Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Workshop sobre o Sistema Plantio Direto no Estado de São Paulo Workshop Campinas, 13 e 14 de dezembro de 2005 W o rk sh o p s ob re o S is te m a Pl an tio D ire to n o Es ta do d e Sã o Pa ul o Governo do Estado de São Paulo Governador do Estado José Serra Secretário de Agricultura e Abastecimento João de Almeida Sampaio Filho Secretário-Adjunto Antonio Júlio Junqueira de Queiroz Coordenador da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios João Paulo Feijão Teixeira Diretor-Geral do Instituto Agronômico Orlando Melo de Castro Diretora do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Solos e Recursos Ambientais Sonia Carmela Falci Dechen Campinas, 27 de junho de 2007 Prezados Colegas: Pela segunda vez dirijo-me à classe dos engenheiros agrônomos e convido-os a refletir sobre o mesmo assunto: A Agricultura Conservacionista Baseada no Plantio Direto. Em abril de 1993, há quase 15 anos, lancei um apelo veemente a todos os meus colegas da pesquisa, da divulgação e do assessoramento rural, dizendo: “Estudem esse assunto sem preconceitos, com in- teresse e com senso de responsabilidade para o problema. Os solos se formaram ao longo de milhares de anos pelo acúmulo superficial de resíduos. Sua estrutura e vida biológica se baseiam na deposição do material orgânico, camada sobre camada, por tempos imemoriais. Não há o que temer em retornar às regras da natureza”. Em abril de 2001, organizamos a Fundação Agrisus-Agricultura Sustentável com a missão de “Estimular a capacitação e o aperfeiçoamento profissional, bem como incentivar a pesquisa agronômica e a exten- são rural, com a finalidade de gerar, desenvolver e difundir tecnologias destinadas a otimizar a fertilida- de da terra de forma sustentável e favorável ao meio ambiente”. Por ocasião do Dia do Agrônomo, em outubro de 2006, ao comemorar na ESALQ meus 70 anos de for- matura rememorei de improviso minha longa carreira, destacando fatos notórios por mim testemunha- dos, dentre eles “o advento dos herbicidas que permitiram a instalação do sistema do plantio direto que é a maior garantia até hoje inventada de manter a fertilidade do solo”. Estamos diante de fato recente, que é mais que uma tecnologia, pois se trata de um novo ambiente agrícola quando adotamos o sistema do “solo imperturbado recoberto de resíduos” sobre 22 milhões de hectares. Urge aceitar e acreditar nesse novo ambiente agrícola que representa, na realidade, uma involução tec- nológica ao retornar às condições primitivas quando a serapilheira recobria a superfície do solo. Agora, as operações mecanizadas não destroem mais a rede fasciculada de canalículos deixada tanto pelas raízes em cabeleira como pela variada fauna multiplicada em novo ambiente, mais propício por menores oscilações da temperatura e umidade. Não mais destruímos por gradagens sucessivas a estrutura granulosa do solo, dissociando grumos e liberando argilas que, ao migrarem para o subsolo, formam camadas adensadas impermeáveis, os incô- modos “pés de grade”. Grades e arados não misturam mais com a terra os adubos fosfatados, quimicamente imóveis no solo, deslocando-se apenas por efeitos biológicos ou quando arrastados pela água através das galerias dei- xadas pela bio-atividade. Formam-se sítios de alto P, assim alterando a dinâmica da assimilação pelas raízes, bem como atenuando o problema da fixação. CARTA ABERTA AOS AGRÔNOMOS Ao facilitar sua penetração, não se perde mais água por escorrimento, evitando-se a erosão com suas danosas conseqüências. Infiltrando-se, as águas alimentam os lençóis freáticos e, em seqüência, os aqüíferos mais profundos. Aumenta a vazão dos olhos d’água, crescem os estoques subterrâneos e evitam-se os assoreamentos dos mananciais, dos córregos e dos rios. A manta orgânica em decomposição renova continuamente o húmus e os ácidos húmicos que per- meiam pelos interstícios da porosidade, com seus efeitos benéficos sobre as propriedades físicas e químicas do solo. As culturas comerciais, desde o estágio de plântulas, não mais são submetidas ao estresse causado pelas altas temperaturas do solo e pelas oscilações extremas da umidade. Estamos frente a um novo e diverso ambiente agrícola com relação ao solo cultivado, o qual nem sem- pre vem sendo devidamente reconhecido. A tradição do preparo mecanizado da terra, com a percepção visual pictórica da terra lavrada colorida, ainda está gravada em nosso inconsciente. Cumpre ter a coragem de mudar os conceitos, de renovar o inconsciente, de reformular as apostilas, de ousar eliminar a imagem da aração anual da terra. Estamos em uma nova fase da agricultura tropical, em um país privilegiado onde não há preocupação com o aquecimento rápido de um solo ainda gelado pelo inverno. Estamos ainda aprendendo essa nova agricultura em ambiente de solo imperturbado recoberto de resí- duos. Há muito que pesquisar ainda para gerar tecnologias adequadas e para conhecer os fenômenos que regulam essas tecnologias. Vamos definir regras para renovar satisfatoriamente a manta em contínua decomposição. Vamos inves- tigar as condições ótimas para as bactérias e fungos fixadores de N ainda que não simbióticos. Vamos determinar as plantas de cobertura que melhor reestruturam o solo. Vamos pesquisar espécies, como as Brachiarias, que deprimem fungos e nematóides prejudiciais às lavouras. Vamos inventar nova amos- tragem de terra que identifique os sítios de alto P. Vamos difundir o novo ambiente de produção agrícola. Vamos praticar eficientemente uma agricultura tropical onde faz calor e chove, com estiagem para as colheitas. Vamos, enfim, tornar sustentável o mui- to que já se fez, como indicam os 130 milhões de toneladas de grãos estimados para este ano, ao lado de recordes da cana, dos citros, do café, das carnes, das demais frutas, das hortaliças e das flores. No dia do 6o aniversário da Agrisus, proclamo estes convites a meus colegas, que tanto têm feito pela nossa agropecuária, congratulando-me com todos. Grande abraço, Fernando Penteado Cardoso Engenheiro Agrônomo Sênior, ESALQ-USP,1936 Visão Fazer da Fundação uma entidade reconhecida por promover a melhoria e a conserva- ção da fertilidade da terra e das condições ambientais envolvidas, visando a produção agropecuária econômica e sustentável, de interesse, tanto dos produtores como da so- ciedade consumidora. Missão Estimular a capacitação e o aperfeiçoamento profissional, bem como incentivar a pes- quisa agronômica e a extensão rural, com a finalidade de gerar, desenvolver e difundir tecnologias destinadas a otimizar a fertilidade da terra de forma sustentável e favorável ao meio ambiente. Ficha Catalográfica W926 Workshop sobre o Sistema Plantio Direto no Estado de São Paulo (Campinas: 2005) Workshop sobre o sistema plantio direto no Estado de São Paulo. / (org) Sonia Carmela Falci Dechen. Piracicaba: Fundação Agrisus; FEALQ; Campinas: Instituto Agronômico, 2007. 206 p. ISSN: 0102-4477 1. Sistema plantio direto – São Paulo I. Dechen, Sonia Carmela Falci II. Título CDD. 631.51 Índice APRESENTAÇÃO 11 INTRODUÇÃO 15 Orlando Melo de Castro Fernando Penteado Cardoso MESA REDONDA I 17 Alternativas para a formação de palha Moderador Denizart Bolonhezi Apresentadores Ivo Mello Antonio Luiz Fancelli Debatedores Marcos Palhares Rudimar Molin Ricardo de Castro Merola MESA REDONDA II 51 Sanidade e plantas daninhas x palha Moderadora Elaine Bahia Wutke Apresentadores Álvaro Manoel Rodrigues de Almeida Jamil Constantin Debatedores Domênico Vitulo Ciro Antonio Rosolem João Kluthcouski MESA REDONDA III 95 Qualidade química do solo Moderador Bernardo van Raij Apresentadores Heitor Cantarella Carlos Alexandre Costa Crusciol Debatedores Eduardo FáveroCaires Júlio Cezar Franchini Leandro Zancanaro MESA REDONDA IV 133 Qualidade física do solo e mecanização para o sistema plantio direto Moderadora Isabella Clerici De Maria Apresentadores Ricardo Ralisch Afonso Peche Filho Debatedores Paulo Sérgio Graziano Magalhães José Eloir Denardin Orlando Pereira de Godoy Neto MESA REDONDA V 181 Rumos da pesquisa em sistema plantio direto Moderador Fernando Penteado Cardoso Participantes Denizart Bolonhezi Elaine Bahia Wutke Bernardo van Raij Isabella Clerici De Maria 11 APRESENTAÇÃO O Instituto Agronômico (IAC), em parceria com a Fundação Agrisus e a Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (Fealq), realizou o primeiro “Workshop sobre Sistema Plantio Direto no Estado de São Paulo” nos dias 13 e 14 dezembro de 2005 em Campinas (SP). O IAC possui um grupo de pesquisadores – os SPDiretos, com coordenação de Isabella Clerici De Maria – que, por meio de reuniões mensais com pesquisadores dos Pólos da APTA, tem procurado definir linhas de atuação de suas pesquisas nessa área. A Fundação Agrisus tem como missão estimular a capacitação e o aperfeiçoamento pro- fissional, bem como incentivar a pesquisa agronômica e a extensão rural com a finalidade de gerar, desenvolver e difundir tecnologias destinadas a otimizar a fertilidade da terra de forma sustentável e favorável ao ambiente. Convergindo os interesses da Agrisus e do IAC foi elaborado este workshop com o objetivo de diagnosticar os obstáculos à plena implantação do sistema plantio direto e definir prioridades de pesquisa no Estado de São Paulo, visando, dessa forma, a consolidar o sistema na agricultura paulista. A organização do workshop procurou agregar representantes do agronegócio com reco- nhecida experiência no assunto. Por isso foi um evento fechado e restrito a convidados: produ- tores rurais, profissionais da área, professores e pesquisadores. O evento contou com cinco mesas-redondas com apresentações na forma de palestras e debates que abordaram os problemas enfrentados pelos agricultores na implantação e consoli- dação do sistema plantio direto no Estado de São Paulo. Após cada abordagem os temas foram debatidos por todos os convidados participantes. O evento foi gravado, transcrito e esta publicação é o resultado dos debates, que agora está à disposição dos interessados tanto neste formato (impresso) como nos sítios na Web da Fundação Agrisus (www.agrisus.org.br) e do Instituto Agronômico (www.iac.sp.gov.br) Nas próximas páginas você tem o conteúdo do workshop reproduzido integralmente, se- gundo as mesas redondas do evento. Por problemas com a gravação, algumas palestras foram inseridas como artigos. 