Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
DEFINIÇÃO: As parasitoses intestinais constituem um importante problema de saúde pública, pois contribuem para as taxas de morbidade e mortalidade de pessoas em todo o mundo, especialmente em países em desenvolvimento, tendo como principal grupo afetado as crianças. Doenças têm como agentes etiológicos helmintos ou protozoários que durante o seu ciclo biológico evolutivo habitam o aparelho digestório. EPIDEMIOLOGIA As parasitoses intestinais possuem altos índices de prevalência, atingindo cerca de 25% da população mundial (1 em cada 4 pessoas no mundo possuem algum parasita intestinal). A principal fonte de infecção o contato fecal-oral por meio de água e alimentos contaminados. Os fatores de risco associados ao surgimento das enteroparasitoses estão relacionados à pobreza, sendo as condições educacionais, sanitárias aglomerações, saneamento básico precário, manejo inadequado do lixo, condições de higiene inadequadas. As crianças são os mais afetados em vista dos seus hábitos e baixo desenvolvimento imunológico. Apresentando déficits no desenvolvimento físico, cognitivo e nutricional ETIOLOGIA Protozoários: Unicelulares eucarióticos, em todos são parasitas. Extraem nutrientes por forma osmotrófica ou fagotrófica. Reprodução assexuada (amebas, tricomonas e giárdia) ou sexuada (plasmódio). Helmintos: Pluricelulares, visíveis a olho nu. Reprodução sexuada (hetero ou autofecundação). Maioria são ovíparas. Ciclo pode incluir só um hospedeiro ou mais de um. Divididos em: • Platelmintos: Trematoda (schistosoma mansoni) e Cestoda (taenia solium, saginata, equinococcus granulosos) • Nematelmintos: Nematoda: áscaris lumbricoides, ancylostoma duodenal, necatur americanos, enterobius vermiculares... Helmintos Ascaris lumbricoides Ascaridíase Trichuris trichiura Tricuríase Ancylostoma duodenale / Necator americanus Ancilostomíase Enterobius vermicularis Oxiuríase Strongyloides stercoralis Estrongiloidíase Platelmintos Taenia solium e saginata Teníase Schistossoma mansoni Esquistossomose Protozoários Giardia lamblia Giardíase Eantamoeba histolytica Amebíase Ascaris lumbricoides – Ascaridíase É o parasita humano de maior prevalência, causa a ascaridíase e é também conhecido como lombriga. A ascaridíase é a infecção por nematódeos mais comum em pessoas, aparecendo em cerca de 807 milhões a 1,2 bilhão de pessoas em todo o mundo, contribuindo para a desnutrição em áreas com más condições sanitárias. Cerca de 60 mil pessoas morrem todos os anos. Fisiopatologia: Seu ciclo biológico desenvolve-se a partir da ingestão dos ovos do parasita, os quais eclodem no intestino delgado liberando larvas que seguem para o fígado, depois coração e em sequência pulmão (onde configura o Ciclo de Loss e causam a síndrome de Loeffler). No pulmão rompem os capilares e chegam até a faringe, de onde serão expelidas pela expectoração ou deglutidas, chegando novamente ao intestino delgado, onde se fixam e após cerca de 60 dias completam a maturação sexual e liberam ovos que serão eliminados com as fezes, contaminando o ambiente e reiniciando o ciclo. Manifestações Clínicas: A migração das larvas de Ascaris pelos pulmões pode causar febre, tosse, respiração sibilante e, às vezes, sangue na expectoração (escarro). Síndrome de Loeffler: pneumonite intersticial eosinofílica: pelo ciclo pulmonar da larva pode ter manifestações pulmonares como tosse seca, broncoespasmo e infiltrados intersticiais múltiplos e migratório. Laboratório mostra eosinofilia: diminui após do término desse ciclo pulmonar Um número reduzido de vermes no intestino não costuma causar sintomas digestivos. Mas, grande número de vermes pode provocar cólicas abdominais e, por vezes, sua obstrução, ocorrendo com mais frequência em crianças que vivem em áreas com más condições sanitárias. Uma obstrução pode causar enjoo, vômito, inchaço abdominal (distensão) e dor abdominal. • Obs.: Vermes adultos às vezes bloqueiam a abertura do apêndice, dos dutos biliares ou do duto pancreático, provocando intensa dor ab • As crianças infectadas podem sofrer desnutrição. Crianças com infecção maciça podem não crescer ou ganhar peso normalmente Diagnóstico Exame de uma amostra de fezes: A ascaridíase é diagnosticada ao identificar os ovos ou vermes