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ESTRATÉGIAS E TÉCNICAS EM SERVIÇO SOCIAL II Daniella Tech Doreto Abordagens Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer a importância da instrumentalidade para o Serviço Social. Analisar a instrumentalidade do Serviço Social a partir da constru- ção dos seus arcabouços teórico-metodológico, ético-político e técnico-operativo. Descrever as abordagens do Serviço Social no mundo do trabalho em um contexto capitalista. Introdução A instrumentalidade pode ser entendida como uma capacidade que vai sendo construída na medida em que se concretizam objetivos. Trata-se de um elemento essencial para o Serviço Social na sua perspectiva de efetivação dos direitos dos usuários e reconhecimento social da profissão. Ela se constrói a partir de referenciais teórico-metodológico, ético-político e técnico-operativo, que se articulam na concretização dos objetivos profissionais. No que se refere ao Serviço Social, é importante destacarmos ainda as diversas possibilidades de abordagens que se materializam na prática profissional e que dão intencionalidade para a ação profissional. Neste capítulo, serão oferecidos a você os elementos mais importantes para que compreenda a importância da instrumentalidade para o Serviço Social, bem como para que analise a instrumentalidade a partir dos refe- renciais teórico-metodológico, ético-político e técnico-operativo. Serão, ainda, descritas as abordagens do Serviço Social no mundo do trabalho em um contexto capitalista, uma vez que, no cotidiano de trabalho, o assistente social possui o desafio de decifrar e interpretar as lógicas desse sistema, principalmente no que se refere às mudanças ocorridas no mundo do trabalho. C01_Abordagens.indd 1 13/02/2019 08:36:26 A importância da instrumentalidade para o Serviço Social Para iniciar nossas considerações sobre a importância que a instrumentalidade possui para o Serviço Social, precisamos relembrar alguns aspectos relevantes sobre esse tema. De acordo com as considerações feitas por Guerra (2007, documento on-line), a instrumentalidade se constitui em “[...] uma propriedade e/ou capacidade que a profi ssão vai adquirindo na medida em que concretiza objetivos. Ela possibilita que os profi ssionais objetivem sua intencionalidade em respostas profi ssionais [...]”. A autora nos mostra, ainda, que essa capacidade se adquire por meio do exercício profi ssional, possibilitando que os assistentes sociais transformem as condições existentes em uma determinada realidade cotidiana, sejam elas objetivas, subjetivas ou interpessoais. Nesta perspectiva, Guerra (2007, documento on-line) conclui que: Ao alterarem o cotidiano profissional e o cotidiano das classes sociais que demandam a sua intervenção, modificando as condições, os meios e os ins- trumentos existentes, e os convertendo em condições, meios e instrumentos para o alcance dos objetivos profissionais, os assistentes sociais estão dando instrumentalidade às suas ações. Como pode ser observado, a prática profissional é dotada de instrumentali- dade quando os assistentes sociais conseguem recriar, modificar ou encontrar estratégias para transformar o que está posto na sua realidade para atingir seus objetivos profissionais. Assim, Guerra (2007, documento on-line) destaca que a instrumentalidade “[...] é condição necessária de todo trabalho social enquanto categoria constitutiva, um modo de ser, de todo trabalho [...]”. Com base no resgate de alguns aspectos que envolvem a instrumentalidade, refletiremos a partir de agora sobre a sua importância para o Serviço Social. Partiremos do pressuposto de que a instrumentalidade é condição essencial para a atuação do assistente social. Isso fica claro se pensarmos no exercício profissional relacionado às políticas sociais, conforme evidenciado por Guerra (2007). Segundo ela, dada as configurações e a natureza das políticas sociais, estas se apresentam como espaços de intervenção que imprimem certas “[...] formas, conteúdos e dinâmicas ao exercício profissional [...]” (GUERRA, 2007, documento on-line), pois, no contexto em que vivemos, as políticas sociais são mais focalizadas, fragmentadas, restritivas, com caráter compensatório e como se não tivessem relação alguma com o contexto social, econômico e político vigente. As características citadas podem influenciar o desenvolvimento do Abordagens2 C01_Abordagens.indd 2 13/02/2019 08:36:26 exercício profissional, limitando-o a uma ação mais fragmentada, pontual e restritiva. Assim, ainda segundo Guerra (2007), a instrumentalidade na ação profissional é um elemento essencial, sem o qual o profissional não terá con- dições de analisar a realidade imposta em seu cotidiano, nem de modifica-la, e tampouco terá condições de atribuir sentido à sua ação, de forma a atingir os seus objetivos profissionais. Nessa mesma perspectiva, Sousa (2008) coloca que a instrumentalidade é elemento essencial para o Serviço Social, consi- derando ser esta uma profissão eminentemente interventiva, que tem como objetivo produzir mudanças na vida de seus usuários. Cabe destacar ainda que a instrumentalidade não se refere a um conjunto de instrumentos dos quais o profissional lança mão para a sua intervenção, mas sim a uma capacidade para transformar a realidade, ao passo que os instrumentos são os elementos necessários para a operacionalização da prática profissional, como entrevistas, observação, visita domiciliar, relatório, parecer social. Iamamoto (2007, p. 1-2) faz a seguinte consideração: “[...] vive-se em uma época de regressão de direitos e destruição do legado de conquistas históricas dos trabalhadores em nome da defesa, quase religiosa, do mercado e do capital [...]”, e complementa ainda, “[...] crescem, com isso, as desigualdades e, com elas, o contingente de destituídos de direitos civis, políticos e sociais [...]”. Assim, sendo essa realidade ainda atual, o profissional de Serviço Social depara-se em seu cotidiano com situações que exigem ir além do imediato, na tentativa de ultrapassar os limites impostos pelo contexto social, político e econômico na luta pela garantia do direito dos usuários. Com base no exposto, podemos dizer que a instrumentalidade mais uma vez se mostra de funda- mental importância para o Serviço Social, considerando-se a capacidade que os profissionais possuem de transformar a realidade posta em seu cotidiano, o que pode influenciar a vida dos usuários dessa profissão. Guerra (2007) menciona também que a instrumentalidade é importante para o Serviço Social, pois proporciona o reconhecimento social da profissão. Na visão da autora, a profissão possui instrumentalidade, a qual é construída e reconstruída pelos profissionais. Sua percepção é de que essa condição é inerente ao trabalho, e ocorre, pois, que os indivíduos, ao atenderem suas necessidades de sobrevivência, relacionam-se com outros e transformam a natureza e a si próprios durante o processo de trabalho. A capacidade que o homem utiliza para modificar a natureza, portanto, se expande para as demais relações humanas, alcançando o nível da reprodução da vida social. Podemos questionar: qual a importância disso? Trata-se do fato de que, ao transformar a realidade por meio do trabalho, o assistente social pode encontrar os elementos necessários para atingir as suas finalidades na atuação profissional e colaborar 3Abordagens C01_Abordagens.indd 3 13/02/2019 08:36:26 para a efetivação dos direitos de seus usuários. Em outras palavras, podemos inferir que o reconhecimento social da profissão é resultado “[...] das respostas profissionais frente às demandas das classes [...] dado que por meio dele o Serviço Social pode responder às necessidades sociais que se traduzem (por meio de muitas mediações) em demandas (antagônicas) advindas do capital e do trabalho [...]” (GUERRA, 2007, documento on-line). Ainda segundo a autora, isso se deve ao fatode que “[...] as diversas modalidades de intervenção profissional têm um caráter instrumental, dado pelas requisições que tanto as classes hegemônicas quanto as classes populares lhe fazem [...]” (GUERRA, 2007, documento on-line). No que se refere às respostas dadas pelo profissional, a instrumentalidade se expressa, de acordo com Guerra (2007): nas funções e atribuições requisitadas aos assistentes sociais, como, por exemplo, executar, planejar, implementar e operacionalizar políticas, dentre outras funções; no cotidiano das classes mais vulneráveis, no que se refere às mudanças que a prática profissional dos assistentes sociais pode proporcionar; no cotidiano dos serviços e dos profissionais “[...] no qual o assistente social exerce sua instrumentalidade, o local em que imperam as deman- das imediatas, e consequentemente, as respostas aos aspectos imediatos, que se referem à singularidade do eu, à repetição, à padronização [...]” (GUERRA, 2007, documento on-line); nas formas de intervenção que surgem em decorrência das demandas trazidas pelas classes sociais, e que se apresentam no nível do imediato, do fragmentado, manipulatório e que permanece desconectado de uma conjuntura ou determinação maior. Foi dito que o Serviço Social é uma profissão fundamentalmente interventiva e que se utiliza de sua capacidade construída e reconstruída ao longo da história para modificar a realidade dos sujeitos com os quais trabalha. No entanto, destaca-se que é comum encontrar entre os profissionais duas visões distintas sobre