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Direito Civil XXXII Coisas

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DIREITO CIVIL
Prof. Maitê Damé Teixeira Lemos
 
1 
 
PREPARATÓRIO PARA O XXXII EXAME DA OAB 
DIREITO CIVIL - COISAS 
Profa. Maitê Damé Teixeira Lemos 
 
 
I – NOÇÕES INTRODUTÓRIAS E CONCEITUAIS 
 
1. Direito das Coisas – conceito e noções introdutórias 
O Direito das Coisas é um ramo do direito civil – direito privado, portanto – 
que se preocupa em estudar as relações jurídicas que se estabelecem entre as 
pessoas e coisas determinadas, no que diz respeito a apropriação destas coisas. 
Trata, pois, do domínio e do pertencimento de um determinado bem a uma 
pessoa. Para Penteado1 o Direito das Coisas disciplina “as normas jurídicas que 
dispõem sobre situações jurídicas que desencadeiam direitos que têm por objeto 
coisas”. Tartuce2 afirma que “o Direito das Coisas é o ramo do Direito Civil que 
tem como conteúdo relações jurídicas estabelecidas entre pessoas e coisas 
determinadas, ou mesmo determináveis”. Assim, o Direito das Coisas estuda os 
direitos subjetivos que incidem sobre coisas. 
Quando se estudam os bens jurídicos (parte geral) percebe-se que existem 
bens jurídicos materiais e bens jurídicos imateriais. Entende-se, com base em 
Gagliano e Pamplona Filho3 que coisas são os bens corpóreos, materiais e, 
segundo Tartuce4, coisas é tudo aquilo que não é humano. Os bens, por sua 
vez, são tanto os objetos corpóreos e materiais (coisas) quanto os ideais e 
imateriais, de forma a justificar que a liberdade, a honra, a imagem, a vida de 
 
1 PENTEADO, Luciano de Camargo. Direito das Coisas. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014. 
E-book. Disponível em: https://proview.thomsonreuters.com. Acesso em 02 out. 2020. 
2 TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v. 4. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, 
p. 1. E-book. Disponível em: 
https://grupogen.vitalsource.com/#/books/9788530989354/cfi/6/10!/4/8/2@0:0. Acesso em 16 
out. 2020. 
3 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil: parte 
geral. 18. ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 329-330. 
4 TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v. 4. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, 
p. 1. E-book. Disponível em: 
https://grupogen.vitalsource.com/#/books/9788530989354/cfi/6/10!/4/8/2@0:0. Acesso em 16 
out. 2020. 
 
2 
 
alguém possa ser considerado como bem jurídico (ainda que não seja uma 
coisa). 
É preciso que se esclareça que o Direito das Coisas estuda os bens 
jurídicos corpóreos, ou seja, as coisas, pois somente elas podem ser objeto 
de direitos de posse e de direitos subjetivos reais. A coisa possui três 
características que lhe identificam: o caráter corpóreo, material; a possibilidade 
de apropriação; a utilidade ou valor econômico. 
O caráter corpóreo da coisa refere-se a sua existência física, material. 
Como regra, o Direito das Coisas aplica-se somente às coisas materiais. 
Contudo, havendo previsão expressa em lei pode ser, também, aplicado aos 
bens incorpóreos ou direitos, como nos casos dos direitos autorais (propriedade 
intelectual), em que é admitido falar em propriedade sobre bens intelectuais 
(obra artística, literária, científica, programa de computador, etc). 
Diante das inovações impostas ao Código Civil pela lei da liberdade 
econômica, Tartuce5 apresenta a seguinte crítica: 
 
A propósito, como o Código Civil de 2002 trata, no livro do Direito das 
Coisas, de bens corpóreos ou materiais, merece críticas o novo 
tratamento dos fundos de investimentos, incluídos na codificação 
privada por força da Lei da Liberdade Econômica (Lei 13.874/2019), 
entre os seus arts. 1.368-C a 1.368-F. Como é notório, tais fundos são 
compostos por bens incorpóreos ou imateriais e, como advertimos 
quando dos debates para a conversão da originária MP 881 em lei, 
esse tratamento deveria estar em lei especial. Todavia, nossas 
ressalvas, e também de outros doutrinadores, não foram ouvidas e, 
agora, o Código Privado tem uma impropriedade e falta de coerência 
nesse tratamento. 
 
As coisas podem ser apropriadas pela pessoa, ou seja, podem tomar 
posse da coisa, tornar a coisa como sua, adquirir a propriedade. Ademais, 
possuem utilidade ou valor econômico, ou seja, a coisa é capaz de satisfazer 
as necessidades. 
 
 
5 TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v. 4. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, 
p. 1. E-book. Disponível em: 
https://grupogen.vitalsource.com/#/books/9788530989354/cfi/6/10!/4/8/2@0:0. Acesso em 16 
out. 2020. 
 
3 
 
2. Direitos Reais x Direitos Pessoais – distinções conceituais 
preliminares 
Existem discussões sobre a nomenclatura mais adequada: direito das 
coisas ou direitos reais. A partir do momento em que se compreende que o direito 
das coisas, enquanto ramo do direito civil, preocupa-se, metodologicamente, em 
estudar as relações estabelecidas entre pessoas e coisas determinadas, no que 
diz respeito a apropriação destas coisas, necessário, agora, conceituar os 
direitos reais e, então, diferenciá-los dos direitos pessoais. 
Tartuce6 estabelece os direitos reais como sendo “as relações jurídicas 
estabelecidas entre pessoas e coisas determinadas ou determináveis, tendo 
como fundamento principal o conceito de propriedade, seja ela plena ou restrita”. 
De certa forma, pode-se dizer que Direito das Coisas é o campo de estudo 
dos Direitos Reais, mas não só deles (também se estuda a posse). 
Importante observar que o Direito Civil estuda os direitos patrimoniais e os 
não patrimoniais (direitos de personalidade, por exemplo). Os direitos 
patrimoniais se dividem em direitos pessoais e direitos reais. 
Os direitos patrimoniais pessoais são previstos pelo direito de 
obrigações, pelo direito dos contratos, pelo direito empresarial. Já os direitos 
pessoais patrimoniais são disciplinados pelo direito de família e sucessório. 
Nestas relações o sujeito ativo pode exigir apenas do sujeito passivo a prestação 
sobre a qual estão vinculados. Ex.: no contrato de locação, o proprietário do 
imóvel pode exigir do locatário o pagamento do aluguel, assim como o locatário 
pode exigir do locador o respeito aos direitos originários do contrato de locação. 
Os efeitos são, portanto, inter partes. Neste caso, havendo inadimplemento do 
negócio (da locação, por exemplo), a vinculação será da pessoa e não incidirá 
sobre a coisa. 
Por sua vez, os direitos patrimoniais reais são disciplinados pelo Direito 
das Coisas e refere-se as situações que podem incidir sobre um bem corpóreo 
determinado, sobre o qual o titular poderá exercer seu direito, exigindo-o contra 
 
6 TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v. 4. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, 
p. 5. E-book. Disponível em: 
https://grupogen.vitalsource.com/#/books/9788530989354/cfi/6/10!/4/8/2@0:0. Acesso em 16 
out. 2020. 
 
4 
 
qualquer pessoa que se oponha. Neste caso, partindo do mesmo exemplo do 
contrato de locação, o locatário pode exigir de qualquer pessoa o respeito a 
posse direta que exerce sobre o imóvel locado, inclusive sobre o proprietário do 
imóvel. Os direitos reais tem efeito, portanto, erga omnes. Neste caso, havendo 
o inadimplemento do negócio (tomando-se como exemplo uma hipoteca, onde 
tem-se um bem em garantia, caso o valor não seja pago, o bem ofertado em 
garantia, fica vinculado a esse empréstimo. 
 
 
3. Direitos Reais – teorias justificadoras 
De forma clássica, existem duas teorias que explicam o conceito de direitos 
reais: teoria personalista e teoria realista. 
a) Teoria personalista: segundo tal teoria, os direitos reais seriam as 
relações jurídicas que se estabelecem entre sujeitos, mas 
intermediadas por coisas. O sujeito ativo seria o titular e o sujeito 
passivo seria indeterminado (contra quem poderia ser exigido o respeito 
ao direito do titular). 
b) Teoria realista ou clássica: para esta teoria, o direito real consistira 
em um poder imediato que o titular exerce sobre a coisa, com eficácia 
erga omnes. Para esta teoria a relação seriasujeito/titular – coisa (e a 
oposição seria erga omnes). 
 
Deve-se destacar que ambas as teorias possuem doutrinadores de renome 
a elas filiados e esta diferenciação é mais no âmbito conceitual do que, 
propriamente, prático. 
 
4. Direitos Reais – características 
Os direitos reais possuem como características mais marcantes: 
 
5 
 
a) Oponibilidade erga omnes: produzem efeitos diretos contra todas as 
pessoas (coletividade). Toda e qualquer pessoa deve se abster de 
molestar bem alheio7. 
b) Direito de sequela: os direitos reais aderem a coisa, concedendo ao 
titular do direito real “o direito de perseguir a coisa no local em que ela 
se encontrar e com quem estiver indevidamente o bem alheio”8. 
c) Publicidade: é dar visibilidade para o titular do direito sobre o bem. A 
partir daí, em se tratando de direito real sobre bem móvel, a transmissão 
se dá pela entrega/tradição (art. 1.226, CC). Contudo, se o direito real 
incidir sobre bem imóvel, a transmissão somente ocorre pelo registro no 
Cartório de Registro de Imóveis (art. 1.227, CC). Estes atos (tradição e 
registro) é que dão publicidade. 
d) Rol taxativo: o rol de direitos reais no Brasil é taxativo e está previsto 
no art. 1.225, CC9, de forma que, como regra, não se admite 
interpretação extensiva, mas apenas aqueles previstos legislativamente 
(numerus clausus), embora não exclua, de forma absoluta, a 
possibilidade de inclusão de novos direitos reais. Trata-se de uma 
característica e não de uma definição absoluta, pois já existem decisões 
 
7 MELO, Marco Aurélio Bezerra de. Direito Civil: coisas. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019, p. 
4. E-book. Disponível em: 
https://grupogen.vitalsource.com/#/books/9788530986216/cfi/6/20!/4/34/2/2@0:0. Acesso em 16 
out. 2020. 
8 MELO, Marco Aurélio Bezerra de. Direito Civil: coisas. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019, p. 
5. E-book. Disponível em: 
https://grupogen.vitalsource.com/#/books/9788530986216/cfi/6/20!/4/34/2/2@0:0. Acesso em 16 
out. 2020. 
9 Art. 1.225. São direitos reais: 
I - a propriedade; 
II - a superfície; 
III - as servidões; 
IV - o usufruto; 
V - o uso; 
VI - a habitação; 
VII - o direito do promitente comprador do imóvel; 
VIII - o penhor; 
IX - a hipoteca; 
X - a anticrese. 
XI - a concessão de uso especial para fins de moradia; 
XII - a concessão de direito real de uso; e 
XIII - a laje. 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13465.htm#art55
 
6 
 
como no caso da multipropriedade imobiliária10 em que restou 
reconhecido direito real. 
e) Perpetuidade: os direitos reais permanecem enquanto existir o objeto, 
ou seja, sua existência não se extingue pelo não uso. 
f) Preferência: o titular de um direito real tem direito de preferência. Ex.: 
no recebimento de créditos, aquele que tiver um direito real de garantia, 
como a hipoteca, por exemplo, tem preferência sobre os credores 
quirografários, “porque nos direitos reais de garantia o bem dado 
em garantia fica afetado ao cumprimento da obrigação”11. 
g) Possibilidade de abandono: é possível a renúncia a direitos reais. 
 