adultos no exame de uma amostra fecal ou, em raras ocasiões, ao ver os vermes adultos nas fezes ou saindo pela boca ou pelo nariz. Se a tomografia computadorizada (TC) ou ultrassonografia for feita por outras razões, os vermes adultos podem ser vistos. A observação em uma radiografia do tórax da migração das larvas pelos pulmões ocorre raramente. Tratamento Um medicamento usado para tratar infecções por vermes (medicamento anti-helmíntico) Para tratar uma pessoa com ascaridíase, o médico geralmente prescreve albendazol ou mebendazol. A ivermectina é uma alternativa. Esses medicamentos são administrados por via oral. No entanto, como esses medicamentos podem ser prejudiciais ao feto, os médicos precisam ponderar o risco de tratar uma gestante infectada frente ao risco de não tratar a infecção. Amebíase Entamoeba histolytica: ameba encontrada no intestino groso com potencial patogênico. Tem estágio: → Cisto: forma infectante, na ingestão de algo contaminado, sobrevivem e eclodem no intestino delgado onde liberam os trofozoítos. Portadores assintomáticos podem liberar cistos infectantes por meses → Trofozoíta (pode ter hemácias fagocitadas dentro, quando invadem a parede do colón causam colite amebiana, pode atingir corrente e disseminar para fígado, pulmão e cérebro: abscessos amebianos. Podem ser encontrados nas fezes, mas não conseguem causar infecção (destruídos pelo O2 ambiente) Nas áreas com más condições sanitárias, a amebíase é adquirida pela ingestão de alimentos ou água contaminada com fezes. Manifestações Clinicas incubação de 2 a 6 semanas depois de ingerir os cistos. As síndromes clínicas podem ser divididas. 90% dos infectados são assintomáticos. Formas invasivas extra intestinais mais comum em homens (7:1): mulher tem sistema complemento mais eficiente na lise dos trofozoítos. No entanto, elas excretam os cistos nas fezes e, dessa forma, podem disseminar a infecção. Os sintomas de amebíase normalmente podem incluir: Diarreia, às vezes com sangue visível nas fezes, Dor abdominal acompanhada de cólicas, Perda de peso e febre. As síndromes clínicas podem ser divididas: → Intestinal: ela invade o IG (ceco e sigmoide) e causa colite: dor abdominal baixa, diarreia com pequeno volume e múltiplos episódios, com sangue, muco e pus nas fezes, com as úlceras amebianas profundas em botão de camisa: • Aguda: disenteria amebiana: diarreia mucossanguinolenta, 10-12 dejeções por dia, com náusea, vomito, cefaleia, febre, tenesmo e cólicas. Pode ter até Megacolon tóxico. Não revela eosinofilia • Crônica: incomum, desconforto abdominal e irregularidade do hábito intestinal, caráter intermitente • Ameboma: granuloma na parede intestinal, massa abdominal palpável no QID → Extraintestinal: abscessos amebianos, é quando acessa corrente sanguínea (sistema porta). Pode ter hepatomegalia, febre, dor no HD, sudorese noturna e sinal de torres-homem, leucocitose neutrofilica e aumento leve de enzimas hepáticas. Diagnóstico → Trofozoítos (com hemácias é patognomonico, principalmente associado a disenteria) ou cistos nas fezes pelos métodos de Faust, Richtie ou MIF: 3 amostras consecutivas. → Pode fazer sorologia (menos de 7-10 dias pode dar -) e pesquisa de antígenos fecais de ameba pelo ELISA: ajuda diferenciar de outras amebas, mais específico. → Se der negativo no de fezes, mas tiver suspeita faz colonoscopia com escovado ou biopsia da mucosa: acha trofozoidas e consegui diferenciar de DII. US tem os abscessos amebianos: com combinação sorologia antiameba. Tratamento: → Imidazólicos (secnidazol, metronidazol etinidazol) são agentes de escolha para destruir as formas invasivas nos tecidos, não eficazes em erradicar os trofozoítas e cistos no lúmen intestinal: Tratamento complementado com drogas de ação antiameba intraluminal → Drenagem percutânea estará indicada somente se houver necessidade de excluir abscesso piogênico, ausência de resposta clínica após quatro dias e ameaça de ruptura iminente (ex.: crescimento progressivo, localização no lobo esquerdo do fígado, risco de ruptura) → Drenagem cirúrgica aberta não é recomendada, exceto quando o abscesso é inacessível à aspiração → Suporte: hidratação e correção do equilíbrio hidroeletrolítico Teníase A teníase do intestino ocorre principalmente quando as pessoas