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ESTRATÉGIAS E 
TÉCNICAS EM 
SERVIÇO SOCIAL II
Daniella Tech Doreto
Abordagens
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Reconhecer a importância da instrumentalidade para o Serviço Social.
  Analisar a instrumentalidade do Serviço Social a partir da constru-
ção dos seus arcabouços teórico-metodológico, ético-político e 
técnico-operativo.
  Descrever as abordagens do Serviço Social no mundo do trabalho 
em um contexto capitalista. 
Introdução
A instrumentalidade pode ser entendida como uma capacidade que vai 
sendo construída na medida em que se concretizam objetivos. Trata-se 
de um elemento essencial para o Serviço Social na sua perspectiva de 
efetivação dos direitos dos usuários e reconhecimento social da profissão. 
Ela se constrói a partir de referenciais teórico-metodológico, ético-político 
e técnico-operativo, que se articulam na concretização dos objetivos 
profissionais. No que se refere ao Serviço Social, é importante destacarmos 
ainda as diversas possibilidades de abordagens que se materializam na 
prática profissional e que dão intencionalidade para a ação profissional.
Neste capítulo, serão oferecidos a você os elementos mais importantes 
para que compreenda a importância da instrumentalidade para o Serviço 
Social, bem como para que analise a instrumentalidade a partir dos refe-
renciais teórico-metodológico, ético-político e técnico-operativo. Serão, 
ainda, descritas as abordagens do Serviço Social no mundo do trabalho 
em um contexto capitalista, uma vez que, no cotidiano de trabalho, 
o assistente social possui o desafio de decifrar e interpretar as lógicas 
desse sistema, principalmente no que se refere às mudanças ocorridas 
no mundo do trabalho. 
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A importância da instrumentalidade para 
o Serviço Social
Para iniciar nossas considerações sobre a importância que a instrumentalidade 
possui para o Serviço Social, precisamos relembrar alguns aspectos relevantes 
sobre esse tema. De acordo com as considerações feitas por Guerra (2007, 
documento on-line), a instrumentalidade se constitui em “[...] uma propriedade 
e/ou capacidade que a profi ssão vai adquirindo na medida em que concretiza 
objetivos. Ela possibilita que os profi ssionais objetivem sua intencionalidade em 
respostas profi ssionais [...]”. A autora nos mostra, ainda, que essa capacidade 
se adquire por meio do exercício profi ssional, possibilitando que os assistentes 
sociais transformem as condições existentes em uma determinada realidade 
cotidiana, sejam elas objetivas, subjetivas ou interpessoais. Nesta perspectiva, 
Guerra (2007, documento on-line) conclui que:
Ao alterarem o cotidiano profissional e o cotidiano das classes sociais que 
demandam a sua intervenção, modificando as condições, os meios e os ins-
trumentos existentes, e os convertendo em condições, meios e instrumentos 
para o alcance dos objetivos profissionais, os assistentes sociais estão dando 
instrumentalidade às suas ações. 
Como pode ser observado, a prática profissional é dotada de instrumentali-
dade quando os assistentes sociais conseguem recriar, modificar ou encontrar 
estratégias para transformar o que está posto na sua realidade para atingir seus 
objetivos profissionais. Assim, Guerra (2007, documento on-line) destaca que a 
instrumentalidade “[...] é condição necessária de todo trabalho social enquanto 
categoria constitutiva, um modo de ser, de todo trabalho [...]”. 
Com base no resgate de alguns aspectos que envolvem a instrumentalidade, 
refletiremos a partir de agora sobre a sua importância para o Serviço Social. 
Partiremos do pressuposto de que a instrumentalidade é condição essencial 
para a atuação do assistente social. Isso fica claro se pensarmos no exercício 
profissional relacionado às políticas sociais, conforme evidenciado por Guerra 
(2007). Segundo ela, dada as configurações e a natureza das políticas sociais, 
estas se apresentam como espaços de intervenção que imprimem certas “[...] 
formas, conteúdos e dinâmicas ao exercício profissional [...]” (GUERRA, 2007, 
documento on-line), pois, no contexto em que vivemos, as políticas sociais são 
mais focalizadas, fragmentadas, restritivas, com caráter compensatório e como 
se não tivessem relação alguma com o contexto social, econômico e político 
vigente. As características citadas podem influenciar o desenvolvimento do 
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exercício profissional, limitando-o a uma ação mais fragmentada, pontual e 
restritiva. Assim, ainda segundo Guerra (2007), a instrumentalidade na ação 
profissional é um elemento essencial, sem o qual o profissional não terá con-
dições de analisar a realidade imposta em seu cotidiano, nem de modifica-la, 
e tampouco terá condições de atribuir sentido à sua ação, de forma a atingir 
os seus objetivos profissionais. Nessa mesma perspectiva, Sousa (2008) coloca 
que a instrumentalidade é elemento essencial para o Serviço Social, consi-
derando ser esta uma profissão eminentemente interventiva, que tem como 
objetivo produzir mudanças na vida de seus usuários. Cabe destacar ainda que 
a instrumentalidade não se refere a um conjunto de instrumentos dos quais 
o profissional lança mão para a sua intervenção, mas sim a uma capacidade 
para transformar a realidade, ao passo que os instrumentos são os elementos 
necessários para a operacionalização da prática profissional, como entrevistas, 
observação, visita domiciliar, relatório, parecer social.
Iamamoto (2007, p. 1-2) faz a seguinte consideração: “[...] vive-se em uma 
época de regressão de direitos e destruição do legado de conquistas históricas 
dos trabalhadores em nome da defesa, quase religiosa, do mercado e do capital 
[...]”, e complementa ainda, “[...] crescem, com isso, as desigualdades e, com 
elas, o contingente de destituídos de direitos civis, políticos e sociais [...]”. 
Assim, sendo essa realidade ainda atual, o profissional de Serviço Social 
depara-se em seu cotidiano com situações que exigem ir além do imediato, 
na tentativa de ultrapassar os limites impostos pelo contexto social, político e 
econômico na luta pela garantia do direito dos usuários. Com base no exposto, 
podemos dizer que a instrumentalidade mais uma vez se mostra de funda-
mental importância para o Serviço Social, considerando-se a capacidade que 
os profissionais possuem de transformar a realidade posta em seu cotidiano, 
o que pode influenciar a vida dos usuários dessa profissão.
Guerra (2007) menciona também que a instrumentalidade é importante 
para o Serviço Social, pois proporciona o reconhecimento social da profissão. 
Na visão da autora, a profissão possui instrumentalidade, a qual é construída 
e reconstruída pelos profissionais. Sua percepção é de que essa condição é 
inerente ao trabalho, e ocorre, pois, que os indivíduos, ao atenderem suas 
necessidades de sobrevivência, relacionam-se com outros e transformam a 
natureza e a si próprios durante o processo de trabalho. A capacidade que o 
homem utiliza para modificar a natureza, portanto, se expande para as demais 
relações humanas, alcançando o nível da reprodução da vida social. Podemos 
questionar: qual a importância disso? Trata-se do fato de que, ao transformar a 
realidade por meio do trabalho, o assistente social pode encontrar os elementos 
necessários para atingir as suas finalidades na atuação profissional e colaborar 
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para a efetivação dos direitos de seus usuários. Em outras palavras, podemos 
inferir que o reconhecimento social da profissão é resultado “[...] das respostas 
profissionais frente às demandas das classes [...] dado que por meio dele o 
Serviço Social pode responder às necessidades sociais que se traduzem (por 
meio de muitas mediações) em demandas (antagônicas) advindas do capital 
e do trabalho [...]” (GUERRA, 2007, documento on-line). Ainda segundo a 
autora, isso se deve ao fatode que “[...] as diversas modalidades de intervenção 
profissional têm um caráter instrumental, dado pelas requisições que tanto as 
classes hegemônicas quanto as classes populares lhe fazem [...]” (GUERRA, 
2007, documento on-line). No que se refere às respostas dadas pelo profissional, 
a instrumentalidade se expressa, de acordo com Guerra (2007):
  nas funções e atribuições requisitadas aos assistentes sociais, como, por 
exemplo, executar, planejar, implementar e operacionalizar políticas, 
dentre outras funções; 
  no cotidiano das classes mais vulneráveis, no que se refere às mudanças 
que a prática profissional dos assistentes sociais pode proporcionar;
  no cotidiano dos serviços e dos profissionais “[...] no qual o assistente 
social exerce sua instrumentalidade, o local em que imperam as deman-
das imediatas, e consequentemente, as respostas aos aspectos imediatos, 
que se referem à singularidade do eu, à repetição, à padronização [...]” 
(GUERRA, 2007, documento on-line);
  nas formas de intervenção que surgem em decorrência das demandas 
trazidas pelas classes sociais, e que se apresentam no nível do imediato, 
do fragmentado, manipulatório e que permanece desconectado de uma 
conjuntura ou determinação maior. 
Foi dito que o Serviço Social é uma profissão fundamentalmente interventiva e que se 
utiliza de sua capacidade construída e reconstruída ao longo da história para modificar 
a realidade dos sujeitos com os quais trabalha. No entanto, destaca-se que é comum 
encontrar entre os profissionais duas visões distintas sobre as possibilidades de atuação. 
A primeira delas é a postura fatalista, que contempla análises que naturalizam a vida 
social e consideram poucas possibilidades de realizar uma atuação profissional crítica 
e transformadora. A outra postura é a messiânica, pautada em uma visão heroica 
do Serviço Social, ingênua e que desconsidera o sentido das construções coletivas. 
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Guerra (2007) aponta que a utilidade social de uma profissão é resultado das 
necessidades sociais e, nesse sentido, é importante pensar a instrumentalidade 
como algo que proporciona ao assistente social ir além do que é visível no cotidiano 
e no contexto em que está inserido. Há que se destacar, portanto, que a instru-
mentalidade se relaciona com ir além da especificidade da profissão e requer a 
articulação das dimensões teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa. 
