celulares lavados. Reação anafilática. Lesão Pulmonar Aguda Relacionada à Transfusão (TRALI) Definição: lesão pulmonar aguda que se inicia durante ou até seis horas após o término datransfusão de um hemocomponente. Representada por quadro de hipoxemia aguda, com edema pulmonar bilateral e ausência de hipertensão arterial esquerda. Etiologia: Em 70% dos casos, esse quadro é atribuído à existência de anticorpos antileucocitários no plasma do doador. Esses anticorpos são dirigidos contra antígenos do sistema HLA (classe I ou II) ou contra antígenos presentes nos neutrófilos. Em 5% a 20% das ocorrências, o anticorpo implicado está presente no próprio paciente. ocorre durante a transfusão ou até seis horas após sua realização, sem evidência anterior de lesão pulmonar; E Exame de imagem de tórax apresentando infiltrado pulmonar bilateral sem evidência de sobrecarga circulatória; E Hipoxemia com saturação de oxigênio ≤ 90% (igual ou menor que noventa por cento) em ar ambiente e/ou PaO2/ FiO2 ≤ 300 mm Hg (razão entre pressão arterial de oxigênio e fração inspiratória de oxigênio igual ou menor que trezentos milímetros de mercúrio). Acredita-se que, para que ocorra essa reação, seriam necessários alguns eventos adicionais, o que justificaria a maior frequência de TRALI em pacientes de maior gravidade clínica: 1) lesão ou estresse pulmonar subjacente, resultado de sequestro de polimorfonucleares nos pulmões, como acontece nos quadros de sepse, pneumonia, queimaduras e CIVD; e 2) infusão de lípides e/ou citocinas presentes no plasma do doador ou no hemocomponente, que lesariam os leucócitos sequestrados, resultando em lesão endotelial e síndrome de extravasamento capilar. Diagnóstico: é essencialmente clínico e de exclusão, porém a identificação de anticorpos anti-HLA (classe I ou II) ou antineutrófilos no doador ou no receptor reforça o diagnóstico, da mesma forma que a presença de uma reação linfocitária cruzada positiva entre o soro do doador e os linfócitos do paciente. O quadro consiste na manifestação de sintomas respiratórios durante ou até seis horas após o término da transfusão de um hemocomponente. O paciente pode apresentar desde dispneia até insuficiência respiratória aguda, associada ou não a febre, tremores, hipotensão arterial e taquicardia. Quando o suporte ventilatório é prontamente instituído, 80% dos pacientes evoluem com melhora clínica em 48 a 96 horas. Tratamento: baseia-se somente no suporte clínico e respiratório, de forma rápida e eficaz diante do quadro clínico do paciente. A maior parte dos pacientes necessita de oxigênio e, em algumas situações é necessária a intubação orotraqueal e ventilação mecânica. Prevenção: caso sejam identificados anticorpos (anti-HLA ou antineutrófilos) no paciente, recomenda-se o uso de filtros de leucorredução em produtos celulares que o paciente venha receber. Quando os anticorpos identificados estão presentes no doador, não são necessárias medidas específicas com o paciente. Entretanto, sugerem-se algumas medidas a serem tomadas com o doador: excluir doadores cujo sangue tenha estado envolvido em casos de TRALI (doadores implicados e/ou associados a múltiplos eventos de TRALI) ou, pelo menos, não fazer uso clínico de seu plasma; não utilizar plasma de doadoras que já tiveram gestação ou submeter seu sangue à pesquisa de anticorpos anti-HLA e anticorpos antineutrófilos antes da sua utilização; remover o plasma do hemocomponente quando se tratar de doação específica e não houver outro doador disponível para o receptor em questão Sobrecarga Circulatória Associada à Transfusão ou Sobrecarga Volêmica Definição: atualmente, é a terceira causa mais frequente de reações transfusionais notificadas ao Sistema Nacional de Hemovigilância. Caracteriza-se por apresentar, até seis horas após o término da transfusão, quatro dos seguintes critérios: dificuldade respiratória aguda, taquicardia, elevação da pressão arterial, surgimento ou piora de