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Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo – FEC IC043 METODOLOGIA DE PESQUISA Profa. Dra. Lucila Chebel Labaki SEMINÁRIO Argumentação Lógica LOGICAL ARGUMENTATION GROAT, Linda; WANG, David. Architectural Researchs Methods. John Wiley & sons, 2002. Chapter 11, pp. 301-339. Grupo: Fábio de Almeida, Laetitia Reis Velloso Larsen, Lia Affonso Ferreira Barros, Paula Roberta Pizarro, Renata Spaziante do Val. Junho 2008 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO: Sistemas de argumentação matemática Sistemas de argumentação cultural / discursiva Sistemas de argumentação matemático-cultural 2. SISTEMA LÓGICO PRIMÁRIO 3. CARACTERÍSTICAS ESSENCIAIS DA ARGUMENTAÇÃO LÓGICA Ampla aplicabilidade 3.1.1. “Shape Grammar” 3.1.2. Teoria de VITRUVIO 3.2. Inovação paradigmática 3.3. Possibilidade de ser testada 4. TÁTICAS PARA CONSTRUÇÕES SISTÊMICAS DE ARGUMENTAÇÃO 4.1. Def inição através de princípios quantitativos: 4.2. Def inição através de princípios qualitativos: 4.3. Def inição através de princípios de origem: 4.4. Relação entre proposições: 4.4.1. Por “necessidade” 4.4.2. Por dedução / indução 4.4.3. Por a priori / a posteriori 5. TÁTICAS DE RETÓRICA EM SISTEMAS DE LÓGICA CULTURAL/DISCURSIVA 5.1. Retórica com argumentos denominativos 5.2. Retórica com argumentos associativos ou dissociativos 5.3. Retórica com argumentos provenientes de um história 5.4. Retórica com argumentos provenientes de imagens gráf icas 5.5. Retórica com argumentos de apelo implícito ou explícito 5.6. Retórica com argumentos em grupos de divisão 5.7. Retórica com argumentos “de autoridade” 6. TÁTICAS PARA ORDENAÇÃO SISTÊMICA DA ARGUMENTAÇÃO 6.1. Pela Representação Matemática e/ou Modelagem Computacional 6.2. Por Analogia 6.3. Por Categorização e Elaboração 6.4. Pela Categorização-Cruzada e Elaboração 6.5. Por Argumentação da Tradição Metaf ilosóf ica 6.6. Pela atualização no Foco de Novos Desenvolvimentos ou Dados 7. CONCLUSÃO: VANTAGENS E LIMITAÇÕES 8. LEITURAS RECOMENDADAS PARA COMPLEMENTAÇÃO AO TEMA 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 1. INTRODUÇÃO: Argumentação lógica pode ser definida, inicialmente, como forma de dar sentido a alguns fenômenos do nosso universo, de modo racional e sistemático. A mente humana freqüentemente se depara com grupos aparentemente dispersos de fatores ou fenômenos, que podem ser interconectados através de sistemas de explicação que permitem que tais elementos, então dispersos, sejam enquadrados sob um mesmo tema central. Como metodologia, o autor propõe situar alguns fatores em um espectro classificador de fenômenos, separando aqueles que se explicam sob o ponto de vista quantitativo (matemático), daqueles que se apresentam coerentes sob o ponto de vista qualitativo (cultural). Entre esses dois extremos, encontram-se elementos que compartilham de ambos os universos de entendimento para estruturar sua coerência lógica (Figura 1). Figura 1: espectro classificador de fenômenos para argumentação lógica. 1.1. Sistemas de argumentação matemática: Referem-se a estudos relacionados à análise de fenômenos de natureza quantitativa, como por exemplo, estudos sobre morfologia da arquitetura, que irão investigar a freqüência segundo a qual são encontradas plantas residenciais de determinada característica, entre determinados estratos de um grupo social. 1.2. Sistemas de argumentação cultural / discursiva: De natureza qualitativa, esses sistemas apresentam característica persuasiva: captam uma visão global e transformam-na em argumentação lógica através da retórica. Sistemas dessa natureza utilizam-se da linguagem discursiva, através da análise sistemática dos fatos, de modo a se obter ampla aceitação de determinado conceito ou ponto de vista e criando-se, dessa forma, uma base normativa de definições. Como exemplo, tem-se Os dez livros de Arquitetura, de Marco Vitrúvio Polião (ano 40 a.C), exemplo de argumentação lógica em forma de tratado, que traz a definição de um padrão de “arquiteto e arquitetura ideais”. Os padrões de proporções e os princípios arquitetônicos por ele estabelecidos (utilidade, beleza e solidez) têm como base a arquitetura Matemático- cultural (ex. modelos e ferramentas analíticas, que relacionam aspectos quantitativos e qualitativos ) clássica; através da sistematização de informações acerca da arquitetura clássica, Vitrúvio define padrões que se reproduzem na maior parte dos casos considerados “de boa qualidade”, transformando esses conceitos em “cânones” da arquitetura. Uma das características principais de um tratado é a tendência em se basear em esferas transcendentais amplas, tais como a natureza, a história, a cultura, etc., e a lógica de seu argumento está quase sempre conectada com esse tema mais amplo. No caso de Vitrúvio, o embasamento de seu trabalho reside na conexão da arquitetura com a natureza. Segundo ele, a natureza compôs o corpo humano de tal forma que seus membros, medidos até o extremo de sua configuração, se relacionassem com base em proporções: “As relações entre as medidas que parecem ser necessárias em todas as obras, basearam-se nas partes do corpo, como dedos, mãos, pés, braços, e a distribuíram segundo um número perfeito.” (Polião, 2002, pp. 93) 1.3. Sistemas de argumentação matemático-cultural: Utilizam-se de esquemas, fatores numéricos, equações e proposições baseadas em regras (evidências), de forma que as conclusões obtidas venham a esclarecer valores sócio-culturais. Ex: Social Logic of Space (Bill Hillier & Julienne Hanson). Revela, através de ferramentas analíticas tais como gamma maps, a maneira como padrões de comportamento social configuram espaços. Por exemplo, os autores descobriram através desse mecanismo, que as residências inglesas em sua grande maioria apresentam a mesma hierarquia na disposição e conexão de seus espaços. Essa hierarquia traduz valores expressos pela “etiqueta social” que determina como ocorrem os contatos entre família e sociedade. Figura 2: “Gamma Maps”. The Social Logic of Space (Hi llier & Hanson, Cambridge Un. Press). Fonte: Groat et al., 2002. 2. SISTEMA LÓGICO PRIMÁRIO Uma argumentação baseada na lógica faz parte de um sistema que confere grande valor à capacidade de explanação; tal sistema é denominado pelos autores de “sistema lógico primário”. O sistema lógico primário é a etapa que identifica e define termos técnicos internos e suas relações num determinado processo investigativo. As etapas seguintes geralmente não acrescentarão novos materiais ao sistema; mas sim, tenderão a aprofundar questões mapeadas no sistema primário. Refere-se sobretudo a questões de natureza universal, intrínsecas ao gênero humano de uma maneira geral, independentemente da cultura ou meio social (noções de feio/ bonito, proporcional/ desproporcional, etc.). 