O reconhecimento de tais dimensões implica em conceber o Serviço Social como 
totalidade, e a instrumentalidade, como mediação. Isso quer dizer passar de uma 
ação simplesmente instrumental para uma atuação profissional crítica e competente. 
No entanto, o movimento contrário também é possível: “[...] que as referências 
teóricas, explicativas da lógica e da dinâmica da sociedade, possam ser remetidas 
à compreensão das particularidades do exercício profissional e das singularidades 
do cotidiano [...]” (GUERRA, 2007, documento on-line). 
A partir dessas considerações, podemos constatar o quanto a instrumenta-
lidade se faz importante para o exercício profissional do assistente social, seja 
no que se refere à possibilidade de transformar realidades e efetivar direitos, 
seja no reconhecimento social que possibilita à profissão, seja pela presença 
da mediação e a possibilidade do desenvolvimento de uma prática profissional 
crítica e competente. 
Dimensões teórico-metodológica, ético-política 
e técnico-operativa da instrumentalidade do 
Serviço Social 
Após relembrar os principais elementos sobre a instrumentalidade e sua im-
portância para o Serviço Social, faz-se necessário dizer que esta capacidade 
desenvolvida ao longo da profi ssão, no sentido de transformar realidades, não 
acontece de forma isolada, e, para tanto, precisamos inseri-la nas discussões 
sobre as dimensões teórico-metodológicas, ético-política e técnico-operativa, 
as quais contribuem para o entendimento sobre as especifi cidades da instru-
mentalidade na profi ssão. 
O Serviço Social é uma profissão inscrita na divisão social do trabalho, e, 
em sua origem, era apenas a dimensão técnica que assegurava a competência 
e a eficácia do profissional (SOUSA, 2008). Em outras palavras, eram os 
resultados imediatos decorrentes da prática profissional que asseguravam a 
legitimidade e o reconhecimento da profissão. Esta visão unilateral começou 
a ser superada a partir do Movimento de Reconceituação, que tinha, dentre 
outros objetivos, dar um caráter científico para a profissão (SOUSA, 2008). 
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Netto (2004 apud SOUSA, 2008, p. 121) aponta que, dentro dessa perspectiva, 
a corrente conhecida por ele como “[...] Intenção de Ruptura [...]” buscava 
romper com as visões conservadoras da profissão, tentando fazer com que 
esta se dedicasse à produção de um conhecimento crítico a respeito da reali-
dade social, para que o Serviço Social “[...] pudesse construir os objetivos e 
(re)construir objetos de sua intervenção, bem como responder às demandas 
sociais colocadas pelo mercado de trabalho e pela realidade. Assim, pôde o 
Serviço Social aprofundar o diálogo crítico e construtivo com diversos ramos 
das chamadas Ciências Humanas e Sociais [...]”. 
Vale destacar que o Movimento de Reconceituação (deflagrado em meados da década de 
60) e a proposta de renovação do Serviço Social brasileiro proporcionaram a base para a 
ruptura da profissão com o tradicionalismo profissional e a sua aproximação com a teoria 
marxista. Além disso, esse contexto favoreceu a reformulação do Código de Ética Profissional 
do Serviço Social (1986), que foi resultado de um processo de mobilização da categoria.
Sousa (2008), ainda se utilizando do conhecimento de Netto, destaca 
também que foi a partir do contexto citado que o Serviço Social entrou no 
período chamado pelos autores de “maturidade acadêmica e profissional”, 
que buscou reunir novos elementos para o status de competência profissional, 
não se limitando mais à dimensão técnica. Assim, são colocadas ao Serviço 
Social três dimensões que devem fazer parte do trabalho do assistente social: 
  ético-política: as discussões iniciadas com o Movimento de Reconceitu-
ação apontavam que o assistente social não poderia ser um profissional 
“neutro” e “apolítico”, pois deveria confirmar o seu compromisso com 
as classes subalternas. Para Sousa (2008, p. 122), o exercício profissional 
do assistente social acontece em meio a relações de poder originárias do 
interior da sociedade capitalista, “[...] relações essas que são contraditó-
rias. Assim, é fundamental que o profissional tenha um posicionamento 
político frente às questões que aparecem na realidade social, para que 
possa ter clareza de qual é a direção social da sua prática [...]”. Dessa 
forma, tanto do ponto de vista ético quanto político, o profissional passa 
a adotar valores éticos e morais que embasam a sua prática e que são 
expressos no Código de Ética Profissional. Em outras palavras, e do 
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ponto de vista da instrumentalidade, podemos dizer que a dimensão 
ético-política se refere aos objetivos e à finalidade das ações baseadas 
em princípios éticos e valores humanos;
  teórico-metodológica: refere-se à qualificação do profissional, a qual 
o possibilita conhecer o contexto social, econômico, político e cultural 
com o qual trabalha. A qualificação teórico-metodológica permite 
que esse conhecimento da realidade não aconteça de forma simplista 
e baseada no senso comum, e sim de forma crítica, possibilitando ao 
assistente social entender a dinâmica da sociedade como algo além dos 
seus elementos aparentes, na busca pela compreensão da essência dos 
fenômenos, com vistas a construir novas possibilidades e estratégias 
profissionais (SOUSA, 2008). Do ponto de vista da instrumentalidade, 
a dimensão teórico-metodológica busca articular meios e instrumentos 
para concretizaros objetivos da ação profissional a partir do conheci-
mento mais aprofundado da realidade;
  técnico-operativa: com base nesta dimensão, propõe-se que o pro-
fissional conheça e se aproprie de um conjunto de técnicas que lhe 
permita desenvolver a prática profissional junto à população usuária e 
à instituição empregadora, assegurando, por meio de uma intervenção 
qualificada, respostas às demandas trazidas pelos empregadores e pela 
população usuária. Para Mioto e Lima (2009), a discussão sobre essa 
dimensão passa pelo reconhecimento da complexidade dos diversos 
espaços socio-ocupacionais nos quais o assistente social transita e pela 
natureza de suas ações nesses diferentes espaços. 
As dimensões citadas não se operacionalizam no cotidiano profissional 
de forma isolada, mas sim articuladas umas às outras. Na verdade, Carvalho 
e Iamamoto (2011) apontam que as três dimensões não podem ser desenvol-
vidas de forma separada, a fim de que o profissional não tenha uma ação 
fragmentada e despolitizada, como acontecia no passado histórico do Serviço 
Social. Nessa perspectiva, Sousa (2008) argumenta que a articulação das três 
dimensões tem sido um desafio para os profissionais e estudantes de Serviço 
Social no que se refere à necessidade da articulação entre teoria e prática, 
pesquisa e ação, ciência e técnica, visto que o contrário pode gerar uma ação 
desqualificada por parte do assistente social e, ainda, infringir os princípios 
éticos que direcionam a atuação profissional. 
Iamamoto (2007, p. 21), em sua análise sobre as dimensões citadas e sua 
relação com a profissão, menciona que o Serviço Social é uma profissão 
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liberal que dispõe de “[...] estatutos legais e éticos que atribuem uma autono-
mia teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa e à condução do 
exercício profissional [...]”. Afirma, ainda, que:
Orientar o trabalho nos rumos aludidos requisita um perfil profissional culto, 
crítico e capaz de formular, recriar e avaliar propostas que apontem para a 
progressiva democratização das relações sociais. Exige-se, para tanto, com-
promisso ético-político com os valores democráticos e competência teórico-
-metodológica na teoria crítica em sua lógica de explicação da vida social. 
Estes elementos, aliados à pesquisa da realidade, possibilitam decifrar as 
situações particulares com que se defronta o assistente social no seu trabalho, 
de modo a conectá-las aos processos sociais macroscópicos que as geram e as 
modificam. Mas, requisita, também, um profissional versado no instrumental 
técnico-operativo, capaz de potencializar as ações nos níveis de assessoria, 
planejamento, negociação, pesquisa e ação direta, estimuladora da partici-
pação dos sujeitos sociais nas decisões que lhes dizem respeito, na defesa de 
seus direitos e no acesso aos meios de exercê-los (IAMAMOTO, 2007, p. 34).
Sousa (2008, p. 122) aponta que o assistente social “[...] ocupa um lugar 
privilegiado no mercado de trabalho: na medida em que ele atua diretamente 
no cotidiano das classes e grupos sociais menos favorecidos, ele tem a real 
possibilidade de produzir um conhecimento sobre essa mesma realidade [...]”. 
O conhecimento produzido é importante, podendo inclusive ser considerado 
como parte fundamental do seu trabalho, pois possibilita ver a real dimensão 
das suas possibilidades de trabalho, o que reforça o que dissemos anteriormente 
sobre a necessidade de articulação das três dimensões estudadas. Destaca-se 
que o Projeto Ético-Político Profissional do Serviço Social expressa as três 
dimensões — ético-político, teórico-metodológica e técnico-operativa — em 
sua essência, englobando tanto a formação quanto a atuação profissional 
(IAMAMOTO, 2007).
Dessa maneira, podemos pensar na capacidade que a profissão possui para 
transformar realidades e concretizar objetivos a partir do amadurecimento 
profissional que ocorreu ao longo do tempo. Destaca-se a passagem do mo-
mento em que a ação profissional era apenas técnica, para o momento em 
que outros elementos — éticos e políticos — passaram a ser incorporados no 
Serviço Social. Considera-se que, a partir desse momento, a profissão adquiriu 
condições de realizar uma prática mais qualificada e com vistas à garantia dos 
direitos dos usuários, pois passou a envolver as três dimensões constitutivas 
pensadas desde a formação profissional. 
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As abordagens do Serviço Social
O assistente social, em seu cotidiano, possui o desafi o de conhecer e interpretar 
as lógicas do capitalismo contemporâneo no que se refere principalmente às 
mudanças que vêm ocorrendo ao longo dos anos no mundo do trabalho e também 
sobre as questões relacionadas com a desestruturação dos sistemas de proteção 
social e políticas sociais em geral (PIANA, 2009). Estes são desafi os impostos 
ao profi ssional de Serviço Social, que realiza suas ações no âmbito das políticas 
socioassistenciais nos setores público e privado. Assim, segundo Piana (2009, p. 