12 Revisão do texto Celso V. Pommer, Universidade Estadual do Norte Fluminense/LMGV/CCTA Professor Titular Visitante Sonia Carmela Falci Dechen – IAC Comissão Organizadora Cristiano Alberto de Andrade Estêvão Vicari Mellis Fernando César Bachiega Zambrosi Fernando Penteado Cardoso Isabella Clerici De Maria Ondino Cleante Bataglia Sandro Roberto Brancalião Sonia Carmela Falci Dechen (coordenadora). Realização • Instituto Agronômico Avenida Barão de Itapura, 1.481 – CEP 13020-902 – Campinas (SP) Fone/Fax: (19) 3241-5188 Ramal 302 – www.iac.sp.gov.br Diretor-Geral: Orlando Melo de Castro Diretor do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Solos e Recursos Ambientais: Sidney Rosa Vieira Promoção • Fundação Agrisus – Agricultura Sustentável Rua da Consolação, 3.367 cj. 72 – CEP 01416-001 – São Paulo (SP) Fone: (11) 3064-8776 – Fax (11) 3064.7927 – www.agrisus.org.br Diretor-Presidente: Fernando Penteado Cardoso Diretores: Fernando Penteado Cardoso Filho José Roberto Pinheiro Franco Antonio Roque Dechen Secretário-Executivo: Ondino Cleante Bataglia • Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz – Fealq Avenida Centenário, 1.080 – CEP 13416-000 – Piracicaba (SP) Fone (19) 3417-6615 – Fax (19) 3434.7217 – www.fealq.org.br Diretor-Presidente: Antonio Roque Dechen 15 INTRODUÇÃO Orlando Melo de Castro Diretor-Geral do Instituto Agronômico – IAC A promoção de um workshop é algo extremamente positivo na exposição de resultados e na geração de propostas sobre o tema. Acima de tudo, é uma ótima oportunidade para es- tarmos juntos e podermos nos comunicar dessa forma tão direta. Por mais que a Internet tenha facilitado a comunicação, o contato pessoal é insubstituível. Felizmente, o assunto objeto do evento encontrou o apoio da Fundação Agrisus que nos proporciona esta oportunidade, à qual o IAC, por meio de seu Centro de Solos, se junta com o entusiasmo de seus técnicos. Muito obri- gado pela presença! O momento não poderia ser mais oportuno: o IAC e toda a Apta acabam de receber novos pesquisadores e os dirigentes preocupam-se com mudanças na programação de pesquisas e de ações. É um time que se espalha agora por todo o Estado e é muito bom fazer propostas de trabalho na área de manejo e conservação do solo envolvendo as culturas anuais, a integração lavoura-pecuária, o complexo da produção de cana-de-açúcar, como, por exemplo, tem feito o Denizart Bolonhezi. Dessa forma, tenho a certeza de que podemos fazer com que o imenso canavial que cobre o Estado de São Paulo seja o mais sustentável possível em termos de atividade agrícola, já que a demanda pelos produtos originados a partir da cana, em especial o etanol, é crescente em termos do Brasil e do mundo. Muito obrigado a vocês, tenho a certeza de que serão dois dias muito proveitosos e passo a palavra para o Dr. Cardoso. 16 Fernando Penteado Cardoso Diretor-Presidente da Fundação Agrisus A Fundação Agrisus dedica-se à agricultura sustentável, naquilo que diz respeito ao solo, apesar de o conceito de sustentabilidade ser muito mais amplo do que apenas o solo. Ela nasceu por uma iniciativa de minha família, que vendeu as ações da Manah e destinou parte dos fundos em benefício da agricultura, por esta ter-lhe proporcio- nado todo o sucesso da empresa. Este workshop visa a tentar enxergar o que já sabemos, e o que falta saber, principalmente nas condições paulistas, – um pouco mais difícil do que outras regiões porque as terras cansadas, com um banco de sementes de ervas daninhas, apresentam problemas diferentes de um cerrado, que tem todas as propriedades físicas intocadas e não está praguejado. Em São Paulo, as propriedades físicas estão, até certo ponto, deterioradas e o banco de ervas daninhas tem mais de cem anos de formação e de acúmulo. Para sustentabilidade, não conhecemos nada melhor do que o sistema plantio direto (SPD): não só nas situações difíceis é um desafio, embora concentrado em São Paulo e em todo País onde existem questões semelhantes. O grande objetivo, portanto, é traçar planos futuros da pesquisa e, para o nosso caso, o financiamento de projetos. Aproveito a oportunidade para anunciar que um dos nossos projetos mais recentes foi editar a tradução de um folheto publicado nos EUA sobre o IRI (International Research Institute), que em seu tempo no Brasil era financiado pela Fundação Rockefeller (pelos irmãos Rockefeller). Hoje, é uma instituição particular que continua fazendo estudos nos EUA. Esses americanos estiveram no País de 1954 até a década de 70 e deixaram relevantes serviços que, muitas vezes, passam despercebidos porque nem sempre pesquisamos a história. Esse folheto retrata a trajetória, principalmente, em relação à recuperação da fertilidade dos solos cansados e esgotados e, paralelamente, a recuperação dos solos originalmente pobres – os dos cerrados. Trouxe dois volumes para a biblioteca do IAC que, logo, estarão disponíveis no site. O folheto demonstra que as pesquisas iniciais, na década de 50, faziam-se em colaboração íntima com o IAC e em conexão com a ESALQ. Aproveito a oportunidade, também, para presentear a biblioteca do IAC, por meio de seu Diretor, de um relatório precioso, porque há poucas cópias no Brasil, sobre o estudo do solo na região de Brasília (solosdo cerrado), encomendado pelo colega Bernardo Saião, amigo do Presidente Juscelino Kubitschek, que estava interessado em conhecer o potencial daquele solo para produzir alimentos para a futura capital do Brasil. É um estudo feito por um estudante de Cornell, que estava lá a fim de fazer uma tese de doutoramento. Ele foi convidado para efetuar seus estudos no Brasil com a validade de trabalho de pesquisa para o doutoramento. Obtive na biblioteca de Cornell e quero presentear o IAC com um exemplar que reproduzimos aqui no Brasil. Mantemos muitas esperanças de que este workshop possa fazer uma revisão do que sa- bemos e traçar caminhos para o futuro; não temos assistência de agricultores, não temos ne- nhuma objetividade de extensão rural, queremos conhecer o estado-da-arte. Os pontos ainda indefinidos, as pesquisas importantes para definir essa tecnologia, concentrando a atenção nas situações mais difíceis – os solos cansados, que foram terras boas, de mata alta, férteis para café – que, após 100-120 anos mudaram completamente e apresentam seus problemas típicos. Desejo a todos um trabalho produtivo. 17 Mesa Redonda I Alternativas para a formação de palha Moderador Denizart Bolonhezi Pólo Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do Centro-Leste, Ribeirão Preto (SP) Apresentadores Ivo Mello Presidente da Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha (FEBRAPDP) Antonio Luiz Fancelli Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz – ESALQ (USP) Debatedores Marcos Palhares Monsanto Rudimar Molin Fundação ABC Ricardo de Castro Merola Fazenda Santa Fé 18 APRESENTAÇÃO 1: Ivo Mello - Presidente da FEBRAPDP Como presidente da Federação, acionei algumas de nossas parcerias: Leonardo Coda, de São Paulo, nosso conselheiro, que é da CATI, Rui Vaz, e a Associação de Plantio Irrigado na Palha (APIP), além de informações do companheiro John Landers. Segundo ele, o Estado de São Paulo tem certas coisas de cerrado. De alguma forma, colocaremos algumas provocações no sentido de desenvolver o Sistema Plantio Direto (SPD), de difundi-lo mais em São Paulo, que não teve a mesma evolução, nos últimos anos, da região Sul. Talvez tenha uma concepção muito diferente do que foi ou simplesmente olhar para evitar erosão, fazer conservação de solo, como foi no Rio Grande do Sul, onde a erosão foi sempre muito grande. Na média, na década de 70, um agricultor gaúcho gastava 10 toneladas por hectare de solo para produzir uma tonelada de alimento, e isso foi reduzido com associação do plantio direto, e com outras técnicas conserva- cionistas. Isso já mudou bastante, mas a realidade é que chegamos, na safra de 2004/05, com aproximadamente 22 milhões de hectares no SPD no cultivo de grãos, apesar de tais valores não serem muito exatos, em virtude da dificuldade de obtenção de informações. A curva de ascensão de SPD foi na safra de 85/86 e, de lá para cá, com a crise dos planos econômicos e endividamento do setor agrícola, de certa forma, o SPD foi a melhor alternativa para o empresário rural no aspecto econômico. A partir da década de 90, a ascensão do SPD coincide com aumento da produtividade, com sua grande participação, aliado às outras tecno- logias. É missão da Federação: promover a rentabilidade sustentável do agricultor brasileiro por meio do SPD na palha. Nossos amigos argentinos e uruguaios não entendiam o porquê de se falar tanto em palha. A missão da CAPAS (Confederação Americana de Associações para uma Agricultura Sustentável), da qual fazemos parte junto com nossas co-irmãs argentinas, paraguaias e canadenses, é fortalecer organizações que promovam a agricultura sustentável – baseada na preservação da palha como componente-chave para a produção de alimento e conservação do solo e do meio ambiente e exatamente porque sem palha não há plantio direto. Quais são os desafios do Estado de São Paulo para produzir palha? Só como ilustração, apresento esse slide do companheiro Rolf Rerpsch, em que coloca várias formas de se chamar o plantio direto no mundo. A FAO, em todas as suas publicações so- bre agricultura conservacionista, preconiza que o não revolvimento do solo e a manutenção dos resíduos de colheita sobre a sua superfície é a melhor forma de fazer agricultura conservacio- nista. Para quem não sabe disso, o caderno, que instrumentalizou a discussão em Johanesburgo no encontro global de desenvolvimento sus- tentável em 2002, elaborado pela FAO, trazia exemplos de estratégia de ocupação de solos agrícolas de forma sustentável – há menção da experiência da Epagri (SC), com as pequenas propriedades familiares, muitas vezes com tração animal. Também há menção de agricultura em maior escala, citando o Paraná e o Rio Grande do Sul como exemplos vencedores de agricultura sustentável, os quais serviram de modelo de estratégia para essa agricultura. 