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INSTITUTO PHORTE EDUCAÇÃO PHORTE EDITORA Diretor-Presidente Fabio Mazzonetto Diretora-Executiva Vânia M. V. Mazzonetto Editor-Executivo Fabio Mazzonetto Diretora Administrativa Elizabeth Toscanelli CONSELHO EDITORIAL Educação Física Francisco Navarro José Irineu Gorla Paulo Roberto de Oliveira Reury Frank Bacurau Roberto Simão Sandra Matsudo Educação Marcos Neira Neli Garcia Fisioterapia Paulo Valle Nutrição Vanessa Coutinho PZ Project Zero Harvard Graduate School of Education email: pzinfo@gse.harvard.edu website: www.pz.harvard.edu Centro Internazionale per la difesa e la promozione dei diritti e delle potenzialità dei bambini e delle bambine email: info@reggiochildren.it website: www.reggiochildren.it Tornando visível a aprendizagem Crianças que aprendem individualmente e em grupo edição original na língua inglesa © 2001 Reggio Children, The President and Fellows of Harvard College e Comune di Reggio Emilia edição italiana © 2009 Reggio Children Junho 2013 (1a edição) Copyright © 2014 by Phorte Editora Rua Treze de Maio, 596 Bela Vista – São Paulo – SP CEP: 01327-000 Tel/fax: (11) 3141-1033 Site: www.phorte.com.br E-mail: phorte@phorte.com.br Av. Tancredo Neves, 620 Condomínio Mundo Plaza, Sala 1005 mailto:pzinfo@gse.harvard.edu http://www.pz.harvard.edu mailto:info@reggiochildren.it http://www.reggiochildren.it http://www.phorte.com.br mailto:phorte@phorte.com.br Caminho das Árvores, Salvador-BA CEP 41820-020 Tel: (71) 3036 3009 Site: www.redsolarebrasil.com.br Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio, sem autorização prévia por escrito da Phorte Editora Ltda. CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ T638 Tornando visível a aprendizagem [recurso eletrônico] : crianças que aprendem individualmente e em grupo / [Reggio Children ; tradução Thaís Helena Bonini]. - 1. ed. - São Paulo : Phorte, 2014. recurso digital (Reggio Emilia) Tradução de: Rendere visibile l’apprendimento: bambini che apprendono individualmente e in gruppo Formato: epub Requisitos do sistema: adobe digital editions Modo de acesso: world wide web Inclui apêndice Inclui bibliografia ISBN 978-85-7655-528-5 (recurso eletrônico) 1. Educação – Brasil. 2. Igualdade na educação – Brasil. 3. Professores – Formação. 4. Prática de ensino. 5. Educação de crianças. 6. Educação – Aspectos sociais. 7. Educação inclusiva – Brasil. 8. Livros eletrônicos. I. Título. II. Série. 14-18849 CDD: 370.981 CDU: 37(81) phr0001 Este livro foi avaliado e aprovado pelo Conselho Editorial da Phorte Editora. (www.phorte.com.br/conselho_editorial.php) http://www.redsolarebrasil.com.br http://www.phorte.com.br/conselho_editorial.php tornando visível a aprendizagem crianças que aprendem individualmente e em grupo edição original na língua inglesa aos cuidados de RE: Claudia Giudici, Carla Rinaldi PZ: Mara Krechevsky edição italiana aos cuidados de Ilaria Cavallini, Claudia Giudici com a colaboração de Michela Bendotti, Lorella Trancossi textos RE: Paola Barchi, Angela Barozzi, Paola Cagliari, Tiziana Filippini, Amelia Gambetti, Claudia Giudici, Giovanni Piazza, Carla Rinaldi, Laura Rubizzi, Paola Strozzi, Vea Vecchi PZ: Howard Gardner, Mara Krechevsky, Ben Mardell, Steve Seidel direção artística e projeto gráfico Isabella Meninno com a colaboração de Vea Vecchi, Giovanni Piazza consultoria artísticaRolando Baldini diagramação edição italianaErika Profumieri coordenação editorial edição italiana Annamaria Mucchi com a colaboração de Marina Castagnetti, Moira Nicolosi edição brasileiraPhorte Editora Ltda. diretora de coleçãoNayara Vicari P. Baradro fotografia RE: Vea Vecchi, Giovanni Piazza, Mirella Ruozzi Raffaella Bonetti, Giuliana Campani, Marina Castagnetti, Marina Ferrari, Eluccia Forghieri, Isabella Meninno, Stefano Sturloni PZ: Melissa Rivard and Constance Wolf ilustraçõesMeninos e meninas das creches e das escolas da infânciamunicipais de Reggio Emilia tradução do italianoThais Helena Bonini revisão técnica da edição brasileiraMarilia Dourado projeto de pesquisa Tornando visível a aprendizagem: crianças que aprendem individualmente e em grupo coordenação RE: Carla Rinaldi, Amelia Gambetti, Giovanni Piazza, Vea Vecchi PZ: Mara Krechevsky, Howard Gardner, Steve Seidel grupo de pesquisa RE: Paola Barchi, Marina Castagnetti, Tiziana Filippini, Amelia Gambetti, Claudia Giudici, Giovanni Piazza, Evelina Reverberi, Carla Rinaldi, Laura Rubizzi, Paola Strozzi, Vea Vecchi PZ: Howard Gardner, Mara Krechevsky, Ben Mardell, Steve Seidel, Janet Stork coordenação organizacional RE: Francesca Marastoni, Claudia Giudici, Francesca Davoli, Paola Riccò, Luisa Zecca, Emanuela Vercalli PZ: Sara Hendren e Terri Turner O projeto “Tornando visível a aprendizagem” é fruto da colaboração entre dois grupos de pesquisa formados pelo Project Zero e Reggio Children/Creches e escolas municipais de Reggio Emilia. Os pontos de vista expressos neste livro pertencem a esses grupos de pesquisa e, no que concerne ao Project Zero, não devem ser considerados como representativos de todos os seus membros. Agradecimentos Project Zero Diversas pessoas nos ajudaram ao longo deste projeto. As seguintes pessoas ofereceram reflexões profundas sobre os primeiros relatórios redigidos pelas equipes de investigação: Ron Berger, Bela Bhasin, Tina Blythe, Mary Einsenberg, Sylvia Feinburg, Tom Hatch, Sara Hendren, Connie Henry, Mindy Kornhaber, Ken Lindsay, Ulla Malkus, Nili Pearlmutter, David Perkins, Miriam Raider-Roth, Polly Smith, Sue Steinsieck, Shari Tishman, e os professores e administradores da escola da infância Eliot-Pearson Children’s School, de Medford, Massachusetts. Um agradecimento especial paraNoIndent Tina Grotzer, pelos comentários numerosos e detalhados sobre diversos tópicos. Elizabeth Dowling nos ajudou no lançamento do projeto, trabalhando como voluntária e dedicando-nos dois verões do seu tempo nos primeiros dois anos do projeto. Os nossos sinceros agradecimentos vão paraNoIndent Eve Crevoshay, Anne Kornblatt, Steven Lipsitt, Liz Merrill, Adria Steinberg e Jesse Winch pelas suas observações, que nos ajudaram durante a preparaNoIndentção deste livro. David Allen ofereceu análises e sugestões preciosas com relação tanto ao formato quanto ao conteúdo deste livro. Apreciamos muito os seus sábios conselhos e o apoio dado durante todo o processo de redação do livro. Melissa Rivard, com generosidade e abnegação, ajudou-nos a produzir muitas das imagens da prática educativa americana paraNoIndent este livro. Somos, também, muito gratos aos nossos numerosos colegas do Project Zero e aos participantes do grupo de estudo mensal, com os encontros no Project Zero, por terem escutado os nossos pensamentos durante a elaboração deste trabalho e por nos terem encorajado, dando-nos retornos críticos que realmente foram úteis. Devemos muito a Sara Hendren e a Terri Turner, pela assistência administrativa durante os anos em que foi realizado este projeto. Nosso agradecimento especial a Terri, que nos garantiu bom humor e um olhar atento às inúmeras versões deste texto. Enfim, nós, da equipe de pesquisa do Project Zero, reconhecemos o privilégio extraordinário de colaborar com os nossos colegas da equipe de Reggio Emilia. A oportunidade de explorar juntos perguntas e ideias e de aprender com eles, por meio das suas modalidades de trabalho, foi um desafio e, ao mesmo tempo, uma recompensa enorme. Agradecemos a todos. Reggio Emilia A equipe de pesquisa de Reggio Emilia gostaria de agradecer a todas as crianças, pais, professores, equipe e às pedagogistas das creches e das escolas da infância municipais. Um sincero agradecimento, também, ao sistema administrativo das creches e das escolas da infância municipais de Reggio Emilia e à equipe da Reggio Children pela preciosa colaboração. Project Zero & Reggio Emilia As equipes de pesquisado Project Zero e da Reggio Emilia apreciaram de maneira especial as numerosas contribuições de Leslie Morrow e de Gabriella Grasselli. Recebemos um benefício incomensurável com base na experiência delas como tradutoras durante os nossos encontros e nos numerosos documentos que traduziram paraNoIndent ambas as equipes. Somos gratos pela experiência editorial de Vivian Wheeler, cujo olhar atento e crítico foi precioso paraNoIndent este volume. Agradecemos, também, à nossa revisora, Kathleen Pearsall, por ter encontrado diversas lacunas no texto. Sumário Cobrir Página de Título Agradecimentos Prefácio à edição italiana Prefácio à edição brasileira Experimentos contagiantes Guia para o leitor Apresentações Howard Gardner Carla Rinaldi A mão justa Creches e escolas da infância como lugares de cultura – Carla Rinaldi O preço justo Sobre a natureza da organização – Tiziana Filippini Um dia na escola, um cotidiano extraordinário – Paola Strozzi Documentação e avaliação: qual a relação? – Carla Rinaldi Teatralidade Documentar o documentador – Laura Rubizzi Conversa com um grupo de professores – Amelia Gambetti A escola como lugar de aprendizagem de grupo para os pais – Paola Cagliari e Claudia Giudici Pais e robótica A coragem da utopia – Carla Rinaldi Observar o grupo de perto: notas sobre a investigação pedagógica A curiosidade do entender – Vea Vecchi O fax – Giovanni Piazza e Paola Barchi A cidade de Reggio Emilia – Giovanni Piazza e Angela Barozzi kindle:embed:0006?mime=image/jpg Forma, função e compreensão nos grupos de aprendizagem: proposições das creches e escolas da infância de Reggio Emilia – Mara Krechevsky Uma mensagem de grupo Viagem através do Atlântico – Ben Mardell Quatro características dos grupos de aprendizagem – Mara Krechevsky e Ben Mardell A roda e o movimento Começar em casa e compreender a documentação – Steve Seidel Fazer parte de