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_Apostila_Modulo_1249_11._EXEGESE_BIBLICA

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2 
ÍNDICE 
 
1. HORIZONTES INTRODUTÓRIOS 
1.1. O que é a Exegese? 
1.2. Algumas definições de Exegese 
1.3. Algumas particularidades entre Exegese e Hermenêutica 
2. A AUTORIDADE DA BÍBLIA 
2.1. O livro que interpreta a si mesmo 
2.2. A rejeição às Escrituras 
3. O LIBERALISMO TEOLÓGICO E SEU VENENO 
3.1. O que é o liberalismo teológico? 
3.2. As carências do liberalismo teológico 
3.3. Os filhotes da teologia liberal 
4. METODOLOGIA EXEGÉTICA 
4.1. A análise do contexto geral 
4.2. Recomendações 
5. ANÁLISE DO TEXTO GERAL 
6. A questão da originalidade 
7. Crítica textual 
8. CONTEXTO HISTÓRICO E GÊNEROS LITERÁRIOS 
8.1. O contexto histórico particular 
8.2. O gênero literário 
9. ANÁLISE ESTRUTURAL DO TEXTO 
9.1. O exercício da análise 
9.2. Análise temática 
10. ANÁLISE SEMÂNTICA E VARIANTES TEXTUAIS 
10.1. A análise semântica 
10.2. Classificação das variantes textuais 
10.3. Contexto bíblico-teológico 
11. OUTRAS ANÁLISES 
11.1. Análise léxica 
11.2. Análise morfológica 
11.3. Análise estilística 
11.4. Análise sintática 
11.5. Análise literária 
11.6. Análise teológica 
12. ESBOÇO EXEGÉTICO 
12.1. O que é 
12.2. O processo de produção do Esboço Exegético 
12.3. Esboço Exegético 
12.4. Ideia Exegética 
13. A EXEGESE DAS NARRATIVAS 
13.1. Elementos principais de uma narrativa 
13.2. Perigos na interpretação de narrativas 
13.3. O que observar na interpretação de narrativas? 
14. EXERCÍCIOS EXEGÉTICOS: MATEUS, O EVANGELHO DO REI 
14.1. Evangelho segundo Mateus: uma visão panorâmica 
 
 3 
14.2. Mateus é o evangelho do reino 
14.3. Mateus é o evangelho das santas rupturas 
14.4. Mateus é o evangelho da resistência 
14.5. Mateus é o evangelhos da simplicidade 
15. EXERCÍCIOS EXEGÉTICOS: UMA PERSPECTIVA MISSIOLÓGICA EM 
ROMANOS 
15.1. Perícope 
15.2. As perguntas de Paulo 
16. EXERCÍCIOS EXEGÉTICOS: A PERSPECTIVA MINISTERIAL EM 2TM 2:15 
17. EXERCÍCIOS EXEGÉTICOS: GÁLATAS 5:19-22 
17.1. Delimitando o tema 
17.2. O conceito bíblico de paz 
17.3. A paz nos relacionamentos 
17.4. As origens da paz 
17.5. A paz nas esferas da vida 
17.6. Conclusão 
 
 
 4 
 
 
 
 
HORIZONTES INTRODUTÓRIOS 
E o anjo do Senhor falou a Filipe, dizendo: Levanta-te, e vai para o lado do sul, ao caminho que desce de 
Jerusalém para Gaza, que está deserta. E levantou-se, e foi; e eis que um homem etíope, eunuco, mordomo-mor 
de Candace, rainha dos etíopes, o qual era superintendente de todos os seus tesouros, e tinha ido a Jerusalém 
para adoração, Regressava e, assentado no seu carro, lia o profeta Isaías. E disse o Espírito a Filipe: Chega-te, 
e ajunta-te a esse carro. E, correndo Filipe, ouviu que lia o profeta Isaías, e disse: Entendes tu o que lês? E ele 
disse: Como poderei entender, se alguém não me ensinar? E rogou a Filipe que subisse e com ele se 
assentasse. 
Atos 8:26-31 
 
O que é a Exegese? 
O trecho de Atos revela-nos muito acerca do que significa o estudo da Palavra. De 
fato, a própria exegese pode ser sumarizada no questionamento de Filipe ao etíope: 
Entendes o que lês? 
Aqui é possível perceber a função do intérprete das Escrituras e sua analogia para 
com a função da Igreja em relação ao mundo. Sem o auxílio das verdades da Palavra 
de Deus, como os homens conseguiriam decifrar as realidades que se apresentam 
na vida? De fato, como poderão entender sem alguém que os explique? 
A exegese é uma matéria dinâmica que se vê em estado de constante mutação. Há 
sempre novos textos que auxiliam a compreensão dos materiais originais, de forma 
que a mentalidade inquisitiva deve estar sempre presente naquele que se dispõe a 
ser um estudante das Escrituras. 
É interessante ressaltar que, no texto, Felipe começa a explicar ao eunuco os 
conteúdos do livro a partir da perspectiva de Cristo. O etíope questiona-o acerca das 
verdades presentes no texto, e Filipe explica-as de forma que as perguntas 
transcendem a mera curiosidade, adquirindo caráter de formação para a vida. 
Essa transformação se torna evidenciada pelo fato de o eunuco, agora consciente 
daquilo que lia, busca o sacramento do batismo, isto é, uma nova vida em Cristo. 
Esse trecho é capaz de nos revelar que a verdadeira exegese deve mudar 
radicalmente a vida daqueles que ouvem as verdades do texto. 
O caminho mais curto para entender a Bíblia é 
aceitar o fato de que deus está falando em cada 
linha. 
Donald Grey Barnhouse 
A Bíblia Sagrada não é um livro de propriedade do leitor, mas sim uma obra escrita e 
inspirada totalmente por Deus e pelo Espírito Santo. Para se empreender uma 
verdadeira viagem pela Bíblia, precisamos do auxílio do próprio Espírito: o autor e 
legítimo dono da ideia. 
 
 5 
De fato, o mais sublime emprego da mentalidade humana não pode nutrir esperanças 
de compreender as majestosas e excelentes verdades contidas no texto sagrado. 
Estudar hermenêutica e exegese - matérias gêmeas e complementares - é 
comprometer-se com um mergulho na profundidade bíblica. Não se trata apenas de 
mero exercício teológico, recurso pedagógico ou malabarismo didático e semântico, 
mas profundo amor pelo texto. 
Inserir conteúdo no texto não é o papel da exegese. De fato, a partícula grega “ex” 
significa “para fora de”. Dessa forma, seu contrário seria a eisegese, formada pela 
partícula “eis” - “para dentro de”. 
A Bíblia não é uma espécie de livro de receitas da celestialidade, mas um manual de 
conduta do cristão que deve nortear sua vida e seus sonhos. Vivemos numa época 
de distância do alto conceito de Deus, de forma que, sem a Bíblia, o desespero 
eclesiástico inventará outras palavras para substituir a Palavra. 
Isso ocorre por causa do relativismo: a morte das verdades fundamentais. O 
relativismo tem sua origem em Peter Ustinov, que afirmava que “a verdade é como 
um lustre: todos na sala podem vê-lo, mas cada qual de um ângulo diferente”. 
Acontece que Ustinov não percebeu uma coisa: não importa o ângulo, o lustre 
permanece o mesmo. 
Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade 
e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim. 
João 14:6 
A pessoa central da Bíblia Sagrada é o próprio Cristo. De fato, os puritanos 
costumavam afirmar que se você rasgasse a Bíblia de Gênesis a Apocalipse, o 
sangue de Cristo escorreria por entre as páginas. Semelhantemente, Lutero afirmou 
que assim como se vai a um berço para encontrar um bebê, vai-se à Bíblia para se 
encontrar Cristo. 
No texto, Filipe diz ao eunuco que Cristo é o foco de tudo, evidenciando um paralelo 
com João, que afirma que Cristo é o caminho para Deus. Apenas quem anda pela 
Palavra é capaz de andar em Cristo, isto é, mergulhar verdadeiramente no texto. Em 
suma, uma espiritualidade sem Bíblia será automaticamente uma espiritualidade sem 
Jesus. 
A qualificação mais importante exigida do leitor da 
Bíblia não é erudição, mas, sim, rendição; não 
perícia, mas disposição de ser guiado pelo 
Espírito de Deus. 
Martin Anstey 
Dwight L. Moody afirma que “É melhor você ter zelo sem conhecimento que ter todo 
o conhecimento, mas não ter zelo”. M. lloyd Jones acrescenta à ideia ao dizer que a 
relação entre erudição e espiritualidade “é como conjugar luz e calor”: a chama do 
espírito arde no peito, enquanto a luz do conhecimento brilha na mente. A receita da 
 
 6 
exegese é, em suma, manter o coração nas Escrituras, a cabeça no Céu e os pés no 
chão. 
Algumas definições de Exegese 
Exegese é, pois, o trabalho de explicação e interpretação de um ou mais textos 
bíblicos (WEGNER, 2009, p. 11). 
Uma explicação que procura fazer uso de vários recursos e instrumentos científicos 
para entender o texto das Sagradas Escrituras (Aurélio Buarque de Holanda Ferreira 
in WEGNER, 2009, p. 11). 
Exposição de uma palavra, sentença, parágrafo, ou de um livro inteiro, levando ao 
significado verdadeiro e exato do texto (GRASSMICK, 2009, p. 10) 
A hermenêutica bíblica designa mais particularmente os princípios que regem ainterpretação dos textos; a exegese descreve mais especificamente as etapas ou os 
passos que cabe dar em sua interpretação (WEGNER, 2009, p. 11). 
No sentido amplo, exegese é o cuidadoso, estudo metodologicamente autoconsciente 
de um texto, empreendido com a finalidade de produzir uma interpretação acurada e 
útil do mesmo. Falando de forma mais estrita, o termo exegese é frequentemente 
usado para denotar o esforço de estabelecer o sentido filológico e histórico de um 
texto bíblico (o que significou), em contraste com seu sentido aplicativo (o que 
significa) (SOULEN; SOULEN, 2001, p. 57). 
Uma exegese é um estudo analítico completo de uma passagem bíblica, feito de tal 
forma que se chega à sua interpretação útil. Uma exegese é uma tarefa teológica, 
mas não mística. Existem certas regras e padrões sobre como fazê-la, embora os 
resultados possam variar em aparência, uma vez que as próprias passagens bíblicas 
variam bastante entre si (STUART, 2008, p. 23). 
Algumas particularidades entre Exegese e Hermenêutica 
A hermenêutica e a exegese possuem uma intensa simetria, trabalhando juntas em 
forte relação. A hermenêutica é guiada pelo princípio de que “a Bíblia interpreta a si 
mesma”, e possui cinco regras em sua metodologia: 
● Sempre tome as palavras em seu sentido usual e comum; 
● Sempre tome as palavras no conjunto da frase; 
● Sempre consulte o contexto; 
● Sempre leve em consideração o objetivo do autor e do livro em questão; 
● Sempre consulte passagens paralelas; 
A exegese é uma espécie de irmã gêmea da hermenêutica. O prefixo “Ex” - para fora 
de - refere-se à ideia de que o intérprete está tentando derivar seu entendimento 
pessoal a partir do texto, em vez de ler seu significado real. 
 
