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Anemia Falciforme

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[GABRIELA BARBOSA] Turma 74- Medicina Unimontes 
 
PROBLEMA 07 – “MEIA LUA EM MIM” – DOR 
 DOENÇA FALCIFORME (DF) 
- Grupo de doenças hemolíticas crônicas, causadas por uma condição genética autossômica recessiva resultante de defeitos na estrutura da 
hemoglobina (Hb), associado ou não à defeitos na síntese; 
- Engloba hemoglobinopatias que apresentam ao menos uma das hemoglobinas mutantes é a HbS – inclui: anemia falciforme (HbSS), S-Beta-
Talassemia (microdrenopanocitose) e as duplas heterozigoses (HbSC e HbSD); 
- As doenças desse grupo que são caracterizadas por fenômenos vaso-oclusivos, vasoculopatia, amplas lesões agudas e crônicas de diversos 
órgãos e mortalidade prematura; 
1. EPIDEMIOLOGIA 
 
 
- A doença falciforme é uma das doenças 
hereditárias mais comuns no mundo; 
- A prevalência das formas da doença 
falciforme e do traço falciforme variam 
conforme e a localidade, porém fazem-se 
presentes em todos os continentes; 
- Prevalente na África Equatorial, Oriente Médio e Índia – o desmatamento, a agricultura e o acúmulo de água favoreceram a endemia da malária 
falcípara (agente: Plasmodium falciparum), porém o traço falciforme era um fator de proteção (vantagem seletiva) à contração da malária, assim 
os indivíduos dessas áreas que apresentavam o traço falciforme tinham maiores chances de sobreviver até a idade reprodutiva, repassando o 
traço para as próximas gerações; 
**o tráfego de escravos e as guerras permitiram que essa mutação do traço falciforme fosse transmitida para a América, Mediterrâneo e para 
o leste do subcontinente indiano** 
**as hemoglobinopatias decorrentes de defeitos na síntese da Hb são mais frequentes em povos africanos, enquanto as talassemias decorrentes 
de defeitos na síntese da Hb são mais comuns em povos do Mediterrâneo, Ásia e China** 
 
 
 
 
 
 
 
 
- Estima-se que 4% da população brasileira tenha o traço falciforme (heterozigose simples) e cerca de 60.000 a 100.000 tenham a anemia 
falciforme ou doença falciforme; 
- A distribuição do gene S no Brasil é heterogênea, variando conforme a composição negroide ou causasoide da região – a prevalência para 
heterozigose para HbS é maior no norte e no nordeste (6 a 10%), sendo menor no sul e sudeste (2 a 3%) -> nasce 1 criança com anemia falciforme 
para 1000 recém-nascidos vivos; 
2. ETIOPATOGENIA - BASE GENÉTICA 
 
- A hemoglobina apresenta uma porção proteína nomeada globina, que contém o anel heme da porfirina, permitindo o transporte eficiente do 
oxigênio e suas demais funções fisiológicas; 
- Mutações que alteram a sequência primária de aminoácidos do peptídeo da globina podem resultar em hemoglobinopatias, como a anemia 
falciforme; 
- Mutação da Hemoglobina Falciforme (HbS) – substituição de adenina (A) por uma timina (T) no códon 6 do gene da beta-globina, o que causa 
a substituição de um resíduo normal de ácido glutâmico por um de valina (Glu6Val), permitindo que essa hemoglobina HbS se polimerize quando 
desoxigenada; 
- Único Genótipo Denominado de Anemia Falciforme – indivíduo herda mutação homozigótica materna e paterna de hemoglobina S, 
encontrando-se em estado homozigótico (SS) para a HbS; 
 Resistência à Malária 
- A hemácia portadora do traço falcêmico ao ser invadida pelo Plasmodium apresenta desnaturação de HbS, essa alteração é percebida pelo autoanticorpo banda 3 
na membrana plasmática, que opsoniza a superfície da hemácia, ao se agregar a membrana, aumentando a eritrofagocitose (remoção de hemácias pelo baço); 
- O rápido clearence das células invadidas pelo Plasmodium impede o surgimento de parasitemia, permitindo que o sistema imune atinja o controle espontâneo da 
infecção; 
- Essa resistência ocorre nos portadores do traço falcêmico e não nos que apresentam a anemia falciforme, pois esta apesar de apresentar o mesmo mecanismo de 
membrana para opsonização das hemácias, apresenta a asplenia (perda funcional do baço), que inviabiliza o clearence da célula, assim esses indivíduos aumentam 
a taxa base de hemólise, agravando a anemia crônica e a malária aguda; 
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- Traço Falciforme – portador heterozigoto simples da mutação HbS (não apresenta a doença falciforme) - apresenta cerca de 30 a 40% de HbS 
de cada célula, fazendo com que o polímero de HbS não seja encontrado na maioria das vezes - a maioria dos progenitores da criança com 
anemia falciforme são heterozigotos simples, apresentando um gene da HbA (normal) associado com a Hb variante (HbS), ou seja, são HbAS – 
esses indivíduos não são anêmicos, apresentam menor índice de complicações e expectativas de vida normais, não precisando de tratamento; 
- HbE e HbC – outras variantes comuns da hemoglobina, que afetam a estabilidade e o funcionamento da hemoglobina, causando anemias 
hemolíticas, alterações no transporte de oxigênio ou meta-hemoglobinemia; 
- Talassemias – causa: mutações nos genes das globinas, que afetam a expressão gênica, de modo a diminuir ou impedir a síntese da cadeia da 
globina, mas ainda mantendo a normalidade da estrutura da globina que é produzida; 
- Doença Falciforme - heterozigótico composto – doença causada pela herança da hemoglobina S (HbS) em combinação com outro defeito 
estrutural ou de síntese na Hb, como: SC (genótipo que geralmente causa a doença menos grave, mas são mais suscetíveis à retinopatia 
falciforme), SD, SE, S beta-talassemia (pode causar doença tão grave quanto à SS), S alfa-talassemia ou S mut rara; 
3. FISIOPATOLOGIA 
 Fenômeno de Eritrofalciformação 
 