algo maior – Steve Seidel Comentários das crianças sobre a aprendizagem de grupo e sobre os grupos de aprendizagem “Quem pergunta não pode se satisfazer em esperar respostas”: perspectivas sobre a pesquisa em educação – Steve Seidel Reflexões finais Tornando visível a nossa aprendizagem – Howard Gardner Diálogos – Carla Rinaldi Apêndices Bibliografia e notas Os títulos em amarelo referem-se a uma série de “mini-histórias” que evidenciam os processos de aprendizagem das crianças e o sentimento de estupor e maravilha, visíveis pelo olhar sensível e atento dos professores. Prefácio à edição italiana Carla Rinaldi Este livro nasce de uma pesquisa de três anos (1995-1998), realizada em parceria entre as creches e escolas da infância municipais de Reggio Emilia, a Reggio Children e a Harvard University – Project Zero: um contexto internacional privilegiado com o qual tivemos por muito tempo – e ainda continuamos tendo – colaborações baseadas em grande estima profissional e amizade sincera. As temáticas e os problemas enfatizados por essa pesquisa são especiais para a experiência educativa reggiana: o papel da documentação e da avaliação nos processos de aprendizagem individual e de grupo, aspectos fundamentais para a definição do currículo da escola da infância. Publicado na língua inglesa em 2001, o livro – que descreve essa pesquisa e seus resultados – teve um grande retorno nos Estados Unidos e, de forma geral, nos países de língua inglesa: foram vendidas mais de 10.000 cópias. Posteriormente, o texto foi traduzido para as línguas coreana (Yang Seo Won, 2005), sueca (HLS Forlag, 2006), chinesa (East China Normal University Press, 2007) e, logo, estará disponível também em alemão (Verlag Das Netz). A ampla difusão do volume, adotado como texto por muitas universidades dos Estados Unidos, testemunha o interesse que essa pesquisa suscita em diversas culturas e diversos contextos educativos, porque põe no centro da reflexão a aprendizagem de grupo e no grupo, repropondo-a como tema de pesquisa. Apesar de, justamente com base nessa pesquisa, o pensamento pedagógico dos educadores reggianos sobre os temas tratados tenha sido modificado, o livro apresenta, ainda hoje, alguns elementos de atualidade que o tornam interessante para o debate que está acontecendo sobre aprendizagens e significado de “learning community”. Esta edição italiana quer ser uma ocasião para agradecer pelo trabalho apaixonado dos professores, pedagogistas, atelieristas, cozinheiras, pessoal auxiliar e a todos aqueles que dão vida, a cada dia, a uma qualidade de cotidiano que fala de educação e de vida. Prefácio à edição brasileira Marilia Dourado Orientadas pelas ideias, ações e provocações de Paulo Freire, e inspiradas em suas utopias e na busca permanente de uma educação democrática, alegre e de qualidade para o Brasil, encontramo-nos com a educação para a infância em Reggio Emilia e com as pesquisas do Project Zero, em Harvard, no início deste novo século, justamente quando este livro estava sendo lançado na sua primeira versão, chamando a atenção de educadores em diferentes partes do mundo para o valor de uma prática educativa consciente e construída na coletividade. Em um país continental como o nosso, onde entendemos que as ações realizadas são complementares e o fazer de cada um repercute no fazer do outro e, em especial, compreendendo que educação é relação, fundamos, em 2006, a RedSOLARE Brasil, uma associação latino-americana em defesa da cultura da infância e de difusão da prática educativa de Reggio Emilia, para ser um fórum permanente de diálogos, partilha, realizações e transformações. Desde então, vamos todos os anos à cidade de Reggio Emilia, acompanhados por centenas de educadores, conscientes de que é nas conexões e nas relações vividas que aprendemos e aprofundamos a nossa visão de que a educação democrática e a qualidade almejada são construídas no fazer diário, no cotidiano das escolas e das cidades, na reflexão compartilhada e na construção permanente em comunidade de aprendizagem. A história deste livro, Tornando visível a aprendizagem: crianças que aprendem individualmente e em grupo, foi tecida entre educadores e pesquisadores da cidade de Reggio Emilia e do Project Zero, de Harvard, com a humildade científica de quem reconhece que uma teoria só se transforma em realidade quando legitimada por uma prática concreta. Fica evidente que a aprendizagem individual e de grupo resulta do confronto, da cooperação, das conexões, dos diálogos e das relações, e considerar essa dinâmica como ponto de partida é fundamental para reexaminar o significado desses termos e verificar o grau de coerência com a nossa retórica. Isso gera possibilidades de pensar, todos os dias, em novos modos para aproveitar plenamente a natureza social da escola, tendo em vista o que queremos e o que fazemos para construir a escola e a sociedade que almejamos. Que esta publicação seja um convite aos educadores que atuam para e com a infância, para que compreendam, cada vez mais, que a escola é a cidade e a cidade é a escola, enfrentando, assim, as marcas da sociedade brasileira sem melindres com a desigualdade, a competitividade e o individualismo, buscando caminhos e estratégias para a transformação. É buscar, em diálogo com este livro, o papel da documentação e da avaliação nos processos de aprendizagem individual e de grupo, aspectos fundamentais para a definição de um currículo real para autênticas escolas da infância em nosso contexto. Que a utopia esteja presente cotidianamente no nosso ato de pensar e de agir, tornando a criança, sua beleza e sua aprendizagem focos permanentes de alegria, de amor e de novas aprendizagens. Uma alegre e reflexiva leitura para você! Experimentos contagiantes Protagonistas Erika, 13 meses Elisabetta, 11 meses Matteo, 10 meses Professora Barbara Fabbi Creche Bellelli Fotografia Marina Ferrari Mirella Ruozzi Texto Tiziana Filippini Claudia Giudici Aprender a escutar, a ver, a observar e a interpretar as ações, os pensamentos, as lógicas interrogativas e construtivas das crianças nos permite aprendera arte de estar e conversar com elas, entender quais processos e procedimentos escolhem para ganhar afeto e conhecimentos. Portanto, aos educadores compete a responsabilidade de projetar e de construir contextos que apoiem esses processos e procedimentos, que favoreçam as relações, os empréstimos de competências, as expectativas, as imitações e os “contágios”. Quais maravilhas e ocasiões podem fazer surgir uma seção da creche completamente transformada? Uma seção “empapelada”, cujo chão foi coberto com amplas folhas de papel, é o fundo que desambienta, o qual as professoras prepararam para as crianças numa manhã. Matteo, Erika e Elisabetta estão sentados numa folha de papel-manteiga estendida no chão da seção. Matteo segura uma canetinha que recolheu do chão pouco antes (canetinhas de várias cores foram deixadas sobre a folha pela professora, de maneira que as crianças possam, segundo a necessidade, usá-las para deixar traços coloridos sobre a grande superfície). Mas eis que acontece o imprevisto: Matteo, com a ajuda de Elisabetta, puxa um pedaço de papel... ...até rasgá-lo. O papel rasgado tende a enrolar-se... ...formando um tubo. A brincadeira parece tornar-se muito interessante. Matteo, que segura a canetinha com uma mão, observa com atenção o “novo” tubo e com a outra mão o agarra... Parece que imagina uma possível relação entre a canetinha e o tubo. A concentração e a tensão muscular crescem: Matteo eleva o tubo, inclina-o levemente, fixa a abertura do tubo e tenta introduzir a canetinha nele. Com o esforço, o tubo se inclina muito, e Matteo não alcança o seu interior. Antes de abandonar a ação, Matteo parece querer dar forma à possibilidade imaginada e “abraça” o tubo e a canetinha juntos. Erika, que o acompanhava de longe com aparente falta de atenção, aproxima- se: teria ela entendido o objetivo das intenções de Matteo? Erika pega o tubo e outra canetinha, observa-os com atenção e, com determinação, introduz a canetinha no tubo. Matteo olha para outro lugar, quase desconsolado ou distraído por outra coisa. Erika olha para o final do tubo e parece esperar por algo, provavelmente, pela saída da canetinha, mas não acontece nada! Como o tubo está pouco inclinado, a canetinha ficou parada dentro dele. O que fazer? Abandonar? Pouco depois, Erika, sob o olhar atento e curioso de Elisabetta, agarra com obstinação outra canetinha e decididamente a coloca dentro do tubo. Desta vez, conforme a coloca, o tubo se inclina mais... ...e saem as duas canetinhas, uma após a outra, validando a hipótese inicial das duas crianças. Uma brincadeira da qual, provavelmente, Erika e Matteo desfrutaram outras vezes: introduzir algo menor em algo maior, com abertura no fundo, e vê-lo sair. A presença dos amigos e o olhar encorajador das professoras tornam Erika mais atenta e uma protagonista decidida? A satisfação é tamanha: a tenacidade e o esforço de Erika foram recompensados. O gesto é repetido com outras canetinhas... A vontade é contagiante... Elisabetta, que acompanhou as tentativas de Erika com curiosidade e participação, aproxima-se e pega uma canetinha e o tubo. Olha e explora o tubo com atenção. Estaria ela verificando se, dentro dele, existe uma “fábrica” de canetinhas? Ou ela também quer experimentar a ação? Para fazê-la, é necessário ter uma consciência da coordenação dos gestos e uma inclinação certa do tubo. Enquanto Elisabetta fica controlando o tubo, podemos somente fazer algumas hipóteses sobre por que não continua com a sua ação de exploração. Podemos, porém, supor que todas essas crianças, ainda que de maneiras diferentes, vão se lembrar do ocorrido e tentarão experimentá-lo