10 PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. RECURSO ESPECIAL. EMBARGOS DE TERCEIRO. 
MULTIPROPRIEDADE IMOBILIÁRIA (TIME-SHARING). NATUREZA JURÍDICA DE DIREITO 
REAL. UNIDADES FIXAS DE TEMPO. USO EXCLUSIVO E PERPÉTUO DURANTE CERTO 
PERÍODO ANUAL. PARTE IDEAL DO MULTIPROPRIETÁRIO. PENHORA. INSUBSISTÊNCIA. 
RECURSO ESPECIAL CONHECIDO E PROVIDO. 1. O sistema time-sharing ou 
multipropriedade imobiliária, conforme ensina Gustavo Tepedino, é uma espécie de 
condomínio relativo a locais de lazer no qual se divide o aproveitamento econômico de 
bem imóvel (casa, chalé, apartamento) entre os cotitulares em unidades fixas de tempo, 
assegurando-se a cada um o uso exclusivo e perpétuo durante certo período do ano. 2. 
Extremamente acobertada por princípios que encerram os direitos reais, a multipropriedade 
imobiliária, nada obstante ter feição obrigacional aferida por muitos, detém forte liame com o 
instituto da propriedade, se não for sua própria expressão, como já vem proclamando a doutrina 
contemporânea, inclusive num contexto de não se reprimir a autonomia da vontade nem a 
liberdade contratual diante da preponderância da tipicidade dos direitos reais e do sistema de 
numerus clausus. 3. No contexto do Código Civil de 2002, não há óbice a se dotar o instituto 
da multipropriedade imobiliária de caráter real, especialmente sob a ótica da taxatividade 
e imutabilidade dos direitos reais inscritos no art. 1.225. 4. O vigente diploma, seguindo os 
ditames do estatuto civil anterior, não traz nenhuma vedação nem faz referência à 
inviabilidade de consagrar novos direitos reais. Além disso, com os atributos dos direitos 
reais se harmoniza o novel instituto, que, circunscrito a um vínculo jurídico de aproveitamento 
econômico e de imediata aderência ao imóvel, detém as faculdades de uso, gozo e disposição 
sobre fração ideal do bem, ainda que objeto de compartilhamento pelos multiproprietários de 
espaço e turnos fixos de tempo. 5. A multipropriedade imobiliária, mesmo não efetivamente 
codificada, possui natureza jurídica de direito real, harmonizando-se, portanto, com os institutos 
constantes do rol previsto no art. 1.225 do Código Civil; e o multiproprietário, no caso de penhora 
do imóvel objeto de compartilhamento espaço-temporal (time-sharing), tem, nos embargos de 
terceiro, o instrumento judicial protetivo de sua fração ideal do bem objeto de constrição. 6. É 
insubsistente a penhora sobre a integralidade do imóvel submetido ao regime de 
multipropriedade na hipótese em que a parte embargante é titular de fração ideal por conta de 
cessão de direitos em que figurou como cessionária. 7. Recurso especial conhecido e provido. 
(REsp 1546165/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, Rel. p/ Acórdão Ministro 
JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, TERCEIRA TURMA, julgado em 26/04/2016, DJe 06/09/2016) 
11 MELO, Marco Aurélio Bezerra de. Direito Civil: coisas. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019, 
p. 10. E-book. Disponível em: 
https://grupogen.vitalsource.com/#/books/9788530986216/cfi/6/20!/4/34/2/2@0:0. Acesso em 16 
out. 2020. 
 
7 
 
h) Incorporação da coisa pela posse: pelo exercício do domínio fático 
da coisa por certo tempo. 
i) Aquisição via usucapião: em razão do exercício da posse, o direito 
real pode ser adquirido via usucapião (bens imóveis, móveis ou 
servidões). 
 
 
II – POSSE 
 
1. Posse – conceito 
Existe muita discussão acerca do conceito de posse. Alguns entendem ser 
um mero fato e, outros, entendem ser um direito (é o que a maioria da doutrina 
entende). Neste sentido, Tartuce12 afirma que: 
 
Nessa linha igualmente me posiciono doutrinariamente. Isso porque a 
posse pode ser conceituada como sendo o domínio fático que a pessoa 
exerce sobre a coisa. A partir dessa ideia, levando-se em conta a teoria 
tridimensional de Miguel Reale, pode-se afirmar que a posse constitui 
um direito, com natureza jurídica especial. Como dito no capítulo 
anterior, a posse é um conceito intermediário, entre os direitos 
pessoais e os direitos reais. Mas esse caráter híbrido não tem o 
condão de gerar a conclusão de que não constitui um direito 
propriamente dito. 
 
A posse é, pois, o domínio físico que alguém tem sobre a coisa, que vem a 
ser protegido pelo Direito, sendo, portanto, concedido efeitos jurídicos a este 
domínio. Segundo Loureiro13, posse “é o exercício, em nome próprio, das 
prerrogativas inerentes a um direito real”, “é o exercício de fato de um dos 
poderes inerentes à propriedade”. Assim, é domínio físico/fático sobre a coisa, 
mas também direito, pois assim a lei reconhece. 
 
2. Posse – teorias justificadoras 
 
12 TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v. 4. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, 
p. 32. E-book. Disponível em: 
https://grupogen.vitalsource.com/#/books/9788530989354/cfi/6/10!/4/8/2@0:0. Acesso em 16 
out. 2020. 
13 LOUREIRO, Luiz Guilherme. Curso Completode Direito Civil. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 
2010, p. 761. 
 
8 
 
O conceito de posse vem explicado por duas grandes teorias justificadoras: 
a teoria subjetivista de Savigny e a teoria objetivista de Jhering. 
Teoria subjetivista ou subjetiva – corpus + animus domni: para esta 
teoria, a posse seria o poder físico sobre a coisa (corpus) e a vontade de ser 
dono desta coisa (animus domni), ou seja, de ter a coisa para si próprio. No 
exemplo da locação, o locatário de um imóvel tem o poder físico sobre a coisa, 
mas não a intenção de tê-la para si. 
Teoria objetivista – corpus: para esta teoria, a posse seria a disposição 
física da coisa, ou seja, o poder físico/fático sobre a coisa, dispensando o 
“animus domni”, mas agindo, o agente, com o intuito de explorar a coisa de forma 
econômica. Esta é a teoria adotada pelo Brasil, pois o art. 1.196, CC, ao tratar 
da posse, prevê: “Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o 
exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade”. 
 
3. Posse x detenção 
Necessário se faz, compreender o conceito de detenção, pois ele difere-
se do conceito de posse. Na posse, o sujeito que possui o domínio físico da coisa 
age como se dono fosse, pois objetiva ter a coisa para si. Já na detenção, 
embora tenha o domínio físico da coisa, o sujeito sabe que a coisa não é sua e 
pretende devolvê-la após o uso (objeto da locação, livro da biblioteca, etc). 
O art. 1.198, CC prevê que “considera-se detentor aquele que, achando-se 
em relação de dependência para com outro, conserva a posse em nome deste 
e em cumprimento de ordens ou instruções suas”. Assim o detentor tem a coisa 
em razão de uma situação de dependência econômica ou de subordinação. Ex.: 
o capataz da fazenda tem a detenção do imóvel, conservando a posse em nome 
do proprietário, em cumprimento de suas obrigações. 
Tartuce14 ainda traz como exemplo de detenção, a situação de alguém que 
deixa seu carro em um estacionamento. Nesta situação, a empresa, proprietária 
do estacionamento detém a posse do veículo, em razão do contrato firmado 
 
14 TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v. 4. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, 
p. 40. E-book. Disponível em: 
https://grupogen.vitalsource.com/#/books/9788530989354/cfi/6/10!/4/8/2@0:0. Acesso em 16 
out. 2020. 
 
9 
 
entre o proprietário e o estacionamento (mesmo que verbal). Já o manobrista 
(funcionário do estacionamento), este tem detenção do veículo, pois exerce a 
posse em nome do estacionamento. 
O detentor exerce a posse em nome de outrem. A ele, em nome próprio, 
não é permitido exercer as ações possessórias, mas ele pode exercer o direito 
de defesa da posse alheira, por meio da autotutela15, nos termos do enunciado 
493 das Jornadas de Direito Civil: “O detentor (art. 1.198 do Código Civil) pode, 
no interesse do possuidor, exercer a autodefesa do bem sob seu poder” 
(Enunciado n. 493). 
Mas é possível transformar a detenção em posse, desde que rompida a 
subordinação, conforme entendimento do enunciado n. 301 das Jornadas de 
Direito Civil: “É possível a conversão da detenção em posse, desde que rompida 
a subordinação, na hipótese de exercício em nome próprio dos atos 
possessórios”. 
O STJ tem entendimento firmado de que a ocupação indevida de bem 
público também se configura em detenção: “Súmula 619, STJ. A ocupação 
indevida de bem público configura mera detenção, de natureza precária, 
insuscetível de retenção ou indenização por acessões e benfeitorias”. 
O mesmo Tribunal decidiu que no caso de um proprietário que deixa seu 
veículo na concessionária para a realização de reparos, que a concessionária é 
detentora do bem, não detendo sua posse e, com isto, não podendo retê-lo em 
caso de falta de pagamento pelo serviço prestado. O STJ entendeu que a 
concessionária tem a detenção do veículo, que “ficou sob sua custódia por 
determinação e liberalidade da proprietária, em uma espécie de vínculo de 
subordinação” (STJ, REsp 1.628.385/ES, 3.ª Turma, Rel. Min. Ricardo Villas 
Bôas Cueva, j. 22.08.2017, DJe 29.08.2017). 
 