as possibilidades de atuação. A primeira delas é a postura fatalista, que contempla análises que naturalizam a vida social e consideram poucas possibilidades de realizar uma atuação profissional crítica e transformadora. A outra postura é a messiânica, pautada em uma visão heroica do Serviço Social, ingênua e que desconsidera o sentido das construções coletivas. Abordagens4 C01_Abordagens.indd 4 13/02/2019 08:36:26 Guerra (2007) aponta que a utilidade social de uma profissão é resultado das necessidades sociais e, nesse sentido, é importante pensar a instrumentalidade como algo que proporciona ao assistente social ir além do que é visível no cotidiano e no contexto em que está inserido. Há que se destacar, portanto, que a instru- mentalidade se relaciona com ir além da especificidade da profissão e requer a articulação das dimensões teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa. O reconhecimento de tais dimensões implica em conceber o Serviço Social como totalidade, e a instrumentalidade, como mediação. Isso quer dizer passar de uma ação simplesmente instrumental para uma atuação profissional crítica e competente. No entanto, o movimento contrário também é possível: “[...] que as referências teóricas, explicativas da lógica e da dinâmica da sociedade, possam ser remetidas à compreensão das particularidades do exercício profissional e das singularidades do cotidiano [...]” (GUERRA, 2007, documento on-line). A partir dessas considerações, podemos constatar o quanto a instrumenta- lidade se faz importante para o exercício profissional do assistente social, seja no que se refere à possibilidade de transformar realidades e efetivar direitos, seja no reconhecimento social que possibilita à profissão, seja pela presença da mediação e a possibilidade do desenvolvimento de uma prática profissional crítica e competente. Dimensões teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa da instrumentalidade do Serviço Social Após relembrar os principais elementos sobre a instrumentalidade e sua im- portância para o Serviço Social, faz-se necessário dizer que esta capacidade desenvolvida ao longo da profi ssão, no sentido de transformar realidades, não acontece de forma isolada, e, para tanto, precisamos inseri-la nas discussões sobre as dimensões teórico-metodológicas, ético-política e técnico-operativa, as quais contribuem para o entendimento sobre as especifi cidades da instru- mentalidade na profi ssão. O Serviço Social é uma profissão inscrita na divisão social do trabalho, e, em sua origem, era apenas a dimensão técnica que assegurava a competência e a eficácia do profissional (SOUSA, 2008). Em outras palavras, eram os resultados imediatos decorrentes da prática profissional que asseguravam a legitimidade e o reconhecimento da profissão. Esta visão unilateral começou a ser superada a partir do Movimento de Reconceituação, que tinha, dentre outros objetivos, dar um caráter científico para a profissão (SOUSA, 2008). 5Abordagens C01_Abordagens.indd 5 13/02/2019 08:36:26 Netto (2004 apud SOUSA, 2008, p. 121) aponta que, dentro dessa perspectiva, a corrente conhecida por ele como “[...] Intenção de Ruptura [...]” buscava romper com as visões conservadoras da profissão, tentando fazer com que esta se dedicasse à produção de um conhecimento crítico a respeito da reali- dade social, para que o Serviço Social “[...] pudesse construir os objetivos e (re)construir objetos de sua intervenção, bem como responder às demandas sociais colocadas pelo mercado de trabalho e pela realidade. Assim, pôde o Serviço Social aprofundar o diálogo crítico e construtivo com diversos ramos das chamadas Ciências Humanas e Sociais [...]”. Vale destacar que o Movimento de Reconceituação (deflagrado em meados da década de 60) e a proposta de renovação do Serviço Social brasileiro proporcionaram a base para a ruptura da profissão com o tradicionalismo profissional e a sua aproximação com a teoria marxista. Além disso, esse contexto favoreceu a reformulação do Código de Ética Profissional do Serviço Social (1986), que foi resultado de um processo de mobilização da categoria. Sousa (2008), ainda se utilizando do conhecimento de Netto, destaca também que foi a partir do contexto citado que o Serviço Social entrou no período chamado pelos autores de “maturidade acadêmica e profissional”, que buscou reunir novos elementos para o status de competência profissional, não se limitando mais à dimensão técnica. Assim, são colocadas ao Serviço Social três dimensões que devem fazer parte do trabalho do assistente social: ético-política: as discussões iniciadas com o Movimento de Reconceitu- ação apontavam que o assistente social não poderia ser um profissional “neutro” e “apolítico”, pois deveria confirmar o seu compromisso com as classes subalternas. Para Sousa (2008, p. 122), o exercício profissional do assistente social acontece em meio a relações de poder originárias do interior da sociedade capitalista, “[...] relações essas que são contraditó- rias. Assim, é fundamental que o profissional tenha um posicionamento político frente às questões que aparecem na realidade social, para que possa ter clareza de qual é a direção social da sua prática [...]”. Dessa forma, tanto do ponto de vista ético quanto político, o profissional passa a adotar valores éticos e morais que embasam a sua prática e que são expressos no Código de Ética Profissional. Em outras palavras, e do Abordagens6 C01_Abordagens.indd 6 13/02/2019 08:36:27 ponto de vista da instrumentalidade, podemos dizer que a dimensão ético-política se refere aos objetivos e à finalidade das ações baseadas em princípios éticos e valores humanos; teórico-metodológica: refere-se à qualificação do profissional, a qual o possibilita conhecer o contexto social, econômico, político e cultural com o qual trabalha. A qualificação teórico-metodológica permite que esse conhecimento da realidade não aconteça de forma simplista e baseada no senso comum, e sim de forma crítica, possibilitando ao assistente social entender a dinâmica da sociedade como algo além dos seus elementos aparentes, na busca pela compreensão da essência dos fenômenos, com vistas a construir novas possibilidades e estratégias profissionais (SOUSA, 2008). Do ponto de vista da instrumentalidade, a dimensão teórico-metodológica busca articular meios e instrumentos para concretizaros objetivos da ação profissional a partir do conheci- mento mais aprofundado da realidade; técnico-operativa: com base nesta dimensão, propõe-se que o pro- fissional conheça e se aproprie de um conjunto de técnicas que lhe permita desenvolver a prática profissional junto à população usuária e à instituição empregadora, assegurando, por meio de uma intervenção qualificada, respostas às demandas trazidas pelos empregadores e pela população usuária. Para Mioto e Lima (2009), a discussão sobre essa dimensão passa pelo reconhecimento da complexidade dos diversos espaços socio-ocupacionais nos quais o assistente social transita e pela natureza de suas ações nesses diferentes espaços. As dimensões citadas não se operacionalizam no cotidiano profissional de forma isolada, mas sim articuladas umas às outras. Na verdade, Carvalho e Iamamoto (2011) apontam que as três dimensões não podem ser desenvol- vidas de forma separada, a fim de que o profissional não tenha uma ação fragmentada e despolitizada, como acontecia no passado histórico do Serviço Social. Nessa perspectiva, Sousa (2008) argumenta que a articulação das três dimensões tem sido um desafio para os profissionais e estudantes de Serviço Social no que se refere à necessidade da articulação entre teoria e prática, pesquisa e ação, ciência e técnica, visto que o contrário pode gerar uma ação desqualificada por parte do assistente social e, ainda, infringir os princípios éticos que direcionam a atuação profissional. Iamamoto (2007, p. 21), em sua análise sobre as dimensões citadas e sua relação com a profissão, menciona que o Serviço Social é uma profissão 7Abordagens C01_Abordagens.indd 7 13/02/2019 08:36:27 liberal que dispõe de “[...] estatutos legais e éticos que atribuem uma autono- mia teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa e à condução do exercício profissional [...]”. Afirma, ainda, que: Orientar o trabalho nos rumos aludidos requisita um perfil profissional culto, crítico e capaz de formular, recriar e avaliar propostas que apontem para a progressiva democratização das relações sociais. Exige-se, para tanto, com- promisso ético-político com os valores democráticos e competência teórico- -metodológica na teoria crítica em sua lógica de explicação da vida social. Estes elementos, aliados à pesquisa da realidade, possibilitam decifrar as situações particulares com que se defronta o assistente social no seu trabalho, de modo a conectá-las aos processos sociais macroscópicos que as geram e as modificam. Mas, requisita, também, um profissional versado no instrumental técnico-operativo, capaz de potencializar as ações nos níveis de assessoria, planejamento, negociação, pesquisa e ação direta, estimuladora da partici- pação dos sujeitos sociais nas decisões que lhes dizem respeito, na defesa de seus direitos e no acesso aos meios de exercê-los (IAMAMOTO, 2007, p. 34). Sousa (2008, p. 122) aponta que o assistente social “[...] ocupa um lugar privilegiado no mercado de trabalho: na medida em que ele atua diretamente no cotidiano das classes e grupos sociais menos favorecidos, ele tem a real possibilidade de produzir um conhecimento sobre essa mesma realidade [...]”