 7 
Juntamente com a hermenêutica, a exegese é o estudo do significado das palavras à 
luz do texto, tempo e lugar onde originalmente foram escritas. Em suma, 
hermenêutica é pensar no texto, o texto e com o texto. Essa é uma definição 
conservadora mas, no mundo de ideias conturbadas em que vivemos, extremamente 
terapêutica. 
Muitos teólogos de diferentes confissões se posicionam ao lado de pensadores pós 
modernos, rechaçando essa posição. O processo de leitura e interpretação de um 
texto, entretanto, é cíclico: todo leitor se aproxima do texto com pressuposições ou 
preconceitos. Essas bases são guias no caminho do texto, mas não podem impedi-lo 
texto de falar por si. 
 
 
 8 
A AUTORIDADE DA BÍBLIA 
O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai; assim é todo 
aquele que é nascido do Espírito. 
João 3:8 
O livro que interpreta a si mesmo 
Não se pode fazer exegese sem antes conscientizar-se da autoridade suprema da 
Bíblia Sagrada. A Bíblia não apenas contém a palavra de Deus: ela é a palavra de 
Deus. É essencial que isso fique cravado em nossa mentalidade. A autoridade do 
texto bíblico é central para qualquer perspectiva exegética, de forma que a visão cristã 
tradicional admite que a Bíblia foi, em toda a sua totalidade, escrita debaixo da 
autoridade do Deus trino, e que portanto não possui erros. 
Deus é o autor supremo das Escrituras. Sua revelação pretende guiar-nos a um 
relacionamento íntimo com Ele, de forma que devemos buscar ser espirituais para 
que possamos compreender as Escrituras em seu sentido supremo e autêntico. A 
Bíblia é a única regra suficiente, certa e infalível de conhecimento para a fé, 
obediência e salvação. Sua autoridade, razão pela qual deve ser crida e obedecida, 
não depende do testemunho de qualquer homem ou igreja, mas provém inteiramente 
de Deus, sendo Ele mesmo o autor bem como a própria verdade. 
A regra infalível de interpretação das Escrituras é a própria Escritura. Portanto, sempre que houver dúvida quanto 
ao verdadeiro e pleno sentido de qualquer passagem (sentido este que não é múltiplo, mas um único), essa 
passagem deve ser examinada em confrontação com outras passagens, que falem mais claramente. 
Confissão de Fé Batista de 1689 
A rejeição às Escrituras 
Um movimento devastador que tem se infiltrado na igreja é o Liberalismo Teológico, 
juntamente com seu derivado, o humanismo. Graças à influência maligna desses 
irmãos gêmeos, a autoridade das Escrituras vem sendo rejeitada e substituída por um 
falso evangelho centrado no homem. 
O humanismo de hoje tem sido um veneno terrível no meio das igrejas. Ele perverte 
a mensagem da Bíblia ao roubar a centralidade do texto sagrado: um dos pilares da 
Reforma Protestante. Boa parte da pregação e adoração presentes na igreja de hoje 
são dominadas por temas humanos, enquanto as poderosas verdades bíblicas estão 
fugindo dos púlpitos modernos. 
A ira de Deus, a depravação da humanidade, a Queda, a necessidade de salvação, 
o poder do Evangelho e muitos outros ensinamentos bíblicos foram substituídos por 
temas como como sucesso pessoal, prosperidade do crente, hedonismo e 
misticismos. Apenas a exegese bíblica feita com profundidade e seriedade pode agir 
como remédio para eliminar a tolice das igrejas modernas. 
Nossa condição espiritual está intimamente relacionada à nossa precisão de exegese 
Bíblica. O estado espiritual do intérprete é um indicador muito preciso de sua 
 
 9 
capacidade para interpretar a palavra de Deus, de forma que sua pureza exegética é 
medida a partir de como ele encara o texto. 
Conjuro-te, pois, diante de Deus, e do Senhor Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e 
no seu reino, Que pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda 
a longanimidade e doutrina. Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos 
ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; 
2 Timóteo 4:1-3 
Quando a hermenêutica cristã tem como fundamento a intervenção livre e 
sobrenatural de Deus na história - conforme foi-nos revelado nas Escrituras Sagradas 
- sempre terá como resultado um vibrante cristianismo bíblico. A iluminação do 
Espírito Santo é essencial para que se encontre o significado espiritual do texto. 
Aquilo que é espiritual não é sempre místico, fantasmagórico ou etéreo, mas algo que 
se percebe no humano cheio do Espírito Santo. Em suma, é a quebra de um 
automatismo de morte: 
O Espírito Santo exerce um papel essencial não apenas na revelação da verdade, mas também em sua 
interpretação, e mais especificamente na “correta exegese da Escritura Sagrada.” 
Bruce K. Waltke 
No artigo “Espiritualidade e Espiritualidades”, o reverendo Ricardo Barbosa apresenta 
um desafio teológico para os envolvidos na ciência da interpretação bíblica. Segundo 
o reverendo, “Precisamos de uma teologia que nos desperte para um relacionamento 
pessoal e verdadeiro com Deus. Noutras palavras, uma teologia que nos aponte o 
caminho da oração, que seja mais pessoal e afetiva, e não apenas acadêmica. É 
lamentável constatar que muitos estudantes que entram para um seminário motivados 
por um profundo amor por Deus e desejo de servi-lo, depois de quatro ou cinco anos 
de estudo, saem orando menos, afetivamente mais atrofiados e mais limitados 
relacionalmente. Uma teologia que não nos motive para a oração, certamente não 
cumpre com seu papel.” 
É impossível que haja uma correta interpretação da palavra de Deus sem a presença 
do ministério do Espírito Santo, que testifica a verdade de que somos filhos de Deus, 
que renova as nossas mentes para que possamos entender as coisas de Deus e que 
transforma nossos corações para que possamos aprender a fazer apenas o que é 
agradável ao Pai. 
Nossa tarefa, portanto, será de estudar o registro da revelação de Deus conforme se 
encontra nas Escrituras, compreendendo espiritualmente todo seu contexto dentro de 
uma determinada proposta, que é a exegese histórico-gramatical. 
 
 10 
O LIBERALISMO TEOLÓGICO E SEU VENENO 
Maravilho-me de que tão depressa passásseisdaquele que vos chamou à graça de Cristo para outro evangelho; 
O qual não é outro, mas há alguns que vos inquietam e querem transtornar o evangelho de Cristo. Mas, ainda 
que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja 
anátema. Assim, como já vo-lo dissemos, agora de novo também vo-lo digo. Se alguém vos anunciar outro 
evangelho além do que já recebestes, seja anátema. Porque, persuado eu agora a homens ou a Deus? ou 
procuro agradar a homens? Se estivesse ainda agradando aos homens, não seria servo de Cristo. 
Gálatas 1:6-10 
O que é o liberalismo teológico? 
O liberalismo é uma doutrina extremamente perigosa, principalmente quando se trata 
da igreja atual. A igreja evangélica brasileira é extremamente múltipla, plural, eclética 
e influenciável. Tal combinação de fatores apresenta um lado positivo, mas também 
proporciona uma ausência de aprofundamento, enraizamento, lucidez e solidez. Em 
muitos aspectos, nossa denominação torna-se infantil, culminando em uma 
vulnerabilidade frente às ciladas teológicas. 
O ambiente eclesiástico brasileiro ainda é fortemente marcado por uma flagrante 
fragilidade teológica. O pífio conhecimento das línguas originais, o raso exercício de 
exegese, o sofrível desenvolvimento de uma filosofia e teologia, bem como a 
facilidade do acesso ao púlpito não permite um aprofundamento digno e crítico. Uma 
das marcas da chamada igreja brasileira é o crescente número de pessoas que são 
contra alguma coisa, mas que nem sequer compreendem o que de fato devem 
defender. Numa igreja influenciável, a sedução do conhecimento pode ser fatal. 
Não se nega que a teologia liberal talvez possa até mesmo ter coisas boas, mas pisar 
num campo minado é aceitar o risco de paralisia. Paracelso, médico e físico do século 
XVI, afirmava que a diferença entre o remédio e o veneno. O liberalismo teológico é 
uma enfermidade no corpo de cristo, a doença da noiva. É a teologia dos odres 
envelhecidos, dos amigos de Jó. Os adeptos dessa teologia sofrem de paralisia 
emocional, isso é, a síndrome da razão solitária. 
A expressão "liberalismo teológico" é um nome que damos ao movimento cuja 
produção se deu entre o final do século XVIII e o início do século XX. Sua origem foi 
bastante marcada pela influência iluminista e pela relativização da autoridade da 
Bíblia e dos milagres. 
Esta é a excelência do conhecimento teológico: ele nos dá tal visão de cristo que nos faz participantes de sua 
natureza. O verdadeiro conhecimento teológico traz o homem para fora do amor por si mesmo. Quanto mais ele 
sabe, mais ele se envergonha de sua própria ignorância. Tão doce é o conhecimento espiritual que quanto mais 
um santo conhece, mais sede ele tem de conhecer. O verdadeiro conhecimento não serve apenas para melhorar 
a visão que temos de Cristo, serve também para aprimorar nossos passos em segui-lo. 
Thomas Watson 
As carências do liberalismo teológico 
 