4. Posse – classificação 
 
15 TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v. 4. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, 
p. 37. E-book. Disponível em: 
https://grupogen.vitalsource.com/#/books/9788530989354/cfi/6/10!/4/8/2@0:0. Acesso em 16 
out. 2020. 
 
10 
 
Estudar a classificação da posse é importante em razão dos efeitos desta 
posse, pois, conforme for ela de boa ou má-fé, justa ou injusta, direta ou indireta, 
serão os efeitos advindos daí. 
 
4.1. Posse direta e posse indireta – art. 1.197, CC 
Art. 1.197. A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, 
temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, não anula a 
indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto 
defender a sua posse contra o indireto. 
 
A posse direta é aquela em que o sujeito tem o controle material, físico e 
imediato do bem. Ex.: o locatário, no contrato de locação, exerce a posse direta 
do imóvel, com autorização do locador. 
A posse indireta é aquela exercida através de outra pessoa. Trata-se de 
uma concessão, geralmente por parte do proprietário, para que terceiro exerça 
a posse direta. Ex.: o locador, no contrato de locação, exerce a posse indireta do 
imóvel, e o locatário, a posse direta. 
Essas duas posses são coexistentes, ou seja, uma não anula a outra (art. 
1.197, CC) e ambas podem ser tuteladas. Ex.: possuidor indireto (locador) pode 
utilizar-se dos interditos proibitórios para defesa de seu direito contra terceiros, 
mas não pode exercer contra o possuidor direto (locatário), pois este último 
exerce a posse em razão de um contrato (uma relação pessoal)16. Ex.: o 
possuidor direto (locatário) pode exercer sua posse contra terceiros e, também, 
contra o possuidor indireto, mesmo que este seja proprietário do imóvel. 
 
4.2. Composse – art. 1.199, CC 
Art. 1.199. Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, poderá 
cada uma exercer sobre ela atos possessórios, contanto que não 
excluam os dos outros compossuidores. 
 
A composse ocorre quando existir uma posse comum sobre uma coisa, 
isto é, quando duas ou mais pessoas possuírem o domínio fático da coisa. Neste 
caso, há um condomínio de posse e este pode ser derivado da herança ou de 
ato inter vivos (contrato). 
 
16 No caso de inadimplemento dos valores de aluguel, por exemplo, a ação cabível não é 
reintegração de posse, mas sim, ação de despejo por falta de pagamento. Lembre-se que a 
posse direta é oriunda de um contrato de locação. 
 
11 
 
Cada compossuidor pode usar a coisa e exercer direitos possessórios 
contra terceiros, mas não pode impedir que os demais compossuidores também 
a utilizem. Assim, tem-se como exemplo a situação dos herdeiros, que, pela 
transmissão da herança (princípio da saisine) recebem os bens que compõe o 
acervo hereditário como um todo unitário e indivisível (art. 1.791, CC). Os 
herdeiros são compossuidores dos bens da herança. Podem usá-los durante o 
período da indivisão (do óbito até a efetivação a partilha), mas não podem 
impedir que os outros herdeiros também os usem. 
O STJ decidiu em 2010 que os herdeiros podem manejar as possessórias, 
uns contra os outros, sempre que houver turbação ou esbulho da posse de um 
dos herdeiros por parte dos outros. 
Princípio saisine. Reintegração. Composse. Cinge-se a questão em 
saber se o compossuidor que recebe a posse em razão do 
princípio saisine tem direito à proteção possessória contra outro 
compossuidor. Inicialmente, esclareceu o Min. Relator que, entre os 
modos de aquisição de posse, encontra-se o ex lege, visto que, não 
obstante a caracterização da posse como poder fático sobre a coisa, o 
ordenamento jurídico reconhece, também, a obtenção desse direito 
pela ocorrência de fato jurídico – a morte do autor da herança –, em 
virtude do princípio da saisine, que confere a transmissãoda posse, 
ainda que indireta, aos herdeiros independentemente de qualquer 
outra circunstância. Desse modo, pelo mencionado princípio, verifica-
se a transmissão da posse (seja ela direta ou indireta) aos autores e 
aos réus da demanda, caracterizando, assim, a titularidade do direito 
possessório a ambas as partes. No caso, há composse do bem em 
litígio, motivo pelo qual a posse de qualquer um deles pode ser 
defendida todas as vezes em que for molestada por estranhos à 
relação possessória ou, ainda, contra ataques advindos de outros 
compossuidores. In casu, a posse transmitida é a civil (art. 1.572 do 
CC/1916), e não a posse natural (art. 485 do CC/1916). Existindo 
composse sobre o bem litigioso em razão do droit de saisine é 
direito do compossuidor esbulhado o manejo de ação de 
reintegração de posse, uma vez que a proteção à posse molestada 
não exige o efetivo exercício do poder fático – requisito exigido pelo 
tribunal de origem. O exercício fático da posse não encontra amparo 
no ordenamento jurídico, pois é indubitável que o herdeiro tem posse 
(mesmo que indireta) dos bens da herança, independentemente da 
prática de qualquer outro ato, visto que a transmissão da posse dá-
se ope legis, motivo pelo qual lhe assiste o direito à proteção 
possessória contra eventuais atos de turbação ou esbulho. Isso posto, 
a Turma deu provimento ao recurso para julgar procedente a ação 
de reintegração de posse, a fim de restituir aos autores da ação a 
composse da área recebida por herança. Precedente citado: REsp 
136.922-TO, DJ 16.03.1998” (STJ, REsp 537.363/RS, Rel. Min. Vasco 
Della Giustina (Desembargador convocado do TJRS), j. 20.04.2010). 
 
 
12 
 
A composse pode ser pro diviso ou pro indiviso. Quando os 
compossuidores possuírem apenas uma fração ideal da posse, esta composse 
será pro indiviso, como no caso dos herdeiros sobre os bens da herança, onde 
todos os herdeiros são detentores da posse sobre uma fração ideal da coisa. No 
caso em que os compossuidores sabem, no plano fático, a parte da coisa sobre 
a qual exercem a posse, está-se diante da composse pro diviso, como no caso 
de dois sujeitos que exercem a posse sobre um terreno grande, um deles, na 
parte da frente e, o outro, na parte dos fundos, havendo uma cerca que divide o 
terreno ao meio. Neste caso, embora ambos exerçam a posse sobre o terreno, 
cada um está sobre uma porção real do imóvel. 
 
4.3. Posse justa e injusta – art. 1.200, CC 
Art. 1.200. É justa a posse que não for violenta, clandestina ou precária. 
 
A posse justa, conforme a redação do art. 1200, CC é aquela que não for 
violenta, clandestina ou precária, ou seja, ela não ofende a previsão legal, tendo 
sido adquirida de forma legítima e merecendo proteção legal. Trata-se de uma 
posse limpa. 
A posse injusta, é aquela obtida de forma violenta, clandestina ou 
precária, de forma que sua aquisição tenha sido ilícita, ou seja, viciada por ter 
sido adquirida por violação da lei. Assim, a posse violenta é a retirada da coisa 
do antigo possuidor contra a sua vontade, “obtida por meio de esbulho, for força 
física ou violência moral”17. A posse precária é aquela adquirida a partir do 
abuso de confiança ou do abuso de direito, que resulta da “retenção indevida da 
coisa que deve ser devolvida ao seu possuidor indireto”18. Por fim, a posse 
clandestina é aquela obtida de forma oculta, às escondidas (não pública). 
Os vícios (posse injusta) estão ligados ao momento de sua aquisição, de 
forma que até podem deixar de existir. 
Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou 
tolerância assim como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, 
 
17 TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v. 4. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, 
p. 45. E-book. Disponível em: 
https://grupogen.vitalsource.com/#/books/9788530989354/cfi/6/10!/4/8/2@0:0. Acesso em 16 
out. 2020. 
18 LOUREIRO, Luiz Guilherme. Curso Completo de Direito Civil. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 
2010, p. 771. 
 
13 
 
ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a 
clandestinidade. 
 
Contudo, há entendimento que, mesmo nestes casos, a posse não deixa 
de ser injusta, pois sua origem derivou de uma forma contrária a lei. 
 
4.4. Posse de boa e má-fé – art. 1.201, CC 
Art. 1.201. É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o 
obstáculo que impede a aquisição da coisa. 
Parágrafo único. O possuidor com justo título tem por si a presunção 
de boa-fé, salvo prova em contrário, ou quando a lei expressamente 
não admite esta presunção. 
 
A posse de boa-fé é aquela na qual o possuidor acredita ser proprietário 
da coisa, por ignorar existência de vício que impeça a aquisição da mesma. A 
boa-fé é do possuidor que, no momento da aquisição da coisa não sabia que 
estava lesando o direito de alguém, ou seja, o possuidor não tinha ideia de que 
existisse algum obstáculo que impedisse que ele viesse a adquirir a propriedade 
da coisa. 
A doutrina afirma que a boa-fé implica um “desconhecimento não culposo”, 
isto é, se o indivíduo, na aquisição, recebeu a posse por um justo título, sem 
saber da existência de um defeito que impedisse a aquisição da propriedade. 
Neste aspecto, Tartuce19 afirma que: 
[...] o possuidor de boa-fé é aquele que ignora os vícios que inquinam 
sua posse. Esses vícios podem ser os da violência, os da 
clandestinidade ou os da precariedade, mas não necessariamente, ou 
seja, os vícios estão presentes, mas são por ele desconhecidos. Daí, 
sua ausência de consciência significar boa-fé subjetiva. 
 
