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Anne Marques – 5º semestre de Medicina na Universidade Salvador Os trombos são massas sólidas ou tampões formados na circulação por constituintes do sangue (plaquetas e fibrina forma a estrutura básica), que podem levar à isquemia por obstrução vascular local ou embolia a distância; A trombose venosa profunda (TVP) caracteriza- se pela formação de trombos dentro de veias profundas, com obstrução parcial e oclusão, sendo mais comum nos membros inferiores. A formação de trombos envolve o processo de coagulação sanguínea e a atividade plaquetária, estando associada a três componentes da clássica Tríade de Virchow: • Estase do fluxo venoso: diminuição da velocidade do fluxo sanguíneo nas veias por falta dos movimentos musculares importantes no retorno venoso. • Estado de hipercoagulabilidade: resultante da diminuição do volume vascular, aumento da viscosidade do sangue (maior número de plaquetas), aumento da concentração de fatores de coagulação (maior disponibilidade de fatores pró-coagulantes) e redução de inibidores da coagulação por defeitos genéticos ou por condições adquiridas; • Lesão do endotélio vascular: advinda da pressão externa contra as veias causada por agentes físicos, químicos ou biológicos que: Induzem aumento na síntese de fatores de coagulação (fator VII) e de fatores ativadores de plaquetas (TXA2 e ADP); Reduzem a capacidade anticoagulante (p. ex., diminuição na expressão de antitrombina no glicocálice) e por perda do revestimento contínuo dos vasos; Causam turbulência no fluxo sanguíneo; Formação do trombo na TVP: A) Células sanguíneas no fluxo sanguíneo normal; B) Turbilhonamento do sangue aumenta no recesso valvar, aumentando o choque de plaquetas contra o endotélio nesse local; C) Ao se chocarem com o endotélio, as plaquetas são ativadas, agregam-se e iniciam a formação de um trombo; D) O trombo cresce na direção do fluxo e de modo retrógrado devido à redução na velocidade do sangue. Formação do trombo em aneurisma: • O fluxo turbilhonado no aneurisma favorece o choque de plaquetas contra o endotélio, o que as ativa e inicia a sua agregação. • Sobre as plaquetas agregadas é ativada a coagulação (vias plasmática e tecidual), produzindo o crescimento do trombo. • Novas plaquetas precipitam-se e o processo se repete, conferindo aspecto estriado (lamelado) ao trombo. Classificação quanto à estrutura: • Trombos vermelhos, ou "de coagulação": ou ainda "de estase": ricos em hemácias, mais frequentes em veias (flebotrombose); • Trombos brancos: constituídos basicamente de plaquetas e fibrina, estão geralmente associados às alterações endoteliais, sendo mais frequentes em artérias. • Trombos hialinos: constituídos principalmente de fibrina, estão geralmente associados às alterações na composição sanguínea, sendo mais frequentes em capilares. • Trombo misto: Formados por estratificações fibrinosas (brancas), alternadas com partes cruóricas (vermelhas). São alongados e apresentam 3 partes: Cabeça: parte inicial aderente à parede da veia Colo: porção estreita intermediária, na qual se configuram as "linhas de Zahn" resultantes da alternância de zonas brancacentas e avermelhadas; Cauda: parte flutuante, livre na corrente sanguínea, distal e proximal, e unida ao corpo. Classificação quanto à localização: • Cardíacos: Murais (principalmente no endocárdio da aurícula direita e no ventrículo esquerdo) ou valvulares (principalmente na aórtica e na mitral). Representam aproximadamente 20% das tromboses. • Venosos: Geralmente vermelhos e localizados predominantemente dos membros inferiores (flebotrombose). Representam aproximadamente 70% das tromboses. • Arteriais: Geralmente brancos, acometendo mais comumente as coronárias, as cerebrais, as ilíacas e as femorais • Capilares: Geralmente hialinos, ocorrendo nas coagulopatias de consumo (Coagulação Intravascular Disseminada) ou Doença do Enxerto contra o hospedeiro (DECH) 1) Trombólise espontânea/terapêutica: 2) Organização do trombo: Uma reação inflamatória mediada por fagócitos leva a fagocitose e liberação de quimoatrantes, formando um tecido de granulação que vai incorporar a parede dos vasos ou do coração; Trombos em organização: vaso com trombos em organização mostrando recanalização. No detalhe, vê̂-se tecido de granulação (tecido cicatricial). 3) Recanalização do trombo: Ocorre quando os vasos neoformados na fase de organização anastomosam-se, permitindo o restabelecimento parcial do fluxo sanguíneo (auxiliado pela fibrose e retração do trombo). 4) Calcificação do trombo: Comum nos trombos sépticos e nos organizados, principalmente nos venosos (formando os "flebólitos") que podem permanecer firmes na parede vascular ou desprender-se e cair na corrente circulatória. O cálcio aparece como um granulado basófilo em meio a outras estruturas, como fibras colágenas. 