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Workshop 
sobre o 
Sistema Plantio Direto 
no Estado de São Paulo
 Workshop
Campinas, 13 e 14 de dezembro de 2005
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Governo do Estado de São Paulo
Governador do Estado
José Serra
Secretário de Agricultura e Abastecimento
João de Almeida Sampaio Filho
Secretário-Adjunto
Antonio Júlio Junqueira de Queiroz
Coordenador da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios
João Paulo Feijão Teixeira
Diretor-Geral do Instituto Agronômico
Orlando Melo de Castro
Diretora do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Solos e Recursos Ambientais
Sonia Carmela Falci Dechen
Campinas, 27 de junho de 2007
Prezados Colegas:
Pela segunda vez dirijo-me à classe dos engenheiros agrônomos e convido-os a refletir sobre o mesmo 
assunto: A Agricultura Conservacionista Baseada no Plantio Direto.
Em abril de 1993, há quase 15 anos, lancei um apelo veemente a todos os meus colegas da pesquisa, 
da divulgação e do assessoramento rural, dizendo: “Estudem esse assunto sem preconceitos, com in-
teresse e com senso de responsabilidade para o problema. Os solos se formaram ao longo de milhares 
de anos pelo acúmulo superficial de resíduos. Sua estrutura e vida biológica se baseiam na deposição 
do material orgânico, camada sobre camada, por tempos imemoriais. Não há o que temer em retornar 
às regras da natureza”.
Em abril de 2001, organizamos a Fundação Agrisus-Agricultura Sustentável com a missão de “Estimular a 
capacitação e o aperfeiçoamento profissional, bem como incentivar a pesquisa agronômica e a exten-
são rural, com a finalidade de gerar, desenvolver e difundir tecnologias destinadas a otimizar a fertilida-
de da terra de forma sustentável e favorável ao meio ambiente”.
Por ocasião do Dia do Agrônomo, em outubro de 2006, ao comemorar na ESALQ meus 70 anos de for-
matura rememorei de improviso minha longa carreira, destacando fatos notórios por mim testemunha-
dos, dentre eles “o advento dos herbicidas que permitiram a instalação do sistema do plantio direto que 
é a maior garantia até hoje inventada de manter a fertilidade do solo”.
Estamos diante de fato recente, que é mais que uma tecnologia, pois se trata de um novo ambiente 
agrícola quando adotamos o sistema do “solo imperturbado recoberto de resíduos” sobre 22 milhões 
de hectares. 
Urge aceitar e acreditar nesse novo ambiente agrícola que representa, na realidade, uma involução tec-
nológica ao retornar às condições primitivas quando a serapilheira recobria a superfície do solo.
Agora, as operações mecanizadas não destroem mais a rede fasciculada de canalículos deixada tanto 
pelas raízes em cabeleira como pela variada fauna multiplicada em novo ambiente, mais propício por 
menores oscilações da temperatura e umidade.
Não mais destruímos por gradagens sucessivas a estrutura granulosa do solo, dissociando grumos e 
liberando argilas que, ao migrarem para o subsolo, formam camadas adensadas impermeáveis, os incô-
modos “pés de grade”. 
Grades e arados não misturam mais com a terra os adubos fosfatados, quimicamente imóveis no solo, 
deslocando-se apenas por efeitos biológicos ou quando arrastados pela água através das galerias dei-
xadas pela bio-atividade. Formam-se sítios de alto P, assim alterando a dinâmica da assimilação pelas 
raízes, bem como atenuando o problema da fixação.
CARTA ABERTA 
AOS AGRÔNOMOS
Ao facilitar sua penetração, não se perde mais água por escorrimento, evitando-se a erosão com suas 
danosas conseqüências. Infiltrando-se, as águas alimentam os lençóis freáticos e, em seqüência, os 
aqüíferos mais profundos. Aumenta a vazão dos olhos d’água, crescem os estoques subterrâneos e 
evitam-se os assoreamentos dos mananciais, dos córregos e dos rios. 
A manta orgânica em decomposição renova continuamente o húmus e os ácidos húmicos que per-
meiam pelos interstícios da porosidade, com seus efeitos benéficos sobre as propriedades físicas e 
químicas do solo.
As culturas comerciais, desde o estágio de plântulas, não mais são submetidas ao estresse causado 
pelas altas temperaturas do solo e pelas oscilações extremas da umidade.
Estamos frente a um novo e diverso ambiente agrícola com relação ao solo cultivado, o qual nem sem-
pre vem sendo devidamente reconhecido. A tradição do preparo mecanizado da terra, com a percepção 
visual pictórica da terra lavrada colorida, ainda está gravada em nosso inconsciente.
Cumpre ter a coragem de mudar os conceitos, de renovar o inconsciente, de reformular as apostilas, de 
ousar eliminar a imagem da aração anual da terra. Estamos em uma nova fase da agricultura tropical, 
em um país privilegiado onde não há preocupação com o aquecimento rápido de um solo ainda gelado 
pelo inverno. 
Estamos ainda aprendendo essa nova agricultura em ambiente de solo imperturbado recoberto de resí-
duos. Há muito que pesquisar ainda para gerar tecnologias adequadas e para conhecer os fenômenos 
que regulam essas tecnologias. 
Vamos definir regras para renovar satisfatoriamente a manta em contínua decomposição. Vamos inves-
tigar as condições ótimas para as bactérias e fungos fixadores de N ainda que não simbióticos. Vamos 
determinar as plantas de cobertura que melhor reestruturam o solo. Vamos pesquisar espécies, como 
as Brachiarias, que deprimem fungos e nematóides prejudiciais às lavouras. Vamos inventar nova amos-
tragem de terra que identifique os sítios de alto P.
Vamos difundir o novo ambiente de produção agrícola. Vamos praticar eficientemente uma agricultura 
tropical onde faz calor e chove, com estiagem para as colheitas. Vamos, enfim, tornar sustentável o mui-
to que já se fez, como indicam os 130 milhões de toneladas de grãos estimados para este ano, ao lado 
de recordes da cana, dos citros, do café, das carnes, das demais frutas, das hortaliças e das flores.
No dia do 6o aniversário da Agrisus, proclamo estes convites a meus colegas, que tanto têm feito pela 
nossa agropecuária, congratulando-me com todos.
Grande abraço,
Fernando Penteado Cardoso
Engenheiro Agrônomo Sênior, ESALQ-USP,1936
Visão
Fazer da Fundação uma entidade reconhecida por promover a melhoria e a conserva-
ção da fertilidade da terra e das condições ambientais envolvidas, visando a produção 
agropecuária econômica e sustentável, de interesse, tanto dos produtores como da so-
ciedade consumidora.
Missão
Estimular a capacitação e o aperfeiçoamento profissional, bem como incentivar a pes-
quisa agronômica e a extensão rural, com a finalidade de gerar, desenvolver e difundir 
tecnologias destinadas a otimizar a fertilidade da terra de forma sustentável e favorável 
ao meio ambiente.
 Ficha Catalográfica
W926 Workshop sobre o Sistema Plantio Direto no Estado de São Paulo 
 (Campinas: 2005)
 Workshop sobre o sistema plantio direto no Estado de São 
 Paulo. / (org) Sonia Carmela Falci Dechen. Piracicaba: Fundação Agrisus; 
 FEALQ; Campinas: Instituto Agronômico, 2007.
 206 p. 
 
 
 ISSN: 0102-4477
 
1. Sistema plantio direto – São Paulo I. Dechen, Sonia Carmela Falci 
 II. Título
 
CDD. 631.51
Índice
APRESENTAÇÃO 11	
INTRODUÇÃO 15
Orlando Melo de Castro 
Fernando Penteado Cardoso 
MESA REDONDA I 17
Alternativas para a formação de palha
Moderador
Denizart Bolonhezi 
Apresentadores
Ivo Mello
Antonio Luiz Fancelli
Debatedores
Marcos Palhares 
Rudimar Molin 
Ricardo de Castro Merola
MESA REDONDA II 51
Sanidade e plantas daninhas x palha
Moderadora
Elaine Bahia Wutke
Apresentadores
Álvaro Manoel Rodrigues de Almeida
Jamil Constantin
Debatedores
Domênico Vitulo
Ciro Antonio Rosolem
João Kluthcouski
MESA REDONDA III 95
Qualidade química do solo
Moderador
Bernardo van Raij
Apresentadores
Heitor Cantarella
Carlos Alexandre Costa Crusciol
Debatedores
Eduardo FáveroCaires
Júlio Cezar Franchini
Leandro Zancanaro
MESA REDONDA IV 133
Qualidade física do solo e mecanização para o sistema plantio direto
Moderadora
Isabella Clerici De Maria
Apresentadores
Ricardo Ralisch 
Afonso Peche Filho
Debatedores
Paulo Sérgio Graziano Magalhães
José Eloir Denardin
Orlando Pereira de Godoy Neto 
MESA REDONDA V 181
Rumos da pesquisa em sistema plantio direto
Moderador
Fernando Penteado Cardoso
Participantes
Denizart Bolonhezi
Elaine Bahia Wutke
Bernardo van Raij
Isabella Clerici De Maria
11
APRESENTAÇÃO
O Instituto Agronômico (IAC), em parceria com a Fundação Agrisus e a Fundação 
de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (Fealq), realizou o primeiro “Workshop sobre 
Sistema Plantio Direto no Estado de São Paulo” nos dias 13 e 14 dezembro de 
2005 em Campinas (SP).
O	IAC	possui	um	grupo	de	pesquisadores	–	os	SPDiretos,	com	coordenação	de	Isabella	
Clerici	De	Maria	–	que,	por	meio	de	reuniões	mensais	com	pesquisadores	dos	Pólos	da	APTA,	
tem procurado definir linhas de atuação de suas pesquisas nessa área. 
A	Fundação	Agrisus	tem	como	missão	estimular	a	capacitação	e	o	aperfeiçoamento	pro-
fissional, bem como incentivar a pesquisa agronômica e a extensão rural com a finalidade de 
gerar, desenvolver e difundir tecnologias destinadas a otimizar a fertilidade da terra de forma 
sustentável e favorável ao ambiente.
Convergindo os interesses da Agrisus e do IAC foi elaborado este workshop com o objetivo 
de diagnosticar os obstáculos à plena implantação do sistema plantio direto e definir prioridades 
de pesquisa no Estado de São Paulo, visando, dessa forma, a consolidar o sistema na agricultura 
paulista. 
A organização do workshop procurou agregar representantes do agronegócio com reco-
nhecida experiência no assunto. Por isso foi um evento fechado e restrito a convidados: produ-
tores rurais, profissionais da área, professores e pesquisadores.