 11 
A teologia liberal mina sutilmente algumas áreas da espiritualidade, e os efeitos dessa 
erosão silenciosa na influenciável igreja brasileira são devastadores. Apesar de seu 
status de teologia, há várias lacunas em seu corpo de ideias: 
● Piedade: a teologia liberal entende a piedade como um exercício frustrado ou 
mera emoção. Pro teólogo liberal, oração, jejum e contemplação de Deus são 
resquícios de um fanatismo ultrapassado. Eles entendem isso como 
fundamentalismo que deve ser ignorado, de forma que não oram e não 
possuem vida com Deus. Para eles, Deus é mais um conceito que uma pessoa. 
● Fervor espiritual: a teologia liberal acredita que fervor espiritual é o exagero 
das emoções. Acreditamos na ação do Espírito Santo porque sabemos que 
nem todo espírito é santo, nem todo fervor é espiritual e nem toda teologia é 
bíblica. Uma teologia sem o santo fervor espiritual tende a se tornar um 
cientificismo doentio. 
● Envolvimento missionário: ao longo da história, onde o liberalismo chegou, 
matou a igreja. Uma das principais características da teologia liberal é sua 
esterilidade. O teólogo liberal provoca a morte da ortodoxia e o esvaziamento 
da ortopraxia. 
● Diálogo honesto com os pobres: um flerte com a teologia da libertação, 
acontece uma espécie de endeusamento da miséria. O teólogo liberal se 
comporta como o que o escritor Rodrigo Constantino apelidou de “esquerda 
caviar”, que se importa com os pobres mas apenas de maneira acadêmica. É 
muito raro encontrar um missionário em situação de risco que professe a 
doutrina liberal. 
● Honestidade acadêmica: o liberal torce o textos e contextos, tanto quanto 
acusa. Relativizam a verdade e ridicularizam quem pensa diferente: é a tática 
de desqualificar quem fala, mas não as ideias que defendem. 
● Humildade: não há humildade nesse meio: são chatos e amam discursos para 
eliminar e destruir os outros. Adoram debates, mas não para chegar à verdade: 
discutem pelo prazer de destruir os outros. O teólogo liberal é marcado pelo 
orgulho do conhecimento, uma postura que leva à presunção, um vírus comum 
nos seminaristas. 
Um interesse puramente acadêmico no conhecimento faz dele um fim em si mesmo, 
e o objetivo e finalidade da teologia não é conhecer um conjunto de ideias ou 
conceitos sobre Deus, mas conhecer a Deus, a Sagrada Pessoa. 
Os filhotes da teologia liberal 
● Teologia do processo: nasceu da teologia liberal e é o eterno panteísmo. Em 
linhas gerais, acredita na mutabilidade de Deus e no processo evolutivo que 
define como categoria absoluta o fluxo do tempo. Seus principais 
 
 12 
representantes são Alfred North Whitehead, Charles Hartshorne e John Cobb. 
Essa teologia exagera a ênfase na imanência. 
● Teísmo aberto: descendente direto da teologia do processo, essa é a teologia 
do deus fracassado, impotente diante do dilema do mal. Acredita que Deus não 
sabe a totalidade das coisas, sendo constantemente surpreendido por elas. 
Essa teologia americana prática e simples é superficial, um radicalismo 
polarizado que ignora a dialética hebraica e desconhece a realidade profunda 
do mistério. 
● Relativismo: a morte das verdades fundamentais. Essa fragmentação ético-
doutrinária tende a dissociar a ética da experiência religiosa. O liberalismo tem 
uma agenda inclusivista e ecumênica, que faz constantes concessões aos 
valores dúbios da sociedade secular. Essa mentalidade é diretamente 
responsável pela aceleração da erosão da mentalidade cristã. 
● Racionalismo: acredita que os credos primitivos são arcaicos e sem 
relevância no mundo moderno. Colocam sempre a razão acima da Revelação 
e das emoções. 
De tudo isso devemos extrair que qualquer olhar para o liberalismo teológico deve 
servir de canal para uma séria reflexão: Nosso envolvimento com a teologia tem nos 
tornado mais parecidos com Jesus? 
Precisamos de um resgate da teologia séria, mais bíblica, cristocêntrica e expositiva; 
Uma pneumatologia lúcida e menos emocionalista, caricaturado e superficial; Uma 
eclesiologia missiológica, menos intramuros e disposta a quebrar a hegemonia 
cientificista. Em suma, precisamos transformar nosso momento histórico sem sermos 
moldados por ele. 
 
 
 13 
METODOLOGÍA EXEGÉTICA 
Desde o início de nossos estudos, você deve ter em mãos pelo menos duas versões 
bíblicas e uma versão de texto em grego ( no caso do Novo Testamento ) ou hebraico 
( no caso do Antigo Testamento
 
Recomendações 
➔ https://www.laparola.net/greco/ 
➔ http://www.perseus.tufts.edu/hopper/ 
➔ Almeida Revista e Atualizada (ARA) 
➔ Nova Versão Internacional (NVI) 
➔ Bíblia Brasileira de Estudos 
➔ Bíblia de Estudos de Genebra 
➔ Bíblia Trinitariana 
➔ Bíblia de Jerusalém 
➔ Paráfrases bíblicas, a exemplo de “A 
Mensagem” 
 
 
A análise do contexto geral 
Discernir o contexto de um texto bíblico 
é de suma importância para sua 
interpretação. 
Assim, é altamente recomendável que 
se faça a leitura do texto integral.À 
medida em que se lê, deve-se anotar 
ideias que surgem e palavras que não 
se compreende: a exegese é um 
exercício de calma. 
A primeira coisa a se fazer ao estudar 
uma passagem bíblica é procurar pelos 
contextos: o imediato interior, o 
imediato posterior e o contexto amplo. 
Não entender essa divisão pode deixar 
o leitor numa posição vulnerável à 
criação de pretextos, isto é, algo que o 
texto em si jamais disse. 
Sempre estabeleça os limites da passagem a ser estudada. A ciência bíblica 
denomina um texto completo como perícope. Quando se delimita a perícope, grande 
parte do trabalho já está no caminho correto. A ponte para as divisões naturais do 
texto são os parágrafos e as sentenças. Indique os conectivos dos parágrafos e 
mostre como eles podem auxiliar na compreensão do pensamento do autor da 
epístola. 
A exemplo de Mc 14:66-72, Marcos descreve a negação a partir da citação do próprio 
autor da negação. O contexto imediatamente anterior é a finalização de Jesus perante 
o sinédrio, enquanto que o contexto imediatamente posterior é Jesus diante de 
Pilatos. Após delinear a perícope, percebe-se as divisões naturais dos versículos, 
bem como pontos importantes nas passagens paralelas. Esse exercício é trabalhoso, 
mas apaixonante. 
“E, estando Pedro embaixo, no átrio, chegou uma das criadas do sumo sacerdote;” 
 
 14 
Esse verso começa com o gerúndio, o que significa um conectivo de ligação com o 
anterior. Pedro está num lugar e em uma atitude, deve-se conhecer o porquê dessas 
verdades. 
“E, vendo a Pedro, que se estava aquentando, olhou para ele, e disse: Tu também estavas com Jesus, o 
Nazareno.” 
O próprio contexto do versículo anterior revela-nos que a frase vem de uma criada. 
“Mas ele negou-o, dizendo: Não o conheço, nem sei o que dizes. E saiu fora ao alpendre, e o galo cantou. E a 
criada, vendo-o outra vez, começou a dizer aos que ali estavam: Este é um dos tais. Mas ele o negou outra vez. 
E pouco depois os que ali estavam disseram outra vez a Pedro: Verdadeiramente tu és um deles, porque és 
também galileu, e tua fala é semelhante.” 
O conhecimento da cultura bíblica, que pode ser obtido com comentários teológicos 
e bíblicos, revela que há um modo de falar específico dos galileus, até mesmo com 
erros de pronúncia. O sotaque galileu denunciava. 
“E ele começou a praguejar, e a jurar: Não conheço esse homem de quem falais. E o galo cantou segunda vez. 
E Pedro lembrou-se da palavra que Jesus lhe tinha dito: Antes que o galo cante duas vezes, três vezes me 
negarás. E, retirando-se dali, chorou.” 
Depois de delimitar o texto, leia-o em voz alta em atitude de oração e comparando 
com versões diferentes para obter uma maior compreensão. Na bíblia não há 
informações por acaso, apenas não se pode tentar forçar o texto para criar um 
universo de coisas a partir de informações pequenas. Deve-se iniciar a leitura com as 
tradições mais literais e diretas. Depois, passa-se às contemporâneas, e 
complementa-se com as paráfrases. Assim há uma progressão do pensamento do 
texto. 
Anote as peculiaridades do texto: palavras repetidas, contrastes, sequências, 
conclusões, perguntas e teses. Deve-se também fazer uma descrição sumarizada da 
mensagem do texto escolhido. Preste atenção nas palavras chave do texto: localize 
os principais blocos de argumentos e perceba como eles se encaixam num todo 
coerente. Nossa busca é para determinar a intenção original do autor. 
Cada texto onde haja uma análise profunda e exegética revelará esses pormenores 
que evidenciam o sentido real do texto para aplicação na igreja. É preciso diferenciar 
os temas incidentais e centrais para a análise. 
 
 15 
ANÁLISE DO TEXTO ORIGINAL 
A questão da originalidade 
Nos dias atuais não existe nenhum manuscrito original dos livros do Antigo ou do 
Novo Testamento. O que existe são cópias, entre as quais constam muitas diferenças, 
que são chamadas de variantes. Como o processo de cópia no princípio era 
totalmente manual, não é de estranhar que haja estas diferenças. 
Na maioria dos casos os erros eram involuntários por parte dos copistas. Às vezes 
liam errado o texto, outras vezes não compreendiam o texto lido ou ainda esqueciam 
algo entre o momento da audição e do registro. Além destes erros involuntários, pode-
se perceber algumas tentativas de correção de erros em cópias anteriores. 
No Antigo Testamento, a quantidade de variantes não é muito grande, devido ao 
trabalho minucioso dos escribas e posteriormente dos massoretas. Já quanto ao Novo 
Testamento, a quantidade de variações nos manuscritos gregos é muito grande. Isto 
deu-se porque nos primeiros séculos a igreja sofreu grande perseguição, sendo que 
as cópias tinham de ser feitas por escribas amadores. A maior parte dos manuscritos 
que restaram são cópias do período medieval. 
A leitura dos ditos originais é possível, entretanto, por meio de uma transliteração ou 
de um conhecimento acerca da língua original. Esse trabalho, entretanto, não deve 
ser sempre usado no púlpito, pois pode-se cair em dois erros: a interpretação 
incorreta e a arrogância. 
Crítica textual 
Os estudiosos bíblicos desenvolveram através dos anos, certos critérios, buscando 
refazer os caminhos que um texto tomou até chegar a suas mãos. Este estudo é 
chamado de crítica textual. “A crítica textual não se interessa pelo sentido do texto, 
não é análise literária do texto ou coisa semelhante. Apenas procura verificar a 
confiabilidade das cópias do texto que chegaram até nós e reconstituir o texto na sua 
forma mais confiável” . 
Você deve aprender alguns conceitos básicos sobre a crítica textual, para conseguir 
classificar as variantes textuais do parágrafo ou perícope que você escolheu para 
estudar. Sem dúvida, esta é uma das partes mais complicadas de sua tarefa 
exegética. É requerido de você, não só o conhecimento da linguagem, mas também 
informações sobre os manuscritos (tipos e versões), características literárias e 
teológicas de cada escritor, bem como as tendências que os copistas assumiam no 
seu encargo na transmissão do texto bíblico 
 Em seguida, aperfeiçoe a perícope que você irá analisar. Busque as definições dos 
termos principais do texto. Conte com a ajuda de um bom dicionário hebraico ou 
grego. Busque o significado dessas palavras dentro do contexto da passagem 
 
 16 
analisada. Analise o contexto profundamente e determine o melhor significado 
exegético da palavra dentro da passagem. 
Isole as palavras e cláusulas que requeiram decisões gramaticais entre duas ou mais 
opções. Isole as palavras que necessitam de um estudo especial, faça uma lista 
provisória das dificuldades exegéticas encontradas no texto. 
Determine o significado exato de cada palavra básica, com sua origem, seu 
desenvolvimento, seu uso e seu significado bíblico e cultural e seu uso pelo autor e 
no restante do testemunho bíblico. Para tanto, você deve buscar as informações no 
dicionário de teologia do antigo testamento. 
Deve-se manter o máximo de atenção possível no que as palavras empregadas no 
texto estão dizendo para que não haja uma interpretação incorreta da perícope. 
Manter uma fidelidade exegética é estar na profundidade da verdade. 
 