. O conhecimento produzido é importante, podendo inclusive ser considerado como parte fundamental do seu trabalho, pois possibilita ver a real dimensão das suas possibilidades de trabalho, o que reforça o que dissemos anteriormente sobre a necessidade de articulação das três dimensões estudadas. Destaca-se que o Projeto Ético-Político Profissional do Serviço Social expressa as três dimensões — ético-político, teórico-metodológica e técnico-operativa — em sua essência, englobando tanto a formação quanto a atuação profissional (IAMAMOTO, 2007). Dessa maneira, podemos pensar na capacidade que a profissão possui para transformar realidades e concretizar objetivos a partir do amadurecimento profissional que ocorreu ao longo do tempo. Destaca-se a passagem do mo- mento em que a ação profissional era apenas técnica, para o momento em que outros elementos — éticos e políticos — passaram a ser incorporados no Serviço Social. Considera-se que, a partir desse momento, a profissão adquiriu condições de realizar uma prática mais qualificada e com vistas à garantia dos direitos dos usuários, pois passou a envolver as três dimensões constitutivas pensadas desde a formação profissional. Abordagens8 C01_Abordagens.indd 8 13/02/2019 08:36:27 As abordagens do Serviço Social O assistente social, em seu cotidiano, possui o desafi o de conhecer e interpretar as lógicas do capitalismo contemporâneo no que se refere principalmente às mudanças que vêm ocorrendo ao longo dos anos no mundo do trabalho e também sobre as questões relacionadas com a desestruturação dos sistemas de proteção social e políticas sociais em geral (PIANA, 2009). Estes são desafi os impostos ao profi ssional de Serviço Social, que realiza suas ações no âmbito das políticas socioassistenciais nos setores público e privado. Assim, segundo Piana (2009, p. 85), o profi ssional de Serviço Social “[...] desenvolve atividades na abordagem direta da população que procura as instituições e o trabalho do profi ssional e por meio da pesquisa, da administração, do planejamento, da supervisão, da consultoria, da gestão de políticas, de programas e de serviços sociais [...]”. Em linhas gerais, podemos pensar a abordagem como uma aproximação possível de existir entre pessoas ou coisas. No Serviço Social, podemos falar em vários tipos de abordagem presentes no desenvolvimento do exercício profissional, como, por exemplo, abordagens individual, grupal, com famí- lias, dentre outras. A abordagem individual, por exemplo, é uma modalidade de intervenção que está presente em uma profissão com caráter educativo, como o Serviço Social. Ela é utilizada em atendimentos em todas as áreas em que está inserido o assistente social. Por meio da abordagem individual, o profissional pode se utilizar de instrumentos como entrevistas e até mesmo visitas domiciliares. Esse tipo de abordagem permite ao profissional realizar a avaliação social, momento em que são obtidas informações relevantes para subsidiar decisões e implementar as estratégias de ação, uma vez que é por meio da avaliação social que a situação social e econômica e a dinâmica familiar podem ser conhecidas. A abordagem individual tem várias finalidades, dependendo do objetivo profissional do assistente social. Pode ser utilizada para conhecer uma rea- lidade e identificar estratégias de intervenção, bem como possui um caráter educativo, visando a favorecer a emancipação e/ou o fortalecimento do usuário na luta por seus direitos. No aspecto coletivo da intervenção profissional, é possível encontramos entre os assistentes sociais o uso da abordagem grupal em seu cotidiano. So- dré (2014) menciona o trabalho de assistentes sociais e sua interlocução com equipes de saúde, utilizando-se da abordagem grupal. Segundo ele, esse tipo de intervenção pode ser considerada como “uma ação ampla, tanto pelo seu 9Abordagens C01_Abordagens.indd 9 13/02/2019 08:36:27 lastro coletivo de abordagem quanto por requerer uma ação que o profissional se expõe para muitos usuários do SUS e outros profissionais com quem divide as atribuições do fazer saúde”. Segundo ele: Frequentemente, essa ação tem um foco direcionado para a ação individual (e individualizante), no esforço do indivíduo em mudar seu pensamento ou atitude — mesmo que aconteça por meio de uma abordagem grupal. Ou seja, ainda que reunidos para uma ação coletiva, o foco do assistente social está na atitude direcionada ao indivíduo, podendo ser uma reunião com abordagens grupais, mas esperando uma ação que seja uma resposta de indivíduo por indivíduo (SODRÉ, 2014, p. 69). Assim, ainda que a abordagem seja feita no âmbito coletivo, é possível manter como foco o indivíduo, uma vez que as orientações e o conheci- mento transmitidos têmcomo finalidade atingir cada um individualmente. Na abordagem grupal, diversas estratégias, instrumentos ou técnicas podem ser utilizados, como, por exemplo, palestras. De acordo com Sodré (2014, p. 69), “[...] palestra é uma forma de abordagem que coloca lugares estabelecidos: um indivíduo sabe e detém o poder da transmissão do conhecimento; outros não sabem e colocam-se no lugar da recepção de informações. Isto aborta qualquer perspectiva dialógica em um trabalho de abordagem coletiva [...]”. Na abordagem grupal, a orientação ou transmissão de conhecimentos também pode ocorrer pela troca de saberes entre os indivíduos presentes, sendo esta outra forma de atingir os objetivos dos profissionais. Essa diversidade de possibilidades para a realização de grupos deve-se ao fato de que estes se constituem em espaços propícios e férteis para a produção de conhecimentos e informações, na tentativa da adoção de novos hábitos, empoderamento e emancipação humana. Em geral, utiliza-se a abordagem grupal em situações identificadas em um número considerável de usuários, pois possui maior abrangência. A abordagem grupal pode ser realizada pelo assistente social apenas ou por este juntamente como outros profissionais. Nesse sentido, podemos afirmar que as abordagens realizadas pelo assistente social que integra equipes interdisciplinares podem somar-se às abordagens realizadas pelos outros profissionais, com o objetivo de garantir uma inter- venção que responda às necessidades e às demandas surgidas no cotidiano de trabalho. Este tipo de atuação possibilita lutar por uma sociedade livre e justa, sem exploração de classe e de qualquer natureza, e, ainda, a elaboração Abordagens10 C01_Abordagens.indd 10 13/02/2019 08:36:27 de ações coletivas para enfrentar situações na direção de uma sociedade que assegure condições melhores para todos (CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL, 2011). A opção pela abordagem individual ou grupal no atendimento realizado pelo Serviço Social dependerá, em grande parte, das finalidades a serem alcançadas, dos instrumentos e técnicas disponíveis e dos recursos institu- cionais existentes. Outro tipo de abordagem frequentemente utilizado pelos profissionais de Serviço Social refere-se ao trabalho com as famílias, alvo da profissão desde o seu início. Mioto (2010) aponta que a família e suas diversas configurações constituem-se em um espaço bastante complexo. Segundo a autora: “[...] é construída e reconstruída histórica e cotidianamente, através das relações e negociações que estabelece entre seus membros, entre seus membros e outras esferas da sociedade e entre ela e outras esferas da sociedade, tais como Estado, trabalho e mercado [...]” (MIOTO, 2010, p. 168). A família possui a capacidade de produzir subjetividade e, ao mesmo tempo, constitui-se em uma produtora de cuidados (MIOTO, 2010). Dadas as complexidades da família na contemporaneidade e suas variadas configura- ções, este é um campo privilegiado da atuação profissional e do trabalho em equipe. Sodré (2014) aponta que o trabalho do assistente social em unidades de saúde, como a Estratégia de Saúde da Família, aproxima-se do trabalho do Agente Comunitário de Saúde. Destaca que, na implantação da Estratégia de Saúde da Família o Ministério da Saúde, por meio do Conselho Federal de Serviço Social, a inserção do assistente social como equipe de apoio, e não equipe básica, foi questionada, no entanto, essa diferença permaneceu na “[...] separação preexistente ao modelo de intervenção com famílias. Questionava- -se o isolamento do Serviço Social dentro da divisão do trabalho em equipe, questionava-se o instrumental subutilizado do assistente social na abordagem com famílias (visto que era uma estratégia de saúde da família) [...]” (SODRÉ, 2014, p. 79). Na atualidade, o assistente social compõe as equipes de saúde da família, bem como equipes em outros níveis de atuação no sistema de saúde, e o seu trabalho é um pouco mais delimitado e conhecido. A abordagem se constitui em um elemento tão importante para o Serviço Social que a Política Nacional de Assistência Social estabeleceu a abordagem como forma de operacionalização de um serviço. Trata-se do Serviço Especia- lizado em Abordagem Social, que integra a Proteção Social Especial, sendo ofertado no Centro de Referência Especializado da Assistência Social. Este 11Abordagens C01_Abordagens.indd 11 13/02/2019 08:36:27 serviço é realizado por uma “[...] equipe de educadores sociais que identifica famílias em situação de risco pessoal e social em espaços públicos, como trabalho infantil, exploração