O evento contou com cinco mesas-redondas com apresentações na forma de palestras e 
debates	que	abordaram	os	problemas	enfrentados	pelos	agricultores	na	implantação	e	consoli-
dação do sistema plantio direto no Estado de São Paulo. Após cada abordagem os temas foram 
debatidos por todos os convidados participantes.
O evento foi gravado, transcrito e esta publicação é o resultado dos debates, que agora 
está à disposição dos interessados tanto neste formato (impresso) como nos sítios na Web da 
Fundação Agrisus (www.agrisus.org.br) e do Instituto Agronômico (www.iac.sp.gov.br)
Nas próximas páginas você tem o conteúdo do workshop reproduzido integralmente, se-
gundo as mesas redondas do evento. Por problemas com a gravação, algumas palestras foram 
inseridas como artigos.
12
Revisão do texto
Celso V. Pommer, Universidade Estadual do Norte Fluminense/LMGV/CCTA Professor 
Titular	Visitante
Sonia Carmela Falci Dechen – IAC
Comissão Organizadora
Cristiano	Alberto	de	Andrade	
Estêvão Vicari Mellis 
Fernando César Bachiega Zambrosi 
Fernando	Penteado	Cardoso	
Isabella	Clerici	De	Maria	
Ondino Cleante Bataglia 
Sandro Roberto Brancalião 
Sonia Carmela Falci Dechen (coordenadora).
Realização
• Instituto Agronômico
 Avenida Barão de Itapura, 1.481 – CEP 13020-902 – Campinas (SP) 
 Fone/Fax: (19) 3241-5188 Ramal 302 – www.iac.sp.gov.br
	 Diretor-Geral: Orlando	Melo	de	Castro		
 Diretor do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Solos e Recursos Ambientais: 
Sidney	Rosa	Vieira
Promoção
• Fundação Agrisus – Agricultura Sustentável
 Rua da Consolação, 3.367 cj. 72 – CEP 01416-001 – São Paulo (SP)
 Fone: (11) 3064-8776 – Fax (11) 3064.7927 – www.agrisus.org.br
	 Diretor-Presidente: Fernando	Penteado	Cardoso	
	 Diretores: Fernando Penteado Cardoso Filho 
 José Roberto Pinheiro Franco
 Antonio Roque Dechen
	 Secretário-Executivo: Ondino Cleante Bataglia 
• Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz – Fealq
 Avenida Centenário, 1.080 – CEP 13416-000 – Piracicaba (SP)
 Fone (19) 3417-6615 – Fax (19) 3434.7217 – www.fealq.org.br
	 Diretor-Presidente: Antonio Roque Dechen 
15
INTRODUÇÃO
Orlando Melo de Castro
Diretor-Geral do Instituto Agronômico – IAC 
A promoção de um workshop é algo extremamente positivo na exposição de resultados 
e na geração de propostas sobre o tema. Acima de tudo, é uma ótima oportunidade para es-
tarmos juntos e podermos nos comunicar dessa forma tão direta. Por mais que a Internet tenha 
facilitado a comunicação, o contato pessoal é insubstituível. Felizmente, o assunto objeto do 
evento encontrou o apoio da Fundação Agrisus que nos proporciona esta oportunidade, à qual 
o IAC, por meio de seu Centro de Solos, se junta com o entusiasmo de seus técnicos. Muito obri-
gado pela presença! O momento não poderia ser mais oportuno: o IAC e toda a Apta acabam 
de receber novos pesquisadores e os dirigentes preocupam-se com mudanças na programação 
de pesquisas e de ações. É um time que se espalha agora por todo o Estado e é muito bom fazer 
propostas de trabalho na área de manejo e conservação do solo envolvendo as culturas anuais, 
a integração lavoura-pecuária, o complexo da produção de cana-de-açúcar, como, por exemplo, 
tem feito o Denizart Bolonhezi. Dessa forma, tenho a certeza de que podemos fazer com que o 
imenso canavial que cobre o Estado de São Paulo seja o mais sustentável possível em termos de 
atividade agrícola, já que a demanda pelos produtos originados a partir da cana, em especial o 
etanol, é crescente em termos do Brasil e do mundo. Muito obrigado a vocês, tenho a certeza de 
que serão dois dias muito proveitosos e passo a palavra para o Dr. Cardoso.
16
Fernando Penteado Cardoso 
Diretor-Presidente da Fundação Agrisus
A Fundação Agrisus dedica-se à agricultura sustentável, naquilo que diz 
respeito	ao	solo,	apesar	de	o	conceito	de	sustentabilidade	ser	muito	mais	amplo	
do que apenas o solo. Ela nasceu por uma iniciativa de minha família, que vendeu as ações 
da Manah e destinou parte dos fundos em benefício da agricultura, por esta ter-lhe proporcio-
nado todo o sucesso da empresa. Este workshop visa a tentar enxergar o que já sabemos, e o 
que falta saber, principalmente nas condições paulistas, – um pouco mais difícil do que outras 
regiões porque as terras cansadas, com um banco de sementes de ervas daninhas, apresentam 
problemas diferentes de um cerrado, que tem todas as propriedades físicas intocadas e não 
está praguejado. Em São Paulo, as propriedades físicas estão, até certo ponto, deterioradas e o 
banco de ervas daninhas tem mais de cem anos de formação e de acúmulo. 
Para sustentabilidade, não conhecemos nada melhor do que o sistema plantio direto (SPD): 
não só nas situações difíceis é um desafio, embora concentrado em São Paulo e em todo País 
onde existem questões semelhantes. O grande objetivo, portanto, é traçar planos futuros da 
pesquisa e, para o nosso caso, o financiamento de projetos. 
Aproveito a oportunidade para anunciar que um dos nossos projetos mais recentes foi 
editar a tradução de um folheto publicado nos EUA sobre o IRI (International Research Institute), 
que em seu tempo no Brasil era financiado pela Fundação Rockefeller (pelos irmãos Rockefeller). 
Hoje, é uma instituição particular que continua fazendo estudos nos EUA. 
Esses americanos estiveram no País de 1954 até a década de 70 e deixaram relevantes 
serviços que, muitas vezes, passam despercebidos porque nem sempre pesquisamos a história. 
Esse folheto retrata a trajetória, principalmente, em relação à recuperação da fertilidade dos 
solos	cansados	e	esgotados	e,	paralelamente,	a	recuperação	dos	solos	originalmente	pobres	–	os	
dos cerrados.
Trouxe dois volumes para a biblioteca do IAC que, logo, estarão disponíveis no site. O 
folheto demonstra que as pesquisas iniciais, na década de 50, faziam-se em colaboração íntima 
com o IAC e em conexão com a ESALQ. Aproveito a oportunidade, também, para presentear a 
biblioteca do IAC, por meio de seu Diretor, de um relatório precioso, porque há poucas cópias no 
Brasil, sobre o estudo do solo na região de Brasília (solosdo cerrado), encomendado pelo colega 
Bernardo Saião, amigo do Presidente Juscelino Kubitschek, que estava interessado em conhecer 
o potencial daquele solo para produzir alimentos para a futura capital do Brasil. É um estudo 
feito por um estudante de Cornell, que estava lá a fim de fazer uma tese de doutoramento. Ele 
foi convidado para efetuar seus estudos no Brasil com a validade de trabalho de pesquisa para o 
doutoramento. Obtive na biblioteca de Cornell e quero presentear o IAC com um exemplar que 
reproduzimos aqui no Brasil. 
Mantemos muitas esperanças de que este workshop possa fazer uma revisão do que sa-
bemos e traçar caminhos para o futuro; não temos assistência de agricultores, não temos ne-
nhuma objetividade de extensão rural, queremos conhecer o estado-da-arte. Os pontos ainda 
indefinidos, as pesquisas importantes para definir essa tecnologia, concentrando a atenção nas 
situações mais difíceis – os solos cansados, que foram terras boas, de mata alta, férteis para 
café – que, após 100-120 anos mudaram completamente e apresentam seus problemas típicos. 
Desejo a todos um trabalho produtivo.
17
Mesa Redonda I
Alternativas para a formação de palha
Moderador
Denizart Bolonhezi 
Pólo Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do Centro-Leste, 
Ribeirão Preto (SP)
Apresentadores
Ivo Mello
Presidente da Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha (FEBRAPDP)
Antonio Luiz Fancelli
Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz – ESALQ (USP)
Debatedores
Marcos Palhares 
Monsanto
Rudimar Molin 
Fundação ABC
Ricardo de Castro Merola
Fazenda Santa Fé
18
APRESENTAÇÃO 1: Ivo Mello - Presidente da FEBRAPDP
Como presidente da Federação, acionei algumas de nossas parcerias: Leonardo Coda, de 
São Paulo, nosso conselheiro, que é da CATI, Rui Vaz, e a Associação de Plantio Irrigado na 
Palha (APIP), além de informações do companheiro John Landers. Segundo ele, o Estado de 
São Paulo tem certas coisas de cerrado. De alguma forma, colocaremos algumas provocações 
no sentido de desenvolver o Sistema Plantio Direto (SPD), de difundi-lo mais em São Paulo, que 
não teve a mesma evolução, nos últimos anos, da região Sul. Talvez tenha uma concepção muito 
diferente do que foi ou simplesmente olhar para evitar erosão, fazer conservação de solo, como 
foi no Rio Grande do Sul, onde a erosão foi sempre muito grande. Na média, na década de 70, 
um agricultor gaúcho gastava 10 toneladas por hectare de solo para produzir uma tonelada de 
alimento, e isso foi reduzido com associação do plantio direto, e com outras técnicas conserva-
cionistas. Isso já mudou bastante, mas a realidade é que chegamos, na safra de 2004/05, com 
aproximadamente 22 milhões de hectares no SPD no cultivo de grãos, apesar de tais valores 
não serem muito exatos, em virtude da dificuldade de obtenção de informações.
A curva de ascensão de SPD foi na safra de 85/86 e, de lá para cá, com a crise dos planos 
econômicos e endividamento do setor agrícola, de certa forma, o SPD foi a melhor alternativa 
para o empresário rural no aspecto econômico. A partir da década de 90, a ascensão do SPD 
coincide com aumento da produtividade, com sua grande participação, aliado às outras tecno-
logias. É missão da Federação: promover a rentabilidade sustentável do agricultor brasileiro por 
meio do SPD na palha. Nossos amigos argentinos e uruguaios não entendiam o porquê de se 
falar tanto em palha. A missão da CAPAS (Confederação Americana de Associações para uma 
Agricultura Sustentável), da qual fazemos parte junto com nossas co-irmãs argentinas, paraguaias 
e canadenses, é fortalecer organizações que promovam a agricultura sustentável – baseada na 
preservação da palha como componente-chave para a produção de alimento e conservação do 
solo e do meio ambiente e exatamente porque sem palha não há plantio direto.