em outras ocasiões. O tempo será o melhor aliado delas. Dar uma pausa, um tempo para parar e refletir, significa dar qualidade à aprendizagem, às relações e à vida. Guia para o leitor Como a história de Matteo e de seus amigos nos ensina, o trabalho de grupo (grupo) é capaz de oferecer, também às crianças muito pequenas, um potente contexto para a aprendizagem (aprendizagem). Certamente, isso vale para muitas áreas de conhecimento dos adultos, em que a aprendizagem ocorre frequentemente em grupo (basta pensar nos laboratórios científicos, nas companhias artísticas ou nos empreendimentos comerciais). Nas escolas americanas, ao contrário, os aspectos inerentes à instrução e muitas das atividades de avaliação (avaliação), com frequência, se referem à prestação de contas e ao resultado individual. Neste livro, apresentamos algumas reflexões sobre a documentação sistemática dos modos pelos quais as comunidades de aprendizagem desenvolvem ideias, teorias e interpretações da realidade, um aspecto de relevância fundamental para a atividade metacognitiva e um fator integrante da aprendizagem tanto individual como de grupo. Portanto, é importante uma investigação séria. O assunto da pesquisa não se refere à aprendizagem de grupo (aprendizagem de grupo) e à documentação (documentação) consideradas de forma separada, mas aos possíveis desenvolvimentos que nascem do seu entrelaçamento. O que é um grupo de aprendizagem (grupo de aprendizagem)? Nós o definimos como “um conjunto de pessoas emotiva, intelectual e esteticamente comprometidas com a solução de problemas, com ações realizadas e com a construção de significados – um conjunto em que cada um aprende, tanto de maneira autônoma quanto por meio das modalidades de aprendizagem dos outros”. Boa parte da pesquisa foi dedicada a refletir sobre as modalidades com que os grupos se formam e funcionam (Claparade, Dewey, Fabbri, Ferriere, Freinet, Munari, Rogers e Watson, entre outros). Esses e outros estudos enfatizam tanto os aspectos positivos da aprendizagem de grupo quanto o risco de que “a ideologia de grupo” possa colocar em segundo plano as dinâmicas individuais realizadas no seu interior. Se o trabalho de grupo não for feito de maneira consciente e responsável, arrisca-se produzir resultados diferentes dos propostos. Por exemplo, se todas as crianças dentro de um grupo forem consideradas seres idênticos, capazes de trabalhar todas da mesma maneira em uma tarefa comum, é provável que demonstrem menos inclinações a colaborarem (colaboração) entre si e mais propensão ao trabalho individual. Em contrapartida, se um projeto for constituído pela superespecialização de habilidades preexistentes nos componentes do grupo, arrisca-se que essas habilidades se fossilizem, limitando, dessa maneira, o crescimento de todo o grupo. O nosso trabalho comum de pesquisa desenvolveu-se com base em uma série de indagações (indagações) sobre a natureza da aprendizagem de grupo e sobre as maneiras pelas quais as estratégias de documentação e de avaliação podem favorecer tal aprendizagem: quando um grupo se torna um grupo de aprendizagem? Quem faz parte de um grupo de aprendizagem na escola? Qual é a relação existente entre as aprendizagens individual e de grupo? Existem resistências culturais que limitam a nossa capacidade de considerar novas possibilidades e oportunidades para a aprendizagem individual e de grupo? Foram fundamentais as indagações sobre as modalidades por meio das quais o processo de documentação da aprendizagem das crianças influencia na própria aprendizagem. A nossa hipótese era de que a documentação não só nos permite dar visibilidade (visibilidade) – e, portanto, chegar a conhecer e a monitorar – às dinâmicas de aprendizagem individual e de grupo, mas é, ela mesma, um instrumento capaz de promover a aprendizagem individual dentro do grupo, bem como a aprendizagem por parte do grupo no seu conjunto. Desse ponto de vista, a documentação serve para garantir uma estreita correlação (correlação) e interdependência (interdependência) entre as aprendizagens individual e de grupo, mesmo considerando as qualidades exclusivas de ambas as abordagens. Quando as suas aprendizagens são documentadas, as crianças podem revisitá-las (revisitar) e, portanto, dar sentido (sentido) novamente às suas experiências de aprendizagem e, ao mesmo tempo, refletir (refletir)sobre como desenvolver essas experiências mais adiante. A interpretação e a reflexão tornam-se aspectos fundamentais da documentação, vistas não somente em retrospectiva, mas, também, projetadas para a construção de novos contextos de aprendizagem. A documentação não se limita, então, a tornar visível o que já existe, mas faz as coisas existirem porque as torna visíveis, portanto, possíveis (visíveis, portanto, possíveis). Os leitores encontrarão neste livro muitos exemplos da influência da documentação nas escolhas dos professores na projetação (projetação), ou seja, na construção de contextos de aprendizagem. avestruzes Identificamos quatro características centrais na nossa conceitualização de aprendizagem de grupo: 1. Os grupos de aprendizagem são formados tanto por adultos quanto por crianças. 2. A documentação dos processos de aprendizagem das crianças serve para tornar visível a aprendizagem e dar forma aos próprios aprendizados. 3. Os componentes dos grupos de aprendizagem estão envolvidos nas dimensões emotiva, estética e cognitiva da aprendizagem. 4. O foco da aprendizagem nos grupos de aprendizagem vai além da aprendizagem individual, criando um corpo coletivo de conhecimentos. Outra maneira de distinguir os grupos de aprendizagem de outros tipos de grupos é o grau de intencionalidade (intencionalidade): é importante dizer os motivos pelos quais se formou aquele grupo e se participa dele. Como já foi explicitado pela definição proposta anteriormente, com frequência o objetivo dos grupos de aprendizagem se encontra na solução de problemas, nas ações realizadas e na construção de significados (construção de significados). Além disso, os grupos de aprendizagem compartilham um grande interesse com relação às modalidades de aprender a aprender em grupo e atenções de tipo epistemológico, como, por exemplo, compreender (compreender) as modalidades de conhecimento dos outros e como os conhecimentos se desenvolvem e se modificam. Quando as pessoas participam (participam) de um grupo de aprendizagem, consideram o grupo como uma oportunidade para promover as competências (competências) e as descobertas (descobertas) individuais; aprendem que a especificidade de cada pessoa traz benefícios e é valorizada pelo diálogo com outras pessoas. As ideias, as experiências e as reflexões que apresentamos neste trabalho propõem-se como um desafio para os educadores; esperamos que elas possam provocar pensamentos e práticas em torno da documentação dos grupos de aprendizagem, bem como da compreensão e do apoio a elas. O público que imaginamos é constituído por educadores, pesquisadores, pais e por todos aqueles que têm interesse pelas modalidades com que as crianças (e todos nós) aprendem em grupo. O livro apresenta o trabalho realizado em colaboração entre o Project Zero, um grupo de pesquisa independente instituído na Harvard Graduate School of Education, nos Estados Unidos, e as creches e escolas da infância municipais de Reggio Emilia. Em 1997, começamos essa colaboração com o desejo recíproco de explorar algumas problemáticas ligadas à natureza da aprendizagem de grupo e à maneira pela qual a atividade de documentação é capaz de dar visibilidade à aprendizagem. Ambas as instituições têm uma longa história na prática educativa, no trabalho de pesquisa e no apoio ao desenvolvimento das crianças. O livro propõe: 1. Delinear um quadro de referência conceitual que possa representar uma moldura de referência para as atividades de pesquisa e as práticas futuras em relação à aprendizagem de grupo. 2. Identificar sete conjuntos de proposições relativas à maneira pela qual os grupos de aprendizagem se formam, funcionam e revelam o conhecimento adquirido na primeira infância. 3. Fornecer exemplos de documentação de aprendizagens individuais nos grupos. 4. Ter um olhar mais aprofundado com relação à maneira como os adultos, os professores e os pais agem nos grupos de aprendizagem, tanto na qualidade de documentadores dos processos de aprendizagem das crianças quanto na qualidade de indivíduos que aprendem. 5. Inspirar-se no trabalho de pesquisa realizado por Reggio Emilia e pelo Project Zero, para, posteriormente, refletir sobre questões como: a relação existente entre contexto e aprendizagem em grupo; o papel da investigação e da documentação no ensino e na aprendizagem; e as ligações criadas entre os grupos de aprendizagem em diferentes contextos e faixas etárias. 