Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Tecnicamente chamada de ENCEFALOPATIA CRÔNICA NÃO PROGRESSIVA, é definida: “um grupo de distúrbios do movimento e da postura que causa limitação nas atividades e é atribuído a distúrbios não progressivos que ocorreram no desenvolvimento do cérebro infantil”. Nem sempre é uma lesão no cérebro, pode afetar outras estruturas encefálicas, como o cerebelo. A PARALISA CEREBRAL propriamente dita é uma lesão persistente no encéfalo imaturo resultante de lesão difusa e localizada, que ocorre até os 2 primeiros anos de vida. É irreversível e não progressiva, mas pode haver mudanças clínicas promissoras. É comum crises convulsivas, problemas musculoesqueléticos secundários, contraturas musculares e tendíneas, rigidez articular, deslocamento do quadril e deformidade da coluna. Essas alterações estão associadas ao crescimento físico e à espasticidade muscular, além disso provocam mudanças qualitativas no movimento, postura e tônus muscular. FISIOPATOLOGIA E ETIOLOGIA Quando algum fator agressor ataca o SN, antes durante ou após o nascimento, o funcionamento das áreas atingidas é prejudicado e, a depender, podem ser permanentes, caracterizando-se por uma lesão não progressiva. 70 a 80% dos casos são no pré-natal e a prematuridade é a causa de 25% das crianças com PC. As causas podem ser congênitas, genéticas, inflamatórias, infecciosas, anóxicas, traumáticas e metabólicas: → PRÉ-NATAL: Algumas doenças da gestante podem comprometer a formação das estruturas neurológicas do feto dentro do útero, são elas: rubéola, citomegalovírus, toxoplasmose, herpes, sífilis congênita, algumas medicações específicas, abuso de álcool e drogas ilícitas e traumatismos abdominais graves, doenças da tireoide, alterações genéticas, desprendimento prematuro da placenta, entre outros. → PERINATAL: qualquer situação que provoque sofrimento fetal durante o parto pode causar a paralisia. As situações mais comuns são: leucomalácia periventricular, partos distócicos, prematuridade e baixo peso, hipóxia e asfixia neonatal, hemorragia intracraniana, infecções contraídas no canal do parto, fórceps, icterícia grave, entre outros. → PÓS-NATAL: diagnóstico realizado da segunda semana de vida até os dois anos. Nesse período, as causas da PC podem ser: meningite, encefalite viral, hidrocefalia, traumatismos cranioencefálicos (quedas, acidentes automobilísticos e caseiros, atropelamentos e espancamento), oclusão de veias e artérias encefálicas, quase afogamentos, lesões cirúrgicas, tumores entre outros. DIAGNÓSTICO E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS É essencialmente clínico se baseando na anamnese, avaliação física e neurológica, embora alguns exames complementares auxiliem como tomografia axial computadorizada de crânio, ressonância magnética, cintilografia por perfusão cerebral e tomografia por emissão de pósitrons, que representa grande avanço no estudo da neuroimagem. O atraso do desenvolvimento neuromotor cria a alerta para investigação. Sinais como dificuldade na sucção, alteração da postura, atraso para firmar a cabeça, sorrir, rolar, entre outros marcos do desenvolvimento no período adequado, a persistência de reflexos primitivos e alterações no tônus e na postura, são sinais que chamam atenção para necessidade de avaliação e acompanhamento neurológico. A alteração motora é sempre presente e caracteriza-se pela falta de controle do movimento. Alterações secundárias: falta de ortostatismo e descarga de peso dos membros inferiores no solo pode gerar subluxação ou luxação de quadril, que favorece o aparecimento de contraturas, escoliose, dor e fratura, principalmente se houver também redução na mineralização óssea, como se verifica nos quadros de osteopenia ou osteoporose. Há também alterações respiratórias: encurtamento e fraqueza dos músculos inspiratórios mantêm o tórax elevado, reduzindo assim a expansibilidade torácica e gerando retenção de gás carbônico. Os músculos abdominais ficam mais fracos e não conseguem gerar pressões expiratórias máximas, resultando em tosse ineficaz. A fraqueza dos extensores da coluna interfere na habilidade em retificar o tronco superior, limitando a habilidade de elevar e expandir o tórax e maximizar a capacidade pulmonar. Essas disfunções biomecânicas levam a redução dos volumes pulmonares e da complacência pulmonar. Fatores que aumentam o comprometimento respiratório: carências nutricionais, convulsões, uso acentuado de anticonvulsivantes, alterações na motricidade orofaríngea, disfagia e refluxo gastroesofágico. Tais fatores podem estar associados com doenças crônicas, como asma, bronquite, apneia do sono e fibrose pulmonar idiopática. A elevação do risco