sexual de crianças e adolescentes, situação de rua, uso abusivo de crack e outras drogas [...]” (BRASIL, 2015, documento on-line). A abordagem por parte do profissional é feita diretamente nas ruas, praças e espaços públicos e em outros locais que possuem circulação de pessoas, e tem como objetivo garantir atenção às pessoas atendidas, incluindo-as nos serviços sociais existentes (BRASIL, 2015). Tendo conhecido algumas formas de abordagens possíveis no Serviço Social, é importante mencionar que o profissional propositivo, crítico e com- prometido, que se espera ter na atualidade, deve se afastar de abordagens pragmáticas e conservadoras, as quais consideram os problemas que surgem como pessoais e individuais, devendo, assim, ser resolvidos (CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL, 2011). Segundo o documento, não se deve limitar a prática profissional às abordagens que consideram as necessidades sociais como problemas individuais, uma vez que as situações vivenciadas pelos usuários das políticas possuem uma raiz histórica comum, marcada pela desigualdade de classe e suas implicações, que se manifestam na ausência e precariedade de vários direitos humanos, como saúde, emprego, moradia, educação, transporte e outros. Diante o exposto, observa-se o quanto as diferentes possibilidades de abordagem no trabalho do assistente social podem contribuir com o exercício profissional e sua intenção de assegurar direitos e lutar pela efetivação de uma sociedade mais justa, de acordo com o próprio Projeto Ético-Político da Profissão. Percebe-se, ainda, que a forma de abordagem mais adequada a ser escolhida dependerá do objetivo a ser alcançado e das condições reais existentes no desenvolvimento da atuação profissional. Dessa forma, sendo o assistente social um profissional que habitualmente trabalha em equipes, amplia-se a possibilidade de abordagens efetivas para atingir os objetivos profissionais. Abordagens12 C01_Abordagens.indd 12 13/02/2019 08:36:27 BRASIL. Ministério da Cidadania. Secretaria Especial do Desenvolvimento Social. Abor- dagem social. 2015. Disponível em: http://mds.gov.br/assistencia-social-suas/servicos- -e-programas/servico-especializado-em-abordagem-social. Acesso em: 7 fev. 2019. 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Acesso em: 7 fev. 2019. 13Abordagens C01_Abordagens.indd 13 13/02/2019 08:36:27 ESTRATÉGIAS E TÉCNICAS EM SERVIÇO SOCIAL I Camila Muniz Assumpção Habilidades e técnicas de abordagem Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer a importância da análise crítica da realidade para o esta- belecimento de estratégias e técnicas de intervenção. Identificar as atribuições do assistente social diante das expressões da questão social nos diferentes espaços sócio-ocupacionais do Serviço Social. Aplicar o instrumental e as técnicas de abordagem do Serviço Social para a transformação social. Introdução Os profissionais de Serviço Social podem atuar em diversas áreas: sistema judiciário, políticas públicas sociais, movimentos sociais, instituições do terceiro setor ou até mesmo instituições privadas. Em qualquer uma dessas áreas, o assistente social vai se deparar com as mais diversas expressões da questão social. Por isso, ele precisa estar atento e respaldado pelas habilidades e técnicas de abordagem da profissão. Neste capítulo, você vai verificar a importância de o assistente social analisar a realidade, tendo em vista que o real está em constante mudança e que é a análise que dá base para o estabelecimento de estratégias e técnicas de intervenção. Além disso, você vai estudar a questão social e suas expressões, bem como identificar as atribuições do assistente social diante delas, sem deixar de lado o instrumental e as técnicas de abordagem fundamentais para a operacionalização da profissão. Análise crítica e estratégias de intervenção Entender a realidade para a efetivação da prática não é uma tarefa fácil. Afi nal, a realidade é mutável, complexa e cheia de elementos diferentes. A consolidação da dimensão interventiva do assistente social está interligada a diversos fatores sócio-históricos, políticos, culturais e econômicos que são externos ao universo do Serviço Social. Hoje, vive-se a era do grande capital financeiro, em que cresce o desemprego. Esse contexto traz como desafio ao assistente social a luta dos trabalhadores por sobrevivência. Como Iamamoto (2011, p. 18) relata: “Estes novos tempos reafirmam [...] que a acumulação de capital não é parceira da equidade, não rima com igualdade. Verifica-se o agravamento das múltiplas expressões da questão social”. Na atual expressão do capitalismo, a classe trabalhadora e o sujeito social ficam cada vez mais responsabilizados. Eles se tornam vulneráveis devido ao desemprego, à miséria, ao pauperismo da população e à privatização dos serviços e bens públicos. Ou seja, as consequências do capitalismo contemporâneo incluem a desigualdade na divisão de renda, o aumento da população em situação de extrema pobreza, a redução dos postos de trabalho, entre outros fatores. De acordo com Aquino (2010), o desemprego, a miséria, a precarização dos estatutos salariais e a falta de perspectiva atingem grandes parcelas da população mundial. Isso acontece não só na denominada periferia do sistema capitalista, mas também nos países desenvolvidos, embora em menor proporção. A reali- dade constituída por exclusão, discriminação e miséria de parte significativa da população resulta da produção capitalista, que não cede espaço a todas as classes. Então, a sobrevivência dos sujeitos depende da produção direta, do meio de vida ou da oferta de emprego pelo capital. Essas mudanças que vêm afetando o mundo da produção, a esfera do Estado e as políticas públicas acabam estabelecendo novas mediações nas expressões da questão social, nas demandas e nas respostas do Serviço Social. Para você compreender como o Serviço Social se insere nesse cenário, deve entender alguns pressupostos. É o que confirma Iamamoto (2011, p. 20): “[...] devemos romper com a visão endógena, focalista, uma visão de dentro do serviço social, prisioneira em seus muros internos”. Diante disso, é imprescindível que o Serviço Social reconheça as determinações e limitações históricas da realidade social para que não caia no equívoco de incorporar um caráter fatalista e mes- siânico. No exercício de sua profissão, o assistente social não pode visualizar apenas o indivíduo. Ele precisa estar atento à totalidade, dando ênfase às relações mais amplas e buscando formas de intervenção para a transformação social. Habilidades e técnicas de abordagem2 Os usuários chegam aos assistentes sociais apresentando-se em forma de demanda. Ou seja, o indivíduo deseja obter serviços e acesso e se beneficiar com o atendimento recebido. Segundo Arruda (1998), a demanda nem sempre será a expressão da necessidade, seja pelo desconhecimento das pessoas em relação àquilo que precisam, seja pela desinformação sobre a existência da solução de seus problemas, seja pela ausência dos serviços necessários. Na Figura 1, a seguir, você pode como a relação entre o sujeito e o assistente social é complexa. Figura 1. A relação entre o assistente social e o sujeito social é permeada por diversas esferas. Fonte: Adaptada de Lameiras (2015, documento on-line). Como você pode ver na Figura 1, o cidadão traz o seu problema para o assistente social. No caso, o problema é o desemprego. Mas não basta o profissional olhar apenas para o que foi posto. É necessária uma observação sensível, pois por trás da demanda exposta existem outras questões a serem trabalhadas e entendidas. No processo de intervenção do Serviço Social, observar não é simplesmente olhar, mas é destacar um conjunto de objetos ou algo específico, é prestar atenção nas caraterísticas, por exemplo, nas relações que estão em jogo (TRIVIÑOS, 1987). 3Habilidades e técnicas de abordagem A intervenção social, segundo Cardoso (2008), nada mais é do que um resgate de direitos, de serviços socioassistenciais, que busca proporcionar aos sujeitos emancipação e exercício de cidadania, assim como estimular a sua autonomia. Desse modo, uma das particularidades do trabalho do assistente social é intervir nos processos de enfrentamento da questão social, que se atualiza e se renova diante das diferentes conjunturas sociopolíticas. Atribuições do assistente social O Serviço Social é uma profi ssão inscrita na divisão social e técnica do tra- balho. Assim, situa-se no processo de reprodução das relações sociais. Ele emerge como profi ssão no contexto em que a questão social se põe como alvo da intervenção do Estado, por meio das políticas públicas. Portanto, como você pode notar, o Serviço Social tem na sua base de especialização a questão social. Esta se expressa pelas inúmeras desigualdades da sociedade capitalista, na qual o trabalho é coletivo, mas os seus resultados são privados. Uma das particularidades do trabalho do assistente social é intervir nos processos de enfrentamento da questão social. As novas condições sociais, originárias do capitalismo feroz dos dias atuais, foram definidas por alguns autores como “nova questão social”. No entanto, essa teoria não se sustentou. Segundo Mota (2000, p. 2), “distintas expressões da questão social não se traduzem em uma ‘nova’ questão social, mas sim em novas formas para velhos conteúdos”. Compreender a questão social é de fundamental importância. De acordo