2.1. Ao observarmos fluxogramas que demonstram como se dão as relações espaciais e sociais entre as diversos setores de residências pertencentes a um mesmo contexto social, (os “gamma maps” seriam nesse caso um sistema primário), é possível verificar como a síntese espacial, expressa através das plantas, é reveladora de atitudes e valores culturais (aplicação secundária). Estudos elaborados a partir da lógica proposta pelos “Gamma maps”, tais como a análise feita por Lara (2001)1 acerca de tipologias residenciais tradicionais e modernistas em Belo Horizonte, Minas Gerais, podem se definir como sistema secundário, derivado do sistema primário “Gamma Maps”, como ilustrado na figura 3 abaixo. Figura 3: Análise de relações espaciais em residências tradicionais e modernistas de Belo Horizonte, MG. Fonte: Groat et al., 2002. 2.2. Um outro bom exemplo seria tomarmos como sistemalógico primário o Tratado de Vitrúvio (40 a.C). A partir do tratado de Vitrúvio, diversos trabalhos (sistemas lógicos secundários) foram desenvolvidos com base na relação entre a natureza, a anatomia humana e as formas clássicas da arquitetura. É o caso do trabalho de Leonardo da Vinci, que desenvolveu em 1490 o 1 Fernando Lara, “Popular Modernism: An Analysis of the Acceptance of Modern Architecture in 1950’s Brazil” (Ph. diss., University of Michigan), 2001. In GROAT et al (2002). “homem vitruviano” – ou “o cânone das proporções”. Esse trabalho, elaborado a partir do livro 4º do Tratado, trata das relações proporcionais entre as medidas do corpo humano. A essência do Renascimento deve-se a esse redescobrimento das proporções matemáticas do corpo humano por Da Vinci, no século XV. A ilustração abaixo, fruto de sua investigação sobre o tratado de Vitrúvio, é considerado ainda como um símbolo da simetria. Figura 4: o homem vitruviano, de Leonardo da Vinci. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Leonardo_da_Vinci 3. CARACTERÍSTICAS ESSENCIAIS DA ARGUMENTAÇÃO LÓGICA 3.1. Ampla aplicabilidade: 3.1.1. “Shape Grammar” : Pesquisas feitas a partir de argumentação lógica tendem a apresentar como resultado uma estrutura conceitual de ampla aplicabilidade. A gramática das formas (Shape Grammar) é um exemplo que se enquadra nessa definição, apresentando ampla aplicabilidade, validada a partir da suposição de que relações numéricas e equações expressam de modo lógico condições universais que transcendem casos localizados. Foram criadas por George Stiny e James Gips no início da década de 1970. Figura 5: Esquemas formais do conceito da gramática das formas. Fonte: trabalho apresentado para a disciplina IC009- Metodologia de Projeto, na FEC-UNICAMP, em nov./ 2005. Fonte: www.fec.unicamp.br/~gelly/slides.pdf. Trata-se de regras de adição ou subtração para se produzir composições originais. É capaz de revelar conexões que podem ser programadas, por exemplo, através de um sistema computacional, para a obtenção de novas formas. Esse método foi aplicado na avaliação sistemática dos projetos de Frank Lloyd Wright para as “Casas de Pradaria”: Figuras 6 e 7: Exemplos de 2 “casas de pradaria”, com suas respectivas plantas. Fonte: www.fec.unicamp.br/~gelly/slides.pdf. Através dessa análise lógica, foi possível verificar certas convenções utilizadas na composição básica das casas de pradaria de Frank Lloyd Wright, em que a lareira e a área de estar das residências são sempre o centro lógico do desenho; os demais cômodos são adicionados a partir desse centro lógico. Essa verificação constituiu numa codificação / elaboração de regras formais tipológicas, que refletem a tendência constante de Wright de agrupar as demais zonas de uma residência à área de estar. 3.1.2. Teoria de VITRUVIO: Além da lógica das proporções (ancoradas na “natureza”), há ainda o fato de que formas vinculadas a ordens masculinas ou femininas implicam em atributos de solidez, força, fragilidade, delicadeza, etc., ligadas a uma respectiva identidade cultural. Estilos arquitetônicos que conotam esses significados foram amplamente utilizados por séculos. As ordens clássicas constituem, por si só, num sistema de linguagem, e seu significado representava (e representa ainda) valores sociais de determinado contexto: Dórico: Empregado em templos dedicados a divindades masculinas. É a mais simples das 3 ordens e representa um caráter de solidez, robustez; Jônico: Apresenta formas mais fluidas e leves, utilizado em templos dedicados a divindades femininas; Coríntio: Utilizado para substituir o capitel jônico, como uma variante mais luxuosa daquela ordem. Figura 8: representação esquemática das três ordens gregas, respectivamente a Dórica, a Jônica e a Coríntia. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ordem_arquitectonica#As_ordens_gregas As proporções são entendidas como sendo a busca pela harmonia entre as partes. E essa harmonia, segundo a lógica vitruviana, seria representada através da construção de partes proporcionais entre si. Ou seja, as proporções entre as partes de um edifício são funções aritméticas que se relacionam entre si. Figura 9: Villa Rotonda, de Andrea Palladio (1566). Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/CidadedeVicenzaeVillasdePalladionoVeneto Essa lógica foi amplamente empregada ao longo da história da arquitetura, sobretudo no período renascentista (por exemplo, as obras do arquiteto italiano Andrea Palladio). No Brasil, pode-se perceber diversos exemplos de composição de fachadas da arquitetura colonial religiosa, em que o método das grandezas proporcionais era amplamente adotado, como se vê na figura abaixo. Figura 10: Igreja de Santo Antônio, Penedo, Alagoas, Brasil. Fonte: trabalho acadêmico de Laetitia Velloso, 1996. 