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A Tinta e o Turbante Uma História do Irã by Emiliano Unzer

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A	TINTA	E	O	TURBANTE
	
Uma	História	do	Irã
	
	
	
	
Emiliano	Unzer
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
Amazon	Publishing
Seattle	New	York	Grand	Haven	London	Luxembourg	 Paris	Madrid	Milan	Munich	Columbia	 San
Bernadino	
	
Amazon	Corporate	Headquarters
410	Terry	Ave	N,	Seattle,	WA	98109,	USA
	
Impresso	nos	Estados	Unidos	da	América	pela	Amazon	Publishing
	
www.amazon.com
	
	
	
©	Amazon	Inc.	2021
	
Primeira	impressão	em	2021
___________________________________________________
	
Catalogação	na	Publicação	(CIP)
Ficha	Catalográfica	feita	pelo	autor
___________________________________________________
U141aUnzer,	Emiliano,	1977	–
A	Tinta	e	o	Turbante	–	uma	história	do	Irã	/			Columbia	&	San	Bernadino,	EUA:	Amazon,	2021.
317	p.:	il.	;	23	cm
Inclui	bibliografia.
ISBN:	9798597811628
1.	Irã	–	História.	I.	Título.
CDU:	94(55)
___________________________________________________
	
Copyright	©	2021	Emiliano	Unzer
Todos	os	direitos	reservados.
ISBN:	9798597811628
	
Capa:	Detalhe	do	domo,	as	muqarnas,	do	iwan	da	Mesquita	do	Sheik	Lotfollah,	Isfahan,	Dinastia	Safávida,
1619.
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
A	gloriosa	obra	acabou,	na	terra	natal
O	boato	sobre	mim	não	vai	parar	de	agora	em	diante.
Agora	sou	imortal,	Senhor	eterno.
Pois	espalhei	as	sementes	das	palavras.
E	todos	em	quem	a	mente	e	os	pensamentos	são	brilhantes,
Honrará	minha	memória	com	palavras	de	louvor.
(Tradução	Nossa)
	
	
-	Linhas	finais	do	Shahnameh	de	Ferdusi	(935/940	–	c.	1019/1026)	-
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
SUMÁRIO
	
INTRODUÇÃO
1	O	PROFETA	QUE	RIU	–	IRÃ	(8º	Milênio	a.	C.	–	3º	Século	a.	C.)
2	REI	DOS	REIS	–	IRÃ	(3º	Século	a.	C.	ao	7º	d.	C.)
3	OS	GRANDES	POETAS	–	IRÃ	(8º	Século	ao	15)
4	A	IMAGEM	DO	MUNDO	–	IRÃ	(Século	15	ao	17)
5	MONTANHA	DA	LUZ	–	IRÃ	(Século	17	ao	19)
6	A	TEMPESTADE	–	IRÃ	(Século	19	e	início	do	20)
7	O	GOLPE	–	IRÃ	(1925	-	1979)
8	A	REVOLUÇÃO	E	ALÉM	–	IRÃ	(1979	em	diante)
REFERÊNCIAS
	
	
APRESENTAÇÃO
	
	
Esse	livro	deve	ser	considerado	como	uma	introdução	à	história	do	Irã,	visto	que
o	país	e	 região	desperta	vivo	 interesse	acadêmico	e	do	público	 interessado	nos
países	de	língua	portuguesa	e,	especificamente,	no	Brasil.	Para	tanto,	essa	obra
tem	 a	 intenção	 de	 contribuir	 a	 atender	 tal	 demanda,	 a	 oferecer	 ao	 leitor	 uma
possibilidade	de	adentrar	num	campo	tão	fascinante.
	
O	livro,	ao	ser	escrito,	almejou	atender	mais	ao	público	leitor	em	geral,	tal	como
os	 esquisses	 de	 autores	 franceses	 ao	 proporem	 um	 livro	 interessante	 e	 sem
grandes	 pretensões	 acadêmicas.	 No	 entanto,	 busquei	 equilibrar	 tais	 objetivos.
Por	 um	 lado,	 busquei	 simplificar	 a	 narrativa	 histórica,	 sem	me	 aprofundar	 em
conceitos	e	 fontes	a	ponto	de	não	 tornar	o	 texto	desinteressante	do	público	em
geral.	Mas,	ao	mesmo	tempo,	busquei	indicar	as	fontes	nas	referências	e,	sempre
que	possível,	explicar	alguns	conceitos	e	termos.	Também	procurei	simplificar	o
possível	com	relação	a	localidades,	mapas.	E	igualmente	mantive	os	termos	mais
convencionais	 de	 nomes,	 locais	 e	 conceitos,	 sempre	 que	 possível	 indicando	 o
termo	em	português.
	
Essa	 obra	 baseou-se	 principalmente	 e	 teve	 como	 inspiração	 fundamental	 os
livros	 de	 Michael	 Axworthy,	 Empire	 of	 the	 Mind:	 A	 History	 of	 Iran,
Revolutionary	 Iran:	A	History	of	 the	 Islamic	Republic	e	The	Sword	of	Persia:
Nader	Shah,	 from	Tribal	Warrior	 to	Conquering	Tyrant.	 Igualmente	inspirador
foi	o	clássico	de	Abbas	Amanat,	Iran	–	A	Modern	History,	e	dos	belos	livros	de
Ervand	Abrahamian:	A	History	of	Modern	Iran	e	Iran	Between	Two	Revolutions.
Sem	esses	autores,	nada	dessa	pequena	obra	iria	se	concretizar.	Caberá	ao	leitor,
caso	 se	 sinta	 interessado,	 em	 buscar	 maiores	 fontes	 a	 partir	 desses,	 que
certamente	estarão	bem	acompanhados.
INTRODUÇÃO
	
A	 história	 do	 Irã	 nos	 inspira	 a	 olhar	 para	 seus	 valores,	 costumes,	 práticas	 e
nuances	 ao	 longo	 do	 tempo.	 Personagens	 e	 eventos	 aparecem	 quase	 como
manifestações	dessas	 ideias,	 ora	num	sentido	plural	 e	diversificado,	 ora	para	 a
intolerância	e	condenações.
	
Sua	 história	 remonta	 aos	 últimos	 milênios	 antes	 de	 nossa	 era,	 época	 em	 que
entidades	 históricas	 se	 organizaram	na	Cordilheira	 de	Zagros	 nas	 proximidade
com	a	Mesopotâmia	e	depois	se	estabeleceram	numa	poderosa	confederação	dos
medos.	 Desses	 emergiu	 um	 líder	 que	 depois	 estendeu	 as	 dominações	 persas
numa	extensão	imperial,	sob	Ciro,	o	Grande	(c.	600	a.	C.	–	530	a.	C.).	A	religião
persa	 também	 passou	 a	 se	 consolidar	 em	 seus	 dogmas	 antes	 de	 nossa	 era,
emergindo	figuras	proféticas	que	propunham	explicar	o	universo	em	termos	da
luta	da	luz,	do	bem	contra	o	mal,	a	escuridão,	vindos	do	que	foi	depois	atribuído
a	Zoroastro	(segundo	milênio	a.	C.).	Conceitos	poderosos	que	depois	terão	suas
influências	entre	várias	crenças	e	entre	os	judeus	que	voltaram	da	Babilônia	para
sua	 terra	 santa	 em	 539	 a.	 C.	 A	 dinastia	 estabelecida	 por	 Ciro,	 a	 dos
Aquemênidas,	 revelaria	 o	 aspecto	 mais	 universal	 dos	 primeiros	 tempos	 dos
persas,	nas	inscrições	de	Behistun,	na	grandeza	única	de	Persépolis	e	Pasárgada.
Tempos	 depois,	 vindos	 da	 extremidade	 longínqua	 ocidental	 viria	 outra	 grande
figura	que	passaria	como	uma	 tempestade	 sobre	o	 império	persa,	Alexandre,	o
Grande	(356	a.	C.	–	323	a.	C.).	As	consequências	de	suas	conquistas	ecoarão	em
reinos	selêucidas	posteriores	como	em	Báctria,	onde	Menandro	(342/341	a.	C.	–
c.	290	a.	C.)	depois	se	converteu	e	promoveu	o	budismo.
	
No	 segundo	 capítulo,	 veremos	 sobre	 a	 ascensão	de	uma	nova	dinastia	 após	os
escombros	 e	 desunião	 deixados	 após	 as	 campanhas	 alexandrinas.	Os	 partas	 da
dinastia	 arsácida	 (247	 a.	 C.	 –	 224	 d.	 C.)	 vieram	 dos	 cavaleiros	 das	 estepes
asiáticas	ao	norte,	e	foram	formidáveis	como	o	vento	nas	intermináveis	batalhas
contra	os	romanos.	Nesse	tempo	de	turbulências,	as	ideias	fermentaram	e	novas
interpretações	dos	ensinamentos	zoroastrianos	emergiram,	como	o	maniqueísmo
e	mazdaquismo.	Por	fim,	da	casa	de	Sasan	veio	uma	nova	dinastia,	os	sassânidas
(224	-	651).	Foi	nessa	época	que	xás	como	Cosroe	foram	idealizados	como	a	de
uma	Era	de	Ouro	na	literatura	e	mitologia	persa,	como	expresso	no	grande	épico
de	Ferdusi	do	século	11,	o	Shahnameh,	“Livro	dos	Reis”.
	
No	 seguinte	 capítulo,	 teremos	 a	 entrada	 de	 outra	magnífica	 força	 que	 veio	 do
oeste	dos	persas,	o	Islã.	Que	deram	fim	ao	período	dos	sassânidas,	mas	que	não
findaram	a	tenacidade	da	cultura	e	identidade	iraniana	presentes	nas	suas	letras,
administração,	 religião	 e	 nas	 artes.	 Depois	 da	 crise	 do	 califado	 omíada	 em
meados	do	século	8º,	uma	revolta	 liderada	por	Abu	Muslim,	na	região	oriental
persa,	 em	 Khorasan,	 lutando	 pelo	 martírio	 de	 Husein	 em	 Karbala,	 acabou
resultando	num	novo	califado	centrado	mais	ao	leste,	em	Bagdá:	o	dos	abássidas
(750	 -	 1258).	 Aqui,	 o	 califado	 passa	 a	 se	 persianizar	 e	 isso	 refletirá	 na
mentalidade	ocidental	nos	contos	de	Sherazade	na	corte	de	Harun	Al-Rashid.	Foi
um	momento	 de	 efervescência	 e	 prosperidade	 de	 um	 império	 pujante	 e	 aberto
aos	 novos	 conhecimentos	 de	 todas	 as	 partes	 e	 povos.	 No	 crepúsculo	 dos
abássidas,	 brilharam	 os	 mais	 talentosos	 escritores	 da	 literatura	 persa,	 como
Ferdusi,	e	das	linhas	inebriantes	do	misticismo	sufi	de	Hafez,	Saadi	e	Rumi.	Em
meados	do	século	13,	cavaleiros	mongóis	passaram	como	um	furacão	sobre	as
terras	persas,	chegando	a	saquear	Bagdá	em	1258.	A	cultura	persa,	contudo,	não
se	 perdeu,	 mas	 persistiu	 nas	 cortes	 dos	 samânidas,	 gasnávidas	 e	 timúridas.
Testemunha	 disso	 vem	 da	 inspiradora	 arquitetura	 persianizada	 do	 centro
histórico	de	Samarcanda.
	
No	quarto	capítulo,	analisaremos	sobre	a	dinastia	dos	Safávidas	(1501	-	1736),
cujas	 origens	 advêm	 de	 cavaleiros	 túrquicos	 do	 montanhoso	 Cáucaso	 que
desenvolveram	 um	 forte	 sentido	 de	 lealdade	 e	 devoção	 baseados	 nas	 suas
crenças	sufis	e	xiitas.	Foram	seus	quizilbaches	que	varreram	toda	aPérsia	e	um
de	seus	descendentes,	Abbas	I	(1571	-	1629),	tornará	a	capital	do	império	numa
das	joias	das	cidades	pelo	mundo,	Isfahan.	As	fronteiras	com	o	tempo	passaram
a	novamente	pressionar	os	domínio	persas,	dos	otomanos	ao	oeste	e	uzbeques	e
túrquicos	ao	norte	e	leste.
	
Em	seguida,	veremos	como	a	crise	dos	Safávidas	abrirá	um	período	de	guerras	e
conflitos	entre	os	persas.	Um	líder	afegão	dos	Afsharidas,	Nader,	se	tornará	líder
inconteste	em	meados	do	século	18,	à	altura	de	um	Napoleão	e	Wellington,	mas
sua	queda	ainda	gerou	ainda	mais	instabilidades.	Os	afegãos	chegaram	a	impor
uma	nova	ordem,	mas	acabaram	sendo	dominados	por	um	líder	implacável	dos
Zands,	Karim	Khan,	que	depois	irá	tornar	Shiraz	a	sua	capital,	local	dos	túmulos
de	Saadi	e	Hafez.	Os	Qajars,	do	norte	persa,	sucedem	no	poder	em	fins	do	século
18.	 E	 foi	 sob	 a	 dinastia	 desses	 (1789	 –	 1925)	 que	 russos,	 britânicos	 e	 outros
estrangeiros	 passaram	 a	 atuar	 cada	 vez	 mais	 nas	 fronteiras.	 A	 arte	 Qajar	 irá
florescer	no	reinado	do	xá	Fath	Ali	(1772	-	1834).	Em	fins	do	século	19,	acordos
e	 concessões	 com	governos	 estrangeiros	 irão	 corroer	 a	 soberania	 persa,	 apesar
das	tentativas	de	reformas	modernizadoras	de	mentes	como	o	do	ministro	Amir
Kabir,	que	acabou	sendo	destituído	do	poder	e	morto	em	1857.
	
No	sexto	capítulo,	abordaremos	sobre	os	anos	finais	da	dinastia	Qajar	e	o	início
do	século	20,	tempo	que	trouxe	novas	reinvindicações	sobre	uma	constituição	e
parlamento	(Majles)	que	acabou	se	reunindo	pela	primeira	vez	em	1906,	poucos
dias	 antes	 da	 morte	 do	 xá	 Mozzafar.	 As	 interferências	 britânicas	 e	 russas	 se
fazem	 sentir	 no	 meio	 militar	 e	 na	 política.	 Contra	 isso,	 houve	 protestos	 de
nacionalistas,	da	classe	clerical,	os	ulemás,	e	de	comerciantes	descontentes	com
a	entrada	de	produtos	estrangeiros.	Os	acordos	assinados	com	Knox	D’Arcy	em
1901	 de	 britânicos	 a	 explorarem	 reservas	 de	 petróleo	 inaugurará	 um	 novo
capítulo	na	história	iraniana.	Em	1921,	com	a	iminente	retirada	britânica,	oficiais
identificam	 um	 militar	 enérgico	 a	 buscar	 novas	 alianças,	 Reza	 Khan	 (1878	 -
1944).
	