Assim, a existência de um justo título, pela redação do art. 1.201, parágrafo 
único, presume a boa-fé (um contrato de promessa de compra e venda, uma 
cessão de direitos possessórios, etc.). O enunciado 312 das Jornadas de Direito 
Civil traduz esta situação: “Pode ser considerado justo título para a posse de 
boa-fé o ato jurídico capaz de transmitir a posse ad usucapionem, observado o 
disposto no art. 113 do Código Civil”. Ainda, o enunciado 313 das Jornadas de 
 
19 TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v. 4. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, 
p. 53. E-book. Disponível em: 
https://grupogen.vitalsource.com/#/books/9788530989354/cfi/6/10!/4/8/2@0:0. Acesso em 16 
out. 2020. 
 
14 
 
Direito Civil traz a previsão do instrumento de cessão de direitos como sendo 
justo título, embora não exista a necessidade de estar a transmissão 
materializada por instrumento: 
Considera-se justo título, para a presunção relativa da boa-fé do 
possuidor, o justo motivo que lhe autoriza a aquisição derivada da 
posse, esteja ou não materializado em instrumento público ou 
particular. Compreensão na perspectiva da função social da posse. 
 
Contudo, se ele não observou os deveres de cuidado que uma pessoa 
normal deveria ter, se ele foi negligente quanto a aquisição da coisa, equipara-
se a posse de má-fé. De má-fé é, também, a posse em que o indivíduo sabia 
que sua conduta, ao adquirir a coisa, violava direito de outrem, pois ele tinha 
consciência de sua conduta. 
A posse de boa-fé pode transformar-se em posse de má-fé a partir do 
momento em que o possuidor toma ciência do vício ou que possui a coisa 
indevidamente. 
Art. 1.202. A posse de boa-fé só perde este caráter no caso e desde o 
momento em que as circunstâncias façam presumir que o possuidor 
não ignora que possui indevidamente. 
 
Assim, se o indivíduo sabe da existência de vício ou obstáculo à aquisição 
da propriedade da coisa, sua posse torna-se de má-fé. 
De se observar que a boa-fé é presumida, cabendo a parte contrária fazer 
prova da existência de má-fé por parte do possuidor. 
Por fim, pode-se dizer que a posse de má-fé é aquela em que o indivíduo 
sabe da existência do vício, mas, ainda assim, toma a coisa para si, passando a 
exercer o domínio fático sobre esta. Este possuidor não tem um justo título. 
 
4.5. Posse com título e sem título 
A posse com título é aquelana qual a transmissão da posse se deu, de 
um indivíduo para outro, baseada em uma causa representativa, especialmente 
por um documento. De se observar que não se exige a formalização deste 
documento, mas sim a existência de uma causa representativa da transmissão 
da posse. 
A posse sem título é quando inexiste (ou aparentemente não existe) esta 
causa representativa de transmissão do domínio. Ex.: alguém que encontra uma 
 
15 
 
faca com cabo de prata e ouro no meio do campo e toma posse dela. O indivíduo 
não tinha a intenção de encontrar a faca, e, neste caso, não havendo uma 
vontade relevante para que se perfectibilize o ato, torna este como um ato-fato 
jurídico (não há uma vontade juridicamente relevante para a existência do ato). 
 
4.6. Posse nova e posse velha 
Esta classificação da posse, em razão do tempo de exercício, traz efeitos 
processuais, pelo uso ou não, do procedimento previsto no art. 558 e seguintes 
do CPC/2015. 
Art. 558. Regem o procedimento de manutenção e de reintegração de 
posse as normas da Seção II deste Capítulo quando a ação for 
proposta dentro de ano e dia da turbação ou do esbulho afirmado na 
petição inicial. 
Parágrafo único. Passado o prazo referido no caput , será comum o 
procedimento, não perdendo, contudo, o caráter possessório. 
 
A posse nova é aquela que conta com menos de ano e dia, ou seja, é a 
posse de até um ano. 
A posse velha é que possui, pelo menos, um ano e um dia. 
 
 
5. Aquisição e transmissão da posse 
Art. 1.204. Adquire-se a posse desde o momento em que se torna 
possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes 
inerentes à propriedade. 
 
A aquisição da posse ocorre no momento em que os poderes inerentes à 
propriedade passam a ser exercidos pelo possuidor. Esta aquisição pode se dar 
de forma originária, quando não houver qualquer vinculação entre a posse atual 
e a anterior, ou derivada, quando existir uma transmissão da posse pelo antigo 
possuidor ao atual. 
Importante observar que na aquisição derivada, a posse é transmitida nos 
mesmos moldes em que foi adquirida pelo antigo possuidor: 
Art. 1.206. A posse transmite-se aos herdeiros ou legatários do 
possuidor com os mesmos caracteres. 
 
 
16 
 
Significa dizer, então, que se a aquisição da posse se deu de forma viciada, 
os vícios também são transmitidos ao atual possuidor, mesmo que ele esteja de 
boa-fé. Donizetti e Quintella20 apresentam o seguinte exemplo: 
Silvio, que havia furtado a coisa, vende-a a Helena. A posse de Silvio 
era injusta (clandestina) e, por mais que Helena se torne possuidora 
de boa-fé, por desconhecer o defeito da posse que lhe foi transmitida, 
terá posse injusta. 
 
Assim, salvo prova em contrário, a posse mantém o mesmo caráter com o 
qual foi adquirida (art. 1.203, CC). 
 
5.1. Apossamento 
A aquisição originária ocorre pelo apossamento ou ocupação, quando o 
sujeito assume o controle, o domínio fático da coisa. 
Ex.: alguém que encontra um celular no lixo. Trata-se de um apossamento, 
pois o sujeito adquire a posse daquela coisa de forma originária. 
O apossamento também pode ocorrer pelo esbulho, quando alguém toma 
para si a coisa, apoderando-se dela e retirando do domínio fático de outrem. 
 
5.2. Tradição 
A aquisição derivada ocorre pela tradição, ou seja, quando o antigo 
possuidor transmite ao atual possuidor o domínio fático da coisa. A tradição 
independe de existência de documento escrito transferindo a coisa, bastando a 
conduta de entregar (antigo possuidor) e receber (atual possuidor) a coisa. 
A tradição pode ser real – quando há a efetiva entrega da coisa pelo antigo 
possuidor –, simbólica – quando a transmissão não é da coisa em si, mas de 
algo que represente a coisa (chaves de um imóvel, por exemplo) – ou ficta – é a 
que ocorre por presunção, pela transmissão de um documento, sem que exista 
qualquer contato com a coisa (inquilino que adquire, por compra e venda, a 
propriedade do imóvel em que reside). 
 
5.3. Constituto possessório 
 
20 DONIZETTI, Elpídio; QUINTELLA, Felipe. Curso Didático de Direito Civil. 6.ed. São Paulo: 
Atlas, 2017, p. 696. 
 
17 
 
Trata-se de uma forma de aquisição derivada, pelo modo simbólico, pois a 
coisa não é entregue de forma física, apenas simbólica, mas a posse é 
transmitida. Ocorre o constituto possessório quando houver uma cláusula de 
convenção, pela qual o cedente, ainda que transmita a coisa, permanece na 
posse dela, como possuidor, em nome do adquirente. 
Ex.: o proprietário de um apartamento vendo o imóvel, mas segue alugando 
o mesmo do novo proprietário. 
 
5.4. Quem pode adquirir a posse 
Art. 1.205. A posse pode ser adquirida: 
I - pela própria pessoa que a pretende ou por seu representante; 
II - por terceiro sem mandato, dependendo de ratificação. 
 
A posse pode ser adquirida: pela própria pessoa e, neste caso, ocorrer 
diretamente ou por seu representante; ou por terceiro, sem mandato de 
representação, dependendo, neste último caso, de ratificação do ato por parte 
da pessoa em nome de quem se adquire. 
A partir daí, verifica-se que o representante legal ou convencional da parte 
não é possuidor da coisa, mas mero detentor (art. 1.198, CC). 
 
5.5. Transmissão sucessória da posse 
Art. 1.206. A posse transmite-se aos herdeiros ou legatários do 
possuidor com os mesmos caracteres. 
Art. 1.207. O sucessor universal continua de direito a posse do seu 
antecessor; e ao sucessor singular é facultado unir sua posse à do 
antecessor, para os efeitos legais. 
 
Uma vez que tenha ocorrido a morte, abre-se a sucessão e a herança é 
transmitida aos herdeiros como um todo unitário e indivisível (princípio da 
saisine). Assim, na sucessão, quando se está diante de uma sucessão a título 
universal, existe uma continuidade na posse, por parte dos sucessores com 
relação ao falecido21. A posse é a mesma, transmitindo-se com todos os vícios 
ou qualidades, ou seja, não se trata de nova posse, mas a mesma exercida pelo 
antecessor. 
 
21 Aqui vale observar que, tanto na sucessão legítima, quanto na sucessão testamentária 
(mesmo no caso do legado que é sucessão a título singular), o sucessor continua a posse do 
falecido. 
 
18 
 
Já na aquisição a título singular, o novo possuidor pode escolher entre 
continuar o tempo da posse do antecessor ou iniciar nova posse. Ex.: aquele que 
adquire um imóvel por compra e venda pode optar por somar sua posse à posse 
do antecessor/vendedor ou, então, zerar a contagem e iniciar novo prazo de 
posse. De toda forma, a transmissão da posse ocorre com as mesmas 
características anteriores. 
 
5.6. Atos que não induzem posse 
Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou 
tolerância assim como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, 
ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a 
clandestinidade. 
 
Os atos de permissão ou tolerância não induzem posse. Este é o caso do 
detentor, que conserva a posse em nome do dono (art. 1.198, CC). 
De igual forma, os atos clandestinos ou violentos não autorizam a aquisição 
da posse. Significa que nos casos de conflitos de terra, por exemplo, em que 
haja a tomada violenta da posse da área, estes não poderão adquirir a posse, 
em razão da violência do ato. Contudo, depois que cessar a violência ou a 
clandestinidade poderão eles adquirir a posse. 
Assim, a proteção liminar nas ações possessórias, havendo violência e 
clandestinidade, só ocorre quando estas datarem de menos de ano e dia, nos 
termos do art. 558, CPC/2015. 
 