6. Examinar o contexto cultural que permitiu o desenvolvimento dessas ideias em Reggio Emilia e nos Estados Unidos, além de identificar os chamados nós culturais – pressupostos, valores e convicções que influenciam as nossas reflexões e as imagens dos indivíduos que aprendem em grupo – que podem construir obstáculos à criação de grupos de aprendizagem. A estrutura do texto não é linear: procuramos envolver e provocar o pensamento do leitor pelo uso de múltiplas vozes, perspectivas e “linguagens”. As seções oferecidas pelo grupo de Reggio fazem uso tanto da linguagem verbal quanto da visual, procurando, dessa maneira, criar uma nova linguagem que, embora não usual, é especialmente eficaz para comunicar as evoluções do pensamento e das ações. As contribuições do Project Zero, em contrapartida, são, em sua maior parte, verbais. Apesar de, ao longo de vários capítulos, os autores serem mencionados, tanto individualmente como em grupos, o conjunto das ideias aqui descritas tem origem no contexto geral da pesquisa comum. Além disso, os leitores encontrarão, folheando os vários capítulos, uma série de pequenas histórias contadas por meio de imagens e de palavras. Esses contos, que têm as crianças como protagonistas, fornecem um tipo de documentação da aprendizagem individual e de grupo e representam uma espécie de fio condutor que uniu os dois grupos de pesquisa, enquanto trabalhavam para compartilhar perspectivas e experiências e para se entenderem mutuamente. O livro inicia-se com as apresentações de Howard Gardner e de Carla Rinaldi, que fornecem os antecedentes e as motivações que levaram a essa pesquisa. Seguem três seções importantes. Na primeira, são debatidas questões relativas à aprendizagem de grupo e à documentação, partindo-se de vários pontos de vista dos educadores de Reggio Emilia: os pedagogistas (coordenadores pedagógicos), os professores e os atelieristas. No capítulo intitulado “Creches e escolas da infância como lugares de cultura”, Carla Rinaldi examina as razões pelas quais os serviços para a primeira infância não devem ser considerados simplesmente como lugares destinados à transmissão de cultura, mas podem tornar-se ambientes em que se cria cultura e onde são construídos valores compartilhados. Posteriormente, Tiziana Filippini oferece suas reflexões sobre o significado e o valor da organização na experiência de Reggio, introduzindo o texto de Paola Strozzi, professora reggiana, com o título “Um dia na escola, um cotidiano extraordinário”. Strozzi fornece um contexto da vida cotidiana na escola que apoia a aprendizagem individual e de grupo, descrevendo as primeiras horas de um dia dentro da seção na Escola da Infância Diana. Em “Documentação e avaliação: qual a relação?”, Carla Rinaldi analisa o papel fundamental desses dois elementos nos processos de aprendizagem das crianças e delineia a maneira pela qual a documentação apoia a reflexão nos processos de aprendizagem individual e de grupo. Em “Documentar o documentador”, Laura Rubizzi, professora de Reggio Emilia, oferece ao leitor um destrinchamento dos aspectos mais sutis da documentação, mediante um “diário”, breve, mas detalhado, de um processo de documentação que envolve três educadores: uma professora experiente, uma atelierista experiente e uma jovem atelierista. Em “Conversa com um grupo de professores”, Amelia Gambetti enfatiza algumas das dificuldades que os professores de Reggio Emilia encontram quando, pela primeira vez, confrontam-se com a investigação pedagógica. Paola Cagliari e Claudia Giudici, em “A escola como lugar de aprendizagem de grupopara os pais”, procuram descrever brevemente as teorias e os significados que se situam nas relações escola-família, um fator qualitativo essencial para o projeto educativo dos serviços para a primeira infância de Reggio Emilia. Carla Rinaldi, em “A coragem da utopia”, encerra essa primeira parte com algumas reflexões sobre a escola como verdadeiro local de pesquisa, em que os professores e as crianças, igualmente, refletem a cada dia sobre as maneiras por meio das quais aprendem e constroem o conhecimento. Na segunda parte do livro, apresentamos as primeiras conclusões da nossa pesquisa coletiva referente aos grupos de aprendizagem na primeira infância com relação à experiência educativa de Reggio Emilia. Após uma nota de introdução relativa aos aspectos metodológicos da investigação pedagógica, apresentamos a documentação visual e narrativa das experiências realizadas nas Escolas da Infância Diana e La Villetta. “A curiosidade do entender”, uma contribuição da atelierista Vea Vecchi, e “O fax” e “A cidade de Reggio Emilia”, do atelierista Giovanni Piazza, respectivamente com as professoras Paola Barchi e Angela Barozzi, contam histórias de aprendizagens individuais e de grupo, enfatizando as diversas circunstâncias em que os grupos de aprendizagem se formam, funcionam e demonstram ter adquirido conhecimentos. A nossa esperança é de que os leitores sejam capazes de perceber o contexto do qual as nossas ideias surgem e influenciam os processos de reflexão dos educadores, levando-os a compartilhar as suas próprias expectativas. Em “Forma, função e compreensão nos grupos de aprendizagem”, a pesquisadora Mara Krechevsky, do Project Zero, descreve detalhadamente um conjunto de proposições nascidas da experiência amadurecida nas creches e nas escolas da infância de Reggio Emilia. As proposições foram sustentadas por uma série de documentações. Na terceira parte, atravessamos o oceano e enfatizamos os pontos de vista dos pesquisadores do Project Zero sobre a aprendizagem de grupo e a documentação, inspirando-nos nas visitas desse grupo de pesquisa às creches e às escolas da infância de Reggio Emilia e no estudo sobre teoria e prática educativa dessas escolas. A contribuição “Viagem através do Atlântico”, oferecida por Ben Mardell, evidencia diversos fatores culturais que devem ser levados em consideração, enquanto se procura reler algumas experiências educativas reggianas no contexto americano. Em “Quatro características dos grupos de aprendizagem”, Krechevsky e Mardell propõem uma definição dos grupos de aprendizagem e descrevem detalhadamente quatro características da aprendizagem de grupo. Nos capítulos posteriores, “Começar em casa a compreender a documentação” e “Fazer parte de algo maior”, Steve Seidel coloca à disposição as suas reflexões sobre a documentação, a avaliação e o papel do grupo no contexto educativo americano. Identifica tradições e convicções que são obstáculos para as tentativas americanas de abordagem à documentação e ao aprendizado de grupo, mas enfatiza também algumas ligações significativas entre as experiências e os princípios educativos americanos e de Reggio Emilia. Refletir sobre as convicções e tradições americanas à luz da experiência de Reggio gera a possibilidade de novas interpretações e imagens da aprendizagem individual e de grupo. Em “Quem pergunta não pode se satisfazer em esperar respostas”, Seidel reflete sobre o papel da pesquisa da ótica do ensino e da aprendizagem proposta neste volume. O livro se encerra com as reflexões de Howard Gardner e de Carla Rinaldi sobre o significado geral da pesquisa. Os apêndices fornecem ao leitor informações adicionais sobre os dois grupos de pesquisa, o Project Zero e a Reggio Children, e oferecem um olhar posterior sobre alguns aspectos da experiência das creches e das escolas da infância municipais de Reggio Emilia. Enfim, são fornecidas uma bibliografia e algumas notas. A bibliografia dos textos de Reggio Emilia visa ser uma espécie de “paisagem cultural” geral. As notas sobre o Project Zero fornecem as referências bibliográficas citadas nos respectivos textos. O livro se coloca como um desafio ao contexto tradicional de pesquisa, considerando as escolas como lugares dedicados à documentação da aprendizagem e do desenvolvimento humano. As perspectivas plurais apresentadas aqui oferecem diversas maneiras de compreender ideias que não poderiam ser representadas de um só ponto de vista ou expressas em uma só linguagem. O projeto e a forma gráfica do livro também refletem a natureza da nossa pesquisa, que se baseia no princípio de que a teoria pode tanto ser gerada por uma experiência educativa quanto contribuir para a sua realização, e que a documentação dos processos de aprendizagem é essencial para a atividade de pesquisa, assim como a presença de múltiplas perspectivas e linguagens. Em vez de uma série de normas, procuramos fornecer um conjunto de anotações de referência e de orientação. Tornando visível a aprendizagem individual e em grupo, esperamos contribuir com o esforço comum de pesquisa sobre atividades de ensino e de aprendizagem e para a criação do que Carla Rinaldi define como “uma cultura da pesquisa”. Apresentações Howard Gardner Ao longo da história, são poucas as escolas que alcançaram níveis de qualidade “lendários”. Entre elas, podem-se citar a Accademia di Platone; a Escola Yasnanya Polianya, instituída pelo Conde Leo Tolstoy nas suas propriedades; a Escola Laboratório da Universidade de Chicago, coordenada por John e Alice Dewey; e uma seleção de escolas contemporâneas inspiradas nos textos e no exemplo de Maria Montessori, Rudolf Steiner e Jean Piaget. Entre elas, não hesito em incluir as creches e escolas da infância municipais de Reggio Emilia, inspiradas no trabalho e pensamento de Loris Malaguzzi e desenvolvidas, ao longo dos anos, pelos seus colaboradores e colegas, muitos dos quais são autores dos textos deste livro. Educadores e estudiosos, provenientes de todas as partes do mundo, visitaram Reggio Emilia nos últimos trinta anos para observar de perto as instituições excepcionais para a infância que se desenvolveram nessa cidade. Certamente, uma parte desse interesse reside no contexto especial em que essas escolas se encontram – a região Emilia-Romagna constitui um exemplo autêntico de comunidade civil, um lugar conhecido pela sua riqueza cultural, pelo refinamento da arte culinária e pela eficiência das organizações sociais.1 Porém, a atração principal são as creches e as escolas de Reggio Emilia: lugares onde as crianças, na sua inteireza – mente, corpo e emoções –, são tratadas com grande seriedade e respeito, favorecendo, ao mesmo tempo, a experiência do prazer, da diversão, da beleza e da aprendizagem. Tomei conhecimento das creches e das escolas reggianas pela primeira vez no início dos anos 1980. Pouco tempo depois, minha esposa, Ellen Winner, e eu tivemos o privilégio de visitar as escolas e passamos alguns dias memoráveis com Loris Malaguzzi, Carla Rinaldi, Vea Vecchi, Amelia Gambetti, Tiziana Filippini e Lella Gandini. Desde então, sempre