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O músculo cardíaco, o coração como bomba e a função das valvas cardíacas 1 💗 O músculo cardíaco, o coração como bomba e a função das valvas cardíacas Fisiologia do músculo cardíaco Músculos do coração O coração é composto por três tipos principais de músculos: o músculo atrial, o músculo ventricular e as fibras excitatórias e condutoras. Os músculos atrial e ventricular contraem-se de forma análoga aos músculos esqueléticos, mas as fibras excitatórias e condutoras se contraem pouco por possuírem poucas fibras contráteis. Essas fibras conduzem potencial de ação de forma rítmica. Anatomia fisiológica do músculo cardíaco É um músculo estriado, como o esquelético. Há discos intercalares, que são membranas celulares que separam as células miocárdicas uma das outras. O miocárdio é um sincício devido a conexão das células por meio de junções tipo gap em cada disco intercalar. Sincícios no coração: 1. Sincício atrial: forma as paredes dos dois átrios; 2. Sincício ventricular: forma as paredes dos ventrículos; Potencial de ação no músculo cardíaco Após o potencial em ponta (spike) inicial, a membrana permanece despolarizada por cerca de 0,2s, exibindo um platô, ao qual se segue uma repolarização abrupta. A presença desse platô faz com que a contração do músculo cardíaco dure por até 15 vezes mais que no músculo esquelético. Motivos da existência do platô: 1. No músculo cardíaco, além dos canais rápidos de sódio estimulados por voltagem (como nos músculos esqueléticos), há os canais de cálcio do tipo L (canais lentos de cálcio). Esses canais de cálcio, além de serem mais O músculo cardíaco, o coração como bomba e a função das valvas cardíacas 2 lentos para abrir, possui tempo mais prolongado de abertura, o que permite influxo de cálcio e sódio para dentro das fibras miocárdicas; 2. Imediatamente após o início do potencial de ação, a permeabilidade aos íons potássio da membrana diminui, o que impede o retorno rápido do potencial de ação para seu nível basal; Fases do potencial de ação do músculo cardíaco: Fase 0 (despolarização): abertura dos canais de sódio; Fase 1 (despolarização inicial): os canais rápidos de sódio se encerram; Fase 2 (platô): os canais de cálcio abrem e os canais rápidos de potássio se encerram; Fase 3 (polarização rápida): os canais de cálcio encerram e os canais lentos de potássio abrem; Fase 4 (potencial de membrana em repouso) com valor aproximado de -90mV. O músculo cardíaco, o coração como bomba e a função das valvas cardíacas 3 Período refratário do miocárdio O período refratário é o intervalo de tempo durante o qual o impulso cardíaco normal não pode reexcitar uma área já excitada do miocárdio. No período refratário relativo, pode haver excitação do miocárdio por um impulso excitatório mais intenso. O período refratário do músculo atrial é bem mais curto que o dos ventrículos O músculo cardíaco, o coração como bomba e a função das valvas cardíacas 4 A função dos íons cálcio e dos túbulos transversos O termo "acoplamento excitação-contração" refere-se ao mecanismo pelo qual o potencial de ação provoca a contração das miofibrilas. Além dos íons cálcio, liberados das cisternas do retículo sarcoplasmático para o sarcoplasma, grande quantidade de íons cálcio adicionais também se difunde para o sarcoplasma, partindo dos próprios túbulos T no momento do potencial de ação por canais dependentes de voltagem na membrana de túbulos T (Fig. 9-6). A entrada de cálcio ativa canais de liberação de cálcio, também chamados canais de receptores de rianodina, na membrana do retículo sarcoplasmático, o que desencadeia a liberação de cálcio para o sarcoplasma. O músculo cardíaco, o coração como bomba e a função das valvas cardíacas 5 O ciclo cardíaco Definição É o conjunto de eventos entre o início de um batimento e o início do próximo batimento. Iniciado pela geração espontânea do potencial de ação nódulo sinusal. Diástole e sístole Diástole é o período de relaxamento do ciclo cardíaco, o coração se enche de sangue. Sístole é o período de contração do coração. A frequência cardíaca é de 72 batimentos por minuto. O músculo cardíaco, o coração como bomba e a função das valvas cardíacas 6 O aumento da frequência cardíaca reduz a duração do ciclo cardíaco Com o aumento da frequência cardíaca, há diminuição do tempo das fases de