 
6. Efeitos da posse 
O Código Civil estabelece, dos arts. 1.210 ao 1.222 os efeitos da posse. 
Tais efeitos podem ser de ordem material ou processual. 
Os efeitos materiais dizem respeito a percepção dos frutos e suas 
consequências, ao direito a indenização e retenção das benfeitorias, as 
responsabilidades e ao direito de usucapião. 
Já os efeitos processuais dizem respeito a possibilidadede utilização dos 
interditos possessórios, as ações possessórias e a legítima defesa da posse e 
do desforço imediato. 
 
 
19 
 
6.1. Percepção dos frutos 
Quanto a percepção dos frutos, deve-se, por primeiro, considerar se a 
posse é de boa ou má-fé. Assim, o Código Civil prevê os seguintes dispositivos 
quanto ao recebimento (ou não) dos frutos. 
Art. 1.214. O possuidor de boa-fé tem direito, enquanto ela durar, aos 
frutos percebidos. 
Parágrafo único. Os frutos pendentes ao tempo em que cessar a boa-
fé devem ser restituídos, depois de deduzidas as despesas da 
produção e custeio; devem ser também restituídos os frutos colhidos 
com antecipação. 
Art. 1.215. Os frutos naturais e industriais reputam-se colhidos e 
percebidos, logo que são separados; os civis reputam-se percebidos 
dia por dia. 
Art. 1.216. O possuidor de má-fé responde por todos os frutos colhidos 
e percebidos, bem como pelos que, por culpa sua, deixou de perceber, 
desde o momento em que se constituiu de má-fé; tem direito às 
despesas da produção e custeio. 
 
O possuidor de boa-fé tem direito aos frutos percebidos (colhidos). Já os 
frutos pendentes (ainda não colhidos) devem ser restituídos, assim como 
aqueles que tenham sido colhidos por antecipação. Já o possuidor de má-fé 
deve devolver todos os frutos colhidos ou pendentes, bem como aqueles que 
deixou de colher por culpa sua (art. 1.216, CC), devendo, neste último caso, ser 
responsabilizado no caso de perecimento do frutos não colhidos por sua culpa 
(reparação de danos – responsabilidade civil). Mas tem direito, o possuidor de 
má-fé a ser indenizado pelas despesas de produção e custeio. 
Os frutos naturais são aqueles provenientes da coisa principal (frutas, por 
exemplo). Estes, tão logo sejam separados da coisa principal consideram-se 
colhidos. 
Os frutos industriais são aqueles que derivam de uma atividade humana 
(tudo o que venha a ser produzido em uma fábrica, por exemplo). Estes, assim, 
como os naturais, logo após separados consideram-se colhidos. 
Os frutos civis derivam de uma relação jurídica ou econômica (rendimentos 
de aplicações financeiras, aluguel de imóveis, por exemplo). Estes são 
percebidos na data prevista para vencimento do aluguel ou do “aniversário” da 
aplicação financeira. 
 
6.2. Retenção e indenização das benfeitorias 
 
20 
 
Conforme estudado na parte geral, as benfeitorias são acessórios que se 
agregam a coisa principal, ou seja, obras artificiais, realizadas pelo homem, na 
estrutura da coisa principal – já existente – com o propósito de conservá-la, 
melhorá-la ou embelezá-la. Estas benfeitorias podem ser classificadas em 
necessárias, úteis e voluptuárias22. 
Quanto a relação entre o exercício da posse e as benfeitorias, os arts. 1.219 
a 1.222, CC também consideram a existência de uma posse de boa ou má-fé 
para autorizar (ou não) a indenização e a retenção das benfeitorias: 
 
Art. 1.219. O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das 
benfeitorias necessárias e úteis, bem como, quanto às voluptuárias, se 
não lhe forem pagas, a levantá-las, quando o puder sem detrimento da 
coisa, e poderá exercer o direito de retenção pelo valor das benfeitorias 
necessárias e úteis. 
Art. 1.220. Ao possuidor de má-fé serão ressarcidas somente as 
benfeitorias necessárias; não lhe assiste o direito de retenção pela 
importância destas, nem o de levantar as voluptuárias. 
Art. 1.221. As benfeitorias compensam-se com os danos, e só obrigam 
ao ressarcimento se ao tempo da evicção ainda existirem. 
Art. 1.222. O reivindicante, obrigado a indenizar as benfeitorias ao 
possuidor de má-fé, tem o direito de optar entre o seu valor atual e o 
seu custo; ao possuidor de boa-fé indenizará pelo valor atual. 
 
Abaixo, um resumo, da relação entre as benfeitorias e a posse: 
Benfeitorias necessárias. O possuidor de boa-fé tem direito a ser 
indenizado quanto a estas benfeitorias (pelo valor atual) ou exercer o direito de 
retenção pelo valor delas. O possuidor de má-fé tem direito de ser ressarcido 
apenas quanto a estas benfeitorias (aquele que tiver o dever de indenizar tem 
direito de optar entre o valor atual da coisa e o custo dela), não possuindo direito 
de retenção. 
Benfeitorias úteis. O possuidor de boa-fé tem direito a ser indenizado 
quanto a estas benfeitorias (pelo valor atual) ou exercer o direito de retenção 
pelo valor delas. 
 
22 São necessárias as benfeitorias realizadas para evitar um estrago iminente ou deterioração 
da coisa principal (reparos realizados na viga; troca do telhado). São úteis aquelas realizadas 
com o objetivo de facilitar a utilização da coisa (abertura de uma nova entrada para servir de 
garagem para a casa). São voluptuárias aquelas feitas para o mero prazer, sem aumento da 
utilidade da coisa (decoração do jardim). Art. 96, CC. 
 
21 
 
Benfeitorias voluptuárias. O possuidor de boa-fé tem direito a ser 
indenizado quanto a estas benfeitorias ou de retirá-las, desde que não haja 
detrimento da coisa (que não haja a desvalorização do imóvel, por exemplo), 
caso não lhes sejam pagas. O possuidor de má-fé não tem direito a levantar as 
benfeitorias voluptuárias. 
 
6.3. Responsabilidade pela perda ou deterioração da coisa 
Os arts. 1.217 e 1.218, CC tratam da responsabilidade do possuidor com 
relação a perda ou deterioração da coisa: 
 
Art. 1.217. O possuidor de boa-fé não responde pela perda ou 
deterioração da coisa, a que não der causa. 
Art. 1.218. O possuidor de má-fé responde pela perda, ou deterioração 
da coisa, ainda que acidentais, salvo se provar que de igual modo se 
teriam dado, estando ela na posse do reivindicante. 
 
Pela redação dos dispositivos, percebe-se que essa responsabilidade é 
somente do possuidor de má-fé, que deverá indenizar o proprietário em razão 
da perda ou da deterioração da coisa, mesmo que acidentais. Essa 
responsabilidade somente será afastada havendo prova de que a perda ou 
deterioração ocorreria mesmo que a coisa estivesse na posse do reivindicante 
(art. 1.218, 2ª parte). 
Ex.: João se apossa do cavalo de Pedro. Neste caso, se o cavalo morrer 
na posse de João por ter ingerido veneno, ele deverá indenizar a Pedro. 
Contudo, se a morte do animal ocorrer por uma doença cardíaca grave, ou seja, 
mesmo que estivesse na posse de Pedro ele morreria, não terá João o dever de 
indenizar. CUIDADO, pois, neste caso, depende de PROVA! 
 
6.4. Usucapião 
O principal efeito da posse é o direito de usucapião, ou seja, o exercício de 
posse de uma coisa por certo tempo gera a chamada prescrição aquisitiva, que 
dá direito ao titular a pleitear a propriedade da coisa através da pretensão de 
usucapião. 
 
6.5. Proteção possessória 
 
22 
 
Dentro dos efeitos da posse encontra-se a possibilidade que o possuidor 
tem de se utilizar das ações possessórias (ou interditos possessórios) para 
proteção e defesa de sua posse. Importante observar que as ações possessórias 
tanto podem ser exercidas pelo proprietário detentor da posse, como também 
por aquele que, embora não tenha a propriedade, se encontra na posse da coisa. 
Quanto a proteção possessória, o CC prevê os seguintes dispositivos: 
Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de 
turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, 
se tiver justo receio de ser molestado. 
§ 1 o O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-
se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, 
ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou 
restituição da posse. 
§ 2 o Não obsta à manutenção ou reintegração na posse a alegação 
de propriedade, ou de outro direito sobre a coisa. 
Art. 1.211. Quando mais de uma pessoa se disser possuidora, manter-
se-á provisoriamente a que tiver a coisa, se não estiver manifesto que 
a obteve de alguma das outras por modo vicioso. 
Art. 1.212. O possuidor pode intentar a ação de esbulho,ou a de 
indenização, contra o terceiro, que recebeu a coisa esbulhada sabendo 
que o era. 
Art. 1.213. O disposto nos artigos antecedentes não se aplica às 
servidões não aparentes, salvo quando os respectivos títulos 
provierem do possuidor do prédio serviente, ou daqueles de quem este 
o houve. 
 
De se observar, contudo, que, em se tratando de ações, a parte de 
procedimento está tratada no CPC (art. 554 e seguintes). 
Assim, conforme a situação, é permitido ao possuidor defender sua posse, 
derivando daí os nomes defesa em sentido estrito (evitar o incômodo da posse 
– turbação) e desforço imediato (para recuperar a posse – esbulho). Assim, 
nascem as três principais ações possessórias: 
 
• Interdito proibitório – caso de ameaça ou risco ao exercício da posse do 
titular. Proteção de perigo iminente. 
• Ação de manutenção de posse – caso de turbação ou perturbação à 
posse, ou seja, houve um atentado à posse, mas sem retirá-la do possuidor. 
Preservação da posse. 
• Ação de reintegração de posse – caso de esbulho ou retirada da posse, 
quando o atentado se concretiza e o possuidor é destituído da sua posse. 
 