3.2. Inovação paradigmática: Um sistema lógico primário é inovativo e estrutura um discurso em nível paradigmático. Se bem-sucedido, provê uma nova forma de observar fatos ou fenômenos já existentes. Como exemplo, tem-se novamente o tratado de Vitrúvio, que classifica a “boa arquitetura” como aquela vinculada às formas clássicas, através da sistematização de informações sobre a arquitetura clássica, definindo-se padrões que se reproduzem na maior parte dos casos considerados de “boa qualidade” e por conseguinte, estabelecendo-se “cânones” a serem seguidos. “A arquitetura consiste no ordenamento(...). Ordenamento é a definição das proporções justas e equilibradas para cada uma das partes da obra e de uma proporção geral próxima da simetria composta segundo a (...) adoção de medidas moduladas,(...) resultado harmonioso da obra como um todo, a partir de cada um dos elementos.” (Polião, 2002, Livro 1º, pp. 54-55). Já em outro contexto, mas ainda adotando-se aspectos formais de proporção a partir das dimensões humanas, podemos citar Le Corbusier, que também foi formador de uma escola estilística paradigmática de imensa importância na história da arquitetura; quando argumenta que a essência da “nova arquitetura” está no princípio das máquinas - é preciso olhos para ver! Le Corbusier inova em nível paradigmático, mostrando que a função deveria sempre prevalecer sobre o formalismo arquitetônico – a forma segue a função. 3.3. Possibilidade de ser testada: Uma teoria deve ser apta a testes, normalmente através de métodos empíricos. Uma das funções de um método de pesquisa é conduzir determinada teoria a um teste que possa confirmá-la ou rejeitá-la. Esses testes podem ser aplicados através de: • Instrumentos quantitativos (sobretudo para sistemas matemáticos de argumentação). • Padrões normativos (sobretudo para sistemas de argumentação cultural-discursiva). Os próprios tratados podem se enquadrar nesse caso, a partir do momento que têm ampla aceitação ou fazem sentido (têm lógica) para uma audiência cultural maior do que os limites de um determinado “grupo social”. 4. TÁTICAS PARA CONSTRUÇÕES SISTÊMICAS DE ARGUMENTAÇÃO 4.1. Definição através de princípios quantitativos: Trata-se de um dos tipos de definição mais comuns da lógica da argumentação, tendo como objetivo construir um sistema conceitual que explique o escopo mais amplo do fenômeno em questão, através do menor número (o essencial) de princípios fundamentais que o caracterizam. Como Aristóteles já definia, sistemas mais simples encontram-se mais próximos da essência de alguma coisa do que sistemas mais complexos. Le Corbusier definia como 5 os pontos essenciais de uma boa arquitetura: apoios (para formar pilotis), cobertura em terraços-jardim (recuperando o solo ocupado pelo prédio), planta livre (livre locação das paredes, que não teriam mais função estrutural), grandes aberturas (relação desimpedida coma paisagem) e fachadas livres (possível devido à independência da estrutura do edifício). Para Vitrúvio os princípios fundamentais da arquitetura eram: ordem, arranjo, eurritmia, simetria, propriedade e economia. Para os gregos, os elementos essenciais eram: terra, ar, fogo e água. No oriente, os elementos essenciais eram 5: água, fogo, metal, madeira e terra. 4.2. Definição através de princípios qualitativos: Intimamente relacionados com os princípios quantitativos. Determinada a quantidade, automaticamente determina-se a qualidade. Por exemplo, as partes essenciais para uma casa existir também são responsáveis pela beleza dessa casa. Aplicando-se os princípios quantitativos de Vitrúvio: ordem (exata medida das partes de uma obra consideradas separadamente); arranjo (distribuição das partes nos lugares próprios); eurritmia (beleza e acerto no ajuste das partes); simetria (harmonia entre as partes da obra e a relação com todo o conjunto); propriedade (perfeição do estilo que vem quando a obra é construída em princípios aprovados) e economia (gerenciamento dos materiais e do local, custos e trabalho de construção), certamente os princípios qualitativos serão satisfatórios. O argumento principal para a qualidade é a necessidade do ser humano de explicar porque alguma coisa é essencialmente boa. A aceitação, ou não, dessa explanação explicita a qualidade do que se avalia. John Ruskin define, a partir dessa lógica, os princípios de qualidade para uma boa arquitetura: “bons trabalhos de talha produzem bons edifícios, que por sua vez contribuem para uma sociedade feliz”. 4.3. Definição através de princípios de origem: Os princípios de origem podem se dar no sentido genético, intrínseco. Como exemplo: a habitação como necessidade de proteção contra o meio externo - as cabanas primitivas. Para Vitruvio: a casa enquanto abrigo tem um sentido genético - a essência da arquitetura está associada à cabana que protege o fogo, que mantém o fogo acesso, aquecendo a família. A primeira habitação, a primeira casa seria resultado do fogo protegido. Se uma habitação, em seu sentido essencial e básico, é hoje de determinada maneira, é porquê ela se originou de tal modo – sem levar em consideração aspectos externos que interferirão na sua essência. 4.4. Relação entre proposições: 4.4.1. Por “necessidade”: São as informações que se encontram explícitas em uma proposição. Por exemplo: Vitrúvio argumentava que os edifícios deveriam ser simétricos devido ao fato de que a natureza fez o corpo humano simetricamente proporcional. Le Corbusier, em sua obra “Por uma arquitetura”, referia-se aos arquitetos que insistiam em conceber edifícios ainda presos a valores estilísticos ultrapassados como “olhos que não vêem”. Os olhos precisavam enxergar que, naquele contexto presente, uma “boa arquitetura” deveria necessariamente se desvincular dos tempos passados e recorrer aos verdadeiros recursos técnicos provenientes da revolução industrial. A função dos espaços deveria prevalecer sobre suas formas... as casas seriam comparadas a uma “máquina de morar”. 4.4.2. Por dedução / indução: Dedução necessariamente envolve conexões. Em contraste, indução delineia generalizações de fatos apresentados, envolve contingências. Apesar de proposições contingenciais nunca serem suficientemente fortes para o estabelecimento de um sistema lógico, a indução pode possibilitar uma interpretação de determinada realidade de modo mais amplo do que apenas as instâncias observadas. Como um sistema baseado apenas em deduções apresenta tendência a se mostrar óbvio demais, e portanto, sem muita utilidade, conclui-se que em qualquer sistema lógico deve haver um equilíbrio – e um nexo essencial – entre projeções ou suposições indutivas e necessidades deduzidas. Dedução: raciocínio necessário – partir de hipóteses. Indução: raciocínio experimental – partir de uma teoria e observar se a experiência condiz com a teoria. Exemplo de sistema lógico arquitetônico, relacionado por dedução/ indução: “gamma map”, de Hillier & Hanson) – figura 2. Através desse estudo, os autores puderam afirmar que o sistema de fluxograma é uma ferramenta analítica que pode revelar, em larga escala, valores sócio- culturais expressos através do desenho de plantas arquitetônicas (etapa indutiva). Caso as constatações tiradas dessa ferramenta possam ser aplicáveis a outras instâncias ou contextos sócio-culturais, estaremos aptos a deduzir padrões genéricos de comportamentos sócio- culturais refletidos em plantas arquitetônicas. 