contração e relaxamento. Além disso, há diminuição da duração do potencial de ação. No entanto, quem mais diminui relativamente é a diástole. Em um ciclo cardíaco comum, a sístole corresponde a 0,40 do total de tempo, quando há aumento da frequência cardíaca, a sístole corresponde a 0,65 do total de tempo. Isso quer dizer que o coração não permanece relaxado tempo suficiente para permitir o enchimento completo das câmaras cardíacas Relação do eletrocardiograma com o ciclo cardíaco 1. Onda P: causada pela disseminação da despolarização pelos átrios, o que é seguido pela contração atrial; 2. Ondas QRS: surgem como resultado da despolarização elétrica dos ventrículos, o que ocasiona a contração ventricular; se inicia pouco antes da contração ventricular; O músculo cardíaco, o coração como bomba e a função das valvas cardíacas 7 3. Onda T ventricular: estágio de repolarização dos ventrículos, quando a musculatura começa a relaxar; surge pouco antes do final da contração ventricular. Os átrios funcionam como pré-bombas para os ventrículos Aproximadamente 80% do sangue fluem diretamente dos átrios para os ventrículos, sem que ocorra contração. Os 20% restante fazem parte do contração atrial. Assim, o átrio funciona como uma bomba em escova (primer pump), que aperfeiçoa o bombeamento ventricular por no máximo 20%. Entretanto, o coração pode continuar funcionando sem esses 20% da contração atrial, uma vez que apresenta capacidade de bombear de 300 a 400% a mais de sangue que o necessário para o corpo em repouso. Variação da pressão nos átrios: 1. Onda a: contração atrial; 2. Onda c: os ventrículos começam a se contrair; ocasionada pelo refluxo de sangue para os átrios e, principalmente, pelo ligeiro abaulamento das valvas a-v, em direção ao átrio, decorrente da crescente pressão ventricular; 3. Onda v: perto do final da contração ventricular; resulta do fluxo lento de sangue das veias para o átrio, enquanto as valvas a-v estão fechadas. Função dos ventrículos como bomba Os ventrículos se enchem de sangue durante a diástole. Logo que a sístole termina e as pressões ventriculares retornam aos baixos valores diastólicos, as pressões moderadamente alta que se desenvolvem nos átrios durante a sístole ventricular forçam de imediato as valvas A-V a se abrirem. É o período de enchimento rápido ventricular. Ejeção do sangue dos ventrículos durante a sístole Período de contração isovolumétrica (isométrica) Após a contração ventricular, há subida abrupta da pressão. No entanto, de 0,02s a 0,03s é o tempo necessário para o ventrículo gerar pressão suficiente para empurrar e abrir as valvas semilunares. Esse período que os ventrículos estão se contraindo e não geram alteração de volume é a contração isométrica ou isovolumétrica (aumento de tensão, mas há pouco ou nenhum encurtamento das fibras musculares). O músculo cardíaco, o coração como bomba e a função das valvas cardíacas 8 Período de ejeção Em torno de 60% do sangue do ventrículo no final da diástole são ejetados durante a sístole. 70% dessa porção são ejetados durante o primeiro terço do período de ejeção (período de ejeção rápida) e 30% restante do esvaziamento ocorrem nos outros 2/3 do período (período de ejeção lenta). Período de relaxamento isovolumétrico (isométrico): Ao final da sístole, o relaxamento ventricular começa de modo repentino, fazendo com que as pressões intraventriculares diminuam rapidamente. Durante mais 0,03 a 0,06 segundo, o músculo ventricular continua a relaxar, mesmo que o volume não se altere. Nesse período, as pressões intraventriculares diminuem rapidamente de voltaaos valores diastólicos. Volume diastólico final, volume sistólico final e débito sistólico: 1. Vol. diastólico final: é o volume de enchimento normal durante a diástole, cerca de 110 a 120 mL; 2. Débito sistólico: o volume diminui aproximadamente 70mL, na medida em que os ventrículos se esvaziam durante a sístole; 3. Volume sistólico final: quantidade restante em cada ventrículo, 40 a 50mL. Mas quando o coração se contrai fortemente, o volume pode chegar a valores de 10 a 20mL. 