23 
 
Devolução da posse. Cabível sempre que houver invasão, mesmo que 
parcial, do imóvel. 
23 
 
Estas diferenciações são fundamentais para fins de exame da OAB, mas, 
processualmente falando, existe o princípio da fungibilidade e da 
instrumentalidade das formas, ou seja, mesmo que se ingresse com uma ação 
de manutenção e a ação adequada seja a de reintegração, será processada (art. 
554, CPC). 
Art. 554. A propositura de uma ação possessória em vez de outra não 
obstará a que o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal 
correspondente àquela cujos pressupostos estejam provados. 
§ 1º No caso de ação possessória em que figure no polo passivo 
grande número de pessoas, serão feitas a citação pessoal dos 
ocupantes que forem encontrados no local e a citação por edital dos 
demais, determinando-se, ainda, a intimação do Ministério Público e, 
se envolver pessoas em situação de hipossuficiência econômica, da 
Defensoria Pública. 
§ 2º Para fim da citação pessoal prevista no § 1º, o oficial de justiça 
procurará os ocupantes no local por uma vez, citando-se por edital os 
que não forem encontrados. 
§ 3º O juiz deverá determinar que se dê ampla publicidade da 
existência da ação prevista no § 1º e dos respectivos prazos 
processuais, podendo, para tanto, valer-se de anúncios em jornal ou 
rádio locais, da publicação de cartazes na região do conflito e de outros 
meios. 
 
Havendo várias pessoas no polo passivo das possessórias, será procedida 
citação pessoal dos ocupantes encontrados no local e por edital dos demais. 
Haverá intimação do Ministério Público e, caso envolva pessoas em situação de 
hipossuficiência econômica (como nos casos de invasões de terras). Nestes 
casos, ainda, o juiz determinará a publicidade da existência da ação e dos prazos 
processuais através de jornais, rádios, publicação em meio digital (no site do 
Tribunal, por exemplo). 
Importante, ainda, considerar que as ações possessórias adotarão o 
procedimento especial, previsto no art. 554 e seguintes do CPC sempre que se 
tratar de ação de força nova (art. 558, CPC). Considera-se de força nova as 
 
23 TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v. 4. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 
2020, p. 72. E-book. Disponível em: 
https://grupogen.vitalsource.com/#/books/9788530989354/cfi/6/10!/4/8/2@0:0. Acesso em 16 
out. 2020. 
 
24 
 
possessórias ingressadas dentro do prazo de ano e dia (lembre-se da diferença 
entre posse nova e posse velha), cabendo medida liminar. Se a posse for de 
mais de ano e dia, considera-se a possessória de força velha e, neste caso, não 
cabe a respectiva liminar e deve-se utilizar o procedimento comum. Merece, 
ainda, destaque, a previsão do art. 565, CPC, que permite a concessão de 
medida liminar, nas ações possessórias coletivas, desde que realizada 
previamente uma audiência de conciliação. 
Nas ações possessórias que tramitem pelo procedimento especial (de força 
nova), é admitido cumulação de pedidos (art. 555, CPC) e, ainda, que seja 
imposta medida para evitar nova turbação ou esbulho ou cumprir a tutela 
provisória ou final (podendo ser requerida multa, portanto): 
Art. 555. É lícito ao autor cumular ao pedido possessório o de: 
I - condenação em perdas e danos; 
II - indenização dos frutos. 
Parágrafo único. Pode o autor requerer, ainda, imposição de medida 
necessária e adequada para: 
I - evitar nova turbação ou esbulho; 
II - cumprir-se a tutela provisória ou final. 
 
As possessórias de força nova, que adotam o procedimento especial, 
possuem natureza dúplice, permitindo ao réu de qualquer ação possessória 
que, em contestação, apresente pedido contraposto, alegando que sofreu ofensa 
a sua posse, demandar a proteção desta e indenização pelos prejuízos sofridos. 
Tartuce24 entende ser desnecessária a propositura de reconvenção neste caso: 
 
Esse pedido contraposto pode ser de proibição, de manutenção ou 
mesmo de reintegração da posse em seu favor. Portanto, está 
totalmente dispensada a necessidade de uma reconvenção para a 
aplicação das medidas previstas no art. 555 do Estatuto Processual em 
vigor, entendimento que sempre prevaleceu quanto ao art. 922 do 
CPC/1973. 
 
Nas ações possessórias não se permite propor ação de reconhecimento de 
domínio, salvo contra terceira pessoa (art. 557, CPC). Se o réu provar a falta de 
idoneidade financeira do autor para eventual sucumbência ou responsabilidade 
 
24 TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v. 4. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 
2020, p. 80. E-book. Disponível em: 
https://grupogen.vitalsource.com/#/books/9788530989354/cfi/6/10!/4/8/2@0:0. Acesso em 16 
out. 2020. 
 
25 
 
pelos danos, nos casos de manutenção ou reintegração de posse, o juiz lhe 
concederá prazo de 5 dias para prestar caução, sob pena de depósito da coisa 
litigiosa, ressalvada a impossibilidade da parte hipossuficiente (art. 559, CPC). 
Ainda, importante é a possibilidade prevista no art. 1.210, § 1º, CC, que 
permite a legítima defesa da posse e o desforço imediato, como formas de 
autotutela ou autodefesa. Quando houver ameaça ou turbação viável a legítima 
defesa da posse. Havendo esbulho, cabe o desforço imediato. Para que esses 
institutos possam ser utilizados, deve-se ter uma defesa imediata, que o 
possuidor, ao agir, deve fazer dentro do limite do indispensável para 
retomar/recuperar sua posse, evitando-se qualquer tipo de abuso. São 
considerados como parâmetro o fim social e econômico, a boa fé objetiva e os 
bons costumes. 
Contudo, sendo o caso de judicializar a demanda que discute a posse, o 
CPC, além das disposições gerais quanto as ações possessórias, ainda 
apresenta disposições específicas para cada as ações de manutenção e 
reintegração de posse e interdito proibitório. 
 
 
7. Ações possessórias 
Além das três típicas ações possessórias: manutenção e reintegração de 
posse e interdito proibitório, existem outras formas de proteção da posse, o que 
será discutido neste item. 
 
7.1. Reintegração de posse 
A ação de reintegração de posse tem lugar quando a posse de alguém for 
esbulhada, ou seja, quando de forma violenta, precária ou clandestina alguém 
retira a posse de outrem. 
Os arts. 560 a 566, CPC fundamentam a ação de manutenção e 
reintegração de posse para as ações de posse nova, ou seja, com menos de ano 
e dia. As ações de posse velha, com mais de ano e dia, devem ser propostas 
pelo procedimento comum. 
 
26 
 
Segundo o art. 561, CPC o autor, na inicial, deve provar sua posse, o 
esbulho ou turbação praticados, bem como a data em que ocorreu e a perda ou 
continuação da posse, embora turbada. Recebendo a inicial e estando 
devidamente instruída, o juiz deferirá a liminar de manutenção ou reintegração 
de posse independentemente da oitiva do réu. Não havendo adevida instrução, 
o réu será citado para a audiência de justificação da posse, onde o autor deverá 
prove/justifique a alegação de turbação ou esbulho (art. 562, CPC) e, 
considerando suficiente, expedirá o mandado de manutenção ou reintegração 
(art. 563, CPC). Contra as pessoas jurídicas de direito público não serão 
deferidas as liminares de reintegração e manutenção sem prévia audiência. 
Independentemente de concessão da liminar, o autor deverá promover a 
citação do réu no prazo de 5 dias, com prazo de contestação de 15 dias. No caso 
de audiência de justificação prévia, o prazo de contestação conta da intimação 
da decisão que defere ou não a liminar. 
Nos litígios coletivos de posse, quando a turbação ou o esbulho tiver 
ocorrido há mais de ano e dia, o juiz deverá, primeiro, designar audiência de 
mediação, a ser realizada no prazo de 30 dias. 
Além destas disposições específicas, devem ser observadas as 
disposições gerais sobre as ações possessórias, previstas nos arts. 554 a 559, 
CPC. 
 
7.2. Manutenção de posse 
A ação de manutenção de posse tem lugar quando a posse de alguém for 
turbada, ou seja, quando há um incômodo da posse. Significa que o possuidor 
segue exercendo a posse, mas alguém está lhe importunando, incomodando no 
exercício desta posse. 
Em termos de procedimento, devem ser analisados, tanto os arts. 560 a 
566, CPC, os quais fundamentam tanto a ação de manutenção, quanto a de 
reintegração de posse, para as ações de posse nova (neste sentido, observar o 
que foi descrito no item relativo a reintegração de posse). Além destas 
disposições específicas, devem ser observadas as disposições gerais sobre as 
ações possessórias, previstas nos arts. 554 a 559, CPC. 
 
27 
 
 
7.3. Interdito proibitório 
O interdito proibitório visa impedir a turbação ou o esbulho da posse. 
Utilizada quando houver uma ameaça a posse, tendo como pedido principal uma 
abstenção (não atentar contra a posse), ou seja, uma obrigação de não fazer, 
sob pena de incidência de multa (art. 567, CPC). 
 
7.4. Nunciação de obra nova 
A nunciação de obra nova, apesar de não prevista no CPC/2015 é uma 
ação que visa impedir a continuação de obras no terreno vizinho que 
prejudiquem o possuidor ou proprietário de uma coisa. Ex.: vizinho que inicia a 
construção de um muro fora do lugar, invadindo o terreno alheio em alguns 
metros. 
Trata-se de ação possessória que adota o procedimento comum e, 
portanto, eventual liminar deve observar os requisitos de concessão de tutela de 
urgência. 
 
7.5. Ação de dano infecto 
A ação de dano infecto visa prevenir que o vizinho que está demolindo seu 
prédio ou em que haja um vício de construção, cause prejuízo ao autor. Visa 
uma espécie de caução por eventuais danos futuros. Pouco usada na prática. 
Segue o procedimento comum. 
 
7.6. Embargos de terceiro 
Os embargos de terceiro podem ser utilizados para a defesa da posse ou 
da propriedade naquelas situações de turbação ou esbulho ocorridos via judicial 
(arresto, sequestro, penhora, etc) e manejados por aqueles que não sejam parte 
no processo. Esta ação é de procedimento especial dos arts. 674 a 681, CPC 
(neste aspecto, sugere-se a análise específica deste procedimento especial). 
 
7.7. Ação de imissão de posse 
 
28 
 
A ação de imissão de posse deve ser manejada por aquele que pretenda 
ingressar na posse de um bem que nunca teve. Trata-se de uma ação petitória 
e não possessória. Geralmente, decorre do direito de propriedade. Ex.: alguém 
que adquire em uma alienação judicial um imóvel e não consegue tomar posse. 
 
7.8. Ação publiciana 
A ação publiciana também é uma ação petitória, que se fundamenta no 
domínio. Também segue procedimento comum do CPC. 
 