85), o profi ssional de Serviço Social “[...] desenvolve atividades na abordagem 
direta da população que procura as instituições e o trabalho do profi ssional e 
por meio da pesquisa, da administração, do planejamento, da supervisão, da 
consultoria, da gestão de políticas, de programas e de serviços sociais [...]”.
Em linhas gerais, podemos pensar a abordagem como uma aproximação 
possível de existir entre pessoas ou coisas. No Serviço Social, podemos falar 
em vários tipos de abordagem presentes no desenvolvimento do exercício 
profissional, como, por exemplo, abordagens individual, grupal, com famí-
lias, dentre outras. A abordagem individual, por exemplo, é uma modalidade 
de intervenção que está presente em uma profissão com caráter educativo, 
como o Serviço Social. Ela é utilizada em atendimentos em todas as áreas 
em que está inserido o assistente social. Por meio da abordagem individual, 
o profissional pode se utilizar de instrumentos como entrevistas e até mesmo 
visitas domiciliares. Esse tipo de abordagem permite ao profissional realizar 
a avaliação social, momento em que são obtidas informações relevantes para 
subsidiar decisões e implementar as estratégias de ação, uma vez que é por 
meio da avaliação social que a situação social e econômica e a dinâmica 
familiar podem ser conhecidas. 
A abordagem individual tem várias finalidades, dependendo do objetivo 
profissional do assistente social. Pode ser utilizada para conhecer uma rea-
lidade e identificar estratégias de intervenção, bem como possui um caráter 
educativo, visando a favorecer a emancipação e/ou o fortalecimento do usuário 
na luta por seus direitos. 
No aspecto coletivo da intervenção profissional, é possível encontramos 
entre os assistentes sociais o uso da abordagem grupal em seu cotidiano. So-
dré (2014) menciona o trabalho de assistentes sociais e sua interlocução com 
equipes de saúde, utilizando-se da abordagem grupal. Segundo ele, esse tipo 
de intervenção pode ser considerada como “uma ação ampla, tanto pelo seu 
9Abordagens
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lastro coletivo de abordagem quanto por requerer uma ação que o profissional 
se expõe para muitos usuários do SUS e outros profissionais com quem divide 
as atribuições do fazer saúde”. Segundo ele:
Frequentemente, essa ação tem um foco direcionado para a ação individual 
(e individualizante), no esforço do indivíduo em mudar seu pensamento ou 
atitude — mesmo que aconteça por meio de uma abordagem grupal. Ou seja, 
ainda que reunidos para uma ação coletiva, o foco do assistente social está na 
atitude direcionada ao indivíduo, podendo ser uma reunião com abordagens 
grupais, mas esperando uma ação que seja uma resposta de indivíduo por 
indivíduo (SODRÉ, 2014, p. 69).
Assim, ainda que a abordagem seja feita no âmbito coletivo, é possível 
manter como foco o indivíduo, uma vez que as orientações e o conheci-
mento transmitidos têmcomo finalidade atingir cada um individualmente. 
Na abordagem grupal, diversas estratégias, instrumentos ou técnicas podem 
ser utilizados, como, por exemplo, palestras. De acordo com Sodré (2014, p. 
69), “[...] palestra é uma forma de abordagem que coloca lugares estabelecidos: 
um indivíduo sabe e detém o poder da transmissão do conhecimento; outros 
não sabem e colocam-se no lugar da recepção de informações. Isto aborta 
qualquer perspectiva dialógica em um trabalho de abordagem coletiva [...]”. 
Na abordagem grupal, a orientação ou transmissão de conhecimentos também 
pode ocorrer pela troca de saberes entre os indivíduos presentes, sendo esta 
outra forma de atingir os objetivos dos profissionais. Essa diversidade de 
possibilidades para a realização de grupos deve-se ao fato de que estes se 
constituem em espaços propícios e férteis para a produção de conhecimentos 
e informações, na tentativa da adoção de novos hábitos, empoderamento e 
emancipação humana. Em geral, utiliza-se a abordagem grupal em situações 
identificadas em um número considerável de usuários, pois possui maior 
abrangência. A abordagem grupal pode ser realizada pelo assistente social 
apenas ou por este juntamente como outros profissionais.
Nesse sentido, podemos afirmar que as abordagens realizadas pelo assistente 
social que integra equipes interdisciplinares podem somar-se às abordagens 
realizadas pelos outros profissionais, com o objetivo de garantir uma inter-
venção que responda às necessidades e às demandas surgidas no cotidiano 
de trabalho. Este tipo de atuação possibilita lutar por uma sociedade livre e 
justa, sem exploração de classe e de qualquer natureza, e, ainda, a elaboração 
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de ações coletivas para enfrentar situações na direção de uma sociedade 
que assegure condições melhores para todos (CONSELHO FEDERAL DE 
SERVIÇO SOCIAL, 2011).
A opção pela abordagem individual ou grupal no atendimento realizado 
pelo Serviço Social dependerá, em grande parte, das finalidades a serem 
alcançadas, dos instrumentos e técnicas disponíveis e dos recursos institu-
cionais existentes. Outro tipo de abordagem frequentemente utilizado pelos 
profissionais de Serviço Social refere-se ao trabalho com as famílias, alvo 
da profissão desde o seu início. Mioto (2010) aponta que a família e suas 
diversas configurações constituem-se em um espaço bastante complexo. 
Segundo a autora: “[...] é construída e reconstruída histórica e cotidianamente, 
através das relações e negociações que estabelece entre seus membros, entre 
seus membros e outras esferas da sociedade e entre ela e outras esferas da 
sociedade, tais como Estado, trabalho e mercado [...]” (MIOTO, 2010, p. 
168). A família possui a capacidade de produzir subjetividade e, ao mesmo 
tempo, constitui-se em uma produtora de cuidados (MIOTO, 2010). Dadas as 
complexidades da família na contemporaneidade e suas variadas configura-
ções, este é um campo privilegiado da atuação profissional e do trabalho em 
equipe. Sodré (2014) aponta que o trabalho do assistente social em unidades 
de saúde, como a Estratégia de Saúde da Família, aproxima-se do trabalho 
do Agente Comunitário de Saúde. Destaca que, na implantação da Estratégia 
de Saúde da Família o Ministério da Saúde, por meio do Conselho Federal de 
Serviço Social, a inserção do assistente social como equipe de apoio, e não 
equipe básica, foi questionada, no entanto, essa diferença permaneceu na “[...] 
separação preexistente ao modelo de intervenção com famílias. Questionava-
-se o isolamento do Serviço Social dentro da divisão do trabalho em equipe, 
questionava-se o instrumental subutilizado do assistente social na abordagem 
com famílias (visto que era uma estratégia de saúde da família) [...]” (SODRÉ, 
2014, p. 79). Na atualidade, o assistente social compõe as equipes de saúde da 
família, bem como equipes em outros níveis de atuação no sistema de saúde, 
e o seu trabalho é um pouco mais delimitado e conhecido. 
A abordagem se constitui em um elemento tão importante para o Serviço 
Social que a Política Nacional de Assistência Social estabeleceu a abordagem 
como forma de operacionalização de um serviço. Trata-se do Serviço Especia-
lizado em Abordagem Social, que integra a Proteção Social Especial, sendo 
ofertado no Centro de Referência Especializado da Assistência Social. Este 
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serviço é realizado por uma “[...] equipe de educadores sociais que identifica 
famílias em situação de risco pessoal e social em espaços públicos, como 
trabalho infantil, exploração sexual de crianças e adolescentes, situação de 
rua, uso abusivo de crack e outras drogas [...]” (BRASIL, 2015, documento 
on-line). A abordagem por parte do profissional é feita diretamente nas ruas, 
praças e espaços públicos e em outros locais que possuem circulação de pessoas, 
e tem como objetivo garantir atenção às pessoas atendidas, incluindo-as nos 
serviços sociais existentes (BRASIL, 2015). 
Tendo conhecido algumas formas de abordagens possíveis no Serviço 
Social, é importante mencionar que o profissional propositivo, crítico e com-
prometido, que se espera ter na atualidade, deve se afastar de abordagens 
pragmáticas e conservadoras, as quais consideram os problemas que surgem 
como pessoais e individuais, devendo, assim, ser resolvidos (CONSELHO 
FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL, 2011). Segundo o documento, não se deve 
limitar a prática profissional às abordagens que consideram as necessidades 
sociais como problemas individuais, uma vez que as situações vivenciadas 
pelos usuários das políticas possuem uma raiz histórica comum, marcada pela 
desigualdade de classe e suas implicações, que se manifestam na ausência e 
precariedade de vários direitos humanos, como saúde, emprego, moradia, 
educação, transporte e outros. 
Diante o exposto, observa-se o quanto as diferentes possibilidades de 
abordagem no trabalho do assistente social podem contribuir com o exercício 
profissional e sua intenção de assegurar direitos e lutar pela efetivação de 
uma sociedade mais justa, de acordo com o próprio Projeto Ético-Político da 
Profissão. Percebe-se, ainda, que a forma de abordagem mais adequada a ser 
escolhida dependerá do objetivo a ser alcançado e das condições reais existentes 
no desenvolvimento da atuação profissional. Dessa forma, sendo o assistente 
social um profissional que habitualmente trabalha em equipes, amplia-se a 
possibilidade de abordagens efetivas para atingir os objetivos profissionais. 
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BRASIL. Ministério da Cidadania. Secretaria Especial do Desenvolvimento Social. Abor-
dagem social. 2015. Disponível em: http://mds.gov.br/assistencia-social-suas/servicos-
-e-programas/servico-especializado-em-abordagem-social. Acesso em: 7 fev. 2019.
CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. Parâmetros para atuação de assistentes sociais 
na política de assistência social. Brasília: CFESS, 2011. (Série Trabalho e Projeto Profissional 
nas Políticas Sociais).