fiquei em contato com Reggio Emilia, contribuindo de diversas maneiras, com mostras e ensaios, contando sobre as creches e escolas municipais reggianas. Eu tinha a consciência de que, não obstante a minha admiração por elas não tivesse limites, o meu efetivo conhecimento sobre a sua abordagem pedagógica permanecia em um nível elementar. Graças à generosidade de um financiador, que deseja ficar anônimo, meus colegas do Project Zero e eu tivemos a oportunidade de remediar essa situação “desequilibrada”. Nos últimos anos, fiz diversas visitas breves a Reggio Emilia, li e refleti muito sobre a sua experiência. Minha colega Mara Krechevsky fez, com seus colaboradores, uma série de visitas aprofundadas a Reggio, e alguns componentes do grupo de pesquisa de Reggio retribuíram, visitando-nos em diversas ocasiões nos Estados Unidos. Ainda não podemos definirmo-nos como verdadeiros e próprios especialistas – a pesquisa confirma que, para se consolidarum resultado de maneira permanente, são necessários ao menos dez anos de prática cotidiana –; posso, contudo, afirmar, tanto a título pessoal como coletivo, que ultrapassamos o nível de conhecimento elementar. Para dar um contexto ao leitor, creio que seja oportuno fornecer algumas informações gerais sobre o Project Zero. A nossa organização foi instituída em 1967 pelo célebre filósofo Nelson Goodman. Naqueles tempos, uma década após o lançamento do satélite soviético Sputnik no espaço, os Estados Unidos investiam somas enormes na formação científica, matemática e técnica. Um financiador privado entrou em contato com a Harvard Graduate School of Education para saber se haveria interesse – obviamente em proporções mais reduzidas – por uma pesquisa em Educação Artística. Com uma boa intuição, o Presidente da Faculdade, Theodore Sizer, convidou Goodman para dirigir o projeto e, com a sua aspereza, Goodman batizou a organização recém-nascida como Project Zero, “já que não se sabe nada de sistemático no campo da Educação Artística”. Nos 34 anos transcorridos, o Project Zero tornou-se uma das instituições americanas de maior relevo, certamente uma das mais duradouras, no campo da pesquisa de base em âmbito cognitivo e pedagógico, com uma atenção contínua e específica para as artes. Nesse lapso de tempo, mais de cem pesquisadores levaram adiante centenas de estudos e projetos sobre esses temas. Entre as iniciativas mais conhecidas: a condução do “Project Intelligence” na Venezuela; a colaboração no “Arts PROPEL”, com o Educational Testing Service, um estudo coletivo de três anos sobre a educação artística na China e nos Estados Unidos; o “Project Spectrum”, que durou dez anos, com o objetivo de desenvolver os currículos e a avaliação nos programas para a primeira infância; e a iniciativa de longa data “Teaching for Understanding” (“Ensino para a Compreensão”), lançada no início dos anos 1990, nos Estados Unidos, projeto que, atualmente, goza de uma merecida fama em muitas partes do mundo. Os resultados das minhas pesquisas experimentais em Psicologia e Neuropsicologia evolutiva foram colhidos no início dos anos 1980, no livro Frames of Mind2 (traduzido e publicado na Itália com o título Formae Mentis), no qual desenvolvi a “teoria das inteligências múltiplas” (coincidentemente, o primeiro trabalho confiado à jovem pesquisadora Mara Krechevsky no âmbito do Project Zero foi justamente o de colaborar na revisão desse texto). Apresentada de maneira muito simplificada, essa teoria afirma que todos os seres humanos apresentam, pelo menos, oito ou nove tipos distintos de inteligência, que vão das bem notáveis inteligências linguísticas e lógico-matemáticas a inteligências normalmente menos levadas em consideração, como a inteligência musical, a interpessoal e a naturalista. Embora todos nós compartilhemos, como seres humanos, desses tipos de inteligência, somos muito diferentes uns dos outros – tanto por razões genéticas quanto ambientais – no nosso perfil particular de inteligências, em cada momento histórico específico. Em educação, o fato de apresentarmos diferentes tipos de inteligência pode ser ignorado ou tornar-se um recurso. Muitas e diferentes pesquisas no campo educativo, inspiradas também na “teoria das inteligências múltiplas”, frequentemente têm indagado sobre a maneira pela qual a presença desse patrimônio individual de inteligências pode favorecer abordagens mais personalizadas ao currículo, à educação e à avaliação.3 notas musicais Seguindo a evolução da “teoria das inteligências múltiplas”, o trabalho pedagógico do meu grupo de pesquisa dentro do Project Zero seguiu duas linhas principais. Uma parte do trabalho focou o melhor método para avaliar o aprendizado do estudante, com atenção especial à maneira com que se pode observar as inteligências múltiplas em ação. O “Project Spectrum” e o “Arts PROPEL” representam dois momentos de pesquisa ligados a essa perspectiva teórica. A outra parte do trabalho focalizou as modalidades para a obtenção, no estudo das diversas disciplinas, de uma compreensão melhor. O nosso ponto de vista sobre a compreensão vai além da simples memorização de fatos e de conceitos, indo em direção à possibilidade de desenvolvimento de conhecimento em situações novas. No nosso ponto de vista, compreender significa explorar a própria variedade de inteligências para mostrar a si mesmo – e aos outros – como o que foi aprendido pode ser utilizado. A nossa pesquisa sobre o tema do “ensinar para a compreensão” foi o terreno de cultivo principal para o desenvolvimento dessas ideias. Fixei-me nessas três linhas de pesquisa – as inteligências múltiplas, os novos critérios de avaliação, a educação para a compreensão – não para exibir o meu curriculum vitae, mas, pelo contrário, para sugerir áreas de pesquisa nas quais o nosso trabalho com o Project Zero coincidisse com temáticas que interessassem a Reggio Emilia há muito tempo. Como ficará evidente nas páginas seguintes, os nossos colegas de Reggio Emilia têm profunda consciência das muitas maneiras pelas quais as crianças organizam e dão um sentido à experiência, sem se limitarem a oito ou nove modalidades de representação: é deles a teoria das “cem linguagens das crianças”. Os pedagogistas de Reggio Emilia nunca se contentaram com modelos previsíveis de aprendizagem. Ao desenvolver corajosamente as enormes potencialidades perceptivas e cognitivas das crianças e o forte estímulo delas à aprendizagem, os pedagogistas as ajudaram a explorar profundamente as áreas que interessam a elas. Ao mesmo tempo, produziram resultados importantes no campo da aprendizagem, e tais resultados ampliaram concretamente, em nível internacional, as expectativas sobre as potencialidades e as competências das crianças. Enfim, a documentação exaustiva sobre as modalidades de aprendizagem, que é elemento de base do projeto pedagógico de Reggio Emilia, representa uma abordagem estimulante para a avaliação, cujas potencialidades poderão encontrar desenvolvimentos posteriores internacionalmente. O título Tornando visível a aprendizagem é um jogo de palavras com três níveis. Antes de tudo, deseja-se enfatizar o grande interesse de Reggio pelas linguagens visuais – aquilo que se pode ver, compreender e comunicar aos outros por meio de desenhos. Em segundo lugar, revela o investimento na documentação como instrumento potente para comunicar, a todas as partes interessadas, o que foi aprendido ao longo de uma experiência significativa. Por fim, e aqui falo a título pessoal, representa o nosso melhor esforço para descrever o quanto aprendemos com essa colaboração. Interpretando também o pensamento dos meus colegas do Project Zero, estou feliz em afirmar que aprendemos muito e podemos aprender muito mais. Esperamos que alguns desses aprendizados sejam visíveis – audíveis e palpáveis – nas páginas que se seguem. “Acrescento que somos provenientes de uma cultura e estamos imersos na história, nas doutrinas e nos fatos econômicos, científicos e humanos, com os quais sempre foi aberta uma negociação e uma sobrevivência difícil e fatigante.” Loris Malaguzzi Carla Rinaldi Acho que, nessas palavras do professor Malaguzzi, fundador e mentor da experiência das creches e escolas municipais de Reggio Emilia, esteja não apenas uma das mais importantes chaves de interpretação para quem quer compreender a experiência das creches e escolas de Reggio Emilia, mas uma indicação fundamental para quem é chamado a dar continuidade à experiência. Não somente isso, mas também penso que esse conceito de “negociação com a realidade histórica, política, social e cultural” seja a ação primária que deve caracterizar a própria identidade da escola. Tanto em Reggio como em qualquer outro lugar. Para nós, foi e é um compromisso cotidiano e difícil, que nos impõe uma leitura atenta e constante dos fenômenos que perpassam a escola e a sociedade, não só a italiana. Tudo isso nos leva, inevitavelmente, a perguntarmo-nos se, nas nossas escolas e nos outros lugares educativos, estamos nos ocupandosuficientemente de como educar uma nova geração de crianças e de jovens capazes de enfrentar as oportunidades que terão pela frente, não somente com o uso da tecnologia, mas, também, com o uso da mente e das sensibilidades. Sabemos que, para atuar nessa direção, precisaremos não só ensinar capacidades técnicas e intelectuais, mas apoiar as crianças e os jovens para que tenham maior confiança em si mesmos, para que aprendam a colaborar, desde pequenos, com os próprios colegas, para que caminhem, com maior liberdade e imaginação, em direção ao conhecimento, para serem intérpretes e criadores dele. Mesmo sabendo que o nosso esforço em todos esses anos tinha caminhado nessa direção, em certo ponto da nossa história, sentimos a