4.4.3. Por a priori / a posteriori: A priori precede a experiência, enquanto a posteriori refere-se aos fatos estabelecidos como resultados da experiência. Por exemplo: na teoria de Vitrúvio, a natureza é o argumento a priori – são as qualidades de simetria das formas da natureza que determinam as ordens e proporções na arquitetura. 5. TÁTICAS DE RETÓRICA EM SISTEMAS DE LÓGICA CULTURAL/DISCURSIVA: Sistemas cultural-discursivos dependem tanto do poder da retórica quanto de uma lógica persuasiva para transmitir argumentos. Um determinado ponto de vista não será compreendido se ele não fizer sentido para uma determinada “audiência”. Já um sistema matemático que se baseia na lógica de números, é menos dependente desse “fazer sentido”. Em nossos modos cotidianos de pensar e tomar decisões, precisamos estar sempre deliberando sobre uma diversidade de fatores; essa adesão a determinados pontos de vista em detrimento de outros se baseia no “fazer sentido” que determinados argumentos apresentam sobre as decisões individuais e coletivas. Tais argumentos se classificam em: 5.1. Retórica com argumentos denominativos: A identificação de vários elementos do objeto de discurso, ou a simples definição e explicação de termos técnicos podem ser persuasivas para que os argumentos sejam assimilados (capacidade de identificação psicológica ou cognitiva). Por exemplo: A explicação técnica de cada uma dos elementos construtivos de uma residência para explicar o sentido de habitação. As partes isoladas são distintas, mas a explicação técnica de todas fortalecem a argumentação por se relacionam com o objeto principal, a habitação. 5.2. Retórica com argumentos associativos ou dissociativos: Outro modo de se obter sentido para determinado argumento seria através da associação desse argumento com outro elemento. Por exemplo: a associação que as ordens gregas têm com idéias antropomórficas (formas físicas) e questões de identidade humana (dórico evoca o masculino; jônico evoca o feminino; coríntio é uma sofisticação do dórico). Figura 11: Erecthium em Atenas. A explícita associação entre a forma humana e as ordens. Já a dissociação de um argumento com determinadas características tem em vista a não concordância com certa norma ou regra. Por exemplo: A discordância e conseguinte dissociação que os modernos fazem entre os princípios de proporção (de Vitrúvio) e a definição de uma boa arquitetura: para os precursores da arquitetura moderna, a base da boa arquitetura está na sua função e utilidade, muito mais que na forma: “a forma segue a função”. Passam a associar a “boa arquitetura” com uma máquina, enquanto exemplo de pura funcionalidade. Os Pós-modernistas dissociam-se da expressão modernista a “forma segue a função” e parodiam: “a forma segue o fiasco”. Figura 12: Dissociação da proporção de Vitruvius, associação da arquitetura moderna com a máquina e dissociação do pós-modernismo usando como argumento a casa projetada por Le Corbusier em Pessac (situação original e o resultado de sua adaptação pelos moradores). Fonte: imagens dos Autores. 5.3. Retórica com argumentos provenientes de um história: Argumenta a origem de determinado sistema ou definição.Essa origem encontra-se em um tempo preferencialmente distante do tempo presente da argumentação, e sua “versão histórica” acaba assumindo um papel de tradição, diante de sua plena aceitação. 5.4. Retórica com argumentos provenientes de imagens gráficas: “Uma imagem vale mais do que mil palavras”. Uma imagem correta num contexto correto pode ter um peso enorme. Exemplo: Robert Venturi e seu trabalho “Aprendendo com Las Vegas”, que influenciou enormemente o movimento pós-moderno demonstra como imagens gráficas podem focar em um modo de vida que não pode ser descrito apenas por palavras. Figura 13: A embalagem gráfica substituindo a persuasão oral. Outdoor do bronzeador Tanya Las Vegas. Fonte: Venturi, 2003. 5.5. Retórica com argumentos de apelo implícito ou explícito: A idéia é introduzir pontos concretos na argumentação, de modo a torná-la ressonante com sentidos identitários mais amplos do que a identidade individual, e compatível com a identidade de determinado grupo, ou regional, ou mesmo nacional. Por exemplo: • Vitrúvio argumentava, por exemplo, que seu tratado visava contribuir para uma sociedade coerente, baseada na premissa de que a autoridade expressada pelos edifícios de uma “nação” traduziria implicitamente a autoridade de seu governante. • Pugin argumentava acerca da identidade cultural de uma nação, em seu livro “Principles of pointed or Christian Architecture”: “O que uma casa em estilo italiano faz na Inglaterra? Existem similaridades entre nosso clima e o da Itália? De forma alguma ... somos ingleses, não italianos...” • Daniel Libiskind – Invoca sutilmente a identidade de grupo para explicar sua escolha de materiais para o museu Judaico em Berlin, ele diz que a idéia de usar o zinco nas nasceu após o conhecimento das obras de Schinkel, um arquiteto da extinta região da Prússia, que usou o material em várias de suas obras em Berlim, este arquiteto antes de morrer no final do século XIX recomendou que qualquer jovem arquiteto em Berlin deveria usar o zinco o máximo possível. Outra referência de identidade de grupo usada no museu é a estrela de Davi estilhaçada representada nas aberturas das fachadas, uma referência aos judeus e as ações do holocausto. Figura 14: Museu Judaico - Berlin. Fonte: Gomes, 2008. Figura 15: Croqui representativo da relação triângulo-estrela de Davi-aberturas. Fonte: Gomes, 2008. Um outro exemplo é representado pelo Regionalismo Crítico, dentro do movimento pós- moderno na arquitetura, que buscava evidenciar em suas obras uma identidade local, defendendo uma maior independência cultural, social e econômica. Opondo-se ao estilo internacional que tinha a intenção de padronização de materiais, processos construtivos e métodos projetuais com argumentos da alta cultura, do bom gosto, da pureza, da economia e abandono de práticas locais decorrentes de séculos realizadas em núcleos importantes da cultura dos povos. Neste movimento destacam-se os trabalhos de Tadao Ando no Japão, Luis Barragan no México, além Álvaro Siza e Mário Bota na Europa. 5.6. Retórica com argumentos em grupos de divisão: A partir de um tema genérico (por ex: Os edifícios e a complexidade de seus problemas), seleciona-se grupos de argumentos afins e que se relacionam com o tema geral e em seguida procura rearranjar esses grupos através de uma seqüência lógica que fundamentará a argumentação. 