 17 
CONTEXTO HISTÓRICO E GÊNEROS LITERÁRIOS 
O contexto histórico particular 
Deve-se lembrar que todos os livros da Bíblia foram escritos em contextos históricos 
específicos, e dentre as perguntas mais importantes que necessitamos fazer, estão 
às perguntas de contexto histórico. 
Em que circunstâncias foram escritos tais livros? Eles respondem questionamentos 
anteriores? Foram escritos para orientar problemas específicos, válidos somente para 
o primeiro século ou trazem princípios gerais, aplicáveis à Igreja evangélica do século 
XXI? 
Seja cuidadoso na busca das melhores fontes sobre o “mundo” bíblico. Para isto 
busque informações na literatura especializada. (Introduções ao AntigoTestamento 
e ao Novo Testamento, Dicionários Bíblicos, notas explicativas de Bíblias de Estudo 
e comentários bíblicos exegéticos). 
Busque ajuda no material de referência para saber a aplicação original de 
determinada passagem. Esteja atento com os estudos sociológicos e culturais. Avalie 
o significado destes dados para o entendimento da passagem. Entenda os detalhes 
relacionados com a audiência primitiva. 
O gênero literário 
Na teoria da literatura e na crítica bíblica, são assim denominados os conjuntos da 
literatura que apresentam homogeneidade de estilo, de formas, de técnicas (poesia 
ou prosa), de procedimentos narrativos, de finalidade, etc. A identificação do gênero 
é indispensável para colher-se a intenção do autor e a relação entre a expressão 
literal e o seu conteúdo. Entre os vários tipos literários encontrados no Antigo 
Testamento, temos: 
1. Prosa. Entre os tipos de prosa estão os contratos (Gn 21:22-32), discursos (Jr. 
7:1-8:3), cartas (1 Rs 21:8-10), listas (1Sm 8:16-18), prescrições de culto (Lv 
1-7), narrações históricas (Jz 8.4-21), relatórios (1Rs 14:25,28), autobiografia 
(Ed 7.12-9.5), relatos e narrativas de sonhos e de visões (Is 6), autobiografias 
proféticas (Is 49:1,5-6). 
2. Lei. Há várias coleções de leis. A mais importante é o decálogo (Êx. 22:1-17; 
Dt. 5:6-21), o livro da aliança (Êx. 20:22-23:33), o código da santidade (Lv 17-
26) e o livro de Deuteronômio moldado em forma de sermões. 
3. Poesia. Entre os escritos poéticos temos os cânticos reais (Sl 2), hinos (Sl 98), 
cânticos ocasionais (Sl 93), sentenças de julgamento (Is 41.21-28), 
lamentações nacionais (Sl 44), cânticos coletivos de confiança (Sl 125), 
lamentações individuais (Sl 3), cânticos coletivos de agradecimento (Sl 107), 
cânticos de sabedoria (Pv 8.1-36). 
 
 18 
4. Os gêneros literários do Novo Testamento são: evangelhos, narrativas 
históricas (Atos dos Apóstolos), parábolas, sermões, hinos, epístolas, 
profecias, literatura apocalíptica (Apocalipse de João). 
 
 19 
ANÁLISE ESTRUTURAL DO TEXTO 
O exercício da análise 
O exercício das análises requer treino, técnica e tempo. É impossível realizar boas 
análises de forma negligente, muito rápida ou recheada de suposições ou clichês. 
Não se vai fazer tudo isso toda a vez que vai pregar, mas para as futuras pregações 
é bom que seja reservado um espaço de estudo. 
Esses passos da análise estrutural exigem rigor e atenção da sua parte. É 
fundamental que se entenda que uma análise exegética mais profunda demanda 
atenção do que se lê e do que se escolhe para auxiliar a leitura. A análise estrutural 
busca o entendimento do texto bíblico entre as relações gramaticais e sintáticas, e 
contribui para compreensão da intenção original do autor. 
Análise temática 
O exegeta busca neste passo a forma e a ordem do material descrito pelo autor do 
texto bíblico e como ele desenvolveu seu argumento na perícope escolhida. Pode ser 
que, às vezes, a idéia expressa pelo autor não é tão clara e óbvia. Seus argumentos 
podem estar escondidos na estrutura do texto. O melhor exemplo desta dificuldade é 
a argumentação que utiliza a estrutura temática conhecida como Quiasmo. 
O quiasmo acontece quando a segunda linha da frase repete a primeira, mas numa 
ordem invertida. A palavra vem do grego “χιάζω” e significa “a ação de dispor em cruz” 
(Sl 51:1). Os exemplos do Antigo Testamento são apropriados pois os quiasmos são 
especialmente comuns na literatura judaica, embora possa ser encontrados em 
diversos escritos da era helenística. 
É importante notar que quiasmos ajudam o intérprete a delinear unidades de 
pensamento. Identificar um quiasmo pode mostrar ao intérprete onde um ensino ou 
argumento se inicia e onde termina. Pode mostrar ao estudante da escritura 
exatamente qual unidade deveria ser o tópico para a interpretação. 
Por que quiasmo consiste de paralelismo invertido, é vital, em termos de 
interpretação, encontrar e comparar os elementos paralelos. Se o escritor intende um 
relacionamento entre duas partes de um quiasmo, o intérprete precisa definir esse 
relacionamento e mostrar como ele ajuda a determinar o sentido da passagem. 
Portanto, você deve estar atento para os seguintes fatores: 
1. Comparação ou contraste. Onde duas ou mais idéias que são desenvolvidas 
no texto, alternando os argumentos, de acordo com a similaridade ou 
ampliando os diferentes argumentos. 
2. Repetição de palavras. Note bem os termos especiais e construções 
gramaticais que se repetem no texto, eles são muito importantes. 
3. Progressão. Um claro movimento em direção a um alvo através de uma 
seqüência lógica de idéias. O ponto culminante desta progressão é o clímax. 
 
 20 
4. Generalização. Onde o autor constrói o seu argumento, vindo de idéias 
particulares para explicar a idéia geral. 
5. Causa e efeito. Preste atenção na argumentação que é orientada pelas 
causas de uma ação ou atitude indo para os efeitos produzidos por essas 
atitudes. 
6. Clímax. Preste atenção para os argumentos de conclusão, onde as palavras 
são colocadas com cuidado. 
 
 21 
ANÁLISE SEMÂNTICA E VARIANTES TEXTUAIS 
A análise semântica 
O exegeta busca neste passo o entendimento do sentido do texto através da sua 
sintaxe. Você deve estar atento para os seguintes fatores: 
● Sinônimos. São palavras que têm o mesmo significado, geralmente utilizadas 
para variar o uso dos termos no texto, porém, podem ser usadas para enfatizar 
um argumento. 
● Campos semânticos. São palavras que mesmo não sendo sinônimas estão 
relacionadas. 
● Antônimos. São palavras que têm significados opostos. São muito utilizadas 
para fortalecer as argumentações e defesas de doutrinas. 
● Termos cognatos. Aqui não se tratam de sinônimos, mas de termos que tem 
o mesmo significado e são usadas alternadamente como parte da 
argumentação. 
● Frequência das palavras. Quanto mais a palavra aparecer no texto, maior 
será a probabilidade dela ser um termo importante para o entendimento da 
intenção do autor. 
● Reversões. Atenção com as frases ou termos que substituem outros com 
idéias contrárias. 
Classificação das variantes textuais 
Para a reconstituição do texto original as variantes textuais devem ser julgadas dentro 
de três critérios: o critério das evidências externas, o critério da probabilidade 
intrínseca e o critério da probabilidade de transcrição. 
● O critério das evidências externas. As evidências externas são os manuscritos 
mais antigos e confiáveis atestados por diversos testemunhos, tais como, as 
citações da Septuaginta e dos Manuscritos do Mar Morto, antigas versões, 
outras famílias de manuscritos, citações dos Pais da Igreja e a distribuição 
geográfica dos textos. 
● O critério probabilidade intrínseca. Este critério está baseado no estilo e 
vocabulário do autor através do livro. Você também deve prestar bastante 
atenção no contexto imediato anterior e posterior, na teologia conhecida do 
livro, nas passagens paralelas em outros livros. 
● O critério da probabilidade de transcrição. Ao analisar as variantes pela forma 
como eram transmitidos os textos antigos, chega-se aos seguintes critérios: 
○ A leitura mais difícil deve ser preferida, porque a tendência dos copistas 
era de facilitar a leitura. 
○ A diferença nas passagens paralelas, porque a tendência dos copistas 
era de harmonizar as passagens paralelas. 
○ A leitura mais curta sempre é preferível, porque a tendência dos 
copistas era de acrescentar detalhes. 
 