com Iamamoto (2011, p. 125), “[...] a questãosocial expressa a subversão do humano própria da sociedade capitalista contemporânea”. Segundo Iamamoto (2011), a questão social se materializa na naturalização das desigualdades sociais e na submissão das necessidades humanas ao poder das coisas sociais. E ainda conduz à indiferença ante os destinos de enormes contingentes de homens e mulheres trabalhadores. O assistente social convive cotidianamente com as mais amplas expressões da questão social, matéria-prima de seu trabalho. A construção das mediações entre o contexto sócio-histórico e as questões que particularizam as ações profissionais possibilita ao assistente social qualificar o seu trabalho, que é desenvolvido nos mais diversos espaços sócio-ocupacionais. Em síntese, o assistente social deve: Habilidades e técnicas de abordagem4 coordenar, elaborar, executar, supervisionar e avaliar estudos, pesquisas e projetos na área de Serviço Social; prestar informações e elaborar pareceres na área de atuação do Serviço Social; planejar, coordenar e executar atividades socioeducativas; estabelecer parcerias e contatos institucionais; atuar como facilitador de processos de formação de lideranças e orga- nização comunitária; planejar, coordenar e realizar reuniões e palestras na área de atuação do Serviço Social; elaborar relatórios técnicos e analíticos; treinar, avaliar, supervisionar e orientar estagiários de Serviço Social. É necessário trazer para a discussão não apenas as atribuições privativas, mas também as competências profissionais. Isso possibilita levar em con- sideração não somente aquilo que, pela lei, é função exclusiva do Serviço Social, mas também o que potencialmente pode e deve ser desenvolvido no âmbito da profissão. Portanto, na lei de regulamentação da profissão (Lei nº. 8.662/1993), os artigos 4º e 5º tratam, respectivamente, das competências e atribuições privativas de profissionais do Serviço Social (BRASIL, 1993). Entende-se que as atribuições privativas se referem diretamente à profissão; e a competência consiste nas ações que os assistentes podem desenvolver, embora não lhes sejam exclusivas. Devido às novas expressões da questão social, a ação do assistente social deve ser cada vez mais dinâmica. Por isso, não bastam os conteúdos teóricos; é preciso conhecer a forma correta de direcionar políticas e ações para alcançar determinados objetivos. A política de assistência demanda profissionais que for- taleçam uma intervenção crítica autônoma, ética e politicamente comprometida com a classe trabalhadora e as organizações populares de defesa de direitos. O processo de trabalho do Serviço Social, de acordo com Iamamoto (1997), é pautado no instrumental técnico-operativo utilizado pelo assistente social. Mas se percebe que esse instrumental não compreende apenas técnicas utili- zadas para a efetivação do serviço. Também está em jogo o arsenal teórico- -metodológico, ou seja, conhecimentos, valores, habilidades, entre outros. Essa base teórico-metodológica é construída pelos “[...] recursos essenciais que o assistente social aciona para exercer seu trabalho” (IAMAMOTO, 1997, p. 43) a fim de melhorar a leitura da realidade e direcionar a sua ação. 5Habilidades e técnicas de abordagem É necessário refletir de modo crítico sobre a prática profissional do Serviço Social nas diversas esferas de trabalho. Como você sabe, tal prática exige a construção de estratégias sociopolíticas que contribuam para minimizar as desigualdades sociais. Instrumental e técnicas de abordagem Para a efetivação do seu fazer profi ssional, os assistentes sociais tomam posse de um instrumental técnico-operativo que, segundo Trindade e Kourmowyon (2001), consiste em um conjunto de instrumentos e técnicas. A técnica está interligada aos instrumentos, que são entendidos como mediadores e poten- cializadores do trabalho. Já a operação é entendida como “[...] habilidade humana de fabricar, construir e utilizar instrumentos” (VARGAS, 1994, p. 15). A seguir, veja os conceitos de instrumental, instrumento e técnica. Instrumental: conjunto articulado de instrumentos e técnicas que per- mitem a operacionalização da ação profissional. Instrumento: estratégia ou tática por meio da qual se realiza a ação. Técnica: habilidade no uso do instrumental. É a criatividade. A natureza do instrumental é relacional, pois envolve relações com os sujeitos e está associada à ação profissional, pensada da concepção/elaboração até a sua operacionalização/ação, incluindo o momento da avaliação. Essa avaliação permeia todo o processo e deve ser feita com base nos indicadores. A percepção da ação profissional se constrói a partir das finalidades e não dos instrumentos. Ou seja, ela se constrói a cada momento, pois as situações mudam. A ação profissional tem alguns eixos articuladores, como você pode ver a seguir. Eixo valorativo: está ligado à finalidade e aos objetivos, bem como vinculado à concepção. Eixo metodológico: trata-se da operacionalização propriamente dita, pois é ela que pressupõe que o profissional tenha clareza teórica frente ao objeto de intervenção. Habilidades e técnicas de abordagem6 Eixo operativo: determina que não basta pensar somente nos valores e nas concepções, mas é necessário haver estratégia e tática, ou seja, planejamento e ação. São as técnicas operacionais. O papel desempenhado pelo Serviço Social na divisão sociotécnica do trabalho traz a necessidade de determinados conhecimentos e habilidades que estão historicamente relacionados a atividades da prática profissional. Para Guerra (2012), a dimensão técnico-operativa se constitui no modo de aparecer da profissão, pelo qual ela é conhecida e reconhecida. Tal dimensão responde às questões: para que fazer? Para quem fazer? Quando e onde fazer? O que fazer? Como fazer? Dessa forma, essa dimensão técnico-operativa não pode ser considerada autônoma, uma vez que carrega em si as demais dimensões. Igualmente, não pode ser considerada neutra: possui caráter ético- -político sustentado em fundamentos teóricos. Guerra (2012) considera que a dimensão técnico-operativa, como a ra- zão de ser da profissão, remete às competências instrumentais pelas quais o Serviço Social é reconhecido e legitimado. É aqui que se inserem os instru- mentos e técnicas da intervenção profissional. Os instrumentos e técnicas são tratados como elementos constitutivos dessa dimensão. Eles pertencem ao âmbito da operacionalização da ação. São partes constitutivas do instrumental técnico-operativo. Os instrumentos são considerados produto da ação humana, se constituindo como meios de se alcançar uma finalidade. Nessa direção, o conteúdo da ação que se quer efetivar com o uso de determinado instrumento está diretamente relacionado com a finalidade pretendida. Por sua vez, a finalidade está no âmbito teórico. De acordo com Trindade e Kourmowyon (2001), o conteúdo do instrumental técnico-operativo depende da análise da realidade, que fun- damenta a direção social empreendida pelos sujeitos profissionais. Como os instrumentos são considerados meios de se alcançar uma fina- lidade, ao escolher determinado instrumento de ação, o profissional deve ter clareza da finalidade que pretende alcançar. Ele precisa verificar se tal finali- dade é coerente com as finalidades da profissão e se o instrumento escolhido permite a sua efetividade. No Quadro 1, a seguir, você pode conhecer melhor alguns instrumentos de trabalho do assistente social. 7Habilidades e técnicas de abordagem Acolhimento Processo que incorpora as relações humanas. Envolve a escuta social qualificada, com a valorização da demanda que procura o serviço oferecido e a identificação da situação- problema no âmbito individual e também no coletivo. Entrevista Utilizada para levantar dados e informações que possibilitam o reconhecimento de uma realidade social. Além disso, visa a promover o conhecimento da realidade dos usuários e/ou realizar os encaminhamentose orientações necessários para a garantia de direitos. Visita domiciliar Procedimento em que o assistente social vai à residência do usuário. Serve para identificar as necessidades reais da vida cotidiana do usuário e de sua família. Reunião Tem a característica de promover e intervir em espaços coletivos, provocando uma reflexão crítica. Quadro 1. Exemplos de instrumentos de trabalho do assistente social O que você aprendeu neste capítulo não esgota o tema. O objetivo do conteúdo apresentado aqui é contribuir para que você reflita com mais pro- fundidade sobre o trabalho do assistente social. Em última instância, a ideia é trazer implicações positivas para a sua prática profissional. AQUINO, I. G. C. Trabalho e Serviço Social: os fundamentos teórico, metodológico e histórico da análise. Rio de Janeiro, 2010. Tese (Doutorado em Serviço Social) – Escola de Serviço Social, Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2010. ARRUDA, D. Sistemas de informações e alocação de recursos. 1998. Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva) – Instituto de Medicina Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1998. BRASIL. Lei nº. 8.662, de 7 de junho de 1993. Dispõe sobre a profissão de Assistente Social e dá outras providências. Brasília, DF, 1993. Disponível em: <http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/LEIS/L8662.htm>. Acesso em: 24 nov. 2018. CARDOSO, M. F. M. Reflexões sobre Instrumentais em Serviço Social: observação sensível, entrevista, relatório, visitas e teorias de base no processo de intervenção social. São Paulo: LCTE, 2008. Habilidades e técnicas de abordagem8 GUERRA, Y. A instrumentalidade do Serviço Social. São Paulo: Cortez, 2012. IAMAMOTO, M. V. O serviço social na contemporaneidade: trabalho e formação profis- sional. 