GUERRA, Y. A instrumentalidade no trabalho do assistente social. [2007]. Disponível em: 
http://www.unirio.br/unirio/cchs/ess/Members/altineia.neves/instrumentos-e-tecnicas-
-em-servico-social/guerra-yolonda-a-instrumentalidade-no-trabalho-do-assistente-
-social/at_download/file. Acesso em: 7 fev. 2019.
IAMAMOTO, M. V. O serviço social na contemporaneidade: trabalho e formação profis-
sional. 13. ed. São Paulo: Cortez, 2007.
IAMAMOTO, M.; CARVALHO, R. Relações sociais e serviço social no Brasil: esboço de uma 
interpretação histórico-metodológica. 41. ed. São Paulo: Cortez, 2011.
MIOTO, R. C. Família, trabalho com famílias e Serviço Social. Serviço Social em Revista, 
Londrina, v. 12, nº. 2, p. 163-176, jan./jun. 2010.
MIOTO, R. C. T.; LIMA, T. C. S. A dimensão técnico-operativa do Serviço Social em foco: 
sistematização de um processo investigativo. Revista Textos & Contextos, Porto Alegre, 
v. 8, nº.1, p. 22-48, jan./jun. 2009.
PINA, M. C. A construção do perfil do assistente social no cenário educacional. São 
Paulo: UNESP, 2009. Disponível em: https://static.scielo.org/scielobooks/vwc8g/pdf/
piana-9788579830389.pdf. Acesso em: 7 fev. 2019.
SODRÉ, F. O serviço social entre a prevenção e a promoção da saúde: tradução, vínculo 
e acolhimento. Serviço Social & Sociedade, São Paulo, nº. 117, p. 69-83, jan./mar. 2014.
SOUSA, C. T. A prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e inter-
venção profissional. Emancipação, Ponta Grossa, v. 8, nº. 1, p. 119-132, 2008. Disponível 
em: http://www.revistas2.uepg.br/index.php/emancipacao/article/viewFile/119/117. 
Acesso em: 7 fev. 2019.
13Abordagens
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ESTRATÉGIAS 
E TÉCNICAS EM 
SERVIÇO SOCIAL I
Camila Muniz 
Assumpção
Habilidades e técnicas 
de abordagem
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Reconhecer a importância da análise crítica da realidade para o esta-
belecimento de estratégias e técnicas de intervenção.
  Identificar as atribuições do assistente social diante das expressões da 
questão social nos diferentes espaços sócio-ocupacionais do Serviço 
Social.
  Aplicar o instrumental e as técnicas de abordagem do Serviço Social 
para a transformação social.
Introdução
Os profissionais de Serviço Social podem atuar em diversas áreas: sistema 
judiciário, políticas públicas sociais, movimentos sociais, instituições do 
terceiro setor ou até mesmo instituições privadas. Em qualquer uma dessas 
áreas, o assistente social vai se deparar com as mais diversas expressões 
da questão social. Por isso, ele precisa estar atento e respaldado pelas 
habilidades e técnicas de abordagem da profissão.
Neste capítulo, você vai verificar a importância de o assistente social 
analisar a realidade, tendo em vista que o real está em constante mudança 
e que é a análise que dá base para o estabelecimento de estratégias e 
técnicas de intervenção. Além disso, você vai estudar a questão social 
e suas expressões, bem como identificar as atribuições do assistente 
social diante delas, sem deixar de lado o instrumental e as técnicas de 
abordagem fundamentais para a operacionalização da profissão.
Análise crítica e estratégias de intervenção
Entender a realidade para a efetivação da prática não é uma tarefa fácil. Afi nal, 
a realidade é mutável, complexa e cheia de elementos diferentes. A consolidação 
da dimensão interventiva do assistente social está interligada a diversos fatores 
sócio-históricos, políticos, culturais e econômicos que são externos ao universo 
do Serviço Social.
Hoje, vive-se a era do grande capital financeiro, em que cresce o desemprego. 
Esse contexto traz como desafio ao assistente social a luta dos trabalhadores 
por sobrevivência. Como Iamamoto (2011, p. 18) relata: “Estes novos tempos 
reafirmam [...] que a acumulação de capital não é parceira da equidade, não 
rima com igualdade. Verifica-se o agravamento das múltiplas expressões da 
questão social”.
Na atual expressão do capitalismo, a classe trabalhadora e o sujeito social 
ficam cada vez mais responsabilizados. Eles se tornam vulneráveis devido ao 
desemprego, à miséria, ao pauperismo da população e à privatização dos serviços 
e bens públicos. Ou seja, as consequências do capitalismo contemporâneo incluem 
a desigualdade na divisão de renda, o aumento da população em situação de 
extrema pobreza, a redução dos postos de trabalho, entre outros fatores.
De acordo com Aquino (2010), o desemprego, a miséria, a precarização dos 
estatutos salariais e a falta de perspectiva atingem grandes parcelas da população 
mundial. Isso acontece não só na denominada periferia do sistema capitalista, 
mas também nos países desenvolvidos, embora em menor proporção. A reali-
dade constituída por exclusão, discriminação e miséria de parte significativa 
da população resulta da produção capitalista, que não cede espaço a todas as 
classes. Então, a sobrevivência dos sujeitos depende da produção direta, do 
meio de vida ou da oferta de emprego pelo capital. Essas mudanças que vêm 
afetando o mundo da produção, a esfera do Estado e as políticas públicas acabam 
estabelecendo novas mediações nas expressões da questão social, nas demandas 
e nas respostas do Serviço Social.
Para você compreender como o Serviço Social se insere nesse cenário, deve 
entender alguns pressupostos. É o que confirma Iamamoto (2011, p. 20): “[...] 
devemos romper com a visão endógena, focalista, uma visão de dentro do serviço 
social, prisioneira em seus muros internos”. Diante disso, é imprescindível que o 
Serviço Social reconheça as determinações e limitações históricas da realidade 
social para que não caia no equívoco de incorporar um caráter fatalista e mes-
siânico. No exercício de sua profissão, o assistente social não pode visualizar 
apenas o indivíduo. Ele precisa estar atento à totalidade, dando ênfase às relações 
mais amplas e buscando formas de intervenção para a transformação social.
Habilidades e técnicas de abordagem2
Os usuários chegam aos assistentes sociais apresentando-se em forma de 
demanda. Ou seja, o indivíduo deseja obter serviços e acesso e se beneficiar com 
o atendimento recebido. Segundo Arruda (1998), a demanda nem sempre será 
a expressão da necessidade, seja pelo desconhecimento das pessoas em relação 
àquilo que precisam, seja pela desinformação sobre a existência da solução de 
seus problemas, seja pela ausência dos serviços necessários. Na Figura 1, a 
seguir, você pode como a relação entre o sujeito e o assistente social é complexa.
Figura 1. A relação entre o assistente social e o sujeito social é permeada por diversas esferas.
Fonte: Adaptada de Lameiras (2015, documento on-line). 
Como você pode ver na Figura 1, o cidadão traz o seu problema para 
o assistente social. No caso, o problema é o desemprego. Mas não basta o 
profissional olhar apenas para o que foi posto. É necessária uma observação 
sensível, pois por trás da demanda exposta existem outras questões a serem 
trabalhadas e entendidas.
No processo de intervenção do Serviço Social, observar não é simplesmente olhar, 
mas é destacar um conjunto de objetos ou algo específico, é prestar atenção nas 
caraterísticas, por exemplo, nas relações que estão em jogo (TRIVIÑOS, 1987).
3Habilidades e técnicas de abordagem
A intervenção social, segundo Cardoso (2008), nada mais é do que um 
resgate de direitos, de serviços socioassistenciais, que busca proporcionar aos 
sujeitos emancipação e exercício de cidadania, assim como estimular a sua 
autonomia. Desse modo, uma das particularidades do trabalho do assistente 
social é intervir nos processos de enfrentamento da questão social, que se 
atualiza e se renova diante das diferentes conjunturas sociopolíticas.
Atribuições do assistente social
O Serviço Social é uma profi ssão inscrita na divisão social e técnica do tra-
balho. Assim, situa-se no processo de reprodução das relações sociais. Ele 
emerge como profi ssão no contexto em que a questão social se põe como 
alvo da intervenção do Estado, por meio das políticas públicas. Portanto, 
como você pode notar, o Serviço Social tem na sua base de especialização a 
questão social. Esta se expressa pelas inúmeras desigualdades da sociedade 
capitalista, na qual o trabalho é coletivo, mas os seus resultados são privados.
Uma das particularidades do trabalho do assistente social é intervir nos 
processos de enfrentamento da questão social. As novas condições sociais, 
originárias do capitalismo feroz dos dias atuais, foram definidas por alguns 
autores como “nova questão social”. No entanto, essa teoria não se sustentou. 
Segundo Mota (2000, p. 2), “distintas expressões da questão social não se 
traduzem em uma ‘nova’ questão social, mas sim em novas formas para 
velhos conteúdos”.
Compreender a questão social é de fundamental importância. De acordo 
com Iamamoto (2011, p. 125), “[...] a questãosocial expressa a subversão do 
humano própria da sociedade capitalista contemporânea”. Segundo Iamamoto 
(2011), a questão social se materializa na naturalização das desigualdades 
sociais e na submissão das necessidades humanas ao poder das coisas sociais. 
E ainda conduz à indiferença ante os destinos de enormes contingentes de 
homens e mulheres trabalhadores.
O assistente social convive cotidianamente com as mais amplas expressões 
da questão social, matéria-prima de seu trabalho. A construção das mediações 
entre o contexto sócio-histórico e as questões que particularizam as ações 
profissionais possibilita ao assistente social qualificar o seu trabalho, que é 
desenvolvido nos mais diversos espaços sócio-ocupacionais.