5.7. Retórica com argumentos “de autoridade”: A autoridade de qualquer sistema lógico depende, antes de qualquer coisa, da coerência de seus argumentos. Mas pode adquirir autoridade se, por exemplo, se associar à tendências valorizadas no momento em que a idéia é lançada ou se associar a representações (pessoas, símbolos, etc.) consideradas referências no respectivo meio. Por exemplo, um arquiteto argumentar a favor de um edifício desconstrutivista, na década de 1990, baseando-se em estudos do descontrutivismo feitas pelo filósofo Jaques Derrida. 6. TÁTICAS PARA ORDENAÇÃO SISTÊMICA DA ARGUMENTAÇÃO Como se constrói um sistema lógico a partir de um esboço? A seguir, encontram-se expostas algumas maneiras através das quais um sistema lógico pode ser estruturado: • Pela representação matemática e/ou computacional • Por analogia • Por categorização ou categorização-cruzada • Por argumentação da tradição metafilosófica • Pela atualização no foco de novos desenvolvimentos ou dados 6.1. Pela Representação Matemática e/ou Modelagem Computacional Um sistema lógico pode ser estruturado pela captura do comportamento de uma realidade empírica em termos matemáticos. Por exemplo, na forma gramatical, plantas de arquitetura (e em alguns exemplos, elevações) são capturadas por ‘regras’ matemáticas que desvendam padrões não óbvios, mas de grande significado. Groat et al. (2002) menciona diversos trabalhos nesse caminho, como a Villa Malcontenta de Paládio. A figura 16 apresenta subsistemas geométrico/aritmético desenvolvido por G. Stiny e W. Mitchel pra analisar jardins do paraíso Persa; a expressão regulamenta caminhos em que geometrias fundamentais estão ‘infectadas’. Figura 16: Subsistemas geométrico/aritmético. Fonte: Groat et al., 2002. Como outro exemplo, temos de Peponis et al: De um ponto de vista computacional, as bases para a integração computacional de um espaço é a formula (k - 2)(k - 2dmean – 1), onde k é o numero de elementos em um sistema, e dmean (significando profundidade) é a média do numero de transições mínimas de um espaço para outro, e que precisa alcançar todas as outras partes do sistema. O que o autor quer dizer é que arranjos espaciais podem ser descritos por meio de expressões numéricas, que uma vez descobertas, são capazes de descrevê-los e exemplificá-los de forma bastante satisfatória. Programas de computadores – tal como Spacialist de Peponi – puderam ser desenvolvidos de acordo com essa premissa. A chave neste tipo de formação é que sistema significa a representação de uma realidade empírica através de regras matemáticas e relacionamentos. Um grande expoente deste modelo é Christopher Alexander. Em seu primeiro trabalho notório, “Notes on the synthesis of form” Alexander transforma o conjunto de dados sobre o contexto em uma estrutura organizada. Seu objeto de estudo é uma aldeia na Índia. O método é a organização dos requisitos funcionais desta aldeia, gerando assim, a decomposição e recomposição dos elementos (Figura 17). Figura 17: Requisitos funcionais da aldeia na Índia. Fonte: Alexander (1964). Outro trabalho semelhante foi desenvolvido em conjunto por Chermayeff e Alexander, em 1966, onde a decomposição da estrutura do programa de necessidades gerou um conjunto de sistemas. Desta forma, os requisitos funcionais trabalham de forma interdependente, a fim de permitir eventuais mudanças no entorno. Figura 18: Conjunto de sistemas Fonte: Chermayeff & Alexander (1963). A recomposição de sistemas gera os denominados patterns, descritos anteriormente como a “chave” do sistema. O pattern é um diagrama de representação modelo, sendo que, uma vez aplicado, pode gerar soluções diferentes em questões diferentes de projeto. Novamente Alexander é o responsável pela introdução dos patterns na linguagem dos arquitetos, em seu trabalho “Tha Pattern Language”. Hoje, diferentes autores desenvolvem patterns para diferentes tipologias seguindo os preceitos do trabalho de Alexander. Em “The language of School Design” (Figura 19), Nair e Fielding apresentam 25 patterns de ambientes escolares, baseado no trabalho de Alexander e em experiência própria no desenvolvimento de edifícios escolares de alto desempenho. Figura 19: Pattern de edifício escolar Fonte: Nair & Fielding (2007). 6.2. Por Analogia Argumentação lógica pode obter uma ordem sistêmicaatravés de analogia. Um novo sistema pode ser previsto a partir da semelhança dos atributos e/ou comportamento de suas satisfações e dos atributos e/ou comportamento de algum outro meta-sistema, normalmente existente na natureza. Um bom exemplo é o paralelo entre biologia e arquitetura (a relação das ordens clássicas com referências antropomórficas já é um exemplo “biológico”). Mas se tomarmos um apelo à biologia a nível mais fundamental, a obra On Growth and Form de D’Arcy Thompson, traz um excelente exemplo desta aproximação (Figura 20). Rotacionando em 70º o mapeamento de uma espécie de peixe o autor encontra uma nova espécie, configurando um paralelo entre a matemática e a biologia. Figura 20: Rotação em 70 º do mapeamento da espécie Um exemplo mais próximo à arquitetura se apresenta no projeto do Estádio Nacional de Pequim, China. O projeto foi desenvolvido em um consórcio entre Arup, Herzog & De Meuron Architekten AG e China Architecture Design & Research Group (Figura 21). Figura 21: Estádio nacional de Pequim, China. Conhecido como Bird's Nest, "Ninho de Pássaro", o estádio tem sua arquibancada inteiramente recoberta por uma profusão aparentemente aleatória de vigas e treliças metálicas contínuas e entrelaçadas, exatamente como os gravetos de madeira que formam um ninho. De acordo com os arquitetos, a forma da rede metálica que envolve e cobre o anel de concreto dos assentos é baseada na lógica dos aparentes padrões aleatórios da natureza e inspirada nos conceitos de equilíbrio e harmonia do Yin e Yang da filosofia chinesa, onde se combinam o caos e a ordem. É exatamente essa interação de opostos a força do impacto da construção na cidade. Para muitos dos visitantes é difícil dizer onde termina a função estrutural da megamalha metálica e começa a pura representação estética e formal da fachada. De acordo com os profissionais responsáveis da Arup, o padrão de disposição das "pernas" metálicas é fruto de uma intensa pesquisa biométrica e matemática que resultou em uma repetitiva série de vigas e treliças em curvas ascendentes e descendentes que se interconectam com uma grande lógica estrutural e conceitual. O projeto segue os preceitos do Biomimetismo, ciência que