19 A palha é o alimento do solo, é a base de uma cadeia trófica, que daí para a frente desen- volve vários benefícios, porém será sempre assim? Vamos colocar alguns pontos para refletir a respeito do desenvolvimento do SPD no Estado de São Paulo e o desafio de fazer palhada. No Rio Grande do Sul, onde atuamos, em uma área que tem SPD em arroz irrigado desde 1983, foram desenvolvidas estratégias com bastante sucesso. Todavia, nos últimos anos, constatamos que, quanto menos distúrbio de solo (preparo) e quanto mais palha é deixada sobre a superfície, há o favorecimento de uma espécie de nematóide que ataca a raiz do arroz, levando à queda de produção. Nem sempre, portanto, a palha é um bom negócio. A questão de integração da lavoura com a pecuária: o ruminante é um consumidor de palha, competindo com o SPD, sendo assim o grande desafio: até que ponto a integração é possível, uma vez que, no Sul, a cobertura de inverno é aquela que forma a palhada para a cultura de verão? Alfonso, presidente da ASPIPP, trouxe-nos essas idéias: culturas que trazem retorno econô- mico num ciclo mais curto, ideal até 100 dias, que possam ser colocadas no inverno. Culturas que descompactam o solo, como o nabo-forra- geiro, mas está deixando alguns problemas, es- timulando o aparecimento de mofo-branco nas culturas que vêm em seguida, e também não é uma cultura econômica. Para produção exclusiva de palha, há op- ções de plantas para formação da palha até 60 dias, mas a aveia é muito lenta para tal e, com 50 dias, ainda não está pronta. É preciso estu- dar culturas com efeito alelopático em relação a doenças causadas por fungos de solo como Rizoctonia e Fusarium. Leonardo Coda e Ruiz Vaz sugerem a va- lidação do manejo de palhada desenvolvida por outros centros de excelência (Embrapa Trigo e UFSM) para validação em São Paulo, lembran- do que a compactação é um grande problema e a questão do terraceamento, além do manejo integrado de pragas. Para cumprimento da legislação ambien- tal, o código florestal prevê área de preservação permanente e a separação de uma reserva legal. Então, seria interessante que, no planejamento da propriedade, fosse contemplada a forma de adequar a legislação aqui no Estado de São Paulo. O cultivo da cana-de-açúcar, economica- mente muito importante, vem transformando muitas áreas do Estado de São Paulo em um 20 imenso canavial. A cultura, é hoje, como em outras épocas, a bola-da-vez, em vista das crises energéticas que vêm por aí. Os pecuaristas do Sul estão contentes: dizem que São Paulo não terá mais pecuária de corte, virando tudo um canavial, melhorando para eles, porque lá não dá para plantar cana-de-açúcar nos campos. Alguns comentários em relação ao que o Dr. Fernando (Agrisus) está colocando. Nossa idéia é fazer um levantamento do estado-da-arte, o que temos hoje, e direcionar para onde queremos investigar, onde desenvolveremos tecnologia e onde trabalharemos as melhores es- tratégias de desenvolvimento daqui para a frente. Trouxe algumas idéias exatamente acerca dessa perspectiva: formação de palhada. Em relação aos desafiospara o agronegócio mundial, o agronegócio brasileiro é importantíssimo. Precisamos, portanto, considerar essa conjuntura macroeconômica que nos tem influenciado, pen- sando, por exemplo, se vamos dedicar uma linha de pesquisa para desenvolver uma palhada em relação a qual preço de soja? Vamos dizer assim: há dois anos com a soja no Rio Grande do Sul a 60 reais a saca, favorecida por causa de uma conjuntura de dólar a quatro reais, e a soja alta em Chicago, simplesmente o agricultor jogou fora a rotação de culturas, e os agricultores no Rio Grande do Sul esqueceram o que era rotação de culturas porque, por menos que produzissem a soja, teriam resultado econômico. Hoje, na última safra, todos sabem da seca que assolou a lavoura de soja no RS; os poucos produtores que ainda tiveram resultados econômicos na sua lavoura foram aqueles que não abandonaram a rotação com milho, isso porque exatamente, a es- truturação do solo e todos aqueles conceitos de SPD básicos, que os pesquisadores publicaram e já tiveram várias instruções a respeito foram seguidas. Mas o produtor abandona a rotação, em vista da conjuntura macroeconômica, por isso ela acaba sendo mais importante do que um postulado científico aceito por toda a comunidade do agronegócio em determinadas regiões. Pelo que sabemos, hoje, o Ministério da Agricultura, Abastecimento e Pecuária está queren- do transformar o Consagro – Conselho Nacional do Agronegócio, e ter uma agência reguladora do agronegócio, como existe a Agência Nacional de Água, a de Energia Elétrica, pensando em constituir uma Agência Nacional do Agronegócio com a idéia de fazer a regulamentação do se- tor. Entendemos que isso é para ter uma política na qual realmente possamos confiar e entender e que tenha cenário de produção, com 5, com 10, com 20 anos, para que possamos programar não só o empresário; o agricultor possa programar sua produção, mas, principalmente, o setor de investigação, de geração de tecnologia possa trabalhar com cenários que serão aplicáveis no futuro. Aí entra a palavra sustentabilidade. O Dr. Fernando colocou muito bem; a Fundação Agrisus preocupa-se com a sustentabilidade do solo, e sustentabilidade é um conceito muito maior – é um sistema de produção e uma provocação que temos levado em alguns fóruns de discussão. Se a humanidade resolver fazer sustentabilidade, se realmente todos que são signatários das agendas 21 de acordos mundiais de mudanças climáticas, de desertificação, de biodiversidade, e assim por diante, se resolvermos exercer o que está previsto no conceito de sustentabilidade, simplesmente não precisamos mais produzir a quantidade de alimentos que produzimos hoje, simplesmente trocando a matriz produtiva. Por exemplo, se europeus, japoneses e americanos resolvessem, de um dia para o outro, trocar uma parte da sua dieta alimentar, que é proteína animal, e proteína animal significa farelo de soja, de milho ou de outros grãos transformados em ovos, leite, carne, se trocassem isso de 70 para 30%, o que seria, inclusive, muito mais saudável para eles, consumir menos proteína animal desse tipo e transformar em soja, milho e 21 outros grãos em proteína animal, simplesmente a sobra de alimento daria para alimentar uma quantidade enorme de outras pessoas que não têm acesso a alimentos. Sabemos que tudo isso é problema de distribuição de alimentos, mas vamos levar em conta que a humanidade tenda a ir para esse lado, a realidade é que não precisamos ter níveis de produção tão altos por hectare como temos preconizado nos últimos anos para desenvol- ver o máximo de eficiência econômica e quase sempre procurando produzir o máximo de to- neladas por hectares e assim por diante. É uma reflexão. Dr. Otto Solbrig, biólogo argentino e catedrático da Universidade de Harvard, disse: “A humanidade é hipócrita e não vai cumprir o que está previsto no postulado de sustentabilidade.” Portanto, partindo desse ponto, será que temos, por meio de nossas instituições, condições de fazer com que o Governo brasileiro e os dos blocos econômicos e mundiais se preocupem, em pelo menos, nos dar caminhos onde que- remos chegar daqui a 5, 10 anos, se não iremos ficar fazendo coisas que, daqui a pouco, no meio do caminho não servem, não têm aplicabilidade no campo. Junto com isso, há toda a celeuma de cumprir a legislação ambiental e de recursos hídricos, o que é um desafio muito forte. É uma grande preocupação para o empreendedor, sem dúvida, mas, ao mesmo tempo, para o brasileiro que faz plantio direto, que faz com qualidade é uma coisa muito interessante, porque pode transformar isso em marketing, em propaganda do produto, pois na realidade o brasileiro está fazendo 22 milhões de hectares de plantio direto, e o faz com qualidade, podemos agregar valor porque estamos fazendo serviço para a sociedade como um todo. Um último lembrete: constatamos hoje, na Europa, que os subsídios estão se transfor- mando em ajudas agroambientais: um produtor de qualquer país da comunidade européia que deixar no mínimo 70% da cultura anterior sobre o solo, e dizer que faz plantio direto, tem 80 euros por hectare, simplesmente por fazer isso. No Brasil, o produtor, para ter 80 euros por hectare de lucro precisa fazer uma senhora de uma ginástica. Temos uma parceria com a Itaipu (certificação da qualidade ambiental da produção de commodities em SPD na palha), apresentamos esse trabalho no Congresso de Rosário na Argentina, o qual é exatamente sobre a qualidade do plantio direto. O fato é que se tem abandonado a rotação, e não se tem feito muita palha, a palhada não tem tido qualidade, além da falta de opções para fazê-la. A Itaipu, desde 1997, investindo em difusão de tecnologia em SPD, concluiu que o ganho com sua adoção na bacia de contribuição ao reservatório não foi o esperado; na realidade, o pessoal estava plantando soja em cima de soja, sem muita palhada, não tendo, assim, as virtudes do SPD. Concluindo, gostaria de lembrar uma iniciativa dentro dessas perspectivas: se temos a melhor ferramenta de desenvolvimento sustentável de ocupação de recursos naturais (solos), que é reconhecida pela FAO, temos que fazer propaganda, divulgar e valorizar, isso é uma ação que fizemos com a Fundação Agrisus. 