Quais são os desafios do Estado de São Paulo para produzir palha? 
Só	como	ilustração,	apresento	esse	slide	do companheiro Rolf Rerpsch, em que coloca várias 
formas de se chamar o plantio direto no mundo. 
A	FAO,	em	todas	as	suas	publicações	so-
bre agricultura conservacionista, preconiza que 
o não revolvimento do solo e a manutenção dos 
resíduos de colheita sobre a sua superfície é a 
melhor forma de fazer agricultura conservacio-
nista. Para quem não sabe disso, o caderno, que 
instrumentalizou a discussão em Johanesburgo 
no encontro global de desenvolvimento sus-
tentável em 2002, elaborado pela FAO, trazia 
exemplos de estratégia de ocupação de solos 
agrícolas de forma sustentável – há menção da 
experiência da Epagri (SC), com as pequenas 
propriedades familiares, muitas vezes com tração animal.
Também há menção de agricultura em maior escala, citando o Paraná e o Rio Grande 
do Sul como exemplos vencedores de agricultura sustentável, os quais serviram de modelo de 
estratégia para essa agricultura.
19
A palha é o alimento do solo, é a base de uma cadeia trófica, que daí para a frente desen-
volve vários benefícios, porém será sempre assim? Vamos colocar alguns pontos para refletir a 
respeito do desenvolvimento do SPD no Estado de São Paulo e o desafio de fazer palhada. No 
Rio Grande do Sul, onde atuamos, em uma área que tem SPD em arroz irrigado desde 1983, 
foram desenvolvidas estratégias com bastante sucesso. Todavia, nos últimos anos, constatamos 
que, quanto menos distúrbio de solo (preparo) e quanto mais palha é deixada sobre a superfície, 
há o favorecimento de uma espécie de nematóide que ataca a raiz do arroz, levando à queda de 
produção. Nem sempre, portanto, a palha é um bom negócio.
A questão de integração da lavoura com a pecuária: o ruminante é um consumidor de 
palha, competindo com o SPD, sendo assim o grande desafio: até que ponto a integração é 
possível, uma vez que, no Sul, a cobertura de inverno é aquela que forma a palhada para a 
cultura de verão?
Alfonso, presidente da ASPIPP, trouxe-nos 
essas idéias: culturas que trazem retorno econô-
mico num ciclo mais curto, ideal até 100 dias, 
que possam ser colocadas no inverno. Culturas 
que	descompactam	o	solo,	como	o	nabo-forra-
geiro, mas está deixando alguns problemas, es-
timulando	o	aparecimento	de	mofo-branco	nas	
culturas que vêm em seguida, e também não é 
uma cultura econômica.
Para produção exclusiva de palha, há op-
ções de plantas para formação da palha até 60 
dias, mas a aveia é muito lenta para tal e, com 
50 dias, ainda não está pronta. É preciso estu-
dar culturas com efeito alelopático em relação 
a	doenças	 causadas	por	 fungos	de	 solo	 como	
Rizoctonia e Fusarium.
Leonardo Coda e Ruiz Vaz sugerem a va-
lidação do manejo de palhada desenvolvida por 
outros centros de excelência (Embrapa Trigo e 
UFSM) para validação em São Paulo, lembran-
do que a compactação é um grande problema 
e a questão do terraceamento, além do manejo 
integrado de pragas.
Para	cumprimento	da	 legislação	ambien-
tal, o código florestal prevê área de preservação 
permanente e a separação de uma reserva legal. 
Então, seria interessante que, no planejamento 
da	propriedade,	fosse	contemplada	a	forma	de	
adequar	 a	 legislação	 aqui	 no	 Estado	 de	 São	
Paulo.
O cultivo da cana-de-açúcar, economica-
mente muito importante, vem transformando 
muitas áreas do Estado de São Paulo em um 
20
imenso canavial. A cultura, é hoje, como em outras épocas, a bola-da-vez, em vista das crises 
energéticas que vêm por aí. Os pecuaristas do Sul estão contentes: dizem que São Paulo não 
terá mais pecuária de corte, virando tudo um canavial, melhorando para eles, porque lá não dá 
para plantar cana-de-açúcar nos campos.
Alguns comentários em relação ao que o Dr. Fernando (Agrisus) está colocando. Nossa 
idéia é fazer um levantamento do estado-da-arte, o que temos hoje, e direcionar para onde 
queremos investigar, onde desenvolveremos tecnologia e onde trabalharemos as melhores es-
tratégias de desenvolvimento daqui para a frente.
Trouxe algumas idéias exatamente acerca dessa perspectiva: formação de palhada. Em 
relação aos desafiospara o agronegócio mundial, o agronegócio brasileiro é importantíssimo. 
Precisamos, portanto, considerar essa conjuntura macroeconômica que nos tem influenciado, pen-
sando, por exemplo, se vamos dedicar uma linha de pesquisa para desenvolver uma palhada em 
relação a qual preço de soja? Vamos dizer assim: há dois anos com a soja no Rio Grande do Sul 
a 60 reais a saca, favorecida por causa de uma conjuntura de dólar a quatro reais, e a soja alta 
em Chicago, simplesmente o agricultor jogou fora a rotação de culturas, e os agricultores no Rio 
Grande do Sul esqueceram o que era rotação de culturas porque, por menos que produzissem 
a soja, teriam resultado econômico. Hoje, na última safra, todos sabem da seca que assolou a 
lavoura de soja no RS; os poucos produtores que ainda tiveram resultados econômicos na sua 
lavoura foram aqueles que não abandonaram a rotação com milho, isso porque exatamente, a es-
truturação do solo e todos aqueles conceitos de SPD básicos, que os pesquisadores publicaram e já 
tiveram várias instruções a respeito foram seguidas. Mas o produtor abandona a rotação, em vista 
da conjuntura macroeconômica, por isso ela acaba sendo mais importante do que um postulado 
científico aceito por toda a comunidade do agronegócio em determinadas regiões. 
Pelo que sabemos, hoje, o Ministério da Agricultura, Abastecimento e Pecuária está queren-
do transformar o Consagro – Conselho Nacional do Agronegócio, e ter uma agência reguladora 
do agronegócio, como existe a Agência Nacional de Água, a de Energia Elétrica, pensando em 
constituir uma Agência Nacional do Agronegócio com a idéia de fazer a regulamentação do se-
tor. Entendemos que isso é para ter uma política na qual realmente possamos confiar e entender 
e que tenha cenário de produção, com 5, com 10, com 20 anos, para que possamos programar 
não só o empresário; o agricultor possa programar sua produção, mas, principalmente, o setor 
de investigação, de geração de tecnologia possa trabalhar com cenários que serão aplicáveis no 
futuro. 
Aí entra a palavra sustentabilidade. O Dr. Fernando colocou muito bem; a Fundação 
Agrisus preocupa-se com a sustentabilidade do solo, e sustentabilidade é um conceito muito 
maior – é um sistema de produção e uma provocação que temos levado em alguns fóruns de 
discussão.
Se a humanidade resolver fazer sustentabilidade, se realmente todos que são signatários das 
agendas 21 de acordos mundiais de mudanças climáticas, de desertificação, de biodiversidade, 
e assim por diante, se resolvermos exercer o que está previsto no conceito de sustentabilidade, 
simplesmente não precisamos mais produzir a quantidade de alimentos que produzimos hoje, 
simplesmente trocando a matriz produtiva. Por exemplo, se europeus, japoneses e americanos 
resolvessem, de um dia para o outro, trocar uma parte da sua dieta alimentar, que é proteína 
animal, e proteína animal significa farelo de soja, de milho ou de outros grãos transformados 
em ovos, leite, carne, se trocassem isso de 70 para 30%, o que seria, inclusive, muito mais 
saudável para eles, consumir menos proteína animal desse tipo e transformar em soja, milho e 
21
outros grãos em proteína animal, simplesmente a sobra de alimento daria para alimentar uma 
quantidade	enorme	de	outras	pessoas	que	não	
têm acesso a alimentos.
Sabemos que tudo isso é problema de 
distribuição de alimentos, mas vamos levar em 
conta que a humanidade tenda a ir para esse 
lado, a realidade é que não precisamos ter níveis 
de produção tão altos por hectare como temos 
preconizado nos últimos anos para desenvol-
ver o máximo de eficiência econômica e quase 
sempre procurando produzir o máximo de to-
neladas por hectares e assim por diante. É uma 
reflexão. Dr. Otto Solbrig, biólogo argentino e 
catedrático da Universidade de Harvard, disse: 
“A humanidade é hipócrita e não vai cumprir o 
que está previsto no postulado de sustentabilidade.” Portanto, partindo desse ponto, será que 
temos, por meio de nossas instituições, condições de fazer com que o Governo brasileiro e os 
dos blocos econômicos e mundiais se preocupem, em pelo menos, nos dar caminhos onde que-
remos chegar daqui a 5, 10 anos, se não iremos ficar fazendo coisas que, daqui a pouco, no meio 
do caminho não servem, não têm aplicabilidade no campo. Junto com isso, há toda a celeuma 
de cumprir a legislação ambiental e de recursos hídricos, o que é um desafio muito forte.
É uma grande preocupação para o empreendedor, sem dúvida, mas, ao mesmo tempo, 
para o brasileiro que faz plantio direto, que faz com qualidade é uma coisa muito interessante, 
porque pode transformar isso em marketing, em propaganda do produto, pois na realidade o 
brasileiro está fazendo 22 milhões de hectares de plantio direto, e o faz com qualidade, podemos 
agregar valor porque estamos fazendo serviço para a sociedade como um todo.
Um último lembrete: constatamos hoje, na Europa, que os subsídios estão se transfor-
mando em ajudas agroambientais: um produtor de qualquer país da comunidade européia que 
deixar no mínimo 70% da cultura anterior sobre o solo, e dizer que faz plantio direto, tem 80 
euros por hectare, simplesmente por fazer isso. No Brasil, o produtor, para ter 80 euros por 
hectare de lucro precisa fazer uma senhora de uma ginástica.
Temos uma parceria com a Itaipu (certificação da qualidade ambiental da produção de 
commodities em SPD na palha), apresentamos esse trabalho no Congresso de Rosário na 
Argentina, o qual é exatamente sobre a qualidade do plantio direto.