- A polimerização hemoglobínica, ou seja, 
quando a HbS é desoxigenada (em 
situações de ausência ou diminuição da 
tensão de oxigênio), essa perde sua 
estrutura quaternária e adquire uma 
estrutura primária, insolúvel, 
aumentando a tendência de auto-
agregação (forma polímeros), de modo a 
formar fibras alongada e rígidas no 
interior do citoplasma, que alteram a 
forma eritrocitária de disco bicôncavo 
para uma foice (forma rígida e angulada); 
- O afoiçamento das hemácias ocorre de forma espontânea, mas pode ser exacerbado por: (hipóxia) transforma a Oxi-HbS em Desoxi-HbS, que 
apresenta limiar de solubilidade muito abaixo da Concentração de Hemoglobina Corpuscular Média (CHCM), fazendo com que mesmo em 
hipóxia leve, em que apenas parte da hemoglobina da hemácia se torna desoxigenada, a concentração corpuscular de Desoxi-HbS ultrapasse 
seu limiar de solubilidade, desencadeando a polimerização e precipitação de hemoglobina na hemácia (e causando a deformação); (redução do 
pH) desloca a curva de saturação da hemoglobina para a direita, reduzindo a afinidade da hemoglobina pelo oxigênio (efeito Bohr), assim na 
vigência de acidose, há mais Desoxi-HbS para um mesmo nível de pO2, de modo a aumentar a taxa de polimerização. (desidratação celular) 
favorece a polimerização por aumentar a CHCM, aumentando a concentração de Desoxi-HbS, de modo a ultrapassar seu limiar de solubilidade 
e precipitar na célula, polimerizando-se; 
**a polimerização da HbS é reversível, assim após o fim dos fatores exacerbadores, os polímeros de HbS se desfazem e as hemácias retomam 
seu formato original** 
- Os eritrócitos falcizados dificultam a circulação sanguínea, compondo a fisiopatogenia da vaso-oclusão, que cursa com isquemia, dor, necrose 
e disfunções dos tecidos e órgãos; 
- As hemácias falciformes sobrevivem por apenas 10 a 30 dias, em comparação com as normais que sobrevivem por cerca de 120 dias na corrente 
sanguínea; 
 Heterogeneidade dos Eritrócitos da Anemia Falciforme – Influência da Mistura de Hemoglobinas 
- Os eritrócitos na anemia falciforme são heterogêneos devido aos danos na membrana e às diferentes concentrações da hemoglobina fetal 
(HbF), uma vez que esta inibe a polimerização da HbS, diminuindo o afoiçamento; 
- A hemoglobina fetal (HbF) apresenta alta afinidade pelo oxigênio, assim quando mais oxigênio, menor a hipóxia -> quando presente em maiores 
níveis intracelulares,o maior teor de oxigênio reduz a formação de polímeros de HbS e consequentemente o afoiçamento das hemácias, 
amenizando ou prevenindo as manifestações clínicas da anemia falciforme; 
**a concentração da hemoglobina fetal (HbF) varia entre os pacientes com anemia falciforme e entre os eritrócitos de cada indivíduo** 
- Variabilidade Fenotípica - seu protótipo afeta um único gene, mas se comporta clinicamente como uma condição multigênica, com imensa 
variabilidade fenotípica, uma vez que seu fenótipo pode ser influenciado por genes modificadores, sendo que estes apresentam polimorfismos 
definidores do prognóstico – os genes modificadores modulam a concentração de HbF, inflamação, dano oxidativo, biologia do óxido nítrico 
(NO), vasorregulação, interação célula a célula, coagulação sanguínea e a hemóstase; 
**haplótipos – combinação de alelos adjacentes que são transmitidos juntos** 
- Haplótipos do Grupo dos Genes Relacionados à Beta-Globina – diferentes haplótipos apresentam a mutação falcêmica, refletindo as diferentes 
origens desta mutação – (haplótipo Senegal) associa-se aos níveis mais elevados de HbF e a um curso clínico benigno; (haplótipo Bantu) associa-
se a outras complicações, mas com heterogeneidade fenotípica dentro do mesmo grupo; 
 Instabilidade Molecular – Estresse Oxidativo 
- A HbS é uma molécula instável e tende a sofrer oxidação com mais facilidade do que a hemoglobina normal, assim pode ocorrer estresse 
oxidativo perante o contato com os fosfolipídeos da membrana celular, formando sempre macromoléculas desnaturadas compostas por 
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fragmentos de globina, ferro (separado dos grupamentos heme, que são destruídos) e fosfolipídeos, mesmo em situação de oxigenação normal 
e sem afoiçamento; 
- Danos à Membrana Plasmática: (1) a membrana plasmática sofre dano cumulativo, com a peroxidação de lipídeos e a oxidação de proteínas 
estruturais, rompendo as interações com o citoesqueleto e levando à formação de microvesículas na superfície (que podem desprender-se); (2) 
compromete a fluidez da membrana, fazendo com que muitas hemácias não consigam sair do estado afoiçado mesmo quando os polímeros de 
HbS se desfazem, gerando as ISC (Irreversibly Sickled Cells), assim em 7 a 30 dias, a célula pode se tornar tão frágil que ocorre lise osmótica ou 
mecânica, contribuindo para hemólise intravascular da anemia hemolítica; 
 - Transporte Iônico e Desidratação Celular: a peroxidação de lipídeos aumenta a permeabilidade da membrana aos cátions, principalmente 
quando há afoiçamento, assim ocorre a entrada de cálcio no citoplasma, que ativa o canal transmembrana Gardos, responsável por induzir a 
perda de K+ e água, tornando as hemácias desidratadas, de modo a aumentar a Concentração de Hemoglobina Corpuscular Média (CHCM) e 
assim permitir que as hemácias se afoiçem com mais facilidade - ciclo vicioso de afoiçamento e desidratação celular progressiva; 
 - Modificações Antigênicas na Membrana: ocorre a Exposição da Fosfatidilserina (FS), sendo essa uma molécula presente na membrana, que 
pode ser “virada” para dentro ou para fora da célula conforme a atividade da enzima Translocase, com propriedades diretamente adesiogênicas 
e pró-inflamatórias - o estresse oxidativo desregula a Translocase, fazendo com que mais FS seja externalizada e a hemácia se torne adesiva e 
inflamatória; 
- Hemólise Intravascular - a alteração de membrana dos eritrócitos falciformes ocasiona a sua ruptura, que embasa a hemólise intravascular e 
ocasiona a anemia hemolítica crônica de relevante magnitude - libera quantidades excessivas de hemoglobina S e outras moléculas (ferro não 
heme) na circulação, de modo a exercer efeitos negativos sobre a camada interna da parede vascular: (1) o conteúdo das hemácias e das 
microvesículas ricas em Fosfatidilserina (FS) estimula células da imunidade inata (macrófagos e monócitos) a produzir e secretar citocinas pró-
inflamatórias, gerando um estado de inflamação sistêmica crônica; (2) ocorre à depleção de haptoglobina e à remoção do NO (propriedades 
vasodilatadoras, antitrombóticas e anti-inflamatórias), de modo a promover um fenótipo vasoconstritor e pró-inflamatório de vasculopatia 
proliferativa - é um dos fatores centrais da fisiopatogenia da anemia falciforme; 
- Hemólise Extravascular: as células reticuloendoteliais reconhecem os eritrócitos falcêmicos danificados e realizam eritrofagocitose desses, 
sendo a forma principal de hemólise, essa eritrofagocitose é estimulada pela opsonizaão devido às modificações antigênicas da membrana 
(Externalização da Fosfatidilserina e Agregação da Proteína Banda 3) – principal forma de hemólise na anemia falciforme, corresponde a 2/3; 
 Vaso-Oclusão 
- Lesão Endotelial – as células endoteliais são responsivas a diversos modificadores biológicos, assim essas podem ser ativadas e danificadas por 
células falciformes aderentes, por danos relacionados à reperfusão e por estresses agudos que levam à liberação de radicais oxidantes, à 
expressão de endotelina e ao distúrbio do equilíbrio de NO, como a hemólise intravascular -> faz com que endotélio adquira um fenótipo 
constantemente ativado, com exposição de fatores adesiogênicos na superfície, de modo a desencadear a cascata de coagulação e liberar 
multímeros de Fator de Von Willebrand, acentuando a interação anormal de adesão entre os elementos celulares sanguíneos (as células 
falciformes e os leucócitos) e as células endoteliais vasculares -> promove hipercoagulabilidade, trombogenicidade, hiperplasia e fibrose da 
parede do vaso; 
- Associação das Células Falciformes e as Endoteliais – ocorre por meio de diversas moléculas de adesão e seus ligantes – responsável por diminuir 
a passagem celular, fazendo com que a polimerização da HbS, a falcização celular e a vaso-oclusão ocorram antes de se completar o trânsito 
pela microvasculatura; 
- Fatores Intrínsecos aos Eritrócitos Falciformes que Determinam os Eventos Vaso-Oclusivos: conteúdo de polímeros, grau de dano celular, 
interações com fatores do ambiente celular (lesão endotelial, tônus vascular e outras células sanguíneas) – as células mais deformáveis e 
aderentes iniciam a vaso-oclusão, enquanto as células densas são sequestradas ou destruídas na microvasculatura, sendo esse evidenciado pela 
redução do número de células densas nas primeiras horas, que voltam a aumentar em número quando a dor cessa; 
- Reticulócitos – hemácias imaturas, que são liberadas prematuramente da medula óssea e expressam ligantes de adesão, que facilitam sua 
interação com o endotélio – apresentam-se em maior número nos indivíduos com hemólise mais intensa, de modo a associar a hemólise à vaso-
oclusão; 
- A vaso-oclusão corre principalmente nos capilares, pois neles há maior adesividade entre o endotélio e as hemácias falcêmicas; 
 Etapas da Vaso-Oclusão 
- Lentificação do Fluxo Local: a adesão (espontânea ou resultante de infecções, desidratação, frio e estresse) de hemácias ao endotélio das 
vênulas pós-capilares, torna o fluxo sanguíneo local mais lento; 
- Impactação de hemácias a montante: inicialmente as Irreversibly Sickled Cells (ISC - mais viscosas e menos flexíveis) e posteriormente hemácias 
não afoiçadas; 
- A estase sanguínea produz hipóxia e acidose, o que faz o afoiçamento se generalizar, culmina em isquemia tecidual; 
- A isquemia tecidual produz focos de necrose nos órgãos envolvidos (medula óssea, medula renal, baço, pulmões, mucosa intestinal, etc), 
causando disfunções orgânicas; 
- A isquemia localizada, por si só, também estimula a disfunção endotelial sistêmica, pois os tecidos infartados liberam mediadores inflamatórios, 
que exercem efeitos em todo o organismo -> a vaso-oclusão repetitiva é um fator adjuvante que, junto à hemólise intravascular, produz ainda 
mais inflamação sistêmica e disfunção endotelial; 
 
 
 
- Alterações da Anemia Falciforme Relacionadas à Hemólise: hipertensão pulmonar, priapismo,úlceras nos membros inferiores e acidente vascular cerebral; 
- Alterações da Anemia Falciforme Relacionadas às Interações entre as Células Falcizadas, os Leucócitos e o Endotélio: episódios dolorosos, síndrome torácica aguda 
e osteonecrose; 
- Pilares Fisiopatogênicos da Vasoclusão na Doença Falciforme: fenômeno da eritrofalciformação + maior interação entre células endoteliais, leucócitos e plaquetas 
+ vasculopatia proliferativa + estado inflamatório crônico + hipercoagulabilidade; 
 
 
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 Outros Fatores Influentes na Fisiopatogenia 
- Homeostase de Cátions nas Células Falciformes – a ativação do canal de Gardos e do canal co-transportador de K+/Cl- prejudica a manutenção 
dos gradientes normais de potássio (K+) nas células falciformes, ou seja, prejudica a homeostase dos cátions, gerando variabilidade na densidade 
e na deformidade dos eritrócitos falciformes; 
- Células Irreversivelmente Falcizadas (ISCs/CIF) – células que podem não conter o polímero HbS, mas se apresentam deformadas, devido aos 
danos permanentes em suas membranas; 
- Células Densas – células com concentração de hemoglobina média de 50 g/dL (normal 27 a 38 g/dL), com o polímero HbS entre essas; 
- Indivíduos que apresentam altos números de CIF e de células densas, apresentam mais hemólise e anemia, mas não necessariamente maior 
incidência de eventos vaso-oclusivos agudos; 
- Neutrófilos – moduladores da inflamação e do dano tissular, que são encontrados em maior número em pacientes com síndrome torácica 
aguda, priapismo ou acidente vascular cerebral, assim seus valores são fator de risco à sobrevivência; 
4. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 
 
 
- Genótipos diferentes podem determinar o fenótipo clínico da anemia falciforme, sendo os mais prevalentes a doença de SC ou a talassemia 
HbS-Beta - todos os genótipos apresentam anemia hemolítica e eventos vaso-oclusivos, sendo que os que apresentam maior concentração 
celular de HbS são clinicamente mais graves; 
- A heterogeneidade mutacional e outras características genéticas do indivíduo, relacionadas a fatores ambientais e sociais, são responsáveis 
por um amplo espectro de manifestações e complicações clínicas da doença falciforme - qualquer paciente pode apresentar todas as 
complicações da doença, alguns não apresentam nenhuma complicação e morrem subitamente e outros pulam algumas fases da doença e 
sofrem em outras; 
- A maioria dos pacientes com anemia falciforme apresentam anemia moderada e hematócrito (porcentagem de células vermelhas no sangue) 
entre 25 e 30%, porém alguns pacientes podem se apresentar com hemólise mais grave, com hematócrito inferior a 20%, reticulocitose 
acentuada e grande elevação da desidrogenase lática sérica (LDL) - possíveis consequências da hemólise mais grave: maior suscetibilidade ao 
AVC, hipertensão pulmonar, priapismo e úlceras nos membros inferiores; 
- Podem apresentar expansão do volume plasmático, dificultando a interferência da massa eritrocitária do hematócrito; 
- Apresentam níveis inapropriadamente baixos de eritropoietina sérica em relação aos hematócritos; 
- Quando o paciente apresenta dieta inadequada, o turnover acelerado da hemólise provoca deficiência de ácido fólico e anemia megaloblástica; 
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- Qualquer complicação da anemia falciforme pode ocorrer em qualquer idade, porém alguns eventos tendem a predominar em algumas faixas 
etárias; 
- Apresentam funcionalidade (definida pela Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde – CIF, que é uma forma de 
verificar a consequência da doença, sendo 1 problema leve, 2 moderado, 3 severo e 4 completo) constantes, com aumento no início de um 
episódio doloroso – sua alteração não estabelece a ocorrência de um evento vaso-oclusivo; 
 
 
 
 
 
a. PRIMEIROS 20 ANOS 
- Suas manifestações clínicas são explicadas pela mudança de hemoglobina fetal (HbF) para HbS; 
- Caracterizado por problemas agudos, como: alto risco de infecções graves e potencialmente fatais, sequestro esplênico e acidente vascular 
isquêmico; 
- Crescimento e Desenvolvimento Sexual – ocorre de forma mais lentas nos pacientes com anemia falciforme, mas a maturidade sexual acaba 
sendo alcançada; 
- Problemas Psicossociais – são comuns em pacientes com anemia falciforme; 
 Episódio Doloroso Agudo – Crise de Dor 
 