No	 penúltimo	 capítulo,	 a	 dinastia	 Pahlavi	 inaugurada	 por	 Reza	 Kahn	 tentará
implementar	 as	 reformas	 modernizadoras	 no	 Irã,	 inspirados	 no	 exemplo	 de
Kemal	 Atatürk	 da	 Turquia.	 Reza,	 como	 xá,	 impaciente	 com	 as	 discussões	 e
opiniões	 políticas,	 decide	 passar	 por	 cima	 dos	 compromissos	 constitucionais	 e
persegue	 ou	 prende	 seus	 opositores.	 Durante	 a	 Segunda	 Guerra	 Mundial,	 os
soviéticos	 e	 britânicos	 decidem	 atuar	 na	 região	 persa,	 para	 depois	 passarem	 a
desconfiar	das	 intenções	ambivalente	do	xá	que	 foi	deposto	em	1941.	Quem	o
sucede	 foi	 seu	 filho,	Mohammad	 Reza,	 o	 últimos	 dos	 xás.	 Depois	 da	 guerra,
cresceram	as	vozes	contra	os	valores	pagos	à	companhia	britânica	na	exploração
do	petróleo	iraniano.	Isso	veio	principalmente	de	nacionalistas	que,	durante	um
breve	 período	 de	 abertura	 política,	 passaram	 a	 se	 organizar	 no	 Majles	 sob	 a
liderança	 de	 Mossadegh.	 Eventualmente,	 em	 1953,	 com	 a	 ajuda	 do	 serviço
secreto	 britânico	 e	 americano,	 Mossadegh	 será	 deposto	 do	 poder,	 algo	 que
marcará	 a	 mentalidade	 iraniana.	 Nas	 décadas	 seguintes,	 Mohammad	 Reza,
vendo-se	fortalecido	com	o	petróleo	e	aliança	com	os	EUA,	passa	a	propor	um
plano	de	amplas	reformas	ocidentalizantes,	chamada	de	Revolução	Branca.	Mas
seus	limites	aparecem	na	década	de	1970,	quando	a	recessão	econômica	produz
uma	massa	de	desempregados,	ociosos,	recém	migrados	do	interior	nas	grandes
cidades	que	encontram	apoio	em	lideranças	clericais	e	nacionalistas	descontentes
com	 a	 repressão	 da	 polícia	 secreta,	 o	 SAVAK.	 Do	 exílio,	 desde	 1964,	 um
desconhecido	 aiatolá,	 Khomeini,	 passa	 a	 vociferar	 contra	 o	 impopular	 xá	 e
propõe	um	novo	regime	islâmico	xiita,	único	no	mundo.
	
No	último	capítulo,	começamos	com	a	descida	de	Khomeini	de	seu	voo	vindo	de
Paris	 a	 Teerã	 em	 fevereiro	 de	 1979.	Um	 novo	 sistema	 de	 governo	 islâmico	 é
implementado,	 com	 amplas	 perseguições	 de	 opositores	 e	 ex-aliados.	 Ano
seguinte,	o	Irã	é	invadido	por	tropas	iraquianas	de	Saddam	Hussein	que	resultará
numa	longa	e	desgastante	guerra	de	oito	anos.	Milhões	de	iranianos	irão	morrer,
resultando	numa	geração	de	mártires	tal	como	Husein	em	Karbala.	Isso	afetará	o
regime	 iraniano,	 que	 depois	 da	 morte	 de	 Khomeini	 em	 1989,	 passará
gradativamente	 a	 abrir	 seu	 sistema	 político,	 apesar	 do	 controle	 último	 ainda
permanecer	 nas	 mãos	 do	 Líder	 Supremo	 (Ali	 Khameini	 desde	 então),	 do
Conselho	 dos	 Guardiães	 e	 de	 militares.	 Apesar	 disso,	 a	 sociedade	 iraniana
buscou	o	sonho	de	maiores	reformas	na	eleição	de	Khatami	em	1997	que	acabou
sendo	 frustrado	 pelos	 setores	 conservadores	 iranianos	 e	 da	 hostilidade	 de
governos	 estrangeiros.	 O	 ressentimento	 veio	 com	 a	 eleição	 do	 populista
Ahmadinejad	em	2005,	que	sustentou	uma	retórica	de	provocações	e	endossou	a
retomada	 do	 programa	 nuclear	 iraniano,	 causando	 ainda	 mais	 rejeição	 das
potências	estrangeiras.	Em	momento	derradeiro,	Rouhani	foi	eleito	em	2013,	que
buscou	novas	esperanças	nos	acordos	assinados	em	2015	visando	o	controle	do
programa	 nuclear	 em	 troca	 do	 fim	 das	 sanções	 econômicas	 que	 prejudicam	 a
economia	e	sociedade	iraniana.
	
A	história	iraniana	é	repleto	de	crises,	conflitos,	esperanças	e	sonhos.	Subjacente
a	todos	esses	períodos,	persiste	o	orgulho	e	a	afirmação	de	uma	cultura	própria,
resultado	de	 interações	e	misturas	de	vários	povos	ao	 longo	de	seu	passado.	A
riqueza	 dos	 iranianos	 vem	 das	 suas	 linhas	 escritas	 à	 tinta	 dos	 letrados,	 e	 da
complexidade	 das	 ideias	 filosóficas	 e	 religiosas	 de	 suas	 cabeças	 e	 turbantes.
Hoje,	 quando	 as	 crianças	 pequenas	 nas	 escolas	 no	 Irã	 escutam	 as	 linhas	 de
Ferdusi,	 do	 Shahnameh,	 somos	 lembrados	 da	 tenacidade	 e	 resiliência	 dos
iranianos	 ao	 longo	 dos	 tempos.	 Cabe	 a	 nós	 tentarmos	 vislumbrar	 um	 pouco
disso,	de	sua	história.	E	 isso	nos	remete	às	vastas	estepes	asiáticas	no	segundo
milênio	antes	de	nossa	era...
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
1	O	PROFETA	QUE	RIU	–	IRÃ	(8º	MILÊNIO	A.	C.	–	3º	SÉCULO
A.	C.)
	
	
As	origens	mais	remotas	do	Irã	remetem	às	vastas	estepes	asiáticas	no	segundo
século	a.	C.	Povos	nômades	da	família	linguística	indo-europeia	em	uma	série	de
migrações	começaram	a	descer	para	regiões	na	Europa,	terras	hoje	pertencentes
ao	 Irã,	 Ásia	 Central	 e	 norte	 da	 Índia.	 Essa	 é,	 ao	 menos,	 a	 explicação	 mais
plausível	 para	 entendermos	 a	 estreita	 ligação	 entre	 as	 línguas	 europeias,	 de
partes	 setentrionais	 do	 subcontinente	 indiano	 (como	 o	 sânscrito	 e	 hindi)	 e	 das
línguas	 antecessoras	 do	 persa	 (ou	 como	 alguns	 defendem	 o	 termo,	 “farsi”	 ou
“pársi”)	 moderno.	 Isso	 foi	 em	 grande	 parte	 descoberto	 por	 Sir	William	 Jones
(1746	 -	 1794),	 ao	 constatar	 em	 seu	 clássico	 estudo,	 The	 Sanscrit	 Language
(1786)	 ,	o	nexo	do	sânscrito	com	o	grego	e	 latim.	Essa	constatação	por	si	 já	é
notável,	 pois	 assim	 percebe-se	 que	 os	 iranianos	 guardam	 uma	 relação	 mais
próxima	 com	 culturas	 indo-europeias	 do	 que	 seu	 entorno	 geográfico	 ao	 oeste,
entre	 os	 povos	 semitas,	 embora	 a	 língua	 persa	 moderna	 tenha	 assimilado
considerável	vocábulo	(e	adotado	a	escrita)	da	língua	árabe.
	
Vocábulos	 do	 persa	 indicam	 a	 evidência	 linguística	 com	 as	 línguas	 indo-
europeias.	A	palavra	“mês”	em	português,	é	“mâh”	( هام )	em	farsi	(persa),	“mes”
em	 espanhol,	 “mese”	 em	 italiano,	 “month”	 em	 inglês	 e	 “Manat”	 em	 alemão.
“Door”	 em	 inglês	 (porta	 em	 português)	 é	 “dar”	 ( رد )	 em	 persa.	 Enquanto
“mordan”	( گرم )	em	persa	corresponde	a	“morrer”	em	português,	“mortus”	em
latim,	 “mourir”	 em	 francês.	 “Robudan”	 ( ندوبر ),	 “roubar”	 em	português,	 e	por
assim	vai.
	
A	 língua	 persa,	 com	 o	 tempo,	 não	 se	 restringiuaos	 limites	 do	 Irã.	 Foi	muito
além,	falado	amplamente	entre	os	uzbeques,	afegãos,	tajiques,	iraquianos,	turcos,
emiradenses	e	bareinitas.	Foi	a	língua	da	corte	entre	vários	reinos	da	região	sul	e
centro-asiático	e	mesmo	entre	os	mogóis	que	reinaram	a	Índia	do	século	16	ao
19.	Ao	estudarmos	a	cultura	persa,	estamos,	por	conseguinte,	estendendo	nosso
alcance	para	 toda	a	 região	afetada	pelos	persas	 indo	muito	 além	das	 fronteiras
iranianas.	Por	 isso,	por	vezes,	é	mais	apropriado	referir-nos	a	um	“Grande	Irã”
(Iran	zamin)	a	abarcar	toda	a	região	ampliada	influenciada	pelos	persas.
	
Entretanto,	 a	 língua	 persa	 nem	 sempre	 se	 manteve	 como	 é	 atualmente.
Historicamente	 teve	 ampla	 influência	 da	 língua	 aramaica,	 disseminada	 no
Oriente	Médio	nos	últimos	séculos	a.	C.	Muito	antes	dos	indo-europeus	nômades
terem	chegado	do	norte,	outros	povos	já	habitaram	o	planalto	iraniano	remetendo
suas	primeiras	evidências	no	Período	Paleolítico	(c.	100.000	a.	C.).	Por	volta	de
6500	a.	C.,	há	evidências	de	assentamentos	sedentários	e	agrícolas	ao	redor	da
Cordilheira	de	Zagros	que	mantiveram	relações	com	os	sumérios	mais	ao	oeste,
na	Mesopotâmia.
	
Vestígios	 encontrados	 na	 região	 de	 Zagros,	 por	 volta	 de	 7000	 a.	 C.,	 apontam
para	manchas	de	vinho	encontrados	em	restos	de	jarros,	descoberto	e	analisado
por	 arqueólogos	 americanos	 em	 1968	 e	 se	 encontra	 exposto	 no	 museu	 da
Universidade	da	Pensilvânia.	O	comércio	desses	povos	habitantes	dos	planaltos
iranianos,	chamados	de	gútios	(do	sumeriano	gu-tu-um)	e	maníacos	no	noroeste
iraniano	 (do	 acadiano,	 mannai,	 e	 possivelmente	 dos	 povos	 bíblicos	 minni),
foram	conhecidos	pelos	contatos	com	os	povos	do	sul	da	Mesopotâmia,	atual	sul
do	Iraque.
	
Antes	das	migrações	dos	nômades	do	norte,	 floresceram	reinos	organizados	na
região	 ocidental	 iraniana	 que	 se	 tornaram	 as	 províncias	 de	 Cuzistão	 (Ostān-e
Khūzestān)	 e	 Fars	 (Ostān-e	 Fārs),	 o	 império	 de	 Elam	 (2700	 –	 539	 a.	 C.)
centrado	nas	cidades	de	Susa	e	Anshan	(mapa).
	
Mapa	do	império	de	Elam.
	
Os	 elamitas	 falavam	uma	 língua	não	 relacionada	 aos	mesopotâmicos,	 nem	aos
povos	 iranianos,	 embora	 tenham	 sofrido	 influência	 pelos	 sumérios,	 assírios	 e
babilônicos	da	região,	e	certamente	 transmitiram	elementos	de	sua	cultura	para
as	dinastias	iranianas	nos	séculos	posteriores.	Um	exemplo	da	influência	elamita
se	mostra	no	sul	da	atual	cidade	de	Kashan,	num	templo	em	foram	de	zigurate,	o
de	Tepe	Sialk	(fig.),	datado	por	volta	de	2900	a.	C.
	
Figura	–	O	zigurate	elamita	de	Tepe	Sialk,	perto	de	Kashan,	c.	2900	a.	C.
	
Com	o	tempo,	novos	imigrantes	chegaram	e	se	assentaram	nas	terras	iranianas.
O	que	nos	leva	à	reflexão	de	que	a	nação	e	história	iraniana,	como	grande	parte
da	humanidade,	é	feita	de	diferenças	e	migrações,	de	culturas	que	coexistem	e	se
misturam.	Por	 isso,	 temos	que	considerar	a	 ideia	do	“Irã”	como	muito	além	da
atual	nação	e	 fronteiras	políticas.	E	a	 ideia	do	 Irã,	 foi	muito	mais	em	torno	do
resultado	 de	 povos	 e	 migrações,	 de	 habitantes	 nômades	 e	 seminômades,
pecuaristas	 e	 agricultores,	 que	 assentaram	 e	 comerciaram	 seus	 produtos	 na
região	iraniana.
	
O	Irã	é	uma	região	de	contrastes	de	climas	e	de	geografia.	De	densas	florestas
úmidas	do	Mazandaran,	no	norte,	até	a	aridez	e	calor	da	costa	do	Golfo	Pérsico.
Das	montanhas	altas	e	frias	de	Alborz,	de	Zagros	e	do	Cáucaso,	até	os	desertos
do	 Dasht-e	 Lust	 e	 do	 Dasht-e	 Kavir.	 Além	 das	 terras	 cultiváveis,	 as	 áreas
impróprias	para	a	agricultura	nas	terras	acidentadas,	semidesértica	e	de	altitude
serviram	para	o	pastoreio,	embora	por	alguns	meses	por	ano.
	
A	atividade	do	pastoreio,	de	nômades	que	acompanharam	seus	rebanhos,	foram
de	 povos	 que	 tinham	 se	 deslocado	 para	 regiões	 áridas	 e	 montanhosas	 no	 Irã.
Como	dito,	muitos	desses	vieram	das	estepes	asiáticas,	e	com	eles	trouxeram	o
exímio	 domínio	 do	 arco	 e	 flecha,	 e	 da	 montagem	 equestre,	 conferindo-lhes
superioridade	bélica	frente	aos	povos	agrícolas.
	