 22 
○ Deve-se escolher a variante que melhor se harmonize com o livro em 
questão. 
○ Escolha a leitura que melhor explique a origem das outras variantes 
textuais. 
Contexto bíblico-teológico 
Analise a passagem relacionando-a com o restante da Escritura. A maior dificuldade 
que temos com a mensagem bíblica é a intertextualidade, isto é, relação entre a 
mensagem do Antigo Testamento e o Novo Testamento. Temosque tomar cuidado 
especialmente com a aplicação do Antigo Testamento, lembre-se, ele foi concedido, 
prioritariamente, para Israel e não para nós. Portanto, preste atenção ao uso que o 
Novo Testamento faz do Antigo. 
O Antigo Testamento deve ser interpretado à luz do Novo Testamento. Isso é exigido 
tanto por razões literárias como por razões teológicas. O Antigo Testamento não pode 
ser compreendido sem o Novo Testamento. 
Este princípio foi chamado pelos reformadores de analogia da fé. Se, aparentemente, 
uma passagem difícil e obscura permite interpretações estranhas à teologia 
evangélica, e ela entra em conflito com a outra passagem mais clara e de fácil 
entendimento, então a interpretação mais coerente deve ser adotada. 
Analise a passagem relacionando-a também com teologia bíblica. O termo é definido 
pelo Baker's Evangelical Dictionary of Biblical Theology como: 
O estudo da Bíblia que procura descobrir o que os autores bíblicos, sob a direção divina, creram, descreveram e 
ensinaram no contexto de sua própria época. A Teologia Bíblica é uma tentativa de articular a teologia que a Bíblia 
contém através do modo como os seus autores escreveram em seus próprios contextos. As Escrituras vieram à 
existência no decurso de muitos séculos, através de diferentes autores, contextos sociais e lugares geográficos. 
Elas foram escritas em três diferentes línguas e numerosas formas (gêneros) literárias. Portanto, exige-se um 
estudo analítico que conduza a um entendimento sintético para se alcançar seus temas sobrepostos e suas 
unidades subjacentes. A teologia bíblica trabalha para chegar a uma visão geral sintética coerente, sem negar a 
natureza fragmentária da luz que a Bíblia lança sobre certos assuntos e sem menosprezar tensões que possam 
existir à medida que diferentes temas se sobreponham (tais como a misericórdia e o juízo de Deus e lei e graça). 
A Bíblia tem uma mensagem unificada e completa. Mesmo tendo dezenas de autores 
que levaram milhares de anos para terminar sua obra. Existe um tema central (do 
alemão Mitte) unificador da teologia bíblica que une as diversas partes do texto, 
apresentando uma idéia teológica geral. Esse Mitte estende-se do Antigo Testamento 
para o Novo Testamento. 
Herman Northrop Frye, pesquisador e crítico literário, apresenta uma visão 
interessante sobre a mensagem unificada da Bíblia. Em 1982 ele publicou The Great 
Code, onde ele apresenta sua visão sobre o texto bíblico, e declara que existe uma 
coerência das narrativas bíblicas como um todo. Usando uma ilustração interessante, 
o U-Shaped plot, acrescentando ao conceito teatral da “trama”. Ele segue os 
seguintes conceitos literários: 
 
 23 
A trama começa com a Criação em Gênesis e uma família harmoniosa e vivendo em 
paz no Jardim do Éden. Logo em seguida, vem a Queda e uma sucessão de histórias 
de triunfo e fracasso. E conclui com a volta da harmonia inicial na cidade eterna de 
Jerusalém e o fim no livro do Apocalipse. 
Deste U-Shaped plot maior, derivam-se vários outros, menores. São histórias de 
queda e ascensão submetidas à história maior. Por exemplo, as histórias de José, 
Rute, Moisés, Davi, Jó, Paulo e Pedro. Onde elas exercem a função de “tipificar” ou 
prefigurar o todo. Frye descobre uma espécie de tipologia que sempre retorna durante 
toda narrativa. Estas imagens específicas repetem-se em todo Antigo e Novo 
Testamento. Por exemplo, a imagem da árvore, da montanha, do oceano, da torre, 
do jardim, da ovelha e do pastor. Elas sempre se repetem em eventos que tem grande 
valor simbólico. 
Dentre outros temas principais sugeridos, há um que me parece ser o melhor. É o 
que procura estudar as Escrituras à luz de três conceitos básicos: Reino, Pacto e 
Mediador. 
De acordo com esses conceitos, o Reino apresenta a idéia de um Senhor soberano 
que domina do seu trono sobre todas as coisas. O Pacto é o instrumento de 
administração desse Reino, estabelecido com o homem pelo Senhor, de forma 
unilateral, na criação. 
Ele trata do relacionamento do homem com o universo (mandato cultural), do 
relacionamento do homem com os demais seres humanos (mandato social) e do 
relacionamento do homem com Deus (mandato espiritual). O Mediador é o agente na 
administração do Pacto. 
Amplie seu conhecimento com o uso dos comentários bíblicos. Investigue o que 
outros exegetas disserem sobre essa passagem e compare suas conclusões com as 
encontradas. Os comentários bíblicos devem ser consultados depois que você fez 
todo trabalho. 
Avalie bem o comentário que você irá consultar. Dê preferência aos títulos de 
orientação evangélica conservadora, que defendem a metodología exegética 
histórico gramatical. Eles devem analisar a Escritura com seriedade acadêmica, 
erudição, conhecimento profundo das línguas originais, mas com devoção, 
espiritualidade e compromisso com aplicação da mensagem. 
 
 24 
OUTRAS ANÁLISES 
Análise léxica 
A análise léxica (ou lexicográfica) preocupa-se com o uso e o significado de uma 
determinada palavra no livro em que está sendo usada, em toda a Bíblia e, se 
possível, também fora dela. Preocupa-se também com o uso de palavras raras, bem 
como palavras repetidas. 
Gordon Fee lembra que em qualquer texto literário as palavras são o material básico 
de construção para se comunicar o significado. Deve-se recordar também que as 
palavras funcionam dentro de um contexto. Portanto, mesmo que a palavra possa ter 
um amplo significado, a tarefa da análise léxica na exegese é entender, com a 
precisão que for possível, o que o autor queria comunicar com o uso de certa palavra 
em determinado contexto. 
Martínez concorda, afirmando que o hebraico do Antigo Testamento e o grego do 
Novo Testamento não são alheios à evolução semântica. Isso obriga o intérprete a 
considerar o usus loquendi, isto é, o significado que normalmente tinha uma palavra 
na linguagem comum, numa determinada época. 
A importância deste estudo é evitar alguns erros elementares que por vezes têm 
ocorrido nas interpretações. Assim seria possível evitar, por exemplo, que em 
inúmeros estudos e pregações as alfarrobas de Lc 15.16 fossem transformadas em 
“lavagem” (água com restos de comida para porcos), enquanto constituem apenas o 
fruto da alfarrobeira (bagas pretas e amargas que os porcos arrancavam de arbustos 
baixos - alfarrobeira selvagem que cresce nas pastagens do Oriente Médio). 
Alguns passos para a análise léxica podem ser os seguintes: 
a. Definir os termos e conceitos principais dentro do texto em questão. 
Reconhecer as palavras, mesmo que já conhecidas, que contenham conteúdo 
teológico; anotar as palavras que pareçam ser ambíguas e verificar as palavras 
que se repetem na mesma perícope. 
b. Estabelecer o campo de significados destas palavras. Verificar a história da 
palavra e seu desenvolvimento (com o auxílio de léxicos e dicionários); 
procurar o significado do termo no ambiente greco-romano e judeu 
contemporâneo; descobrir como a palavra é utilizada no restante da Bíblia ou, 
pelo menos, no mesmo Testamento e determinar como o autor usa a mesma 
palavra no restante dos seus escritos. 
c. Analisar o contexto com cuidado para determinar o significado mais provável 
na perícope em estudo. Verificar se o contexto ajuda a limitar as opções de 
significado e se o autor usa a palavra em conjunção ou contraste com outras 
palavras. 
Análise morfológica 
 
 25 
A morfologia trata da flexão das palavras, ou seja, de como elas são formadas ou 
conjugadas. É evidente que a maneira como as palavras são formadas reflete seu 
significado. Tanto no grego como no hebraico, o sentido das palavras também é 
modificado por meio de suas flexões. 
Assim, os substantivos que nomeiam algo podem estar no singular ou plural, 
apresentam um gênero e podem aparecer em diferentes graus (aumentativo, 
diminutivo). Os pronomes substituem um substantivo ou fazem referência a algo já 
citado.Os adjetivos modificam ou qualificam um substantivo. As preposições indicam 
a relação que as palavras têm umas com as outras. As conjunções indicam as 
relações de uma frase com a outra. Os verbos designam uma ação ou estado de 
alguma coisa, e apresentam uma infinidade de variações (de tempo, de voz, de 
modo). Os advérbios modificam ou caracterizam um verbo. E as interjeições 
exprimem estados de emoção. 
Considerar todas estas possibilidades é a tarefa da análise morfológica, que por 
alguns autores é também chamada de análise gramatical. Müller afirma: Em suma, 
procura-se entender as palavras na sua relação com as palavras mais próximas, 
compreender o significado das frases e da sua relação umas com as outras, para que 
se chegue à compreensão de todo o parágrafo ou período estudado. 
Análise estilística 
A análise estilística se preocupa com a maneira pela qual o autor procurou dar maior 
expressividade, maior colorido, maior vivacidade ao seu texto. Estudar o estilo de um 
autor equivale estudar as chamadas “figuras”. Silva alista alguns dos estilos mais 
utilizados: 
a. Polissíndeto e Assíndeto: o polissíndeto é o uso exagerado da conjunção grega 
kai (e). Com isto o texto adquire continuidade, vivacidade e fluidez. Por outro 
lado, o assíndeto é a ausência de conjunções, assim cada expressão mantém 
sua própria independência e significação (Mc 4.35-31 e Ef 4.11). 
b. Poliptoto: é a repetição da mesma palavra com diferentes flexões, sendo muito 
comum com verbos, nomes, pronomes e adjetivos. Tal figura tem uma função 
enfática (Mc 4.41). 
c. Pleonasmo: designa o emprego de termos desnecessários, com finalidade 
enfática. Não acrescenta nada de novo, mas quer chamar a atenção do leitor 
(Mc 4.37; 1Jo 1.1). 
d. Merismo: esta figura exprime a totalidade, mencionando as partes, geralmente 
os extremos (Mc 4.41b - vento e mar: dois elementos do caos primordial. Jesus 
não apenas acalmou uma brisa um pouco mais forte e conduziu uma travessia 
no mar da Galileia, mas mostrou seu poder sobre a totalidade do universo 
criado). 
 
