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1 APRESENTAÇÃO Diante dos problemas e preocupações com as questões ambientais observa-se que os vários setores da sociedade, e principalmente as instituições educacio- nais apresentam o desejo de motivar as crianças e jovens a refletirem e muda- rem suas atitudes em relação ao meio ambiente, tendo como objetivo que, no futuro essa ação possa representar uma possibilidade de mudar a atual situa- ção de degradação do meio ambiente. Segundo Paixão (1981, p. 215), "a questão ambiental não pode ser analisada como algo à parte, desvinculada da realidade social que a encerra". Nesse con- texto, a Geografia pode contribuir na formação dos alunos, como cidadãos, que possam interferir na transformação da sociedade, uma vez que cabe a ela es- tudar os fenômenos em suas distribuições espaciais e suas diversas correla- ções (FERREIRA; SIMÕES, 1986), sendo estes fenômenos físicos ou huma- nos, sendo esta façanha geográfica o que a permite ter uma visão diferenciada sobre meio ambiente e sua crise. Sendo assim, o curso de Geografia com Ênfase em Educação Ambiental, da FTCEAD, considera a necessidade de salientar a importância de conhecer e discutir os problemas sócio-ambientais nas ações que tem como referência a relação homem-natureza, de maneira que ele possa na sua prática docente, lançar mão desse conhecimento numa abordagem critica dos temas relaciona- dos a problemática ambiental, proporcionando o aperfeiçoamento e atualização na prática da educação ambiental os profissionais da Licenciatura em Geogra- fia. Este curso constará de um material impresso, aqui disponibilizado, o qual con- templa quatro módulos cada qual com abordagens temáticas específicas, as quais atendem ao seu propósito seguido ao final de cada módulo atividades avaliativas (exercícios), assim como, lista de questões (Banco de Questões) e Proposta de elaboração de Projeto de Pesquisa concretizando a aprendiza- gem. Aproveitem o curso e sucesso nesta jornada. Boa Leitura! 2 Sumário Módulo I – Histórico e base teórica da questão ambiental ........................................ 3 Conteúdo 1 – Relação Sociedade X Natureza .................................................................. 4 Conteúdo 2 – Questão ambiental ontem e hoje ............................................................ 14 Conteúdo 3 – Sociedade global: mobilizações em torno da questão ambiental ........... 27 Conteúdo 4 – Organizações Não Governamentais (ONG) ............................................. 37 Atividades complementares ........................................................................................... 54 Glossário ......................................................................................................................... 58 Referências ..................................................................................................................... 59 Módulo II – Sustentabilidade sócio-ambiental: desafios e possibilidades ................. 61 Conteúdo 1 – Situação global e meio ambiente ............................................................ 62 Conteúdo 2 – Responsabilidade Sócio-ambiental .......................................................... 73 Conteúdo 3 – Consciência ambiental ............................................................................. 91 Atividades complementares ......................................................................................... 103 Glossário ....................................................................................................................... 104 Referências Bibliográficas ............................................................................................. 105 Módulo III – Políticas ambientais e metodologias para estudos de impactos ambientais ........................................................................................................... 108 Conteúdo 1 – A legislação ambiental na “constituição verde” .................................... 109 Conteúdo 2 – Políticas públicas ambientais ................................................................. 115 Conteúdo 3 – Diagnóstico ambiental: Avaliação de Impactos Ambientais (AIA) ......... 129 Conteúdo 4 – Estudo de caso: a Floresta Nacional de Canela ..................................... 140 Anexo – Lei Federal N° 9.985, de 18 de julho de 2000 ................................................. 157 Atividades complementares ......................................................................................... 