A	 riqueza	 desses	 povos	 nômades	 iranianos	 se	 dava	 em	 torno	 do	 gado,	 uma
riqueza	 móvel,	 permitindo-lhes	 escapar	 de	 ameaças	 e	 violência	 com	 pouca
perda.	Ademais,	esses	nômades	poderiam	atacar	mais	facilmente	assentamentos
de	camponeses	com	relativa	impunidade,	em	caso	de	desunião	e	desorganização
política	e	militar.	Sociedades	agrícolas,	sedentárias,	tornaram-se	vulneráveis	aos
nômades,	 especialmente	 em	 tempos	 de	 colheita,	 e	 poderiam	 perder	 o	 valor
acumulado	e	estocado	de	um	ano	inteiro	de	trabalho.
	
Em	 tempos	de	paz,	os	nômades	poderiam	ser	contentar	e	 trocar	 seus	produtos,
como	 carne	 e	 lã	 com	 os	 camponeses	 em	 troca	 de	 grãos,	 por	 exemplo.	Mas	 a
coerção	 e	 ameaça	 eram	 um	 recurso	 que	 os	 nômades	 poderiam	 recorrer	 em
tempos	de	crise.
	
Quando	nômades	indo-europeus	entraram	nas	regiões	iranianas	em	várias	levas
migratórias	(mapa),	por	volta	de	1000	a.	C.,	passaram	a	conquistar	e	controlar	as
várias	 regiões	 iranianas	por	meio	de	cobrança	de	 tributos	a	garantir	a	proteção
das	vilas	e	cidades.	Ou	seja,	os	camponeses	eram	obrigados	a	conceder	parte	de
suas	 colheitas	 para	 serem	 deixados	 em	 paz,	 e	 assim	 a	 garantir	 a	 ordem.	 Essa
relação	 e	 animosidade,	 entre	 povos	 sedentários	 e	 nômades	 (muitos	 vindos	 de
regiões	não-iranianas),	persistiu	até	início	do	século	20	no	Irã.
	
Mapa	das	levas	migratórias	de	nômades	indo-europeus	sobre	regiões	da	Ásia	Central	e	Meridional,	e
Europa.	As	áreas	em	laranja	no	sul	foram	as	últimas	levas	que	se	assentaram	no	Irã	e	regiões	próximas,
por	volta	de	1000	a.	C.
	
A	leva	migratória	para	o	Irã	e	área	circundante	por	volta	de	1000	a.	C.	não	era	de
uma	única	tribo	ou	grupo.	Esses	migrantes	com	o	tempo	depois	se	mesclaram	e
geraram	descendentes,	alguns	do	quais	depois	ficaram	conhecidos	como	medos,
mais	ao	norte,	e	persas,	mais	ao	sul	 iraniano.	Havia	outros,	partas,	sogdianos	e
avianos,	esses	últimos	 iriam	consolidar	em	sua	cultura	as	 liturgias	e	valores	de
uma	religião	nova	a	combinar	com	as	crenças	dos	povos	arianos	que	migraram
para	o	norte	indiano,	o	zoroastrismo.
	
Esses	 nomes,	 naturalmente,	 vieram	 somente	 séculos	 depois.	 Mas	 os	 medos	 e
persas,	 termos	 simplificados	 de	 uma	 miríade	 de	 grupos	 migrantes,	 foram	 se
unindo,	 criando	 alianças	 e	 confederações	 de	 tribos.	A	 primeira	menção	 desses
povos	 veio	 dos	 assírios,	 por	 volta	 de	 836	 a.	 C.,	 em	 um	 relato	 de	 campanha
militar	de	Salmanaser	III	(859	–	824	a.	C.)	ao	avançar	contra	a	região	de	Zagros
e	Alborz.	Esse	primeiro	relato,	inscrito	no	Obelisco	Negro,	hoje	se	encontra	no
Museu	Britânico	(fig.).
	
Figura	–	O	Obelisco	Negro,	no	Museu	Britânico.
	
No	 obelisco,	 há	 relato	 de	 vários	 outros	 povos	 que	 foram	 submetidos	 pela
autoridade	 do	 rei	 assírio.	 Medos	 e	 persas	 (referidos	 como	 “parsua”)	 são
considerados	como	tributários.	As	terras	dos	medos	foram	situados	no	noroeste
iraniano,	 nas	 províncias	 do	 Azerbaijão,	 Curdistão,	 Hamadã	 e	 Teerã	 na
atualidade.	 No	 Zagros,	 ao	 sul	 do	 território	 dos	 medos,	 os	 assírios	 apontaram
como	local	dos	persas,	“parsuash”,	que	depois	com	o	tempo	passou	a	ser	então
referidos	como	Pars	ou	Fars.
	
Esses	relatos	assírios	mudaram	de	destino	depois	de	mais	de	um	século.	No	8º
século	 	 a.	 C.,	 medos	 e	 persas	 estavam	 contestando	 a	 autoridade	 tradicional	 e
invadindo	o	território	assírio.	O	historiador	Heródoto	de	Halicarnasso	(484	–	425
a.	C.)	relatou	que	no	século	5º	a.	C.	líderes	dos	medos,	como	o	reis	Deioces	(ou
Déjoces)	 (709	 –	 656	 a.C.)	 e	Ciáxares	 (645	 –	 585	 a.C.),	 e	 dos	 persas,	 como	 o
lendário	rei	Aquêmenes	(do	grego	Achaiménēs)	(c.	705	–	c.	675	a.	C.)	(chamado
pelos	 assírios	 como	 Hakhamanish,	 em	 persa	 antigo,	 Haxāmaniš)	 ganharam
proeminência,	evidenciando	a	 independência	desses	povos.	Aquêmenes	depois,
de	 acordo	 com	 a	 grandiosa	 inscrição	 de	 Behistun	 (fig.),	 se	 tornaria	 figura
fundadora	da	dinastia	Aquemênida.
	
Figura	–	A	Inscriçãode	Behistun,	na	província	de	Kermanshash.
	
A	primeira	proeminência	 adveio,	 contudo,	dos	medos	que,	por	volta	de	700	a.
C.,	 se	 aliaram	 aos	 povos	 citas	 e	 estabeleceram	 um	 Estado	 independente	 que
depois	se	tornaria	no	primeiro	império	iraniano.	Em	612	a.	C.	os	medos	atacaram
e	destruíram	a	 capital	 dos	 assírios,	Nínive,	 cujas	 ruínas	 se	 encontram	perto	 da
cidade	iraquiana	de	Mosul.	No	seu	auge	no	século	6º	a.	C.,	o	Império	Medo	se
estendeu	desde	as	fronteiras	ao	oeste	da	Ásia	Menor	até	o	Hindu	Kush	ao	leste,	e
ao	 Golfo	 Pérsico	 ao	 sul	 (mapa).	 Governaram	 com	 os	 persas	 como	 vassalos,
assim	como	muitos	outros	povos	submetidos	ou	aliados.
	
	 	
Mapa	do	Império	Medo	no	seu	auge	no	século	6	a.	C.	(em	verde).
	
A	figura	histórica	mais	importante	nas	terras	iranianas	à	época	foi	Zoroastro	(ou
Zaratustra,	em	persa	moderno,	Zardosht)	 (fig.).	Não	há	consenso	de	seu	 tempo
de	vida,	mas	a	maioria	acredita	que	viveu	entre	cerca	de	1500	a	1000	a.	C.	Sua
estatura	 lendária	 compara-se	 a	 Jesus,	Maomé,	mas	muito	 pouco	 se	 sabe	 sobre
sua	vida.	A	melhor	evidência	é	de	que	tenha	vivido	na	região	nordeste	iraniano,
no	que	depois	 se	 tornou	 a	Báctria,	 e	 depois	Afeganistão.	Mas	outras	 tradições
apontam	para	mais	a	noroeste,	no	Azerbaijão,	na	região	do	rio	Arax	ou	mesmo
em	outros	lugares.
Figura	–	Zoroastro.
	
Zoroastro	foi	figura	chave	na	história	das	religiões,	no	que	nos	ensina	os	textos
mais	antigos	a	ele	atribuído,	o	Avesta,	que	foram	escritos	e	compilados	mais	de
mil	anos	depois	que	o	profeta	viveu,	no	final	da	era	dos	sassânidas,	no	século	6º
d.	C.	As	histórias	 contadas	 são	 em	 formas	de	 fábulas	 com	curiosas	passagens,
como	a	que	nos	diz	que	o	profeta	tenha	nascido	rindo.	A	teologia	apresentada	é
indubitavelmente	 antiga	 com	 incorporações	 que	 vieram	 mais	 tarde.	 Mas	 as
origens	 do	 zoroastrismo	 nessas	 linhas	 se	 encontram	 nos	 textos	 do	 Avesta	 de
cerca	de	600	a.	C.
	
A	antiguidade	dos	textos	zoroastrianos,	os	Gatas	dentro	do	Avesta,	17	cânticos
atribuídos	 ao	 próprio	 Zoroastro,	 é	 evidenciada	 pela	 linguagem	 que	 expressa	 a
vida	pastoral	e	a	ausência	de	povos	como	os	medos	e	persas,	ou	nomes	de	reis
célebres	da	época.	É	plausível	supor	que	a	revelação	de	Zoroastro	tenha	surgido
em	tempos	de	transição,	de	novas	demandas	e	transformações	sociais	e	culturais
com	a	chegada	de	 imigrantes	para	as	 terras	 iranianas.	Os	escritos	mais	antigos
zoroastrianos	 revelam	 as	 contradições	 e	 questionamentos	 sobre	 as	 mudanças
históricas.	 E	 a	 nova	 fé	 foi	 o	 resultado	 desse	 turbilhão,	 ao	 tentar	 entender	 a
complexidade	das	transformações.
	
Foi	até	certo	ponto	uma	tentativa	de	compreensão	e	a	apontar	novos	princípios
para	o	 seguidor	 zoroastriano.	Há	 evidências,	 no	 entanto,	 de	que	Zoroastro	não
tenha	 criado	 do	 nada,	 mas	 reformulou	 e	 simplificou	 práticas	 religiosas
preexistentes,	com	a	resistência	da	classe	sacerdotal,	infundindo	na	nova	crença
uma	filosofia	mais	sofisticada	e	maior	ênfase	na	moralidade	e	senso	de	justiça.
	
A	 nova	 formulação	 doutrinária	 se	 deu	 em	 torno	 de	 denúncias	 das	 práticas
religiosas	correntes	da	época.	Foi	condenado	a	prática	da	classe	sacerdotal	que
se	 fundamentava	 em	 escritos	 (de	 raízes	 semitas	 e	 de	 novos	 povos	 migrantes)
considerados	 alheios	 à	 compreensão	 da	 população	 em	 geral.	 Outro	 fator
revelador	 foi	 o	 uso	 no	Avesta	 da	 palavra	 persa,	 “div”,	 cognata	 com	 o	 latim	 e
sânscrito	para	“deuses”,	usado	no	contexto	zoroastriano	para	a	classe	de	espíritos
malignos	opostos	a	Zoroastro	e	seus	seguidores,	sugerindo	que	o	profeta	buscou
desqualificar	 e	 combater	 as	 divindades	 anteriores.	 Esses	 espíritos	 malignos,
demônios,	 foram	 associados	 ao	 caos	 e	 desordem,	 antítese	 dos	 princípios	 da
bondade	e	justiça	representados	pela	nova	religião.
	
No	 nível	mais	mundano,	 essas	malignidades	 estavam	 por	 trás	 das	 desgraças	 e
doenças	 que	 assolavam	 as	 pessoas,	 animais,	 o	 tempo	 e	 desastres	 naturais.	 No
centro	da	teologia	de	Zoroastro	estava,	a	oposição	entre	Ahura	Mazda	(ou	Aúra-
Masda),	 o	 criador,	 deus	 da	 verdade	 e	 da	 luz,	 e	 Ahriman	 (ou	 Arimã),	 a
encarnação	 das	 mentiras,	 trevas	 e	 do	 mal,	 embora	 esse	 último	 não	 esteja	 no
mesmo	 plano	 espiritual	 de	 Ahura	Mazda	 que	 situava-se	muito	 além.	 Foi	 esse
dualismo	que	 tornou-se	 tema	central	no	pensamento	 iraniano	por	 séculos.	Para
ser	mais	preciso,	Ahura	Mazda	e	Ahriman	seriam	além	do	Bem	e	o	Mal,	seriam
a	Verdade	e	a	Mentira,	asha	e	druj.	Esses	termos	aparecem	com	frequência	no
Avesta,	juntamente	com	o	conceito	de	Justiça.
	
Nos	 primeiros	 séculos	 de	 existência,	 os	 estudiosos	 decidiram	 enfatizar	 a
centralidade	 de	 Ahura	 Mazda	 a	 distinguir	 dos	 períodos	 posteriores	 do
zoroastrismo,	 por	 isso	 consideram	 o	 período	 inicial	 de	 masdeísmo.	 Com	 o
tempo,	outras	divindades	preexistentes	foram	incorporadas	à	estrutura	masdaica,
como	 anjos	 e	 arcanjos,	 notavelmente	 Mitra,	 deus	 sol,	 e	 Anahita	 (ou	 Anaíta),
deusa	 dos	 rios	 e	 riachos.	 Outros	 seis	 arcanjos	 imortais	 também	 foram
incorporados,	a	representar	a	vida	vegetal,	mineral,	a	terra,	o	fogo	e	a	água.	Os
nomes	desses	arcanjos,	por	exemplo,	Bahman,	Ordibehesht,	Khordab,	persistem
até	 hoje	 nos	 nomes	 de	 alguns	 meses	 mesmo	 no	 calendário	 iraniano	 islâmico
moderno.	Ahura	Mazda	personificava	o	ar	e	do	céu,	tal	como	o	deus	grego	Zeus.
Bahman	 foi	 homenagem	 ao	 arcanjo	 Vohu	 Manu,	 segundo	 apenas	 de	 Ahura
Mazda,	 caracterizado	pelos	bons	valores	 e	 conduta,	 e	 identificado	com	o	gado
que	 era	 considerado	 como	 segunda	 classe	 de	 seres	 vivos	 criados	 por	 Ahura
Mazda	depois	do	próprio	homem.
	
Parte	 interessante	 do	 mito	 de	 criação	 zoroastriano	 remete	 à	 história	 de	 que,
depois	de	 ter	sido	criado	por	Ahura	Mazda,	o	maligno	Ahriman,	acompanhado
por	seis	espíritos	malevolentes,	chegou	a	provocar	Ahura	Mazda	ao	buscar	matar
os	homens,	o	gado	representando	Vohu	Mazda	e	depois	indo	poluindo	as	águas	e
o	 fogo.	 A	 importância	 do	 gado	 para	 os	 primeiros	 iranianos	 nômades	 é
demonstrado	pelo	 frequente	 aparecimento	de	 sua	 figura,	 em	 forma	de	 touros	 e
gados,	nas	esculturas	e	imagens	no	período	posterior	Aquemênida	(c.	550	–	330
a.	C.).
	