 26 
e. Dualidade: consiste em unir duas expressões com funções semelhantes (dupla 
indicação temporal, duplo imperativo, dupla afirmação, etc.). Muitas vezes a 
segunda esclarece a primeira, ou dela fornece detalhes (Mc 4.35,38,39,40). 
f. Quiasmo: consiste em organizar o texto em dois períodos consecutivos, de 
modo que no segundo período reapareçam os mesmos elementos do primeiro, 
mas em ordem inversa. Neste texto (Mc 4.37-39) pode-se ver a seguinte 
estrutura: 
A - Tempestade - lançava-se contra o barco 
B - Jesus - estava dormindo 
C - Discípulos - despertam Jesus 
B’ - Jesus - levantou-se e repreendeu 
A’ - Tempestade - cessou 
g. Paralelismo: ocorre quando os elementos se repetem na mesma ordem. O 
mesmo texto (Mc 4.37-39) mostra esta estrutura: 
A - Atividade - da tempestade 
B - Inatividade - de Jesus 
A’ - Atividade - de Jesus 
B’ - Inatividade - da tempestade 
h. Hipérbole: um exagero considerável, que visa causar impressão no leitor (Mc 
4.37c). 
Análise sintática 
A análise sintática é a parte da gramática que estuda a disposição das palavras na 
frase e a das frases no discurso, bem como a relação lógica das frases entre si. 
Analisa, portanto, as diversas classes de palavras (sujeitos, verbos, adjetivos, 
advérbios, conjunções, orações subordinadas, frases, proposições, etc.) e as 
conexões entre elas. 
Duas obras que podem auxiliar na análise sintática de um texto são Fundamentos 
para exegese do Antigo Testamento: manual de sintaxe hebraica e Fundamentos 
para a exegese do Novo Testamento: manual de sintaxe grega, ambas de Carlos 
Osvaldo Pinto. Nestas obras, o autor discute a sintaxe de cada classe de palavras, 
bem como faz uma proposta de diagramação sintática. 
Outro autor que expõe uma forma de análise sintática em forma de diagramação, para 
o grego, é William Sanford Lasor, em sua Gramática sintática do grego do Novo 
Testamento. Lasor afirma que “não há nada melhor para ajudar a perceber a estrutura 
e o sentido de uma passagem do que a diagramação das orações”. 
A seguir, propõe-se um pequeno diagrama, a modo de exemplo. O texto de João diz: 
“Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de 
meu Pai há muitas moradas...”. 
 
 27 
O diagrama esclarece que o mandamento dado inicialmente (de que o coração não 
deve se perturbar), pode ser cumprido pela ordem dupla de crer (em Deus e em 
Cristo), motivado pela garantia dada logo a seguir (as muitas moradas que estão na 
casa do Pai). 
Análise literária 
A forma de um texto geralmente diz muito sobre a sua interpretação. Uma parábola 
deve ser lida de forma diferente do trecho de uma carta. Este por sua vez é diferente 
de uma profecia, de um salmo, de um provérbio, de uma lei ou de uma história de 
milagre. O estudo de várias formas literárias que se encontram na Bíblia ajuda muito 
aqui. O texto, então, deve ser interpretado levando-se em conta a sua forma literária. 
Roy Zuck alista diferentes tipos de gêneros literários: 
A. Jurídica: o Pentateuco é o exemplo clássico (Ex 20-40; Lv; Nm 5,6,15,18,19ss; 
Dt). Dentro da literatura jurídica encontra-se: 
a. Lei Apodítica: não são leis completas necessariamente (Não matarás); 
b. Lei Casuística: leis específicas, apresentadas por uma condição (se). 
(Ex 23.1ss). 
B. Narrativa: é uma história relatada com o objetivo de transmitir uma mensagem 
por meio de pessoas, problemas e circunstâncias. Não são biografias 
completas, mas material cuidadosamente selecionado (Ex: 2 Sm e 1/2 Cr). 
Geralmente apresentam um problema, trazem as implicações e no clímax uma 
solução e terminam com o problema resolvido. Há seis tipos de narrativas: 
a. Tragédia: história da decadência de um indivíduo, do apogeu ao 
desastre (Sansão, Saul, Salomão). 
b. Épico: uma série de episódios centralizados numa pessoa ou num 
grupo (peregrinação dos israelitas no deserto). 
c. Romance: aborda a relação romântica entre um homem e uma mulher 
(Rute e Cantares). 
d. Heróico: história tecida em torno da vida e dos feitos de um herói ou 
protagonista (Abraão, Davi, Gideão, Daniel, Paulo). 
e. Sátira: exposição das falhas ou loucuras humanas por meio de 
ridicularização ou da crítica. (Jonas, Filho Pródigo). Geralmente 
terminam de forma abrupta, sem que o problema seja resolvido. 
f. Polêmica: ataca agressivamente ou contesta idéias de terceiros 
(contenda de Elias com os profetas de Baal; pragas contra os deuses 
do Egito). 
C. Poesia: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cantares, Cântico de Ana, 
Cântico de Maria, Palavras de Zacarias, etc. Geralmente são uma rima 
(paralelismo) de idéias (enquanto no ocidente rima é de sons). Alguns tipos de 
poesia: 
 
 28 
a. Lamentação coletiva: Sl 12,44,80,137. 
b. Lamentação individual: Sl 3,22,31,39,139. 
c. Louvor coletivo: Sl 65,67,75,107,124,136. 
d. Louvor Individual: Sl 18,30,32,34. 
e. Hinos de louvor: Sl 66,100,111,114,149. 
OBS: há ainda os salmos de Sião, de sabedoria, de confiança, 
messiânicos, de peregrinação, imprecatórios, etc. Os salmos devem ser 
vistos como uma orientação para a adoração, ensino para um 
relacionamento honesto com Deus e para incentivar a refletir sobre o 
que Deus tem feito pelo ser humano. Em outras palavras, não servem 
como doutrina. 
D. Literatura Sapiencial: toda a literatura sapiencial é poética, mas nem toda 
literatura poética é sapiencial. Há dois tipos: 
a. Proverbial: verdades gerais fundamentadas na larga experiência e na 
observação. Em geral mostram-se verdadeiros. São diretrizes e não 
garantias; preceitos e não promessas. Podem haver exceções. 
(Provérbios). 
b. Reflexiva: compreende discussões sobre os mistérios da vida (Jó, Ec). 
E. Evangelhos: são narrativas históricas, mas não apenas para registrar 
informações biográficas, pois também apresentam doutrinas. Seu objetivo é 
explicar e louvar a Pessoa ea Obra de Jesus Cristo (Mt, Mc, Lc, Jo). 
F. Discurso Lógico: é a literatura epistolar (Rm a Jd). Geralmente começam 
citando o autor, o destinatário, a saudação, e alguns agradecimentos. Não são 
cartas comuns, pois transmitem mensagens de Deus. São endereçadas a 
grupos ou a indivíduos. Há dois tipos: 
a. Discurso expositivo: explica determinadas verdades ou doutrinas 
apoiadas na lógica. 
b. Discurso exortativo: exorta a seguir determinados comportamentos ou 
à aquisição de certas características em face das verdades expostas no 
texto. 
G. Literatura Profética: consiste em textos que trazem predições feitas na época 
de sua redação incluindo determinações para que os ouvintes modifiquem 
suas vidas em função das predições. Um tipo especial é a literatura 
apocalíptica (com ênfase no fim dos tempos). 
A atenção ao gênero literário impede de transformar uma passagem no que ela não 
é, tanto para mais quanto para menos. A observação da qualidade literária da Bíblia 
ajuda a destacar sua beleza artística e a mostrar ao intérprete um retrato mais fiel das 
Escrituras e o modo como o conteúdo é transmitido. 
 
 29 
Análise teológica 
A Bíblia é a fonte de conhecimentos teológicos. Esses conhecimentos podem ser 
encontrados de forma explícita ou implícita. Assim sendo, poucas vezes são 
encontrados registrados de uma forma sistemática. É tarefa do intérprete sistematizar 
a doutrina bíblica. 
Na Bíblia pode-se encontrar: 
a. afirmações doutrinárias claras (por exemplo: Jo 4.24 = “Deus é espírito”); 
b. afirmações doutrinárias indiretas (por exemplo: a eternidade do Filho de Deus 
não é provada, mas pressuposta em Jo 1.1); 
c. palavras e frases doutrinárias (por exemplo: redenção, carne, reino de Deus, 
o Senhor dos senhores, a santificação do Espírito, etc.); 
d. textos doutrinários mais extensos (por exemplo: Rm 3.21 a 5.21 = justificação; 
Rm 8.14-39 = glorificação; etc.); 
Neste passo, o intérprete deve identificar se no texto em estudo há algum tema 
teológico que pode ou precisa ser analisado à luz da teologia sistemática. Neste caso, 
deve-se recorrer a um manual de Teologia e verificar o que o mesmo pode esclarecer 
sobre o texto, bem como se outras passagens sobre o mesmo tema teológico possam 
lançar luz sobre a perícope em estudo. 
 
 30 
ESBOÇO EXEGÉTICO 
O que é 
O esboço exegético é a descrição de forma resumida e organizada através de 
sentenças completas (com sujeito, verbo e complemento), conforme a estrutura do 
texto, de todo esforço exegético empreendido visando promover clareza acerca do 
conteúdo do texto e facilitar a exposição dos resultados da exegese. 
O esboço exegético não deverá ser confundido com o esboço homilético, embora 
deva ser encarado como um primeiro estágio deste. O esboço exegético é mais 
acadêmico e preocupa-se em descrever o que o texto está dizendo para que o próprio 
exegeta possa entendê-lo melhor. 
O esboço homilético soa mais popular e preocupa-se em descrever o que o texto está 
dizendo de forma que os ouvintes possam entendê-lo melhor. Assim, enquanto o 
esboço exegético auxilia o exegeta, o esboço homilético auxilia o ouvinte ou leitor. 
Outra questão importante é que o esboço exegético deve refletir as descobertas feitas 
na Análise Estrutural, sendo o resultado dela. Para isso, um diagrama do texto deve 
ser feito para auxiliar na percepção das relações sintáticas e na descoberta das 
orações principais do texto em estudo. 
Defina "externamente" o fluxo de pensamento do autor, marcando os pontos literários 
de conexão e como estes relacionam a passagem a seu contexto. Isto é, o parágrafo 
em estudo está ligado a quê? De onde ele partiu? Defina "internamente" o fluxo de 
pensamento do autor, assinalando os conectivos e os inter-relacionamentos das 
orações no parágrafo em estudo. 
O conjunto de sentenças criadas no esboço exegético deverá ser expresso em 
apenas uma sentença que condense a idéia de todas. A isso chamamos “Idéia 
Exegética” 
O processo de produção do Esboço Exegético 
1. Uma vez escolhido o texto bíblico, é preciso estudá-lo intensamente, fazendo 
um diagrama, observando e destacando a classificação sintática e relações 
semânticas; 
2. Descubra o sujeito e verbo principal das cláusulas independentes. A idéia do 
texto focaliza neste verbo. Geralmente se você tirar esse verbo a frase não faz 
sentido. 
3. Aliste os indicadores de função e analise qual a ligação destes com o verbo 
principal. Após, ao lado de cada indicador de função, formule uma afirmação 
de "sujeito-complemento". Deve tentar subordinar a afirmação à frase ou item 
a que está subordinado no diagrama. Para fazer estas afirmações, deve usar 
as perguntas interrogativas e afirmações que seguem: 
 