Em síntese, o assistente social deve:
Habilidades e técnicas de abordagem4
  coordenar, elaborar, executar, supervisionar e avaliar estudos, pesquisas 
e projetos na área de Serviço Social;
  prestar informações e elaborar pareceres na área de atuação do Serviço 
Social;
  planejar, coordenar e executar atividades socioeducativas;
  estabelecer parcerias e contatos institucionais;
  atuar como facilitador de processos de formação de lideranças e orga-
nização comunitária;
  planejar, coordenar e realizar reuniões e palestras na área de atuação 
do Serviço Social;
  elaborar relatórios técnicos e analíticos;
  treinar, avaliar, supervisionar e orientar estagiários de Serviço Social.
É necessário trazer para a discussão não apenas as atribuições privativas, 
mas também as competências profissionais. Isso possibilita levar em con-
sideração não somente aquilo que, pela lei, é função exclusiva do Serviço 
Social, mas também o que potencialmente pode e deve ser desenvolvido no 
âmbito da profissão. Portanto, na lei de regulamentação da profissão (Lei nº. 
8.662/1993), os artigos 4º e 5º tratam, respectivamente, das competências e 
atribuições privativas de profissionais do Serviço Social (BRASIL, 1993). 
Entende-se que as atribuições privativas se referem diretamente à profissão; 
e a competência consiste nas ações que os assistentes podem desenvolver, 
embora não lhes sejam exclusivas.
Devido às novas expressões da questão social, a ação do assistente social 
deve ser cada vez mais dinâmica. Por isso, não bastam os conteúdos teóricos; é 
preciso conhecer a forma correta de direcionar políticas e ações para alcançar 
determinados objetivos. A política de assistência demanda profissionais que for-
taleçam uma intervenção crítica autônoma, ética e politicamente comprometida 
com a classe trabalhadora e as organizações populares de defesa de direitos.
O processo de trabalho do Serviço Social, de acordo com Iamamoto (1997), 
é pautado no instrumental técnico-operativo utilizado pelo assistente social. 
Mas se percebe que esse instrumental não compreende apenas técnicas utili-
zadas para a efetivação do serviço. Também está em jogo o arsenal teórico-
-metodológico, ou seja, conhecimentos, valores, habilidades, entre outros. Essa 
base teórico-metodológica é construída pelos “[...] recursos essenciais que o 
assistente social aciona para exercer seu trabalho” (IAMAMOTO, 1997, p. 43) 
a fim de melhorar a leitura da realidade e direcionar a sua ação.
5Habilidades e técnicas de abordagem
É necessário refletir de modo crítico sobre a prática profissional do Serviço Social 
nas diversas esferas de trabalho. Como você sabe, tal prática exige a construção de 
estratégias sociopolíticas que contribuam para minimizar as desigualdades sociais.
Instrumental e técnicas de abordagem
Para a efetivação do seu fazer profi ssional, os assistentes sociais tomam posse 
de um instrumental técnico-operativo que, segundo Trindade e Kourmowyon 
(2001), consiste em um conjunto de instrumentos e técnicas. A técnica está 
interligada aos instrumentos, que são entendidos como mediadores e poten-
cializadores do trabalho. Já a operação é entendida como “[...] habilidade 
humana de fabricar, construir e utilizar instrumentos” (VARGAS, 1994, p. 15).
A seguir, veja os conceitos de instrumental, instrumento e técnica.
  Instrumental: conjunto articulado de instrumentos e técnicas que per-
mitem a operacionalização da ação profissional.
  Instrumento: estratégia ou tática por meio da qual se realiza a ação.
  Técnica: habilidade no uso do instrumental. É a criatividade.
A natureza do instrumental é relacional, pois envolve relações com os 
sujeitos e está associada à ação profissional, pensada da concepção/elaboração 
até a sua operacionalização/ação, incluindo o momento da avaliação. Essa 
avaliação permeia todo o processo e deve ser feita com base nos indicadores.
A percepção da ação profissional se constrói a partir das finalidades e não 
dos instrumentos. Ou seja, ela se constrói a cada momento, pois as situações 
mudam. A ação profissional tem alguns eixos articuladores, como você pode 
ver a seguir.
  Eixo valorativo: está ligado à finalidade e aos objetivos, bem como 
vinculado à concepção.
  Eixo metodológico: trata-se da operacionalização propriamente dita, 
pois é ela que pressupõe que o profissional tenha clareza teórica frente 
ao objeto de intervenção.
Habilidades e técnicas de abordagem6
  Eixo operativo: determina que não basta pensar somente nos valores 
e nas concepções, mas é necessário haver estratégia e tática, ou seja, 
planejamento e ação. São as técnicas operacionais.
O papel desempenhado pelo Serviço Social na divisão sociotécnica do 
trabalho traz a necessidade de determinados conhecimentos e habilidades 
que estão historicamente relacionados a atividades da prática profissional.
Para Guerra (2012), a dimensão técnico-operativa se constitui no modo de 
aparecer da profissão, pelo qual ela é conhecida e reconhecida. Tal dimensão 
responde às questões: para que fazer? Para quem fazer? Quando e onde fazer? 
O que fazer? Como fazer? Dessa forma, essa dimensão técnico-operativa 
não pode ser considerada autônoma, uma vez que carrega em si as demais 
dimensões. Igualmente, não pode ser considerada neutra: possui caráter ético-
-político sustentado em fundamentos teóricos.
Guerra (2012) considera que a dimensão técnico-operativa, como a ra-
zão de ser da profissão, remete às competências instrumentais pelas quais o 
Serviço Social é reconhecido e legitimado. É aqui que se inserem os instru-
mentos e técnicas da intervenção profissional. Os instrumentos e técnicas são 
tratados como elementos constitutivos dessa dimensão. Eles pertencem ao 
âmbito da operacionalização da ação. São partes constitutivas do instrumental 
técnico-operativo.
Os instrumentos são considerados produto da ação humana, se constituindo 
como meios de se alcançar uma finalidade. Nessa direção, o conteúdo da ação 
que se quer efetivar com o uso de determinado instrumento está diretamente 
relacionado com a finalidade pretendida. Por sua vez, a finalidade está no 
âmbito teórico. De acordo com Trindade e Kourmowyon (2001), o conteúdo 
do instrumental técnico-operativo depende da análise da realidade, que fun-
damenta a direção social empreendida pelos sujeitos profissionais.
Como os instrumentos são considerados meios de se alcançar uma fina-
lidade, ao escolher determinado instrumento de ação, o profissional deve ter 
clareza da finalidade que pretende alcançar. Ele precisa verificar se tal finali-
dade é coerente com as finalidades da profissão e se o instrumento escolhido 
permite a sua efetividade. No Quadro 1, a seguir, você pode conhecer melhor 
alguns instrumentos de trabalho do assistente social.
7Habilidades e técnicas de abordagem
Acolhimento Processo que incorpora as relações humanas. Envolve a 
escuta social qualificada, com a valorização da demanda que 
procura o serviço oferecido e a identificação da situação-
problema no âmbito individual e também no coletivo.
Entrevista Utilizada para levantar dados e informações que 
possibilitam o reconhecimento de uma realidade 
social. Além disso, visa a promover o conhecimento da 
realidade dos usuários e/ou realizar os encaminhamentose orientações necessários para a garantia de direitos.
Visita 
domiciliar
Procedimento em que o assistente social vai à residência 
do usuário. Serve para identificar as necessidades 
reais da vida cotidiana do usuário e de sua família.
Reunião Tem a característica de promover e intervir em espaços 
coletivos, provocando uma reflexão crítica.
 Quadro 1. Exemplos de instrumentos de trabalho do assistente social 
O que você aprendeu neste capítulo não esgota o tema. O objetivo do 
conteúdo apresentado aqui é contribuir para que você reflita com mais pro-
fundidade sobre o trabalho do assistente social. Em última instância, a ideia 
é trazer implicações positivas para a sua prática profissional.
AQUINO, I. G. C. Trabalho e Serviço Social: os fundamentos teórico, metodológico e 
histórico da análise. Rio de Janeiro, 2010. Tese (Doutorado em Serviço Social) – Escola 
de Serviço Social, Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2010.
ARRUDA, D. Sistemas de informações e alocação de recursos. 1998. Dissertação (Mestrado 
em Saúde Coletiva) – Instituto de Medicina Social da Universidade Estadual do Rio de 
Janeiro, Rio de Janeiro, 1998. 
BRASIL. Lei nº. 8.662, de 7 de junho de 1993. Dispõe sobre a profissão de Assistente Social 
e dá outras providências. Brasília, DF, 1993. Disponível em: <http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/LEIS/L8662.htm>. Acesso em: 24 nov. 2018.
CARDOSO, M. F. M. Reflexões sobre Instrumentais em Serviço Social: observação sensível, 
entrevista, relatório, visitas e teorias de base no processo de intervenção social. São 
Paulo: LCTE, 2008. 
Habilidades e técnicas de abordagem8
GUERRA, Y. A instrumentalidade do Serviço Social. São Paulo: Cortez, 2012. 
IAMAMOTO, M. V. O serviço social na contemporaneidade: trabalho e formação profis-
sional. 20. ed. São Paulo: Cortez, 2011.
IAMAMOTO, M. V. O Serviço Social na contemporaneidade: dimensões históricas, teóricas 
e ético-políticas. Fortaleza: Expressão Gráfica, 1997. (Coleção debate n. 6). 
LAMEIRAS, A. C. Diagnóstico social. 2015. Disponível em: <https://servicosocial.pt/
diagnostico-social/>. Acesso em: 24 nov. 2018.
MOTA, A. E. Sobre a crise da seguridade social no Brasil. Cadernos ADUFRJ, Rio de 
Janeiro, n. 4, p. 4–7, maio 2000.
TRINDADE, R. L.; KOURMOWYON, E. Um novo olhar para a questão dos instrumentos 
técnico-operativos em Serviço Social. Revista Serviço Social & Sociedade, São Paulo, ed. 
especial, ano XV, n. 67, p.145–158, 2001.
TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em 
educação. São Paulo: Atlas, 1987.