edema pulmonar detectado na radiografia do tórax em PA, evidência de balanço hídrico positivo, insuficiência ventricular esquerda ou aumento do peptídeo natriurético tipo B (BNP). Etiologia: a sobrecarga volêmica ocorre por aumento da pressão venosa central (PVC), aumento no volume sanguíneo pulmonar e diminuição da capacidade pulmonar, resultando em insuficiência cardíaca congestiva e edema pulmonar. A infusão rápida de hemocomponentes ou transfusões maciças podem ser desencadeantes da sobrecarga, mas pacientes com menor reserva cardíaca ou anemia crônica grave são mais susceptíveis ao desenvolvimento desse quadro. A presença de anemia grave aumenta o risco de sobrecarga volêmica, devido ao estado hipercinético dos pacientes, o que os torna intolerantes a pequenos volumes adicionais. Diagnóstico: é necessário o paciente apresentar quatro dos seis critérios inicialmente apresentados, além de dados que possam auxiliar na confirmação diagnóstica, tais como: condições que predispõem a um maior risco de sobrecarga volêmica: extremos de idade (como menores de um ano e maiores de 60 anos), baixo peso, anemia grave, insuficiência renal, insuficiência cardíaca, hipoalbuminemia, sobrecarga hídrica e pré-eclâmpsia administração de fluidos endovenosos previamente ou concomitantemente à transfusão; infusão de grande volume de fluidos. tratamento: interromper a transfusão e comunicar ao médico assistente imediatamente. Manter o acesso venoso do paciente e deixá-lo com a cabeceira elevada. Administrar diuréticos e fornecer oxigênio, de acordo com a necessidade do paciente. Realizar, se possível, exames para a confirmação diagnóstica. Prevenção: estar atento à coerência da indicação da transfusão; transfundir em locais onde o paciente possa ser bem observado e monitorado; evitar a transfusão com o paciente em trânsito; identificar os pacientes com maior risco de sobrecarga volêmica e ajustar a velocidade de infusão do hemocomponente para 1 mL/kg/h ou 2 a 4 mL/min. Em alguns casos, é necessária a aliquotagem do hemocomponente, de forma a transfundir o paciente em dias distintos. Sempre que possível, monitorar o balanço hídrico e a pressão venosa central dos pacientes Reação por Contaminação Bacteriana Definição: caracterizada pela transfusão de hemocomponentes que contêm bactéria. O paciente apresenta febre (temperatura ≥ 38°C), com um aumento de pelo menos 2°C em relação ao valor pré-transfusional, durante ou em até 24 horas após a transfusão, sem sinal de infecção prévia. É comum apresentar alguns dos seguintes sinais e sintomas: tremores, calafrios, hipotensão arterial, taquicardia, dispneia, náusea, vômitos e choque. A hemocultura do paciente deve identificar o mesmo microrganismo presente no hemocomponente. Etiologia: as principais causas para a contaminação do hemocomponente são: antissepsia inadequada, e escolha ou manipulação inadequada do local da punção durante o processo de flebotomia, com contaminação da bolsa por agente proveniente da pele; processamento e/ou estocagem inadequados, especialmente para concentrado de plaquetas, que é considerado de maior risco para contaminação, devido à sua temperatura de armazenamento; manipulação inadequada da bolsa de sangue para infusão; bacteremia do doador, não identificada na triagem clínica. Incidência: os dois hemocomponentes mais envolvidos em contaminação bacteriana são os concentrados de hemácias e plaquetas, porém o plasma fresco congelado e o crioprecipitado podem ser contaminados durante o seu processo de descongelamento. Os organismos mais envolvidos na contaminação de concentrado de hemácias são Gram-negativos (Acinetobacter spp, Escherichia spp, Yersinia spp e Pseudomonas spp), microrganismos altamente virulentos, resistentes à baixa temperatura e que necessitam de ferro para sua multiplicação. Os agentes mais comuns dos concentrados de plaquetas são Gram-positivosm (Streptococos spp, Staphylococos spp e Propionibacterium spp). Diagnóstico: apresentação clínica da contaminação bacteriana é bastante grave e, normalmente, ocorre durante a transfusão ou após o seu término. A taxa de mortalidade na sepse pode chegar a 60%, e os sinais e sintomas são mais agudos e graves com os concentrados de hemácias. Os sinais e sintomas mais comuns são: febre, calafrios, náuseas, vômitos, hipotensão e choque. O paciente também pode apresentar ruborização da pele, dor lombar, diarreia, hemoglobinúria, coagulação intravascular disseminada e insuficiência renal. A temperatura normalmente eleva-se 2°C ou mais em relação à do início da transfusão. O diagnóstico é estabelecido pela identificação do mesmo organismo na bolsa que estava sendo transfundida e na amostra d sangue do receptor e/ou pela clínica sugestiva de contaminação bacteriana. No entanto, a positividade das culturas depende da quantidade do microrganismo presente e,por esse motivo, podem estar negativas. Além disso, a cultura de amostra de sangue do segmento da bolsa pode não ser fidedigna, uma vez que a contaminação pode ter sido na manipulação da bolsa. Definição. Presença domicrorganismo no hemocomponente transfudido ou em outro hemocomponente proveniente da mesma doação (co- componente); E Presença do mesmo microrganismo no sangue do receptor, ainda que sem sintomatologia clínica; E/OU Presença de febre (temperatura ≥ 38 °C) com aumento de pelo menos 2 °C (dois graus Celsius positivos) em relação ao valor pré-transfusional durante a transfusão ou até 24h (vinte e quatro horas) após, sem evidência de infecção prévia. Tratamento: suspender imediatamente a transfusão da unidade de hemocomponente assim que se suspeitar de reação por contaminação bacteriana. Colher amostra de sangue do paciente e da bolsa e enviar para cultura. Colhe hemograma completo e provas de hemólise, pela necessidade de diagnóstico diferencial com reação hemolítica aguda. Internar o paciente, caso seja transfusão ambulatorial, e iniciar tratamento com antibiótico de largo espectro, voltado para os principais agentes contaminantes de cada hemocomponente. Realizar tratamento da sepse/choque conforme o protocolo do serviço. Comunicar ao médico assistente do paciente. Prevenção: não existe uma medida única capaz de prevenir a reação transfusional por contaminação de hemocomponentes. Entre as medidas a serem instituídas, incluem-se a realização de triagem clínica cuidadosa dos doadores de sangue, excluindo doadores com história ou pródromos de infecção; escolha de local apropriado para a punção venosa; antissepsia rigorosa da pele do doador; punção o menos traumática possível, trocando-se o material de coleta em caso de necessidade de nova punção; e uso de bolsas de coleta com sistema de desvio do fluxo dos primeiros 30-40 mL para bolsa acessória. Deve-se seguir todos os cuidados preconizados no preparo, armazenamento, transporte e administração do sangue, de acordo com as normas técnicas e as boas práticas. É muito importante realizar cultura dos hemocomponentes para detectar possíveis agentes infecciosos. Reação Hipotensiva Definição: hipotensão ocorrida durante ou após o término da transfusão, na ausência de sinais e sintomas de outras reações transfusionais. Etiologia: ainda não está bem estabelecida, mas está relacionada à liberação de histamina durante a transfusão. Esse mecanismo pode estar associado ao uso de filtro de remoção de leucócitos utilizado à beira de leito em pacientes em uso de inibidores de enzimas conversoras de angiotensina (inibidores de ECA). Diagnóstico: queda da pressão arterial sistólica (PAS) maior ou igual a 30 mmHg que a leve a nível igual ou inferior a 80 mmHg, que pode estar associada com quadro de mal-estar, ansiedade e sudorese. Em crianças, o diagnóstico é feito se houver queda maior que 25% da PAS. Em geral, manifesta-se nos primeiros 10 minutos da transfusão de hemocomponentes e se diferencia dasdemais reações que causam hipotensão, pela rápida reversão dos