 
8. Perda da posse 
A perda da posse ocorre quando alguém deixa de agir como se 
dono/proprietário fosse. 
Art. 1.223. Perde-se a posse quando cessa, embora contra a vontade 
do possuidor, o poder sobre o bem, ao qual se refere o art. 1.196. 
Art. 1.224. Só se considera perdida a posse para quem não presenciou 
o esbulho, quando, tendo notícia dele, se abstém de retornar a coisa, 
ou, tentando recuperá-la, é violentamente repelido. 
 
A perda pode ocorrer de várias formas, mas quatro delas são as principais: 
derrelicção, ou abandono voluntário da coisa; tradição, que é quando há a 
transmissão voluntária da posse a terceiro; esbulho, que é quando a posse é 
tomada/subtraída do seu possuidor, contra sua vontade; destruição da coisa, 
ou seja, quando a coisa deixa de existir. 
 
 
III – DIREITOS REAIS 
Loureiro25 conceitua os direitos reais como sendo aquele que “refere-se 
habitualmente sobre um bem corpóreo determinado, em face do qual o titular 
exerce diretamente seu direito”. O Código Civil estabelece, nos arts. 1.225 a 
1.227 as disposições sobre os direitos reais. 
 
Art. 1.225. São direitos reais: 
 
25 LOUREIRO, Luiz Guilherme. Curso Completo de Direito Civil. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 
2010, p. 792. 
 
29 
 
I - a propriedade; 
II - a superfície; 
III - as servidões; 
IV - o usufruto; 
V - o uso; 
VI - a habitação; 
VII - o direito do promitente comprador do imóvel; 
VIII - o penhor; 
IX - a hipoteca; 
X - a anticrese. 
XI - a concessão de uso especial para fins de moradia; 
XII - a concessão de direito real de uso; e 
XIII - a laje. 
Art. 1.226. Os direitos reais sobre coisas móveis, quando constituídos, 
ou transmitidos por atos entre vivos, só se adquirem com a tradição. 
Art. 1.227. Os direitos reais sobre imóveis constituídos, ou transmitidos 
por atos entre vivos, só se adquirem com o registro no Cartório de 
Registro de Imóveis dos referidos títulos (arts. 1.245 a 1.247), salvo os 
casos expressos neste Código. 
 
Possuem algumas características, as quais já foram mencionadas no item 
I (noções introdutórias e conceituais), pelo que não será retomado. Traz-se, 
novamente esta referência aos direitos reais, para fins de observar a ordem 
disciplinada pelo Código Civil e para que, a partir daqui, sejam analisados de 
forma específica, os direitos reais previstos no art. 1.225, CC. Importante 
observar que os direitos reais sobre coisas móveis são constituídos ou 
transmitidos pela tradição (art. 1.226) e os direitos reais sobre bens imóveis 
através do registro do título aquisitivo no Cartório de Registro de Imóveis (art. 
1.227). 
 
 
IV – PROPRIEDADE 
 
1. Propriedade – conceito 
O direito de propriedade é um direito real que determina que uma coisa fica 
submetida a vontade de uma pessoa, limitada pela lei e pela função social ou 
cláusulas derivadas da vontade impostas sobre a coisa. Seu conceito está mais 
direcionado aos atributos do direito de propriedade do que, propriamente, a uma 
definição. Este direito consiste em poder usar, gozar e dispor do bem, podendo, 
também, reaver contra aquele que injustamente detenha ou possua. Apenas 
 
30 
 
para ilustrar, dos vários conceitos apresentados pela doutrina, Tartuce26 entende 
que a propriedade é 
o direito que alguém possui em relação a um bem determinado. Trata-
se de um direito fundamental, protegido no art. 5.º, inc. XXII, da 
Constituição Federal, mas que deve sempre atender a uma função 
social, em prol de toda a coletividade. A propriedade é preenchida a 
partir dos atributos que constam do Código Civil de 2002 (art. 1.228), 
sem perder de vista outros direitos, sobretudo aqueles com substrato 
constitucional. 
 
Como visto o direito de propriedade é direito fundamental, inscrito no art. 
5.º, XXII, da CF que pode ser oponível contra todos os membros da sociedade 
(direito erga omnes). Deve atender a uma função social, em benefício da 
coletividade. Por fim, seu conceito/definição está diretamente ligado aos 
atributos ou faculdades relativas à propriedade: usar, gozar, dispor e reaver 
(art. 1.228, CC), sendo, portanto, um direito exclusivo do titular e complexo. 
 
2. Atributos (poderes) da propriedadeDireito de uso, ou seja, utilização da coisa conforme as permissões 
legislativas, ou seja, existem limites ao uso como, por exemplo, o direito de 
vizinhança, a desapropriação ou o tombamento. 
Direito de gozo ou fruição, ou seja, a possibilidade de retirar da coisa os 
frutos que ela produz (sejam eles naturais ou civis), como, por exemplo, a 
locação de um imóvel. 
Direito de disposição, ou seja, sendo o proprietário da coisa, poder 
transmiti-la a terceiro, seja por ato entre vivos (compra e venda) ou causa mortis 
(testamento), seja de forma onerosa (mediante pagamento) ou gratuita (negócio 
benéfico, sem pagamento). 
Direito de reinvindicação, ou seja, possibilidade de, através de ação 
petitória, com fundamento na propriedade, reivindicar a coisa de quem a detenha 
injustamente. A ação reivindicatória é a ação petitória mais comum, tratando-se 
 
26 TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v. 4. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, 
p. 133. E-book. Disponível em: 
https://grupogen.vitalsource.com/#/books/9788530989354/cfi/6/10!/4/8/2@0:0. Acesso em 16 
out. 2020. 
 
31 
 
de ação real fundada no domínio. Tartuce27 afirma que pode-se “afirmar que 
proteção da propriedade é obtida por meio dessa demanda, aquela em que se 
discute a propriedade visando à retomada da coisa, quando terceira pessoa, de 
forma injustificada, a tenha, dizendo-se dono”. Existe discussão acerca do prazo 
prescricional da ação reivindicatória. Pela previsão do CC o prazo seria o do art. 
205, CC, ou seja, 10 anos a contar da violação do direito de propriedade. O STJ, 
contudo, tem entendido ser imprescritível tal ação, tendo em vista seu caráter 
declaratório. Neste sentido, Tartuce28 afirma: 
Na realidade, deve-se entender que a ação reivindicatória não é sujeita 
à prescrição ou à decadência, embora se trate de ação real, porque o 
domínio é perpétuo e somente se extingue nos casos previstos em lei 
e que serão estudados oportunamente. O efeito da ação reivindicatória 
é de fazer com que o possuidor ou detentor restitua o bem com todos 
os seus acessórios. Porém, se no caso concreto for impossível essa 
devolução, como nos casos de perecimento da coisa, o proprietário 
terá o direito de receber o valor da coisa se o possuidor estiver de má-
fé, sem prejuízo de eventuais perdas e danos. 
 
A ação reivindicatória é, pois, uma ação real, que visa a restituição da coisa, 
provando-se que o proprietário tinha a posse e injustamente a perdeu. Esta ação 
segue o procedimento comum. 
Estes quatro atributos da propriedade: Gozar, Reivindicar, Usar e Dispor, 
são resumidos na expressão GRUD. Se uma pessoa tiver todos estes atributos 
terá a propriedade plena. Contudo, faltando algum deles ou, caso esses atributos 
sejam divididos entre duas ou mais pessoas, haverá a propriedade restrita. 
 
3. Propriedade – disposições preliminares 
Os arts. 1.228 a 1.232, CC estabelecem as disposições preliminares acerca 
da propriedade. 
Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da 
coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente 
a possua ou detenha. 
 
27 TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v. 4. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, 
p. 135. E-book. Disponível em: 
https://grupogen.vitalsource.com/#/books/9788530989354/cfi/6/10!/4/8/2@0:0. Acesso em 16 
out. 2020. 
28 TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v. 4. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, 
p. 136. E-book. Disponível em: 
https://grupogen.vitalsource.com/#/books/9788530989354/cfi/6/10!/4/8/2@0:0. Acesso em 16 
out. 2020. 
 
32 
 
§ 1 o O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com 
as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam 
preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a 
flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio 
histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas. 
§ 2 o São defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer 
comodidade, ou utilidade, e sejam animados pela intenção de 
prejudicar outrem. 
§ 3 o O proprietário pode ser privado da coisa, nos casos de 
desapropriação, por necessidade ou utilidade pública ou interesse 
social, bem como no de requisição, em caso de perigo público 
iminente. 
§ 4 o O proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel 
reivindicado consistir em extensa área, na posse ininterrupta e de boa-
fé, por mais de cinco anos, de considerável número de pessoas, e 
estas nela houverem realizado, em conjunto ou separadamente, obras 
e serviços considerados pelo juiz de interesse social e econômico 
relevante. 
§ 5 o No caso do parágrafo antecedente, o juiz fixará a justa 
indenização devida ao proprietário; pago o preço, valerá a sentença 
como título para o registro do imóvel em nome dos possuidores. 
Art. 1.229. A propriedade do solo abrange a do espaço aéreo e subsolo 
correspondentes, em altura e profundidade úteis ao seu exercício, não 
podendo o proprietário opor-se a atividades que sejam realizadas, por 
terceiros, a uma altura ou profundidade tais, que não tenha ele 
interesse legítimo em impedi-las. 
Art. 1.230. A propriedade do solo não abrange as jazidas, minas e 
demais recursos minerais, os potenciais de energia hidráulica, os 
monumentos arqueológicos e outros bens referidos por leis especiais. 
Parágrafo único. O proprietário do solo tem o direito de explorar os 
recursos minerais de emprego imediato na construção civil, desde que 
não submetidos a transformação industrial, obedecido o disposto em 
lei especial. 
Art. 1.231. A propriedade presume-se plena e exclusiva, até prova em 
contrário. 
Art. 1.232. Os frutos e mais produtos da coisa pertencem, ainda 
quando separados, ao seu proprietário, salvo se, por preceito jurídico 
especial, couberem a outrem. 
 