VARGAS, M. (Org.). História da técnica e tecnologia no Brasil. São Paulo: Ed. Universidade 
Estadual Paulista, 1994.
Leitura recomendada
MARTINELLI, M. L.; KOUMROUYAN, E. Um novo olhar para a questão dos instrumentais 
técnico-operativos em Serviço Social. Revista Serviço Social & Sociedade, São Paulo, n. 
54, 1994.
9Habilidades e técnicas de abordagem
Conteúdo:
ESTRATÉGIAS
E TÉCNICAS EM 
SERVIÇO SOCIAL I
Camila Muniz 
Assumpção
Abordagem individual
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Descrever o processo histórico da utilização da abordagem individual 
no Serviço Social e as suas principais teorias.
  Identificar a abordagem individual como um instrumento utilizado 
pelo Serviço Social.
  Refletir sobre a utilização da abordagem individual no Serviço Social.
Introdução
O trabalho do assistente social visa à garantia dos direitos sociais. Com 
esse intuito, o profissional planeja as abordagens que melhor favorece-
rão a efetividade das suas ações. Essas ações podem se dar de diversas 
maneiras. Uma delas é a abordagem individual. 
Neste capítulo, você vai aprofundar seus conhecimentos sobre abor-
dagem individual, entendendo quando e como ela é utilizada. Vamos 
também abordar sua importância na relação entre o profissional e o 
usuário do serviço. 
O assistente social trabalha no amparo pessoas que de alguma forma 
não têm acesso à cidadania, ajudando-os a resolver problemas ligados a 
educação, habitação, emprego, saúde. É uma profissão de cunho assis-
tencial, ou seja, voltada para a promoção do bem-estar físico, psicológico 
e social. O profissional pode trabalhar em empresas privadas, órgãos 
públicos e ONGs orientando e acompanhando pessoas e desenvolvendo 
programas de assistência dirigidos a diversos públicos. 
Teorias da abordagem individual
O Serviço Social, desde o seu surgimento até o fi nal da década de 1970, teve 
sua prática profi ssional orientada por uma racionalidade conservadora, valendo-
-se de referências teórico e ideoculturais baseadas no positivismo empirista 
e pragmatista. Segundo Brites e Sales (2001), as concepções de homem e de 
sociedade legitimadas pelo neotomismo, pelo pensamento conservador e pelo 
positivismo eliminavam, no âmbito da formação e do exercício profi ssional, a 
compreensão sobre a substância desigual da sociedade capitalista, considerada 
como natural, harmônica e capaz de realizar as necessidades individuais e 
sociais. Reduziam também a dimensão ético-política da prática profi ssional, em 
nome de uma neutralidade axiológica, afi nada com a necessidade de legitimar 
a suposta face humanitária do Estado e do empresariado.
O neotomismo retomava a doutrina de São Tomaz de Aquino, objetivando 
unir a razão e a fé, ou a ciência e a religião. Como princípio básico, tinha a 
dignidade da pessoa humana, entendendo que a pessoa humana, por ser racio-
nal, tem a capacidade de escolher, de saber e de ter vontade. Essa dimensão 
racional produz o princípio da consciência em si e da liberdade. Em uma 
análise crítica dessa teoria, destaca-se o imediatismo e o não questionamento 
da ordem vigente.
Por sua vez, o pensamento conservador é onde se fundamenta a rígida 
linearidade entre sociedade e natureza, tendo como base a ideia de a vida 
social ser regida por leis sociais invariáveis. Sendo as leis sociais invariáveis, 
cabe ao indivíduo aceitar a sua condição diante dos males inevitáveis. O 
Serviço Social nasce, nesse contexto, embebido por tais pensamentos, com a 
intervenção profissional inclinada à manutenção da ordem vigente.
Já o positivismo entendia que a sociedade é regulada por leis naturais. Nessa 
visão, a realidade social é formada por partes isoladas, e não se tem interesse 
em conhecer a história e as consequências dos fatos. Tal análise fragmentada 
da realidade compromete a prática profissional do Serviço Social, pois são 
realizados estudos singulares desvinculados da análise de totalidade, e as 
relações sociais são analisadas por meio dos fenômenos sociais, isolados e fixos.
A partir de 1945, o Serviço Social aliou-se às técnicas funcionalistas vindas 
da sociologia norte-americana, sendo esta uma base para instrumentalizar a 
investigação e a intervenção na realidade social. As teorias de caso, grupo e 
comunidade formaram a tríade metodológica que orientou o Serviço Social 
na busca da integração do homem ao meio social. O serviço social de caso 
centrava-se na personalidade do “cliente” e buscava formalizar mudanças no 
indivíduo a partir de novas atividades e comportamentos. O indivíduo era 
visto como um elemento que deveria ser trabalhado, no sentido de ajustá-lo 
ao meio social e fazê-lo cumprir bem seu papel no sistema vigente.
De acordo com Richmond (1915 apud ANDRADE, 2008, p. 280), “O 
Serviço Social de Casos é o processo que desenvolve a personalidade através 
de um ajustamento consciente, indivíduo por indivíduo, entre os homens e seu 
Abordagem individual2
ambiente”. Esse método se caracterizou pela importância dada à informação 
e à observação. Tinha-se o sujeito como quadro de referência, e o método era 
estabelecido com base nas fases de estudo, diagnóstico e tratamento das teorias 
sociopsicológicas, que possibilitavam um elo entre os aspectos psicológicos 
e sociais.
Segundo Richmond (1915 apud ANDRADE, 2008, p. 281), “o diagnóstico 
social é a tentativa para chegar àdefinição, tão exata quanto possível, de uma 
situação social ou da personalidade do cliente”. Hamilton (1958) considera o 
diagnóstico como uma opinião profissional quanto à natureza do problema e 
quanto às reservas e às capacidades em potencial do cliente. O atendimento e 
a solução das necessidades de adaptação é o que propunham as instituições de 
prestação de serviços sociais, às quais cabia a administração dos conflitos ou 
desajustamentos, que poderiam se constituir, em âmbito maior, nas chamadas 
rupturas de equilíbrio.
O tratamento no Serviço Social tinha o objetivo de estabilizar ou melho-
rar a situação quanto à adaptação ou ao ajustamento social. Sendo assim, o 
serviço social de caso pode ser concebido como um instrumento ou meio 
para liberação, no qual se utilizava a abordagem individual com o objetivo de 
atuar nos fatores causais ou problemas em potencial interligados à situação 
de saúde, nos contextos socioeconômico, cultural e emocional. Sendo assim, 
a abordagem individual era utilizada como instrumento de identificação de 
situações sociais e problemas comuns à população.
Em meados de 1960, surgiu um momento importante no desenvolvimento 
do Serviço Social como profissão, com uma proposta de transformação da 
sociedade que surgiu na América Latina. Nessa década, o mundo passou por 
grandes transformações, e o Serviço Social começou a perceber a dimensão 
política de sua prática. Nesse momento surgiu, então, o que se denomina 
movimento de reconceituação, no qual, no âmbito do Serviço Social, ocorreu 
a contestação do tradicionalismo e do conservadorismo profissional. Houve 
uma crítica por parte dos reconceituadores sobre a postura de neutralidade 
e sobre a prática assistencialista cuja proposta era individualizante, tratando 
as situações de forma isolada e não percebendo os indivíduos como classe, e 
sim como subalternos, carentes e pobres.
No Serviço Social tradicional, havia a adoção de instrumentos e técnicas 
do serviço social de caso, grupo e comunidade baseadas na Psicologia, na 
Educação e na Sociologia; a partir do movimento de reconceituação, o padrão 
deixou de ser tão delimitado. Surgiu, então, uma prática não assistencialista, 
mas transformadora, comprometida com as classes populares. José Filho 
(2002, p. 57) traz a reflexão de que o Serviço Social:
3Abordagem individual
[...] no decorrer das últimas décadas, evoluiu no processo de pensar-se a si 
mesmo e à sociedade, produzindo novas concepções e autorrepresentações, 
como “técnica social”, “ação social modernizante” e, posteriormente, “pro-
cesso político transformador”. 
Em 1980, a teoria social de Marx iniciou sua interlocução com a profissão 
de maneira efetiva, e estratégias como educação popular, redefinição da prática, 
entre outras, passaram a compor a prática profissional dos assistentes sociais. 
Segundo Campagnolli (1993), nessa época, teve-se a intenção de repensar o 
instrumental técnico e sua posição no nível da ação concreta e da formação 
profissional. Sendo assim, a profissão teve um avanço no que diz respeito aos 
instrumentos e às técnicas, obtendo ganho com novos olhares e concepções 
sobre as possibilidades e os limites para a utilização dos mesmos.
Reconceituar significa dar novos conceitos ou novas interpretações para algo. Sendo 
assim, pode-se entender que o movimento de reconceituação teve esse sentido 
quando começou a questionar/refletir acerca da prática profissional, da teoria, da ética 
e da metodologia que a profissão utilizava. Surgiram, então, novos conceitos e novas 
interpretações profissionais para o Serviço Social.
Abordagem individual como instrumento
Para Battini (2004), enquanto a instrumentalidade é o modo específi co de ser 
que uma profi ssão constrói dentro das relações sociais, no confronto entre as 
condições objetivas e subjetivas do exercício profi ssional, os instrumentais 
se referem ao conjunto de instrumentos e técnicas que compõem uma prática 
profi ssional cotidiana.
As demandas que se apresentam cotidianamente para os assistentes sociais 
são o resultado de uma dinâmica complexa. Sendo assim, respostas meramente 
instrumentais vindas dos profissionais não dão conta dessa complexidade. 
Guerra (2002) reflete sobre esse fato ao relatar que as demandas com as 
quais os profissionais trabalham são totalidades saturadas de determinações, 
sejam estas econômicas, políticas, culturais ou ideológicas; sendo assim, elas 
exigem muito mais do que ações instrumentais e imediatistas. Implicam, 
Abordagem individual4
então, em intervenções que se utilizem de escolhas, que passem pelo crivo 
da vontade dos sujeitos, que se inscrevam no campo dos valores universais. 