comem carne de porco, de boi ou peixe de água doce crus ou mal cozidos ou, no caso de tênia anã, água ou alimentos contaminados. Ciclo evolutivo: O humano é hospedeiro definitivo. Hospedeiros intermediários: na Solium é o porco (homem pode ser na cisticercose) e na Saginata o boi. O parasita adulto permanece no delgado e as proglotes (tenias gravidas) mais distais são eliminadas, solium mais de uma por vez acoplada e na saginatum uma cada vez. No exterior, as proglotes libertam os ovos contendo o embrião hexacanto: oncosfera. Hospedeiro intermediário ingere os ovos ou as proglotes grávidas: penetram na mucosa intestinal, atingindo a circulação sanguínea e linfática: disseminando por órgãos e tecidos (músculos esqueléticos e o miocárdio), ali amadurecem em larvas os cisticercos. Cisticercos são larvas císticas, apresentando parede cística delimitando uma cavidade cheia de líquido e contendo um escólex ligado à parede por um curto pescoço Ingestão de carne mal passada: após digestão, cisticercos são por ação dos sucos digestivos, libertam escólex: se fixa por suas ventosas à mucosa do ID, formação das proglotes, o que irá constituir o verme adulto, completando o ciclo evolutivo Cisticercose Humana: quando homem ingere ovos (proglotes gravidas) da Taenia solium. Ovos são convertidos em oncosferas pelo suco gástrico: absorvidos pela mucosa intestinal, alcançam circulação e vão para órgãos formar cisticercos, principalmente no SNC (indivíduos com epilepsia na idade adulta) Manifestações Clínicas A maioria assintomática, sintomas decorrentes da inflamação da mucosa: hipo/hipersecreção de muco, alterações da motilidade, tonturas, fraqueza, cefaleia, anorexia, dor abdominal, náuseas, vomito, irritabilidade... Saginata mais sintomática Diagnóstico Raramente pelo exame de fezes, pois os ovos são não costumam ser vistos. → Solium elimina proglotes com fezes pode fazer tamização fecal. → Saginata elimina proglotes ativamente então pode sair e andar nas coxas/períneo, ou na roupa de cama e peças intimas. Proglote faz identificação de qual tênia. O método de Graham e Hall pode ser usado, mas não diferencia ovos de qual tênia (Solium ou Saginata) Em pessoas com cisticercose, os cistos no cérebro ou em outros tecidos podem ser observados em uma tomografia computadorizada (TC) ou em uma ressonância magnética (RM). Tratamento: Para infecção intestinal, praziquantel ou nitazoxanida (medicamentos antiparasitários) Para sintomas decorrentes de cisticercose, às vezes corticosteroides e um medicamento antiparasitário com ou sem cirurgia Ancilostomose Ancylostoma duodenal e Necator americanos: helmintos da classe Nematoda: vermes pequenos que parasitam duodeno e jejuno proximal. Contaminação é pela penetração de suas larvas pela pele. Conhecida também por amarelão, jeca tatu, opilação. Mais comum em áreas rurais e em pessoas que andam mais descalço. Fêmeas põem ovos no lúmen intestinal: saem nas fezes, embrião eclode do ovo 24-48h Ciclo larvar: larva que emerge do ovo (larva rabditoide): primeiro estágio L1: se movimenta, alimenta no solo e, no fim do 3° dia ocorre a primeira muda, passa para o segundo estágio (L2), ainda rabditoide. Larva sofre a segunda muda, transforma em filarioide (L3): infestante, capaz de se locomover com movimentos serpentiformes e penetrar na pele do hospedeiro humano (pés descalços, folículos pilosos, espaços interdigitais) ▪ Ao penetrarem atingem as vênulas/linfáticos e são levadas pela corrente circulatória ao coração direito, alcançando os vasos pulmonares: No pulmão rompem os capilares (atraídas pelo O2 dos alvéolos) e sofrem mais uma muda (L4) e migram para arvore traqueobrônquica sentido ascendente: deglutidas quando chegam na glote. Resistem a passagem gástrica: duodeno e jejuno se tornam vermes adultos e se fixam a mucosa intestinal. Depois de 6-7 semanas a fêmea produz ovos e completa ciclo. Manifestações Clínicas Faz lesão inflamatória levando a enterite catarral: pela peça bucal com placas ou dentes cortantes. Além de romperem os capilares da mucosa e fazerem pequenas hemorragias conseguem sugar sangue: pode levar a anemia ferropriva (quadro crônico). Pode ser assintomática ou ter quadro gastrointestinal agudo (gastroenterite, com náuseas, vômitos, diarreia, dor abdominal e flatulências). Pode