estuda os modelos e padrões da natureza que podem ser aplicados na escala humana na resolução de problemas de diversas especialidades, entre elas o design. Embora o padrão pareça aleatório, existem diversos grupos de tramas metálicas, cada qual com suas ordens e regras particulares, difíceis de apreender ao olho humano comum. Sem a definição exata da geometria individual de cada peça e sua função na formação da trama coletiva seria impossível o máximo controle e segurança na construção da cobertura. A impressão de maior leveza do conjunto é derivada da busca por formas e características da seção e da espessura do aço que possibilitaram redução de peso e tornaram a construção realmente factível. Na A Evolução dos Designs de Philip Steadman, tirado de um trabalho anterior de Thompson, o autor estrutura uma sistemática de observações cuidadosas de arquitetura com uma serie de analogias, todas tendo a ver com a premissa biológica. Essas incluem morfologia e estrutura (a analogia anatômica), experiência e erro no progresso de desenho (a analogia “Darwiniana”), ferramentas como extensão do corpo físico, e processo de desenho como um tipo de crescimento biológico. 6.3. Por Categorização e Elaboração Sistemas lógicos podem ser estruturados pela categorização da realidade a ser explanada. As categorias precisam ter alguma reivindicação com a universalidade; nessa essência encontra-se o propósito de identificar princípios de quantidade, qualidade, ou origens etc. Identificar categorias convincentes pode ser suficiente para formar a fundamentação de um sistema lógico a ser trabalhado. Por exemplo, os capítulos iniciais do Complexity and Contradiction in Architecture, de Venturi, mostra por categorias de design pós-moderno (isto é, “Ambigüidade”, “Ambos – E”, “Funcionalidade Dupla”); estas formas de categoria estruturam seu tratado. Categorização é também uma tática usada por Chistian Norberg-Schuls, para atrelar a noção de “habitar” (dwelling). Em sua obra The Concept of Dwelling, ele define que “quando o habitar é atingido, nosso desejo de pertencer e participar é preenchido”. Mas esse preenchimento é percebido apenas quando a arquitetura facilita tal relação: 1) encontros para a troca de idéias, produtos e sensações; 2) a habilidade de acordar um conjunto comum de valores; 3) um sentido de “ter uma pequena escolha do mundo de nós mesmos. Estas categorias são, além disso, reduzidas a “modos” de habitat do coletivo, do público, e do privado. Finalmente, os três modos são nomeados formas-equivalentes de arquitetura do espaço urbano (o coletivo, ou o assentamento), instituição (edifícios públicos), e casa (o abrigo privado). A partir daí o autor elabora as categorias a se relacionarem com o habitar: quando nos aproximamos de um assentamento, o seu perfil é usualmente de importância decisiva. O que percebemos é a figura que se eleva do chão em direção ao céu em uma certa forma. É este levantar e subir que determinam nossas expectativas e nos diz onde estamos. Quando viajamos através da paisagem, estamos ‘sintonizados’ de certa maneira com esse elemento, e o assentamento deve nos oferecer uma resposta para nossas expectativas. Um exemplo relacionado à construção de programas de necessidades arquitetônicos está no trabalho de Hershberger (1999), como mostra a tabela da figura 22. O autor organizou os requisitos de um programa de necessidades de forma a contemplar os valores contemporâneos de projeto, denominado HECTTEAS. Ressalta-se que a chave da categorização encontra na taxonomia (classificação das palavras) o modo que se pretende descrever daquela determinada realidade. VALORES HUMANOS ATIVIDADES FUNCIONAIS PARA SER HABITÁVEL VALORES TEMPORAIS CRESCIMENTO RELAÇÕES SOCIAIS A SEREM MANTIDAS MUDANÇA CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DOS USUÁRIOS PERMANÊNCIA CARACTERÍSTICAS FISIOLÓGICAS DOS USUÁRIOS VALORES ECONÔMICOS FINANCEIROS CARACTERÍSTICAS PSICOLÓGICAS DOS USUÁRIOS CONSTRUÇÃO VALORES AMBIENTAIS TERRENO E VISITAS OPERAÇÃO CLIMA MANUTENÇÃO CONTEXTO URBANO ENERGIA RECURSOS NATURAIS VALORES ESTÉTICOS FORMA RESÍDUOS ESPAÇO VALORES CULTURAIS HISTÓRICO SIGNIFICADO INSTITUCIONAL VALORES DE SEGURANÇA ESTRUTURAL POLÍTICO INCÊNDIO LEGAL QUÍMICO VALORES TECNOLÓGICOS MATERIAIS PESSOAL SISTEMAS ESTRUTURAIS CRIMINOSO PROCESSOS CONSTRUTIVOS Figura 22: HECTTEAS Fonte: Hershberger (1999) 6.4. Pela Categorização-Cruzada e Elaboração Um significado adicional para estruturação de sistemas lógicos é o que nós chamamos de categorização-cruzada. No livro A imagem da cidade de Kevin Lynch, cinco categorias - caminhos, borda/limites, distritos, nos e marcos – são colocados como os componentes fundamentais da imageabilidade da cidade. Mas Lynch atribui a sua “tração argumentativa” pela citação de exemplos de categorias abstratas em Los Angeles, Boston e Jersey City. Esses exemplos atuam como categorias-cruzadas em sua estrutura total. Um ordenamento mais sofisticado desta tática pode ser encontrado na estrutura lógica do livro Thermal Delight in Architecture, de Lisa Herschong. Seu sistema introduz os quatro termos técnicos (seus princípios fundamentais): necessidade, desfrute, afeição e sagrado, e estes atuam como categoria que “intersecta” com outro par de categorias: HEARTH lar (aquecer) e GARDEN jardim (refrescar). HEARTH é usado para descrever o domicilio interior, enquanto que GARDEN é usado para descrever a incorporação da natureza no habitar humano. Estes seis termos formam umagrade ortogonal sobre a qual ela posiciona os exemplo, conforme mostrado na figura 23. Figura 23: Diagrama da estrutura proposta por Herschong em sua obra Thermal Delight in Architecture. Fonte: Groat et al. (2002) Outro exemplo relacionado à arquitetura encontra-se no trabalho de Peña & Parshal (2001), onde as categorias Função, Forma, Economia e tempo são cruzadas com as categorias Metas, Fatos, Conceitos, Necessidades e Problemas. Um exemplo do uso da tabela como organização do processo de projeto pode ser encontrado no trabalho de Moreira (2007). 