necessidade de um aprofundamento. Advertimos muitas vezes sobre a necessidade de compreender mais (e não exclusivamente) sobre a própria natureza da aprendizagem no âmbito escolar, colocando-o em maior correlação com a construção da identidade pessoal e da relação com os outros. Estávamos muito convictos de que a individualidade e a intersubjetividade não estão em oposição, pois são complementares, mas não éramos capazes de documentar aquela convicção com sensibilidade e clareza expositiva suficientes. Quando se observam as relações entre as crianças pequenas, a sensibilidade à presença do outro é tão forte que se torna impressionante: com Francisco Varela, podemos dizer que a pergunta pertinente não é como podemos chegar a perceber a alteridade, o outro, mas como conseguimos nos perceber separados do outro. Sentíamos que tínhamos uma estratégia nas mãos, aquela conhecida como documentação, que poderia ajudar a confirmar e a aprofundar essas nossas declarações. A própria documentação poderia ter se tornado parte de novas modalidades de aprendizagem. Sabíamos que esse discurso do aprender com os outros é um assunto importante, não somente no plano da investigação pedagógica, psicológica e epistemológica, mas, também (e, sobretudo), pelos seus significados culturais e políticos. Saber trabalhar em grupo, apreciando as suas qualidades e o seu valor, e conhecendo as suas dinâmicas, complexidades e vantagens, é uma consciência indispensável para quem quer participar, pessoal e profissionalmente, da construção da mudança e do futuro. Estávamos nesse nível de elaboração e de problematização quando chegou até nós a proposta de uma pesquisa comum com o Project Zero, feita pelo professor Howard Gardner. Acolhemos a proposta com grande prazer. Era uma adesão consciente: uma longa história nos unia. Conhecíamos o professor Gardner e o Project Zero há, aproximadamente, vinte anos. Nós os estimávamos e os apreciávamos muito por muitas razões que o tempo nos permitiu aprofundar. Lembro-me, ainda hoje, da alegria que sentimos quando o professor Gardner aceitou vir a Reggio para uma conferência sobre o seu novo livro, na época, ainda não editado em italiano, Frames of Mind (depois traduzido e publicado com o título Formae Mentis). Tinha nos falado demasiada e longamente sobre ele uma cara amiga e colega, Lella Gandini, umas das “pioneiras” que ajudaram, de maneira fundamental, o nosso diálogo com os Estados Unidos. Conhecíamos bem e profundamente muita parte da literatura psicológica e pedagógica desse país. O pensamento de muitos daqueles “gigantes”, como John Dewey, Jerome Bruner, David Hawkins, sobre os quais a pesquisa pedagógica e psicológica do mundo todo repousa, foi interlocutor fundamental (e, por sorte, ainda é até hoje) do pensamento do professor Loris Malaguzzi e dos educadores reggianos. Conhecíamos alguns dos textos de Nelson Goodman, da ideia provocadora que estava por trás da sigla PZ, um pouco enigmática em uma primeira abordagem, conhecida como Project Zero. Com a vinda do professor Gardner, tínhamos, pela primeira vez, a oportunidade de aprofundar o conhecimento do projeto com um dos seus autores e intérpretes. Mas, sobretudo, teríamos a ocasião de entender melhor os fundamentos dessa nova teoria das “inteligências múltiplas”. Mais que um encontro, foi um pouco como um reencontro, companheiros de viagem, ao longo de um caminho que, ainda com grandes diferenças, mostrava alguns surpreendentes aspectos comuns. Naquele período, no início dos anos 1980, o professor Malaguzzi estava definindo e enriquecendo a teoria das cem linguagens, que caracterizou a experiência das escolas reggianas. Com ele, estávamos cuidando e preparando a mostra que levava esse título. Surpreendeu-nos, mas nos agradou e entusiasmou, a ideia de que, em outro país, em outra cultura, outro autor elaborasse uma teoria que falava “no plural”. Não mais uma linguagem (a verbal e escrita), dizia Malaguzzi, mas cem linguagens. Não mais uma inteligência, dizia Gardner, mas pelo menos oito ou nove: além do número, a pluralidade, a possibilidade, a riqueza, a expansão, o diálogo. E a criança? Competente, para ambos. Uma criança a quem era necessário oferecer muitas oportunidades para que a individualidade, a subjetividade de cada um encontrasse possibilidades para expressar-se, enriquecer-se, desenvolver-se. A escola era, portanto, um lugar importante, determinante, para dar a cada um a possibilidade de ser si mesmo, na sua rica originalidade e inteireza. Muitas eram, também, as divergências, mas eram ricas e estimulantes. Aliás, ainda mais ricas e estimulantes, a ponto de nos levar a continuar o diálogo, a comparar as divergências, a torná-las ainda mais atraentes. E, depois, os encontros com a equipe do Project Zero – Mara Krechevsky, Steve Seidel, Janet Stork, Ben Mardell e os demais. Tive a sorte de participar de um Summer Institute deles e de aprofundar o conhecimento da sua teoria, sobretudo, de verificar seu profissionalismo e seu compromisso político. O discurso sobre a arte (“Arts PROPEL”) e a avaliação me encantaram: compartilho plenamente dessas elaborações muito corajosas e ainda atuais. Modificar a abordagem à arte e, principalmente, à avaliação naquele país (como em outros), em que as provas ainda imperam e a arte é, como infelizmente acontece na Itália, um elemento complementar, pareceu-me um dos discursos políticos mais explícitos e eficazes de que eu já tivesse ouvido falar na realidade dos Estados Unidos. Frequentemente, com os meus colegas, discutia sobre tudo isso e, quando a proposta de colaboração foi submetida a exame pela equipe de pedagogistas, o consentimento foi unânime. Assim como foi unânime o consentimento das escolas interessadas, Diana e La Villetta: para quem trabalha todos os dias com as crianças e quer refletir e dialogar com outros pontos de vista, não somente para entender o que aconteceu, mas, também, para fazer acontecer algo de novo; para quem sabe que o próprio profissionalismo se coloca em jogo no confronto e diálogo, ocasiões como essas são desejadas e, mais que nunca, acolhidas. Quando Mara Krechevsky veio a Reggio pela primeira vez para definir melhor o projeto de pesquisa, foi relativamente fácil e rápido definir “o que fazer”. notas musicais A hipótese, compartilhada com os colegas do Project Zero, era a de que a documentação não só poderia permitir conhecer e monitorar as dinâmicas da aprendizagem individual e do grupo, graças à visibilidade conseguida por meio dos documentos de tipo verbal, gráfico e visual, mas que a própria documentação poderia tornar-se um instrumento favorável à aprendizagem tanto individual quanto do grupo. Caminhava-se, assim, delineando o perfil de uma espécie de “epistemologia” do grupo: o grupo como “sistema de aprendizagem”, que se conecta de maneira interativa também graças às reflexões estimuladas pelo material de documentação. Teve origem, então, assim, um percurso de muita dedicação, que exigiu muitos deslocamentos, tanto físicos quanto mentais e culturais, mas, certamente, de uma riqueza que se mostra hoje, para quem a viveu, bastante extraordinária. Esperamos que essas emoções e paixões sejam encontradas pelo leitor que quiser compartilhar conosco os resultados de termos sido “grupo de aprendizagem”. A mão justa ProtagonistasLorenzo, 19 meses Matilde, 20 meses Creche Bellelli Professora Daniela Chiesi Fotografia Raffaella Bonetti Texto Tiziana Filippini Matilde e Lorenzo estão fora, no parque da escola, com outros amigos. Na creche, eles passaram 10 meses juntos. Temos a “sorte” de registrar e de tornar visível um episódio que poderia ser confundido em situações de ordinária cotidianidade. Pareceu-nos um episódio importante, capaz de pôr em xeque preconceitos, estereótipos que dão trabalho para devolver à criança os talentos que tem, entre os quais uma capacidade precoce e insuspeitável de avaliar situações, objetos e competências. A sequência mostrada testemunha como crianças pequenas são capazes de ler os problemas colocados pelo contexto, de formular hipóteses, previsões, mas, sobretudo, de auto-organizar-se para tentar chegar a soluções coerentes. Saber escolher com pertinência a maneira como resolver um problema, ainda que pequeno, e saber fazer isso com a solidariedade e a alegria de um amigo, pode-nos levar a pensar que a criança não só muito precocemente mede as relações entre as coisas, mas que já tem uma capacidade manifestada de construir relações significativas com os amigos da mesma idade. Uma pedra, uma preciosa pedra, cúmplice de Matilde nas suas brincadeiras e descobertas, acaba indo parar, involuntariamente, em um vão tão estreito que é impossível para ela enfiar a mão para recuperá-la. Impossível, se a mão for gordinha, como a de Matilde. Ela, então, formula uma rápida avaliação e uma hipótese. Um menino, aliás, um amigo menor, poderia ajudar. Lorenzo parece mesmo “adequado”. Não deve ser difícil convencê-lo. Um abraço pode bastar? Parece mesmo que sim. Lorenzo, de fato, acompanha a amiga, com quem compartilhou muitas brincadeiras e aventuras, e, juntos, reavaliam o problema. Lorenzo poderia conseguir. Pode-se tentar. Sob o olhar atento e agradecido de Matilde, Lorenzo coloca a mão na fissura. A avaliação de Matilde estava certa: a mão de Lorenzo é realmente menor que a sua. A mão de Lorenzo é uma mão amiga, familiar, bem conhecida por Matilde, que percebeu a diferença e sabe para quem e quando pedir ajuda para a solução de um problema. Conseguiu! Eis a pedra. A satisfação é grande e Lorenzo mostra com orgulho para Matilde a pedra “reencontrada”, satisfeito por ter correspondido às suas expectativas. E Matilde... ...mesmo contando com as capacidades de Lorenzo, não deixa de fazer um controle