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AULA 1: INTRODUÇÃO A FARMACOBOTÂNICA O termo "Farmacognosia", deriva de duas palavras gregas: pharmakon, que significa droga, medicamento, remédio, veneno; e gnosis, que significa conhecimento. Aplica-se na atualidade, exclusivamente a drogas de origem animal e vegetal. A Farmacobotânica, parte da farmacognosia, se preocupa com o estudo das matérias de origem vegetal, ao passo que a Farmacozoologia se preocupa com as drogas de origem animal. Muitos medicamentos (fitoterápicos ou não) têm origem a partir de plantas, por isso é muito importante que você, futuro farmacêutico, conheça as principais características desses organismos tão complexos e tão úteis, dos quais nos beneficiamos todo o tempo. Se hoje sentimos uma dor de cabeça, automaticamente pensamos em um analgésico famoso e centenário, a Aspirina®. Mas não imaginamos que esta primorosa descoberta teve origem em uma planta, o salgueiro, Salix alba L., do qual foi extraído o ácido salicílico, depois transformado em ácido acetilsalicílico, princípio ativo do referido medicamento. Desse modo, o farmacêutico tem também a responsabilidade de lutar ativamente pela preservação da nossa biodiversidade. As plantas, como qualquer organismo vivo, realizam uma série de reações químicas para manutenção e preservação da vida. Algumas reações são essenciais à sobrevivência e são chamadas de metabolismo primário, como a fotossíntese e a respiração. Outras ocorrem em momentos específicos, para atender a uma demanda ocasional, e são chamadas metabolismo especial ou secundário, como quando há produção de substâncias que impedem o ataque de insetos. Os produtos dessas reações, os metabólitos especiais, possuem muitas vezes propriedades terapêuticas para nós. A Farmacobotânica tem como foco o estudo das características morfológicas e estruturais de plantas de interesse medicinal, buscando garantir a qualidade das matérias-primas de origem vegetal. Isto quer dizer que precisamos conhecer como se organiza o corpo da planta e suas principais características, para saber como manter a qualidade dos produtos dela originados. Assim, a planta de interesse vai ter sua organização estudada por fora (macro) e por dentro (microscopicamente). Vamos saber como elas estão agrupadas e como se classificam, para termos certeza da sua identidade. Se conversarmos com nossos avós saberemos que, no tempo deles ou dos pais deles, os medicamentos industrializados não eram tão acessíveis, de modo que o modo preferido de cuidar da saúde era recorrer ao quintal. Muitos males eram resolvidos com plantinhas encontradas ao nosso redor! Isso é o que chamamos de saber popular, que vai passando de geração para geração, de boca, sem qualquer documentação. Aprendemos, por exemplo, que chá de boldo é muito bom para uma crise de fígado. Mas você sabe que há mais de um tipo de boldo? Qual a proporção a ser usada no preparo do chá? Daí a importância de se conhecer as características da planta de interesse, de se saber de fato qual é a sua identidade, para sabermos que estamos usando aquela que realmente produz as substâncias necessárias para curar o mal que nos aflige e, especialmente, se estamos utilizando a planta da maneira correta. Pois é, sua avó tem muitas varizes, mas o que isso tem a ver com a laranjeira do seu quintal? É que a laranja e outras frutas cítricas produzem várias substâncias de interesse medicinal. Entre elas, os flavonoides diosmina e hesperedina, componentes de medicamentos chamados flebotônicos, usados para combater as varizes e melhorar a circulação. Essas substâncias são armazenadas na casca e não são aproveitadas por nós diretamente. As frutas cítricas produzem, ainda, a vitamina C, que fortalece o sistema imunológico e o tecido conjuntivo, melhorando a qualidade dos vasos sanguíneos e a circulação. A fruta deve ser consumida fresca e o suco logo que for feito, pois a vitamina C é muito facilmente degradada. lantas boazinhas? Não que elas sejam más, mas elas não gastam energia na produção de tantas substâncias para nós. É que essas substâncias chamadas de metabólitos especiais, são produzidas em determinadas circunstâncias em que a planta está passando por um momento de estresse (falta de água, pouca luz, poluição etc.). Da mesma forma deve ser considerado o estágio de desenvolvimento da planta. Uma mesma espécie pode produzir um determinado metabólito quando for uma jovem plantinha e não o produzir mais na fase adulta ou, ainda, o produzir numa taxa menor. A fase do ciclo de vida também afeta bastante o metabolismo: Uma planta, em sua fase inicial, germinando e formando brotos, terá um metabolismo bastante diferenciado quando estiver em sua fase madura, florescendo para atrair polinizadores. Por essa razão, a produção de metabólitos varia bastante ao longo do ano e mesmo ao longo do dia! O significado da identificação de drogas O uso da droga legítima no preparo dos "simples" é fato que se impõe. O prestígio ou o desprestígio dos extratos vegetais usados na terapêutica depende do tipo da droga utilizado em sua elaboração. Assim, por exemplo, o fabricante de extratos vegetais que utilizar na fabricação de um extrato fluido de jaborandi, folhas de uma espécie de Ottonia, conhecida pelo povo como jaborandi, estará cometendo um erro. As propriedades farmacodinâmicas deste extrato irão diferir muito daquele obtido com as folhas de Pilocarpus jaborandi Holmes, que constitui a droga verdadeira. Antes de utilizarmos qualquer droga no preparo de medicamentos, devemos submetê-la a uma análise rigorosa. A identificação e a pureza da droga, bem como a avaliação de seus princípios ativos, são tarefas indispensáveis àqueles que buscam produtos de boa qualidade. P O analista deve sempre ter em mente que a adulteração e a falsificação constituem procedimentos triviais daqueles que, sem pensar no bem público, buscam aumentar o lucro. Desde épocas imemoriais estes tipos anômalos de procedimento têm preocupado aqueles que assumem como função preservar a saúde pública. Em nosso país, no que tange às drogas naturais, principalmente as de origem vegetal, esse problema ocorre com frequência. Grande parte das drogas brasileiras origina-se de plantas silvestres. Pode-se afirmar, sem sombra de dúvidas, que o cultivo racional de plantas medicinais quase inexiste em nosso país. Não bastasse isto, as pessoas que se prestam à coleta de plantas nativas, com frequência são possuidoras de poucos conhecimentos, ocorrendo, portanto, ao lado da desonestidade de alguns, a ignorância de outros. Os nomes regionais de plantas podem se constituir em outro motivo de erro. Esses nomes, ou seja, os nomes populares das plantas, variam muito de um lugar para o outro, e é comum designar-se plantas diferentes com um mesmo nome, bem como uma planta com diversos nomes. Chapeu-de-couro, denominação oficial de nosso código farmacêutico para Echinodorus macrophyllus (Kunt) Micheli, é nome vulgar de diversas espécies de Alisma e de Echinodorus. A necessidade de identificação de drogas destinadas ao consumo dos laboratórios farmacêuticos pode ser melhor entendida quando, na prática, se tem a incumbência de analisar plantas coletadas por "raizeiros". Referências: OLIVEIRA, FERNANDO DE; AKISUE, GOKITHI. Fundamentos de Farmacobotânica. Livraria Atheneu. 1993.
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