22 Estamos considerando marketing do nosso SPD, com ajuda do amigo Bernardo van Raij, um texto preparado sobre SPD e sustentabilidade, onde resgata o que é sustentabilidade e coloca, inclusive, um relatório dos primeiros documentos dizendo o seu significado. Denizart Bolonhezi - APTA/Ribeirão Preto A sustentabilidade é um tema que, na verdade, envolve todos os outros, e é extremamente fitotécnico porque, para produzir palha, é preciso entender de muitas coisas, talvez seja o tema mais complexo de todos. Para São Paulo, fica muito complicado, na sua região oeste, conseguir viabilizar. Será que no plantio direto conseguiremos aqui, em São Paulo, aquele visual que te- mos do sul do Brasil? Será que teremos um SPD com visual de acúmulo de palha? Visitei Guaíra e observei áreas em que se fazia SPD há algum tempo, passando grande dificuldades porque, às vezes, o próprio extensionista diz que o produtor não faz plantio direto porque não tem visual. Mas, será que os benefícios estão só no visual? Por isso tem que passar a grade? APRESENTAÇÃO 2: Antonio Luiz Fancelli – ESALQ/USP A agricultura brasileira depende de um sistema mais sustentável e em função do que vem por aí em termos de conjuntura econômica, de problemas sociais e econômicos que estão se aventando, o SPD é extremamente importante e precisamos contribuir para sua viabilização da melhor maneira possível. Já temos, hoje, tecnologia adequada para fazer o SPD. Até pouco tempo eram discutidos problemas de máquina, de cobertura, e assim por diante. É hora de ir além e discutir um pouco mais os problemas emergenciais que estariam relacionados a esse sistema. Especificamente para o Estado de São Paulo, na minha opinião, os principais entraves do SPD estão relacionadoscom o seguinte: a) temos agricultores tradicionalistas que se acostumaram a fazer agricultura de maneira mais ou menos tradicional, sendo extremamente refratários a qualquer tipo de mudança e, principalmente, porque, segundo o censo recente realizado no Estado, a média de idade dos agricultores paulistas é relativamente elevada, o que dificulta qualquer tipo de iniciativa de mu- dança; b) outra coisa notória é o abandono da extensão rural por parte do Estado; infelizmente, isso interfere negativamente em algo extremamente importante. Além disso, há um despreparo dos agentes de transformação, principalmente depois da adoção do sistema de municipalização. Acredito que estejamos usando ação e métodos ultrapassados de difusão de tecnologia. Ainda continuamos com modelos equivocados de SPD, inclusive forço aí um adendo de que ficamos muito usando o espelho “Paraná”, que não tem muito a ver com a nossa realidade. Assim, temos que tomar cuidado ao trazer modelos preestabelecidos para as nossas condições. Temos condição suficiente para definirmos sistemas de produção para nossa situação. Também existe, hoje, uma tendência de agricultura, com padronização de tecnologia. São os famosos pacotes tecnológicos, que realmente vão totalmente contra os princípios agronômicos em termos de coisa fechada. São as famosas receitas de bolo que não contemplam as nuanças do sistema de produção das diferentes condições edafoclimáticas do Estado de São Paulo. 23 A realização de pesquisa desconectada da realidade atual, a ausência de fórum específico de discussão de problemas emergenciais, pelo menos até hoje. Agora e aqui, podemos dizer que temos um fórum específico extremamente importante. São esses tópicos que, acredito, sejam de extrema importância. Gostaria de deixar claro que o SPD depende da reposição de resíduos, de palhada, então precisamos tomar um pouco de cuidado quando fazemos um sistema de rotação de culturas só extrativas, trabalhando apenas com seus resíduos, o que muitas vezes não é suficiente. Se fizermos o balanço de energia e de nutrientes em uma lavoura de soja e feijão altamente produtivas, a contribuição desses resíduos realmente deixa a desejar. Portanto, de tempos em tempos, precisaríamos fazer uma cultura só para a necessidade de reposição de palha e fazer aí “o descanso do sistema”. As épocas de produção para resíduos vegetais para São Paulo, no outono/inverno, que seria o mais comum, seria a implantação de uma cultura em pós-colheita de culturas comerciais. Muitas vezes, em função do início das chuvas, isso pode ser prejudicado porque a colheita ocor- re em abril, e aí podemos ter dificuldade com a implantação de algumas espécies. Também existiria outra possibilidade, que seria na primavera - imediatamente antes da implantação de culturas comerciais, no início das águas. Poderíamos utilizar espécies altamente agressivas, de desenvolvimento rápido, por exemplo, o milheto, que, em 30-40 dias de desen- volvimento, já teria, em função de manejo da quantidade de semente utilizada, uma quantidade de palha suficiente para justificar sua adoção. Também poderíamos trabalhar em termos de verão com espécies exclusivas para a recu- peração de área; numa área que esteja extremamente degradada poder-se-ia utilizar, na época de verão (outubro) para fazer uma cobertura e, posteriormente, entrar com milho safrinha, ou feijão já a partir de janeiro, então teria um período para fazer a palha, pelo menos para iniciar o processo de sustentabilidade do sistema. Há também a possibilidade de usar o verão para fazer consórcio de determinadas espécies com culturas comerciais, como o sistema Santa Fé já consagrado por João Kluthclouski, pelo Merola, que seria uma alternativa para trabalhar nessa situação. Existem outros sistemas com relação a guandu-anão com milho, feijão-de-porco com mi- lho, inclusive possibilitando colheita mecânica, sem problema nenhum. Muito bem, as espécies consagradas para essa finalidade, citando-as rapidamente, e recordando seus problemas: a aveia preta seria uma alternativa, é uma espécie que se desenvolve bem em regiões mais baixas. Seu problema é que pode favorecer bastante a podridão de colmos de milho, então essa não seria uma espécie indicada para plantio de milho de maneira sistemática. O trabalho do Professor Melo Reis mostra que aumentam extremamente as podridões radiculares quando se planta milho ou outro tipo de gramínea em cima de aveia. Seu uso contínuo também pode favorecer o aumento da lagarta-rosca, um problema bastante sério em vários sistemas. Então, pode-se mencionar o caso da aveia plantada a lanço na fazenda Colorado (SP), que utiliza bastante esse sistema: aveia vem depois de roçada; sua primeira utilização será para a produção de feno e a rebrota será utilizada como palha em SPD. 24 Outra alternativa seria a aveia-branca, que produz muito mais massa do que a aveia-preta, mas temos problemas com ela aqui em São Paulo em função de variedades. Hoje, o IAC já tem variedades bastante interessantes, possibilitando a produção de grãos, ou somente para fazer massa em determinadas situações. O problema do aumento da infestação de lagarta-rosca em função de emprego de aveia pode ser minimizado consorciando com Níger. Em lavouras de aveia-preta, o problema praticamente foi debelado: fazendo Níger (10 a 12%) em cima da aveia, o problema foi praticamente resolvido. Outra opção seria centeio, para as regiões mais frias, região sul paulista. Em uma área da fazenda Cerrado de Cima, localizada em Itapeva, o centeio é muito melhor do que a aveia em termos de construção de perfil de solo, de melhoria de vida de solo em relação ao bombeamento de nutrientes e quantidade de raízes produzidas. O problema é que ele exige temperaturas mais baixas, porém tem efeito alelopático para uma série de culturas, principalmente trigo, e tem uma ressemeadura, uma capacidade de re- brota bastante acentuada em regiões frias; o que pode ser um problema, além de ter um manejo relativamente difícil, haja visto os problemas no Rio Grande do Sul em relação a manejo. Em São Paulo, o problema não é tão grave; também na fazenda Cerrado de Cima, a primeira rodada do centeio é para fazer feno para gado de leite, esse feno é então roçado, sendo deixado numa forma de pré-secagem, depois recolhido e transformado em alimentos. Esse centeio apresenta uma capacidade de rebrota extremamente grande, depois funcio- nando como cobertura morta para a soja mas, evidentemente, estamos tirando massa. Então, temos que trabalhar depois com balanço de nutrientes no sistema porque as culturas seguintes podem ser comprometidas. Outra espécie que está sendo muito utilizada no Estado de São Paulo é o nabo-forrageiro, pela sua capacidade de descompactar o solo, sobretudo a variedade Iapar PJ 4, que é um nabo- forrageiro pivotante, cujo sistema radicular é extremamente avantajado. O problema do nabo-forrageiro é que tem uma relação C/N relativamente baixa; então, se for mal planejado dentro do sistema de produção e se for destruído muito tempo antes do plantio da cultura seguinte, pode-se perder em função dessa relação C/N bastante baixa. É um reciclador espetacular de nitrogênio, pois há trabalhos da Embrapa mostrando que muitas vezes pode ter mais nitrogênio do que as leguminosas em função da capacidade que tem de concentrar nitrato. Mas seu problema é o seguinte: pode favorecer tremendamente o aumento de percevejos, sobretudo o barriga-verde, que hoje é um dos principais problemas para milho em todo o Brasil, principalmente em São Paulo, onde muita gente não sabe que está tendo problema com essa praga, uma espécie secundária para soja, que se transformou em praga primária no milho. O nabo-forrageiro também é um hospedeiro extremamente favorável ao nematóide do gênero Meloydogine. O principal problema, porém, é que ele é o principal hospedeiro de mofo- branco. Sempre nos lembramos de mofo-branco em feijão, mas esse ano (2004/2005) tivemos problemabastante sério com a soja. Na região de Jataí/Rio Verde, perderam-se