de aspiração do conteúdo gástrico para as vias respiratórias durante a alimentação pode provocar pneumonia aspirativa ou favorecer pneumonias de repetição. OBS: TÔNUS MUSCULAR É o grau de contração permanente de um músculo. Quando as fibras musculares estão em repouso, o tônus é mantido por impulsos provenientes da medula espinal. → HIPERTONIA: aumento do tônus; → HIPOTONIA: diminuição do tônus; → ATONIA: ausência completa do tônus; A causa principal dessas alterações seria pelo desequilibro dos motoneurônios que interferem em funções como: controle motor, equilíbrio e força muscular, além de gerar deformidades e dor. CLASSIFICAÇÃO QUANTO À DISFUNÇÃO MOTORA Esses pacientes não podem controlar normalmente os movimentos e a maneira como é afetada depende da localização da lesão do SN e do tipo resultante de tônus. ESPÁSTICA → É predominante em crianças prematuras → Um dos principais problemas dos pacientes com lesão do motoneurônio superior e está relacionada à hiperatividade da via corticoespinal → Elevação do tônus muscular → Os músculos têm força diminuída e aumento do tônus, logo são enrijecidos, sendo difícil de realizar movimentos, ativa ou passivamente → Músculos com maior tensão crescem menos, por isso essas crianças podem ter encurtamentos musculares, bem como deformidades causadas pela influência da tensão muscular nos ossos CLASSIFICAÇÃO TOPOGRÁFICA Se refere à distribuição corporal da lesão: → MONOPARESIA: apenas um membro é comprometido – muito raro. → HEMIPARESIA: é o comprometimento de um lado do corpo, direito ou esquerdo, dependendo do lado (hemisfério) do cérebro que foi lesado. → HEMIPARESIA DUPLA: comprometimento de um lado do corpo, mais o membro superior contralateral. → DIPARESIA: o comprometimento é mais acentuado nos membros inferiores que nos superiores, ou seja, a função das mãos é mais preservada. → TRIPARESIA: comprometimento dos dois membros inferiores mais um membro superior. → QUADRIPARESIA: comprometimento global, em que tanto os membros superiores como os inferiores estão alterados com a mesma gravidade. Geralmente, aqui existe atraso do desenvolvimento motor importante e, de forma geral, o potencial de independência, nestas crianças, é bastante limitado. TERMINOLOGIA PARESIA: refere-se ao movimento limitado ou fraco, apresentando padrão abaixo do normal, no que tange a força muscular, precisão do movimento, amplitude do movimento e resistência muscular localizada. TERMINOLOGIA PLEGIA: descreve a perda da força muscular causada por doença do sistema motor desde o nível do córtex cerebral até a fibra muscular, ou seja, é um comprometimento total, tendo a ausência absoluta do movimento. CLASSIFICAÇÃO PELA INTENSIDADE/GRAVIDADE A Gross Motor Function Classification System (GMFCS) é um sistema de classificação que avalia a função motora grossa, ou seja, as diversas atividades motoras que incluem o sentar, as transferências, as mobilidades, os deslocamentos e a atividade específica da marcha, além do correr e pular. Propõe determinar qual nível representa melhor as habilidades presentes e quais limitaçõesem relação a função motora. Classifica o funcionamento motor total do indivíduo e não julga a qualidade do movimento ou o potencial de evolução. A GMFCS é composta por cinco níveis de independência: no nível I, a criança apresenta o maior nível de independência e, no nível V, o maior comprometimento motor. A classificação é apresentada por faixas etárias: 0 a 2 anos, 2 a 4 anos, 4 a 6 anos, 6 a 12 anos e 12 a 18 anos. → NÍVEL I: deambula sem restrições, porém apresenta limitações para atividade motoras mais complexas, como correr e pular. → NÍVEL II: deambula sem auxílio, mas com limitação na marcha comunitária. → NÍVEL III: deambula com apoio, com limitações na marcha comunitária. → NÍVEL IV: a mobilidade é limitada, necessita de cadeira de rodas na comunidade. → NÍVEL V: mobilidade gravemente limitada, mesmo com uso de tecnologia assistida. TRANSTORNOS ASSOCIADOS AUDIÇÃO → As perdas auditivas sensorioneural (corresponde a 12% e varia de leve a profunda) e condutiva são possíveis. → O posicionamento durante a alimentação é um fator importante a ser considerado; nunca deve ser feita com a criança deitada, pois o alimento pode passar para a orelha média e predispor a infecções de repetição, prejudicando, assim, a acuidade auditiva. VISÃO → A deficiência visual é um dos prejuízos mais comuns. Aqueles com comprometimento motor bilateral tendem a apresentar um acometimento neuro-oftalmológico mais grave. É indispensável a identificação precoce e a tentativa de correção, para diminuir o comprometimento do desenvolvimento sociocognitivo. COGNITIVO-COMPORTAMENTAL → O processo cognitivo global e específico