cuidadoso, quase aumentando o valor da ação. Sim, a pedra é essa mesma. Mas como aconteceu? Esse vão é tão pequeno... O destino da pedrinha parece não ser particularmente importante e, de mãos dadas, distanciam-se, prontos para novos desafios que reforçarão sentimentos de estima, de colaboração e de prováveis amizades. Creches e escolas da infância como lugares de cultura Carla Rinaldi Eu gostaria de iniciar esta minha contribuição com uma declaração que considero fundamental, não somente para a compreensão deste texto: a escola, ainda que da criança pequena, também é lugar educativo, de educação. Lugar onde se educa e nos educamos; lugar de transmissão de valores e saberes, mas, sobretudo, lugar de construção de valores e saberes. É lugar cultural, isto é, lugar onde se elabora cultura pessoal e coletiva, que influencia o contexto de valor social e político e é influenciado por ele, em uma relação de profunda e autêntica reciprocidade. Essa é uma definição que pertence à história e à identidade da experiência reggiana e que adquire uma atualidade sua, no interior do debate, sobre a definição da identidade, do papel da escola, onde se ama privilegiar o termo formação. As razões? Difíceis de conhecer. Pode-se supor que o termo formação seja identificado por ser o mais capaz de colher os aspectos subjetivos, auto-construtivos; ou, talvez, porque esteja mais ligado – diz outro – à formação profissional, objetivo bastante importante, mas, certamente, não o único, de um percurso escolar. Ou talvez porque a palavra formação parece mais neutra, mais destacada no que diz respeito à problemática da educação em referência à questão dos valores, tema quente e escaldante neste nosso tempo. Substancialmente, o indivíduo é formado para depois se orientar, escolher os valores que sustentarão as suas relações e as relações com a comunidade em que vive. O meu desejo pessoal é que o debate continue, mas, principalmente, que os valores expressos pelo termo educação possam ficar fortemente ligados ao conceito e à identidade de escola. Não sou e não somos a favor da escola da instrução, nem a favor da escola da formação, mas a favor da escola da educação. O que isso significa? Que a escola é, para nós, um lugar onde, acima de tudo, transmitem-se, debatem-se, criam-se valores. O termo educação está, portanto, fortemente relacionado ao termo valor, em que educar é também, em alguns aspectos, acima de tudo, educar os valores intrínsecos em cada indivíduo e em cada cultura, para torná-los extrínsecos, visíveis, conscientes e compartilháveis. O que é um valor? Um termo decididamente polissêmico, um dos mais polissêmicos, assim como educação, formação, subjetividade são termos contextuais, definíveis somente em relação ao contexto cultural, político e histórico. Uma primeira consideração é que o termo valor parece não vir do âmbito filosófico, mas econômico e cultural; uma possível definição é esta: “Os valores são os ideais pelos quais o homem aspira na sua vida”, que lhe servem de referência nos julgamentos e na conduta e com os quais ele adéqua (ou não) as suas relações com o grupo social de referência (comunidade, sociedade, cultura). Os valores definem as culturas e estão entre os fundamentos das sociedades. Outros definem os valores como o que torna o ser humano mais humano. Belas definições, intuitivamente belas. Mas o que é, quem é um ser humano “mais humano”? Isso pressupõe uma pergunta anterior, que é: “Quem é um ser humano?”. Uma pergunta com a qual temos familiaridade, já que a colocamos como fundamento do nosso fazer pedagógico (ainda que com uma modificação substancial), quando nos perguntamos: “Qual imagem de humanidade e de criança nós temos?”. Os valores são, então, relativos e relacionados à cultura de pertencimento: eles a deter minam e são determinados por ela. Essa aparente digressão é, na realidade, fundamental para uma instituição que quer se definir como educativa e, certamente, quando falarmos de avaliação, a questão dos valores voltará a ser objeto de reflexão e de discussão. Mas eu gostaria de chamar a atenção de vocês para alguns valores que estruturaram a nossa experiência e que, por ela, foram expressos e inovados. O valor da subjetividade como inteireza e integridade (valor holístico). Escolhi esse termo entre muitos possíveis (como pessoa e indivíduo), já que, com relação aos outros dois, parece-me que possa evidenciar melhor os aspectos de correlacionalidade e reflexionalidade que contribuem para a construção do sujeito. O sujeito é, portanto, uma construção (autoconstrução e socioconstrução) que se define em um contexto e em uma cultura. Os estudos recentes sobre o cérebro evidenciaram, digamos que de maneira pouco clamorosa, a unicidade e a irrepetibilidade de cada indivíduo e da sua construção como sujeito; sabemos muito sobre o seu definir-se em relação ao contexto ambiental e à forte influência das qualidades interacionais no destino de cada um de nós (principalmente nos primeiros anos de vida). As implicações de ordem metodológica desse valor são bem reconhecíveis nas nossas estratégias cotidianas – com base na observação/documentação, no pequeno grupo, na organização do espaço, na construção dos miniateliês etc. Mas eu gostaria de enfatizar, uma vez mais, o alcance do valor da subjetividade assim como nós a descrevemos. A relação entre subjetividade e intersubjetividade é, para mim, fundamental, não somente no plano cognitivo (e psicopedagógico), mas, principalmente, político e cultural. A questão me parece imprescindível para o nosso próprio futuro de humanidade:a relação entre o indivíduo e o outro, entre si e o outro por si, é questão-chave, na minha opinião, para os nossos futuros. Escolher se a minha construção de sujeito é independente dos outros ou existe com os outros e por meio dos outros, não é só resolver as antigas diatribes pedagógicas e psicológicas, mas escolher entre imagens de homem e de humanidade. É uma questão de escolhas políticas e econômicas que podem influenciar não só todo o sistema escolar, mas também o social. São passagens, em que se adverte sobre o quanto as ciências e, em primeiro lugar, a pedagogia, não são neutras, mas parciais. E a nossa – a reggiana – é uma pedagogia parcial, isto é, que participa de alguns valores. Esse valor da subjetividade, com as respectivas afirmações sobre a unicidade e irrepetibilidade de cada indivíduo, está fortemente conectado com o valor da diferença. Diferença de sexo, de raça, de cultura, de religião. Diferença porque somos indivíduos, porque somos todos diferentes. Mas a diferença por si só não é um valor; pode tornar-se, caso consigamos criar um contexto, uma cultura, uma estratégia, uma escola das diferenças. A diferença é incômoda, cansativa: propõe alteridade, mas também estranheza. Às vezes é dolorosa, sempre incômoda. Somos mais atraídos pela igualdade, pelo que nos torna iguais. Mas esse é um grande risco e, por isso, as interrogações que se abrem são de alcance enorme. • O que fazemos com as diferenças? • Como evitar os grandes riscos da homogeneização (padronização)? • Todas as diferenças são aceitáveis? Se não, quais o são? • Qual é a finalidade de um projeto educativo que quer acolher as diferenças? Padronizá-las? • Qual conceito de igualdade estamos elaborando? • A finalidade é tornar todos iguais ou consentir a todos a oportunidade para desenvolver, interagindo com os outros, a própria subjetividade (e, portanto, diferença), que é dada por elementos comuns e por aspectos (elementos) disformes? Trata-se de uma questão de grande relevo pedagógico e político. É um risco que estamos correndo não só como experiência educativa, mas, também, como cultura ocidental, que está abrindo fenômenos migratórios de massa (migração de homens, raças, culturas, religiões). metamorfose de um par de tesouras A globalização, favorecida pelos extraordinários sistemas de comunicação (internet, televisão etc.), pode gerar um fenômeno de massa de padronização e favorecer a construção de estereótipos culturais; nesse sentido, não perceber isso é o dano que a escola pode produzir, favorecendo uma “cultura da normalidade”, isto é, criando aquela necessidade de “normalidade”, ou seja, de “norma” que se respira no ar. A única perspectiva que, para mim, pode fazer da diferença um valor é a da integração. Atenção, integração, não integrismo ou integralismo. Não em direção a uma unidade harmônica que frequentemente indica uma vontade autoritária, que impõe uma visão única, um pensamento único, uma homogeneidade sem dúvidas nem derrotas. A integração à qual me refiro se fundamenta na multiplicidade, e não pretende encontrar somente uma realidade composta por diversas visões. O risco que corremos, também no nosso país, está representado pelos integralismos e pelos fundamentalismos. Um pouco instintivamente e sem um esforço educativo, fomos levados a reconhecer o outro por nós, mas muito cedo (em relação, sobretudo, a certas alteridades “mais outras”, mais estranhas) elaboramos o conceito de “outro” que é “menos outro”. E esse comportamento pode emergir em nós, em cada um de nós, até em quem se considera “acima de qualquer suspeita”. A palavra integração, de fato, é uma palavra polissêmica e, com frequência, no uso cotidiano, pode ter significados e políticas muito próximos ao termo conformismo (por exemplo, pedir para todas as crianças fazerem as mesmas coisas por um princípio de igualdade...). Para nos educarmos, devemos entender as diferenças e não ter a pretensão de cancelá-las. Isso significa entrar com delicadeza no contexto e na história de cada um. Escutar as diferenças (Pedagogia da Escuta), mas também escutar e aceitar a nossa mudança, o que é gerado da relação, ou melhor, da