aproximada- mente, seis mil hectares de soja por causa do mofo-branco. O girassol também é um hospedeiro espetacular de mofo-branco e o multiplica tremendamente. Outra espécie com que tenho trabalhado mais, pela sua rusticidade e multiplicidade de uso, é o Dolichos lablabe, uma espécie antiga, mas extremamente interessante, cujas desvantagens são: é suscetível à vaquinha e é hospedeira de nematóide de galha. Mas era uma planta bas- 25 tante utilizada em citros e deixou de ser utilizada por essa informação de que permitia aumento grande na população de nematóide. Tudo bem, pode multiplicar nematóide porque é excelente hospedeira, mas se não há nematóide na área, não há o porquê de não utilizá-la. Na fazenda Colorado, utilizamos o labe-labe e trabalhamos com um sistema chamado de perenização de cobertura verde, para plantar uma vez só. É o terceiro ano em que a utilizamos e plantamos uma vez só. Outra espécie interessante seria o milheto, de grande capacidade de produção de massa, mas rebrota extremamente fácil, então precisa da utilização de herbicida, não dá para manejar com roçadeira ou coisa desse tipo. Ele responde ao fotoperíodo e, assim, conforme a época do ano e região, é preciso utilizar material menos sensível, do contrário o potencial de produção cai significativamente, podendo também aumentar a ocorrência de lagartas de solo. Outro problema sério para o milheto é sua baixa persistência de resíduo, desaparecendo com muita facilidade, exigindo algo com relação C/N pouco melhor. Hoje, temos cultivares de milheto no Brasil que já produzem até três mil quilogramas de grãos por hectare, e estão sendo estudados para alimentação animal. Guandu é uma espécie bastante interessante; tem-se que tomar cuidado porque, em regi- ões em que deixamos o guandu por si só, é preciso fazer destoca, porque acaba engrossando o colmo. Fizemos um sistema interessante nos tempos de projeto Rondon, quando fui coordena- dor, em 1982-86. Depois o Presidente Sarney acabou com o projeto. Fazíamos a utilização do guandu para reduzir o problema de agricultura itinerante no Pará, em Marabá, porque o agricultor usava três anos um lugar, esgotava o solo e, depois de certo tempo, a sua casa estava a uns 10 km de onde fazia agricultura. Desenvolvemos um sistema para trabalhar com guandu e recompor a fertilidade do solo, porque tem uma capacidade muito grande de reciclagem de nutrientes e de renovação de folhas e, a partir de três anos, voltava-se ao mesmo lugar, com a mesma produtividade que, muitas vezes, o agricultor iria encontrar em locais bastante distantes. O problema é que ele tem um de- senvolvimento inicial muito lento para as nossas condições e permite o aumento da população de nematóide em algodão. Crotalaria juncea: uma alternativa interessante. A dificuldade dela é que não suporta ge- ada e chuva de vento, tem um caule semilenhoso dificultando o manejo, arrebenta roçadeira porque é uma fibrosa, fazendo com que saia aquela fita que enrola nos mancais da roçadeira. Ela tem uma resposta marcante ao fotoperíodo, mas um dos problemas mais sérios seria o custo da semente. Hoje, é cada vez mais caro e difícil fazer semente de crotalária, porque ela depende da mamangava para polinização, e hoje estamos tendo dificuldade para termos matas fechadas onde se procria a mamangava. A Companhia Piraí, que fazia sementes de crotalária, em Piracicaba, só consegue fazê-las para frente de Andradina, o que deixa cada vez mais cara a semente. A Crotalaria breviflora é possibilidade bastante atrativa: tem uma dificuldade para produzir sementes, mas tem um período de florescimento bastante longo e floresce cedo, como o próprio nome está dizendo. Essa espécie está sendo muito utilizada para cobertura em citros, fazendo um manejo com uma entrelinha com mato, outra com breviflora e a outra com guandu, permi- tindo que se tenha flor na lavoura por muito tempo, favorecendo o desenvolvimento dos estágios iniciais de inimigos naturais, que depois vão controlar ácaro, pulgão etc. 26 Outra coisa importante seria a braquiária, uma espécie espetacular, com grande capaci- dade de reciclagem. Recorde-se o caso do sistema Santa Fé depois da colheita do milho, com o que sobrou de braquiária, que se destaca como uma cobertura espetacular para o plantio do feijão. Esta aí uma contribuição muito grande do João Kluthclouski, do Merola nesse sistema. Os trabalhos do João Kluthclouski, do Merola etc., mostraram que essa consorciação no sistema Santa Fé pode reduzir bastante a população de nematóides, é supressora de fusarium e rizocto- nia, e tem uma produção de fitomassa com relação C/N excelente para SPD, enriquecimento da rizosfera através da agregação de solo e assim por diante. Trabalho recente do nosso orientado de mestrado, Guy Tsumanuma, mostrou que até pouco tempo se falava em plantar braquiária e depois entrar com nitrosulfuron para tentar se- gurar a braquiária. Hoje, sabemos que não é preciso nenhum tipo de manejo especial: pode-se plantar milho e braquiára concomitantemente, e sem efeito em termos de competição. Trabalhamos com várias espécies e nenhuma delas apresentou efeito de competição. Uma coisa espetacular que tivemos foi um efeito de “bombeamento”, principalmente com a braquiá- ria decumbens: a quantidade de raiz de feijão em cima de uma área que foi braquiária, e aquela de raiz de feijão em uma área que foi milho é bem diferente. Em trabalho nosso, em Piracicaba, com braquiária – ficou grande massa de braquiária e pudemos avaliar o que isso estaria trazendo de benefício para o solo e coisas mais. Também na fazenda Colorado fazemos o sistema de manejo na braquiária em cima do milho, há quatro anos, com produtividades sempre crescente. Devemos começar a pensar em trabalhar com consorciação de espécies. Saiu de moda trabalhar com uma espécie só, porque queremos qualidade e quantidade de massa. Então, podemos utilizar o lablabe com aveia, com semeadura a lanço. Quando a palhada não for muito densa, atrás do trator que está fazendo a semeadura, pode-se arrastar uma série de correntes para remexer a palha, fazendo a semente entrar em contato com o solo e germinar, sem problema nenhum. É contra-indicado passar a grade, porque aí se acaba com o SPD nos primeiros 3 cm de solo, que são extremamente importantes e onde as coisas estão acontecendo, que é o “manjar dos deuses”. Nessa camada de cima que é gostoso para os microrganismos - não vamos atrapa- lhar a ação de jeito nenhum. Lablabe com aveia, o mesmo sistema um pouco mais avançado e milheto, tudo em plantio a lanço, mas, se necessário usar corrente. De outra parte, lablabe com milheto se desenvolvem bem e, depois, o lablabe, utilizando o milheto como tutor conseguindo-se produzir um pouco mais. Um problema é a vaquinha. Se formos plantar milho em seguida, precisamos tomar muito cuidado com a larva-alfinete, já que temos uma população grande para fazer oviposição nas plantas de milho que vêm em seguida. Soja e milheto. Mas, como soja? Soja-grão, soja que passou lá na pré-limpeza e sobrou um monte de grão. Então, se quisermos ser rigorosos é só fazer análise patológica para verificar se não serão jogados contaminantes na área. Não existindo condição muito complicada em termos de patógenos, usamos isso no cam- po, logicamente quando não formos plantar soja em seguida. 27 Também soja, milheto e nabo-forrageiro, tudo junto seria muito mais adequado, e aí tam- bém pode fazer lablabe e aveia. Temos exemplo na fazenda Colorado, lablabe plantado em linha, primeiro a aveia e depois o lablabe. Espécies e iniciativas que acredito tenham sido frustradas e podemos deixar de lado: pé- de-galinha; já temos coisas muito melhores, a estabilidade é ruim e a quantidade de raiz produ- zida não é lá grande coisa, pensando em braquiária, pensando em outras coisas, semente difícil de produzir, semente cara e tal, virou mais um comércio do que qualqueroutra coisa. Pode-se ver o pé-de-galinha em condição de área preservada, parcela de dia de campo e coisa desse tipo, mas no campo nunca vi coisa bastante interessante. Ervilhaca, também, acredito que não há muita razão de ser, tem coisas melhores para nossas condições. Resolveram trazer a moa, setária, amarantus. Precisamos tomar cuidado, isso pode criar um híbrido interessante com o caruru-nativo e depois fica difícil para controlar o “monstrinho” que criamos. Necessidades de estudo Temos que pensar em consorciação. É possível fazer massa em curto espaço de tempo e massa de qualidade. Em termos de necessidade de estudo, pensar um pouco mais em alelopa- tia; perenização de sistemas para plantar uma vez só; estudar um pouco mais microbiologia do solo, porque, infelizmente, sabemos muito pouco do que estaria ocorrendo. Talvez seja muito mais importante a quantidade de massa que está sendo incorporada ao sistema abaixo do solo, do que em cima, assim, a quantidade de raiz e o seu funcionamento. A espécie que tem aumentado bastante tanto em termos de utilização na entressafra, como também para a produção de palha, é o sorgo, com uma capacidade de rebrota espetacular. Porém, seu efeito alelopático é bastante sério. Então, numa dada lavoura de soja, o que seria aquele aspecto? Que herbicida foi passado? Verificamos que não foi herbicida nenhum, é efeito alelopático de sorgo, que tem uma capacida- de muito grande de emitir compostos fenólicos via raiz. O problema principal é quando fazemos o tal de aplique e plante. Não tem nada a ver com o herbicida em si, é que colocamos o produto em cima do sorgo, que, para se defender, aumenta a síntese de compostos fenólicos e, evidentemente, que leguminosas são extremamente sensíveis a esse produto, e demora para a soja se recuperar, e coisas parecidas encontramos em feijão. Está aqui uma área com palhada de sorgo e outra em que a palhada de sorgo foi retirada. No sistema aplique e plante sobre a palhada de sorgo dá para ver bem a diferença no feijão plantado. Precisamos pensar mais a respeito desses efeitos alelopáticos. Marcos Palhares – Monsanto O sorgo tem baixa exigência nutricional e é bastante tolerante ao déficit hídrico em relação ao milheto. Na figura a seguir, vemos o milheto bastante sofrido com estresse de 50 dias sem chuva, e a Braquiaria ruziziensis ainda mantendo bastante cobertura verde - a capacidade de rebrota é muito interessante. 