O fato é que se tem abandonado a rotação, e não se tem feito muita palha, a palhada não 
tem tido qualidade, além da falta de opções para fazê-la. A Itaipu, desde 1997, investindo em 
difusão de tecnologia em SPD, concluiu que o ganho com sua adoção na bacia de contribuição 
ao reservatório não foi o esperado; na realidade, o pessoal estava plantando soja em cima de 
soja, sem muita palhada, não tendo, assim, as virtudes do SPD.
Concluindo, gostaria de lembrar uma iniciativa dentro dessas perspectivas: se temos a 
melhor ferramenta de desenvolvimento sustentável de ocupação de recursos naturais (solos), 
que é reconhecida pela FAO, temos que fazer propaganda, divulgar e valorizar, isso é uma ação 
que fizemos com a Fundação Agrisus.
22
 Estamos considerando marketing do nosso SPD, com ajuda do amigo Bernardo van 
Raij, um texto preparado sobre SPD e sustentabilidade, onde resgata o que é sustentabilidade e 
coloca, inclusive, um relatório dos primeiros documentos dizendo o seu significado.
Denizart Bolonhezi - APTA/Ribeirão Preto
A sustentabilidade é um tema que, na verdade, envolve todos os outros, e é extremamente 
fitotécnico porque, para produzir palha, é preciso entender de muitas coisas, talvez seja o tema 
mais complexo de todos. Para São Paulo, fica muito complicado, na sua região oeste, conseguir 
viabilizar. Será que no plantio direto conseguiremos aqui, em São Paulo, aquele visual que te-
mos do sul do Brasil? Será que teremos um SPD com visual de acúmulo de palha? Visitei Guaíra 
e observei áreas em que se fazia SPD há algum tempo, passando grande dificuldades porque, às 
vezes, o próprio extensionista diz que o produtor não faz plantio direto porque não tem visual. 
Mas, será que os benefícios estão só no visual? Por isso tem que passar a grade?
APRESENTAÇÃO 2: Antonio Luiz Fancelli – ESALQ/USP
A agricultura brasileira depende de um sistema mais sustentável e em função do que vem 
por aí em termos de conjuntura econômica, de problemas sociais e econômicos que estão se 
aventando, o SPD é extremamente importante e precisamos contribuir para sua viabilização da 
melhor maneira possível.
Já temos, hoje, tecnologia adequada para fazer o SPD. Até pouco tempo eram discutidos 
problemas de máquina, de cobertura, e assim por diante. É hora de ir além e discutir um pouco 
mais os problemas emergenciais que estariam relacionados a esse sistema.
Especificamente para o Estado de São Paulo, na minha opinião, os principais entraves do 
SPD estão relacionadoscom o seguinte:
a) temos agricultores tradicionalistas que se acostumaram a fazer agricultura de maneira 
mais ou menos tradicional, sendo extremamente refratários a qualquer tipo de mudança e, 
principalmente, porque, segundo o censo recente realizado no Estado, a média de idade dos 
agricultores paulistas é relativamente elevada, o que dificulta qualquer tipo de iniciativa de mu-
dança; 
b) outra coisa notória é o abandono da extensão rural por parte do Estado; infelizmente, 
isso interfere negativamente em algo extremamente importante. Além disso, há um despreparo 
dos agentes de transformação, principalmente depois da adoção do sistema de municipalização. 
Acredito que estejamos usando ação e métodos ultrapassados de difusão de tecnologia. 
Ainda continuamos com modelos equivocados de SPD, inclusive forço aí um adendo de 
que ficamos muito usando o espelho “Paraná”, que não tem muito a ver com a nossa realidade. 
Assim, temos que tomar cuidado ao trazer modelos preestabelecidos para as nossas condições. 
Temos condição suficiente para definirmos sistemas de produção para nossa situação.
Também existe, hoje, uma tendência de agricultura, com padronização de tecnologia. São 
os famosos pacotes tecnológicos, que realmente vão totalmente contra os princípios agronômicos 
em termos de coisa fechada. São as famosas receitas de bolo que não contemplam as nuanças 
do sistema de produção das diferentes condições edafoclimáticas do Estado de São Paulo.
23
A realização de pesquisa desconectada da realidade atual, a ausência de fórum específico 
de discussão de problemas emergenciais, pelo menos até hoje. Agora e aqui, podemos dizer que 
temos um fórum específico extremamente importante. 
São esses tópicos que, acredito, sejam de extrema importância.
Gostaria de deixar claro que o SPD depende da reposição de resíduos, de palhada, então 
precisamos tomar um pouco de cuidado quando fazemos um sistema de rotação de culturas só 
extrativas, trabalhando apenas com seus resíduos, o que muitas vezes não é suficiente. 
Se fizermos o balanço de energia e de nutrientes em uma lavoura de soja e feijão altamente 
produtivas, a contribuição desses resíduos realmente deixa a desejar. Portanto, de tempos em 
tempos, precisaríamos fazer uma cultura só para a necessidade de reposição de palha e fazer aí 
“o descanso do sistema”.
As épocas de produção para resíduos vegetais para São Paulo, no outono/inverno, que 
seria o mais comum, seria a implantação de uma cultura em pós-colheita de culturas comerciais. 
Muitas vezes, em função do início das chuvas, isso pode ser prejudicado porque a colheita ocor-
re em abril, e aí podemos ter dificuldade com a implantação de algumas espécies.
Também existiria outra possibilidade, que seria na primavera - imediatamente antes da 
implantação de culturas comerciais, no início das águas. Poderíamos utilizar espécies altamente 
agressivas, de desenvolvimento rápido, por exemplo, o milheto, que, em 30-40 dias de desen-
volvimento, já teria, em função de manejo da quantidade de semente utilizada, uma quantidade 
de palha suficiente para justificar sua adoção.
Também poderíamos trabalhar em termos de verão com espécies exclusivas para a recu-
peração de área; numa área que esteja extremamente degradada poder-se-ia utilizar, na época 
de verão (outubro) para fazer uma cobertura e, posteriormente, entrar com milho safrinha, ou 
feijão já a partir de janeiro, então teria um período para fazer a palha, pelo menos para iniciar 
o processo de sustentabilidade do sistema.
Há também a possibilidade de usar o verão para fazer consórcio de determinadas espécies 
com culturas comerciais, como o sistema Santa Fé já consagrado por João Kluthclouski, pelo 
Merola, que seria uma alternativa para trabalhar nessa situação.
Existem outros sistemas com relação a guandu-anão com milho, feijão-de-porco com mi-
lho, inclusive possibilitando colheita mecânica, sem problema nenhum.
Muito bem, as espécies consagradas para essa finalidade, citando-as rapidamente, 
e recordando seus problemas: a aveia preta seria uma alternativa, é uma espécie que se 
desenvolve bem em regiões mais baixas. Seu problema é que pode favorecer bastante a 
podridão de colmos de milho, então essa não seria uma espécie indicada para plantio de 
milho de maneira sistemática.
O trabalho do Professor Melo Reis mostra que aumentam extremamente as podridões 
radiculares quando se planta milho ou outro tipo de gramínea em cima de aveia. Seu uso 
contínuo também pode favorecer o aumento da lagarta-rosca, um problema bastante sério em 
vários sistemas.
Então, pode-se mencionar o caso da aveia plantada a lanço na fazenda Colorado (SP), 
que utiliza bastante esse sistema: aveia vem depois de roçada; sua primeira utilização será para 
a produção de feno e a rebrota será utilizada como palha em SPD.
24
Outra alternativa seria a aveia-branca, que produz muito mais massa do que a aveia-preta, 
mas temos problemas com ela aqui em São Paulo em função de variedades. Hoje, o IAC já tem 
variedades bastante interessantes, possibilitando a produção de grãos, ou somente para fazer 
massa em determinadas situações. O problema do aumento da infestação de lagarta-rosca em 
função de emprego de aveia pode ser minimizado consorciando com Níger. Em lavouras de 
aveia-preta, o problema praticamente foi debelado: fazendo Níger (10 a 12%) em cima da aveia, 
o problema foi praticamente resolvido.
Outra opção seria centeio, para as regiões mais frias, região sul paulista. Em uma área da 
fazenda Cerrado de Cima, localizada em Itapeva, o centeio é muito melhor do que a aveia em 
termos de construção de perfil de solo, de melhoria de vida de solo em relação ao bombeamento 
de nutrientes e quantidade de raízes produzidas. 
O problema é que ele exige temperaturas mais baixas, porém tem efeito alelopático para 
uma série de culturas, principalmente trigo, e tem uma ressemeadura, uma capacidade de re-
brota bastante acentuada em regiões frias; o que pode ser um problema, além de ter um manejo 
relativamente difícil, haja visto os problemas no Rio Grande do Sul em relação a manejo.
Em São Paulo, o problema não é tão grave; também na fazenda Cerrado de Cima, a 
primeira rodada do centeio é para fazer feno para gado de leite, esse feno é então roçado, sendo 
deixado numa forma de pré-secagem, depois recolhido e transformado em alimentos.
Esse centeio apresenta uma capacidade de rebrota extremamente grande, depois funcio-
nando como cobertura morta para a soja mas, evidentemente, estamos tirando massa. Então, 
temos que trabalhar depois com balanço de nutrientes no sistema porque as culturas seguintes 
podem ser comprometidas.
Outra espécie que está sendo muito utilizada no Estado de São Paulo é o nabo-forrageiro, 
pela sua capacidade de descompactar o solo, sobretudo a variedade Iapar PJ 4, que é um nabo-
forrageiro pivotante, cujo sistema radicular é extremamente avantajado.
O problema do nabo-forrageiro é que tem uma relação C/N relativamente baixa; então, 
se for mal planejado dentro do sistema de produção e se for destruído muito tempo antes do 
plantio da cultura seguinte, pode-se perder em função dessa relação C/N bastante baixa. É 
um reciclador espetacular de nitrogênio, pois há trabalhos da Embrapa mostrando que muitas 
vezes pode ter mais nitrogênio do que as leguminosas em função da capacidade que tem de 
concentrar nitrato. Mas seu problema é o seguinte: pode favorecer tremendamente o aumento 
de percevejos, sobretudo o barriga-verde, que hoje é um dos principais problemas para milho 
em todo o Brasil, principalmente em São Paulo, onde muita gente não sabe que está tendo 
problema com essa praga, uma espécie secundária para soja, que se transformou em praga 
primária no milho.
O nabo-forrageiro também é um hospedeiro extremamente favorável ao nematóide do 
gênero Meloydogine. O principal problema, porém, é que ele é o principal hospedeiro de mofo-
branco. Sempre nos lembramos de mofo-branco em feijão, mas esse ano (2004/2005) tivemos 
problemabastante sério com a soja. Na região de Jataí/Rio Verde, perderam-se aproximada-
mente, seis mil hectares de soja por causa do mofo-branco. O girassol também é um hospedeiro 
espetacular de mofo-branco e o multiplica tremendamente.