O autor destaca, ainda, que é necessário se atentar para que as ações estejam 
conectadas a projetos profissionais nos quais se tenha referenciais teóricos e 
princípios ético-políticos.
A instrumentalidade é baseada nas dimensões que estão presentes tanto 
na formação quanto na prática do exercício profissional, as quais são deno-
minadas dimensão teórico-metodológica, dimensão ético-política e dimensão 
técnico-operativa, mostradas na Figura 1. Essas dimensões demonstram que a 
qualificação profissional do assistente social se constrói a partir dos saberes, 
das competências e das habilidades.
Figura 1. As dimensões constitutivas do Serviço Social dentro da instrumentalidade.
Dimensão
técnico-
-operativa
Dimensão
teórico-
-metodológica
Dimensão
ético-política
Instrumenta-
lidade
As dimensões são interligadas, interdependentes e se complementam, 
apesar de manterem suas especificidades. Diante disso, considerando que as 
ações profissionais condensam e expressam toda a formulação teórica, ética 
e técnica da profissão, não é possível concebê-las de forma isolada.
A intervenção profissional é identificada no processo histórico como es-
tando profundamente condicionada pelas relações entre as classes na sociedade 
e direcionada tanto para as condições materiais quanto para as condições 
sociais de vida da classe trabalhadora. Reconhece-se, portanto, que as ações 
dos assistentes sociais têm efeito no processo de reprodução da força de tra-
balho por meio da prestação de serviços sociais e, também, a partir de uma 
5Abordagem individual
dimensão social. Nessa dimensão, a assistência social incide sobre o campo 
do conhecimento, dos valores, dos comportamentos e da cultura, produzindo 
efeitos reais na vida dos sujeitos, apesar de os resultados nem sempre se 
corporificarem como coisas materiais, conforme leciona Iamamoto (1999).
A orientação das ações profissionais encontra referência na lei que regu-
lamenta a profissão, a Lei nº. 8.662/1993, e no Código de Ética Profissional. 
Assim, é na regulação ético-política da profissão, estabelecida no código de 
ética, na lei de regulamentação da profissão e nas legislações daí decorrentes, 
que se assume ética e politicamente o compromisso profissional com a classe 
trabalhadora e com movimentos e lutas sociais. Na perspectiva da emanci-
pação humana, o Serviço Social recusa todas as formas de conservadorismo, 
exploração, opressão e discriminação.
Ao atender à população usuária, o profissional muitas vezes se utiliza 
da abordagem individual, que se refere aos atendimentos individuais que 
envolvem a acolhida, o atendimento social, a entrevista individual e as visitas 
domiciliares. Isso se dá especialmente nas situações que envolvem atendimento 
a indivíduos sem vínculos familiares ou que não estejam acompanhados no 
momento da intervenção profissional.
As legislações e regulamentações profissionais estão disponíveis na página do Conselho 
Federal de Serviço Social. Acesse o link abaixo e saiba mais sobre elas.
https://goo.gl/iMqTM2
A abordagem individual no Serviço Social
O profi ssional, na sua atuação, se utiliza de instrumentos; porém, é neces-
sário estar atento que o instrumento, por si só, não particulariza o exercício 
profi ssional. É importante entender que não se pode conceber a dimensão 
técnico-operativa comodesconectada das demais dimensões — a dimensão 
ético-política e a dimensão teórico-metodológica —, pois todas são inter-
-relacionadas, constituindo uma unidade na diversidade. Santos (2013) afi rma 
que a dimensão técnico-operativa é o modo de ser da profi ssão, é uma síntese do 
Abordagem individual6
exercício profi ssional, por consistir em respostas e estratégias construídas para 
o atendimento às demandas. Síntese essa que expressa a cultura profi ssional, 
que se compõe de “conhecimentos e saberes (técnicos, teóricos e interventivos) 
da profi ssão”, ainda conforme Santos (2013, p. 28–29).
Uma das expressões da particularidade do exercício profissional é o atendi-
mento direto aos usuários. Nesse sentido, a abordagem é de extrema relevância 
na relação entre assistente social e usuário, constituindo-se como ferramenta 
fundamental para subsidiar as decisões sobre as ações a serem realizadas. Os 
dados de uma pesquisa feita entre os participantes do Simpósio “A Dimensão 
Técnico-operativa no Serviço Social: desafios contemporâneos na formação 
profissional do Assistente Social frente aos novos padrões de proteção social”, 
apresentados por Santos, Souza Filho e Backx (2013), mostram a abordagem 
como um canal de comunicação com a população, sendo entendida como 
um componente de trabalho do profissional. Sarmento (2013, p. 121) define 
a abordagem como o 
[...] contato intencional de aproximação através do qual é criado um espaço 
de diálogo crítico, para a troca de informações e/ou experiências para a aqui-
sição de conhecimento e/ou de um conjunto de particularidades necessárias 
à ação profissional e/ou o estabelecimento de novas relações de interesses 
dos usuários.
No atendimento individual, a comunicação e a defesa de direitos se concretiza 
por meio de atividades e procedimentos técnicos desenvolvidos para promover 
o entendimento, a informação e a identificação das formas de violação, bem 
como as garantias de sua efetivação, as respostas e os recursos com os quais 
os indivíduos podem contar na rede socioassistencial e nas diversas políticas 
públicas. O acesso à defesa de direitos é garantido, por exemplo, a partir da 
disponibilização de orientações sobre os órgãos de defesa existentes no território 
e sobre suas atuações, competências, meios e formas de acesso, ou quando se 
esclarece uma dúvida de onde ir e como proceder em determinadas situações.
Além de promover a informação, o atendimento individual proporciona 
a escuta, que consiste em um procedimento técnico componente do trabalho 
social que serve para iniciar vínculos e estabelecer relações de confiança entre 
o profissional e o usuário. A escuta constitui instrumento necessário para uma 
boa acolhida ao usuário e para o desenvolvimento das intervenções que se 
fizerem necessárias. Para tanto, o profissional deve ter uma escuta qualificada, 
atribuída com respeito à história do sujeito, bem como às necessidades e às 
demandas apresentadas.
7Abordagem individual
Seja em qual for a situação, o instrumento ou o procedimento, é necessário 
que o profissional se utilize da linguagem, que é uma das principais técnicas 
que o assistente social tem para a relação com a população usuária. É por 
meio dela que se pode conhecer a realidade e interpretá-la, podendo também 
desenvolver o trabalho socioeducativo. 
A abordagem individual no Serviço Social é um modo de estabelecer 
a intervenção a partir de uma perspectiva denominada socioeducativa. Na 
operacionalização desse trabalho, não se estabelece “[...] um padrão/modelo 
operacional para o desenvolvimento das ações que o materializam [...] é impor-
tante que os princípios norteadores da profissão estejam claramente conectados 
a uma forma de proceder [...]”, conforme lecionam Lima e Mioto (2011, p. 
227). Na abordagem individual, as atividades do trabalho socioeducativo são 
direcionadas à orientação e ao reconhecimento do território no qual o usuário 
vive; ou seja, atenta-se ao modo como vive o sujeito e às suas relações. Trata-se 
de um trabalho em que se estabelecem ações de caráter educativo e político, 
uma vez que tanto o usuário como o assistente social se reconhecem como 
sujeitos desse processo. Ou seja, o usuário pode e deve ser identificado como 
um dos protagonistas do processo interventivo, não somente como alguém 
que está recebendo serviços advindos das políticas públicas e sociais, mas 
como sujeito da intervenção profissional.
ANDRADE, M. A. R. A. O metodologismo e o desenvolvimentismo no Serviço Social 
brasileiro: 1947 a 1961. Serviço Social & Realidade, Franca, v. 17, n. 1, p. 268–299, 2008. 
BATTINI, O. A dimensão técnico-operativa no exercício profissional do assistente social. 2004. 
Texto elaborado para o Curso de atualização sobre Instrumentalidade no Trabalho do 
Assistente Social, realizado na PUC/PR em junho de 2004. (Texto-aula).
BRITES, C. M.; SALES, M. A. Ética e práxis profissional. Brasília, DF: ABEPSS–Grafline, 2001.
CAMPAGNOLLI, S. R. A. P. Uma relação complexa: o Serviço Social e seu instrumental 
técnico. Dissertação (Mestrado em Serviço Social) – Pontifícia Universidade Católica 
(PUC). Campinas – SP, 1993.
GUERRA, Y. D. A instrumentalidade do Serviço Social. São Paulo: Cortez, 2002.
HAMILTON, G. Teoria e prática do Serviço Social de casos. 3. ed. Rio de Janeiro: Agir, 1958.
IAMAMOTO, M. V. O Serviço Social na contemporaneidade: trabalho d formação profis-
sional. 2. ed. São Paula: Cortez, 1999.
Abordagem individual8
JOSÉ FILHO, P. M. A família como espaço privilegiado para a construção da cidadania. 
Franca: Unesp–FHDSS, 2002. (Dissertações e teses, n. 5).
LIMA, T. C. S.; MIOTO, R. C. T. Ações socioeducativas e serviço Social: características e 
tendências na produção bibliográfica. Temporalis. Brasília, DF, v. 11, n. 21, p. 211–237, 
jan./jun. 2011.
SANTOS, C. M. A dimensão técnico-operativa e os instrumentos e técnicas no Serviço 
Social. Revista Conexão Geraes, Minas Gerais, v. 2, n. 3, 2013. Disponível em: <http://www.
cress-mg.org.br/arquivos/Revista-3.pdf>. Acesso em: 6 dez. 2018.
SANTOS, C. M.; SOUZA FILHO, R.; BACKX, S. A dimensão técnico-operativa do Serviço 
Social: questões para reflexão. In: SANTOS, C. M.; BACKX, S.; GUERRA, Y. (Org.). A di-
mensão técnico-operativa no Serviço Social: desafios contemporâneos. 2. ed. Juiz de 
Fora: UFJF, 2013.