sintomas após a interrupção da transfusão. Tratamento: interromper imediatamente a transfusão, colocar o paciente em posição de Trendelenburg e, em algumas situações, infundir solução fisiológica. Prevenção: evitar a utilização de filtros à beira de leito em pacientes com história de reação hipotensiva e/ou em uso de medicamentos inibidores de ECA. Hemólise não Imune Definição: a hemólise pode acontecer por razões diversasdurante ou após a transfusão de sangue. Quando ahemólise for causada por fatores externos, seu mecanismoé dito “não imune”. Esse tipo de hemólise acarreta norecepto a presença de hemoglobina livre no plasma e naurina, mesmo na ausência de sintomas clínicos significativos.Etiologia: pode estar associada a diferentes causas,relacionadas à obtenção, processamento, armazenamento,preparo ou administração do hemocomponente.As mais comuns são: lesão térmica: exposição do produto atemperaturas inadequadas, ou seja, calor ou resfriamentoexcessivo, podendo levar à sua desidratação e à formaçãode cristais de gelo; lesão osmótica: lise da hemácia, devido àvariação os mótica quando em contato com soro glicosado,soluções hipotônicas (como aágua destilada)e soluções com adição de medicamentos; lesão mecânica: lisepor dano direto à hemácia. Pode ocorrer em transfusões com agulhas de calibre muito fino (superior a 19G); quandoá compressão da bolsa de hemácias, com o intuito deaumentar a velocidade de infusão; e em situações decirculação extracorpórea. Diagnóstico: observação clínica revela alteração da cor do plasma e da urina, e os exames laboratoriais são condizentes com o quadro de hemólise. Os testes pré-transfusionais devem sempre ser repetidos, com o objetivo de descartar uma reação hemolítica imunológica e assegurar a compatibilidade inicial do produto transfundido para o paciente envolvido no caso. Tratamento: a reação hemolítica aguda não imune raramente necessita de intervenção mais rigorosa. É importante manter um bom volume de diurese até se verificar diminuição da hemoglobinemia e da hemoglobinúria, de forma a evitar comprometimento da função renal. Estimular a diurese com solução fisiológica a 0,9%. Prevenção: o uso correto dos protocolos estabelecidos para preparo, obtenção e aplicação do sangue evita os quadros de hemólise não imune. Distúrbios Metabólicos Definição: uma das complicações da transfusão, principalmente no período neonatal e em pacientes vítimas de trauma que receberam transfusão maciça (mais de 10 unidades de concentrado de hemácias em 24 horas), é o distúrbio metabólico, que pode ser decorrente da toxicidade do citrato, da hipocalcemia e da hipercalemia. Toxicidade pelo citrato: o citrato de sódio é o anticoagulante utilizado na coleta de sangue e seus componentes. Quando grandes volumes são transfundidos nos pacientes, o volume de citrato infundido pode exceder a capacidade hepática de metabolização. O citrato tem alta afinidade pelo cálcio e pelo magnésio, podendo acarretar um quadro de hipocalcemia e hipomagnesemia. A metabolização do citrato resulta em bicarbonato, podendo acarretar seu acúmulo e a consequente alcalose. A hipocalcemia manifesta-se como hiperexcitabilidade neuromuscular, e o paciente pode apresentar parestesia perioral e de extremidades, tetania, arritmias e prolongamento do intervalo QT no eletrocardiograma. A hipomagnesemia é menos comum, mas pode levar à depressão miocárdica e arritmia ventricular. A alcalose metabólica pode acarretar diminuição da contratilidade miocárdica e um desvio à esquerda na curva de dissociação do oxigênio. Assim, não se recomenda o uso de bicarbonato durante a ressuscitação de pacientes que recebem transfusões maciças de hemocomponentes. Tratamento: a reposição automática de cálcio não é estimulada, devido à baixa frequência dessa complicação. O paciente deve ter sinais e sintomas monitorados, bem como a dosagem sérica de cálcio iônico. Essas alterações justificam a reposição ou não de cálcio e