 31 
● Quem? ”Aquele que . . ." 
● O Quê? "O conteúdo de . . " 
● Quando? "O tempo em que . . ." 
● Onde? "O lugar em que . . ." 
● Por quê? "A razão por que . . .” 
● Para quê? "O propósito . . ." "O resultado de . . ." 
● Como? "A maneira pela qual . . ." "O meio por qual . . ." 
4. Depois de alistar todas as afirmações do texto, ajunte-as em unidades de 
pensamento semelhantes para produzir um esboço com subordinação. 
5. Faça uma avaliação do fluxo do argumento, e aquilo que sobressai como “idéia 
chave” no texto. Qual a ênfase do autor neste texto? Qual dos pontos principais 
parece carregar o peso do argumento? Este ponto provavelmente será a 
ênfase da idéia exegética. 
6. Formule uma idéia exegética do texto, enfatizando o argumento principal, ao 
mesmo tempo em que resume os outros pontos principais. 
Exemplo: 
Que os homens nos considerem como ministros de Cristo, e despenseiros dos mistérios de Deus. Além disso 
requer-se dos despenseiros que cada um se ache fiel. Todavia, a mim mui pouco se me dá de ser julgado por vós, 
ou por algum juízo humano; nem eu tampouco a mim mesmo me julgo. Porque em nada me sinto culpado; mas 
nem por isso me considero justificado, pois quem me julga é o Senhor. Portanto, nada julgueis antes de tempo, 
até que o Senhor venha, o qual também trará à luz as coisas ocultas das trevas, e manifestará os desígnios dos 
corações; e então cada um receberá de Deus o louvor. 
1 Coríntios 4:1-5 
Esboço Exegético 
a. Paulo exorta os Coríntios que a maneira como os mensageiros do evangelho 
devem ser considerados é como servos de Cristo e fiéis mordomos da 
mensagem de salvação (4.1-2) 
b. Paulo declara aos Coríntios que não se julgava capaz de julgar a si mesmo, 
pois uma consciência limpa não necessariamente garante inocência e seu 
verdadeiro Juiz é o Senhor. (4.3-4) 
c. Paulo exorta os Coríntios a pararem de julgar antes do tempo porque o 
verdadeiro Juiz julgará completamente e com exatidão e distribuirá galardões 
divinos e apropriados. (4.5) 
Ideia Exegética 
“A maneira pela qual os mensageiros de Cristo devem ser avaliados é como servos 
responsáveis e fiéis ao seu Mestre, porque há somente um Juiz capaz de fazer um 
julgamento exato e final.” 
 
 32 
A EXEGESE DAS NARRATIVAS 
A maior parte da Bíblia é constituída de narrativas. Em torno de 40% do Antigo 
Testamento é composto por histórias e sabemos que o AT representa ¾ da Bíblia 
como um todo. Os atos e a pessoa de Deus são revelados nas Escrituras por meio 
de narrações, contos, dramatizações e biografias históricas. 
No Novo Testamento temos porções dos Evangelhos e o Livro de Atos como um todo, 
nos quais a narrativa é o veículo de transmissão e preservação da mensagem divina. 
No caso do Livro de Atos, a dificuldade hermenêutica basicamente está em encontrar 
uma forma equilibrada de percepção entre o registro histórico e exemplar da Igreja do 
primeiro século e os princípios que deverão ser aplicados à Igreja nos dias atuais. 
A exegese de Atos pode ser afetada basicamente por 2 tipos de preocupação: 
1. Histórica (o que realmente estava acontecendo na vida da Igreja primitiva?); 
2. Teológica/hermenêutica(o que tudo isso significou e o que significa para nós 
hoje?). 
Elementos principais de uma narrativa: 
É sempre bom ter em mente que as narrativas bíblicas narram o que aconteceu, não 
o que deveria ter acontecido. Nem sempre os exemplos são bons ou dignos de 
imitação porque reproduzem situações reais e não posições ideais. Ainda assim, é 
difícil pensar em uma narrativa bíblica como sendo apenas uma crônica do passado, 
um simples registro de fatos para as próximas gerações. Mais que isso, as situações 
reais (negativas, positivas ou neutras) devem ter sido preservadas com o propósito 
de ensinar algo. 
Assim, via-de-regra temos em uma narrativa: 
1. Cenário: trata-se da situação em que a narrativa está ocorrendo. Qual o lugar? 
Quando isso ocorreu? Há detalhes quanto ao local, tempo, condições 
climáticas, eventos que estejam acontecendo? 
2. Componentes: trata-se das pessoas envolvidas na narrativa. Quantas são? 
Quem são? O que estão fazendo? Quem fala, quem responde? Quem age, 
quem reage? Há conflitos entre quantas partes? 
3. É preciso atentar-se para 3 aspectos nos componentes de uma narrativa: a. 
Transformação de Caráter b. Lição principal do personagem c. Qual a prova 
que o (s) personagem (s) enfrenta (m)? 
4. Crises: trata-se do conteúdo da narrativa, ou seja, o que os componentes 
(personagens) estão fazendo neste cenário? Qual é o diálogo? O que estão 
resolvendo? Pelo que estão passando? Qual é o ponto mais crítico da história, 
qual o clímax? 
Perigos na interpretação de narrativas 
 
 33 
Não há dúvidas de que o grande desafio ao estudar as narrativas bíblicas é entender 
a mensagem que a história pretende ensinar, ou seja, qual o significado eterno do 
registro histórico que foi feito? 
É preciso muita atenção para fugir de dois perigos principais ao fazer uma exegese 
de uma narrativa: 
1. Alegorizar ou espiritualizar a história; 
2. Recontá-la como apenas um fato histórico sem pretensões didático-
pedagógicas (cf. 2 Tm. 3:16,17; Rm. 15:14; 1Co. 10:1-13). 
O que observar na interpretação de narrativas? 
1. Atentar-se ao contexto, às pessoas, e aos eventos; 
2. Atentar-se aos comentários do autor e ao diálogo (cf. Jo. 20:30,31; Jo. 9:35-
41); 
3. Atentar-se a contrastes, repetições e outras leis de estrutura (Mt 26.6-13 e 
26.14-16); 
4. Atentar-se a atmosfera em que a história se dá; 
5. Prestar atenção ao clímax (cf. Rute, Ester, Jonas, Mc. 4); 
6. Submeter a narrativa ao propósito geral do autor naquele livro; 
7. Observar as reações da audiência original. 
 
 34 
EXERCÍCIOS EXEGÉTICOS: 
MATEUS, O EVANGELHO DO REI 
Evangelho segundo Mateus: uma visão panorâmica 
O Evangelho segundo escreveu Mateus trata de modo único e a história, teologia e o 
mistério de Jesus Cristo, o Messias. Não é sem motivo que seu evangelho é estudado 
nos ambientes acadêmicos como “O Evangelho do Rei”. 
O nome “Mateus” vem do hebraico Matityahu ( ְתיָהו ַמתִּ ּ), “dádiva de Javé” ou “presente 
de Jeová”. Ele aparece nas quatro listas de 12 apóstolos presentes no texto bíblico 
(Mt 10:3, Mc 3:18, Lc 6:15, Et 1:13). Ao escrever acerca de si mesmo, apresenta-nos 
uma informação extremamente importante para a análise exegética histórica do texto: 
Filipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o publicano; 
Tiago, filho de Alfeu, e Lebeu, apelidado Tadeu; 
Mateus 10:3 
Um publicano era um cobrador de impostos a serviço de Roma. Eram extremamente 
mal vistos, pois tinha-se a ideia de que atuavam como traidores da pátria e 
oportunistas do jogo financeiro dos romanos. Tanto Marcos quanto Lucas chamam 
Mateus de Levi (Mt 9:9, Mc 2:14, Lc 5:27), provavelmente também escolherem esse 
título para evitar impor-lhe a alcunha de publicano. 
Provavelmente o Evangelho segundo Marcos foi o primeiro texto a ser escrito, de 
forma que certamente serviu de roteiro para a redação do livro de Mateus. Juntamente 
com o livro de Lucas, esses três títulos compõem o conjunto conhecido como 
“evangelhos sinóticos”. 
A mensagem central do evangelho de Mateus está registrada nos trechos de Mt 3:2 
e Mt 4:17, quando Jesus afirma que “é chegado o reino dos céus”.A mensagem 
central do evangelho do rei é essa: é chegado o Reino dos Céus. Na situação de 
judeu, o autor busca evitar o uso do nome “Deus” em sinal de respeito. Seu livro foi 
escrito provavelmente entre os anos 65 a 70 d.C., essa imprecisão se dá por uma 
série de informações textuais que impedem uma exatidão maior. 
O livro de Mateus trabalha com 3 dimensões fundamentais: 
● Histórica: a história do homem Jesus, filho de Maria e José (Mt 1:16). É 
interessante notar que nas genealogias de judeus o nome de mulheres não era 
incluso. A presente em Mateus, entretanto, apresenta cinco, sendo quatro 
estrangeiras e uma prostituta. Percebe-se na genealogia do Cristo parentes 
proeminentes e com pecados monstruosos. É maravilhoso como o Jesus que 
nasce dessa genealogia pecaminosa é o Redentor do mundo. 
● Teológica: Mateus fala do mistério do Cristo, o filho de Deus que estabelece 
Seu Reino (Mt 16:16). 
 
