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A sociologia

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A sociologia surgiu, na primeira metade do século XIX, sob o impacto da Revolução Industrial e da Revolução Francesa. As transformações econômicas, políticas e culturais suscitadas por esses acontecimentos criaram a impressão generalizada de que a Europa vivia o alvorecer de uma nova sociedade.
A sociologia nasce, portanto, como uma reflexão acerca dos contornos da nova configuração histórica. E num ambiente marcado pela competição entre as visões de mundo do conservadorismo, do liberalismo e do socialismo.
A ambição intelectual da sociologia, a tentativa de compreender, em um registro científico, a origem, o caráter e os desdobramentos dessa nova sociedade, levou-a a se apresentar como uma espécie de contraponto em relação às demais disciplinas das “ciências humanas”. Assim, desde o início, a sociologia procurou diferenciar-se da economia, da história, da geografia, da filosofia, da psicologia etc.
Nas últimas décadas do século XVIII surgiram, na Europa, dois fenômenos decisivos para a configuração do mundo moderno: a concentração da produção de bens na “fábrica”, base do sistema econômico fabril, e a comunidade política de “cidadãos”, livres e com direitos iguais, vinculados ao Estado-nação.
Hoje, tendo em vista os desdobramentos dessa matriz econômica e política, bem como o seu alcance mundial, tornou-se consenso considerar tais transformações equiparáveis a marcos históricos como a invenção da agricultura, da metalurgia, da escrita ou da cidade.
A Revolução Industrial surgiu na Inglaterra. O pioneirismo inglês explica-se pela consolidação, ao longo do século XVIII, de uma série de fatores: (a) relações econômicas capitalistas que abrangiam não só o comércio, as finanças e a produção manufatureira, mas inclusive as atividades agrícolas; (b) uma política governamental orientada para favorecer o desenvolvimento econômico; (c) uma cultura coletiva que não rejeitava o predomínio do dinheiro, valorizando, por conseguinte, a busca de lucro; (d) um mercado mundial monopolizado pela supremacia militar e naval da Inglaterra, consolidado pelas práticas do exclusivismo colonial e do escravismo.
No decorrer do século XIX, a industrialização, e os processos que a acompanham, expandiu-se pela Europa e por determinadas regiões do planeta (como o norte dos Estados Unidos e o Japão). Em todos esses lugares ocorreu um deslocamento de trabalhadores e de recursos monetários da agricultura para a indústria, com o consequente aumento da sua participação no total de riquezas produzidas. Com isso, o predomínio econômico da vida agrária, bem como a estrutura social assentada em privilégios derivados da posse da terra, foi sendo substituído por relações econômicas e sociais tipicamente urbanas.
O mundo do trabalho já havia se modificado substancialmente a partir do século XVII, sobretudo na Inglaterra, com a penetração de relações capitalistas no campo. O cultivo comunal e a agricultura de subsistência cederam lugar a uma atitude comercial, logo monetária, diante da terra. A implantação de relações salariais no setor agrário, no entanto, foi uma modificação pequena perante o que aconteceu na indústria.
Primeiro, a produção deixou de ser uma atividade individual, realizada na própria casa do trabalhador segundo o ritmo ditado por sua habilidade e capacidade física. Tudo isso, em intervalos de tempo que lhe permitia dedicar-se a outras tarefas, como a criação de animais e o cultivo da terra.
Os trabalhadores passaram a se concentrar em um só local, em fábricas, cada vez maiores, intensificando a forma de organização iniciada pela manufatura. O trabalho parcelar tornou-se coletivo, subordinado a um mecanismo constituído por máquinas capazes de realizar as mesmas operações das ferramentas e movidas por uma única força motriz.
As aptidões especiais do artesão especializado tornaram-se dispensáveis. A racionalização dos procedimentos, a divisão do trabalho no interior do processo produtivo, a linha de montagem abriram espaço para a utilização do trabalho feminino e infantil. A disciplina implantada nas fábricas subordinou a ação humana aos movimentos do maquinismo, mas também às relações salariais, à vigilância da supervisão do capitalista e ao ritmo inexorável, à “tirania”, do relógio.
O modelo em que a produção era realizada por artesões, localizados em seus domicílios, em pequenos vilarejos, desempenhando simultaneamente vários ofícios, tornou-se rapidamente obsoleto. O sistema produtivo moderno subdividiu o trabalho entre imensas fábricas, superespecializadas, que utilizam matérias-primas dos países mais distantes e abastecem com seus produtos os mercados do mundo inteiro.   
A Revolução Industrial não modificou apenas os ritmos e as modalidades de organização do trabalho. Alterou significativamente as formas e estilos de vida, o cotidiano e a cultura de todos os segmentos da população.
As principais consequências sociais da Revolução Industrial foram o crescimento da desigualdade e a intensificação do conflito entre as classes. As novas relações de produção cristalizaram a separação entre trabalhadores destituídos de meios de produção e empregadores capitalistas, aumentando exponencialmente a disparidade social. O empreendimento fabril, cada vez mais complexo, passou a exigir vultosos investimentos, consolidando uma restrita classe de capitalistas. Esta se mostrou destemida a ponto de enfrentar os antigos senhores, e poderosa o suficiente para determinar os rumos da vida política e econômica.
As figuras corriqueiras de capitalistas, o comerciante e o banqueiro, foram ofuscadas pelo “capitão de indústria”, o responsável pela organização e controle das atividades na fábrica, que exercia o comando impondo uma rígida disciplina sobre um exército de trabalhadores.
A classe trabalhadora, por sua vez, apesar do empobrecimento material e do desenraizamento social, tornou-se mais numerosa, homogênea e concentrada. Nos grandes centros fabris, nas cidades manufatureiras as rebeliões não tardaram.
A própria concepção de vida social alterou-se bruscamente. Não se tratava mais de seguir a tradição, a estática de uma posição estabelecida pelo nascimento, mas de situar-se em uma dinâmica social em constante transformação e movimento. O ritmo da modificação econômica fortaleceu a convicção iluminista de que a racionalidade, o conhecimento, a riqueza, a tecnologia, o controle sobre a natureza, em suma, a sociedade estaria sujeita a um progresso ilimitado.

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