O	dualismo	inerente	ao	pensamento	zoroastriano	foi	resultado	de	um	problema	a
ser	equacionado	sobre	a	questão	do	mal	e	da	criação	divina.	Como	pode	o	mal
existir	se	Ahura	Mazda,	Senhor	da	Sabedoria,	criou	o	homem?	O	livre	arbítrio
foi	 a	 solução	 ao	 problema,	 pois	 foi	 dado	 ao	 homem	 a	 faculdade	 de	 escolha	 e
pensamento,	a	pensar	sobre	seus	atos	e	decisões	sobre	o	bem	e	o	mal.	A	bondade
seria	 recompensada	 das	 boas	 ações	 e	 seria	 julgado	 após	 a	 morte.	 Restava	 o
inferno	 aos	 maus.	 Após	 alguns	 séculos,	 antes	 de	 600	 a.	 C.,	 o	 masdeísmo
adicionaria	a	figura	de	um	messias,	o	Saoshyant	(“Aquele	que	traz	o	bem”),	que
nasceria	milagrosamente	no	fim	dos	tempos	de	uma	mãe	virgem	e	da	semente	de
Zoroastro.
	
Outras	 dificuldades	 apareceram	 mais	 tarde	 no	 pensamento	 masdeísta.	 Como
Ahura	Mazda	e	Ahriman	vieram	a	existir?	Para	tal,	alguns	explicaram	que	houve
uma	 entidade	 anterior,	 um	 deus	 criador,	 Zurvan,	 identificado	 com	 o	 tempo	 e
destino,	que	orou	por	um	filho	e	foi	recompensado	com	gêmeos.	Esses	gêmeos
se	 tornaram	 Ahura	 Mazda	 e	 Ahriman.	 Este	 ramo	 do	 masdeísmo	 depois	 foi
chamado	de	zurvanismo.	Esse	novo	ramo	religioso	passou	depois	a	deificar	(em
forma	de	entidade	chamadas	de	yazatas)	 todos	os	seres	celestes	e	naturais.	Um
exemplo	é	a	ideia	de	daena,	que	apareceu	após	o	homem	criado	como	uma	bela
donzela,	personificando	 todas	 as	boas	obras	que	o	homem	havia	 feito	na	vida.
Daena	passou	a	representar	a	consciência,	revelação	e	discernimento.
	
Outro	 exemplo	 são	 as	 cinco	 entidades	 pertencentes	 a	 cada	 ser	 humano,	 não
apenas	 o	 corpo,	 alma	 e	 espírito,	 mas	 também	 adhvenak	 e	 fravashi.	Adhvenak
seria	 o	 protótipo	 celestial	 de	 cada	 ser	 humano,	 associadoao	 sêmen	 e	 à
regeneração.	Fravashi,	embora	também	uma	entidade	espiritual,	era	mais	ativo,
associado	à	força	do	heroísmo,	à	proteção	dos	vivos	e	ao	acolhimento	das	almas
após	 a	 morte,	 similar	 às	 Valquírias	 na	 mitologia	 germânica.	 Essas	 e	 outras
personificações	 prefiguram	 o	 papel	 dos	 anjos	 no	 judaísmo,	 cristianismo	 e
islamismo,	 mas	 também	 possivelmente	 tenha	 influenciado	 o	 pensamento	 de
Platão	que	estudou	o	masdeísmo.
	
Elementos	pré-zoroastrianos	foram	incorporados	ao	universo	religioso.	A	classe
sacerdotal,	os	magos	(relatado	por	Heródoto	como	uma	tribo	dentro	dos	medos)
tinham	existência	antes	da	vida	de	Zoroastro,	e	essa	classe	com	o	tempo	passou
gradativamente	a	incorporar	e	interpretar	os	rituais	e	doutrinas	do	Avesta	a	servir
seus	propósitos	como	casta	religiosa.
	
A	relação	dos	iranianos	com	outras	religiões	também	merece	destaque.	Com	os
judeus,	o	vínculo	remete	aos	séculos	a.	C.	Estudiosos[1]	acreditam	que	o	judaísmo
mudou	 significativamente	 sob	 a	 influência	 do	 masdeísmo,	 quando	 os	 judeus
estavam	 no	 exílio	 na	 Babilônia.	 Após	 a	 conquista	 do	 norte	 de	 Israel	 pelos
assírios	por	volta	de	720	a.	C.,	houve	uma	leva	de	judeus	que	foram	levados	para
o	 reino	 dos	 medos,	 entre	 outros	 lugares,	 e	 ali	 estabeleceram	 comunidades
judaicas,	especialmente	em	Ecbátana.	Uma	segunda	onda	de	deportações,	dessa
vez	 para	 o	 território	 babilônico,	 ocorreu	 nas	 décadas	 de	 590	 e	 580	 a.	 C.	 sob
Nabucodonosor	II	(c.	605	–	c.	562	a.	C.),	que	destruiu	o	Templo	de	Salomão	em
586	a.	C.	(fig.).
Figura	–	A	destruição	do	Templo	de	Salomão	em	Jerusalém	em	586	a.	C.
	
Babilônia	ficou	sob	controle	dos	Aquemênidas	na	década	de	530,	e	muitos	dos
judeus	retornaram	para	terras	israelenses	sob	Ciro,	o	Grande	(559	–	530	a.	C.).	O
trauma	do	exílio	babilônico	jamais	foi	esquecido,	e	marcou	um	divisor	de	águas
na	história	judaica	de	várias	maneiras.	Acredita-se	que	um	dos	líderes	do	retorno
da	Babilônia,	o	escriba	Esdras,	tenha	sido	o	primeiro	a	escrever	em	hebraico	os
livros	do	Torá	(os	cinco	primeiros	livros	da	Bíblia,	os	livros	de	Moisés).	O	Torá
irá	começar	a	dar	maior	ênfase	no	monoteísmo,	algo	que	terá	influência	decisiva
e	duradoura	entre	os	israelitas	e	judeus.
	
Centenas	 de	 anos	 depois,	 sob	 o	 império	 dos	 Aquemênidas	 e	 depois	 sob	 os
helenísticos,	 as	 comunidades	 religiosas	 judaicas	 e	 masdeístas	 da	 diáspora
viveram	em	vizinhança	nas	cidades	em	todo	o	Oriente	Médio.	Isso	talvez	possa
apontar	 para	 a	 troca	 de	 influências	 religiosas	 e	 culturais	 entre	 as	 duas
comunidades,	 como	 aponta	 os	 Manuscritos	 do	 Mar	 Morto,	 da	 caverna	 de
Qumran.	Outro	período	 importante	para	o	 judaísmo	adveio	após	a	Revolta	dos
Macabeus	contra	os	helenistas	selêucidas	em	167	a.	C.,	e	depois	com	a	versão
definitiva	 do	 Talmude	 quando	 foi	 compilada	 e	 editada	 na	 Mesopotâmia	 nos
séculos	 4º	 e	 5º	 d.	 C.,	 novamente	 num	 contexto	 iraniano,	 sob	 o	 império	 dos
sassânidas	(224	d.	C.	–	651	d.	C.).
	
Ainda	 permanece	 um	 assunto	 controverso,	 mas	 há	 indícios	 da	 influência	 do
zoroastrismo	 e	 do	 masdeísmo	 no	 judaísmo,	 depois	 de	 séculos	 de	 convivência
histórica	 no	Oriente	Médio.	Talvez	 outro	 sinal	 dessa	 influência	 seja	 os	 relatos
em	geral	positivos	dos	textos	judaicos	para	com	os	persas.	Os	conceitos	de	céu	e
inferno,	de	livre	arbítrio	entre	o	bem	e	o	mal,	de	julgamento	divino,	de	anjos,	de
um	único	deus-criador,	 todos	parecem	 ter	 sido	 características	da	 religião	persa
que	influenciou	outras	religiões	posteriores.	O	masdeísmo	foi	a	primeira	religião,
pelo	 menos	 nessa	 região	 do	 mundo,	 a	 ir	 além	 do	 culto	 e	 do	 totemismo	 para
abordar	problemas	morais	e	filosóficos	em	sua	teologia,	partindo	de	um	ponto	de
vista	individual,	enfatizando	a	responsabilidade	e	escolha	de	cada	um.
	
No	 plano	 político,	 por	 volta	 de	 559	 a.	C.,	 um	 regente	 persa,	 chamado	Ciro	 II
(fig.)	 (em	persa	moderno,	Kurosh)	ou	Ciro,	 o	Grande	 tornou-se	 rei	 de	Anshan
com	 a	 morte	 de	 seu	 pai.	 A	 Pérsia	 e	 Anshan,	 naquela	 época	 ainda	 eram
submetidos	 aos	medos,	mas	Ciro	 liderou	 uma	 revolta	 contra	 o	 rei	 dos	medos,
Astíages	 e	 em	549	 a.	C.	 capturou	 a	 capital	 dos	medos,	Ecbátana.	Assim,	Ciro
inverteu	 a	 relação	 entre	 os	 medos	 e	 os	 persas,	 tornando-se	 rei	 da	 Pérsia,
submetendo	os	medos,	e	tornando-se	rei	de	um	império.
	
Figura	–	Relevo	de	Ciro,	o	Grande,	em	Pasárgada.
	
Ciro	 não	 parou	 por	 aí.	 Anos	 depois,	 passou	 a	 avançar	 mais	 para	 o	 oeste	 e
conquistou	a	Lídia	(atual	região	ocidental	da	Turquia	no	continente	asiático),	na
Ásia	Menor,	 tomando	posse	em	546	a.	C.	do	 lendário	 tesouro	do	rei	Creso	(c. 
560	–	c. 546	a.	C.).	Ciro	também	conquistou	os	territórios	remanescentes	da	Ásia
Menor,	e	também	a	Fenícia,	Judeia	e	Babilônia,	criando	um	enorme	império	que
se	estendia	das	cidades	gregas	na	costa	leste	do	Mar	Egeu	até	as	margens	do	rio
Indo,	uma	extensão	poucas	vezes	vista	na	história	(mapa).
	
Mapa	do	auge	do	Império	Persa	sob	Ciro,	o	Grande.
	
A	novidade	de	Ciro	foi	de	ter	forjado	esse	grande	império	sobre	novas	bases	de
governança.	 Embora	 tenha	 tomado	 controle	 de	 diversos	 povos	 e	 culturas
anteriores,	desde	elamitas,	assírios,	fenícios,	lídios,	helenos	e	babilônicos,	parece
que	Ciro	quis	governar	de	maneira	mais	 tolerante	e	benevolente,	a	 respeitar	as
diferenças	 e	 particularidades	 de	 cada	 região,	 desde	 que,	 naturalmente,	 se
submetessem	em	último	momento	à	 sua	 figura	 imperial.	Uma	espécie	portanto
de	 um	 rei	 acima	 de	 outros	 reis.	 Essa	 atitude	 de	Ciro,	 diferente	 do	 que	 os	 reis
assírios	impuseram	sobre	seus	subjugados,	é	expressa	numa	argila	encontrada	no
século	19,	escrita	em	cuneiforme,	conhecido	como	o	Cilindro	de	Ciro	 (fig.)	de
cerca	de	539	ou	538	a	C.	Esse	cilindro	tinha	sido	encontrado	nas	fundações	de
uma	muralha	da	Babilônia,	e	tem	sido	considerado	como	precursora	dos	Direitos
Universais	 do	 Homem	 na	 Era	 Antiga.	 A	 mensagem	 do	 cilindro	 expressa	 o
respeito	 de	 Ciro	 sobre	 toda	 a	 diversidade,	 ao	 considerar	 o	 deus	 Marduk	 dos
babilônicos	e	seu	apreço	pela	paz	e	ordem	na	cidade	da	Babilônia,	após	ter	sido
conquistada	em	539	a.	C.,	e	consideração	aos	deuses	e	costumes	de	outros	povos
conquistados	na	região	da	Mesopotâmia.
	
Figura	–	O	Cilindro	de	Ciro,	no	Museu	Britânico,	Londres.
	
Ciro	 era	 certamente	 um	governante	 ambicioso	 e	 implacável,	mas	 esses	 termos
conciliatórios	 foi	 um	marco	diante	das	mensagens	 anteriores	 impetuosas	 como
era	 das	 declarações	 dos	 assírios,	 como	 Senaqueribe	 (705	 –681	 a.	 C.),	 ou	 dos
faraós	 egípcios	 sobre	 povos	 conquistados.	 Os	 judeus,	 sobre	 os	 quais	 Ciro
governou,	relatam	que	ele	e	seus	sucessores	permitiram	que	eles	voltassem	para
casa	do	exílio	e	reconstruíssem	o	Templo	em	Jerusalém.
	
Ao	fim	da	vida,	Ciro	terminou	de	maneira	não	tão	gloriosa,	de	acordo	com	o	que
nos	relatou	Heródoto.	Tendo	avançado	a	oeste,	o	regente	persa	voltou-se	depois
para	o	leste	do	Mar	Cáspio	e	foi	derrotado	e	morto	em	batalha	por	volta	de	530
a.	C.	por	uma	rainha,	Tômiris	dos	Masságetas	 (fig.),	de	uma	nação	de	exímios
cavaleiros,	como	os	citas,	das	estepes	asiáticas.
	
Figura	–	Tômiris	recebe	a	cabeça	de	Ciro	num	vaso	de	sangue.	Pintura	de	Rubens,	1622	–	1623,	no
Museu	de	Belas	Artes	(Museum	of	Fine	Arts),	Boston,	EUA.
	
Ainda	de	acordo	com	a	tradição,	o	corpo	de	Ciro	foi	trazido	de	volta	à	Pérsia,	em
Pasárgada	(Pāsārgād),	para	descansar	num	túmulo	que	ainda	hoje	pode	ser	visto,
embora	 seu	 conteúdo	 há	 muito	 tenha	 desaparecido.	 O	 túmulo	 é	 maciço	 e
simples,	um	sepulcro	de	dimensões	de	uma	pequena	casa	elevado	num	pedestal	e
escalonado	(fig.).	As	características	do	túmulo	de	Ciro	nos	traz	questões	sobre	a
religião	 dos	 regentes	 Aquemênidas,	 embora	 muitos	 reis	 posteriores	 a	 Ciro
tenham	sido	enterrados	em	túmulos	de	pedra	a	meio	caminho	de	um	penhasco.	O
sepultamento	 dos	 Aquemênidas	 seguiram	 os	 preceitos	 zoroastrianos,	 que
consideravam	 como	 sacrilégiopoluir	 a	 terra	 com	 cadáveres.	 Em	 vez	 disso,	 o
corpo	 deveria	 ficar	 exposto	 nas	 chamadas	 Torres	 de	 Silêncio	 (dakhma)	 para
serem	consumidos	por	pássaros	e	animais.
	