6.5. Por Argumentação da Tradição Metafilosófica Um sistema lógico pode ser estruturado pelo desenho a partir de uma mais ampla tradição filosófica. Muito dos tratados que lidam com arte e arquitetura usam esta aproximação. No Ocidente, tradição metafilosófica tais como racionalismo, empirismo e idealismo está na base da maioria dos sistemas lógicos. Há também muitas mais estruturas tópicas, tais como filosofia da lingüística e fenomenologia. O sistema estético de Ernest Gombrish está largamente baseado em psicanálise. Muitos sistemas puxam da filosofia política, tal como Architecture and Utopia de Taffuri. Mas as grandes tradições metafilosoficas sozinhas provêm rico material para sistemas lógicos de construção. Racionalismo, que declara que a mente humana tem a priori poder que estrutura experiência empírica tem gerado uma riqueza do sistema lógico relevante para arquitetura. Este inclui o trabalho Essay on Man de Ernest Cassirer (no qual ele o direciona para arte). Philosophy in a New Key (Filosofia em novo tom) de Susanne Langer, e mais recente em Aesthetics of Architecture de Roger Scruton. Na base empírica, a qual dita que experiência é a fonte de todo conhecimento, o livro Art as Experience de John Dewey argumenta que arte não começa com relíquias em museus, mas ao invés disso emerge quando experiências diárias encontram preenchimento de plena expressão. Assim como idealismo, ele tem sido provavelmente a maior influencia de tradição metafilosófica para tratados arquitetônicos pelos últimos cem anos. Sua ênfase sobre a mente como gerador de realidade, ao lado da visão idealista de Hegel na historia (a de que uma mente corporativa move-se em direção do conhecimento absoluto), largamente influenciou manifestos modernistas. 6.6. Pela atualização no Foco de Novos Desenvolvimentos ou Dados Um sistema lógico pode ser a atualização de um antigo sistema que necessita ser renovado focando-se em novos desenvolvimentos. O livro Sobre a Arte de Construir Edifícios em 10 Livros, de Alberti, atualiza os tratados de Vitruvio. A obra de Alberti evidencia a clara influência e o interesse em todas as coisas gregas no processo de estruturação renascentista – a tal ponto de ser mais “Grego” do que o trabalho de Vitruvio. Por exemplo, a noção de Alberti que lineamento reside puramente na mente está muito mais claramente ligada à filosofia de Platão do que qualquer coisa achada em Vitruvio. Pode-se também detectar a influencia da Republica de Platão na preocupação de Alberti sobre a polis – e da elevada posição do arquiteto com ela. Outro exemplo de atualização no foco de novos desenvolvimentos se dá no trabalho de Moreira (2007). O autor criou um aplicativo que reproduz a decomposição de sistemas (HIDECS) descrita por Alexander há 40 décadas atrás. Como resultado do trabalho, gera- se o próprio sub-sistema de requisito funcional de acordo com dados levantados em um escudo de caso (Figura 24). Figura 24 : Sub-sistemas de requisitos funcionais Fonte: Moreira, 2007 Outro exemplo é a expansão de Quatremère de Quincy na teoria do abrigo de Laugier. O trabalho de Quatremère apareceu cerca de 50 anos depois do de Laugier. O aumento do conhecimento de arqueologia, assim como o grande interesse da sociedade nesta área, acoplado com o emergente interesse em linguagens regionais, tudo isso contribuiu para a necessidade de mais teorias flexíveis sobre a origem arquitetônica, do que aquelas providas pela noção de simples abrigo primitivo. Assim, o sistema de Quatremère posiciona-se em origens primordiais múltiplas, simbolizado não só pelo abrigo, mas também pela tenda e caverna. 7. CONCLUSÃO: VANTAGENS E LIMITAÇÕES A argumentação lógica estrutura-se em conceitos construídos que têm grande poder explanatório. Estes sistemas se moldam segundo o modo como nós entendemos o mundo em que vivemos. Por outro lado, a utilidade destes sistemas pode ser limitada, como mostra o quadro da figura 25. Sistemas lógicos tendem a tornarem-se fora de moda (shelf-life) com o progresso ou com as mudanças do ambiente empírico que os criou. Portanto, a maioria dos sistemas lógicos tem um limite quanto ao “período de vida”, após o qual se tornam artefatos históricos. Quanto aos sistemas matemático-formais, estes tendem a mudar à medida que novas evidências emergem e alteram paradigmas estabelecidos. Esse tema está sistematicamente direcionado a pensadores como Thomas Kuhn e Karl Popper. Em relação ao argumento cultural / discursivo, tratados que têm se “tornado históricos” são abundantes. Isso se deve ao fato que muitos sistemas desse tipo (Vitruvio, Alberti, Laugier, Ginzburg dentre outros) estão em posições confortáveis, sob o ponto de vista histórico ou teórico. Outra limitação para um sistema lógico é o fato que o mesmo pode não ter uma representação exata da realidade – o que se propõe explicar – apesar de ser consistente internamente do ponto de vista lógico. A teoria de Popper sobre falsificação acrescentou muito à literatura nessa área, em relação à medida como os sistemas matemático-formais estão envolvidos. Por exemplo, a lei da gravidade de Newton e as teorias de Einstein provaram ter lacuna em sua habilidade para descrever o comportamento do cosmo, mesmo que as equações de Newton tenham lógicas corretas. Paralelos a este problema podem também ser encontrados em sistemas cultural/discursivos. Muitos trabalhos (agora históricos) sobre a forma da cidade e planejamento, escritos na perspectiva modernista (por exemplo, The City of Tomorrow and its Planning, de Le Coubusier) têm sido desafiados por trabalhos posteriores, tal como Vida e Morte nas Grandes Cidades, de Jane Jacobs. O modo como um sistema lógico conecta-se com a realidade é fascinante e necessita de mais pesquisas em seu próprio campo. O ponto para uma pesquisa lógica é aquele relacionado a um sistema coerente interno, que por sua vez não garante uma descrição acurada de uma determinada realidade externa. Vantagens Limitações Das estratégias aqui descritas, a Argumentação Lógica é talvez a estratégia mais adequada em que qualquer estrutura conceitual precise exibir coerência lógica em algum sentido. Baseado nos princípios aqui esboçados pode ajudar a moldura de qualquer estrutura lógica. No primeiro item de vantagens, pode facilmente ser uma limitação: pode ser difícil agarrar-se porque ou como Argumentação Lógica é uma estratégia de pesquisa, desde que toda estrutura precise ter uma coerência lógica. Tentamos mostrar que Argumentação Lógica, como uma própria estratégia de pesquisa, envolve a moldura da estrutura que explica o grande escopo de determinada realidade. Alem disso, tendem a finalizar no sistema teórico em si como um resultado, ao invés de ter estrutura lógica ser um meio para outros resultados. Argumentação Lógica é muito útil para fornecer fundamentação teórica para larga faixa de manifestações empíricas. Alguns exemplos citados: estrutura de Hillier e Hanson revela padrões sócio- culturais simples em disposições diversas de plantas baixas, ou a noção das formas empíricas dispares pode, todavia ser reduzida a “shape- grammar”. Argumentação Lógica concebida como uma estratégia de pesquisa, é muito poderosa