28 O sorgo, que mencionei, e a cobertura pro- porcionada por ele, é uma opção boa também em relação ao milheto. Mostrou-se superior, possui alta relação C/N, oferecendo a principal vantagem em relação ao milheto, cuja biodegra- dação é muito acelerada. Esse sorgo da figura anterior foi semeado em abril após colheita da soja; em setembro, mês sem chuva, já estava nesse porte, foi pas- sado o correntão para que se promovesse a sua rebrota. O milheto, na figura seguinte, à esquerda, mostrando baixa cobertura e produção de se- mentes, baixo rebrote após o início das chuvas, germinação das panículas na cultura da soja. E à direita, esse sorgo, como oferece muito mais massa, 8 a 12 toneladas por hectare. Qual é o melhor método agora de plantar as coberturas? Como fazê-las? O correntão foi uma das opções. A figura anterior mostra o correntão e um destorcedor, colocado no rabicho do trator para que a cor- rente, à medida que vai sendo a arrastada, não ofereça nenhum impedimento mecânico e, as- sim, possa quebrar o sistema. Na próxima figura, podemos observar melhor como o correntão trabalha: imaginem esses tratores trabalhando a 70% de compri- mento total do correntão. Ele vem vindo, o solo está dessecado, não há presença de plantas da- ninhas, não há revolvimento do solo, mas uma simples incorporação da semente da braquiária que foi feita a lanço. Isso é um trabalho bastante eficiente ob- servado em relação à semeadura a lanço da braquiária. É claro que há um questionamento: São Paulo comporta um trabalho desse tama- nho? Na figura anterior, vejam que há um des- torcedor na parte intermediária da corrente, se- não vai danificar o sistema em áreas ainda no- vas; é preciso que haja certa cobertura vegetal para que se faça o manejo da dessecação e se promova boa germinação da semente. Se o solo 29 não tiver mínima cobertura de matéria orgâni- ca, a germinação da semente é falha, porque há áreas que não estarão bem protegidas. Na figura seguinte, uma área ao lado, com incorporação da mesma braquiária com grade e, do outro, com correntão. Fica aí uma sugestão para se pensar em propriedades que possam comportar esse sistema. A seguir, o milheto, incorporado com correntão, e ao lado uma área com braquiária ruziziensis. Outro sistema, mostrado na figura a se- guir, é a grade, que já está na propriedade, e não precisa ir atrás de um correntão. Todavia seus pontos negativos são vários: desagrega a estrutura do solo, com formação de camadas compactadas. A figura a seguir nos dá um testemunho forte de que quanto menos puder lançar mão da grade, melhor, porque ela expõe o solo, perde umidade, uma série de desvantagens em rela- ção aos pontos positivos, porque aqui ela vai controlar as plantas daninhas pequenas, vai ter uma germinação das plantas de cobertura, mas, enfim, pensando em conservação do solo, o correntão mostrou mais vantagens. Mesmo usando a grade para fazer essa co- bertura, observa-se que a erosão laminar pode acontecer. Outro sistema de plantio de cobertu- ra com semeadura em linha, conforme mostra a figura seguinte: a braquiária, como fica semeada em linha, existe eficiência mais alta da germina- ção, e aproveita melhor fertilizantes, água etc. Qual a necessidade de antecipação das coberturas em relação ao plantio da soja? Deve existir, logicamente, essa preocupação, e se evitar ao máximo o sistema aplique e plante. Nesse sentido, mostro também essa seqüência de slides para se ter uma idéia do que não se deve ou do que se deve fazer, pelo menos com resultados. Isso aqui é a massa proporcionada pela braquiária semeada a lanço, com 600 PC, efetu- ando-se a semeadura logo após a dessecação. 30 Isso também se conhece muito bem; o ambiente para deposição da semente não é fa- vorável, podendo ter algum efeito alelopático da braquiária sobre a soja que está nascendo. Uma série de coisas, hospedeiro de pragas, e doen- ças que podem estar acontecendo, mas enfim, é como fica uma área. Vejam a capacidade de produção de massa dessa braquiária, e com a dessecação feita 14 dias antes do plantio, é uma situação muito mais favorável, não existe receita de bolo, se houver necessidade de dessecar com 21 ou 28 dias, tudo bem. Essa foi a braquiária. Observem na mesma figura, por exemplo, o sorgo de cobertura. Olhem a massa que ele proporciona no plante e aplique, uma quantidade muito grande, e as mesmas conseqüências existirão por fazer a semeadura muito próxima da dessecação. Eis o sorgo dessecado 14 dias antes do plantio - uma situação muito mais favorável, mas sem uma cobertura tão boa quanto a proporcionada pela ruziziensis. Aqui estão os resíduos deixados pelo milheto. Observamos que existem grandes porções do solo descobertas, quer dizer, a emergência de plantas daninhas vai ser maior. Isso é uma área que fica em pousio, sem estabelecimento de nenhuma cultura de cobertura. Assim a trapoeraba, o capim-amargoso, todas as plantas daninhas fecham seu ciclo de florescimento, introduzindo sementes no siste- ma, proporcionando maior dificuldade na des- secação. O sistema prevê o benefício de instalar uma única espécie agressiva, com baixa exigên- cia nutricional e hídrica, que vai suprimir outras plantas daninhas. Isso é o manejo do banco de sementes que vai proporcionar uma palhada muito interessante para o sistema. 31 O gráfico a seguir comprova a ruziziensis, a população final encontrada com a dessecação feita 21 dias antes da semeadura e como cai a população, por exemplo, quando se faz o plantee aplique. A gente perde, aqui, aproximadamente 100.000 plantas por hectare, variando em função de espécies. No caso, são questões levantadas por produtores; como: Em São Paulo vai acontecer a mesma coisa? Ela pode ser utilizada em semeadura da soja? Qual a melhor época? Quantidade de semente? Vários trabalhos que liderei em Mato Grosso comprovaram que o melhor momento para fazer a sobressemeadura é quando a soja está no R5 – quando se inicia aquele amarelecimento, mais ou menos nessa época, quando se faz a sobressemeadura, as sementes caem sobre o solo, favorecendo a germinação. Vejam na figura a seguir a situação que fica da cobertura proporcio- nada quando se faz a semeadura em R5 (ao centro). À esquerda, quando se antecipou muito essa sobressemeadura ou, à direita, quando se demorou demais, observamos que não há o fechamento bom da área. A quantidade de semente – observem uma variação de 200 pontos de valor cultural para 400, 600 sendo a relação custo- benefício mais interessante. Na figura seguinte, eis mais uma idéia de como fica a sobressemeadura em R5, em R7; a palhada proporcionada pela ruziziensis é bastante interessante; observem o fechamento do solo quando se obtém uma boa cobertura, e a baixa incidência de um fluxo novo de plantas daninhas quando se trabalha com ruziziensis. 32 Ela pode ser trabalhada com milho? Sim pode. Pode ser consorciada? Sim, foi comprova- do pelo sistema Santa Fé. Isto é mais uma foto, ilustrando como acontece. O ideal é fazer a semeadura da braquiária em linha, como constatado nesse trabalho da figura seguinte. E aqui, só mais algumas idéias: fotos mostrando a quantidade de semente gasta. Aqui, a semeadura a lanço da braquiária em área de colheita de milho, e como fica uma área após essa colheita – vinte dias após a colheita do milho, vejam como ela fecha bem a área. E, para a safrinha, também é muito interessante, logo após a colheita da safrinha, semear a braquiária, em setembro ou agosto, dá tempo até novembro de conseguir fazer o plantio sobre uma palhada bastante interessante. Um traba- lho semelhante foi desenvolvido na fazenda de Leonardo Coda, onde constatamos que a janela de tempo entre a colheita da safrinha no vale do Paranapanema até o plantio da soja, é tempo suficiente para estabelecer uma boa massa e fazer o manejo de cobertura. Todos esses trabalhos foram efetuados por uma equipe de nove pesquisadores, tudo está bem consolidado, com trabalhos estatísticos que serão publicados. Alguma coisa disso trazendo 33 para São Paulo não é difícil fazer palhada, se não for por rotação de cultura, podemos introduzi- la no sistema. Rudimar Molin – Fundação ABC A Fundação ABC há alguns poucos anos está atuando mais intensamente na região sul do Estado de São Paulo – Itararé, Itaporanga e Itapeva, por influência das cooperativas. A Castrolândia está trabalhando em Itaberá, e já havia uma atuação da Capau, de Arapoti, há mais tempo no município de Itararé. Inicialmente, farei um relato do que se faz lá: basicamente, são cultivos de grãos – milho, soja e feijão; no inverno trabalha-se com trigo e triticale, que são as principais culturas econômicas, e aveia-preta, o modelo que se tem hoje. Temos, porém, algumas preocupações concernentes a esse modelo, como a erosão do solo, que ainda existe no plantio direto, relativos à mecanização, terraceamento, outras práticas complementares, então esse sistema até que resolve o problema de erosão com essas práticas complementares. No entanto, o que chama a atenção é que há trabalhos de fertilidade, comparados com Arapoti, que tem um clima um pouco mais semelhante, onde se está estabelecendo a dose de máxima eficiência econômica para a cultura do milho: percebe-se que, essa região paulista necessita muito mais nitrogênio para produzir a mesma quantidade – o produtor precisa aplicar mais nitrogênio. Isso nos leva a pensar que devemos caminhar um pouco mais para o estoque de carbono no solo, aumentar mais essa matéria orgânica. É um clima, em relação