- Fisiopatologia: as hemácias falcizadas obstruem o fluxo sanguíneo 
(vaso-oclusão), de modo a gerar hipóxia regional e acidose, que 
podem exacerbar o processo de falcização, gerando dano tissular 
isquêmico; 
- Fatores de Risco (possíveis fatores que precipitam as crises álgica): 
hipóxia, infecção, febre acima de 38°C, acidose, desidratação, 
palidez, vômitos recorrentes, aumento do volume articular, dor 
abdominal, sintomas pulmonares agudos, sintomas neurológicos, 
priapismo, processos álgicos que não se resolvam com analgésicos 
comuns, exposição ao frio extremo, depressão e exaustão física; 
- Manifesta-se em pacientes de todas as idades, começando ainda na infância – comumente são a primeira manifestação da doença falciforme; 
- Locais que podem ser acometidos: extremidades, abdômen e costas – a área da dor pode diminui durante um episódio, mesmo que sua 
intensidade não se altere; 
- Dactilite / Síndrome da Mão-Pé – primeira manifestação de dor na maioria das crianças - edema das mãos e pés devido à inflamação do 
periósteo metacárpico e metatársico; 
- Iniciam com pouco aviso (alguns pacientes dizem sentir sua aproximação) e prolongam-se por horas ou dias (4 a 6 dias em média, mas podem 
persistir por semanas), sendo que nesse período podem aumentar ou diminuir de intensidade, assim como podem ser simétricas ou migratórias; 
- Características da dor: ataques agonizantes de dor intensa e aguda, estereotipada (igual aos episódios anteriores, afetando o indivíduo da 
mesma maneira), pior que a traumática, pós-operatória ou do parto – os locais da dor podem apresentar hipersensibilidade ou sensação de 
pressão; 
- Padrão da Dor Conforme o Tecido Acometido: (sistema musculoesquelético) dor constante, corrosiva, persistente, aguda ou pulsátil e bem 
localizada; (ativação de nociceptores das vísceras torácicas e abdominais) dor constante, difusa, profunda ou compressiva, acompanhada de 
náuseas, vômitos, hipertensão, taquicardia, taquipnéia e sudorese; (isquemia, necrose, inflamação ou infarto nos tecidos nervosos centrais ou 
periféricos) dor intensa, constante, difusa com paroxismos superpostos de queimação, pontadas ou sensações semelhantes a choques; 
**os sintomas dolorosos podem ser acompanhados de aumento do volume, febre, eritema e calor local – torna difícil o diagnóstico diferencial 
com osteomielite, artrite séptica, sinovite, febre reumática, abdômen agudo cirúrgico ou infeccioso e processos ginecológicos** 
- A frequência dos episódios e sua gravidade variam entre os pacientes, sendo que a maioria desses são tratados em casa, sem necessidade de 
internação hospitalar -> a ocorrência de + de 3 episódios dolorosos que levem à internação em 1 ano, associa-se a maior mortalidade entre os 
pacientes com mais de 20 anos de idade; 
- Fator Definidor da Frequência dos Episódios Dolorosos: níveis de HbF, sendo esses inversamente relacionados à frequência dos episódios – 
pacientes com alfa-talassemia concomitante, devido ao seu hematócrito, apresentam maior taxa de dor; 
- Diagnóstico – realizado pelo histórico do paciente, não havendo exame laboratorial que seja útil na determinação do episódio; 
- Diagnóstico Diferencial – com as dores crônicas, causadas pela osteoporose da espinha, osteonecrose dos quadris ou dos ombros, dor 
neuropática, dor iatrogênica e das dores brandas frequentes presentes entre os episódios – os pacientes costumam saber diferenciar a dor 
presente da sentida no episódio doloroso agudo típico; 
**o manejo diário da anemia falciforme equaciona o cuidado da dor crônicae da dor aguda** 
- Esses episódios podem preceder uma síndrome torácica aguda, podendo terminar em falência múltipla de órgãos; 
- A morte inexplicada pode ocorrer durante episódios de dor aguda – associa-se à uma arritmia secundária aos danos miocárdicos irreconhecíveis 
ou às sequelas da hipertensão pulmonar – não é possível predizer se o episódio doloroso terá um desfecho fatal ou preceder uma síndrome 
torácica aguda; 
- Hemoglobinopatia SC – doença similar à anemia falciforme, mas com sintomas mais leves – apresentam hematócritos normais e devido à maior viscosidade 
sanguínea podem ser mais acometidos por retinopatia falciforme; 
- Traço Falciforme – não apresentam os sinais de anemia (fraqueza e dispneia) como características principais, mesmo que a concentração da hemoglobina seja um 
indicador prognóstico de certas complicações; 
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- Razões para maior cuidado nos episódios dolorosos agudos: dor atipicamente grave, contagem leucocitária anormalmente alta ou hematócrito 
baixo; 
 AVC 
- Maior complicação da anemia falciforme na infância, acometendo principalmente pacientes SS; 
- AVC Isquêmico – causa: estenose ou oclusão de grandes vasos – associa-se à anemia grave, síndrome torácica aguda e PA sistólica elevada; 
- AVC Hemorrágico – (1) os eritrócitos falciformes e a alta velocidade do fluxo sanguíneo da anemia falciforme causam dano vascular, podendo 
levar à ruptura de aneurismas; (2) doença de Moya Moya, que leva a uma proliferação dos pequenos vasos nos pacientes com anemia falciforme, 
com lesões estenóticas, podendo causar hemorragia – associa-se aos números aumentados de leucócitos - taxa de mortalidade maior que 20%; 
- Após o 1º ano de vida, a incidência de AVC na anemia falciforme é de 0,5 evento/100 pacientes ao ano, até 40 anos – o risco de ter um derrame 
aos 20 anos é de 11%; 
- A alfa-talassemia é um fator protetor contra AVC nos pacientes com anemia falciforme, pois nessa os pacientes apresentam menos hemólise 
e um hematócrito mais alto; 
- Manifestações neurológicas: (focais) hemiparesia, hemianestesia, deficiência do campo visual, afasia e paralisia de nervos cranianos; 
(generalizadas) coma e convulsões; 
**eventos neurológicos subclínicos e infarto cerebral silencioso são mais comuns que os AVCs em pacientes com anemia falciforme, assim alguns 
desses podem apresentar comportamento aberrante como resultado de um infarto cerebral que deteriorou a função neurocognitiva** 
- Diagnóstico diferencial: meningite; 
 Síndrome Torácica Aguda (STA) 
- Quadro Clínico: infiltrado pulmonar novo + sintoma ou sinal respiratório (dor torácica, febre, dor torácica, respiração ruidosa, tosse, dispneia, 
taquipnei) + hipoxemia; 
- É mais comum em crianças, apresentando-se com febre em 85% dos casos, mas de forma mais branda, enquanto nos adultos manifesta-se de 
forma grave; 
- Segunda causa mais comum de internação, associando-se frequentemente a morte de pacientes adultos; 
- Situações a que sua ocorrência se associa: pacientes que estavam internados por vários dias devido ao episódio de dor aguda, pós-operatórios, 
infarto de costela com atelectasia e hipóxia regional, embolia gordurosa da medula óssea necrótica, infecção por clamídia, parvovírus B19, 
trombose microvascular ou em grandes vasos, tromboembolimos, lesão vascular ou inflamação – na maioria das vezes não se encontra a causa 
a tempo de direcionar o tratamento; 
**concentrações elevadas de fosfolipase A2 foram associadas à síndrome torácica aguda, podendo predizer sua ocorrência, porém esse não é 
utilizado amplamente** 
 Anemia Aguda 
- Pode ser causada por evento vaso-oclusivo grave, como a síndrome torácica aguda ou a falência múltipla de órgão; 
- Pode ser causada pela infecção pelo Parvovírus B19, que causa eritema infeccioso - esse vírus interrompe temporariamente a eritropoiese, 
tornando os pacientes mais suscetíveis ao desenvolvimento da anemia aguda, de modo a gerar a crise anaplásica; 
- Crise Aplástica – processo transitório (dura de 7 a 10 dias), em que ocorre sequestro de sangue no baço ou no fígado, caracterizando-se por 
queda vertiginosa do hematócrito, reticulocitopenia (a diferencia do sequestro esplênico, que apresenta reticulocitose) e ausência de 
progenitores eritroides na medula óssea – apresenta-se com sinais de anemia aguda, sem aumento esplênico, podendo apresentar sinais de 
choque hipovolêmico - mais comum em crianças - demanda transfusão sanguínea para manutenção da competência circulatória até a cura 
espontânea do processo; 
**a suspensão da eritropoiese com desenvolvimento de anemia megaloblástica é incomum se a dieta contiver níveis adequados de ácido fólico** 
 Sequestro Esplênico 
- Causa: repentino acúmulo intraesplênico de grandes volumes de sangue, fazendo com que o baço aumente de volume rapidamente; 
- Inicia-se a partir dos 5 meses de vida, sendo rara após os 2 anos; 
- Características: aumento de volume do baço, queda súbita do nível de hemoglobina até valores < 5g/dL (risco de choque hipovolêmico e morte), 
reticulocitose (aumento do número de reticulócitos, pois a medula óssea continua em funcionamento); 
- É uma das principais causas de morte nas crianças com doença falciforme; 
 Infecção 
- A hipoesplenia (baço diminuído) no início da vida e a posterior asplenia (ausência de baço) funcional faz com que os pacientes com anemia 
falciforme sejam suscetíveis a infecções por bactérias encapsuladas; 
**o déficit funcional do baço motiva a triagem neonatal para as doenças falciformes, buscando prevenir a mortalidade por infecção 
pneumocócica ao definir o uso profilático da vacina pneumocócica e da penicilina oral nos indivíduos acometidos** 
- Os pacientes com anemia falciforme associada à malária endêmica apresentam esplenomegalia intensa e persistente, com anomalias funcionais 
do baço; 
b. DOS 20 AOS 40 ANOS 
- Caracterizado por problemas crônicos em órgãos, como: insuficiência renal, hipertensão pulmonar e efeitos tardios de doença cerebrovascular 
prévia; 
 Gravidez 
- As pacientes com anemia falciforme apresentam fertilidade normal e não há nenhuma contraindicação à gestação; 
- Os métodos de contracepção podem ser usados de maneira satisfatória; 
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- O manejo médico costuma garantir bons resultados na gravidez; 
- Possíveis complicações associadas: maiores taxas de pielonefrite, hipertensão induzida pela gestação, cesarianas e recém-nascidos de baixo 
peso ao nascimento; 
- Pode-se conciliar o curso gestacional com a realização de transfusões de hemácias rotineiramente, mas sem estudos que comprovem o melhor 
curso gestacional; 
 Osteonecrose e Doenças Ósseas 
- 50% dos pacientes com anemia falciforme apresentam osteonecrose da cabeça do fêmur e dos ombros; 
- Apresenta aparecimento insidioso e progressivo; 
- A maioria dos pacientes em estágio inicial da doença apresenta colapso da cabeça do fêmur em 2 anos; 
- Osteonecrose do Quadril – manifesta-se com dor na articulação acometida e ao seu redor, podendo apresentar espasmos da musculatura 
adjacente; 
- Apresenta-se mais prevalente em pacientes com hematócrito alto e anemia falciforme associada à alfa-talassemia; 
- Diagnóstico: ressonância magnética (precoce) ou radiografias (avançada); 
- Osteomielite Falciforme – provocada pela infecção estafilocócica, com a salmonelose como causa particular na falciforme - difícil de distingui-
la do infarto ósseo; 
 Úlceras nos Membros Inferiores 
- Lesões exsudativas, pequenas, superficiais, com margens definidas, bordas em relevo que, comumente, curam-se espontaneamente, com 
repouso e higiene local cuidadosa; 
- Locais de maior frequência: terço inferior da perna, sobre e ao redor do maléolo media ou lateral, sobre a tíbia ou o dorso do pé; 
- As úlceras nos membros inferiores ocorrem em 5 a 10% dos pacientes com anemia falciforme com mais de 10 anos de idade; 
- Etiologia: trauma,contusão, picadas de insetos, espontânea ou hipóxia tissular (causada por crises vaso-oclusivas crônicas); 
- Deve-se controlar à inflamação e à infecção local – apresentam difícil tratamento e alto índice de recorrência; 
- Diagnóstico Diferencial – úlcera venosa, úlcera diabética, úlcera isquêmica, úlcera neuroprática, úlcera por pressão; 
- Tratamento tópico – limpar com soro fisiológico, cobertura com alginato de cálcio e bandagem inelástica (bota de Unna); 
- Úlceras profundas, grandes e dolorosas – pode ser necessário a administração de analgésicos narcóticos associados ao repouso e/ou cirurgia; 
 Priapismo 
- Ereção prolongada e dolorosa, bicorporal, afetando apenas o corpo cavernoso, mas a glande permanece amolecida e a micção normal; 
- Causa: obstrução do fluxo venoso, mas o arterial não é aumentado; 
- Possíveis sintomas associados: dor abdominal e perineal, disúria ou retenção urinária, edema escrotal e aumento da próstata; 
- Esses ataques iniciam normalmente à noite, podem ser recorrentes e autolimitados, durando várias horas e gerando desconforto tolerável; 
- A função erétil entre os ataques costuma estar preservada; 
- Alguns pacientes com episódios mais graves frequentes podem apresentar duração de dias, sendo muito dolorosos; 
- Faz-se presente em 40% dos homens com anemia falciforme, sendo que os que o apresentam têm maior risco de AVC, hipertensão pulmonar, 
insuficiência renal, úlceras nos membros inferiores e morte prematura; 
 Doenças Digestivas 
- Durante as crises vaso-oclusivas o fígado pode ser sítio de sequestração de hemácias, registrando queda do Ht e Hb; 
- A anemia falciforme se relaciona com a hepatopatia falciforme, crise hepática e síndrome do quadrante superior direito – essas podem se 
relacionar à colestase intra ou extra-hepática, à hepatite viral, à cirrose, à hipóxia, ao infarto, ao sequestro de eritrócitos, à sobrecarga de ferro 
ou às reações a drogas; 
- Raramente a doença hepática aguda evolui para insuficiência hepática, mas pode evoluir para cirrose; 
- A menor sobrevida dos glóbulos vermelhos da doença falciforme aumenta os níveis séricos de bilirrubina, à custa da bilirrubina indireta, 
causando icterícia nos pacientes com anemia falciforme – a icterícia pode se exacerbar em situações com aumento da taxa de hemólise 
(diminuição dos níveis de hemoglobina, aumento nos números de reticulócitos) – tratamento: pode ocorrer melhora com hidratação oral ou 
parenteral; 
**a exacerbação da icterícia em paciente com doença falciforme costuma ser sinal de infecção** 
- Em paciente que realiza transfusões cronicamente, pode ocorrer hemossiderose, aumentando o volume e a fibrose do fígado – faz-se necessário 
avaliação hepática e biliar periódicas, por exames de imagem como raio-x e ultrassonografia; 
- Diagnóstico Diferencial: colescistite, hepatite viral, crise vaso-oclusiva hepática, obstrução do ducto biliar e hepatoxicidade induzida por drogas; 
 Colelitíase - Cálculos Biliares 
- Turnover dos Pigmentos Biliares – regulado pelo promotor de polimorfismos no gene da uridina difosfatase-glucuronosiltrasferase 1 A (UGT1A)- 
apresenta-se aumentado, devido à hemólise, assim a colelitíase pode aparecer ainda na primeira década de vida e se fazer presente em mais da 
metade de todos os adultos – pode se associar à hiperbilirrubinemia não conjugada e à síndrome de Gilbert; 
- Ocorre em 14% das crianças menores de 10 anos, 30% dos adolescentes e 75% dos adultos com anemia falciforme; 
- Aspecto dos cálculos: múltiplos e conforme o grau de calcificação, os cálculos biliares pigmentados podem ser radiopacos (60%) ou 
raioluminescentes; 
- Podem ser assintomáticos ou gerar sintomas crônicos, como: empachamento, náuseas, vômitos e dor no quadrante superior direito; 
- Complicações: colecistite, obstrução do ducto biliar e pancreatite aguda; 
- Diagnóstico: ultrassonografia; 
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- Tratamento: (sintomáticos) colecistectomia laparoscópica; (assintomáticos) observação cuidadosa e dieta pobre em gorduras; 
c. DEPOIS DA QUINTA DÉCADA 
 Hipertensão Pulmonar 
 