Figura	–	Túmulo	de	Ciro,	o	Grande,	Pasárgada.
	
Os	 reis	 Aquemênidas	 poderiam	 ter	 sido	 zoroastrianos,	 embora	 isso	 ainda	 não
seja	consenso	entre	os	historiadores.	Os	regentes	poderiam	ter	sido	considerados
como	pertencentes	à	uma	casta	privilegiada	dentro	do	masdeísmo,	embora	essa
crença	não	 tenha	 sido	amplamente	praticada	entre	a	 sociedade	Aquemênida	da
época.	Assim,	muitas	 tradições	 pré-zoroastrianas	 ainda	persistiram,	 e	 de	 que	o
enterro	 em	 posições	 elevadas	 num	 penhasco	 seja	 características	 de	 valores
religiosos	que	precederam	o	zoroastrismo.	Esses	 túmulos	de	 reis	Aquemênidas
(fig.)	 talvez	 expressassem	 o	meio	 caminho	 entre	 o	 céu	 e	 terra.	 E	 ao	 redor	 do
túmulo	de	Ciro,	havia	uma	jardim	profusamente	cuidado	e	regado	por	canais	de
irrigação,	a	 remontar	a	uma	 ideia	de	paraíso	(palavra	que	 tem	origem	do	persa
antigo,	paridayda,	 “jardim	murado”).	E	 em	volta	 de	 seu	 túmulo,	Ciro	 recebeu
sacrifícios	ritualizados	de	cavalos	de	acordo	com	a	classe	sacerdotal	dominante	à
época,	dos	magos	(do	persa,	magus,	“sábio”).
	
Embora	 Ciro	 tenha	 sido	 uma	 figura	 histórica	 impressionante,	 outro	 líder	 nos
séculos	 posteriores	 iria	 ser	 igualmente	 notável	 na	 história	 dos	 persas,	 embora
tenha	vindo	das	regiões	periféricas	do	império	ao	oeste,	nas	terras	macedônicas.
Mas	antes	disso,	Ciro	foi	sucedido	por	seu	filho,	Cambises	II	(Kambujiya)	(530
–	 522	 a.	 C.),	 que	 ampliou	 o	 império	 conquistando	 o	 Egito	 em	 525	 a.	 C.
Cambises,	 no	 entanto,	 não	 guardou	 tão	 boa	 fama	 quanto	 seu	 pai,	 e	 morreu
inesperadamente	em	522	a.	C.,	alguns	atribuindo	sua	morte	por	suicídio	depois
que	o	regente	recebeu	notícias	de	revoltas	no	coração	do	Império	Persa.
	
Há	 relato	 do	 que	 veio	 a	 acontecer	 na	 referida	 Inscrição	 de	 Behistun,	 na	 atual
província	de	Kermanshah	(Quermanxá).	De	acordo	com	a	inscrição,	a	revolta	foi
liderada	por	 um	 sacerdote	mago,	 de	 nome	Gaumata	 (também	conhecido	 como
Esmérdis),	que	alegou	falsamente	de	que	ele	era	o	verdadeiro	irmão	mais	novo
de	 Cambises,	 Bardiya.	 Heródoto	 nos	 dá	 uma	 versão	 similar,	 dizendo	 que
Cambises	havia	assassinado	o	verdadeiro	Bardiya	alguns	anos	antes.	A	revolta,
liderada	por	Gaumata,	parece	ter	origens	das	insatisfações	sociais	e	tributárias	do
Império	Persa.	A	pressão	aumentou	ainda	mais	com	as	custosas	campanhas	de
Ciro	e	Cambises.
	
Mas	Gaumata	demonstrou	ser	um	extraordinário	 líder	 religioso,	denunciando	a
decadência	dos	tempos	e	defendendo	maior	entusiasmo	religioso,	e	perseguindo
outros	religiosos	no	século	6º	a.	C.	Essa	atitude	de	intolerância,	liderado	por	um
clérigo	 carismático,	 a	 denunciar	 o	 regente	 opressor	 e	 a	 afirmar	 a	 ortodoxia
religiosa	prefigura	algo	que	será	recorrente	ao	longo	da	história	iraniana.	A	vida
de	Gaumata	parece	não	ter	durado	muito,	pois	foi	morto	depois	de	alguns	meses
em	522	a.	C.	por	um	grupo	de	confederados	persas	liderados	por	Dario	(Dāryuš).
	
A	 Inscrição	 de	Behistun	 foi	 feita	 por	 ordem	de	Dario	 (522	 –	 486	 a.	C.)	 (fig.)
depois	 que	 ele	 se	 tornou	 rei,	 e	 assim	 ele	 apresenta	 sua	 versão	 dos	 eventos.	A
inscrição	em	si	nos	informa	que	cópias	foram	feitas	por	todo	o	império	persa	da
época.	E	nos	diz	sobre	as	inúmeras	revoltas,	Babilônia	se	insurgiu	duas	vezes,	e
Dario	chegou	a	reprimir	dezenove	insubordinações	somente	em	um	único	ano	de
seu	governo.
	
Figura	–	Retrato	de	Dario	I,	na	Inscrição	de	Behistun.	Dario	se	destaca	pela	estatura,	e	tem	em	sua	frente
representantes	de	prisioneiros	de	várias	nações.	Acima	dele,	o	símbolo	zoroastriano	de	faravahar,	disco
alado	representando	a	alma	humana	antes	do	nascimento	e	depois	da	morte.
	
Qualquer	que	 seja	 a	natureza	dessas	 rebeliões	 e	 suas	 causas,	 parece	não	 terem
sido	motivados	por	uma	tentativa	maior	de	deposição	e	golpe	ao	poder	central.
Parece	 ter	 sido	 antes	 uma	 série	 de	 revoltas	 locais,	 inspiradas	 e	 lideradas	 por
religiosos,	 manifestando	 suas	 insatisfações	 diante	 do	 poderio	 imperial	 persa.
Disso	 podemos	 inferir	 das	 declarações	 feitas	 em	Behistun,	 local	 escolhido	 por
Dario	por	ter	sido	próximo	de	onde	havia	matado	o	impostor	Gaumata.
	
Behistun	nos	traz	outras	informações	históricas	preciosas.	Por	perto	há	cavernas
que	foram	habitadas	por	neandertais	há	40	mil	anos	ou	mais.	Em	outros	 locais
próximos,	há	 relevo	na	pedra	de	uma	 figura	de	Hércules	do	período	Selêucida
(312	 a.C.	 –	 63	 a.C.)	 do	 governo	 helênico	 posterior.	 E	 também	 de	 uma
representação	do	culto	ao	fogo,	típico	dos	zoroastrianos,	dos	sassânidas	(224	d.
C.	–	654	d.	C.),	 restos	de	uma	edificação	dos	mongóis	 (início	do	 século	13)	e
fortificações	do	período	de	Nader	Xá	do	século	18.
	
O	fato	é	que	a	Inscrição	de	Behistun,	feita	por	Dario,	foi	amplamente	usada	para
propaganda	 de	 suas	 conquistas,	 mas	 também	 para	 legitimar	 sua	 ascensão	 ao
poder.	 Dario	 não	 foi	 um	 sucessor	 natural	 ao	 trono	 imperial	 persa.	 Ele	 era
descendente	de	uma	parte	 insignificante	da	 família	 real	dos	Aquemênidas.	Sua
forma	 de	 se	 legitimar	 foi,	 portanto,	 de	 perseguir	 os	 oponentes	 e	 desacreditar
rivais,	como	o	fez	a	Gaumata.	Acusou	pessoas	ímpias	e	injustas,	e	assim	fez-se
valoroso	diante	dos	preceitos	zoroastrianos,	um	soberano	que	obedecia	ao	justo,
ao	 verdadeiro	 (asha)	 e	 contra	 a	 falsidade	 (druj).	 Assim	 agindo,	 Dario
personificou	o	 seguidor	 ideal	de	Ahura	Mazda.	Em	outras	 inscrições,	Dario	 se
diz	 como	 exemplo	 de	 um	 arqueiro	 e	 cavaleiro,	 valores	 apreciados	 pela	 classe
guerreira	e	da	elite	persa	da	época,	ecoando	a	vida	dos	nômades	que	chegaram	às
terras	iranianas	nos	séculos	anteriores.
	
Anos	 depois	 da	 Inscrição	 de	 Behistun,	 Dario	 resolveu	 dignificar	 seu	 governo
ainda	mais	 e	mandou	 construir	 um	 enorme	 palácio	 nas	 terras	 persas	 originais,
mais	ao	sul	do	Irã.	Local	onde	depois	os	gregos	iriam	se	referir	como	Persépolis
(“Cidade	 dos	 Persas”).	 Assim	 fazendo,	 Dario	 buscou	 afastar-se	 da	 figura	 e
capital	 de	 Ciro,	 em	 Pasárgada.	 Persépolis	 demonstra	 todo	 o	 vigor	 e
monumentalidade	 dos	 Aquemênidas	 para	 a	 posteridade.	 O	 visitante	 hoje
caminha	 estonteado	 diante	 de	 suas	 incontáveis	 colunas	 e	 maciças	 colunas
encimadas	no	capitel	por	animais	míticos	duas	cabeças	(fig.).
Figura	–	Capitel	de	uma	coluna	em	Persépolis	de	duas	cabeças,	representando	o	touro.	A	figura	bovina
(Gavaevodata)	no	zoroastrismo	é	associado	ao	vigor	e	beneficência,	pois	foi	uma	das	criaturas	primordiais
de	Ahura	Mazda.
	
Persépolis	 serviu	 como	manifestação	da	 legitimidade	de	Dario,	 e	 depois	 como
modelo	nos	século	posteriores	de	associação	mística	ao	 reinado	persa.	O	rei,	o
palácio	 e	 suas	 conquistas	 seriam	 a	 manifestação	 divina	 da	 retidão	 contra	 a
opressão	 e	 injustiça,	 de	 acordo	 com	 os	 preceitos	 zoroastrianos.	 O	 tema	 de
submissão	e	tributo	também	aparecem	em	Persépolis	e	em	Behistun.	Filas	e	mais
filas	 de	 figuras	 representando	 prisioneiros	 e	 capturados	 de	 todo	 o	 império,
apresentando-se	nos	relevos	de	pedra.
	
O	 propósito	 da	 construção	 do	 palácio	 de	 Persépolis	 ainda	 não	 está	 totalmente
claro	 em	 certos	 aspectos.	 Possivelmente	 tenha	 sido	 planejado	 como	 local	 para
celebrações	e	cerimônias	do	equinócio	da	primavera,	o	Ano	Novo	persa	(Noruz,
comemorado	 a	 cada	 ano	 no	 dia	 21	 de	 março	 até	 os	 dias	 atuais).	 As	 filas	 de
portadores	de	tributos	esculpidos	nos	relevos	(fig.)	sugerem	que	o	local	pode	ter
sido	 para	 demonstrações	 de	 grandeza	 e	 lealdade	 do	 império	 persa	 dos
Aquemênidas,	pois	Persépolis	não	era	a	capital	principal	e	permanente.	A	capital
era	em	Susa,	antiga	capital	dos	elamitas.	Isso	demonstra	o	sincretismo	do	regime
persa,	pois	Ciro	era	ligado	por	origem	às	famílias	dos	medos.	Elam,	contudo,	era
importante	 por	 sua	 posição	 central,	 pelasua	 língua	 escrita	 e	 estrutura
administrativa	herdada	dos	elamitas.	O	império	dos	Aquemênidas,	portanto,	era
flexível	e	absorvia	as	entidades	políticas	anteriores	e	menores	para	compor	sua
unidade	imperial,	não	confrontadores	de	seu	domínio.
	
Figura	–	Fila	dos	povos	tributários	representados	na	escadaria	leste	da	apadana,	em	Persépolis.	Cada
tributo	representa	uma	particularidade	de	cada	nação	dentro	do	amplo	império	persa	dos	Aquemênidas.
	
Essa	relativa	paz	e	ordem	imperial	persa	irá	persistir	em	larga	medida	depois	do
reinado	de	Dario	(522	-	486	a.C.)	e	seus	herdeiros	até	o	século	4º	a.	C.	O	início
dos	 tempos	 de	 mudanças	 começou	 a	 soprar	 do	 longínquo	 oeste,	 nas	 regiões
montanhosas	da	Macedônia.	Por	volta	de	380	a.	C.,	Filipe	da	Macedônia	(359	-
336	a.C.)	(ou	Filipe	II)	nasceu	e	tornou-se	rei	em	359	a.	C.	dando	vazão	ao	seu
desejo	de	expansão	de	seu	reino.		Fator	decisivo	nas	vitórias	das	batalhas	foram
o	novo	corpo	de	infantaria	bem	treinado	e	equipado	com	lanças	mais	longas	do
que	o	normal	na	região	helênica	da	época.	Em	condições	favoráveis,	essas	lanças
cerradas	tem	um	efeito	bélico	considerável,	e	quando	não	necessárias,	poderiam
ser	 deixadas	 convenientemente	 de	 lado	 para	 a	 luta	 por	 espadas	 ou	 atuação	 da
cavalaria.
	
Estabelecido	como	principal	poder	no	norte	da	Grécia	e	da	Trácia,	Filipe	passou
a	atacar	e	derrotou	a	aliança	de	Atenas	e	Tebas	na	Batalha	de	Queroneia	em	338
a.	C.	e	assim	estabeleceu	a	Liga	de	Corinto,	sedimentando	de	vez	a	hegemonia
macedônia	e	pondo	fim	às	autonomias	das	cidades-estados	helênicas.	A	exceção
mais	 notável	 foi	 Esparta.	 Quando	 Filipe	 exigiu	 sua	 submissão	 e	 ameaçou
escravizar	todos	os	rebeldes,	o	macedônio	foi	prontamente	desafiado	pelo	termo
lacônico,	 “se”.	 Temendo	 a	 heroica	 resistência	 espartana	 demonstrada	 em
Termópilas	 (480	 a.	 C.),	 Filipe	 decidiu	 por	 bem	 não	 se	 engajar	 contra	 os
espartanos.
	