🔑 Pela capacidade de aumentar o volume diastólico final e de diminuir o volume sistólico final, o débito sistólico pode ser aumentado até valores acima do normal. As valvas cardíacas evitam o refluxo de sangue durante a sístole O músculo cardíaco, o coração como bomba e a função das valvas cardíacas 9 Valvas atrioventriculares Se fecham e abrem passivamente. Se fecham quando o gradiente de pressão retrógrada força o refluxo sanguíneo e se abrem quando o gradiente de pressão leva o sangue à frente. Função dos músculos papilares Contraem ao mesmo tempo que as paredes dos ventrículos, mas não ajudam as valvas a se fechar. Eles puxam as extremidades das valvas em direção aos ventrículos para evitar o abaulamento excessivo das valvas, em direção aos átrios, durante a contração ventricular. Valvas aórticas e da artéria pulmonar As altas pressões nas artérias fazem com que as valvas sejam impelidas, de modo repentino, de volta a posição fechada. Por terem diâmetro menores, as velocidades de ejeção do sangue pelas valvas aórtica e pulmonar é maior que O músculo cardíaco, o coração como bomba e a função das valvas cardíacas 10 pelas valvas a-v. As valvas semilunares estão sujeitas a maior abrasão, além disso, não são contidas por cordas tendíneas. Curva da pressão aórtica Quando o ventrículo esquerdo se contrai, a pressão ventricular aumenta rapidamente até que a valva aórtica se abra. Então, após sua abertura, a pressão no ventrículo se eleva bem mais lentamente, pois o sangue já flui de imediato do ventrículo para a aorta e de lá para as artérias sistêmicas de distribuição. Ao final da sístole, quando o ventrículo esquerdo para de ejetar sangue e a valva aórtica se fecha, as paredes elásticas das artérias mantêm a pressão elevada nessas artérias mesmo durante a diástole. A incisura ocorre na curva de pressão aórtica no momento em que a valva aórtica se fecha. Ela é causada pelo breve período de fluxo sanguíneo retrógrado, imediatamente antes do fechamento valvar, seguido pela cessação abrupta desse refluxo. O músculo cardíaco, o coração como bomba e a função das valvas cardíacas 11 🔑 Relação entre os sons cardíacos e o bombeamento cardíaco: quando as valvas se fecham, os folhetos valvares e os líquidos que as banham vibram sob a influência da variação abrupta de pressão, originando sons que se disseminam em todas as direções do tórax. Quando os ventrículos se contraem, ouve-se primeiro o som causado pelo fechamento das valvas A-V. O timbre da vibração é baixo e com duração relativamente longa, e é chamada primeiro som cardíaco (ou primeira bulha). Quando as valvas aórtica e pulmonar se fecham, ao final da sístole, ouve-se rápido estalido por elas se fecharem rapidamente e os tecidos circundantes vibrarem por curto período. Esse é então o segundo som cardíaco (segunda bulha). Análise gráfica do bombeamento ventricular Diagrama volume-pressão A curva da pressão diastólica é determinada pelo enchimento do coração com volumes progressivamente crescentes de sangue. A curva da pressão sistólica é determinada pela medida da pressão sistólica, durante a contração ventricular, para cada volume de enchimento. Acima de 150mL, a pressão diastólica ventricular passa a aumentar rapidamente, não só por causa do tecido fibroso cardíaco, que não se destenderá mais, mas também porque o pericárdio está no seu limite de volume. A pressão sistólica se eleva no decorrer da contração ventricular atingindo o valor máximo entre 150mL a 170mL. A partir desses volumes, a pressão sistólica cai, pois com grandes volumes, os filamentos de actina e miosina na musculatura miocárdica fica afastada de tal forma que a força de contração seja menor que a ótima. O músculo cardíaco, o coração como bomba e a função das valvas cardíacas 12 Diagrama volume-pressão vermelho da figura 9-9 detalhado 1. Fase 1-Período de enchimento: inicia-se com o volume sistólico final de aproximadamente 50mL e pressão diastólica de 2 a 3mmHg. Há o fluxo de sangue do átrio esquerdo para o ventrículo até 120mL, o volume diastólico final; 2. Fase 2-Período de contração isovolumétrica; 3. Fase 3-Período de ejeção; a pressão sistólica aumenta, pois o ventrículo continua a se contrair, concomitantemente, há diminuição do volume ventricular; 4. Fase 4-período de relaxamento isovolumétrico. O músculo cardíaco, o coração como bomba e a função das valvas cardíacas 13 1. Pré-carga: grau de tensão muscular quando ele começa a se contrair; na contração cardíaca, a pré-carga é considerada como a pressão diastólica final quando o ventrículo está cheio; 2. Pós-carga: carga contra a qual o músculo exerce sua força