pode ser afetado. Entre 35 e 53% apresentam problemas nas funções executivas. Os problemas mais comuns relatados são dificuldade de interação com colegas, problemas de atenção e comportamentos hiperativos, problemas emocionais e características antissociais. Os transtornos comportamentais tendem a se agravar na adolescência. CRISES CONVULSIVAS → Epilepsia é frequente nesses pacientes. O diagnóstico diferencial de crise convulsiva com movimentos anormais frequentes, muitas vezes, só́ o traçado eletroencefalográfico poderá́ definir, em se tratando de pacientes hipotônicos ou com grande dificuldade na mobilidade geral. AVALIAÇÃO NUTRICIONAL → Para avaliação de peso e altura, devem- se utilizar curvas específicas para paralisia cerebral. O estado nutricional será́ avaliado segundo o índice de massa corporal (IMC) (P < 10 desnutrido, P = 10-90 eutrófico, P > 90 sobrepeso). Deve-se verificar a necessidade de complementar a dieta com cálcio e vitamina D. → Em torno de 19 a 99% das pessoas com paralisia cerebral apresentam dificuldades para se alimentar devido à mastigação e à deglutição deficientes. Mobilidade e capacidade motora oral são os principais preditores de morte nos pacientes. → Os pacientes com paralisia cerebral apresentam saúde bucal alterada devido às dificuldades motoras. → Deve-se avaliar sempre o hábito intestinal (frequência, consistência, volume, desconforto) desses pacientes, que, muitas vezes, apresentam fecalomas. RETARDO DO DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR O comprometimento do SNC capaz de levar ao retardo do desenvolvimento neuropsicomotor (RDNPM) pode se manifestar como um retar- do da motricidade, da linguagem ou da cognição, isolados ou em associação. É necessário cuidado na avaliação do RDNPM, pois pode haver apenas atraso ou regressão do desenvolvimento. Uma vez que esteja evidente que marcos previamente atingidos foram perdidos, ou que déficits neurológicos pioraram, deverá ser considerada a hipótese de doença progressiva. No entanto, pacientes com encefalopatias estáticas (p. ex., paralisia cerebral) podem passar a apresentar novos sintomas (p. ex., movimentos involuntários). RETARDO MOTOR Para identificá-lo, é necessário primeiramente conhecer os principais marcos do desenvolvimento, considerando a idade corrigida para prematuros, para não se tratar de um falso atraso. A perspectiva de trata- mento depende basicamente da etiologia, e pode ser indicada estimulação precoce e/ou fisioterapia e/ou psicomotricidade. RETARDO NA LINGUAGEM O retardo na linguagem é o mais comum dos atrasos do desenvolvimento (aproximadamente 10% das crianças). As principais causas são a pouca estimulação e o comprometimento auditivo isolado. Esse último pode ser insidioso e ocorrer com outros atrasos (p. ex., secundários à infecção congênita e a kernicterus). A avaliação e o manejo devem ter abordagem multidisciplinar (neurologista pediátrico, otorrinolaringologista, fonoaudiólogo). No transtorno do espectro autista, o atraso na aquisição da linguagem é frequente. Sua expressão é bem mais complexa, pois, além de atraso na linguagem, há comprometimento das relações interpessoais e repertório restrito de atividades e interesses. DEFICIÊNCIA INTELECTUAL A deficiência intelectual refere-se ao funcionamento intelectual significativamente abaixo da média para a idade da criança. Por definição, manifesta-se durante o período de desenvolvimento e é acompanhada por deficiência no comportamento adaptativo. RETARDO GLOBAL DO DESENVOLVIMENTO A maioria das crianças desse grupo apresenta encefalopatia estática de origem pré ou perinatal; em uma mino- ria, mesmo sem quadro de regressão neurológica, existe doença genética subjacente. As má́- formações do SNC, idiopáticas ou secundárias à infecção ou a teratógenos, também contribuem para esse grupo. As infecções congênitas e a asfixia perinatal são responsáveis pelo restante dos casos. ABORDAGEM FISIOTERAPÊUTICA O tratamento precoce influencia na plasticidade neural, além de ser fundamental para o resultado do tratamento. A intervenção precoce das crianças com lesões encefálicas é importante para que haja evolução clínica. A intervenção pode ser feita logo após a alta da maternidade e as orientações aos cuidadores devem ser práticas, simples e ter objetivos funcionais na rotina da criança. CONCEITO BOBATH → Engloba o conhecimento da sequência do desenvolvimento, dos mecanismos de plasticidade neural e muscular, de aprendizagem motora e da importância da família e da equipe interdisciplinar. → A teoria dos sistemas dinâmicos prega que o desenvolvimento surge da influência mútua entre os fatores intrínsecos neurais e as condições do ambiente e da tarefa e reconhece