20. ed. São Paulo: Cortez, 2011. IAMAMOTO, M. V. O Serviço Social na contemporaneidade: dimensões históricas, teóricas e ético-políticas. Fortaleza: Expressão Gráfica, 1997. (Coleção debate n. 6). LAMEIRAS, A. C. Diagnóstico social. 2015. Disponível em: <https://servicosocial.pt/ diagnostico-social/>. Acesso em: 24 nov. 2018. MOTA, A. E. Sobre a crise da seguridade social no Brasil. Cadernos ADUFRJ, Rio de Janeiro, n. 4, p. 4–7, maio 2000. TRINDADE, R. L.; KOURMOWYON, E. Um novo olhar para a questão dos instrumentos técnico-operativos em Serviço Social. Revista Serviço Social & Sociedade, São Paulo, ed. especial, ano XV, n. 67, p.145–158, 2001. TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987. VARGAS, M. (Org.). História da técnica e tecnologia no Brasil. São Paulo: Ed. Universidade Estadual Paulista, 1994. Leitura recomendada MARTINELLI, M. L.; KOUMROUYAN, E. Um novo olhar para a questão dos instrumentais técnico-operativos em Serviço Social. Revista Serviço Social & Sociedade, São Paulo, n. 54, 1994. 9Habilidades e técnicas de abordagem Conteúdo: ESTRATÉGIAS E TÉCNICAS EM SERVIÇO SOCIAL I Camila Muniz Assumpção Abordagem individual Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Descrever o processo histórico da utilização da abordagem individual no Serviço Social e as suas principais teorias. Identificar a abordagem individual como um instrumento utilizado pelo Serviço Social. Refletir sobre a utilização da abordagem individual no Serviço Social. Introdução O trabalho do assistente social visa à garantia dos direitos sociais. Com esse intuito, o profissional planeja as abordagens que melhor favorece- rão a efetividade das suas ações. Essas ações podem se dar de diversas maneiras. Uma delas é a abordagem individual. Neste capítulo, você vai aprofundar seus conhecimentos sobre abor- dagem individual, entendendo quando e como ela é utilizada. Vamos também abordar sua importância na relação entre o profissional e o usuário do serviço. O assistente social trabalha no amparo pessoas que de alguma forma não têm acesso à cidadania, ajudando-os a resolver problemas ligados a educação, habitação, emprego, saúde. É uma profissão de cunho assis- tencial, ou seja, voltada para a promoção do bem-estar físico, psicológico e social. O profissional pode trabalhar em empresas privadas, órgãos públicos e ONGs orientando e acompanhando pessoas e desenvolvendo programas de assistência dirigidos a diversos públicos. Teorias da abordagem individual O Serviço Social, desde o seu surgimento até o fi nal da década de 1970, teve sua prática profi ssional orientada por uma racionalidade conservadora, valendo- -se de referências teórico e ideoculturais baseadas no positivismo empirista e pragmatista. Segundo Brites e Sales (2001), as concepções de homem e de sociedade legitimadas pelo neotomismo, pelo pensamento conservador e pelo positivismo eliminavam, no âmbito da formação e do exercício profi ssional, a compreensão sobre a substância desigual da sociedade capitalista, considerada como natural, harmônica e capaz de realizar as necessidades individuais e sociais. Reduziam também a dimensão ético-política da prática profi ssional, em nome de uma neutralidade axiológica, afi nada com a necessidade de legitimar a suposta face humanitária do Estado e do empresariado. O neotomismo retomava a doutrina de São Tomaz de Aquino, objetivando unir a razão e a fé, ou a ciência e a religião. Como princípio básico, tinha a dignidade da pessoa humana, entendendo que a pessoa humana, por ser racio- nal, tem a capacidade de escolher, de saber e de ter vontade. Essa dimensão racional produz o princípio da consciência em si e da liberdade. Em uma análise crítica dessa teoria, destaca-se o imediatismo e o não questionamento da ordem vigente. Por sua vez, o pensamento conservador é onde se fundamenta a rígida linearidade entre sociedade e natureza, tendo como base a ideia de a vida social ser regida por leis sociais invariáveis. Sendo as leis sociais invariáveis, cabe ao indivíduo aceitar a sua condição diante dos males inevitáveis. O Serviço Social nasce, nesse contexto, embebido por tais pensamentos, com a intervenção profissional inclinada à manutenção da ordem vigente. Já o positivismo entendia que a sociedade é regulada por leis naturais. Nessa visão, a realidade social é formada por partes isoladas, e não se tem interesse em conhecer a história e as consequências dos fatos. Tal análise fragmentada da realidade compromete a prática profissional do Serviço Social, pois são realizados estudos singulares desvinculados da análise de totalidade, e as relações sociais são analisadas por meio dos fenômenos sociais, isolados e fixos. A partir de 1945, o Serviço Social aliou-se às técnicas funcionalistas vindas da sociologia norte-americana, sendo esta uma base para instrumentalizar a investigação e a intervenção na realidade social. As teorias de caso, grupo e comunidade formaram a tríade metodológica que orientou o Serviço Social na busca da integração do homem ao meio social. O serviço social de caso centrava-se na personalidade do “cliente” e buscava formalizar mudanças no indivíduo a partir de novas atividades e comportamentos. O indivíduo era visto como um elemento que deveria ser trabalhado, no sentido de ajustá-lo ao meio social e fazê-lo cumprir bem seu papel no sistema vigente. De acordo com Richmond (1915 apud ANDRADE, 2008, p. 280), “O Serviço Social de Casos é o processo que desenvolve a personalidade através de um ajustamento consciente, indivíduo por indivíduo, entre os homens e seu Abordagem individual2 ambiente”. Esse método se caracterizou pela importância dada à informação e à observação. Tinha-se o sujeito como quadro de referência, e o método era estabelecido com base nas fases de estudo, diagnóstico e tratamento das teorias sociopsicológicas, que possibilitavam um elo entre os aspectos psicológicos e sociais. Segundo Richmond (1915 apud ANDRADE, 2008, p. 281), “o diagnóstico social é a tentativa para chegar àdefinição, tão exata quanto possível, de uma situação social ou da personalidade do cliente”. Hamilton (1958) considera o diagnóstico como uma opinião profissional quanto à natureza do problema e quanto às reservas e às capacidades em potencial do cliente. O atendimento e a solução das necessidades de adaptação é o que propunham as instituições de prestação de serviços sociais, às quais cabia a administração dos conflitos ou desajustamentos, que poderiam se constituir, em âmbito maior, nas chamadas rupturas de equilíbrio. O tratamento no Serviço Social tinha o objetivo de estabilizar ou melho- rar a situação quanto à adaptação ou ao ajustamento social. Sendo assim, o serviço social de caso pode ser concebido como um instrumento ou meio para liberação, no qual se utilizava a abordagem individual com o objetivo de atuar nos fatores causais ou problemas em potencial interligados à situação de saúde, nos contextos socioeconômico, cultural e emocional. Sendo assim, a abordagem individual era utilizada como instrumento de identificação de situações sociais e problemas comuns à população. Em meados de 1960, surgiu um momento importante no desenvolvimento do Serviço Social como profissão, com uma proposta de transformação da sociedade que surgiu na América Latina. Nessa década, o mundo passou por grandes transformações, e o Serviço Social começou a perceber a dimensão política de sua prática. Nesse momento surgiu, então, o que se denomina movimento de reconceituação, no qual, no âmbito do Serviço Social, ocorreu a contestação do tradicionalismo e do conservadorismo profissional. Houve uma crítica por parte dos reconceituadores sobre a postura de neutralidade e sobre a prática assistencialista cuja proposta era individualizante, tratando as situações de forma isolada e não percebendo os indivíduos como classe, e sim como subalternos, carentes e pobres. No Serviço Social tradicional, havia a adoção de instrumentos e técnicas do serviço social de caso, grupo e comunidade baseadas na Psicologia, na Educação e na Sociologia; a partir do movimento de reconceituação, o padrão deixou de ser tão delimitado. Surgiu, então, uma prática não assistencialista, mas transformadora, comprometida com as classes populares. José Filho (2002, p. 57) traz a reflexão de que o Serviço Social: 3Abordagem individual [...] no decorrer das últimas décadas, evoluiu no processo de pensar-se a si mesmo e à sociedade, produzindo novas concepções e autorrepresentações, como “técnica social”, “ação social modernizante” e, posteriormente, “pro- cesso político transformador”. Em 1980, a teoria social de Marx iniciou sua interlocução com a profissão de maneira efetiva, e estratégias como educação popular, redefinição da prática, entre outras, passaram a compor a prática profissional dos assistentes sociais. Segundo Campagnolli (1993), nessa época, teve-se a intenção de repensar o instrumental técnico e sua posição no nível da ação concreta e da formação profissional. Sendo assim, a profissão teve um avanço no que diz respeito aos instrumentos e às técnicas, obtendo ganho com novos olhares e concepções sobre as