De	qualquer	maneira,	Filipe	tinha	outros	planos	em	mente.	Pretendia	invadir	as
terras	do	império	persa	mais	ao	leste,	na	Ásia	Menor	(ou	Anatólia)	(mapa),	ditas
como	 carregadas	 de	 lendária	 riqueza.	 Os	 preparativos	 foram	 cuidadosos	 e	 foi
justificada	 a	 invasão	 pela	 profanação	 de	 templos	 atenienses	 pelos	 persas	 na
invasão	feita	em	480	a.	C.,	à	época	sob	os	Aquemênidas	de	Xerxes	(486	-	465
a.C.)	(Kshaiarsha).	Mas	antes	que	Filipe	pudesse	pôr	em	prática	seus	planos,	ele
foi	 misteriosamente	 assassinado	 em	 outubro	 de	 336	 a.	 C.,	 alguns	 sugerindo	 a
participação	 de	 sua	 quarta	 esposa,	 Olímpia	 (Olímpia	 de	 Epiro)	 e	 seu	 filho,
Alexandre	(Alexandre	III,	que	passaria	a	depois	ser	conhecido	como	Alexandre,
o	 Grande),	 mas	 parece	 mais	 plausível	 que	 os	 persas	 tenham	 instigado	 a	 sua
morte.
	
Mapa	dos	domínios	de	Filipe	da	Macedônia	em	336	a.	C.,	parte	ocidental	das	terras	persas	estão	situadas
ao	leste	na	Ásia	Menor	(Anatólia),	à	direita	no	mapa.
	
Alexandre	 (fig.)	 assumiu	 o	 trono	 de	 seu	 pai,	 e	 prosseguiu	 com	 sua	 ambição
contra	os	persas	ao	 leste.	O	 jovem	macedônio	consolidou	sua	autoridade	sobre
os	gregos	prontamente	esmagando	uma	rebelião	em	Tebas	e	depois	cruzou	o	mar
para	 a	 Ásia	 Menor	 em	 334	 a.	 C.	 Ali	 ele	 derrotou	 um	 exército	 persa	 no	 rio
Grânico	(perto	de	Dardanelos),	conquistou	as	cidades	da	costa	jônica,	incluindo
a	estratégica	cidade	de	Sárdis	 (ou	Sardes)	na	Lídia,	e	depois	passou	a	marchar
mais	para	o	leste.
	
Figura	–	Alexandre,	o	Grande,	em	relevo	numa	tumba	do	período	helenístico	(século	4º	a.	C.),	hoje	no
Museu	Arqueológico	de	Istambul.
	
Ano	seguinte,	em	333	a.	C.,	Alexandre	entrou	em	batalha	e	derrotou	o	próprio
imperador	 persa,	 Dario	 III	 (c.	 336	 –	 330	 a.C.),	 na	 Batalha	 de	 Isso,	 na	 costa
mediterrânica,	 perto	 da	 fronteira	 atual	 da	 Síria	 com	 a	 Turquia.	 Dario	 seria	 o
último	 dos	 regentes	 dos	 Aquemênidas.	 Depois	 desse	 heroico	 feito,	 Alexandre
passou	 a	 avançar	 para	 o	 sul,	 tomando	 as	 cidades	 costeiras	 e	 conquistando	 o
Egito,	ali	fundando	Alexandria.	Seguindo	para	o	leste	novamente,	em	331	a.	C.,
Alexandre	derrotou	Dario	III	numa	outra	batalha	em	Gaugamela,	perto	das	atuais
Mosul	e	Arbil,	no	que	hoje	é	o	Curdistão	iraquiano	(mapa).	Nessa	batalha,	Dario
III	 abandonou	o	 campo	de	guerra	 e	depois	 foi	morto	 algum	 tempo	depois,	 em
julho	de	333	a.	C.,	por	Bessos,	um	governador	(sátrapa)	das	províncias	orientais
de	Báctria	e	Sogdiana	do	império	persa.
	
Mapa	das	espetaculares	ofensivas	de	Alexandre	contra	o	Império	dos	Aquemênidas.
	
Alexandre	depois	continuou	e	tomou	as	cidades	da	Babilônia,	Susa	e	finalmente
Persépolis	 em	 330	 a.	 C.	 Uma	 versão	 da	 história	 nos	 conta	 que	 o	 palácio	 de
Persépolis	 foi	 incendiada	por	vingança	 à	queima	da	Acrópole	de	Atenas	 feitas
sob	 comando	 de	 Xerxes.	Mas	 o	 mais	 provável	 é	 que	 Persépolis	 foi	 destruída
antes	por	um	ato	político	deliberado,	a	mostrar	que	a	dinastia	Aquemênida	tinha
terminado	para	sempre.
	
Apesar	disso,	Alexandre	passou	a	se	apresentar	não	como	uma	figura	vingativa,
mas	 como	 sucessor	 dos	 Aquemênidas.	 Os	 governantes	 persas	 anteriores	 das
províncias	 (sátrapas),	 como	 o	 de	 Babilônia	 e	 Susa,	 foram	 mantidos	 em	 seus
postos.	Daquele	momento	em	diante,	o	macedônio	passou	a	seguir	uma	política
de	 continuidade	 e	 persuasão,	 incentivando	 suas	 tropas	 a	 se	 casarem	 com
mulheres	locais	e	estabelecerem	suas	residências	nas	terras	recém	conquistadas.
Alexandre	 mesmo	 chegou	 a	 se	 casar	 com	 várias	 princesas	 persas,	 incluindo
Statira,	 filha	de	Dario	 III,	 e	mais	 tarde	com	Roxana	 (que	vem	do	 termo	persa,
roshan,	“luz”),	filha	de	Oxiartes	da	Báctria.
	
As	campanhas	de	Alexandre	prosseguiram	para	as	regiões	limítrofes	do	império
persa,	e	indo	muito	além	ao	leste,	na	região	noroeste	da	atual	Índia	e	região	do
Punjab.	 Mas	 suas	 forças	 ficaram	 cada	 vez	 mais	 cansadas	 depois	 de	 anos	 de
batalhas	e	marchas	intermináveis.	Alguns	começaram	a	desconfiar	e	criticaram	a
postura	pró-persa	do	líder	macedônio.	Em	momento	derradeiro,	Alexandre	veio
a	falecer	na	Babilônia	em	323	a.	C.,	provavelmente	de	causas	naturais,	depois	de
uma	sessão	de	bebedeira.
	
A	 sucessão	 ao	 império	 de	Alexandre	 não	 tinha	 ficado	 claro,	 e	 o	 resultado	 foi
uma	 série	de	 conflitos	 entre	os	 seus	principais	 generais	 para	dividir	 as	 regiões
conquistadas.	Nesses	embates,	o	 filho	de	Alexandre	com	Roxana	chegou	a	 ser
cogitado	 como	único	herdeiro,	mas	 ele	 junto	 com	 sua	mãe	 foi	 assassinado	 em
310	ou	309	a.	C.	Apesar	da	morte	imatura,	Alexandre	deixou	um	rico	legado	da
civilização	 helênica	 para	 as	 terras	 persas,	 criando	 uma	 mistura	 da	 cultura
ocidental	e	oriental.
	
A	 Pérsia	 passou	 a	 ser	 governada	 por	 descendentes	 de	 Seleuco	 (Seleuco	 I
Nicátor)	(306	-	281	a.C.),	um	dos	generais	de	Alexandre,	por	mais	de	um	século,
e	a	influência	helenista	persistiu,	juntamente	com	elementos	locais.	Os	regentes
dessa	 nova	 dinastia	 persa,	 a	 dos	 selêucidas	 (323	 -	 64	 a.C.),	 portaram-se	mais
como	governantes	persas	do	que	helênicos,	assim	como	o	foi	o	caso	a	dinastia
dos	 ptolomaicos	 (305	 –	 30	 a.C.)	 que	 governaram	 o	 Egito.	 Quando	 Roma
ascendeu	 e	 dominou	 toda	 a	 região	 do	Mediterrâneo,	 a	 região	 leste	 do	 império
romano	acabou	adquirindo	contornos	mais	grego	e	oriental	do	que	o	oeste	latino.
Apesar	 da	 presença	 helênica	 marcante,	 os	 persas	 conservaram	 seus	 valores	 e
cultura	 própria.	 O	 zoroastrismo	 e	 o	 masdeísmo	 persistiram	 mesmo	 depois	 de
Alexandre	e	os	selêucidas.
	
Sob	 a	 ótica	 da	 tradição	 zoroastriana,	 diferentemente	 das	 fontes	 ocidentais,
Alexandre	 (Iskander,	 como	 foi	 referido	 entre	 os	 persas)	 passou	 a	 simbolizar	 o
belicismo	 numa	 conotação	 negativa.	 Isso	 parece	 ter	 ocorrido	 devido	 à
perseguição	 que	 os	 helenistas	 promoveram	 principalmente	 contra	 líderes
sacerdotais	(magos)	rebeldes	e	do	saque	e	pilhagem	dos	templos	zoroastrianos	(e
pela	infame	extinção	das	chamas	sagradas	dentro	desses).	Seguindo	essa	tradiçãozoroastriana,	 Alexandre	 passou	 a	 ser	 referido	 com	 o	 título	 em	 comum	 à
Ahriman,	guzastag,	“maldito”	[2].
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
2	REI	DOS	REIS	–	IRÃ	(3º	SÉCULO	A.	C.	AO	7º	D.	C.)
	
	
	
	
O	império	dos	selêucidas,	estabelecido	em	312	a.	C.	parecia	ser	o	mais	poderoso
Estado	que	 sucedeu	às	 conquistas	de	Alexandre.	Seus	 limites	 incluíam	a	Síria,
Mesopotâmia	e	terras	do	planalto	iraniano,	assim	como	aliados	mais	ao	leste.	A
capital	 inicial,	Babilônia,	mudou-se	depois	para	um	novo	local	ao	 longo	do	rio
Tigre,	 apropriadamente	 nomeada	 como	 Selêucia	 (do	 grego	 Σελεύκεια,
Seleúkeia).	 Algum	 tempo	 depois,	 visando	 manter-se	 mais	 próximo	 ao	 Mar
Mediterrâneo,	 centrou-se	 o	 império	 em	 Antioquia	 (do	 grego,	 Ἀντιόχεια,
Antiókheia).
	
Os	regentes	dos	selêucidas	seguiram	a	política	de	Alexandre,	de	adaptação	aos
costumes	e	protocolos	locais.	Contudo,	estabeleceram	um	corpo	militar	helênico
visando	manter	a	lealdade	e	disciplina	nessa	área	crucial,	apesar	de	terem	usado
mão-de-obra	 persa	 nos	 escalões	 inferiores.	 Colônias	 foram	 fundadas	 no	 leste,
mas	 a	 atenção	 primordial	 voltou-se	 para	 o	 oeste,	 região	 onde	 alimentaram
ambições	sobre	outra	dinastia	macedônica,	a	dos	ptolomaicos	no	Egito.	No	leste,
as	 satrapias	 (províncias)	 periféricas	 de	 Sogdiana	 e	 Báctria	 gradualmente
passaram	a	ser	tratadas	com	maior	autonomia,	e	seu	relativo	abandono	criou	uma
cultura	que	fundiu	as	tradições	helênicas	com	o	budismo	[3]	e	valores	locais	(fig.).
	
Figura	–	Um	dos	maiores	legados	da	cultura	greco-bactriana	foi	a	escola	de	Gandara,	que	fundiu
elementos	da	arte	helênica	e	budista.	Escultura	do	século	1º	ou	2º	d.	C.,	no	Museu	Nacional	de	Tóquio.
	
O	 vento	 das	 mudanças	 no	 século	 2º	 a.	 C.	 nas	 terras	 iranianas	 adveio	 com	 a
crescente	atuação	de	nações	nômades	originadas	das	estepes	ao	norte,	na	região
sul	 do	Mar	 Cáspio,	 a	 destacar	 os	 das	 tribos	 dahae	 (do	 persa	 dahan)	 e	 sakae.
Essas	tribos	eram	exímios	cavaleiros	e	arqueiros,	provando	serem	ágeis	e	móveis
no	campo	aberto	de	batalha.
Decorridas	duas	gerações	depois	da	morte	de	Seleuco	Nicator,	em	281	a.	C.,	um
grupo	entre	os	dahaes,	os	parnos	(ou	parni),	estabeleceram-se	como	supremos	na
região	da	Pártia	e	terras	ao	leste	do	Cáspio,	suplantando	o	governante	selêucida
local	 (sátrapa),	Andrágoras,	por	volta	de	250	a.	C.	e	consolidando	um	governo
autônomo	na	região.		A	família	Parni	que	se	instaurou	no	poder	nomeou-se	como
a	 dinastia	 dos	 Arsácidas	 (247	 a.	 C.	—	 224	 d.	 C.),	 em	 homenagem	 à	 Arshak
(Ársaces)	(?	–	211	a.	C.),	figura	histórica	que	assumiu	o	controle	da	Pártia.
	
Os	soberanos	arsácidas	foram	cuidadosos	o	suficiente	para	manter	a	estrutura	e
poderio	 local	dos	helênicos	nas	cidades	onde	passaram	a	governar.	 Isso	se	deu
pois	boa	parte	da	riqueza	do	império	da	Pártia	(ou	dos	partas)	vinha	do	comércio
que	 vinha	 das	 regiões	 ao	 leste,	 no	 Império	 Chinês	 ao	 oeste	 na	 região
mediterrânica,	 controlada	 pelos	 selêucidas	 (e	 que	 depois	 seriam	 suplantados
pelos	 romanos	a	partir	do	 início	do	século	2º	a.	C.	na	Anatólia).	Mas	 isso	não
impediu	a	ambição	dos	partas	em	buscar	expandir	nas	regiões	orientais,	visando
controlar	a	 região	da	Báctria	antes	governada	por	 regentes	selêucidas	há	muito
autônomos	do	restante	dos	helênicos.
	
Apesar	das	ambições	orientais,	os	partas	sabiam	que	as	regiões	ocidentais	eram
cruciais.	No	reinado	de	Mitrídates	I	(171	a.	C.	–	138	a.	C.),	os	partas	ocuparam	a
região	de	Sistão	(Sistan),	Elam	e	Media.	Em	142	a.	C.,	capturaram	a	cidade	da
Babilônia,	e	um	ano	depois,	a	própria	Selêucia	ao	longo	do	rio	Tigre.	Em	126	a.
C.,	 os	 selêucidas	 tentaram	 contra-atacar	 os	 partas,	 aliando-se	 aos	 sakaes,
chegando	a	matar	o	rei	parta,	Fraates	II	(132	–	126	a.	C.).	Mas	pouco	depois,	o
rei	 parta	 Mitrídates	 II	 (ou	 Mitrídates,	 o	 Grande)	 conseguiu	 novamente
consolidar-se	 no	 poder	 num	 longo	 reinado,	 de	 123	 a.	 C.	 a	 88	 a.	 C.,	 quando
passou	a	usar	o	antigo	título	dos	Aquemênidas	de	“Rei	dos	Reis”	(shahanshah).
	