5) Colonização bacteriana: Nas septicemias, bactérias podem aderir e colonizar um trombo asséptico, tornando-o séptico. Ativador do plasminogênio tecidual (tPA ou alteplase) e Uroquinase (pequenas quantidades) Fármaco: estreptocinase ou ativador tecidual do plasminogênio recombinante, ret.-PA O volumoso trombo aderido à valva é constituído por fibrina e colônias de bactérias, que aparecem como nuvens de material basófilo (arroxeado). 6) Formação do embolo: Decorrem da fragmentação ou descolamento de trombos inteiros. É favorecida por: Fragilidade na fixação do trombo; Retardamento na lise ou na organização; Compressão da região; Pelo esforço e aumento do fluxo sanguíneo. Alterações regionais: 1) Efeito mecânico: obstrução de uma ou mais veias por trombo ocasiona bloqueio do retorno venoso; • Consequências: Hipertensão venosa; Dilatação e insuficiência valvular das veias profundas, comunicantes e ramos superficiais. 2) Reação inflamatória: desenvolve-se um processo inflamatório nas veias afetadas, que se estende nos tecidos vizinhos, inclusive artérias e nervos. 3) Efeito reflexo: a irritação da parede da veia pelo trombo e a reação inflamatória atingem os filetes nervosos e desencadeiam um reflexo vasoespástico que compromete artérias e veias Alterações sistêmicas: • Fase aguda: Dores Edema Reações inflamatórias nos capilares linfáticos Febre Leucocitose Aumento do tempo de hemossedimentação Diminuição do tempo de coagulação • 2. Fase de defesa: Diminuição súbita do edema Diurese abundante Retorno da temperatura ao normal Aumento do número de eosinófilos Maior sensibilidade à heparina • 3. Fase de esgotamento: Nesta fase o organismo se mostra incapaz de se defender contra as substâncias trombogênicas. As embolias ou novas localizações do processo podem aparecer. Proximal: acomete veias ilíaca/ femoral/ poplítea; Distal: acomete veias abaixo do joelho e panturrilha (ex: veias tibiais anteriores, posteriores e safena magana) • Idade acima de 60 anos, porém pacientes acima de 40 anos tem 20x mais chances de TVP; • Neoplasia; • Internação hospitalar; • Procedimento cirúrgico (42%); • Grande trauma; • Outros fatores precipitantes incluem: Doença infecciosa aguda; Uso de contraceptivos; Terapia de reposição hormonal em mulheres; Gestação e puerpério; Episódio prévio de doença tromboembólica. Imobilização por longa duração; • O edema é unilateral ou assimétrico; • Escore de Wells para TVP: Flegmasia albans dolens: • Inchaço branco doloroso; • Resulta de uma oclusão mais limitada das veias ilíacas, que causa desconforto nas pernas e edema; • No entanto,o retorno venoso é eficiente o suficiente para limpar o sangue venoso dérmico e subdérmico antes que ocorra a cianose. Flegmasia cerulea dolens • Edema azul doloroso; • Aparecimento de dor intensa em região de membros inferiores; • edema significativo; • Cianose e gangrena venosa (aumento da desoxihemoglobina nos tecidos subdérmicos em níveis de 1,5 a 5 mg%); • IMPORTANTE: a avaliação da perfusão do membro é fundamental nestes pacientes. Teste dímero D ou d-Dímero: • Subproduto da fibrinólise e a elevação dos seus níveis sugere existência e lise recente de trombos. • Alta sensibilidade e baixa especificidade (elevado em situações fisiológicas ou patológicas diversas: idade avançada, puerpério, gestação, cirurgia, trauma, neoplasia e processos inflamatórios e/ou infecciosos) • Em pacientes com baixo risco clínico de TVP, entretanto, um exame negativo exclui o seu diagnóstico. Diagnóstico de imagem (Eco doppler colorido): • O método diagnóstico mais frequente é o Eco doppler colorido venoso. • Apresenta menor acurácia em veias distais, de membros inferiores e em pacientes assintomáticos. • É o exame de escolha para o diagnóstico de TVP, com sensibilidade de 96% e especificidade de 98-100%. Outros exames: • Tomografia computadorizada: Útil para pacientes com suspeita de TVP, em que o Eco não pode ser realizado, seja por limitação técnica ou suspeita de anomalia venosa. • Ressonância magnética: Indicado em situações em que o Eco seja inconclusivo. Apresenta acurácia similar ao Eco no diagnóstico de TVP do segmento ilíaco-caval. • Angiografia pulmonar: Padrão ouro para diagnóstico de EP. Método invasivo, possui alto custo e utiliza contraste; • Cintilografia pulmonar com mapeamento de ventilação-perfusão: Boa opção para diagnóstico de EP. Muito específica, porém pouco sensível. Resultado normal exclui EP, porém se positivo necessita de exame adicional. • Fatores de risco transitórios associados ou espontâneos? • Sinais e sintomas sugestivos de doenças que predispõem à trombose; • Em mulheres avaliar antecedentes obstétricos e uso de hormônios; • História familiar de TEV. • Deambulação; • Meias de compressão graduada; • Ativação da bomba muscular da panturrilha; • Utilização de anticoagulantes em doses baixas, alguns autores relatam como “mini doses” fixas de heparina; • A dose tradicionalmente utilizada é de 5000 unidades de heparina não fracionada, a cada 8 ou 12 horas.