interação. Significa renunciar às verdades que são propostas como absolutas, procurar a dúvida e exaltar a negociação como estratégia do possível. Significa, ou melhor, pode significar, maiores possibilidades de mudança oferecidas a nós mesmos, sem, por isso, sentirmo-nos fragmentados. É nessa definição do valor da diferença que se encontra uma definição mais rica e contemporânea: o valor da participação, ou melhor, a participação como valor. Sempre dissemos: a participação, o sentir-se parte e participante, não é limitável somente dentro das famílias (mesmo sendo processo fundamental), mas é um valor e uma qualidade da escola toda, e deve prever espaços, linguagens e, de modo geral, organizações e estratégias que a tornam possível (assim como aconteceu e acontece na nossa experiência). A participação pede que as finalidades educativas e pedagógicas sejam declaradas, mas, ao mesmo tempo, precisa de imprecisão e de espaços de possibilidade. Essas reflexões nos levam a declarar um outro valor que nos pertence, a saber, o de democracia, que já se expressa no conceito de participação. Mais uma vez, a relação entre o sujeito e a comunidade da qual ele faz parte pode ser regulada e orientada para a exaltar os protagonistas de tal comunidade ou as delegações que a visitam. E é o debate que atravessa o nosso país e todos nós. Um breve sinal, para não esquecer nunca que a escola está estritamente relacionada à sociedade em que vive. A questão é, mais uma vez, se a escola se limita a transmitir cultura ou pode ser, como nós aspiramos, um lugar de construção de cultura e de democracia em ação. Eu gostaria, ainda, de citar um valor, entre muitos, que talvez seja discutível assumir como tal, mas que acredito ser fundamental para nós e para alguns aspectos que fundamentam a nossa experiência: o valor da aprendizagem. A aprendizagem é, e pode ser, um valor se é aceito que a aprendizagem – decidida por cada sujeito em tempos e maneiras não programáveis – é um “lugar de relação” que nos faz refletir sobre a educação e nos leva a procurar novas vias na educação e na formação. Quer dizer orientar-se para acolher, na práxis da relação educativa, a complexidade, a conflitualidade, a imprevisibilidade da aprendizagem humana, onde quer que se desenvolva, dentro e fora dos contextos institucionais que se dedicam à formação e à educação. Toda a escola italiana hoje – com fadigas, contradições e muitos riscos – está envolvida nesse processo evolutivo que transforma uma escola de ensino em uma escola de aprendizagem. A aprendizagem é o surgir daquilo que antes não havia, é uma pesquisa do único, do Outro, dos Outros que se encontram em volta de um assunto. O educar se modifica em relação ao aprender. Significa colocar-se perante o mundo, criar um evento, habitar as diferentes situações. Significa educar-se. Quem participa de um percurso educativo, de fato, coloca em jogo o próprio crescimento e o faz com base nas próprias expectativas e do próprio projeto. Há uma recursividade relacional entre quem educa e quem é educado, entre quem aprende e quem ensina. Há participação, paixão, compaixão, emoção. Há estética. Há uma relação estética, assim como denominava Gregory Bateson. A estética como qualidade do conhecimento (a estética como valor), e poderia continuar: valor da mudança, do vir a ser etc. E, ainda, o valor da brincadeira, da diversão, das emoções, dos sentimentos reconhecidos como elementos essenciais para cada processo autêntico educativo e de conhecimento. O conhecimento torna-se, então, valor pela sua força de conduzir a uma síntese do indivíduo e do seu contexto, dentro de uma relação afetuosa, emocionada, curiosa, irônica entre quem aprende e o que é aprendido. O ato de conhecer torna-se, para cada um de nós, um ato criativo, que envolve assumir responsabilidade, autonomia e liberdade. O conhecimento, ou melhor,o saber subjetivo, torna-se responsabilidade individual e, para se realizar, precisa de otimismo e de futuro. Mas, então, o que é formação para as professoras? É aprender: a profissão das professoras é aprender por que são professoras. É estar longe do equilíbrio, do já decidido, do pré-constituído, do certo. É estar próximo do entrelaçamento entre objetos e pensamentos, fazer e refletir, teoria e práxis, emoções e conhecimentos. Talvez a única via seja a de procurar, sem nunca encontrar, o equilíbrio entre regras, limites (alguns indispensáveis) e emoções, a paixão do conhecimento. Uma formação para as professoras e as crianças que recuse a ideia de formação como “modelação”, como passagem de estados, de “maneiras de ser” para uma outra “maneira de ser”. Uma formação capaz de pensar e agir com referência ao vir a ser, à mudança. Pensa-se como uma atividade, um processo permanente, uma qualidade invasiva que a instituição escolar deve ter e permitir a todos os sujeitos protagonistas. Formação para a mudança, formação como mudança. Em um esforço em coro, participativo, consciente das normas e dos próprios limites da instituição educativa. Normas de horários, de espaços, de recursos, em um esforço que não delega a outros o que é próprio da formação, que é, acima de tudo, autoformação e formação em grupo. A instituição escolar surge, por isso, como o lugar privilegiado da formação; não único, mas privilegiado. Deve superar o conflito entre expectativas de pertencimento (senso de pertencimento) e exigências de autonomia, de autoafirmação que cada um de nós vive. Essas duas atitudes, aparentemente contraditórias e ambíguas, podem ser extremamente geradoras; a formação (a autoatualização semanal) pode ser lugar no qual o outro se propõe como oportunidade e como ameaça, mas em que a negociação e a cooperação podem constituir-se como êxito. É por isso que os locais primários da formação, em Reggio Emilia, foram identificados nas próprias escolas e nas autoatualizações. Não como “lugares” em que se conta aos outros o que foi aprendido, mas como lugares em que se reflete sobre o que aconteceu no interior (e no exterior) da escola, para fazer uma autoavaliação e avaliar a qualidade e a quantidade das oportunidades de aprendizagem que oferecemos às crianças, às famílias e às próprias professoras (oportunidades de aprendizagem e compartilhamento dos valores). Em direção a qual cultura nos orientaremos? Para qual cultura trabalhar? É uma pergunta fundamental para todos, principalmente para quem atua no campo educacional. • Onde está o futuro? • Onde mora o novo? • Qual futuro podemos construir juntos? Estamos, como dizíamos antes, em uma fase de crescente globalização, inundados por informações, informados sobre eventos planetários em tempo real; espectadores, mais que autores, de uma revolução técnica e científica extraordinária, que está mudando a qualidade das relações humanas, a definição da identidade pessoal e a construção dos processos cognitivos. Novas elaborações serão produzidas sobre o conceito de privacidade, de ética, de espaço e de tempo. O futuro, o novo estão, então, na explosão midiática? Não creio, ou melhor, não somente. A revolução midiática será um dos futuros possíveis se soubermos produzir uma outra “revolução”: o novo é e será local em que os indivíduos derrubam uma barreira rígida de cultura, de classe, de etnia e de censo. Encontraremos o novo e o futuro em que serão experimentadas novas formas de convivência, de participação e de coparticipação humana, de hibridação dos códigos, das emoções, gerando, assim, novas linguagens: linguagens planetárias. Os jovens estão fazendo isso, sendo grandes precursores e autores dessas hibridações: na música, na moda, no design, criam novas formas e novas liberdades. Estão entre os mais capazes e sensíveis para encontrar essas raízes comuns dos diversos universos de pensamento. É necessário aprender essa unidade na diversidade e essa diversidade na unidade; é necessário o envolvimento de cada diversidade no “pluriverso” do planeta. Pluriverso cultural e linguístico. “As cem linguagens das crianças” parecem, hoje mais que nunca, uma instituição extraordinária e uma obrigação para todos nós. Como tornar as linguagens realmente cêntuplas em um “projeto de aliança” com esse pluriverso cultural que nos circunda? cambalhota O que pode nos ajudar é a consciência já madura da incompletude de cada tradição e de cada um de nós (o valor da incompletude). A construção do si, do sujeito, torna-se sempre mais definida como um ponto de intersecção e de identidade múltiplas. O sujeito exprimirá, então, sempre mais uma identidade intercultural, intersubjetiva. As quantidades e as qualidades dos encontros revelar-se-ão sempre mais importantes. A educação intercultural representa, portanto, uma das orientações essenciais para definir a qualidade do nosso futuro, tanto é que a interação entre culturas não é só um problema da política, mas é, acima de tudo, um problema cultural e cognitivo. A educação cultural não é uma disciplina à parte, ou a ilustração, ainda que importante, de usos, costumes, religiões de um país. É isso também, mas não unicamente. É, acima de tudo, um estilo de pensamento educativo-relacional. É o que nós chamamos de “pensamento projetual”, o pensamento que acolhe o outro, que retém a dúvida e a consciência do erro e da incerteza. É o entrelaçamento entre vários códigos culturais, linguagens; é o contágio, a hibridação: joga-se com fronteiras, não como regiões marginais (centro versus fronteira), mas como lugares geradores do novo, que nasce do contato e do intercâmbio. O novo parece surgir, então, aqui, ao se promover um processo e um estilo educativo permeados pelos valores da dignidade humana, da participação e da liberdade. virar estrela Créditos Apresentação
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