ao do Paraná, mais seco, mais quente, então, temos essa preocupação de aumentar um pouco mais carbono por meio da palhada. Temos um inverno bem mais seco, e a limitação é a falta de água. Mais ao sul é a questão de frio, a geada que limita, então imaginamos que o ideal é trabalhar com culturas com uma relação C/N alta para conseguir um estoque maior de carbono e aumentar a matéria orgânica e todos os outros atributos. Uma das possibilidades do sistema atual seria aumentar um pouquinho mais a questão do milho, que tem uma limitação maior, é uma questão de noites mais quentes em relação às outras regiões em que atuamos. Teria essa possibilidade de participação como uma cultura econômica, e aumentar um pouco mais a palhada. Com relação a trigo e triticale, dentro das limitações da cultura, ela está bem estabelecida. A questão, porém, é a aveia que, no inverno, tem aquela limitação de produzir menos massa em clima um pouco mais frio, aliás, mais quente e seco; então no inverno, também, buscaríamos algo tipo sorgo e milheto para substituir principalmente a aveia nesse modelo, somando um pouquinho mais a essa massa. Foi levantado pelo Professor Fancelli a questão da alelopatia, em relação ao sorgo e à cultura da soja. Talvez em intervalos de plantio isso possa ser solucionado, não sei a que ponto chega esse tipo de informação. Com relação aos consórcios, a preocupação maior é o custo da cobertura em si e não a questão técnica. O produtor tem um pouco mais de dificuldade para adotar esse sistema e, dentro desse consórcio, talvez o que nos preocupou um pouquinho foi a colocação do Fancelli quando trabalhou a questão de soja consorciada. A questão de ferrugem, então não sei até que ponto a participação da soja nesse sistema seria viável com esse evento da ferrugem que está estabelecido. Talvez seja o entrave que gostaria de colocar aqui. 34 Outra coisa que devemos considerar quando vamos trabalhar e propor um sistema para o agricultor é o seguinte: se não adotar, não adianta, isso não vai para a frente de jeito nenhum. Então, temos a questão econômica. Hoje, no Paraná, há um trabalho que acompanhamos desde 1988: são sete sistemas que chamamos subsistemas de plantio direto, são 7 modelos de propriedades: que faz soja-trigo, soja-trigo....até o sistema que integre a lavoura e a pecuária, onde fazemos um acompanhamento econômico, fluxo de caixa para fazer essa avaliação. Como pesquisadores, também teríamos que ter a preocupação com a questão econômica quando desenvolvemos um modelo, porque nenhum produtor faz uma cobertura ou plantio di- reto simplesmente por amor à camisa ou para desembolsar dinheiro. Hoje, uma cobertura verde de aveia está em torno de 190 reais por hectare, que desembolsam em nossas condições. As limitações são estas: tirando essa região de São Paulo e pegando o Paraná, as três cooperativas, temos em torno de 60% de área ociosa no inverno e, onde não se consegue fazer cultura econômica, aí vêm as coberturas – aveia, principalmente, hoje é feita, e é tudo desembolso. E se fosse possível, se tivesse uma solução, procuraríamos fazer 100% de uma cultura econômica em cima disso, e não simplesmente a cobertura verde; sei que há uma grande limitação em cima disso, mas, sempre que possível, deve-se buscar e desenvolver alguma coisa que pague esse custo. Essa é a grande mensagem, uma dificuldade, inclusive, que temos para desenvolver: por um lado, a limitação da geada, mas se passamos para cá temos a questão do inverno seco, e todas essas limitações de qual é a cultura econômica? Qual é a cultura que se vai pagar? O trigo hoje se planta; ele forma palha e tem um equilíbrio econômico, é lógico, um ano que nem esse, economicamente, está pior do que uma cobertura econômica, mas ao longo dos tempos, ele consegue arcar um pouco com esse custo da conservação de solo. Basicamente, essa é a minha mensagem, também estamos buscando esse tipo de solução. Ricardo de Castro Merola– Fazenda Santa Fé Sou agricultor em Goiás e a vida toda procurei resolver os problemas na fazenda com bastante apoio na pesquisa. Desde 1980 tenho uma área em parceria com a Embrapa, onde desenvolvemos diversas atividades que possam resolver o problema da Fazenda Santa Fé. As dificuldades começaram com a tiririca, em 1980, que foi invadindo toda a fazenda. Entrei no plantio direto para resolver o problema, já que não havia outros; havia fertilidade alta e um sistema de conservação muito bem feito com terraço de base larga em gradiente com canais de drenagem gramados. No Paraná, aprendi a técnica do plantio direto, mas, para implementá-la em toda a fazen- da, gastei seis anos, porque a dificuldade era a palhada. A primeira palhada que descobri por acaso foi sorgo, e como produzia sementes, estava sempre presente no sistema de rotação, percebi que ele tinha alta persistência, rebrota vigorosa e não dava efeitos negativos na cultura posterior. Mesmo porque, naquela época, não se usava muito o aplique e plante, porque o Roundup custava 16 dólares o litro, não permitindo que se errasse e não havia herbicida pós-emergente como hoje; só tínhamos 2,4-D, Gramoxone e Atrazina. 35 Trabalhei com sucessão de culturas e usei como palhada o sorgo. Na figura a seguir, al- gumas alternativas que considero boas para o Estado de São Paulo. O sistema Santa Fé no verão pode ser utilizado no plantio consorciado com milho, o resultado é excelente. E pode ser usado de diversas formas: eis uma área de sila- gem da Fazenda Santa Fé, onde usamos braqui- ária brizanta com 400 pontos de valor cultural. Vejam a exuberância da braquiária num período curto, porque a silagem se corta com 100 a 110 dias após o plantio. É uma máquina cortando, e a palhada de braquiária. A foto a seguir mostra, de perto, depois de cortada a braquiária. A Fazenda Santa Fé usava muito a braquiária para fazer silagem. Não usa mais. Depois de muitos anos, percebemos que a braquiária tem um problema: quando é utilizada para silagem, exporta muito potássio, cuja repo- sição fica caríssima. No fim, gastava-se muito, porque a silagem tinha uma porcentagem de matéria seca baixa, 18-20%, e exportava muito potássio; no resto, era espetacular, pois é uma cultura perene; ficava aí, dava mais dois ou três cortes, e essa braquiária produzia 40 t de ma- téria original, sem riscos de vento e de pragas que o milho tem, quer dizer, sem uma séria de pragas que o milho tem, sem uma série de pro- blemas, como veranico. Essa é uma palhada de braquiária usada em feijão irrigado, e como a fazenda Santa Fé tem 70% da área irrigada, costumamos fazer para ter até três cultivos por ano. O desafio para a produção de palhada é muito intenso. Nesse caso, efetuou-se o sistema Santa Fé com milho: deixando a braquiária desenvolver, fez-se um corte para a silagem. A cobertura tem que dar lucro para o produtor também. Não se pode fazer cobertura bonita de cinema, que não dê retorno financeiro: é preciso que ela contri- bua para a renda do produtor. Nesse caso, da braquiária foi feita uma silagem e depois rebrotou e plantou-se o feijão em maio; esse feijão só usou um inseticida, um acaricida, e nenhum fungicida. Será que a bra- quiária ocasionou isso? Com certeza foi, porque 36 em outras áreas sem essa palhada tivemos que usar mais herbicida, mais inseticida e usar fungicida na mesma época, na mesma fazenda. Olhem que palhada: é de braquiária; cos- tuma passar duas, três culturas para a frente, então se houver algum problema, pode-se plan- tá-la que ela fica perene. Pensando em São Paulo, coloquei esse quadro: plantio de milheto em áreas iniciando plantio direto. Trata-se de uma saída para quem está em solo degradado, com baixa fertilidade, alto teor de alumínio, e quer começar no pro- cesso. Minha sugestão é que prepare o solo, faça o terraço. Outra coisa, já que São Paulo está come- çando agora o plantio direto, não deixem desmanchar os terraços base larga, preservem-nos. Esse negócio de plantar morro abaixo é muito bonito para pôr em foto, tem que aproveitar e plantar em nível, está certo: por que o terraço? Ele não incomoda se for bem feito, base larga, 12 m, pode até marcá-lo com espaçamento maior em vez de usar aquela tabela tradicional, mas não fiquem com seu solo só dependendo da palhada, se não houver palhada, a erosão leva tudo, porque pode haver situações em que o nível de palhada na sua área caia. Tive esse problema quando entrei no processo de produzir alto volume de volumosos, porque tenho um confinamento que consome 40.000 t de silagem/ano. Imaginem isso, a pro- dução de palhada necessária para silagem era muito alta, então o resíduo que ficava era muito pequeno; com isso, nesse processo, se tivesse desmanchado todos os meus terraços teria, com certeza, problema grave de erosão. Na figura a seguir, um milho recém-plan- tado. A palhada de sorgo, uma palhada pouco desejável. Essa área, no verão, foi sorgo que foi cortado para a silagem, depois foi usada sua rebrota, não como valor comercial, para fazer palhada. Usamos na fazenda o espaçamento de 50 cm, cujos ganhos de produtividade são bem maiores do que os anteriores (80-75 cm). A facilidade de implantar a cultura, parecendo que há um incremento de produtividade que compensa o aumento do consumo de semente, porque hoje a semente no Brasil está em um preço exorbitante. Na figura a seguir, apresentamos uma área onde se tem, na cultura anterior, o milho de 50 cm com braquiária plantada em março/ 37 abril. No verão, essa soja está bonita, é precoce e nela foi usada apenas dessecação e um único pós-emergente para folha redonda, porque tí- nhamos muito picão, reduzindo o consumo de herbicida. Essa é uma área recém-implantada, onde o plantio está começando agora. É pastagem, mas pastagem de qualidade e não degradada, era capim-mombaça. Foi plantado ano anterior um semidireto, e esse ano fizemos o cultivo de milheto antes das chuvas. Esperei o milheto ficar num