possibilidades e os limites para a utilização dos mesmos. Reconceituar significa dar novos conceitos ou novas interpretações para algo. Sendo assim, pode-se entender que o movimento de reconceituação teve esse sentido quando começou a questionar/refletir acerca da prática profissional, da teoria, da ética e da metodologia que a profissão utilizava. Surgiram, então, novos conceitos e novas interpretações profissionais para o Serviço Social. Abordagem individual como instrumento Para Battini (2004), enquanto a instrumentalidade é o modo específi co de ser que uma profi ssão constrói dentro das relações sociais, no confronto entre as condições objetivas e subjetivas do exercício profi ssional, os instrumentais se referem ao conjunto de instrumentos e técnicas que compõem uma prática profi ssional cotidiana. As demandas que se apresentam cotidianamente para os assistentes sociais são o resultado de uma dinâmica complexa. Sendo assim, respostas meramente instrumentais vindas dos profissionais não dão conta dessa complexidade. Guerra (2002) reflete sobre esse fato ao relatar que as demandas com as quais os profissionais trabalham são totalidades saturadas de determinações, sejam estas econômicas, políticas, culturais ou ideológicas; sendo assim, elas exigem muito mais do que ações instrumentais e imediatistas. Implicam, Abordagem individual4 então, em intervenções que se utilizem de escolhas, que passem pelo crivo da vontade dos sujeitos, que se inscrevam no campo dos valores universais. O autor destaca, ainda, que é necessário se atentar para que as ações estejam conectadas a projetos profissionais nos quais se tenha referenciais teóricos e princípios ético-políticos. A instrumentalidade é baseada nas dimensões que estão presentes tanto na formação quanto na prática do exercício profissional, as quais são deno- minadas dimensão teórico-metodológica, dimensão ético-política e dimensão técnico-operativa, mostradas na Figura 1. Essas dimensões demonstram que a qualificação profissional do assistente social se constrói a partir dos saberes, das competências e das habilidades. Figura 1. As dimensões constitutivas do Serviço Social dentro da instrumentalidade. Dimensão técnico- -operativa Dimensão teórico- -metodológica Dimensão ético-política Instrumenta- lidade As dimensões são interligadas, interdependentes e se complementam, apesar de manterem suas especificidades. Diante disso, considerando que as ações profissionais condensam e expressam toda a formulação teórica, ética e técnica da profissão, não é possível concebê-las de forma isolada. A intervenção profissional é identificada no processo histórico como es- tando profundamente condicionada pelas relações entre as classes na sociedade e direcionada tanto para as condições materiais quanto para as condições sociais de vida da classe trabalhadora. Reconhece-se, portanto, que as ações dos assistentes sociais têm efeito no processo de reprodução da força de tra- balho por meio da prestação de serviços sociais e, também, a partir de uma 5Abordagem individual dimensão social. Nessa dimensão, a assistência social incide sobre o campo do conhecimento, dos valores, dos comportamentos e da cultura, produzindo efeitos reais na vida dos sujeitos, apesar de os resultados nem sempre se corporificarem como coisas materiais, conforme leciona Iamamoto (1999). A orientação das ações profissionais encontra referência na lei que regu- lamenta a profissão, a Lei nº. 8.662/1993, e no Código de Ética Profissional. Assim, é na regulação ético-política da profissão, estabelecida no código de ética, na lei de regulamentação da profissão e nas legislações daí decorrentes, que se assume ética e politicamente o compromisso profissional com a classe trabalhadora e com movimentos e lutas sociais. Na perspectiva da emanci- pação humana, o Serviço Social recusa todas as formas de conservadorismo, exploração, opressão e discriminação. Ao atender à população usuária, o profissional muitas vezes se utiliza da abordagem individual, que se refere aos atendimentos individuais que envolvem a acolhida, o atendimento social, a entrevista individual e as visitas domiciliares. Isso se dá especialmente nas situações que envolvem atendimento a indivíduos sem vínculos familiares ou que não estejam acompanhados no momento da intervenção profissional. As legislações e regulamentações profissionais estão disponíveis na página do Conselho Federal de Serviço Social. Acesse o link abaixo e saiba mais sobre elas. https://goo.gl/iMqTM2 A abordagem individual no Serviço Social O profi ssional, na sua atuação, se utiliza de instrumentos; porém, é neces- sário estar atento que o instrumento, por si só, não particulariza o exercício profi ssional. É importante entender que não se pode conceber a dimensão técnico-operativa comodesconectada das demais dimensões — a dimensão ético-política e a dimensão teórico-metodológica —, pois todas são inter- -relacionadas, constituindo uma unidade na diversidade. Santos (2013) afi rma que a dimensão técnico-operativa é o modo de ser da profi ssão, é uma síntese do Abordagem individual6 exercício profi ssional, por consistir em respostas e estratégias construídas para o atendimento às demandas. Síntese essa que expressa a cultura profi ssional, que se compõe de “conhecimentos e saberes (técnicos, teóricos e interventivos) da profi ssão”, ainda conforme Santos (2013, p. 28–29). Uma das expressões da particularidade do exercício profissional é o atendi- mento direto aos usuários. Nesse sentido, a abordagem é de extrema relevância na relação entre assistente social e usuário, constituindo-se como ferramenta fundamental para subsidiar as decisões sobre as ações a serem realizadas. Os dados de uma pesquisa feita entre os participantes do Simpósio “A Dimensão Técnico-operativa no Serviço Social: desafios contemporâneos na formação profissional do Assistente Social frente aos novos padrões de proteção social”, apresentados por Santos, Souza Filho e Backx (2013), mostram a abordagem como um canal de comunicação com a população, sendo entendida como um componente de trabalho do profissional. Sarmento (2013, p. 121) define a abordagem como o [...] contato intencional de aproximação através do qual é criado um espaço de diálogo crítico, para a troca de informações e/ou experiências para a aqui- sição de conhecimento e/ou de um conjunto de particularidades necessárias à ação profissional e/ou o estabelecimento de novas relações de interesses dos usuários. No atendimento individual, a comunicação e a defesa de direitos se concretiza por meio de atividades e procedimentos técnicos desenvolvidos para promover o entendimento, a informação e a identificação das formas de violação, bem como as garantias de sua efetivação, as respostas e os recursos com os quais os indivíduos podem contar na rede socioassistencial e nas diversas políticas públicas. O acesso à defesa de direitos é garantido, por exemplo, a partir da disponibilização de orientações sobre os órgãos de defesa existentes no território e sobre suas atuações, competências, meios e formas de acesso, ou quando se esclarece uma dúvida de onde ir e como proceder em determinadas situações. Além de promover a informação, o atendimento individual proporciona a escuta, que consiste em um procedimento técnico componente do trabalho social que serve para iniciar vínculos e estabelecer relações de confiança entre o profissional e o usuário. A escuta constitui instrumento necessário para uma boa acolhida ao usuário e para o desenvolvimento das intervenções que se fizerem necessárias. Para tanto, o profissional deve ter uma escuta qualificada, atribuída com respeito à história do sujeito, bem como às necessidades e às demandas apresentadas. 7Abordagem individual Seja em qual for a situação, o instrumento ou o procedimento, é necessário que o profissional se utilize da linguagem, que é uma das principais técnicas que o assistente social tem para a relação com a população usuária. É por meio dela que se pode conhecer a realidade e interpretá-la, podendo também desenvolver o trabalho socioeducativo. A abordagem individual no Serviço Social é um modo de estabelecer a intervenção a partir de uma perspectiva denominada socioeducativa. Na operacionalização desse trabalho, não se estabelece “[...] um padrão/modelo operacional para o desenvolvimento das ações que o materializam [...] é impor- tante que os princípios norteadores da profissão estejam claramente conectados a uma forma de proceder [...]”, conforme lecionam Lima e Mioto (2011, p. 227). Na abordagem individual, as atividades do trabalho socioeducativo são direcionadas à orientação e ao reconhecimento do território no qual o usuário vive; ou seja, atenta-se ao modo como vive o sujeito e às suas relações. Trata-se de um trabalho em que se estabelecem ações de caráter educativo e político, uma vez que tanto o usuário como o assistente social se reconhecem como sujeitos desse processo. Ou seja, o usuário pode e deve ser identificado como um dos protagonistas do processo interventivo, não somente como alguém que está recebendo serviços advindos das políticas públicas e sociais, mas como sujeito da intervenção profissional. ANDRADE, M. A. R. A. O metodologismo e o desenvolvimentismo no Serviço Social brasileiro: 1947 a 1961. Serviço Social & Realidade, Franca, v. 17, n. 1, p. 268–299, 2008. BATTINI, O. A dimensão técnico-operativa no exercício profissional do assistente social. 