Outra espécie com que tenho trabalhado mais, pela sua rusticidade e multiplicidade de uso, 
é o Dolichos lablabe, uma espécie antiga, mas extremamente interessante, cujas desvantagens 
são: é suscetível à vaquinha e é hospedeira de nematóide de galha. Mas era uma planta bas-
25
tante utilizada em citros e deixou de ser utilizada por essa informação de que permitia aumento 
grande na população de nematóide. Tudo bem, pode multiplicar nematóide porque é excelente 
hospedeira, mas se não há nematóide na área, não há o porquê de não utilizá-la.
Na fazenda Colorado, utilizamos o labe-labe e trabalhamos com um sistema chamado de 
perenização de cobertura verde, para plantar uma vez só. É o terceiro ano em que a utilizamos e 
plantamos uma vez só.
Outra espécie interessante seria o milheto, de grande capacidade de produção de massa, 
mas rebrota extremamente fácil, então precisa da utilização de herbicida, não dá para manejar 
com roçadeira ou coisa desse tipo. Ele responde ao fotoperíodo e, assim, conforme a época do 
ano e região, é preciso utilizar material menos sensível, do contrário o potencial de produção cai 
significativamente, podendo também aumentar a ocorrência de lagartas de solo.
Outro problema sério para o milheto é sua baixa persistência de resíduo, desaparecendo 
com muita facilidade, exigindo algo com relação C/N pouco melhor. Hoje, temos cultivares de 
milheto no Brasil que já produzem até três mil quilogramas de grãos por hectare, e estão sendo 
estudados para alimentação animal. 
Guandu é uma espécie bastante interessante; tem-se que tomar cuidado porque, em regi-
ões em que deixamos o guandu por si só, é preciso fazer destoca, porque acaba engrossando o 
colmo.
Fizemos um sistema interessante nos tempos de projeto Rondon, quando fui coordena-
dor, em 1982-86. Depois o Presidente Sarney acabou com o projeto. Fazíamos a utilização 
do guandu para reduzir o problema de agricultura itinerante no Pará, em Marabá, porque 
o agricultor usava três anos um lugar, esgotava o solo e, depois de certo tempo, a sua casa 
estava a uns 10 km de onde fazia agricultura.
Desenvolvemos um sistema para trabalhar com guandu e recompor a fertilidade do solo, 
porque tem uma capacidade muito grande de reciclagem de nutrientes e de renovação de folhas 
e, a partir de três anos, voltava-se ao mesmo lugar, com a mesma produtividade que, muitas 
vezes, o agricultor iria encontrar em locais bastante distantes. O problema é que ele tem um de-
senvolvimento inicial muito lento para as nossas condições e permite o aumento da população 
de nematóide em algodão. 
Crotalaria juncea: uma alternativa interessante. A dificuldade dela é que não suporta ge-
ada e chuva de vento, tem um caule semilenhoso dificultando o manejo, arrebenta roçadeira 
porque é uma fibrosa, fazendo com que saia aquela fita que enrola nos mancais da roçadeira. 
Ela tem uma resposta marcante ao fotoperíodo, mas um dos problemas mais sérios seria o 
custo da semente. Hoje, é cada vez mais caro e difícil fazer semente de crotalária, porque 
ela depende da mamangava para polinização, e hoje estamos tendo dificuldade para termos 
matas fechadas onde se procria a mamangava. A Companhia Piraí, que fazia sementes de 
crotalária, em Piracicaba, só consegue fazê-las para frente de Andradina, o que deixa cada 
vez mais cara a semente. 
A	Crotalaria breviflora é possibilidade bastante atrativa: tem uma dificuldade para produzir 
sementes, mas tem um período de florescimento bastante longo e floresce cedo, como o próprio 
nome está dizendo. Essa espécie está sendo muito utilizada para cobertura em citros, fazendo 
um manejo com uma entrelinha com mato, outra com breviflora e a outra com guandu, permi-
tindo que se tenha flor na lavoura por muito tempo, favorecendo o desenvolvimento dos estágios 
iniciais de inimigos naturais, que depois vão controlar ácaro, pulgão etc.
26
Outra coisa importante seria a braquiária, uma espécie espetacular, com grande capaci-
dade de reciclagem. Recorde-se o caso do sistema Santa Fé depois da colheita do milho, com 
o que sobrou de braquiária, que se destaca como uma cobertura espetacular para o plantio do 
feijão. Esta aí uma contribuição muito grande do João Kluthclouski, do Merola nesse sistema. 
Os trabalhos do João Kluthclouski, do Merola etc., mostraram que essa consorciação no sistema 
Santa Fé pode reduzir bastante a população de nematóides, é supressora de fusarium e rizocto-
nia, e tem uma produção de fitomassa com relação C/N excelente para SPD, enriquecimento da 
rizosfera através da agregação de solo e assim por diante.
Trabalho recente do nosso orientado de mestrado, Guy Tsumanuma, mostrou que até 
pouco tempo se falava em plantar braquiária e depois entrar com nitrosulfuron para tentar se-
gurar a braquiária. Hoje, sabemos que não é preciso nenhum tipo de manejo especial: pode-se 
plantar milho e braquiára concomitantemente, e sem efeito em termos de competição.
Trabalhamos com várias espécies e nenhuma delas apresentou efeito de competição. Uma 
coisa espetacular que tivemos foi um efeito de “bombeamento”, principalmente com a braquiá-
ria decumbens: a quantidade de raiz de feijão em cima de uma área que foi braquiária, e aquela 
de raiz de feijão em uma área que foi milho é bem diferente. 
Em trabalho nosso, em Piracicaba, com braquiária – ficou grande massa de braquiária e 
pudemos avaliar o que isso estaria trazendo de benefício para o solo e coisas mais. Também 
na fazenda Colorado fazemos o sistema de manejo na braquiária em cima do milho, há quatro 
anos, com produtividades sempre crescente.
Devemos começar a pensar em trabalhar com consorciação de espécies. Saiu de moda 
trabalhar com uma espécie só, porque queremos qualidade e quantidade de massa.
Então, podemos utilizar o lablabe com aveia, com semeadura a lanço. Quando a palhada 
não for muito densa, atrás do trator que está fazendo a semeadura, pode-se arrastar uma série 
de correntes para remexer a palha, fazendo a semente entrar em contato com o solo e germinar, 
sem problema nenhum.
É contra-indicado passar a grade, porque aí se acaba com o SPD nos primeiros 3 cm de 
solo, que são extremamente importantes e onde as coisas estão acontecendo, que é o “manjar 
dos deuses”. Nessa camada de cima que é gostoso para os microrganismos - não vamos atrapa-
lhar a ação de jeito nenhum.
Lablabe com aveia, o mesmo sistema um pouco mais avançado	e milheto, tudo em plantio 
a lanço, mas, se necessário usar corrente. De outra parte, lablabe com milheto se desenvolvem 
bem e, depois, o lablabe, utilizando o milheto como tutor conseguindo-se produzir um pouco 
mais.
Um problema é a vaquinha. Se formos plantar milho em seguida, precisamos tomar muito 
cuidado com a larva-alfinete, já que temos uma população grande para fazer oviposição nas 
plantas de milho que vêm em seguida.
Soja e milheto. Mas, como soja? Soja-grão, soja que passou lá na pré-limpeza e sobrou um 
monte de grão. Então, se quisermos ser rigorosos é só fazer análise patológica para verificar se 
não serão jogados contaminantes na área.
Não existindo condição muito complicada em termos de patógenos, usamos isso no cam-
po, logicamente quando não formos plantar soja em seguida.
27
Também soja, milheto e nabo-forrageiro, tudo junto seria muito mais adequado, e aí tam-
bém pode fazer lablabe e aveia. Temos exemplo na fazenda Colorado, lablabe plantado em 
linha, primeiro a aveia e depois o lablabe.
Espécies e iniciativas que acredito tenham sido frustradas e podemos deixar de lado: pé-
de-galinha; já temos coisas muito melhores, a estabilidade é ruim e a quantidade de raiz produ-
zida não é lá grande coisa, pensando em braquiária, pensando em outras coisas, semente difícil 
de produzir, semente cara e tal, virou mais um comércio do que qualqueroutra coisa. Pode-se 
ver o pé-de-galinha em condição de área preservada, parcela de dia de campo e coisa desse 
tipo, mas no campo nunca vi coisa bastante interessante. Ervilhaca, também, acredito que não 
há muita razão de ser, tem coisas melhores para nossas condições. Resolveram trazer a moa, 
setária, amarantus. Precisamos tomar cuidado, isso pode criar um híbrido interessante com o 
caruru-nativo e depois fica difícil para controlar o “monstrinho” que criamos.
Necessidades de estudo
Temos que pensar em consorciação. É possível fazer massa em curto espaço de tempo e 
massa de qualidade. Em termos de necessidade de estudo, pensar um pouco mais em alelopa-
tia; perenização de sistemas para plantar uma vez só; estudar um pouco mais microbiologia do 
solo, porque, infelizmente, sabemos muito pouco do que estaria ocorrendo.
Talvez seja muito mais importante a quantidade de massa que está sendo incorporada ao 
sistema abaixo do solo, do que em cima, assim, a quantidade de raiz e o seu funcionamento.
A espécie que tem aumentado bastante tanto em termos de utilização na entressafra, como 
também para a produção de palha, é o sorgo, com uma capacidade de rebrota espetacular. 
Porém, seu efeito alelopático é bastante sério.
Então, numa dada lavoura de soja, o que seria aquele aspecto? Que herbicida foi passado? 
Verificamos que não foi herbicida nenhum, é efeito alelopático de sorgo, que tem uma capacida-
de muito grande de emitir compostos fenólicos via raiz.
O problema principal é quando fazemos o tal de aplique e plante. Não tem nada a ver com 
o herbicida em si, é que colocamos o produto em cima do sorgo, que, para se defender, aumenta 
a síntese de compostos fenólicos e, evidentemente, que leguminosas são extremamente sensíveis 
a esse produto, e demora para a soja se recuperar, e coisas parecidas encontramos em feijão.
Está aqui uma área com palhada de sorgo e outra em que a palhada de sorgo foi retirada. 
No sistema aplique e plante sobre a palhada de sorgo dá para ver bem a diferença no feijão 
plantado. Precisamos pensar mais a respeito desses efeitos alelopáticos.
Marcos Palhares – Monsanto
O sorgo tem baixa exigência nutricional e é bastante tolerante ao déficit hídrico em relação 
ao milheto. Na figura a seguir, vemos o milheto bastante sofrido com estresse de 50 dias sem 
chuva, e a Braquiaria ruziziensis ainda mantendo bastante cobertura verde - a capacidade de 
rebrota é muito interessante.