aoapresentar habilidade para situar uma grande e diversa quantidade da literatura teórica existente em um simples sistema conceitual. Alem disso, as ferramentas usadas para estruturar o sistema torna a explanação muito econômica. Uma limitação pode ser a falta de economia em termos técnicos. Em outras palavras, se um sistema prolifera em termos técnicos, é um indicador de que a fundamentação teórica não esta clara. Outra limitação pode ser que ao sistema fa l te a habilidade de explicar um amplo escopo de variedade. Na medida em que o resultado da explanação teórica esta baseado em consistência lógica interna, o sistema lógico pode ser difícil de refutar. Sistemas de Argumentação Lógica precisam ser constantemente avaliados em sua exatidão. Consistência interna lógica não garante poder explanatório exato. Por exemplo, categorias fundamentais propostas, enquanto todas relevantes, podem não ser exaustivamente descritivas – elas podem ter também categorias indefinidas. A teoria da Argumentação Lógica em si não tem um mecanismo auto-regulador, necessário, que pode alertar aos teóricos esta falta; precisa ser testada pela aplicação do sistema proposto em importantes locais com serviço de avaliação critica. O capitulo tentou mostrar que “lógico” pode transcender as fronteiras “matemáticas” (conhecimento baseado em números) e “discursiva” (conhecimento baseado na retórica) pela demonstração, focadas em argumentação tão diversas como a teoria da “shape-grammar”, e de um lado nas ordens clássicas de Vitruvio, e de outro, que podem todos ocupar um espectro da argumentação lógica. Também, como assinalado, alguns sistemas lógicos são dependentes do seu tempo, pois a passagem de uma era sócio-cultural pode render um sistema proposto mais de item histórico do que outro com poder explanatório aceito. Figura 25: Vantagens e Limitações Fonte: Groat et al. (2002) Outros problemas potenciais de sistemas lógicos têm a ver com sua economia e utilidade inerente. Um bom sistema lógico deve prover de grande escopo de cobertura explicativa, com número pequeno de termos técnicos. Sistemas lógicos tornam-se pouco úteis quando há um grande número de termos técnicos para explicar alguma coisa incerta ou com escopo limitado. 8. LEITURAS RECOMENDADAS PARA COMPLEMENTAÇÃO AO TEMA Um trabalho muito útil e recomendado pelos autores é o The Logic of Architecture, de W. Mitchell (Cambridge, Mass: MIT Press, 1990), que tem forte espectro matemático–formal, em que o autor conduz à lógica computacional e sumariza a teoria do shape grammar. Para a referência geral sobre estratégias e táticas de persuasão retórica entendida como um exercício lógico, recomenda-se The New Rhetoric: A Treatise on Argumentation, C.Perelman & L.Olbrechts-Tyteca (Notre Dame,Ind.: Universit of Notre Dame Press). E o desenvolvimento posterior do trabalho de Hillier/Hanson, Space is the Machine: a Configurational Theory of Architecture (New York: Cambridge University Press, 1996). Os autores, nesse capítulo estudado, citam vários clássicos em Argumentação Lógica cultural-discursiva: Vitruvius, Alberti, Laugier, Loos, Wright, Venturi e outros. Para os leitores interessados em práticas de argumentação lógica, analisar estes trabalhos à luz das táticas aqui orientadas pode ser muito instrutivo. Há vários artigos de periódicos, sendo que o melhor exemplo de uso de categoria fundamental é o de J.Pine II & J.Gilmore: Welcome to the Experience Economy,(Harward Business review, July-August 1998), que usa o principio de quantidade (com qualidade agregada). O autor argumenta persuasivamente que atualmente estamos em uma economia de experiência, tendo progressivamente passado pela economia agrária, industrial, e pela economia de serviço. Ilustrando essa progressão através de um bolo de aniversario, mostra que em uma economia agrária, famílias faziam o bolo a partir da matéria-prima proveniente das commodities agrárias de seu próprio trabalho. Na economia industrial, o bolo é feito com ingredientes pré-misturados de uma caixa vinda de uma loja. Na economia de serviço, os pais encomendam um bolo pronto e o pegam no caminho para sua casa, vindos do trabalho. Em uma economia de experiência, a família inteira vai a um Buffet infantil em voga , e o bolo de aniversario esta incluído como parte de uma experiência de aniversario muito maior. O sistema lógico de Pine &.Gilmore ajuda a conectar inclusive formas construídas com fatores econômicos, na medida em que ilustra como a morada agrária é totalmente diferente da área comercial onde o Buffet infantil está localizado. Um outro artigo de periódico recomendado é o The Mechanical Body Versus the Divine Body de Alexander Tzonis e Diane Lefaivre. Mesmo não sendo um trabalho sobre tratado ou sistema lógico (talvez uma exemplo secundário de argumentação lógica), direciona para o momento de mudança de paradigmas, e como esta mudança resulta na necessidade de atualizar o sistema lógico. (Alexander Tzonis e Diane Lefaivre, “The Mechanical Body Versus the Divine Body: the Rise of Modern Design theory”, Journal of Architecture Education, September 1975, pp. 4-7). 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ALEXANDER, C. Notes on the synthesis of form. 9th. print. Cambridge: Harvard University Press, 1977. 216p. (1964). CHERMAYEFF, S.; ALEXANDER,C. Community and Privacity: Toward a new architecture of Humanism. Harmondsworth, UK: Penguim Books, 1966. 255p. (1963). COLIN, Silvio. Pós-modenismo: Repensando a arquitetura. Rio de Janeiro: UAPÊ (2004). GROAT, Linda; WANG, David. Architectural Researchs Methods. New York, John Wiley & sons, Inc.(2002) HERSHBERGER, R.G. Architectural Programming and Predesign Manager. New York: McGraw-Hill, 1999, 506p.(1999). MOREIRA, D.C. Os princípios da síntese da forma e a análise de projetos arquitetônicos. Tese de Doutorado (Engenharia Civil) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo. Campinas (2007) NAIR, P.; FIELDING, R. The language of school design: design patterns for 21th century schools. 2th. ed. The National Clearinghouse for Eduacional Facilities and The KnowledgeWorks Foundation. Índia (2007) PEÑA, W.M.; PARSHALL, S.A. Problem Seeking: An Architectural Programming Primer. 4th ed. New York: John Wiley and Sons, 2001. 224p. (1969) POLIÃO, M. Vitrúvio. Vitruvio: Da Arquitetura. São Paulo, Hucitec: Annablume. (2002). THOMPSON, D. On Growth and Form. London: Cambridge University Press (1971). VENTURI, Robert. Scott Brown, Denise. Aprendendo com Las Vegas. Tradução; Pedro maia Soares. São Paulo: Cosac & Naify (2003).
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