 
- 30 a 43% dos adultos com anemia falciforme apresentam 
velocidade de regurgitamento da tricúspida (TRV) de mais de 2,5 
m/segundo, sugestiva de hipertensão pulmonar – aumenta o risco 
de mortalidade de 6 a 10 vezes; 
**em muitos casos a velocidade de regurgitamento da tricúspide 
elevada não é sinônimo de hipertensão pulmonar verdadeira** 
- Fatores que sugerem uma vasculopatia mais grave: TRV elevada, 
coexistência de hipertensão sistêmica relativa, doença renal e 
alterações íntimas e suaves dos músculos proliferativos nos vasos 
condutores; 
 Nefropatia 
 
 
- Todos os pacientes com anemia falciforme e os com traço 
falciforme apresentam perda da capacidade de concentração 
urinária (hipostenúria)- achado relevante apenas em acesso a 
líquidos restrito; 
- Sinais de disfunção medular renal: isostenúria (não é muito 
concentrada, nem muito diluída - indica perda da habilidade renal 
em concentrar a urina), acidose renal tubular distal e deficiências 
na excreção de potássio; 
- Os pacientes jovens com anemia falciforme já apresentam 
disfunção renal, que se manifesta pela glomerulopatia, sendo essa 
indicada pela hiperfiltração glomerular, aumento na concentração 
de creatinina e nível baixo da creatinina no soro – pode ocorrer 
mesmo com os níveis de creatinina sérica normais; 
- Conforme o envelhecimento do paciente om anemia falciforme, a 
disfunção renal assume à proporção de uma insuficiência renal – 
4% dos pacientes com anemia falciforme desenvolve insuficiência 
renal entre os 23; os 50 anos e a partir dos 40 anos cerca de 60% 
dos pacientes com anemia falciforme apresentam proteinúria, 
enquanto 30% tem insuficiência renal; 40% dos adultos, com níveis 
de creatinina superiores a 1,5 mg/dL, apresentam síndrome 
nefrótica; 
- O tempo de sobrevida do paciente com anemia falciforme após o 
diagnóstico de insuficiência renal é de 4 anos, mesmo com a 
realização de diálise; 
 Doença Ocular 
- A retinopatia proliferativa falciforme se apresenta em menos de 20% dos pacientes com anemia falciforme e em mais de 40% dos acometidos 
pela hemoglobinopatia na terceira década de vida, podendo essa regredir espontaneamente – diagnóstico: angiografia fluorescente -> 
recomendada para pacientes com hemoglobinopatia, permitindo orientar uma possível fotocoagulação a laser; 
- A hemorragia vítrea e o deslocamento da retina podem levar à perda da visão; 
 Complicações Cardiovasculares 
- Alterações Cardiovasculares no Paciente com Anemia Falciforme: coração aumentado, impulsos precordiais hiperativos e sopro sistólico; 
- O infarto do miocárdio é raro, podendo sugerir doença dos pequenos vasos; 
- As arritmias e a hipertensão pulmonar podem ocasionar morte súbita; 
- Hipertensão Relativa – a pressão dos pacientes com anemia falciforme é alta em comparação aos níveis pressóricos presentes em pacientes 
com níveis similares de anemia, porém encontra-se dentro dos valores padrões normais – indica dano celular endotelial e remoção do NO, 
aumentando os riscos de AVC e diminuindo a sobrevida – pode ser tratada pelos menos anti-hipertensivos, buscando mantê-la em níveis 
menores ou iguais 120/80 mmmHg; 
 
 
 
 
 
 
 
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5. DIAGNÓSTICO 
 
- Características: anemia normocítica ou 
microcítica heolítica + reticulócitose + 
aumento dos níveis de desidrogenase 
lática e de aspartato aminotransferase + 
histórico clínico característico; 
- Alguns pacientes com anemia falciforme 
podem ser diagnosticados tardiamente 
devido aos sintomas brandos; 
- Busca-se identificar os fatores de risco e 
a doença em seu estágio inicial, para 
emprego de atendimento especializado 
antes do início dos sintomas, de modo a 
diminuir os episódios vasoclusivos das 
crises falcêmicas; 
a. SANGUE PERIFÉRICO 
- Os eritrócitos são normocíticosou macrocíticos, dependendo da contagem de reticulócitos; 
- A microcitose pode ser vista na juventude, em casos raros de anemia falciforme, quando há deficiência de ferro, beta-talassemia, ou alfa-
talassemia; 
- As células falciformes fazem-se presentes na anemia falciforme e na HbS- Beta-talassemia, sendo menos comum nas outras formas de doença; 
b. FRAÇÕES DE HEMOGLOBINA NO SANGUE 
 
