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Tratados, convenções e regras do Direito Internacional

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Tratados, convenções e regras do Direito Internacional
O princípio da extraterritorialidade permite a aplicação de Lei Penal de outro país quando o delito for praticado parcial ou totalmente em nossa extensão territorial, quando existirem tratados ou convenções entre o Brasil e outro Estado, respeitadas também as regras do direito internacional.
Neste contexto, tem por base o primado da “justiça universal” em que, segundo Capez (2011) “todo Estado tem o direito de punir qualquer delito cometido em seu território, independente da nacionalidade do agente ou da vítima
No conceito de Varella, tratado é um “acordo internacional concluído por escrito entre Estados ou entre Estados e Organizações Internacionais, regido pelo Direito Internacional, quer conste de um instrumento único, quer de dois ou mais instrumentos conexos, qualquer que seja sua denominação específica. Trata-se da principal fonte do direito internacional porque representa a vontade dos Estados ou das Organizações Internacionais, em um determinado momento, que aceitam regular uma relação jurídica por meio de uma norma comum entre si” (2012, p. 37).
A Constituição Federal de 1988, no artigo 84, VIII, define a competência privativa do Presidente da República para celebrar tratados, convenções e atos internacionais, porém, como o processo de formação dos tratados é um ato complexo, necessário se faz a sua aprovação pelo Poder Legislativo, materializada mediante decreto legislativo, seguida de sua ratificação pelo Presidente da República, em estrita observância ao princípio da harmonia entre os Poderes, segundo disposição do artigo 49, I da CF/88.
Os Tratados Internacionais dos quais a República Federativa do Brasil seja parte, inseridos ao ordenamento jurídico interno, possuem natureza de lei ordinária e serão observados em conjuntos com as disposições de nossa Carta Política que tratam dos direitos e garantias, conforme previsão do artigo 5º, § 2º da Constituição Federal de 1988, na redação da EMC 045 de 08/12/2004, ressalvando-se os relacionados aos direitos humanos, elevados à condição de norma constitucional, por força do § 3º.
Segundo Nucci, “o Código Penal destina-se, exclusivamente, ao denominado direito penal internacional, ou seja, à aplicação da lei penal no espaço, quando um crime tiver início no Brasil e terminar no exterior ou vice-versa (...). Para delitos cometidos no território nacional, continua valendo o disposto no art. 70 da lei processual. Em suma, conflito é somente aparente, mas não real”.
Segundo dispõe o art. 109, inc. IX, da Constituição Federal, compete à Justiça Federal julgar “os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da Justiça Militar”. Conjugada esta disposição com o art. 90 do CPP, temos que caso a aeronave tenha pousado em território nacional após a prática do crime, aí se estabelecerá a competência. Se o pouso se deu em outro país, considera-se competente o local de onde ela decolou no Brasil. Assim, se na ponte aérea Rio-São Paulo ocorre um crime e o avião pousa em São Paulo, a capital bandeirante terá firmado sua competência. Pode ocorrer, porém, que o voo deixe o Rio de Janeiro em direção a Buenos Aires, sem escalas. Perpetrado um crime em seu interior, a competência será da capital fluminense.
Quando estudamos esta regra de competência, vêm-nos à mente apenas as aeronaves tradicionais, mas, como podemos constatar em decisão proferida pelo STJ, há circunstâncias inusitadas que podem provocar controvérsia.
No caso (CC 143.400/SP, j. 24/04/2019), o tribunal se deparou com a imputação de crimes culposos a bordo de um balão de ar quente, o que acabou provocando conflito de competência em virtude da interpretação do termo aeronave contido no art. 109 da CF/88. A Justiça Estadual declinou de sua competência sob o argumento de que balões de ar quente devem ser equiparados a aeronaves, no que foi contestada pela Justiça Federal, que suscitou o conflito.
A extraterritorialidade da lei penal pode ser incondicionada (absoluta), nas circunstâncias de eventual cometimento da infração no estrangeiro, sem o preenchimento de qualquer requisito, permite que o réu seja processado e julgado validamente no Brasil, ainda que absolvido ou condenado no exterior, ou que o f aça mediante o cumprimento de requisitos específicos, sendo esta a extraterritorialidade condicionada (relativa).
A Convenção de Viena, no que trata das Relações Diplomáticas, ratificada pelo Brasil pelo Decreto nº 56.435/1965,relaciona as imunidades penais aos integrantes da carreira diplomática que cometam delitos penais enquanto em serviço de seu país de origem, mesmo que a legislação processual penal brasileira lhes seja mais benéfica, esta é inaplicável por força do tratado, referindo-se elas a qualquer delito e se estendem a todos os agentes diplomáticos (embaixador, secretários da embaixada, pessoal técnico e administrativo das representações).
Aos componentes da família deles e aos funcionários das organizações internacionais (ONU, OEA etc.) quando em serviço, cobrindo também a imunidade o chefe de Estado estrangeiro que visita o país, bem como os membros de sua comitiva, excluídos os empregados particulares dos agentes diplomáticos, ainda que da mesma nacionalidade destes, determinando que "os locais das missões diplomáticas são invioláveis, não podendo ser objeto de busca, requisição, embargo ou medida de execução".
É assegurada a proteção a seus arquivos, documentos, correspondência etc., incluídos os dos consulados, por não pertencerem ao cônsul, mas ao Estado a que ele serve e os delitos cometidos nas representações diplomáticas serão alcançados pela lei brasileira se praticados por pessoas que não gozem de imunidade.
Os cônsules, agentes administrativos que representam interesses de pessoas físicas ou jurídicas estrangeiras, têm apenas imunidade de jurisdição administrativa e judiciária pelos atos realizados no exercício das funções consulares, embora não se impeça tratado que estabeleça a imunidade, não se permitindo que o agente diplomático acolha, como refugiados, os acusados ou condenados por delitos de natureza comum, e são obrigados à entregar à autoridade local competente, que o requeira (Decreto nº 18.956, de 22 de outubro se 1929, art. 17).

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