28
O	sorgo,	que	mencionei,	e	a	cobertura	pro-
porcionada por ele, é uma opção boa também 
em relação ao milheto. Mostrou-se superior, 
possui alta relação C/N, oferecendo a principal 
vantagem em relação ao milheto, cuja biodegra-
dação é muito acelerada.
Esse sorgo da figura anterior foi semeado 
em abril após colheita da soja; em setembro, 
mês sem chuva, já estava nesse porte, foi pas-
sado o correntão para que se promovesse a sua 
rebrota.
O milheto, na figura seguinte, à esquerda, 
mostrando baixa cobertura e produção de se-
mentes, baixo rebrote após o início das chuvas, 
germinação das panículas na cultura da soja. E 
à direita, esse sorgo, como oferece muito mais 
massa, 8 a 12 toneladas por hectare.
Qual é o melhor método agora de plantar as 
coberturas? Como fazê-las?
O correntão foi uma das opções. A figura 
anterior	mostra	o	correntão	e	um	destorcedor,	
colocado no rabicho do trator para que a cor-
rente, à medida que vai sendo a arrastada, não 
ofereça nenhum impedimento mecânico e, as-
sim, possa quebrar o sistema.
Na próxima figura, podemos observar 
melhor como o correntão trabalha: imaginem 
esses tratores trabalhando a 70% de compri-
mento total do correntão. Ele vem vindo, o solo 
está dessecado, não há presença de plantas da-
ninhas, não há revolvimento do solo, mas uma 
simples incorporação da semente da braquiária 
que foi feita a lanço.
Isso é um trabalho bastante eficiente ob-
servado em relação à semeadura a lanço da 
braquiária. É claro que há um questionamento: 
São Paulo comporta um trabalho desse tama-
nho?
Na figura anterior, vejam que há um des-
torcedor na parte intermediária da corrente, se-
não vai danificar o sistema em áreas ainda no-
vas; é preciso que haja certa cobertura vegetal 
para que se faça o manejo da dessecação e se 
promova boa germinação da semente. Se o solo 
29
não tiver mínima cobertura de matéria orgâni-
ca, a germinação da semente é falha, porque há 
áreas que não estarão bem protegidas.
Na figura seguinte, uma área ao lado, 
com incorporação da mesma braquiária com 
grade e, do outro, com correntão. Fica aí uma 
sugestão	para	 se	pensar	em	propriedades	que	
possam comportar esse sistema.
A seguir, o milheto, incorporado com 
correntão, e ao lado uma área com braquiária 
ruziziensis.
Outro sistema, mostrado na figura a se-
guir, é a grade, que já está na propriedade, e 
não precisa ir atrás de um correntão. Todavia 
seus pontos negativos são vários: desagrega a 
estrutura	 do	 solo,	 com	 formação	 de	 camadas	
compactadas.
A figura a seguir nos dá um testemunho 
forte	de	que	quanto	menos	puder	lançar	mão	da	
grade, melhor, porque ela expõe o solo, perde 
umidade, uma série de desvantagens em rela-
ção aos pontos positivos, porque aqui ela vai 
controlar as plantas daninhas pequenas, vai 
ter	uma	germinação	das	plantas	de	cobertura,	
mas, enfim, pensando em conservação do solo, 
o correntão mostrou mais vantagens.
Mesmo usando a grade para fazer essa co-
bertura, observa-se que a erosão laminar pode 
acontecer. Outro sistema de plantio de cobertu-
ra com semeadura em linha, conforme mostra a 
figura seguinte: a braquiária, como fica semeada 
em linha, existe eficiência mais alta da germina-
ção, e aproveita melhor fertilizantes, água etc.
Qual a necessidade de antecipação das 
coberturas em relação ao plantio da soja? Deve 
existir, logicamente, essa preocupação, e se 
evitar ao máximo o sistema aplique e plante. 
Nesse sentido, mostro também essa seqüência 
de slides para se ter uma idéia do que não se 
deve ou do que se deve fazer, pelo menos com 
resultados. 
Isso aqui é a massa proporcionada pela 
braquiária semeada a lanço, com 600 PC, efetu-
ando-se a semeadura logo após a dessecação.
30
Isso também se conhece muito bem; o 
ambiente para deposição da semente não é fa-
vorável, podendo ter algum efeito alelopático da 
braquiária sobre a soja que está nascendo. Uma 
série de coisas, hospedeiro de pragas, e doen-
ças que podem estar acontecendo, mas enfim, 
é como fica uma área. Vejam a capacidade de 
produção de massa dessa braquiária, e com a 
dessecação feita 14 dias antes do plantio, é uma 
situação muito mais favorável, não existe receita 
de bolo, se houver necessidade de dessecar com 
21 ou 28 dias, tudo bem. Essa foi a braquiária.
Observem na mesma figura, por exemplo, o sorgo de cobertura. Olhem a massa que ele 
proporciona no plante e aplique, uma quantidade muito grande, e as mesmas conseqüências 
existirão por fazer a semeadura muito próxima da dessecação. Eis o sorgo dessecado 14 dias 
antes do plantio - uma situação muito mais favorável, mas sem uma cobertura tão boa quanto 
a proporcionada pela ruziziensis.
Aqui estão os resíduos deixados pelo milheto. Observamos que existem grandes porções 
do solo descobertas, quer dizer, a emergência de plantas daninhas vai ser maior. Isso é uma área 
que fica em pousio, sem estabelecimento de nenhuma cultura de cobertura.
Assim	 a	 trapoeraba,	 o	 capim-amargoso,	
todas as plantas daninhas fecham seu ciclo de 
florescimento, introduzindo sementes no siste-
ma, proporcionando maior dificuldade na des-
secação. 
O sistema prevê o benefício de instalar 
uma única espécie agressiva, com baixa exigên-
cia nutricional e hídrica, que vai suprimir outras 
plantas daninhas. Isso é o manejo do banco de 
sementes que vai proporcionar uma palhada 
muito interessante para o sistema.
31
O gráfico a seguir comprova a ruziziensis, a população final encontrada com a dessecação 
feita 21 dias antes da semeadura e como cai a população, por exemplo, quando se faz o plantee aplique. A gente perde, aqui, aproximadamente 100.000 plantas por hectare, variando em 
função de espécies.
No caso, são questões levantadas por produtores; como: Em São Paulo vai acontecer a 
mesma coisa? Ela pode ser utilizada em semeadura da soja? Qual a melhor época? Quantidade 
de semente?
Vários trabalhos que liderei em Mato Grosso comprovaram que o melhor momento para 
fazer a sobressemeadura é quando a soja está no R5 – quando se inicia aquele amarelecimento, 
mais ou menos nessa época, quando se faz a sobressemeadura, as sementes caem sobre o solo, 
favorecendo a germinação. Vejam na figura a seguir a situação que fica da cobertura proporcio-
nada quando se faz a semeadura em R5 (ao centro). 
À esquerda, quando se antecipou muito essa sobressemeadura ou, à direita, quando se 
demorou demais, observamos que não há o fechamento bom da área. A quantidade de semente 
– observem uma variação de 200 pontos de valor cultural para 400, 600 sendo a relação custo-
benefício mais interessante.
Na figura seguinte, eis mais uma idéia de como fica a sobressemeadura em R5, em R7; 
a palhada proporcionada pela ruziziensis é bastante interessante; observem o fechamento do 
solo quando se obtém uma boa cobertura, e a baixa incidência de um fluxo novo de plantas 
daninhas quando se trabalha com ruziziensis.
32
Ela pode ser trabalhada com milho? Sim pode. Pode ser consorciada? Sim, foi comprova-
do pelo sistema Santa Fé. 
Isto é mais uma foto, ilustrando como acontece. O ideal é fazer a semeadura da braquiária 
em linha, como constatado nesse trabalho da figura seguinte.
E aqui, só mais algumas idéias: fotos mostrando a quantidade de semente gasta. Aqui, a 
semeadura a lanço da braquiária em área de colheita de milho, e como fica uma área após essa 
colheita – vinte dias após a colheita do milho, vejam como ela fecha bem a área.
E, para a safrinha, também é muito interessante, logo após a colheita da safrinha, semear 
a braquiária, em setembro ou agosto, dá tempo até novembro de conseguir fazer o plantio sobre 
uma palhada bastante interessante. Um traba-
lho semelhante foi desenvolvido na fazenda de 
Leonardo Coda, onde constatamos que a janela 
de tempo entre a colheita da safrinha no vale do 
Paranapanema até o plantio da soja, é tempo 
suficiente para estabelecer uma boa massa e 
fazer o manejo de cobertura.
Todos esses trabalhos foram efetuados por 
uma equipe de nove pesquisadores, tudo está 
bem consolidado, com trabalhos estatísticos que 
serão publicados. Alguma coisa disso trazendo 
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para São Paulo não é difícil fazer palhada, se não for por rotação de cultura, podemos introduzi-
la no sistema.
Rudimar Molin – Fundação ABC
A Fundação ABC há alguns poucos anos está atuando mais intensamente na região sul do 
Estado de São Paulo – Itararé, Itaporanga e Itapeva, por influência das cooperativas.
A Castrolândia está trabalhando em Itaberá, e já havia uma atuação da Capau, de Arapoti, 
há mais tempo no município de Itararé.
Inicialmente, farei um relato do que se faz lá: basicamente, são cultivos de grãos – milho, soja 
e feijão; no inverno trabalha-se com trigo e triticale, que são as principais culturas econômicas, 
e aveia-preta, o modelo que se tem hoje. Temos, porém, algumas preocupações concernentes a 
esse modelo, como a erosão do solo, que ainda existe no plantio direto, relativos à mecanização, 
terraceamento, outras práticas complementares, então esse sistema até que resolve o problema 
de erosão com essas práticas complementares.
 No entanto, o que chama a atenção é que há trabalhos de fertilidade, comparados com 
Arapoti, que tem um clima um pouco mais semelhante, onde se está estabelecendo a dose de 
máxima eficiência econômica para a cultura do milho: percebe-se que, essa região paulista 
necessita muito mais nitrogênio para produzir a mesma quantidade – o produtor precisa aplicar 
mais nitrogênio.
Isso nos leva a pensar que devemos caminhar um pouco mais para o estoque de carbono 
no solo, aumentar mais essa matéria orgânica. É um clima, em relação ao do Paraná, mais seco, 
mais	quente,	então,	temos	essa	preocupação	de	aumentar	um	pouco	mais	carbono	por	meio	
da palhada. Temos um inverno bem mais seco, e a limitação é a falta de água. Mais ao sul é 
a questão de frio, a geada que limita, então imaginamos que o ideal é trabalhar com culturas 
com uma relação C/N alta para conseguir um estoque maior de carbono e aumentar a matéria 
orgânica e todos os outros atributos.