2004. Texto elaborado para o Curso de atualização sobre Instrumentalidade no Trabalho do Assistente Social, realizado na PUC/PR em junho de 2004. (Texto-aula). BRITES, C. M.; SALES, M. A. Ética e práxis profissional. Brasília, DF: ABEPSS–Grafline, 2001. CAMPAGNOLLI, S. R. A. P. Uma relação complexa: o Serviço Social e seu instrumental técnico. Dissertação (Mestrado em Serviço Social) – Pontifícia Universidade Católica (PUC). Campinas – SP, 1993. GUERRA, Y. D. A instrumentalidade do Serviço Social. São Paulo: Cortez, 2002. HAMILTON, G. Teoria e prática do Serviço Social de casos. 3. ed. Rio de Janeiro: Agir, 1958. IAMAMOTO, M. V. O Serviço Social na contemporaneidade: trabalho d formação profis- sional. 2. ed. São Paula: Cortez, 1999. 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Dissertação (Mestrado em Serviço Social) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 1994. 9Abordagem individual Conteúdo: ESTRATÉGIAS E TÉCNICAS EM SERVIÇO SOCIAL I Camila Muniz Assumpção Abordagem coletiva Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Descrever os principais conceitos teóricos sobre a abordagem coletiva enquanto instrumento do Serviço Social. Definir as técnicas de abordagem coletivas utilizadas pelo(a) assistente social e quando elas podem ser utilizadas. Analisar o processo de constituição das abordagens coletivas no Serviço Social ao longo da história. Introdução O exercício profissional do assistentesocial está na esfera das relações sociais e tem como objeto de trabalho a questão social, com suas diversas expressões. Essa profissão envolve a formulação e a implementação de propostas para o enfrentamento dessa questão, por meio de políticas sociais, públicas, empresariais, de organizações da sociedade civil e de movimentos sociais. Segundo Sarmento (2014, p. 180), a intervenção do Serviço Social se dá pela “[...] ação no cotidiano de vida dos trabalhadores e não traba- lhadores, pela interferência nos modos de pensar, agir, sentir e fazer das pessoas e instituições [...] visando à transformação do homem, de suas relações sociais e do curso dos acontecimentos”. Sendo assim, a dimensão interventiva, segundo Torres (2009), evidencia não somente a construção, mas também a efetivação das ações desenvolvidas pelo profissional. Representa, assim, a materialidade da intervenção do assistente social. Os procedimentos utilizados para a intervenção são diversos, e um deles é no âmbito coletivo. Sendo assim, neste capítulo, você vai estudar a abordagem coletiva — ou abordagem de grupo, como é denominada por alguns autores — no Serviço Social, decifrando os seus principais conceitos teóricos e as técnicas utilizadas pelos profissionais. Por fim, você vai analisar a constituição das abordagens coletivas no Serviço Social ao longo da história. Conceitos teóricos Abordagem vem da palavra abordar, que signifi ca aproximar-se, interpelar, falar, conversar, desenvolver, explanar. Já coletivo é o adjetivo que abrange várias pessoas ou coisas. Nesse sentido, a abordagem coletiva é o momento de conversar no coletivo, de desenvolver situações com várias pessoas, possibili- tando a troca de experiências, informações e um leque de novos conhecimentos. Sarmento (2013) define abordagem como um contato que tem a intenção de proporcionar aproximação, sendo criado em um espaço de diálogo crítico, servindo para a troca de informações e/ou experiências, para a aquisição de conhecimento e/ou de um conjunto de particularidades necessárias à ação profissional e/ou o estabelecimento de novas relações de interesses dos usuários. Sendo assim, a abordagem pode ser entendida como uma aproximação, com um objetivo claro de se estabelecer uma proximidade entre o profissional e o usuário. Cavalcante (1979) afirma as demandas que surgem durante uma atividade com um grupo podem se apresentar de forma explícita ou permanecer latentes durante a reunião. Contudo, mesmo quando essas demandas são respondidas, elas não são relacionadas com as questões estruturais da sociedade nem com os reflexos de realidades históricas. Elas dizem respeito a uma análise mais individualizada ou restrita ao grupo que está em atividade. Eiras (2009) afirma que os grupos e as práticas grupais resultam do movi- mento da realidade social — para o qual é necessário propor análises —, dos aspectos externos que interferem no processamento dos fenômenos grupais — como a historicidade e as questões materiais, ideológicas e políticas —, bem como da luta de classes, e não somente da compreensão das relações internas. Vileirine (2016) destaca o pensamento de Martin Baró, que caracteriza grupo como a criação de vínculos de segurança e confiança. Ou seja, entende-se que os grupos se darão a partir do momento em que as pessoas possuírem um vínculo, por meio do qual se mobilizam para satisfazerem interesses materiais e/ou imateriais, individuais e coletivos. O autor reflete sobre o processo de movimento/articulação do grupo, afirmando que ele só se dá mediante a “mútua representação interna”. Ou seja, tem-se o trabalho coletivo, com objetivos comuns; porém, é necessário perceber que, por mais que o objetivo seja comum, trabalha-se a convergência de representações, pois cada sujeito possui uma representação diferente das mesmas situações. Dessa maneira, cabe refletir sobre o pensamento de Rodrigues (1978, p. 36 apud SILVEIRA; VIEIRA, 2016, p. 30), que caracteriza grupo como “um todo cujas propriedades são diferentes da soma das partes que o compõem; Abordagem coletiva2 o grupo e o seu meio constituem um campo social dinâmico”. Assim, o grupo é um todo dinâmico, pois, apesar de ser um conjunto de pessoas, não é simplesmente a soma dos participantes. Isso significa que qualquer mudança que ocorra com um dos participantes pode interferir no estado do grupo como um todo. Pichon-Rivière (1998) concebe grupo como um conjunto restrito de pessoas que, conectadas por invariantes de tempo e espaço, se propõem a realizar uma tarefa, que constitui a finalidade do grupo. Para tanto, as pessoas interagem entre si e partilham o que o autor chama de uma "mútua representação interna", que articula as constantes de tempo e espaço nas quais os indivíduos se situam. Um dos conceitos de grupo mais utilizado no Serviço Social é o conceito de grupo operativo. O grupo operativo é considerado uma técnica de interven- ção que situa a pessoa como protagonista de seu processo de aprendizagem. Nesse grupo, pode-se encontrar o conjunto de aspectos denominado MMM: motivação, mobilidade e mudanças. Motivação para ir além, para as tarefas expostas; mobilidade nos papéis a serem desempenhados; e mudanças a serem efetuadas de acordo com a necessidade. A aprendizagem centrada nos processos grupais traz destaque para a possibilidade de uma nova elaboração de conhecimento, integração e questio- namentos acerca de si e do meio. A aprendizagem é um processo contínuo em que comunicação e interação são indissociáveis, na medida em que se aprende a partir da relação com os outros. Na concepção de Pichon-Rivière, o grupo se apresenta como instrumento de transformação da realidade, e seus integrantes passam a estabelecer relações grupais que vão se constituindo à medida que começam a compartilhar objetivos comuns, a ter uma participação criativa e crítica e a poder perceber como interagem e se vinculam. Ou seja, a técnica de Pichon-Rivière possui um posicionamento político- -ideológico que compreende os sujeitos enquanto indivíduos inseridos em uma realidade concreta. Entretanto, entende também que instrumentalizar seus integrantes possibilita condições para que estes sejam capazes de serem eles mesmos os operadores da mudança e da transformação dessa realidade. Cabe ressaltar que, de acordo com as orientações do conjunto que abrange o Conselho Federal de Serviço Social e os Conselhos Regionais de Serviço Social (CFESS/CRESS), a formação profissional do assistente social não está habilitada para o desenvolvimento de trabalhos no campo terapêutico. Dessa forma, os trabalhos em grupos devem ser utilizados apenas como recurso para o desenvolvimento de trabalhos educativos. Seja em trabalhos em grupos ou em outra ação profissional, torna-se relevante entender a importância da relação entre assistente social e usuário, 3Abordagem coletiva pois a abordagem coletiva se constitui como ferramenta imprescindível para subsidiar as decisões sobre as ações a serem realizadas, interferindo no planejamento do trabalho do assistente social e no cotidiano dos usuários. Geralmente, quando o assistente social trabalha em programas de repasse de renda, por exemplo, é solicitado que o acompanhamento seja realizado a partir da abordagem coletiva. Para tanto, é necessário que seja enfocado o reconhecimento dos sujeitos que participam do grupo: quem são; quais as condições objetivas de vida; quais os objetivos para participar do grupo. É um trabalho que explicita a identificação de lideranças, a discussão do sig- nificado da participação, a análise das atividades desenvolvidas, o perfil dos participantes, a relação entre os protagonistas e as demandas apresentadas, entre outros aspectos. Para tanto, o profissional se utilizará de técnicas para embasar a abordagem. A técnica dos grupos operativos começou a ser sistematizada pelo psiquiatra Pichon- -Rivière, a partir de uma experiência no hospital Las Mercedes, em Buenos Aires, por
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