O art. 1.228, caput traz os atributos da propriedade, os quais já foram 
estudados anteriormente. 
Já o § 1º determina que o direito de propriedade deve ser exercido 
conforme sua função social, e o § 2.º proíbe a prática de atos que não tragam 
ao proprietário qualquer utilidade ou comodidade e visem apenas prejudicar 
outrem, ou seja, o exercício da propriedade deve permitir benefícios para o 
titular, mas, também, para a sociedade em geral. Diante disto, quando se fala 
em função social da propriedade, deve-se pensar no “para que” da propriedade 
e, a partir daí exercê-la observando os limites impostos pela lei como, por 
 
33 
 
exemplo, a desapropriação por necessidade ou utilidade pública ou, ainda, por 
interesse social. 
Em outras palavras, a propriedade deve servir para que a sociedade 
se mantenha saudável, para que as pessoas tenham acesso aos bens 
de que necessitam e para que a economia seja impulsionada, gerando 
empregos e renda. Em termos específicos, será necessário analisar 
cada bem, para então descobrir qual é a sua função social29. 
 
Assim, ao mesmo tempo em que uma fazenda de 1000 hectares pode se 
prestar para o cultivo de lavouras de soja, consorciada com a criação de gado, 
estando, com isto, cumprindo com sua função social; uma mesma fazenda de 
1000 hectares pode encontrar-se abandonada, com sua casa em ruínas e 
tomada pelo mato, de forma a não cumprir com sua função social. Em termos do 
§ 2.º, poderia ser usado como exemplo a demolição de um casarão histórico 
devidamente tombado. Este ato traz prejuízos a sociedade. Tartuce30 ainda 
apresenta um exemplo, tratando do § 2.º, onde um proprietário de apartamento 
faz festas em seu imóvel todas as noites, e o excesso de barulho prejudica aos 
vizinhos. Esta situação envolve uma responsabilidade civil objetiva. 
O § 3.º do art. 1.228, CC trata das sanções pela inobservância da função 
social da propriedade, através da desapropriação da coisa por necessidade ou 
utilidade pública ou interesse social e da requisição no caso de perigo. A própria 
CF prevê no art. 5.º, XXV, a possibilidade da desapropriaçãoe da requisição de 
bens particulares. 
Os §§ 4.º e 5.º do art. 1.228, CC tratam da chamada desapropriação 
privada por posse trabalho, que, na realidade é a possibilidade de 
desapropriação de imóvel, quando se configurar em área extensa que esteja 
sendo ocupada por um considerado número de pessoas, que exerçam posse 
ininterrupta e de boa-fé por mais de 5 anos, tendo nela realizado obras e serviços 
de interesse social e econômico relevante. Em situações como esta será o 
imóvel desapropriado, fixada indenização justa, a ser paga ao proprietário pelos 
 
29 DONIZETTI, Elpídio; QUINTELLA, Felipe. Curso Didático de Direito Civil. 6.ed. São Paulo: 
Atlas, 2017, p. 725. 
30 TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v. 4. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, 
p. 153. E-book. Disponível em: 
https://grupogen.vitalsource.com/#/books/9788530989354/cfi/6/10!/4/8/2@0:0. Acesso em 16 
out. 2020. 
 
34 
 
possuidores, que só adquirem a propriedade com o pagamento e o registro da 
sentença no Cartório de Registro de Imóveis (ver julgamento do STJ no caso 
conhecido como Favela Pullman). 
Importante mencionar alguns enunciados das Jornadas de Direito Civil 
sobre essa temática. 
Enunciado 82 - É constitucional a modalidade aquisitiva de 
propriedade imóvel prevista nos §§ 4º e 5º do art. 1.228 do novo Código 
Civil. 
Enunciado 83 - Nas ações reivindicatórias propostas pelo Poder 
Público, não são aplicáveis as disposições constantes dos §§ 4º e 5º 
do art. 1.228 do novo Código Civil. 
Enunciado 84 - A defesa fundada no direito de aquisição com base no 
interesse social (art. 1.228, §§ 4º e 5º, do novo Código Civil) deve ser 
argüida pelos réus da ação reivindicatória, eles próprios responsáveis 
pelo pagamento da indenização. 
Enunciado 240 - A justa indenização a que alude o § 5º do art. 1.228 
não tem como critério valorativo, necessariamente, a avaliação técnica 
lastreada no mercado imobiliário, sendo indevidos os juros 
compensatórios. 
Enunciado 241 - O registro da sentença em ação reivindicatória, que 
opera a transferência da propriedade para o nome dos possuidores, 
com fundamento no interesse social (art. 1.228, § 5º), é condicionada 
ao pagamento da respectiva indenização, cujo prazo será fixado pelo 
juiz. 
Enunciado 304 - São aplicáveis as disposições dos §§ 4º e 5º do art. 
1.228 do Código Civil às ações reivindicatórias relativas a bens 
públicos dominicais, mantido, parcialmente, o Enunciado 83 da I 
Jornada de Direito Civil, no que concerne às demais classificações dos 
bens públicos. 
Enunciado 305 - Tendo em vista as disposições dos §§ 3º e 4º do art. 
1.228 do Código Civil, o Ministério Público tem o poder-dever de atuar 
nas hipóteses de desapropriação, inclusive a indireta, que encerrem 
relevante interesse público, determinado pela natureza dos bens 
jurídicos envolvidos. 
Enunciado 306 - A situação descrita no § 4º do art. 1.228 do Código 
Civil enseja a improcedência do pedido reivindicatório. 
Enunciado 307 - Na desapropriação judicial (art. 1.228, § 4º), poderá 
o juiz determinar a intervenção dos órgãos públicos competentes para 
o licenciamento ambiental e urbanístico. 
Enunciado 308 - A justa indenização devida ao proprietário em caso 
de desapropriação judicial (art. 1.228, § 5º) somente deverá ser 
suportada pela Administração Pública no contexto das políticas 
públicas de reforma urbana ou agrária, em se tratando de possuidores 
de baixa renda e desde que tenha havido intervenção daquela nos 
termos da lei processual. Não sendo os possuidores de baixa renda, 
aplica-se a orientação do Enunciado 84 da I Jornada de Direito Civil. 
Enunciado 309 - O conceito de posse de boa-fé de que trata o art. 
1.201 do Código Civil não se aplica ao instituto previsto no § 4º do art. 
1.228. 
Enunciado 310 - Interpreta-se extensivamente a expressão "imóvel 
reivindicado" (art. 1.228, § 4º), abrangendo pretensões tanto no juízo 
petitório quanto no possessório. 
 
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Enunciado 496 - O conteúdo do art. 1.228, §§ 4º e 5º, pode ser objeto 
de ação autônoma, não se restringindo à defesa em pretensões 
reivindicatórias. 
 
Já o art. 1.229, CC trata da extensão do direito de propriedade ou 
conteúdo da propriedade, que abrange o solo e projeta-se tanto para o espaço 
aéreo, como, também, para o solo, em altura e profundidade que sejam úteis ao 
exercício. Assim, embora possa construir tantos andares quantos necessário ao 
uso do solo, não pode o proprietário, por exemplo, impedir aviões de voarem 
sobre sua propriedade em altura que não lhe interesse. 
O art. 1.230, CC determina que a propriedade do solo não abrange os 
recursos minerais, potenciais de energia elétrica, etc. Estes, nos termos do art. 
20, IX VIII e X, CF, pertencem à União, permitindo ao proprietário do solo o uso 
dos recursos minerais de emprego imediato na construção civil, desde que não 
se submetam à transformação industrial. Ex.: possibilidade de extração de areia 
para construção civil, não podendo causar danos ambientais. Ex.: extração de 
pedras para utilização em alicerce. 
 
4. Propriedade plena e propriedade limitada 
O art. 1.231, CC diz que se presume ser plena a propriedade, até que seja 
provada sua limitação. 
Propriedade plena – o proprietário da coisa reúne os atributos de usar, 
gozar, dispor e reivindicar. 
Propriedade restrita – o proprietário possui alguns atributos, mas, em 
razão da incidência de algum ônus, como, por exemplo, a hipoteca, a servidão, 
o usufruto (direito real sobre coisa alheia), não é plena sua propriedade ou, 
então, nos casos de ser resolúvel a propriedade, em face de condição ou termo. 
Nestes dois casos (existência de ônus ou propriedade resolúvel), um ou alguns 
atributos estão em mãos de terceiros (direito real sobre coisa alheia). Ex.: João 
é proprietário do imóvel X. Paulo é usufrutuário do imóvel X. 
A partir daí, pode-se dividir a propriedade em nua-propriedade e domínio 
útil. A nua-propriedade pertence ao titular do domínio, ou seja, o proprietário, 
aquele que tem o bem registrado em seu nome. Não possui os atributos do uso 
e fruição. Já o domínio útil refere-se aos atributos de usar, gozar e dispor da 
 
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coisa. Quando estes dois elementos estiverem sendo titularizados pela mesma 
pessoa, haverá a propriedade plena. 
 
5. Características do direito de propriedade 
A propriedade tem características muito próximas das características dos 
direitos reais. A propriedade possui características de ser um direito 
fundamental, constante no art. 5.º, XXII e XXIII da CF, determinando sua 
proteção e sua função social. Como qualquer direito real é oponível contra 
todos, ou seja, é erga omnes. O proprietário pode usar da coisa conforme seu 
interesse, desde que não se oponha ao direito de terceiro e nem viole a lei. 
Assim, o proprietário não deve tolerar a intromissão de terceiros em sua 
propriedade. É um direito exclusivo, complexo, absoluto e perpétuo. A 
propriedade é o direito real mais complexo. Embora se fale em direito absoluto, 
é certo que a propriedade pode ser relativizada em algumas situações, como nos 
casos de desapropriação em razão do não cumprimento da função social. É um 
direito exclusivo, pois uma coisa, por regra, pertence a uma pessoa, salvo nos 
casos de condomínio ou copropriedade. O direito de propriedade é perpétuo, ou 
seja, independente do exercício, ou seja, não sendo extinta pelo não uso, 
somente quando houver causa modificativa ou extintiva do direito deixará de 
existir a propriedade (usucapião, por exemplo). 
 
6. Descoberta 
Os arts. 1.233 a 1.237 do CC tratam da descoberta, que nada mais é do 
que o achado de uma coisa alheia que esteja perdida. 
Art. 1.233. Quem quer que ache coisa alheia perdida há de restituí-la 
ao dono ou legítimo possuidor. 
Parágrafo único. Não o conhecendo, o descobridor fará por encontrá-
lo, e, se não o encontrar, entregará a coisa achada à autoridade 
competente. 
Art. 1.234. Aquele que restituir

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