contrátil; pressão na aorta à saída do ventrículo. Pode ser considerada como resistência da da circulação. Regulação do bombeamento cardíaco Regulação intrínseca do bombeamento - o mecanismo de Frank-Starling Explicação para o mecanismo O músculo cardíaco, o coração como bomba e a função das valvas cardíacas 14 Em repouso, o coração humano bombeia cerca de 4 a 6L de sangue por minuto. A quantidade de sangue que chega coração pelas veias determina a quantidade de sangue que será bombeado. O mecanismo de Frank-Starling é a capacidade do coração a se adaptar a volumes crescentes de sangue que tal bomba recebe. Esse mecanismo afirma que quanto mais o miocárdio for distendido durante o enchimento, maior será a força contrátil e mais sangue fluirá pela aorta. A distensão das paredes do átrio esquerdo pode aumentar a frequência cardíaca de 10% a 20%, o que ajuda a aumentar a volume sanguíneo bombeado. Curvas da função ventricular Curva de trabalho sistólico: o aumento da pressão atrial em qualquer lado do coração resulta na elevação do trabalho sistólico do mesmo lado até atingir o limite de bombeamento. O músculo cardíaco, o coração como bomba e a função das valvas cardíacas 15 Controle do coração pela inervação simpática e parassimpática De acordo com os níveis de pressão atrial, a quantidade de sangue bombeada a cada minuto (débito cardíaco) pode aumentar por mais de 100%. Por sua vez, o débito cardíaco pode ser reduzido a quase zero ou zero. Mecanismos de excitação cardíaca pelos nervos simpáticos Curva do volume ventricular: a elevação da pressão atrial esquerda e direita é concomitante ao aumento de volume dessas câmaras. O músculo cardíaco, o coração como bomba e a função das valvas cardíacas 16 Estímulos simpáticos potentes podem aumentar a frequência cardíaca desde 70bat/min até 180 a 200 bat/min. Estímulos simpáticos aumentam a força de contração em até o dobro da normal. Com a depressão do SNS no coração, ocorre redução da frequência cardíaca e da força ventricular de contração, o que reduz o bombeamento cardíaco. Estimulação parassimpática (vagal) reduz a frequência cardíaca e a força de contração Uma estimulação vagal forte pode parar o coração por alguns segundos, mas o coração usualmente pode voltar a bater de 20 a 40 vezes por minuto. Além disso, pode haver diminuição da força de contração miocárdica. A maior parte das fibras vagais concentra-se nos átrios. Efeito do estímulos simpáticos e parassimpáticos na curva da função cardíaca Representa o funcionamento do coração como um todo e não de um ventrículo isolado. Mostram a relação entre a pressão do átrio direito no influxo ao coração direito e o débito cardíaco na saída do sangue do ventrículo esquerdo para a aorta. O músculo cardíaco, o coração como bomba e a função das valvascardíacas 17 Efeito dos íons potássio e cálcio no funcionamento cardíaco Efeitos dos íons potássio O excesso de potássio no líquido extracelular pode resultar em dilatação e aumento da flacidez do coração. Além disso, tal excesso pode diminuir a frequência cardíaca. Grandes quantidades de potássio podem vir a bloquear a condução do impulso cardíaco do átrio para o ventrículo. A alta quantidade de íons potássio no meio extracelular deixa a membrana plasmática menos negativa, ou seja, possui um efeito despolarizante na fibra miocárdica. Efeitos dos íons cálcio Provoca contrações mais espásticas (mesmo que espasmódicas). Isso é resultante da participação dos íons cálcio no potencial de membrana das células cardíacas. Efeito da temperatura no funcionamento cardíaco A elevação da temperatura corporal pode elevar em até o dobro da frequência cardíaca, por sua vez, a redução da temperatura corporal provoca queda da frequência cardíaca. Durante atividades físicas, a elevação da temperatura causa um aumento benéfico na frequência cardíaca, embora elevações excessivas possam exaurir o miocárdio, o que pode resultar em fraqueza O músculo cardíaco, o coração como bomba e a função das valvas cardíacas 18 Aumento da pressão arterial (até certo ponto) não reduz o débito cardíaco Durante o funcionamento cardíaco normal, a determinação do débito cardíaco é feita quase inteiramente pela facilidade com que o fluxo sanguíneo escoa através dos tecidos corporais, o que determina o retorno venoso do sangue ao coração.
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