porte de 1 m mais ou menos, dessequei e plantei. Fica muita área exposta na linha porque utilizei o sistema de facão, que revolve muito o solo. Prefiro isso porque, às vezes, ao usar o disco duplo posso ter problema de colocação da semente ou mes- mo do fertilizante. Esse é um projeto em desenvolvimento. É plantio direto de milho e soja em cima de pasto de tifton, por ele ser perene e não precisar mais replantar, ou implantar qualquer cultura com palhada. É uma experiência que está sendo tes- tada numa área de 2 ha. Esse é o tifton antes da aplicação do Roundup. Por recomendação, usamos 5 L de Roundup por hectare. Aí, uma foto dele todo debilitado. A expectativa é que esse tifton rebrote e vire, de novo, um pasto verdejante. Com cer- teza, é mais uma alternativa de palhada e fica mais fácil fazer integração agricultura-pecuária, porque na hora se colhe, o pasto já está ali plan- tado, quase no ponto de pastejo. Como o tifton tem uma produção mais linear do que o pani- cum durante o ano, porque é uma planta que tolera dias curtos, um sistema radicular profundo agüenta mais o déficit hídrico, e nas regiões aqui de São Paulo, com problema de frio, ele é mais tolerante do que os outros capins. Acredito que seja uma grande alternativa. Mas, se alguém estiver questionando: o tifton custa caro para implantar. Na verdade, fica um mais caro do que a braquiária, mas se fizer só uma vez, fica mais barato. Hoje, pode ser plantado com máquina. Há empreiteiras em São Paulo que plantam, de maneira toda mecanizada. A máquina mostrada a seguir é a que fez o plantio: John Deere. Ela tem um disco de corte de 18 polegadas mais um facão. Nesse plantio precisou de 25% a mais de potência para puxar a plantadeira, porque o sistema radicular e o rizoma são muito difíceis de romper. 38 Na figura a seguir, mostramos o pasto de tifton usado na fazenda Santa Fé. Existem 12 piquetes numa área de 21 hectares, o que dá mais ou menosum retorno a cada 20-22 dias. Estou colocando aí mais de 10 UA por hectare no verão, com um ganho até agora de 880 g por indivíduo por dia. Como a densidade de ani- mais está em torno de 15, porque eles pesam mais ou menos 300 kg, mandei que a próxima rodada não se adubasse com nitrogênio para poder não aumentar a carga animal, pois não quero mais indivíduos nesse lugar - acho que está muito alto. Em minha apresentação tentei mostrar que a integração pecuária-agricultura, aliada ao plantio direto, essa facilidade que a braquiária tem para fazer palhada, o sorgo e, se der certo, o tifton também, acredito que o Estado de São Paulo vai ter uma contribuição muito grande, e entrará no SPD com bastante segurança e sucesso. Discussão da mesa redonda Antonio Luis Fancelli – ESALQ/USP Alguns pontos que não ficaram muito claros quando levantei o aspecto de alelopatia. Evidentemente que definimos alelopatia quanto à espécie que está sendo considerada. No caso do sorgo, quando no sistema aplique e plante, teremos o efeito de alelopatia. Evidentemente, então, para evitar os problemas alelopáticos com o sorgo (não quis dizer que não é para utilizar sorgo em hipótese alguma), precisaríamos de determinado tempo para que esse sorgo fosse efetivamente controlado. Hoje, há possibilidade de trabalhar com soja ou feijão em cima do sorgo, desde que tenha- mos certeza de que o sorgo realmente foi controlado (está seco), aí não haveria problema nenhum porque, da mesma maneira em termos de nabo-forrageiro, se plantarmos o milho, imediatamente, após manejo do nabo-forrageiro, também identificaremos o efeito alelopático e, inclusive, com o arroxeamento de folhas, que alguns acham que é deficiência de fósforo, não é, é problema de efeito alelopático. 39 Igualmente para o azevém - milho em cima de azevém, milho em cima de centeio, os mesmos problemas. Então é essa colocação: de que uma vez determinado o tempo de controle para a cultura antecedente não teria problema nenhum de alelopatia. Evidentemente, tudo que foi dito é objetivando uma cobertura econômica, só que temos que tomar cuidado, como avaliar o benefício dessa cobertura, porque hoje temos dados da Fazenda Alvorada na região de Uberlândia em que fizemos uma avaliação de custo de duas culturas subse- qüentes à cultura do trigo, e o trigo teve um retorno econômico. Não o trigo em si, mas o sistema trigo-soja menor do que se tivéssemos feito uma cobertura, como foi feito numa área de aveia e outra de lablabe. Assim, essa cobertura, não necessariamente vai dar um dinheiro da cobertura, mas propor- cionar melhor desempenho da cultura seguinte, proporcionando conservação de solo, redução de adubação, de uso de herbicidas, do uso de inseticidas, e assim por diante. Na Fazenda Colorado, em Araras, aplicamos, muitas vezes, em palhada de aveia ou em palhada de milheto. Quando se trabalha com uma densidade populacional relativamente gran- de, no milho não usamos herbicidas de pós-emergência, é só dessecação e nada mais, não há razão para isso, então é um beneficio bastante interessante, e a outra coisa também é lembrar que hoje a maior parte das espécies que trabalhamos – milheto, aveia etc., o produtor pode fazer essa semente na fazenda, não precisa comprá-la. Crotalaria juncea talvez tenha certa dificuldade, mas aveia, milheto e lablabe, é tranqüilo para fazer na fazenda. Evidentemente, os aspectos econômicos têm que estar atrelados, e é realmente aquilo que estamos discutindo e propondo. José Eloir Denardin – Embrapa Trigo Um aspecto muito importante é a multidisciplinaridade. O melhorista também conhecer do que estamos tratando, é fundamental, porque quando se olha uma soja cultivada no Brasil central, que acho seria viável em São Paulo em outubro/novembro, com ciclo até fevereiro, permitindo uma segunda safra, chamada safrinha de milho, pode-se dizer assim, mas por que eu consigo isso? É por causa do plantio direto? Que eu não tenho que preparar o solo entre a colheita da soja e o plantio do milho? Ou porque tenho espécies melhoradas para serem plan- tadas nessas épocas? Na verdade, não sei se foi feito esse melhoramento orientado para isso ou foi uma casualidade. Na realidade, temos que, cada vez mais, levar esse tipo de conhecimento ao melhorista para criar plantas que possam cobrir o ano com maior facilidade. Quanto mais multisazonal for uma planta, mais fácil a criação dos modelos de produção. Se não tivermos plantas adequadas, teremos grandes dificuldades para conduzir esses processos e, ainda, as próprias culturas de coberturas, além do aspecto econômico. As espécies de cobertura deveriam ser melhoradas principalmente em termos de ci- clo. Quanto mais for esse ciclo, mais fácil conseguirmos encaixar nas janelas entressafras. Portanto, o melhorista precisaria saber desses problemas, essa interdiciplinaridade não está chegando até eles. Um exemplo típico é a cevada no Brasil: hoje já está com 60 cm de altura; pergunto: Que produção de palha produz isso? Que produção de raiz? Há uma planta dessa para tentar melhorar uma estrutura de solo? Acho que o melhorista tem que saber que são as plantas que melhoram o solo, não são as máquinas, não é o homem, são as plantas que o melhoram, que 40 o estruturam. Na verdade, esses conhecimentos que estamos discutindo enquadram-se em, praticamente, quatro grandes disciplinas: Física, Química, Fitotecnia e Plantas daninhas. Acredito que o melhorista/geneticista daria uma contribuição para entendermos bem o que estamos tratando, de forma significativa. É uma preocupação que devemos levar a eles. Ciro Antonio Rosolem – UNESP/Botucatu Vou comentar dois assuntos que já foram tratados e adicionar alguma coisa. O primeiro ponto é o seguinte: vamos pensar no ponto de definição de pesquisa. Temos um defeito muito grande no Brasil, que talvez não seja culpa nossa, mas o problema é que ele está aí - estamos correndo atrás de agricultor, e de repente estamos fazendo uma pesquisa hoje que o agricultor já fez lá atrás. Então, estamos mais preocupados em repetir e tentar demonstrar algo que já está demonstrado. Precisamos parar com isso. E nessa linha vêm essas palavras ditas aqui: bombeamento, alelopatia e uma série de coisas que são conceitos bem definidos, só que eu não vi medidas disso. Há publicações sérias falando que plantas bombeiam nutrientes. Meu Deus do céu, quan- to há de nutriente até 1,5 m de profundidade? Dá para imaginar uma planta bombeando alguma coisa lá de baixo para trazer para cima, quer dizer existem algumas coisas que precisamos parar de pensar da maneira fácil e pensar como cientistas. Temos que saber o que está acontecendo, porque, a partir do momento que começamos a trabalhar com causas, com explicações, com fisiologia, com bioquímica, paramos de enxugar gelo. É importante não perder essas perspectivas, precisamos dar uma opção para o agricultor, sim, mas o conceito disso, a base disso para que não seja uma pesquisa extremamente efêmera, acho um ponto fundamental. Entrando um pouco nessa história de questão econômica. Sou agricultor e minha família é de agricultores, mas como professor, cientista, não estou minimamente preocupado com a ques- tão econômica. A função como professor, como cientista, é dar uma opção para o agricultor, quem vai resolver se é econômica para ele naquela condição, naquele ano, é ele. Temos um Instituto de Economia Agrícola, pesquisadores, gente da administração agrí- cola, e o agricultor que tem que ser o administrador, então precisamos parar um pouco com essa história de que vamos resolver tudo. Mais ou menos complementa aquilo que o Denardin levantou, não adianta querer fazer tudo, tem que ter melhorista, pessoal de plantas daninhas etc. São idéias que estou dando. Especificamente, para fazer palha, acho que fazer palha já sabemos em São Paulo, fa- zemos até bem, o ponto é o seguinte: acho que foi o Fancelli que levantou, precisamos dar o próximo passo. Ele falou de consórcio. Acho que
Compartilhar