magnésio. Hipercalemia: quando as hemácias são estocadas entre 1° e 6°C, o potássio intracelular é lentamente liberado no plasma sobrenadante ou na solução aditiva, devido à dissociação da bomba sódio-potássio da membrana. pode ocorrer hipercalemia transitória em pacientes com insuficiência renal, prematuros e recém-nascidos com necessidade de grande volume de transfusões. A intensidade e duração da hipercalemia dependem de vários fatores, como distúrbios do equilíbrio ácido-base do paciente, concentração de cálcio ionizado, função renal e velocidade de infusão do hemocomponente. Tratamento: em geral, feito por meio da diminuição da velocidade de infusão do concentrado de hemácias e da correção de eventual distúrbio metabólico. Dor Aguda Relacionada à Transfusão Definição: dor aguda repentina que se inicia durante a infusão do hemocomponente, de curta duração (até 30 minutos) e que pode ser no local da venopunção, em membros superiores, no abdome ou nas regiões torácica e/ou lombar, sem outra explicação. A dor pode ser intensa, mas o quadro clínico éautolimitado e benigno. Etiologia: ainda é desconhecida a etiologia dessa reação, mas pode estar relacionada com a utilização de filtros de bancada para remoçãode leucócitos ou com a transfusão de anticorpos HLA da classe II. Diagnóstico: além dos sintomas previamente descritos, o paciente pode apresentar concomitante à dor: hipertensão arterial, inquietação, vermelhidão na pele, calafrios, taquipneia, dispneia e taquicardia. Os sintomas melhoram com a interrupção da transfusão. É importante descartar outras reações transfusionais, tais como TRALI, sobrecarga de volume, reação hemolítica aguda, reação febril não hemolítica e reação alérgica. Tratamento: interrupção da transfusão e, eventualmente, uso de analgésicos Definição e etiologia: a hipotermia ocorre em decorrência da infusão rápida de grande volume de hemocomponentes resfriados, especialmente em pacientes vítimas de trauma e com choque circulatório. A hipotermia implica: aumento da afinidade da hemoglobina pelo oxigênio, o que pode contribuir para a diminuição da oxigenação tecidual alteração da função plaquetária e a coagulação, podendo acentuar a hemorragia e, consequentemente, a hipovolemia; redução da capacidade do fígado de metabolizar o citrato, prolongando a hipocalcemia induzida por esse anticoagulante; aumento da incidência de arritmia cardíaca, em razão da diminuição da temperatura no nó sinoatrial. Hipotermia Diagnóstico: a hipotermia acarreta sensação de desconforto e calafrios. No entanto, como o paciente normalmente está inconsciente, seu diagnóstico é feito por meio da medição da temperatura corporal. O paciente pode evoluir com arritmia cardíaca e distúrbio da hemostasia. Tratamento: infusão de solução cristaloide pré-aquecida para reduzir os efeito hipotérmicos da transfusão de hemocomponentes. Prevenção: recomenda-se o pré-aquecimento dos hemocomponentes de forma controlada, em aquecedores próprios para esse fim, e a infusão lenta dos hemocomponentes. Embolia Gasosa Definição e etiologia: pode ocorrer se o hemocomponente for administrado sob pressão, ou entrar ar no sistema durante a troca de bolsas no cateter central. O volume mínimo de ar que é potencialmente fatal para um adulto é de 100 mL. Diagnóstico: é baseado nos achados clínicos, que são muito variáveis, mas costuma envolver os sistemas circulatório e neurológico. Os sinais e sintomas mais comuns são: dispneia/taquipneia e cianose súbita, dor torácica, tosse, hipotensão e, nos casos mais graves, arritmia cardíaca. Tratamento: se for feita a hipótese de embolia gasosa, o paciente deve ser posicionado em decúbito lateral esquerdo, com a cabeça para baixo, de modo a afastar as bolhas de ar da valva pulmonar. Ventilação mecânica e oxigenoterapia podem ser necessárias. Prevenção: não utilizar hemocomponentes infundidos sob pressão, se o sistema for aberto.
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