 - Detectam bandas ou picos de hemoglobina S, na anemia falciforme ou das demais doenças falciformes; 
- Essas frações de hemoglobina falciformes no sangue são suficientes para o diagnóstico após o primeiro ano de idade – a HbS nos pacientes 
com anemia falciforme compõe cerca de 80% do hemolisado; 
- Não apresenta grande eficácia durante o primeiro ano de idade, devido à alta concentração de HbF nos bebês, dificultando a interpretação das 
análises de hemoglobina neste período; 
**os adultos apresentam níveis de HbF de em média 6%, podendo variar entre 1 e 20%** 
- Cromatografia Líquida de Alto Desempenho (HPLC) – método preferido para a quantificação da HbS em adultos e neonatos – apresenta 
excelente resolução das frações de hemoglobina, concedendo resultados quantitativos de forma automotizada; 
- Eletroforese por Focalização Isoelétrica (IEF) – fornece informação qualitativa sobre a presença de HbS; 
- Pesquisa de DNA – método específico de detecção de HbS, usado no diagnóstico pré-natal e no aconselhamento genético – em geral são 
desnecessários em casos não complicados; 
 Triagem Neonatal -> Teste do Pezinho 
- Exame público realizado na primeira semana de vida, a partir da amostra de sangue colhida do calcanhar, com a metodologia de eletroforese 
em HPCL ou focalização isoelétrica; 
- Fases: (fase I) teste para hipotireoidismo e fenilcetonúria; (fase II) doença falciforme; (fase III) fibrose cística; 
- Pesquisa da hemoglobina S obrigatória em todos os nascidos-vivos, buscando realizar o diagnóstico precoce da anemia falciforme, para 
instituição de acompanhamento multiprofissional prévio, em Serviço de Atenção Especializada, reduzindo os índices de mortalidade na primeira 
infância; 
- Quando o HPLC é usado como método de triagem neonatal, os casos alterados devem ser confirmados por IEF; 
**as crianças que não tiveram acesso à triagem neonatal podem realizar o exame de eletroforese da hemoglobina na Atenção Básica pelo SUS 
e na rotina do pré-natal, sendo que independente da idade, todo paciente com diagnóstico receberá atenção e acompanhamento adequado** 
c. ESTUDOS FAMILIARES 
- Identificação do gene HBB ou cromossomo 11 nos membros da família, sendo esse herdado como um traço codominante, ou seja, expressa-se 
tanto o alelo normal quanto o mutante, a partir do traço falciforme – o fenótipo da doença falciforme não se faz presente nesses; 
- O fenótipo da doença falciforme se apresenta apenas nos homozigotos para HbS e em heterozigotos compostos; 
6. PREVENÇÃO 
a. PRIMÁRIA 
- Realizada pela detecção dos portadores do traço falciforme; 
- A amostra 3 (Hb SS), com anemia falciforme, e a amostra 6 (HbSD), que é um exemplo de dupla 
heterozigose entre Hb S e Hb D, mas se apresenta com migração similar em eletroforese alcalina ao padrão 
SS da anemia falciforme; 
- Para a diferenciação, introduz-se outra técnica eletroforética, que se realiza em agar ou agarose, 
utilizando o pH ácido, pois neste a Hb D separa-se da Hb S, migrando na mesma posição que a Hb A, para 
então conseguir confirmar o diagnóstico de Hb SD; 
**a presença de Hb SD ocorre na ordem de um caso para cada milhão, assim, em geral, a ausência da 
eletroforese em pH ácido não traz dificuldades no diagnóstico da grande maioria dos casos de doença 
falciforme** 
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- A pesquisa ampla para detecção dos heterozigóticos para HbS é pouco benéfica, mesmo em populações de alta prevalência; 
- Realizada pelos programas educacionais acerca da anemia falciforme e do traço falciforme e do aconselhamento dos casais que desejam 
compor famílias; 
- Conduta com os casais que desejam compor família – podem realizar os exames de detecção do gene, discutir o risco de geração de feto 
acometido e apresentar a possibilidade de diagnóstico pré-natal (realizado a partir das amostras do vilo coriônico ou por aminiocentese); 
b. SECUNDÁRIA 
- A anemia falciforme é uma doença crônica – as crianças devem ser examinadas na clínica especializada 2 a 3 vezes por ano; 
- A boa nutrição e as imunizações periódicas são necessárias; 
- O paciente deve ser encorajado a trabalhar; 
- Os pais devem ser orientados a palpar o baço diariamente, pois aumentos desse órgão podem conduzir a quadros clínicos; 
- A febre de 38,5° ou mais é uma emergência clínica, que necessita de atenção imediata; 
- Comportamentos de Manutenção da Saúde Básica Recomendados: (1) evitar contato com portadores de infecções ou doenças respiratórias; 
(2) lavar cuidadosamente as mãos; (3) detectar doença reativa das vias respiratórias e tratá-las; (4) evitar extremos de temperatura; (5) ingerir 
volume suficiente de líquido; (6) assegurar sono adequado; (7) consumir dieta nutritiva e balanceada; (8) atenuar situações de estresse 
psicológico; (9) monitorar o crescimento e o desenvolvimento neurocognitivo; (10) realizar triagem com Doppler transcraniano a partir de 2 a 3 
anos anualmente; (11) acompanhar o desempenho escolar; (12) evitar altitudes elevadas; 
- Ácido Fólico – pode ser recomendado na dose de 1 mg, de forma contínua, quando a ingestão dessa vitamina na dieta for inadequada, devido 
às altas taxas de produção de eritrócitos; 
** hidroxiureia leva à macrocitose, dificultando o reconhecimento da deficiência de ácido fólico, sendo necessário suplementação de ácido fólico 
na dose de 5 mg, 3x/semana** 
 Prevenção de Infecções 
- Os pacientes com doença falciforme, devido aos processos vaso-oclusivos repetidos no baço, apresentam asplenia funcional (ausência da 
função normal do baço), que ocorre de forma progressiva, tornando-se máxima por volta dos 5 anos de idade, de modo a reduzir a capacidade 
imunológica de combater infecções por diversos micro-organismos, assim torna os pacientes HbS mais suscetíveis à infecção por bactérias 
encapsuladas, com parede celular (difícil opsonização), como a Pneumococcus pneumoniae e a Haemophilus influenzae; 
- O Streptococcus pneumoniae é responsável por 70% das infecções na população, sendo essas mais frequentes e graves em crianças com menos 
de 5 anos – podem se apresentar de maneira fulminante, levando à morte em menos de 24 horas; 
- Epidemiologia – 90% dos casos ocorrem nos primeiros 3 anos de vida, o risco de meningite pneumocócica é 600 vezes maior que na população 
em geral e a frequência de bacteremia é 300 vezes maior que o esperado para a idade; 
 Penicilina Sintética V (Fenoximetilpenicilina em Suspensão) 
- Critério de inclusão: crianças com até 5 anos de idade com diagnóstico de doença falciforme, para profilaxia de infecções bacterianas; 
- Deve ser iniciada a partir do segundo ou terceiro mês de vida; 
- Pó para solução oral, empregado nas doses: (criança até 3 anos) 125 mg ou 2,5 mL a cada 12 horas; (criança de 3 a 5 anos) 250 mg ou 5 mL a 
cada 12 horas; 
- É ativa contra estafilococos (exceto as cepas produtoras de penicilinase), estreptococos (grupos A, C, G, H, L e M) e pneumococos 
- Efeitos colaterais: (comuns) cefaleia, candidíase oral, náusea, vômito, diarreia, candidíase vaginal ou vulvar; (incomuns) erupções cutâneas, 
prurido, urticária, edema por retenção de água e sódio, dispneia, dor abdominal, reações anafiláticas, reação semelhante à doença do soro, 
edema de laringe e hipotensão; (raras) síndrome de Stevens-Johnsons, necrólise epidérmica tóxica, eritema multiforme, confusão mental, 
convulsões, febre, hepatite medicamentosa, colite pseudomembranosa, nefrite intersticial aguda, cristalúria, anemia hemolítica, 
trombocitopenia, leucopenia, agranulocitose, eosinofilia e distúrbios da coagulação; Penicilina G (Benzilpenicilina Benzatina) 
- Penicilina injetável por via intramuscular, aplicada em caso de impossibilidade por via oral; 
- Pó para suspensão injetável nas doses: (criança menor de 1 anos) 25000 a 50000 UI/kg/dose; (criança até 25 kg) 600000 UI; (criança acima de 
25kg) 1.200.000 UI; 
- Efeitos colaterais: cólicas, mal-estar, náusea, vômitos, diarreia, reações alérgicas, entre outros; 
**eritromicina – empregada em pacientes alérgicos à penicilina, por via oral, na dose de 20 mg/kg/dia, em 2 doses diárias** 
 Imunização 
- Como o baço é o maior órgão linfoide e esse sofre asplenia progressiva até 5 anos, faz-se necessário instituir um eficaz programa de imunizações 
antes da asplenia funcional; 
- A necessidade frequente de transfusões de sangue nas pessoas com doença falciforme reforça a necessidade das imunizações, devido aos 
maiores riscos de contrair doenças transmissíveis pelo sangue, como a hepatite B; 
- Realiza-se programa de vacinação especial precoce, conciliado com as vacinas preconizadas pelo Programa Nacional de Imunizações do 
Ministério da Saúde; 
- Programa normal quanto às vacinas: Tríplice, Sabin, BCG, Tríplice viral, vacina contra Haemophilus influenzae, vacina contra a hepatite B 
(recombinante), vacina contra o Streptococcus pneumoniae hepvalente e vacina antimeningocócica; 
- Vacina contra o Streptococcus pneumoniae: Polissacáride: 1 dose após 2 anos de idade, com reforço 5 anos após a primeira dose; 
- Vacina antivaricela: dose única após 1 ano de idade; 
- Vacina anti-hepatite A: uma dose após 1 ano, com reforço 6 meses após a primeira dose; 
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- Vacina anti-influenza: uma dose após 6 meses de idade, com reforço 1 mês após a primeira dose; a partir daí, anualmente; 
7. TRATAMENTO 
- As pessoas com doença falciforme devem ser acompanhadas no centro de referência para doença falciforme, em um cuidado multiprofissional 
com médico hematologista, radiologista, cardiologista, pneumologista, ortopedista, urologista e ginecologista e obstetra; 
- Para prescrição dos tratamentos os pacientes ou os responsáveis devem receber e assinar um termo de esclarecimento e responsabilidade; 
a. HIDROXIUREIA (HU) 
- Única droga aprovada pela FDA para o tratamento da anemia falciforme, sendo a terapia medicamentosa mais eficaz para a doença falciforme; 
- Mecanismo de Ação: o metabolismo desta droga ocasiona o aumento das concentrações de guanilato ciclase solúvel, mediado por NO, que, 
devido à sua citotoxicidade ocasiona o aumento dos níveis de guanosina monofosfato cíclica (cGMP), elevando a expressão do gene da gama-
globulina + inibe a enzima ribonucleotídeo redutase -> conduz a regeneração dos eritrócitos com consecutivo aumento da produção de HbF, da 
hidratação do glóbulo vermelho e da taxa hemoglobínica, com diminuição da hemólise, maior produção de óxido nítrico e diminuição da 
expressão de moléculas de adesão; 
- Objetivos/Benefícios Esperados: (1) eliminação ou diminuição dos episódios de dor; (2) aumento na produção de HbF; (3) aumento da 
concentração de Hb; (4) diminuição dos episódios de síndrome torácica aguda; (5) diminuição dos números de transfusões; (6) regressão ou 
estabilização de danos em órgãos ou tecidos; (7) diminuição do risco de infecções; (8) melhora do bem-estar e da qualidade de vida, com maior 
sobrevida; 
- Reduz em 50% a necessidade de transfusão e incidência da síndrome torácica aguda, reduz a mortalidade cumulativa em quase 40% e diminui 
significativamente o número anual de episódios álgicos agudos em adultos; 
- As crianças apresentam resposta HbF mais potente, em comparação aos adultos; 
- Apresenta toxicidade aceitável, com risco de toxicidade hematológica – necessita de monitorização rigorosa das contagens de células 
sanguíneas; 
- Apresenta potencial carcinogênico e teratogênico - correlações com o câncer e a leucemia; 
- Contraindicações: amamentação e paciente HIV positivo com quadro de pancreatite ou toxicidade hepática; 
 Critérios de Inclusão para o Uso da Hidroxiureia – devem apresentar TODOS 
- Eletroforese de hemoglobina compatível com diagnóstico de doença falciforme (Hb, SS, SC, SD ou SBetaTal); 
- Idade igual ou maior que 2 anos; 
- Possibilidade de comparecer às reavaliações periódicas; 
- Beta-HCG sérico negativo para mulheres em idade reprodutiva; 
- Ter apresentado no mínimo 1 dessas complicações nos últimos 12 meses: (1) 3 ou + episódios de crises vasoclusivas com necessidade de 
atendimento médico; (2) 2 episódios de síndrome torácica aguda; (3) 1 episódio de priaprismo grave ou priapismo recorrente; (4) necrose 
isquêmica óssea; (5) insuficiência renal; (6) proteinúria de 24h maior ou igual a 1g; (7) anemia grave e persistente (Hb < 6g/dL em 3 dosagens, 
durante 3 meses); (8) desidrogenase láctica (DHL) elevada 2 vezes acima do limite superior nas crianças ou adolescentes e acima de 3 vezes do 
limite superior do adulto; (9) alterações no eco-Dopler transcraniano acima de 160 à 200 cm/s; (10) retinopatia proliferativa; (11) qualquer outra 
situação com comprovada lesão crônica de órgão; 
**a terapia em crianças menores de 2 anos deve ser criteriosamente analisada, devido aos possíveis efeitos teratogênicos e carcinogênicos, 
podendo ser prescrito a partir de 9 meses de idade, com a aplicação dos critérios de inclusão gerais + ao menos 1 dos seguintes fatores: (1) 
dactilite no primeiro ano de vida; (2) concentração de Hb menor que 7 g/dL (média de 3 valores fora do evento agudo); (3) contagem de 
leucócitos maior que 20.000/mm3 (média de 3 valores fora do evento agudo)** 
 Critérios de Exclusão para o Uso da Hidroxiureia 
- Intolerância ou hipersensibilidade ao medicamento; 
- Contagem de neutrófilos abaixo de 2000/mm3; 
- Hb abaixo de 4,5 g/dL; 
- Reticulócitos abaixo de 80.000/mm3; 
- Contagem de plaquetas abaixo de 80.000/mm3; 
- Gestação; 
 Doses de Hidroxiureia 
- Tratamento Inicial: 10 a 15 mg/kg/dia de hidroxiureia, por via oral, em dose única; 
- Continuação do Tratamento - se as contagens são aceitáveis quando à contagem sanguínea completa (CBC), a cada 4 semanas, aumenta-se 5 
mg/kg/dia, até atingir a dose máxima de 35 mg/kg/dia ou a ocorrência de toxicidade hematológica ou outros efeitos adversos; 
- Quando uma dose estável não tóxica de hidroxiureia é alcançada, a CBC pode ser feita em intervalos de 4 a 8 semanas – a maioria das respostas 
positivas exigem 1000 a 2000 mg/dia; 
- O tratamento deve ser suspenso 4 semanas antes do início do condicionamento para transplante e reintroduzida apenas caso não ocorra100% 
da pega do transplante – a pega parcial do enxerto do doador (quimerismo misto) ainda contraindica a reintrodução da hidroxiureia; 
- Manutenção – deve ser mantido enquanto houver resposta clínica e laboratorial, com duração mínima de 2 anos - seu uso associa-se ao baixo 
risco durante 17,5 anos; 
- 25% dos pacientes podem apresentar incapacidade biológica em responder ao tratamento, não ocorrendo aumento na HbF -> determina a 
suspensão do tratamento; 
 