O	motivo	 das	 disputas	 entre	 os	 selêucidas	 e	 partas	 estão	 em	 boa	 parte	 sob	 o
controle	das	rotas	comerciais	que	depois	seriam	denominado	de	Rota	da	Seda.	O
envolvimento	dos	gregos	selêucidas	explica	em	parte	a	própria	sobrevivência	da
cultura	helênica	no	periodo	dos	partas	quanto	o	respeito	dos	regentes	partas	por
ela.	Os	partas	efetivamente	buscaram	tanto	quanto	o	possível	manter-se	aliados
ou	em	termos	amigáveis	com	os	gregos	selêucidas,	não	por	sensibilidade	estética
ou	 deferência	 cultural,	mas	 por	 razões	 econômicas	 e	 comerciais.	Mitrídates,	 o
Grande,	manteve	contatos	diplomáticos	com	o	imperador	chinês	Wu	da	dinastia
Han	(141	a.	C.	–	87	a.	C.)	e	também	igualmente	com	a	República	Romana	sob	o
ditador	Sula	(Lúcio	Cornélio	Sula	Felix).
	
Com	 o	 objetivo	 de	 estabelecer	 uma	 presença	 duradoura	 na	 Mesopotâmia,
Mitrídates	e	depois	seu	sucessor,	Gotarzes	I	(95	a.	C.	–	90	a.	C.),	fundaram	uma
nova	 cidade,	 Ctesifonte,	 perto	 de	 Selêucia.	 Esta	 última	 ainda	 continuou	 como
capital	por	mais	de	setecentos	anos,	embora	fosse	mais	centro	administrativo,	do
outro	lado	do	rio	Tigre.	Ecbátana	(atual	Hamadã,	no	oeste	do	Irã)	passou	a	servir
como	sede	de	verão,	a	fugir	do	sufocante	calor	mesopotâmico.	Assim,	os	partas
estabeleceram	um	poderoso	império	e	passaram	a	controlar	um	vasto	território,
mas	 com	 um	 toque	 de	 tolerância	 e	 respeito	 às	 diversidades	 locais,	 com	 os
regentes	 partas	 contentando-se	 em	 tolerar	 os	 padrões	 religiosos,	 linguísticos	 e
culturais	das	províncias.
	
Em	 termos	 políticos,	 praticaram	 o	 que	 se	 chamou	 de	 “poder	 devolvido”
(parakandeh	 shahi),	 ou	 seja,	 com	 a	 prática	 de	 conceder	 a	 governantes
hereditários	 locais,	 sátrapas,	 o	 efetivo	 comando	 local	 assim	 como	 havia	 sido
feito	entre	os	selêucidas.	Funcionários	e	escribas	do	império	parta	continuaram	a
usar	a	lingua	franca	da	época,	o	aramaico,	como	nos	tempos	dos	Aquemênidas.
A	diversidade	religiosa	é	sinalizada	pela	própria	nomenclatura	dos	imperadores
partas.	 Mitrídates	 e	 Fraates	 (este	 último,	 relacionado	 ao	 termo	 fravashi,	 do
Avesta)	 atestam	 a	 lealdade	 dos	 partas	 arsácidas	 ao	 masdeísmo.	 Babilônios,
gregos,	judeus	e	outros	foram	autorizados	a	seguir	suas	tradições	religiosas.	Na
literatura	 judaica,	 os	 partas	 são	 lembrados	 como	 tolerantes	 e	 amigáveis,	 como
diz	um	velho	ditado	judeu:	“Quando	você	vê	um	parta	acorrentado	a	uma	lápide
na	terra	de	Israel,	a	hora	do	Messias	estará	próxima”.
	
A	 escultura	 parta	 demonstra	 um	 estilo	 particular,	 com	 forte	 ênfase	 na
frontalidade,	 diferente	 da	 escultura	 iraniana	 em	 tempos	 anteriores	 (fig.).	 A
arquitetura	parta,	tal	como	nos	mostra	em	Nisa,	atual	Turcomenistão,	mostra	um
elemento	 inédito	 que	 depois	 seria	 incorporado	 na	 arquitetura	 islâmica	 e
sassânida,	o	auditório	ou	ivan	(do	persa	e	árabe	 ناویا 	em	árabe,	eyvan	ou	iwan)
(fig.).	Em	suma,	os	partas	toleraram	a	diversidade	e	ao	mesmo	tempo	souberam
apresentar	características	novas	diante	dos	novos	tempos	imperiais,	expressão	de
sua	ascendência	e	autoconfiança.
	
Figura	–	Escultura	de	um	parta,	enfatizando	a	frontalidade	da	figura.	Hoje,	no	Museu	Nacional	do	Irã	em
Teerã.
	
Figura	–	Fotos	do	século	19	mostrando	o	arco	do	ivan	do	que	restou	do	palácio	de	Ctesifonte.
	
Na	 arte	 da	 guerra,	 os	 partas	 não	 ficaram	 atrás	 dos	 romanos.	 Estes	 foram
direcionados	 cada	 vez	mais	 para	 o	 leste	 na	 ambição	 de	 líderes	 como	 Pompeu
(106	–	48	a.	C.),	Lúculo	(118	–	56	a.C)	e	Crasso	(114	–	53	a.	C.),	que	viam	na
conquista	militar	um	meio	para	a	glória	dentro	da	República	Romana	na	primeira
metade	 do	 século	 1º	 a.	 C.	 Foi	 nessa	 época	 que	 os	 romanos	 haviam	 sido	 bem
sucedidos	 em	 tomar	 o	 controle	 do	Mediterrâneo	 oriental	 dos	 helenísticos,	 e	 a
partir	 disso	 passaram	 a	 se	 concentrar	 no	 controle	 das	 terras	 ao	 leste,
pressionando	 as	 fronteiras	 com	 os	 partas	 na	 Armênia,	 Síria	 e	 norteda
Mesopotâmia.	Eventualmente,	 em	53	a.	C.,	Marco	Licínio	Crasso,	um	 romano
fabulosamente	 rico	 que	 tinha	 reprimido	 a	 revolta	 dos	 escravos	 liderados	 por
Espártaco	(c.	109	–	c.	71	a.C.)	no	sul	italiano	nos	anos	anteriores,	foi	nomeado
como	 governador	 da	 Síria	 romana.	 Esperando	 pela	 mesma	 glória	 no	 leste	 e
buscando	 rivalizar	 com	as	 conquistas	 recentes	de	 Júlio	César	na	Gália,	Crasso
resolveu	 marchar	 um	 contingente	 de	 cerca	 de	 40	 mil	 homens	 rumo	 a	 Carras
(atual	Harã,	 na	Turquia),	 ignorando	 o	 conselho	 do	 rei	 da	Armênia	 oferecendo
passagem	pelo	norte.
	
Em	Carras,	Crasso	defrontou-se	em	planície	aberta	com	uma	força	menor,	mas
ágil	e	veloz,	de	cerca	de	10	mil	cavaleiros	partas,	a	incluir	um	grande	número	de
arqueiros	a	cavalo	apoiados	por	cavaleiros	blindados	e	fortemente	armados	com
longas	lanças	(catafractários).	Os	romanos,	por	sua	vez,	eram	compostos	na	sua
maior	 parte	 por	 infantaria	 blindada	 flanqueados	 por	 cavaleiros	 gauleses
levemente	 armados.	 Em	 momento	 derradeiro,	 os	 partas	 confrontaram	 os
romanos	 num	 embate	 não	 esperado	 por	 Crasso	 e	 seus	 estrategistas.	 Com	 o
avanço	 da	 infantaria	 romana,	 os	 arqueiros	 a	 cavalo	 dos	 partas	 repetidamente
fustigavam	 com	 levas	 de	 tiros	 nos	 flancos	 romanos	 (fig.).	 Hora	 após	 hora,
chuvas	de	flechas	caíram	sobre	os	romanos,	com	o	pronto	retiro	dos	cavaleiros
partas.	Essa	tática	acabou	esgotando	o	moral	e	paciência	dos	romanos,	cansados
com	 o	 lento	 avanço	 e	 calor	 do	 campo	 de	 batalha.	 A	 frustração	 por	 não
conseguirem	 defrontar-se	 frontalmente	 com	 os	 partas	 começou	 a	 se	 tornar
insuportável	com	o	tempo.
Figura	–	Representação	artística	de	cavaleiros	arqueiros	partas	em	ataque	de	retirada	na	batalha	de
Carras	de	53	a.	C.
	
Diante	 disso,	 em	 determinado	 momento,	 um	 filho	 de	 Crasso,	 Públio	 Licínio
Crasso	(88	–	53	a.	C.)	decidiu	mobilizar	o	destacamento	dos	cavaleiros	gauleses
a	avançar	contra	os	partas.	Nisso,	novamente	os	cavalos	partas	recuaram	como
se	estivessem	em	retirada,	mas	a	real	intenção	era	afastá-los	do	corpo	principal
da	 infantaria	 e	 comando.	Quando	 os	 gauleses	 tinham	 se	 afastado	 o	 suficiente,
sofreram	 o	 avanço	 da	 cavalaria	 pesada	 dos	 partas.	 Em	 desespero,	 os	 gauleses
tentaram	 atacar	 em	 solo	 os	 cavalos	 dos	 inimigos,	 mas	 a	 situação	 já	 não	 era
favorável,	 pois	 logo	 em	 seguida	 veio	 a	 chuva	 de	 flechas	 vindos	 dos	 arqueiros
partas.	 Desorientados	 e	 confusos	 com	 a	 nuvem	 de	 flechas	 e	 poeira	 levantada
pelos	 cavalos	partas,	 o	 destacamento	 romano	do	 filho	de	Crasso	 tentou	buscar
retirar-se	 para	 uma	 colina	 onde	 foram	 eventualmente	 cercados,	 com	 muitos
escravizados	ou	mortos	em	53	a.	C.
	
A	derrota	dos	romanos	desmoralizou-os	ainda	mais.	Finalmente,	Crasso	resolveu
tentar	negociar	com	o	general	parta,	Suren,	apenas	para	ser	morto	numa	briga	e
ser	decapitado.	Os	sobreviventes	do	exército	romano	se	retiraram	em	desordem
da	 Síria.	 Enquanto	 isso,	 cerca	 de	 10	mil	 prisioneiros	 romanos	 foram	 expulsos
pelos	 partas	 para	 a	 remota	 região	 nordeste	 do	 império.	 Segundo	 o	 historiador
grego	Plutarco	(c.	46	–	c.	120	d.	C.),	a	cabeça	de	Crasso	foi	enviado	ao	rei	parta,
Orodes	II	(g.	57	–	38	a.	C.),	enquanto	este	assistia	a	uma	peça	de	Eurípedes,	“As
Bacantes”.	 O	 general	 Suren,	 mais	 tarde,	 seria	 representado	 como	 um	 herói,
lembrando	 os	 feitos	 do	mítico	 Rostam	 imortalizado	 no	 grande	 épico	 persa	 do
século	10,	o	Shahnameh	(“Épico	dos	Reis”)	de	Ferdusi.
	
O	 resultado	 da	 batalha	 de	 Carras	 fora	 desastrosa	 para	 o	 prestígio	 romano	 no
leste,	e	possibilitou	aos	partas	expandir	seu	controle	sobre	a	região	da	Armênia.
Mas	no	ambiente	competitivo	de	Roma	nos	 tempos	 finais	de	sua	 república	em
fins	do	primeiro	século	a.	C.,	o	destino	de	Crasso	serviu	mais	como	um	desafio.
Suceder	 onde	Crasso	 fracassara	 tornou-se	 um	 triunfo	 a	 ser	 conquistado.	Outro
fator	 de	 atração	 aos	 romanos	 foi	 a	 riqueza	 advinda	 das	 rotas	 comerciais	 que
vinham	do	leste	asiático	e	que	passavam	pelas	terras	do	Império	Parta	e	leste	do
Mediterrâneo.	Enquanto	os	partas	enriqueceram	com	o	controle	da	maior	parte
das	rotas	terrestres,	os	romanos	viram	grande	parte	de	seu	ouro	a	pagar	tecidos
de	seda	advindos	do	leste.
	
Nesse	contexto,	outro	 líder	 ambicioso	 romano,	Marco	Antônio	 (83	–	30	a.	C.)
buscou	novamente	atacar	pelas	fronteiras	ao	leste	os	partas.	Mas	antes	mesmo	de
Marco	Antônio	houvera	outras	campanhas	de	lutas	entre	romanos	e	partas,	com
resultados	 mistos.	 Em	 51	 a.	 C.,	 alguns	 romanos	 conseguiram	 emboscar	 uma
força	parta	perto	de	Antioquia.	Em	40	a.	C.,	os	partas	comandados	pelo	filho	de
Orodes	II,	Pácoro	I	(63	–	38	a.	C.),	irrompeu	da	Síria	e	conquistou	a	Palestina	e
todas	 as	províncias	da	Ásia	Menor.	E	no	 cenário	do	 caos	político	 logo	 após	o
assassinato	de	Júlio	César	em	44	a.	C.,	houve	considerável	ofensiva	dos	partas
nas	 províncias	 romanas	 no	 continente	 asiático.	 Um	 ano	 depois,	 um	 dos
subordinados	de	Marco	Antônio,	Públio	Ventídio,	conseguiu	retomar	o	controle
das	províncias	orientais	com	a	decisiva	atuação	de	algumas	legiões	veteranas	do
exército	de	Júlio	César.
	
Vendo	 a	 glória	 de	Ventídio	 apenas	 serviu	 para	 alimentar	 a	 ambição	 de	Marco
Antônio	 sobre	 os	 partas.	 Em	 36	 a.	 C.,	 o	 líder	 romano	mobilizou	 um	 exército
mais	 do	 que	 o	 dobro	 do	 tamanho	 do	 de	 Crasso	 e	 marchou	 para	 a	 região	 da
Mesopotâmia.	Ao	se	deparar	com	a	chuva	de	flechas,	a	infantaria	romana	passou
a	 formar-se	 em	 campo	 de	 batalha	 fechando-se	 em	 fileiras	 cerradas	 com	 os
escudos	 nos	 flancos	 e	 sobre	 as	 cabeças,	 na	 chamada	 formação	 de	 testudo
(“tartaruga”).	Embora	tenha	se	revelado	uma	defesa	eficaz	contra	as	flechas	dos
partas,	 isso	 também	diminuiu	 a	mobilidade	da	 infantaria	 romana,	permitindo	a
cavalaria	 de	 arqueiros	 partas	 mover-se	 à	 vontade	 ao	 redor	 dos	 romanos	 em
marcha,	 além	 de	 expor	 as	 colunas	 de	 suprimento	 dos	 romanos	 criando
dificuldade	no	fornecimento	de	comida	e	água.
	