Uma das possibilidades do sistema atual seria aumentar um pouquinho mais a questão do 
milho, que tem uma limitação maior, é uma questão de noites mais quentes em relação às outras 
regiões em que atuamos. Teria essa possibilidade de participação como uma cultura econômica, 
e aumentar um pouco mais a palhada. Com relação a trigo e triticale, dentro das limitações da 
cultura, ela está bem estabelecida.
A questão, porém, é a aveia que, no inverno, tem aquela limitação de produzir menos 
massa em clima um pouco mais frio, aliás, mais quente e seco; então no inverno, também, 
buscaríamos algo tipo sorgo e milheto para substituir principalmente a aveia nesse modelo, 
somando um pouquinho mais a essa massa. Foi levantado pelo Professor Fancelli a questão da 
alelopatia, em relação ao sorgo e à cultura da soja. Talvez em intervalos de plantio isso possa 
ser solucionado, não sei a que ponto chega esse tipo de informação. 
Com relação aos consórcios, a preocupação maior é o custo da cobertura em si e não 
a questão técnica. O produtor tem um pouco mais de dificuldade para adotar esse sistema e, 
dentro desse consórcio, talvez o que nos preocupou um pouquinho foi a colocação do Fancelli 
quando trabalhou a questão de soja consorciada. A questão de ferrugem, então não sei até que 
ponto a participação da soja nesse sistema seria viável com esse evento da ferrugem que está 
estabelecido. Talvez seja o entrave que gostaria de colocar aqui.
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Outra coisa que devemos considerar quando vamos trabalhar e propor um sistema para o 
agricultor é o seguinte: se não adotar, não adianta, isso não vai para a frente de jeito nenhum. 
Então, temos a questão econômica. Hoje, no Paraná, há um trabalho que acompanhamos 
desde 1988: são sete sistemas que chamamos subsistemas de plantio direto, são 7 modelos de 
propriedades: que faz soja-trigo, soja-trigo....até o sistema que integre a lavoura e a pecuária, 
onde fazemos um acompanhamento econômico, fluxo de caixa para fazer essa avaliação.
Como pesquisadores, também teríamos que ter a preocupação com a questão econômica 
quando desenvolvemos um modelo, porque nenhum produtor faz uma cobertura ou plantio di-
reto simplesmente por amor à camisa ou para desembolsar dinheiro. Hoje, uma cobertura verde 
de aveia está em torno de 190 reais por hectare, que desembolsam em nossas condições.
 As limitações são estas: tirando essa região de São Paulo e pegando o Paraná, as três 
cooperativas, temos em torno de 60% de área ociosa no inverno e, onde não se consegue 
fazer cultura econômica, aí vêm as coberturas – aveia, principalmente, hoje é feita, e é tudo 
desembolso. E se fosse possível, se tivesse uma solução, procuraríamos fazer 100% de uma 
cultura econômica em cima disso, e não simplesmente a cobertura verde; sei que há uma grande 
limitação em cima disso, mas, sempre que possível, deve-se buscar e desenvolver alguma coisa 
que pague esse custo.
Essa é a grande mensagem, uma dificuldade, inclusive, que temos para desenvolver: por 
um lado, a limitação da geada, mas se passamos para cá temos a questão do inverno seco, e 
todas essas limitações de qual é a cultura econômica? Qual é a cultura que se vai pagar? O trigo 
hoje se planta; ele forma palha e tem um equilíbrio econômico, é lógico, um ano que nem esse, 
economicamente, está pior do que uma cobertura econômica, mas ao longo dos tempos, ele 
consegue arcar um pouco com esse custo da conservação de solo.
Basicamente, essa é a minha mensagem, também estamos buscando esse tipo de 
solução.
Ricardo de Castro Merola– Fazenda Santa Fé
Sou agricultor em Goiás e a vida toda procurei resolver os problemas na fazenda com 
bastante apoio na pesquisa. Desde 1980 tenho uma área em parceria com a Embrapa, onde 
desenvolvemos diversas atividades que possam resolver o problema da Fazenda Santa Fé.
As dificuldades começaram com a tiririca, em 1980, que foi invadindo toda a fazenda. 
Entrei no plantio direto para resolver o problema, já que não havia outros; havia fertilidade alta e 
um sistema de conservação muito bem feito com terraço de base larga em gradiente com canais 
de drenagem gramados. 
No Paraná, aprendi a técnica do plantio direto, mas, para implementá-la em toda a fazen-
da, gastei seis anos, porque a dificuldade era a palhada.
A primeira palhada que descobri por acaso foi sorgo, e como produzia sementes, estava 
sempre presente no sistema de rotação, percebi que ele tinha alta persistência, rebrota vigorosa 
e não dava efeitos negativos na cultura posterior. Mesmo porque, naquela época, não se usava 
muito o aplique e plante, porque o Roundup custava 16 dólares o litro, não permitindo que 
se errasse e não havia herbicida pós-emergente como hoje; só tínhamos 2,4-D, Gramoxone e 
Atrazina.
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Trabalhei com sucessão de culturas e usei 
como palhada o sorgo. Na figura a seguir, al-
gumas alternativas que considero boas para o 
Estado de São Paulo. O sistema Santa Fé no 
verão pode ser utilizado no plantio consorciado 
com milho, o resultado é excelente. E pode ser 
usado de diversas formas: eis uma área de sila-
gem da Fazenda Santa Fé, onde usamos braqui-
ária brizanta com 400 pontos de valor cultural.
Vejam a exuberância da braquiária num 
período curto, porque a silagem se corta com 
100 a 110 dias após o plantio. É uma máquina 
cortando, e a palhada de braquiária. A foto a 
seguir	 mostra,	 de	 perto,	 depois	 de	 cortada	 a	
braquiária. A Fazenda Santa Fé usava muito a 
braquiária para fazer silagem. Não usa mais.
Depois	de	muitos	anos,	percebemos	que	a	
braquiária tem um problema: quando é utilizada 
para silagem, exporta muito potássio, cuja repo-
sição fica caríssima. No fim, gastava-se muito, 
porque a silagem tinha uma porcentagem de 
matéria seca baixa, 18-20%, e exportava muito 
potássio; no resto, era espetacular, pois é uma 
cultura perene; ficava aí, dava mais dois ou três 
cortes, e essa braquiária produzia 40 t de ma-
téria original, sem riscos de vento e de pragas 
que o milho tem, quer dizer, sem uma séria de 
pragas que o milho tem, sem uma série de pro-
blemas, como veranico.
Essa é uma palhada de braquiária usada 
em feijão irrigado, e como a fazenda Santa Fé 
tem 70% da área irrigada, costumamos fazer para ter até três cultivos por ano. O desafio para a 
produção de palhada é muito intenso.
Nesse caso, efetuou-se o sistema Santa Fé 
com milho: deixando a braquiária desenvolver, 
fez-se um corte para a silagem. A cobertura tem 
que dar lucro para o produtor também. Não se 
pode fazer cobertura bonita de cinema, que não 
dê retorno financeiro: é preciso que ela contri-
bua para a renda do produtor.
Nesse caso, da braquiária foi feita uma 
silagem e depois rebrotou e plantou-se o feijão 
em maio; esse feijão só usou um inseticida, um 
acaricida, e nenhum fungicida. Será que a bra-
quiária ocasionou isso? Com certeza foi, porque 
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em outras áreas sem essa palhada tivemos que usar mais herbicida, mais inseticida e usar 
fungicida na mesma época, na mesma fazenda.
Olhem que palhada: é de braquiária; cos-
tuma passar duas, três culturas para a frente, 
então se houver algum problema, pode-se plan-
tá-la que ela fica perene.
Pensando	 em	 São	 Paulo,	 coloquei	 esse	
quadro: plantio de milheto em áreas iniciando 
plantio direto. Trata-se de uma saída para quem 
está em solo degradado, com baixa fertilidade, 
alto teor de alumínio, e quer começar no pro-
cesso. Minha sugestão é que prepare o solo, 
faça o terraço.
Outra coisa, já que São Paulo está come-
çando agora o plantio direto, não deixem desmanchar os terraços base larga, preservem-nos. 
Esse negócio de plantar morro abaixo é muito bonito para pôr em foto, tem que aproveitar e 
plantar em nível, está certo: por que o terraço? Ele não incomoda se for bem feito, base larga, 
12 m, pode até marcá-lo com espaçamento maior em vez de usar aquela tabela tradicional, mas 
não fiquem com seu solo só dependendo da palhada, se não houver palhada, a erosão leva 
tudo, porque pode haver situações em que o nível de palhada na sua área caia. 
Tive esse problema quando entrei no processo de produzir alto volume de volumosos, 
porque tenho um confinamento que consome 40.000 t de silagem/ano. Imaginem isso, a pro-
dução de palhada necessária para silagem era 
muito alta, então o resíduo que ficava era muito 
pequeno; com isso, nesse processo, se tivesse 
desmanchado todos os meus terraços teria, com 
certeza, problema grave de erosão. 
Na figura a seguir, um milho recém-plan-
tado. A palhada de sorgo, uma palhada pouco 
desejável. Essa área, no verão, foi sorgo que foi 
cortado	 para	 a	 silagem,	 depois	 foi	 usada	 sua	
rebrota, não como valor comercial, para fazer 
palhada.
Usamos na fazenda o espaçamento de 
50 cm, cujos ganhos de produtividade são 
bem maiores do que os anteriores (80-75 cm). 
A	facilidade	de	implantar	a	cultura,	parecendo	
que há um incremento de produtividade que 
compensa	o	aumento	do	consumo	de	semente,	
porque hoje a semente no Brasil está em um 
preço exorbitante. 
Na figura a seguir, apresentamos uma 
área onde se tem, na cultura anterior, o milho 
de 50 cm com braquiária plantada em março/
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abril. No verão, essa soja está bonita, é precoce 
e nela foi usada apenas dessecação e um único 
pós-emergente para folha redonda, porque tí-
nhamos muito picão, reduzindo o consumo de 
herbicida. 
Essa é uma área recém-implantada, onde 
o plantio está começando agora. É pastagem, 
mas	pastagem	de	qualidade	e	não	degradada,	
era capim-mombaça. Foi plantado ano anterior 
um semidireto, e esse ano fizemos o cultivo de 
milheto antes das chuvas.