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 Monitorização 
 Exames Basais Antes do Início do Tratamento 
- Hemograma com contagem de plaquetas e reticulócitos; 
- Eletroforese de Hb com dosagem de HbF; 
- Sorologias para hepatite B, C e HIV; 
- Dosagem sérica de creatinina e de transferases/transaminases; 
- Dosagem sérica de ácido úrico; 
- Beta-HCG sérico; 
 Monitorização Após o Início do Tratamento 
 
- Em caso de toxicidade a hidroxiureia deve ser suspensa até a recuperação hematológica, com parâmetros hematológicos aceitáveis; 
- Reinicia-se a terapêutica com dose de 5 mg/kg/dia, seguindo os mesmos critérios de controle até a dose máxima tolerada para cada caso, 
respeitando a máxima de 35 mg/kg/dia; 
 Efeitos Colaterais 
- Neurológicos: letargia, cefaleia, tonturas, desorientação, alucinações; 
- Gastrointestinais: estomatite, anorexia, náusea, vômitos, diarreia e constipação;- Dermatológicos: erupções macropapulares, eritema facial e periférico, ulceração de pele, agravamento de úlceras já existentes, 
dermatomiosite e melanoníquia; 
**em caso de aparecimento de úlcera isquêmica sem história anterior dessa complicação, a suspensão da HU deve ser considerada** 
- Renais: elevação de níveis de ureia e creatinina; 
- Hepáticos: elevação das aminotransferases/transferases; 
- Reprodutivos: oligospermia, azoospermia, efeito teratogênico fetal; 
- Hematológicos: mielotoxicidade e hiperesplenismo em crianças; 
- Outros: febre, calafrios, mal-estar, astenia; 
- O uso do hidroxureia pode ser mantido caso o evento adverso for leve, mas quando moderado à grave, deve-se suspender o uso, sendo passível 
de reintrodução a depender do dano causado e da vontade do usuário; 
b. TRANSFUSÃO DE ERITRÓCITOS 
- O nível habitual isolado de anemia estável crônica raramente indica uma transfusão, uma vez que o caráter crônico da anemia se associa à 
maior liberação de oxigênio pela HbS, permitindo que esses pacientes se desenvolvam corretamente, apesar dos baixos níveis de hemoglobina; 
- Com o envelhecimento e o desenvolvimento da insuficiência renal, a anemia crônica piora, podendo se tornar sintomática e necessitar de 
transfusão; 
- Indicação Específicas das Transfusões: crise aplástica, crise hiper-hemolítica, crise de sequestração esplênica, manuseio do acidente vascular 
cerebral, manuseio do priapismo, manuseio da síndrome torácica aguda, manuseio pré-operatório e doença pulmonar hipóxica progressiva -> 
trata as complicações anêmicas severas; 
**não são indicativos para transfusões: anemia crônica, crise dolorosa e infecções leves ou moderadas** 
- Eritropoietina – darbepoetina 0,45 Ug/kg, a cada 2 semanas – restaura o hematócrito aos níveis pré-natais de insuficiência – possível efeito 
adverso: hiperviscosidade; 
- Fenotipagem Eritrocitária – determinam os antígenos presentes nas células, devendo ser realizada antes do programa de transfusão, para 
diminuir o risco de aloimunização, uma vez que na presença de múltiplos aloanticorpos é difícil encontrar sangue compatível; 
- Transfusão Aguda de Eritrócitos – salva vidas, sendo empregada na síndrome torácica aguda, AVC e em anemias sintomáticas graves; 
- Transfusão Crônica de Eritrócitos – reduz a incidência e a gravidade das complicações da anemia falciforme – efeitos adversos: quando repetidas 
geram sobrecarga de ferro, aloimunização, perda de acesso venoso e infecções virais; 
 Terapia de Quelação de Ferro 
- As transfusões repetidas geram a sobrecarga de ferro, que podem causar insuficiência cardíaca ou hepática e outras complicações; 
- Ferritina Sérica – seus níveis permitem estimar a sobrecarga de ferro, podendo ser avaliados pela biópsia hepática (melhor para determinar a 
concentração de ferritina nos tecidos e a resposta à quelação, mas é invasiva) ou pela ressonância magnética (FerriScan); 
- Deferasirox – utilizado na dose de 20 mg/kg, por via oral, diariamente, para quelação do ferro excessivo – efeitos colaterais: induz ao aumento 
da creatinina sérica e da proteinúria em 40% dos pacientes; 
- Desferroxamina – quelante parenteral iniciado com 25 a 30 mg/kg, por via subcutânea, 5x/semana, em infusões de 8 a 12 horas – efeitos 
colaterais: reações cutâneas, ototoxicidade, toxicidade retiniana, anomalias nos ossos e no crescimento e infecção por Yersina; 
- Deferiprona – quelante oral, menos potente – efeitos colaterais: afranulocitose, neutropenia, artropatia e sintomas gastrointestinais; 
c. TRANSPLANTE DE CÉLULAS-TRONCO HEMATOPOIÉTICA (TCTH) 
**fontes de células-tronco hematopoiética: sangue do cordão umbilical, sangue periférico ou medula óssea** 
- Único tratamento que pode curar a anemia falciforme, quando bem sucedido; 
- Apenas 10% dos pacientes com anemia falciforme possuem doadores compatíveis; 
[GABRIELA BARBOSA] Turma 74- Medicina Unimontes 
 