a maturação cortical como componente importante para que a tarefa ocorra. Nesse sentido, o desenvolvimento é a constante mudança no comportamento ao longo da vida, efetivado pela interação entre necessidades da tarefa, biologia do indivíduo e as condições do ambiente. → Envolve um processo dinâmico de resolução de problemas, com a criação de estratégias motoras para situações diferentes, com base em experiências adquiridas, junto com a repetição dos movimentos e a variabilidade na prática. → É individualizada → Tem por objetivo facilitar a variedade de padrões motores básicos e inatos, além disso incentiva a prática de habilidades necessárias no cotidiano, com a inibição do tônus e de padrões anormais de movimento e postura. → O fisioterapeuta atua de forma a estimular o movimento da criança com a melhor qualidade, favorecendo o tônus postural e a vivência de experiências sensório-motoras fundamentais para a prática das habilidades funcionais. → Trabalha com grande variedade de padrões de movimentos e tônus postural, portanto os resultados podem ser limitados e pouco satisfatórios quando mudanças irreversíveis já estão impostas, por encurtamentos, deformidades e etc. TERAPIA AQUÁTICA → O ambiente aquático proporciona melhor sustentação corporal, mais estabilidade e realização de movimento que a criança acometida não conseguiria fazer no solo. → Há possibilidade de experimentar sensações diferentes daquelas que estáacostumada quando realiza no solo. → A realização de um movimento com maior grau de liberdade traz outros benefícios, como estimulação do desenvolvimento motor, adequação tônica, elevação da força muscular, das reações posturais e do controle de tronco, bem como estimulação sensorial por meio da pele. → O uso de um recurso diferenciado e lúdico, como a água, estimula a independência, a motivação, o bem- estar psicológico e a interação social. → Seu uso é fundamentado na utilização dos princípios físicos da água. → Os principais objetivos são: ganho, manutenção ou melhora das capacidades funcionais motora, musculoesquelética ou cardiorrespiratória. → Pode ser usada como complemento da terapia no solo, pra facilitar movimentação ativa, dar mais independência, melhorar capacidade funcional e contribuir para adequação do tônus, uma vez que a temperatura quente da água promove vasodilatação periférica e consequentemente relaxamento muscular (em casos de hipertonia). → Treinar funções que necessitam ser adquiridas, readquiridas ou aprimoradas é um objetivo a ser trabalho na terapia em solo e não é diferente no meio aquático. EQUOTERAPIA → Fundamenta-se no movimento tridimensional e no ritmo do passo do cavalo, que se assemelha ao da marcha humana. → Utiliza o cavalo como instrumento terapêutico visa o desenvolvimento biopsicossocial do paciente, potencializando as habilidades motoras, exigindo assim do paciente reações de equilíbrio e retificação e estimulando o planejamento e a criação de estratégias perante os diferentes deslocamentos e movimentações do tronco. → Indicada para distúrbios de movimentos e tônus, em vários níveis de gravidade e classificações topográficas, acompanhadas ou não de déficits cognitivos e/ou comportamentais. → Seus objetivos: melhora de controle postural, equilíbrio, coordenação motora, integração sensorial (entre o sistema visual, vestibular e proprioceptivo), simetria, conscientização corporal, iniciativa e autoconfiança. → Demostra resultados excelentes no bem- estar psicológico das crianças. FORTALECIMENTO MUSCULAR → Pode promover ganho significativos de força, velocidade de marcha e desempenho em atividades motoras grossas. → Existe um receio quanto a empregar exercícios resistidos para pacientes com PC, pois acredita-se que podem provocar aumento da espasticidade e do tônus muscular, porém tal argumento não é comprovado e não têm respaldo científico. → Programas de treinamentos padronizados podem ser empregados para pacientes com o objetivo de melhorar as capacidades aeróbia e anaeróbia e obter ganho de força muscular e agilidade. FACILITAÇÃO NEUROMUSCULAR PROPRIOCEPTIVA → Conjunto de técnicas que promove e acelera a resposta dos mecanismos neuromusculares pela estimulação dos proprioceptores e dos receptores táteis, visuais e auditivos, utilizando assim os estímulos proprioceptivos facilitadores das respostas motoras, partindo de respostas reflexas à motricidade voluntária. → Utiliza padrões de movimento funcionais em diagonal, rotação e espiral, atuando conforme o sinergismo dos grupos musculares, visando estimular a funcionalidade partindo da premissa que a repetição é a base da memória e do aprendizado e que todo ser humano apresenta potencial ainda não explorado.
Compartilhar