 35 
● Prática: o autor trabalha a memória desse Jesus vivo que caminha conosco 
até a consumação dos séculos (Mt 28:20) e os desdobramentos práticos que 
ela acarreta. 
O que Mateus faz é mais que uma biografia com detalhes triviais ou mirabolantes, 
mas uma teologia do Reino, mostrando claramente que Jesus é o Rei e o Messias 
que deveríamos esperar. Do ponto de vista judaico, Mateus compra uma briga imensa 
ao afirmar que Jesus era o Messias esperado que cumpriu as profecias. 
Mateus é o evangelho do reino 
1. Mateus insiste em provar que Jesus é o Messias, o Rei prometido que 
estabelece com sua chegada o Reino dos Céus; 
2. Mateus está sempre preocupado com as conexões entre o passado profético 
de Jesus e o cumprimento exato das profecias messiânicas nEle; 
3. O termo “cumprisse”, bem como suas diversas variações, é muito 
característico do estilo de Mateus (Ex: Mt 1:22); 
4. Para Mateus, Jesus não é um caso isolado de seu tempo, mas tem conexões 
históricas profundas. O autor olha para Jesus contando a história de nossa 
redenção. 
O evangelho segundo Mateus defende pelo menos seis verdades fundamentais que 
deixam claro que Jesus Cristo é o Messias e o Rei esperado: 
1. Jesus cumpriu as Escrituras; 
2. Jesus é o Rei prometido; 
3. Jesus estabeleceu o Reino; 
4. Os seguidores de Jesus têm uma missão; 
5. Os seguidores de Jesus não devem esperar facilidades; 
6. Jesus voltará; 
Na mentalidade de Mateus, o perdão não é uma atitude magnânima e superior de 
alguém que não pecou e que, portanto, consegue compreender e relevar os pecados 
dos outros. Mateus encontra uma necessidade recíproca do perdão: eu preciso 
perdoar porque fui perdoado. 
Mateus é o evangelho das santas rupturas 
Provavelmente a comunidade para qual Mateus escreveu era formada, em sua 
maioria, por cristãos judeus. Sua audiência tinha espírito conservador e 
tradicionalista: estavam dispostos a abraçar a boa nova do Reino, mas sem abrir mão 
do passado, das velhas teologias e dos odres envelhecidos (Mr 9:17). 
Eles não conseguiam entender as exigências radicais do Reino (Mt 19:29). Para 
Mateus, era necessário que houvesse uma santa ruptura, um abrir mão da zona de 
conforto para pisar nos desertos onde o Rei pisa. Eles não compreendiam que deixar 
a família, os bens, a tradição e o orgulho não significa abandonar as pessoas, mas 
 
 36 
as falsas seguranças, sejam elas oriundas de pessoas ou do tradicionalismo. (Mt 
5:21). 
Jesus afirmou que o Reino dos Céus é semelhante a um homem sábio, que retira de 
seu tesouro coisas novas e coisas velhas (Mt 13:53). Num olhar exegético, Ele abre 
o baú da vida e percebe o que precisa ser substituído e o que precisa ser limpo e 
conservado. Mateus também coloca em parceria o sermão da montanha (Mt 5-7) e o 
discurso escatológico (Mt 24-25). Esse é o jeito dele de expor o novo e sua revolução 
ao ladodo velho e suas consequências. 
Mateus é o evangelho da resistência 
Mateus é uma narrativa que resistia contra as estruturas dominantes que assolavam 
os pequenos: Roma, a lei e as autoridades religiosas. Essa não é uma resistência 
armada e alimentada pela cultura da violência, pois isso seria capitular diante do 
império e do poder do mundo da época. 
O autor pratica uma resistência alimentada pela esperança que não humilha ou 
descarta ninguém. Para Mateus, descrever Jesus é fazer uma pedagogia libertadora, 
ele conscientiza as pessoas de que são amadas por Deus, não pela capacidade 
pessoal ou posição social, mas pelo alcance supremo do amor do Pai (Mt 6:26, 18:10-
14). 
Mateus também enxerga Jesus pelas leis do profetismo crítico. O messias denuncia 
os males e as distorções do sistema religioso e o status quo dominante de Roma. O 
profetismo de Jesus não é apenas um positivismo esperançoso de um futuro distante 
e alienado: é uma proposta de reconstrução. 
O mal é presente no texto de Mateus, e não apenas numa aparição curta como a de 
um figurante. Temos escândalos (Mt 18:7), falsos profetas (Mt 7:15), operadores da 
iniquidade (Mt 7:23), maus (Mt 21:33-46), o homem que não trazia a veste nupcial (Mt 
22:1-14), trevas e o ranger de dentes (Mt 8:12), o servo mal (Mt 24:45-50), o homem 
que escondeu o talento (Mt 25:14-30) o trigo e o joio numa correlação de conivência 
absurda (Mt 13:24-30) e os justos e injustos (Mt 5:45). 
Mateus é o evangelho da simplicidade 
O livro de Mateus é uma perspectiva a partir dos pequeninos. Ele apresenta o Jesus 
que anda, come, dorme e vive com eles. Esse é o texto de quem trabalha com a mão 
na massa: o semeador que não escolhe o melhor terreno mas corre os riscos da 
missão (Mt 13:1-9), o camponês que planta o grão de mostrada na terra (Mt 13:31-
32), A mulher que põe o fermento na massa (Mt 13:33-35), o agricultor que descobre 
o tesouro escondido (Mt 13:44), o comerciante que negocia tudo por uma pedra 
preciosa (Mt 13:45-46), os pescadores e suas pescas imprevisíveis (Mt 13:47-50). 
A teologia de Mateus é rural e cheira a terra, chuva e chão batido. É o Reino que não 
busca visibilidade, a semente que cai na terra, morre e ninguém vê. O Reino está na 
 
 37 
linguagem da sutileza, não no abuso das extravagâncias. O autor mescla profecias e 
milagres, ensinos e críticas, discurso e prática, teologia e serviço. O Reino de Deus é 
vida enraizada, não alienada do mundo, pois a semente de mostarda que cresce vira 
casa para as aves e os forasteiros. 
De fato, o próprio Mateus viveu o alcance do perdão e da salvação em Cristo. Era 
publicano, amigo de pecadores e traidor da pátria, mas foi chamado para andar e 
viver com o Messias, o Salvador do mundo. 
Esse evangelho ainda hoje tem aplicabilidade para nós, servos do Messias, pois ainda 
precisamos continuar pregando o Reino, vivendo o Reino e atingindo as pessoas que 
o Reino atingia com o ministério querigmático. Devemos pregar proclamando as 
verdades do Reino, percebendo as sutilezas do mal e aprendendo de uma vez por 
todas que a grande comissão está baseado no “Estarei convosco todos os dias”. 
 
 38 
EXERCÍCIOS EXEGÉTICOS: 
UMA PERSPECTIVA MISSIOLÓGICA EM ROMANOS 
Perícope: Rm 10:1-15 
Nesse texto Paulo faz uma leitura hermenêutica e exegética de Isaías que desafiava 
a mentalidade judaica acostumada ao legalismo mosaico. A carta aos romanos é a 
rainha das epístolas. Ela prega a maturidade missionária, um alcance novo a partir 
de um novo olhar e de uma novidade de vida: um novo princípio celestial que agora 
nos habita e que nos rege com uma nova maneira de ser. 
Toda vez que Paulo usa a expressão “novo”, fala de algo que nunca perde o encanto. 
Para ele, essa não é uma novidade descartável. Paulo faz uma teologia cristocêntrica, 
oposta à visão legalista judaica (Rm 1:18). 
A mente de Paulo nos auxilia na compreensão de uma soteriologia mais sólida e 
embasada. É imprescindível que trabalhemos para um resgate das doutrinas 
fundamentais de nossa fé, dentre elas a muito esquecida doutrina da depravação total 
do homem. 
Deus nos criou para manifestar Sua glória e dar-nos vida eterna em comunhão com 
Ele. Nossa desobediência interveio, entretanto, e nos colocou em estado de 
condenação. Viemos a esse mundo alienados de Deus e em estado de rebelião. De 
fato, as consequências catastróficas do pecado são tais que não somos capazes de 
restaurar os laços quebrados da nossa união com o Pai. é por isso que somente à luz 
do que Deus fez é que vemos a completa enormidade de nossa perda. 
A restauração da comunhão com Deus depende inteiramente de Jesus Cristo, o 
verdadeiro Deus e Homem, porque Ele é o único mediador entre Deus e os homens 
(1Tm 2:5) e também porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome como o 
dEle (At 4:12, Jo 14:6). 
Além de muito solene, a palavra salvação é muito ampla, abarcando salvação da 
culpa do pecado na justificação, seu poder na santificação e também sua presença 
na glorificação. 
As perguntas de Paulo 
O texto de Paulo também faz algumas perguntas interessantes: 
1. Como invocarão aquele em quem não creram? 
2. Como crerão naquele de quem não ouviram falar? 
3. Como ouvirão se não há quem pregue? 
4. Como pregarão se não forem enviados? 
Paulo usa seis verbos nessa passagem: salvar, invocar, crer, ouvir, pregar e enviar. 
Se invertermos a ordem dos verbos, podemos compreender o sentido do argumento 
 
 39 
paulino: É Cristo quem envia seus arautos, que pregam e, porque pregam, as pessoas 
ouvem e creem. Os crentes então invocam, e os que invocam são salvos. 
E disse-lhes: Ide por todo omundo, pregai o 
evangelho a toda criatura. 
Marcos 16:15 
Que pregues a palavra, instes a tempo e fora de 
tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda 
a longanimidade e doutrina. Porque virá tempo 
em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo 
comichão nos ouvidos, amontoarão para si 
doutores conforme as suas próprias 
concupiscências; E desviarão os ouvidos da 
verdade, voltando às fábulas. 
2 Timóteo 4:2-4 
Quando faz-se exegese com perspectiva missiológica, não se deve perder de vista 
que falar de missiologia e não praticar a missão é hipocrisia. Para que façamos uma 
exegese honesta, precisamos, acima de qualquer coisa, que essa exegese tenha a 
ver com nossa proposta de vida. 
 
 
 40 
EXERCÍCIOS EXEGÉTICOS: 
A PERSPECTIVA MINISTERIAL EM 2TM 2:15 
 
Sabemos que a segunda carta a Timóteo foi um dos últimos escritos de Paulo, pois 
após esse texto acontece o evento de seu martírio. Aqui há uma união do melhor que 
o apóstolo tem a oferecer. 
Paulo abre a carta com as saudações e passa para reflexões e exortações. Ele 
também encoraja à fidelidade e adverte contra o problema dos falsos mestres. 
Prossegue tratando de assuntos concernentes aos últimos dias, encerrando com a 
informação de sua morte iminente e suas últimas saudações. 
O capítulo 2 fala dos combates e sofrimentos do corpo de Cristo. Aqui, Paulo adverte 
a Timóteo acerca de assuntos fundamentais, como a postura que um homem de Deus 
deve ter para com Ele. Nesse contexto, é importante analisarmos semanticamente 
algumas palavras e expressões empregadas pelo autor: 
Aprovado: no grego, o termo original é δόκιμον, um termo forte, preciso e devastador. 
Era usado na economia para verificar a validade de uma moeda e, com o tempo, 
tornou-se um provérbio. Aqui, Paulo diz a Timóteo que sua postura deve carregar a 
certeza de que uma apresentação a Deus te fará passar pelos testes dEle. 
"Fomos carimbados por Deus, somos moedas 
extraviadas do Seu tesouro. Por nosso erro, foi 
apagado o que em nós fora impresso. Veio 
Aquele que restituiria a imagem, já que Ele 
próprio a tinha criado. Ele também busca a Sua 
moeda, assim como César busca a dele. Por isso 
diz: 'devolvei a César o que é de César, e a Deus 
o que é de Deus'. A César, as moedas. A Deus, 
a vós mesmos" 
Agostinho

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