- Transplante Mieloablativo – emprega-se a quimioterapia e/ou a radioterapia em altas doses para destruir a medula óssea do paciente – 
apresenta 5 a 10% da taxa de mortalidade e é deficientemente tolerada em adultos; 
- Transplante Não Mieloablativo – usa radiação total e tratamento com alentuzumabe e sirolimos, para transplante com doador da família 
haploidêntico; 
**em qualquer indicação de transplante de medula óssea, a idade é um importante fator prognóstico, sendo que a evidência de benefício desse 
procedimento é maior em pacientes com menos de 16 anos, de modo a tornar a idade um critério de priorização na regulação assistencial** 
- Critérios de Exclusão para Transplante Alogênico Aparentado Mieloblativo de Células-Tronco Hematopoéticas: presença de vasculopatia 
cerebral do tipo moya-moya ou outra comorbidade que comprometa o resultado do transplante, avaliada e definida pela equipe de transplante; 
 Critérios de Inclusão para Transplante Alogênico Aparentado Mieloblativo de Células-Tronco Hematopoéticas 
- Paciente com diagnóstico de doença falciforme tipo S homozigoto ou tipo S beta-talassemia; 
- Em uso de hidroxiureia; 
- Pelo menos 1 das condições: (1) alteração neurológica devido à acidente vascular encefálico, com alteração neurológica persistente por + de 
24 horas ou alteração no exame de imagem; (2) doença cerebrovascular associada à doença falciforme; (3) mais de 2 crises vaso-oclusivas graves 
no último ano; (4) mais de 1 episódio de priapismo; (5) mais de 2 anticorpos em pacientes sob hipertransfusão ou com 1 anticorpo de alta 
frequência; (6) osteonecrose em mais de uma articulação; 
d. TRATAMENTO DOS EPISÓDIOS DOLOROSOS 
 Avaliação da Dor 
 Avaliação Rápida da Dor 
 
- Objetivo: estabelecer o tratamento 
imediato em um episódio doloroso; 
- Emprega-se escalas de graduação da dor 
infantis ou numéricas; 
- Avalia o decálogo da dor: localização, 
irradiação, qualidade ou caráter 
(profunda e contínua), intensidade (leve, 
moderada ou intensa), duração (minutos, 
dias ou semanas) e frequência, evolução, 
relação com funções orgânicas, fatores 
desencadeantes ou agravantes, fatores 
atenuantes, manifestações 
concomitantes; 
- Exame físico, exames laboratoriais e 
procedimentos diagnósticos podem 
complementar a avaliação; 
- Essa avaliação deve ser realizada antes 
da intervenção, no pico da dor e em 
intervalos de 10 a 15 min afim de se 
determinar os efeitos da adequação e da 
duração; 
 Avaliação Abrangente da Dor 
 
- Realizada quando há necessidade da 
internação ou 1 a 2 vezes por ano; 
- Objetivo: fazer a avaliação clínica 
abrangente e planejar o tratamento da 
doença, envolvendo o paciente, a família 
e a equipe de saúde; 
- Incluir fatores fisiológicos, sensoriais, 
afetivos, cognitivos, comportamentais e 
socioculturais; 
 Diagnóstico Diferencial 
- Como a causa da dor determina o tratamento, em sua avaliação é essencial detectar complicações clínicas; 
- Anamnese – solicitar ao paciente que compare esse episódio de dor com o presente, pois caso a dor por semelhante será tratada como uma 
crise de dor da anemia falciforme, mas se a dor não for típica, sua causa deve ser determinada; 
- Exame Físico e Investigação Laboratorial – devem ser dirigidos para afastar complicações que encobrem a crise falciforme – ex.: na suspeita de 
osteomielite ou artrite realizar raio-x; 
 
 
 
[GABRIELA BARBOSA] Turma 74- Medicina Unimontes 
 
 Tratamento da Dor 
- Para sua instituição deve-se perguntar ao paciente: nome do fármaco utilizado habitualmente em casa e do empregado no atual episódio de 
dor, dosagem, frequência e efeitos colaterais -> permite perceber histórias que revelem grau de tolerância, sendo necessário o emprego de 
fármaco mais potente; 
- Pilares do manejo da dor -> reposição de líquidos + analgesia; 
 Tratamento Ambulatorial da Dor 
 
- Episódios Dolorosos Não Complicados – podem ser acompanhados de dor ou edema localizado nas proximidades do osso afetado, febre baixa 
e aumento discreto na leucocitose –tratamento: hidratação + analgésicos (anti-inflamatórios não esteroides e opióides fracos); 
- Dor Graduada de 1 a 3 – iniciar dipirona de 4/4h – deve ser suspendida após 24h sem dor; 
- Dor Graduada de 3 a 6 – iniciar dipirona de 4/4h + diclofenaco oral de 8/8h -> após 24h sem dor, retira-se o diclofenaco e mantém a dipirona 
de 4/4h – em caso e retorno da dor, retorna o diclofenaco e busca emergência de referência; 
- Dor Graduada de 6 a 10 - iniciar dipirona de 4/4h + diclofenaco oral de 8/8h + codeína de 4/4h (intercalados) -> após 24h sem dor, retira-se a 
dipirona e mantém a codeína de 4/4h, com diclofenaco -> após mais 24h sem dor, retira-se completamente a codeína e mantém-se o diclofeaco 
por mais 24 h – em caso de retorno da dor retorna o diclofenaco e busca emergência de referência; 
- As pessoas que não melhora após 8 horas de instalação da terapia devem ser internadas; 
 AINE e Acetaminofeno 
- Tratam a dor leve a moderada; 
- Acima do teto das suas doses, a sua elevação não gera analgesia mais eficaz; 
- AINEs – não causa sedação, em sua maioria podem ser administrados por via oral (exceto cetorolaco) – contraindicações: gastrite, úlceras 
pépticas, distúrbios da coagulação e insuficiência renal; 
- Acetaminofeno – pode ser contraindicado devido aos graus variáveis de disfunção hepática; 
- Exames de Rotina para Uso Frequente de AINE – exame simples de urina e análises bioquímicas da função renal – a cada 3 a 6 meses; 
 Tratamento Hospitalar da Dor 
 
- Fatores que a embasam a internação: 
duração prolongada do episódio, dor 
grave, baixa resposta ao tratamento (dor 
continua após 8h do tratamento 
ambulatorial), taquicardia excessiva, 
hipotensão, temperatura corpórea acima 
de 38,3°C (indica infecção ou dano 
tecidual extenso), leucocitose acentuada, 
queda no hematócrito e no número de 
plaquetas, hipóxia, achado de infiltrado 
no tórax e dor abdominal aguda; 
- O tratamento na emergência tem como meta administrar analgésicos nos primeiros 30 minutos após a chegada, conseguindo analgesia em 60 
min, assim após o controle da dor realiza-se avaliação cuidadosa para identificação e tratamento do fator desencadeante; 
- Prevenção/Identificação Prévia da Síndrome Torácica Aguda - paciente deve ser monitorado com oximetria de pulso (identifica a hipoxemia 
precocemente) e estudo radiológico; 
- Oxigênio – indicado para pacientes hipóxicos ou que apresentem desconforto respiratório agudo; 
- Infecções – caso sejam identificadas, institui-se o tratamento o mais precocemente possível; 
- Em caso de anemia intensa pode ser necessário a transfusão; 
 Reposição de Líquidos 
- Fatores que Tornam os Pacientes com Anemia Falciforme mais Suscetíveis à Desidratação - são hipostenúricos (não conseguem concentrar a 
urina), o seu volume urinário pode exceder 2 L/dia + os episódios agudos de dor podem ser acompanhados da redução da ingesta de líquidos e 
do aumento da perda de água; 
[GABRIELA BARBOSA] Turma 74- Medicina Unimontes 
 
- É necessário aumentar a ingestão de líquidos para reposição hídrica; 
- Forma de Reposição Hídrica: administração de 5% de dextrose m água + 25 a 50% de salina normal (as necessidades variam) + ingestão de 3 a 
5 L em adultos e de 100 a 150 mL/kg em crianças; 
- A monitoração deve ser bem monitorada para prevenir o desenvolvimento de uma insuficiência cardíaca iatrogênica ou o desequilíbrio 
eletrolítico; 
 Opióides 
 
**sua realização pressupõe o uso, em caso de necessidade, da hidratação, oxigênio e agentes antimicrobianos** 
- Utiliza preparações de opióides de ação prolongada para garantir analgesia mais consistente, pois a dor associada à doença falciforme demora 
vários dias para regredir; 
- Emprega-se opióides fortes, sendo sua dosagem/titulação individualizada, de modo a considerar a intensidade da dor, o tamanho do paciente, 
o manejo da dor anterior e o uso prévio de opióides; 
**em cerca de 10% dos pacientes o manejo da dor é extremamente difícil, sendo necessário o emprego de doses grandes de opióides para o 
alívio da dor** 
- Prefere-se o emprego de regimes agendado de dosagem farmacológica ou analgesia controlada pelo paciente, evitando o uso conforme 
necessário (PRN); 
- Os efeitos do tratamento devem ser reavaliados frequentemente para que as doses do opioide sejam tituladas para o alívio da dor ou 
descontinuada quando se obter o alívio; 
- Opióides Fracos – codeína e oxicodona – administrados por via oral para dor leve ou moderada, de forma combinada com analgésicos não 
opióides (acetaminofeno ou ácido acetilsalicílico; 
- Opióides Fortes – combate a dor forte, também podem ser associados aos medicamentos não opióides, como o cetorolaco 15 a 30 mg IV ou o 
ibuprofeno 600 mg via oral, a cada 6h; 
**Meperidina – opióide sintético menos potente e de ação mais curta e menos eficaz para gerar analgesia da dor intensa - deve ser evitada, pois 
seus metabólitos causam excitação do SNC, aumentando os riscos de convulsões quando administrada por longos períodos – não pode ser usada 
por mais de 48h ou em dose acima de 600 mg/24h** 
- Dose de Impregnação – 5 a 10 mg de morfina ou 0,1 a 0,2 mg/kg para criança; 
- Dose de Resgate – 2,5 a 5 mg a cada 30 a 60 min ou 0,05 a 0,1 mg/kg, para manter a analgesia adequada; 
- Metadona – indicada em pessoas refratárias à morfina – 5 a 10 mg, de 4/4h, sendo retirada em 4 dias ao aumentar o intervalo a cada 6 a 8 
horas; 
- A resposta ao tratamento deve ser avaliada em 15 a 30 min, buscando adaptá-la para proporcionar alívio; 
- Alívio da dor – escore de 2 ou mais na escala de avaliação (0 alívio ausente, 1 alívio leve, 2 alívio moderado, 3 alívio intenso e 4 alívio completo) 
ou por alívio de mais de 50% no limite superior de intensidade da dor; 
- Desmame – redução progressiva dos opióides realizado quando se obtém o alívio da dor intensa após 5 a 7 dias de tratamento, buscando evitar 
os sintomas fisiológicos da abstinência – reduz a taxa de infusão contínua e/ou a substitui por analgésicos orais de ação prolongada; 
**fármacos coadjuvantes – aumentam o efeito analgésico dos opióides, reduz os efeitos colaterais dos analgésicos e controla os sintomas de 
ansiedade e depressão associados – ex.: antidepressivos, antipsicóticos, anti-histamínicos** 
 