ter eosinofilia. Síndrome de Loeffler não é tão proeminente (tosse seca e sibilancia) Diagnóstico Laboratorial pelo parasitológico de fezes procurando ovos nos métodos de Lutz, Willis ou Faust, além de contagem de ovos pelo Kato-Katz. Tratamento Para todas as pessoas infectadas da família ou grupos próximos para interromper ciclo de transmissão, faz controle no dia 7, 14 e 21 depois de tratar pelo parasitológico de fezes. Fármacos anti-helmínticos. Pode-se usar um destes fármacos: → Albendazol, 400 mg por via oral em dose única → Mebendazol, 100 mg por via oral duas vezes por dia por 3 dias, ou 500 mg em dose única. → Pantarato de pirantel, 11 mg/kg (dose máxima de 1 g) por via oral uma vez ao dia, durante 3 dias Esses fármacos só devem ser usados na gestação se os benefícios superam os riscos. Giardíase Giardia lamblia: protozoário que parasita o ID. Duas formas de vida: cisto (infectante) e trofozoíta (não infectante) Transmissão interpessoal (anal oral) é comum dentro de instituições como creches, e pode ocorrer pela via sexual. Prevalência alta nos países subdesenvolvidos com baixas condições de higiene e saneamento básico Ciclo evolutivo semelhante ao da E. histolytica: propriedade parasitária, se reproduz assexuadamente, por divisão binária O encistamento ocorre quando há mudanças no pH ou na concentração de sais biliares do meio. Cisto tetranucleado é eliminado nas fezes, e sobrevive por semanas a meses em água fresca gelada (cloração não mata, só filtração e fervura). Eliminação fecal dos cistos pode ser contínua ou intermitente: são infectantes imediatamente após serem eliminados Manifestações Clínicas A infecção é frequentemente assintomática. Sintomas tem aguda (enterite aguda) ou crônica (enterite crônica). Período de incubação com média de 7-10dias (varia de 1 a 4 semanas). Diarreia e dor abdominal tipo cólica, além de anorexia e má absorção (barreira mecânica no duodeno). Pode ter perda da atividade enzimática na borda em escova que leva a intolerância a lactose. Pode ter apagamento das vilosidades nos crônicos (como na doença celíaca ou espru tropical). Diagnóstico Identifica trofozoítos no exame direto de fezes pelo método de Faust ou no fluido do aspirado duodenal: 3 amostras para boa sensibilidade. Pode fazer pesquisa de antígeno. Biopsia em casos raros para identificar trofozoíto Tratamento Tinidazol, metronidazol, ou nitazoxanida Para giardíase sintomática, pode-se usar tinidazol, metronidazol, o nitazoxanida Resistência e falhas do tratamento podem ocorrer com qualquer um deles. Oxiurose Enterobius vermicularis ou oxiúro é um nematodo pequeno, parasitas do intestino grosso humano, ciclo evolutivo é simples, e estes vermes não apresentam o ciclo pulmonar de Looss: Vivem no intestino grosso aderidosa mucosa intestinal. As fêmeas grávidas soltam os lábios (pressão sobre esôfago do útero) e desprendem da mucosa e vão parar na parte anal/perianal e liberam os ovos ali ▪ Fase de vida livre dos ovos embrionados no exterior é de 20 dias, precisam de contato com O2 do ar e temperatura abaixo da corpórea. Depois de 6h ele vira infestante pelo amadurecimento do embrião ▪ Pessoa ingere ovos embrionados: fecal-oral, as vezes eliminadas por si próprio. Esses ovos sofrem ação do suco digestivo e liberam as larvas que ficam nas vilosidades intestinais, depois vão para o ceco onde atingem vida adulta. Manifestações Clínicas Prurido anal (noturno), desconforto e sono intranquilo. Pontos hemorrágicos pela coceira no ânus. Vômitos, dor abdominal tenesmo e fezes sanguinolentas. Invasão do aparelho genital feminino: prurido e corrimento vaginal Diagnóstico Suspeita clínica e confirma com exames complementares: procura vermes na região perianal: método de Hall (swab anal) ou Graham (fita gomada): colhe na região anal e faz leitura no microscópio. Pode pesquisar material na unha de crianças infectadas. Tratamento Para todas as pessoas infectadas da família para interromper ciclo de transmissão, controle da cura 1 semana depois de terminar tratamento com swab anal 7 dias seguidos pela manhã. Não utilizar drogas nas gestantes. As opções mais usadas para tratar a oxiuríase são: Albendazol, Mebendazol, Pamoato de pirantel. Obs: PREVENÇÃO em todas as patologias, higiene pessoal e alimentar!!!
Compartilhar