Esperei o milheto ficar num porte de 1 m 
mais ou menos, dessequei e plantei. Fica muita 
área exposta na linha porque utilizei o sistema 
de facão, que revolve muito o solo. Prefiro isso 
porque, às vezes, ao usar o disco duplo posso 
ter	problema	de	colocação	da	semente	ou	mes-
mo do fertilizante.
Esse é um projeto em desenvolvimento. É 
plantio direto de milho e soja em cima de pasto 
de	tifton,	por	ele	ser	perene	e	não	precisar	mais	
replantar,	 ou	 implantar	 qualquer	 cultura	 com	
palhada. É uma experiência que está sendo tes-
tada numa área de 2 ha.
Esse é o tifton antes da aplicação do 
Roundup. Por recomendação, usamos 5 L de 
Roundup por hectare. Aí, uma foto dele todo 
debilitado.
A expectativa é que esse tifton rebrote e 
vire, de novo, um pasto verdejante. Com cer-
teza, é mais uma alternativa de palhada e fica 
mais fácil fazer integração agricultura-pecuária, 
porque na hora se colhe, o pasto já está ali plan-
tado, quase no ponto de pastejo. Como o tifton 
tem	uma	produção	mais	linear	do	que	o	pani-
cum durante o ano, porque é uma planta que tolera dias curtos, um sistema radicular profundo 
agüenta mais o déficit hídrico, e nas regiões aqui de São Paulo, com problema de frio, ele é mais 
tolerante do que os outros capins. Acredito que seja uma grande alternativa. Mas, se alguém 
estiver questionando: o tifton custa caro para implantar. Na verdade, fica um mais caro do que 
a braquiária, mas se fizer só uma vez, fica mais barato. Hoje, pode ser plantado com máquina. 
Há empreiteiras em São Paulo que plantam, de maneira toda mecanizada.
A máquina mostrada a seguir é a que fez o plantio: John Deere. Ela tem um disco de corte 
de 18 polegadas mais um facão. Nesse plantio precisou de 25% a mais de potência para puxar 
a plantadeira, porque o sistema radicular e o rizoma são muito difíceis de romper.
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Na figura a seguir, mostramos o pasto de 
tifton usado na fazenda Santa Fé. Existem 12 
piquetes numa área de 21 hectares, o que dá 
mais ou menosum retorno a cada 20-22 dias. 
Estou colocando aí mais de 10 UA por hectare 
no verão, com um ganho até agora de 880 g por 
indivíduo por dia. Como a densidade de ani-
mais está em torno de 15, porque eles pesam 
mais ou menos 300 kg, mandei que a próxima 
rodada não se adubasse com nitrogênio para 
poder	não	aumentar	a	carga	animal,	pois	não	
quero mais indivíduos nesse lugar - acho que 
está muito alto.
Em minha apresentação tentei mostrar 
que a integração pecuária-agricultura, aliada ao 
plantio direto, essa facilidade que a braquiária 
tem para fazer palhada, o sorgo e, se der certo, 
o tifton também, acredito que o Estado de São 
Paulo vai ter uma contribuição muito grande, 
e entrará no SPD com bastante segurança e 
sucesso.
Discussão da mesa redonda
Antonio Luis Fancelli – ESALQ/USP
Alguns pontos que não ficaram muito claros quando levantei o aspecto de alelopatia. 
Evidentemente que definimos alelopatia quanto à espécie que está sendo considerada. No caso 
do sorgo, quando no sistema aplique e plante, teremos o efeito de alelopatia. 
Evidentemente, então, para evitar os problemas alelopáticos com o sorgo (não quis dizer que 
não é para utilizar sorgo em hipótese alguma), precisaríamos de determinado tempo para que esse 
sorgo fosse efetivamente controlado.
Hoje, há possibilidade de trabalhar com soja ou feijão em cima do sorgo, desde que tenha-
mos certeza de que o sorgo realmente foi controlado (está seco), aí não haveria problema nenhum 
porque, da mesma maneira em termos de nabo-forrageiro, se plantarmos o milho, imediatamente, 
após manejo do nabo-forrageiro, também identificaremos o efeito alelopático e, inclusive, com o 
arroxeamento de folhas, que alguns acham que é deficiência de fósforo, não é, é problema de efeito 
alelopático.
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Igualmente para o azevém - milho em cima de azevém, milho em cima de centeio, os mesmos 
problemas. Então é essa colocação: de que uma vez determinado o tempo de controle para a cultura 
antecedente não teria problema nenhum de alelopatia. 
Evidentemente, tudo que foi dito é objetivando uma cobertura econômica, só que temos que 
tomar cuidado, como avaliar o benefício dessa cobertura, porque hoje temos dados da Fazenda 
Alvorada na região de Uberlândia em que fizemos uma avaliação de custo de duas culturas subse-
qüentes à cultura do trigo, e o trigo teve um retorno econômico. Não o trigo em si, mas o sistema 
trigo-soja menor do que se tivéssemos feito uma cobertura, como foi feito numa área de aveia e outra 
de lablabe.
Assim, essa cobertura, não necessariamente vai dar um dinheiro da cobertura, mas propor-
cionar melhor desempenho da cultura seguinte, proporcionando conservação de solo, redução de 
adubação, de uso de herbicidas, do uso de inseticidas, e assim por diante.
Na Fazenda Colorado, em Araras, aplicamos, muitas vezes, em palhada de aveia ou em 
palhada de milheto. Quando se trabalha com uma densidade populacional relativamente gran-
de, no milho não usamos herbicidas de pós-emergência, é só dessecação e nada mais, não há 
razão para isso, então é um beneficio bastante interessante, e a outra coisa também é lembrar 
que hoje a maior parte das espécies que trabalhamos – milheto, aveia etc., o produtor pode fazer 
essa semente na fazenda, não precisa comprá-la.
Crotalaria juncea talvez tenha certa dificuldade, mas aveia, milheto e lablabe, é tranqüilo para 
fazer na fazenda. Evidentemente, os aspectos econômicos têm que estar atrelados, e é realmente 
aquilo que estamos discutindo e propondo.
José Eloir Denardin – Embrapa Trigo
Um aspecto muito importante é a multidisciplinaridade. O melhorista também conhecer 
do que estamos tratando, é fundamental, porque quando se olha uma soja cultivada no Brasil 
central, que acho seria viável em São Paulo em outubro/novembro, com ciclo até fevereiro, 
permitindo uma segunda safra, chamada safrinha de milho, pode-se dizer assim, mas por que 
eu consigo isso? É por causa do plantio direto? Que eu não tenho que preparar o solo entre a 
colheita da soja e o plantio do milho? Ou porque tenho espécies melhoradas para serem plan-
tadas nessas épocas? Na verdade, não sei se foi feito esse melhoramento orientado para isso ou 
foi uma casualidade. Na realidade, temos que, cada vez mais, levar esse tipo de conhecimento 
ao melhorista para criar plantas que possam cobrir o ano com maior facilidade.
Quanto mais multisazonal for uma planta, mais fácil a criação dos modelos de produção. 
Se não tivermos plantas adequadas, teremos grandes dificuldades para conduzir esses processos 
e, ainda, as próprias culturas de coberturas, além do aspecto econômico. 
As espécies de cobertura deveriam ser melhoradas principalmente em termos de ci-
clo. Quanto mais for esse ciclo, mais fácil conseguirmos encaixar nas janelas entressafras. 
Portanto, o melhorista precisaria saber desses problemas, essa interdiciplinaridade não está 
chegando até eles.
Um exemplo típico é a cevada no Brasil: hoje já está com 60 cm de altura; pergunto: 
Que produção de palha produz isso? Que produção de raiz? Há uma planta dessa para tentar 
melhorar uma estrutura de solo? Acho que o melhorista tem que saber que são as plantas que 
melhoram o solo, não são as máquinas, não é o homem, são as plantas que o melhoram, que 
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o estruturam. Na verdade, esses conhecimentos que estamos discutindo enquadram-se em, 
praticamente, quatro grandes disciplinas: Física, Química, Fitotecnia e Plantas daninhas.
Acredito que o melhorista/geneticista daria uma contribuição para entendermos bem o que 
estamos tratando, de forma significativa. É uma preocupação que devemos levar a eles.
Ciro Antonio Rosolem – UNESP/Botucatu
Vou comentar dois assuntos que já foram tratados e adicionar alguma coisa. O primeiro 
ponto é o seguinte: vamos pensar no ponto de definição de pesquisa. Temos um defeito muito 
grande no Brasil, que talvez não seja culpa nossa, mas o problema é que ele está aí - estamos 
correndo atrás de agricultor, e de repente estamos fazendo uma pesquisa hoje que o agricultor 
já fez lá atrás. Então, estamos mais preocupados em repetir e tentar demonstrar algo que já 
está demonstrado. Precisamos parar com isso. E nessa linha vêm essas palavras ditas aqui: 
bombeamento, alelopatia e uma série de coisas que são conceitos bem definidos, só que eu não 
vi medidas disso.
 Há publicações sérias falando que plantas bombeiam nutrientes. Meu Deus do céu, quan-
to há de nutriente até 1,5 m de profundidade? Dá para imaginar uma planta bombeando alguma 
coisa lá de baixo para trazer para cima, quer dizer existem algumas coisas que precisamos parar 
de pensar da maneira fácil e pensar como cientistas. Temos que saber o que está acontecendo, 
porque, a partir do momento que começamos a trabalhar com causas, com explicações, com 
fisiologia, com bioquímica, paramos de enxugar gelo. 
É importante não perder essas perspectivas, precisamos dar uma opção para o agricultor, 
sim, mas o conceito disso, a base disso para que não seja uma pesquisa extremamente efêmera, 
acho um ponto fundamental.
Entrando um pouco nessa história de questão econômica. Sou agricultor e minha família é 
de	agricultores,	mas	como	professor,	cientista,	não	estou	minimamente	preocupado	com	a	ques-
tão econômica. A função como professor, como cientista, é dar uma opção para o agricultor, 
quem vai resolver se é econômica para ele naquela condição, naquele ano, é ele.
Temos um Instituto de Economia Agrícola, pesquisadores, gente da administração agrí-
cola,	e	o	agricultor	que	tem	que	ser	o	administrador,	então	precisamos	parar	um	pouco	com	
essa história de que vamos resolver tudo. Mais ou menos complementa aquilo que o Denardin 
levantou, não adianta querer fazer tudo, tem que ter melhorista, pessoal de plantas daninhas etc. 
São idéias que estou dando. 
Especificamente, para fazer palha, acho que fazer palha já sabemos em São Paulo, fa-
zemos até bem, o ponto é o seguinte: acho que foi o Fancelli que levantou, precisamos dar o 
próximo passo. Ele falou de consórcio. Acho que

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