 
 
 
 
 
 
[GABRIELA BARBOSA] Turma 74- Medicina Unimontes 
 
 Abordagem Terapêutica Não-Farmacológica 
 
 
- Aumentam os efeitos dos analgésicos u diminui a utilização dos fármacos para controlar a 
dor; 
- Terapia Cognitivas – amplia as habilidades de enfrentamento positivo, reduz os padrões de 
pensamento negativo e facilita o tratamento das alterações de humor; 
- Outras medidas: suporte psicológico (reduzir o medo e a ansiedade), retirar a causa 
desencadeante, repouso relativo, evitar mudanças bruscas de temperatura, aquecimento das 
articulações acometidas e fisioterapia respiratória profilática; 
e. TRATAMENTO DAS COMPLICAÇÕES COMUNS 
 AVC 
- Realiza-se a estabilização e a transfusão inicial; 
- Transfusão de Hemácias Crônicas - reduzem a possibilidade de recorrência do AVC, não estando estabelecido o tempo da sua manutenção, 
mas são comumente interrompidas quando o paciente passa do cuidado pediátrico para o adulto – indicação: crianças em que o risco de VAC 
for evidenciado por aumento da velocidade do fluxo sanguíneo cerebral, a partir do Doppler transcraniano; 
**AVC hemorrágico – não está esclarecido seu manejo a longo prazo e não se sabe se a transfusão reduz sua recorrência** 
 Síndrome Torácica Aguda 
- Toda pessoa com doença falciforme com evidente patologia pulmonar aguda deve ser internada; 
- Conduta em caso de suspeita: raio X de tórax, hemograma com contagem de reticulócitos, hemocultura, BAAR, cultura de escarro, gasometria 
arterial, oximetria de pulso, títulos para Mycoplasma pneumoniae agudo e evolutivo, cintilografia cardíaca quando o raio x de tórax for normal 
com sintomas; 
- Hidratação parenteral – realizada sem descontara via oral, tomando os devidos cuidados para não hiper-hidratar; 
**a hidratação excessiva e a embolia gordurosa podem contribuir para rápida piora dos pacientes com síndrome torácica aguda, que podem 
evoluir com a síndrome do desconforto respiratório (SDRA), manifestando-se por aumento da necessidade de oxigênio, extensa opacificicação 
pulmonar e falência múltipla de órgãos – a taxa de mortalidade na síndrome torácica aguda é menor que 10%** 
- Oxigênio – necessário caso a pessoa apresente hipóxia demonstrada pela gasometria arterial ou pela oximetria de pulso; 
- Agentes Antimicrobianos Endovenoso – similares aos usados em pneumonias adquiridas – formas de realização: ceftriaxona ou azitromicina 
ou levoflaxina por 5 a 7 dias; 
- Broncodilatadores – formas de realização: nebulização com albuterol 0,25 mL em 2,5 mL de salina normal; inalação com dose mensurada de 
albuterol durante episódio agudo; 
- Analgésicos Opióides – são necessários, mas devem ser administrados com cuidado para prevenir a depressão respiratória e a piora da hipóxia; 
- Transfusão de Sangue – indicação: paciente com hipóxia, desconforto respiratório, queda no hematócrito, queda na contagem plaquetária, 
insuficiência cardíaca congestiva ou insuficiência cardíaca direita aguda, pneumonia rapidamente progressiva e sinal de falência múltipla de 
órgãos (distúrbios na atividade mental, rabdomiólise, insuficiência renal ou hepática) – as transfusões simples e as exsanguinotransfusões podem 
reverter os achados adversos da síndrome torácica aguda, assim como as transfusões crônicas podem reduzir as taxas de recorrência dos 
episódios repetidos; 
- Toracocentese – indicada se houver derrame pleural detectado por raio-X; 
**a hidroxiureia reduz as taxas de ocorrência da síndrome torácica aguda em 50%** 
 Crise de Sequestração Esplênica 
- Controle frequente dos sinais vitais, hemoglobina, função renal e hepática e dos fatores de coagulação; 
- Rápida correção da hipovolemia com transfusão de hemácias para aumentar a Hb para 9 -10 g/dL; 
- Esplenectomia – deve ser considerada em pessoas que sofreram uma crise severa de sequestro, uma vez que existe a possibilidade de recidiva- 
principal indicação: criança com mais de 5 anos, devendo ser vacinada contra o Streptococcus pneumoniae previamente à cirurgia; 
- Crianças até 5 anos - programa de transfusão crônica ou hipertransfusão, mantendo Hb S < 30%, e à educação em saúde familiar quanto à 
palpação do baço; 
 Osteonecrose e Doença Óssea 
- Tratamento Conservador: redução da carga, uso de anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) e fisioterapia – não retardam a progressão da 
osteonecrose e da doença óssea; 
- Artroplastia Total do Quadril – apresenta muito sucesso, mas cerca de 1/3 das próteses falha em 4 ou 5 anos; 
- Osteoporose difusa e a osteomalácia podem se fazer presentes em adultos e crianças – tratamento: cálcio 1000 mg diariamente + vitamina D 
50.000 UI por semana, durante meses, com posterior decréscimo para 50.000 UI, a cada 2 semanas; 
 Priapismo 
- Tratamento Conservador: analgésico + hidratação + transfusões – pode ser acrescido de exercícios leves e banhos mornos; 
- Ereção por + de 12 Horas – aspiração e irrigação dos corpos cavernosos, a cada 12 horas, se os episódios diferirem dos anteriores; 
- Ereção por 24 ou 48 Horas - tratamento cirúrgico – cria-se desvios entre os corpos cavernosos e os esponjosos ou realiza-se o desvio de Winter 
(desvio entre a glande do pênis e o corpo cavernoso); 
[GABRIELA BARBOSA] Turma 74- Medicina Unimontes 
 
**estuda-se a administração oral ou intracavernosa de agonistas alfa-adrenérgicos, como a pseudoefedrina** 
 Hipertensão Pulmonar 
- Prevenção Secundária – realiza-se rastreio por ecocardiografia para identificar a presença de hipertensão pulmonar – o prognóstico é 
importante, mesmo que não haja definição do manejo de pacientes com poucos sintomas; 
- Tratamento dos Sintomáticos: hidroxiureia + transfusões de hemácias + sildenafil, bosentan e epoprostenol (podem ser utilizados, mas não 
tem eficácia comprovada); 
 Doença Renal 
- Captopril – pode ser usado na dose de 25mg/dia, reduzindo em 37% a microabiminúria, em pacientes com microalbuminúria conhecida – não 
se sabe se o tratamento a longo prazo é benéfico; 
- AINEs – reduzem a taxa de filtração glomerular na anemia falciforme – seu uso deve ser evitado em pacientes idosos com níveis de creatinina 
iguais ou superiores a 1,2 mg/dL; 
- Diálise e Transplante Renal – indicados no estágio final da nefropatia falciforme – desfechos menos favoráveis; 
f. CIRURGIA E ANESTESIA 
- Cirurgias com Anestesia Geral – emprega-se a transfusão sanguínea simples pré-operatória, buscando atingir um hematócrito acima de 30% 
antes da cirurgia – atua na prevenção de complicações pós-operatórias e causa menos complicações relacionadas ao procedimento 
transfusional; 
- Cirurgias Menores – a transfusão pré-operatória é desnecessária; 
- Risco de Trombose de Grandes Vasos – aumenta com a implantação de acessos e cateteres, podendo-se empregar baixa dose de varfarina para 
retardar a trombose nesses dispositivos; 
8. PROGNÓSTICO 
- A expectativa de vida média em países desenvolvidos é de 50 a 60 anos; 
- A morte costuma ser causada por infecção ou pela falência de órgãos (20%); 
- A morte em adultos geralmente ocorre de forma inesperada, durante um evento doloroso agudo, nas primeiras 24h de internação; 
- As pessoas com anemia falciforme que apresentam valores de Hb fetal (HbF) maior que 8% sobrevivem mais; 
 ANTI-INFLAMATÓRIOS NÃO ESTEROIDAIS (AINEs) 
- Inflamação - resposta normal de proteção às lesões nocivas, podendo advir da ativação imprópria do sistema imune; 
- Processo Inflamatório: (1) a ativação do sistema imune promove o recrutamento de linfócitos, monócitos e macrófagos, que secretam citocinas 
pró-inflamatórias (prostaglandinas - PGs), tromboxanos e leucotrienos (lipídeos relacionados sintetizados a partir dos mesmos precursores que 
as PGs); 
1. MECANISMO DE AÇÃO 
 - Os principais efeitos terapêuticos dos AINEs derivam da sua capacidade de inibir (diminuir) a produção de PGs, por inibir a primeira enzima da 
cascata de formação da PG, a cicloxigenase (COX); 
- Existem duas formas de COX: (COX-1) produzida de maneira constitutiva em vários tecidos, onde estimula a produção de prostaglandinas que 
exercem função homeostática (ex.: equilíbrio hidroeletrolítico nos rins, citoproteção no trato gastrointestinal, agregação plaquetária, início do 
parto), mas também é produzida em resposta a um estímulo inflamatório; (COX-2) não é produzida constitucionalmente na maioria dos tecidos 
normais, sendo que sua produção é induzida por estímulos inflamatórios; 
- Fármacos Inibidores da COX-2 (Coxibes) - desenvolvidos para que inibir a inflamação prejudicial, sem bloquear os efeitos protetores das 
prostaglandinas produzidas constitutivamente; 
**a inibição da COX-1 no TGI é a responsável pelos efeitos gástricos adversos do uso dos AINES** 
2. AÇÕES 
- Ação Anti-Inflamatória - a inibição da cicloxigenase diminui a formação de PGs, de modo a modular os aspectos da inflamação nos quais as PGs 
atuam como mediadoras; 
- Ação Analgésica - como a COX-2 é expressa durante inflamações e lesões, a inibição dessa enzima é responsável pelo efeito analgésico dos 
AINEs, sendo esses usados para combater dores de leves a moderadas originadas de distúrbios musculoesqueléticos - a Prostaglandina E2 
sensibiliza as terminações nervosas à ação da bradicinina, da histamina e de outros mediadores químicos inflamatórios, desse modo ao diminuir 
a síntese de PGE2, a sensação de dor pode diminuir; 
- Ação Antipirética - a febre ocorre quando o ponto de referência do centro termorregulador hipotalâmico anterior é aumentado, podendo 
ocorrer a partir da síntese da PGE2, que é estimulada quando agentes endógenos causadores de febre (pirógenos), como as citocinas, são 
liberados pelos leucócitos ativados - os AINEs diminuem

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