Tendo	assim	sofrido	baixas	em	campo,	Marco	Antônio	decidiu	então	deslocar-se
mais	 para	 o	 norte	 do	 território	 parta,	 no	 que	 hoje	 é	 o	 Azerbaijão.	 Mas	 ele
conseguiu	 pouco	 com	 isso,	 forçando-o	 a	 recuar	 para	 a	 Armênia	 no	 frio	 do
inverno	 e	 perdendo	 assim	 mais	 de	 20	 mil	 homens.	 A	 mensagem	 ao	 final	 da
expedição	 de	 Antônio	 foi	 clara:	 os	 romanos	 defrontaram-se	 com	 um	 inimigo
com	táticas	e	mobilidade	desconhecidas	em	terreno	que	ditava	um	impasse	para
a	pesada	 infantaria	 romana.	Os	 romanos	eram	presa	 fácil	em	 terreno	aberto.	A
cavalaria	 parta,	 por	 sua	 vez,	 revelou-se	 frágil	 às	 emboscadas	 dos	 romanos	 em
terreno	montanhoso.
	
Depois	que	Augusto	tomou	o	poder	romano	após	derrotar	Marco	Antônio	em	31-
30	 a.	 C.,	 o	 imperador	 romano	 buscou	 uma	 política	 mais	 voltada	 para	 a
conciliação	 e	diplomacia	 com	os	partas.	Com	 isso,	 os	partas	passaram	a	mirar
mais	o	leste,	criando	um	império	indo-parta	na	região	noroeste	indiana	atual,	no
Punjab.	No	entanto,	os	conflitos	no	oeste	com	os	romanos	foram	retomados	no
reinado	de	Nero	(r.	54	–	68	d.	C.)	depois	que	o	rei	parta,	Vologases	I	(Valkash)
(r.	51	–	78	d.	C.)	(fig.)	nomeou	um	novo	soberano	na	Armênia	(mapa),	Estado
considerado	pelos	romanos	a	eles	subordinados.	Assim,	o	general	romano,	Cneu
Domício	Córbulo,	 avançou	 e	 conquistou	 a	Armênia	 em	58	–	60	d.	C.,	mas	os
partas	logo	contra-atacaram	com	algum	sucesso	anos	depois.	O	resultado	desses
conflitos	entre	romanos	e	partas	foi	o	estabelecimento	de	uma	dinastia	arsácida
(54	d.	C.	–	428	d.	C.)	independente	na	Armênia,	servindo	a	partir	de	então	como
um	Estado-tampão	entre	as	duas	potências.
	
Figura	-	O	soberano	parta,	Vologases	I,	numa	moeda	parta	(dracma).
	
Mapa	do	reino	da	Armênia	(centro)	por	volta	do	ano	de	50	d.	C.,	entre	os	domínios	romanos	ao	oeste	e
dos	partas	ao	sul.
	
No	 campo	 religioso,	 Vologases	 foi	 um	 regente	 crucial	 paraa	 história	 do
masdeísmo	e	sua	 transição	para	a	moderna	crença	do	zoroastrismo.	Nos	 textos
zoroastrianos	 posteriores	 há	 relatos	 de	 que	 o	 rei	 Vologases	 (referido	 como
Valkash)	foi	o	primeiro	a	mandar	reunir	todas	as	tradições	orais	religiosos	para
registrá-los	sistematicamente.	Isso	deu	início	que	resultou	nos	textos	do	Avesta	e
de	outras	escrituras	sagradas	do	zoroastrismo.	Se	de	fato	o	referido	Valkash	foi
Vologases	 I,	 isso	 condiz	 com	 sua	 decisão	 política	 durante	 seu	 reinado	 de
reafirmar	o	caráter	iraniano,	a	diferenciar	das	outras	nações	vizinhas.	Acredita-se
que	Vologases	I	tenha,	nesse	intuito,	buscar	evitar	as	influências	helenísticas	da
região	e	manifestou-se	a	favor	da	escrita	aramaica	da	língua	parta	como	as	que
constam	em	alguma	de	suas	moedas.	Há	 também	sinais	de	que	o	regente	parta
apresentou-se	 hostil	 aos	 judeus,	 prefigurando	 alguns	 séculos	 depois	 a	 política
dos	sassânidas	(224	d.	C.	–	651	d.	C.),	a	buscar	fortalecer	a	identidade	iraniana
contra	as	influências	e	comunidades	consideradas	estrangeiras.
	
Outra	crença	iraniana	da	época	teria	notável	expansão	e	influência	ao	oeste	que
se	popularizou	entre	os	soldados	romanos,	o	mitraísmo.	Mitra	é	uma	divindade
dentro	do	panteão	do	masdeísmo	que	depois	tornou-se	central	quando	o	seu	culto
expandiu-se	em	direção	ao	ocidente.	O	fato	é	que	Mitra	depois	vai	ser	cultuado
como	 uma	 divindade	 diferente	 do	 seu	 contexto	 anterior	 nas	 terras	 persas	 e
asiáticas,	 pois	 Mitra	 foi	 considerado	 entre	 os	 romanos	 como	 um	 deus	 dos
soldados	 e	 importante	 elemento	 de	 senso	 de	 lealdade	 e	 comunidade	 militar.
Embora	Mitra	estivesse	associado	ao	sol,	o	mitraísmo	assumiu	parte	do	caráter
de	culto	ritualizado	do	paganismo	ocidental,	perdendo	a	maior	parte	do	conteúdo
ético	 do	 masdeísmo	 iraniano	 e	 tornando-se	 um	 tipo	 de	 sociedade	 secreta.	 Os
princípios	 desse	 mitraísmo	 inclui	 cerimônias	 secretas	 (mistérios),	 ritos	 de
iniciação	 e	 uma	 acentuada	 hierarquia	 de	 seus	 associados.	 Os	 templos
subterrâneos	 e	 cavernas	 (chamadas	 de	 mitreu	 ou	 mithraeum	 no	 plural)	 de
iniciação	 foram	 depois	 encontrados	 pelo	 Império	 Romano,	 desde	 as	 fronteiras
com	as	 terras	 iranianas,	 sírias	até	em	Óstia	na	 Itália	e	Muralha	de	Adriano,	no
norte	da	Inglaterra.
	
O	 período	 de	 alastramento	 e	 popularidade	 do	 mitraísmo	 depois	 se	 juntou	 às
significativas	 influências	 religiosas	 e	 intelectuais	 das	 terras	 iranianas	 no
Ocidente.	Acredita-se	que	tenha	havido	influência	sobre	a	Igreja	Cristã	nos	seus
primeiros	 séculos,	 pois	 bispos	 cristãos	 buscaram	 associar	 sua	 religião	 com	 as
crenças	 pagãs	 onde	 era	 evidente	 o	mitraísmo	nos	 domínios	 de	Roma.	Um	dos
traços	 mais	 claros	 dessa	 mescla	 de	 crenças	 ao	 nascente	 cristianismo	 foi	 o	 de
manter	a	 tradição	de	se	comemorar	o	dia	de	nascimento	de	Mitra	no	dia	25	de
dezembro	 de	 uma	 virgem	 (ou	 segundo	 outros	 relatos,	 de	 uma	 rocha),	 com
pastores	 sendo	 seus	 primeiros	 adoradores.	 Os	 ritos	 mitraístas	 incluíam	 uma
espécie	de	batismo	e	refeição	sacramental.
	
Depois	 de	 um	 incidente	 político	 que	 resultou	 na	 nomeação	 de	 um	 regente
armênio,	Axidares	(r.	110	–	113	d.	C.),	que	desagradou	as	autoridades	romanas,
o	 imperador	 Trajano	 resolveu	 interpretar	 isso	 como	 insulto	 e	 motivo	 de	 nova
ofensiva	em	direção	à	Mesopotâmia	nas	fronteiras	com	o	império	dos	partas	em
113	d.	C.	Mas	em	vez	de	seguir	em	marcha	a	pé	para	o	sul	em	direção	à	capital
parta,	 Ctesifonte	 (perto	 da	 atual	 Bagdá),	 Trajano	 embarcou	 seus	 homens	 e
equipamentos	em	embarcações	e	navegou	rio	abaixo	ao	longo	do	Tigre.	Em	115,
quando	finalmente	alcançaram	Ctesifonte	e	Selêucia,	expulsaram	os	defensores
partas	depois	de	 longo	cerco.	As	duas	cidades	que	serviram	como	capitais	dos
partas	caiu	ao	domínio	romano	e	as	províncias	da	Mesopotâmia	foram	anexadas.
Trajano	 resolveu	 prosseguir	 ainda	 mais	 para	 o	 sul,	 até	 a	 margem	 do	 Golfo
Pérsico,	 talvez	 a	 imitar	 o	 avanço	 de	 Alexandre,	 o	 Grande,	 mas	 em	 116	 o
imperador	romano	morreu	enquanto	sitiava	Hatra.
	
Embora	 impressionantes,	 as	 conquistas	 de	 Trajano	 não	 foram	 suficientes	 para
desarticular	a	rede	de	lealdades	e	alianças	feitas	pelos	regentes	partas	na	região
mesopotâmica	e	mais	ao	 leste.	Antes	mesmo	da	morte	de	Trajano,	os	 romanos
enfrentaram	inúmeras	revoltas	na	mesma	região	e	nas	províncias	asiáticas	de	seu
império.	 O	 sucessor	 em	 Roma,	 Adriano,	 reorientou	 a	 política	 romana	 na
Armênia	 e	 Mesopotâmia,	 e	 assinou	 acordos	 de	 paz	 com	 o	 rei	 parta	 Osroes
(Khusraw)	(r.	109	–	129	d.	C.)	que	definiu	a	fronteira	dos	dois	impérios	ao	longo
do	 rio	 Eufrates	 (mapa).	 Apesar	 dos	 acordos,	 a	 ofensiva	 de	 Trajano	 tinha
mostrado	aos	romanos	um	caminho	para	posteriores	invasões	nos	domínios	dos
partas.
	
Mapa	das	fronteiras	do	império	parta	(leste)	e	romano	(oeste)	no	2º	século	d.	C.
	
As	invasões	de	Trajano	podem	ter	sido	uma	das	causas	do	início	do	declínio	da
dinastia	dos	arsácidas	partas,	e	o	imbróglio	na	Armênia	fez	com	que	esse	reino
deixou	de	servir	de	tampão	entre	os	dois	impérios.	No	2º	século	d.	C.,	exércitos
romanos	penetraram	duas	vezes	no	 território	dos	partas	e	 invadiram	as	cidades
de	Ctesifonte	e	Selêucia	em	165	d.	C.	e	em	199	d.	C.	Mas	no	mesmo	período,	os
partas	 fizeram	 suas	 próprias	 incursões	 sobre	 o	 território	 romano	 na	 Síria.	 Em
216,	 por	 instigação	 do	 imperador	 romano	 Caracala,	 os	 romanos	 novamente
invadiram	 a	 Mesopotâmia	 mas	 não	 conseguiram	 avançar	 além	 da	 cidade	 de
Arbil	 (Hewler)	 no	 atual	 Curdistão	 iraquiano.	Aparentemente,	 Caracala	morreu
numa	 beira	 de	 estrada	 em	 217	 esfaqueado	 por	 alguns	 de	 seus	 guarda-costas
enquanto	se	aliviava	perto	de	Carras.	Os	partas,	sob	a	regência	de	Artabano	IV
(Ardavan)	 (r.	 213	 -	 224)	 passou	 a	 atacar	 as	 guarnições	 romanas	 e	 infligiram
considerável	 derrota	 aos	 romanos	 em	 Nísibis	 (atual	 Nusaybin	 no	 sudeste	 da
Turquia)	em	217.	Um	ano	depois,	os	romanos	pagaram	uma	pesada	reparação	de
guerra	 (cerca	 de	 200	milhões	 de	 sestércios)	 a	 garantir	 a	 paz	 nas	 fronteiras	 da
Ásia	Menor.
	
Apesar	 dos	 triunfos	 nas	 batalhas	 finais	 contra	 os	 romanos,	 os	 longos	 conflitos
parecem	 ter	 sido	 exaustivos	 e	 onerosos	 aos	 partas,	 especialmente	 na	 região	 da
Mesopotâmia	 e	 no	 noroeste	 do	 império,	 províncias	 que	 tinham	 sido	 prósperas
para	os	recursos	imperiais.	Somando	a	isso,	as	disputas	entre	sucessores	ao	trono
e	famílias	poderosas	dentro	do	império	dos	partas	contribuíram	ainda	mais	para	a
queda	da	autoridade	da	dinastia	dos	arsácidas	partas	que	eventualmente	chegou
ao	seu	fim	em	224.
	
Os	ventos	da	mudança	começaram	a	soprar	no	início	do	3º	século	d.	C.,	quando
um	 novo	 poder	 começou	 a	 despontar	 na	 província	 de	 Persis,	 Fars,	 local	 de
origem	dos	Aquemênidas	e	de	onde	emergiria	uma	nova	dinastia,	os	sassânidas
(224	–	651).	As	mudanças	começaram	com	uma	 família	de	governantes	 locais
aliada	aos	arsácidas	partas	que	em	abril	de	224,	cujo	 líder	 liderou	seu	exército
ampliado	 com	 o	 apoio	 das	 cidades	 de	 Kerman	 e	 Isfahan	 contra	 o	 rei	 parta
Artabano	IV,	o	matando	em	batalha	em	Hormozdgan	(fig.),	perto	de	Shushtar	na
província	 de	Khuzistão	 (Cuzistão),	 hoje	 entre	 as	 fronteiras	 do	 Irã	 e	 Iraque.	 O
líder	 vitorioso	 dessa	 batalha	 foi	Artaxes	 (r.	 224	 –	 242),	 fazendo	 referência	 ao
termo	Artakhshathra	 (Artaxexes),	 nome	de	vários	 dos	 regentes	 da	 dinastia	 dos
Aquemênidas.	Artaxes	assim	o	fez	almejando	buscar	a	descendência	nobre	dos
antigos	Aquemênidas	 e	 a	 buscar	 ocultar	 suas	 origens	 humildes	 de	 sua	 família,
que	eram	descendentes	de	um	certo	homem,	Sasano	(que	viveu	no	2º	século	d.
C.),	 referência	 depois	 aos	 sucessores	 sassânidas.	 Artaxes	 também	 despontou
como	 fomentador	 do	 masdeísmo	 na	 região	 de	 Fars,	 evidenciando	 a	 forte
influência	que	teve	de	seu	pai,	Papak,	que	tinha	sido	sacerdote	em	Estachar.
	
	
Figura	–	Miniatura	persa

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