SARMENTO, H. B. M. Instrumental técnico e o Serviço Social. In: SANTOS, C. M.; BACKX, 
S.; GUERRA, Y. (Org.). A dimensão técnico-operativa no Serviço Social: desafios contem-
porâneos. 2. ed. Juiz de Fora: UFJF, 2013.
Leituras recomendadas
BOURGUIGNON, J. A. A particularidade histórica da pesquisa no Serviço Social. São Paulo: 
Veras; Ponta Grossa: UEPG, 2008.
CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL (CFESS). Código de ética profissional dos as-
sistentes sociais: lei 8.662/93 de regulamentação da profissão. Brasília: CFESS, 1993. 
GUERRA, Y. D. A dimensão técnico-operativa do exercício profissional. In: SANTOS, C. 
M.; BACKX, S.; GUERRA, Y. (Org.). A dimensão técnico-operativa no Serviço Social: desafios 
contemporâneos. 2. ed. Juiz de Fora: UFJF, 2013.
RICHMOND, M. Caso social individual. Buenos Aires: Humanitas, 1962. cap. 4, p. 60-83.
SARMENTO, H. B. M. Instrumentos e técnicas em serviço social: elementos para uma redis-
cussão. 1994. 329 f. Dissertação (Mestrado em Serviço Social) – Pontifícia Universidade 
Católica de São Paulo, São Paulo, 1994.
9Abordagem individual
Conteúdo:
ESTRATÉGIAS
E TÉCNICAS EM 
SERVIÇO SOCIAL I
Camila Muniz 
Assumpção
Abordagem coletiva
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Descrever os principais conceitos teóricos sobre a abordagem coletiva 
enquanto instrumento do Serviço Social.
  Definir as técnicas de abordagem coletivas utilizadas pelo(a) assistente 
social e quando elas podem ser utilizadas.
  Analisar o processo de constituição das abordagens coletivas no 
Serviço Social ao longo da história.
Introdução
O exercício profissional do assistentesocial está na esfera das relações 
sociais e tem como objeto de trabalho a questão social, com suas diversas 
expressões. Essa profissão envolve a formulação e a implementação de 
propostas para o enfrentamento dessa questão, por meio de políticas 
sociais, públicas, empresariais, de organizações da sociedade civil e de 
movimentos sociais. 
Segundo Sarmento (2014, p. 180), a intervenção do Serviço Social se 
dá pela “[...] ação no cotidiano de vida dos trabalhadores e não traba-
lhadores, pela interferência nos modos de pensar, agir, sentir e fazer das 
pessoas e instituições [...] visando à transformação do homem, de suas 
relações sociais e do curso dos acontecimentos”. Sendo assim, a dimensão 
interventiva, segundo Torres (2009), evidencia não somente a construção, 
mas também a efetivação das ações desenvolvidas pelo profissional. 
Representa, assim, a materialidade da intervenção do assistente social.
Os procedimentos utilizados para a intervenção são diversos, e um 
deles é no âmbito coletivo. Sendo assim, neste capítulo, você vai estudar 
a abordagem coletiva — ou abordagem de grupo, como é denominada 
por alguns autores — no Serviço Social, decifrando os seus principais 
conceitos teóricos e as técnicas utilizadas pelos profissionais. Por fim, 
você vai analisar a constituição das abordagens coletivas no Serviço 
Social ao longo da história.
Conceitos teóricos
Abordagem vem da palavra abordar, que signifi ca aproximar-se, interpelar, 
falar, conversar, desenvolver, explanar. Já coletivo é o adjetivo que abrange 
várias pessoas ou coisas. Nesse sentido, a abordagem coletiva é o momento de 
conversar no coletivo, de desenvolver situações com várias pessoas, possibili-
tando a troca de experiências, informações e um leque de novos conhecimentos.
Sarmento (2013) define abordagem como um contato que tem a intenção 
de proporcionar aproximação, sendo criado em um espaço de diálogo crítico, 
servindo para a troca de informações e/ou experiências, para a aquisição de 
conhecimento e/ou de um conjunto de particularidades necessárias à ação 
profissional e/ou o estabelecimento de novas relações de interesses dos usuários. 
Sendo assim, a abordagem pode ser entendida como uma aproximação, com 
um objetivo claro de se estabelecer uma proximidade entre o profissional e 
o usuário.
Cavalcante (1979) afirma as demandas que surgem durante uma atividade 
com um grupo podem se apresentar de forma explícita ou permanecer latentes 
durante a reunião. Contudo, mesmo quando essas demandas são respondidas, 
elas não são relacionadas com as questões estruturais da sociedade nem com 
os reflexos de realidades históricas. Elas dizem respeito a uma análise mais 
individualizada ou restrita ao grupo que está em atividade.
Eiras (2009) afirma que os grupos e as práticas grupais resultam do movi-
mento da realidade social — para o qual é necessário propor análises —, dos 
aspectos externos que interferem no processamento dos fenômenos grupais 
— como a historicidade e as questões materiais, ideológicas e políticas —, bem 
como da luta de classes, e não somente da compreensão das relações internas.
Vileirine (2016) destaca o pensamento de Martin Baró, que caracteriza 
grupo como a criação de vínculos de segurança e confiança. Ou seja, entende-se 
que os grupos se darão a partir do momento em que as pessoas possuírem um 
vínculo, por meio do qual se mobilizam para satisfazerem interesses materiais 
e/ou imateriais, individuais e coletivos. O autor reflete sobre o processo de 
movimento/articulação do grupo, afirmando que ele só se dá mediante a 
“mútua representação interna”. Ou seja, tem-se o trabalho coletivo, com 
objetivos comuns; porém, é necessário perceber que, por mais que o objetivo 
seja comum, trabalha-se a convergência de representações, pois cada sujeito 
possui uma representação diferente das mesmas situações.
Dessa maneira, cabe refletir sobre o pensamento de Rodrigues (1978, p. 
36 apud SILVEIRA; VIEIRA, 2016, p. 30), que caracteriza grupo como “um 
todo cujas propriedades são diferentes da soma das partes que o compõem; 
Abordagem coletiva2
o grupo e o seu meio constituem um campo social dinâmico”. Assim, o 
grupo é um todo dinâmico, pois, apesar de ser um conjunto de pessoas, 
não é simplesmente a soma dos participantes. Isso significa que qualquer 
mudança que ocorra com um dos participantes pode interferir no estado do 
grupo como um todo. 
Pichon-Rivière (1998) concebe grupo como um conjunto restrito de pessoas 
que, conectadas por invariantes de tempo e espaço, se propõem a realizar uma 
tarefa, que constitui a finalidade do grupo. Para tanto, as pessoas interagem 
entre si e partilham o que o autor chama de uma "mútua representação interna", 
que articula as constantes de tempo e espaço nas quais os indivíduos se situam.
Um dos conceitos de grupo mais utilizado no Serviço Social é o conceito 
de grupo operativo. O grupo operativo é considerado uma técnica de interven-
ção que situa a pessoa como protagonista de seu processo de aprendizagem. 
Nesse grupo, pode-se encontrar o conjunto de aspectos denominado MMM: 
motivação, mobilidade e mudanças. Motivação para ir além, para as tarefas 
expostas; mobilidade nos papéis a serem desempenhados; e mudanças a serem 
efetuadas de acordo com a necessidade. 
A aprendizagem centrada nos processos grupais traz destaque para a 
possibilidade de uma nova elaboração de conhecimento, integração e questio-
namentos acerca de si e do meio. A aprendizagem é um processo contínuo em 
que comunicação e interação são indissociáveis, na medida em que se aprende 
a partir da relação com os outros. Na concepção de Pichon-Rivière, o grupo se 
apresenta como instrumento de transformação da realidade, e seus integrantes 
passam a estabelecer relações grupais que vão se constituindo à medida que 
começam a compartilhar objetivos comuns, a ter uma participação criativa e 
crítica e a poder perceber como interagem e se vinculam.
Ou seja, a técnica de Pichon-Rivière possui um posicionamento político-
-ideológico que compreende os sujeitos enquanto indivíduos inseridos em 
uma realidade concreta. Entretanto, entende também que instrumentalizar 
seus integrantes possibilita condições para que estes sejam capazes de serem 
eles mesmos os operadores da mudança e da transformação dessa realidade. 
Cabe ressaltar que, de acordo com as orientações do conjunto que abrange 
o Conselho Federal de Serviço Social e os Conselhos Regionais de Serviço 
Social (CFESS/CRESS), a formação profissional do assistente social não está 
habilitada para o desenvolvimento de trabalhos no campo terapêutico. Dessa 
forma, os trabalhos em grupos devem ser utilizados apenas como recurso para 
o desenvolvimento de trabalhos educativos.
Seja em trabalhos em grupos ou em outra ação profissional, torna-se 
relevante entender a importância da relação entre assistente social e usuário, 
3Abordagem coletiva
pois a abordagem coletiva se constitui como ferramenta imprescindível para 
subsidiar as decisões sobre as ações a serem realizadas, interferindo no 
planejamento do trabalho do assistente social e no cotidiano dos usuários. 
Geralmente, quando o assistente social trabalha em programas de repasse 
de renda, por exemplo, é solicitado que o acompanhamento seja realizado a 
partir da abordagem coletiva. Para tanto, é necessário que seja enfocado o 
reconhecimento dos sujeitos que participam do grupo: quem são; quais as 
condições objetivas de vida; quais os objetivos para participar do grupo. É 
um trabalho que explicita a identificação de lideranças, a discussão do sig-
nificado da participação, a análise das atividades desenvolvidas, o perfil dos 
participantes, a relação entre os protagonistas e as demandas apresentadas, 
entre outros aspectos. Para tanto, o profissional se utilizará de técnicas para 
embasar a abordagem.
A técnica dos grupos operativos começou a ser sistematizada pelo psiquiatra Pichon-
-Rivière, a partir de uma experiência no hospital Las Mercedes, em Buenos Aires, por

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