168 Glossário ....................................................................................................................... 172 Referências ................................................................................................................... 174 Módulo IV – Educação e meio ambiente ............................................................... 176 Conteúdo 1 – Educação Ambiental segundo a lei n° 9795 de abril de 1999 ................... 177 Conteúdo 2 – Educação Ambiental segundo o Parâmetro Curricular Nacional (PCN) .... 198 Conteúdo 3 – Metodologias para inserção da temática ambiental no currículo ........ 203 Conteúdo 4 – Planejamento e Avaliação de projetos em Educação Ambiental .......... 222 Atividades complementares ......................................................................................... 228 Glossário ....................................................................................................................... 231 Referências ................................................................................................................... 232 3 Módulo I – Histórico e base teórica da questão ambiental SUMÁRIO – Conteúdo 1 – Relação Sociedade X Natureza. Conteúdo 2 – Questão ambiental ontem e hoje: 1. Desenvolvimento sustentável. Con- teúdo 3 – Sociedade global: mobilizações em torno da questão ambiental: 1. Educação ambiental no Brasil; Conteúdo 4 – Organizações Não Governa- mentais (ONG): 1. Exemplo de práticas de educação ambiental com apoio de ONG: 2. Reportagem – Senado aprova Política Nacional dos Resíduos Sóli- dos; 2. Considerações e reflexões. Atividades complementares: 1. Questões subjetivas; 2. Questões tipo ENADE; 3. Problemas sócio-ambientais. 4. Mani- festo. Glossário. Referências. O Curso de Educação Ambiental tem por intuito possibilitar ao cursista uma re- flexão em várias dimensões sobre a questão do meio ambiente no planeta nos dias atuais. Para isso este material didático vem como suporte teórico busca entender a dinâmica que ocorre no espaço geográfico através da compreensão histórica e educa- cional sobre a questão. A contento, o material ora disponibilizado, contém de quatro módulos cada qual com abordagens específicas, as quais atendem ao seu propósito. O módulo I faz a priori a relação Sociedade e Natureza, em seguida ressalta a Questão Ambiental ontem e hoje e a Sociedade global: mobilização em torno da questão ambiental. A temática ambiental vem ganhando espaço nos meios acadêmicos desde a dé- cada de 1970 quando as discussões sobre intensificaram-se com o surgimento de eventos internacionais, Simpósios, Fóruns e Congressos. Assumindo um caráter inter- disciplinar, esses estudos oferecem a oportunidade de se atuar no campo das intera- ções, dos conhecimentos das ciências naturais e sociais. Portanto, na certeza do cres- cimento do cursista é que disponibilizamos uma leitura que propicia a reflexão e sabedoria para o seu crescimento. Bons estudos, Profa. Cláudia Gonçalves 4 Conteúdo 1 – Relação Sociedade X Natureza Desde os primórdios da humani- dade existe o conflito entre a satisfação das necessidades dos indivíduos e o grau de oferta de produtos oriundos da natureza. A partir do século XIX, com a intensificação do processo de industria- lização e dos sistemas agropecuários, a demanda por recursos naturaise os danos ao meio ambiente tornaram-se crescentes. Nesse choque, sobraram marcas profundas nos diversos ambientes afetados, algumas mais intensas, outras pouco perceptíveis e outras atestando o estágio avançado de falência de ecossistemas que tiveram a sua capacidade de suporte excedida. Em consequência, recursos naturais foram exauridos, acarretando a não- sustentabilidade de populações animais e vegetais, que diminuem, por emigração, no caso de animais, falhas reprodutivas ou morte por fome, sede ou doenças. Preocupa- dos com a situação vigente, não mais apenas no nível local, como também no global, diversos organismos começaram a discutir a relação entre a demanda por recursos naturais e a sua disponibilidade. Essa percepção em escala mundial começa a tomar uma dimensão mais ampla em função da utilização de tecnologias capazes de melhor mensurar os graves impactos globais da ação humana sobre os ecossistemas e proces- sos naturais. Entretanto, antes de avançar sobre o quadro ambiental atual, vamos re- fletir sobre a relação da sociedade e a natureza ao longo do tempo. Em busca da aventura, da sobrevivência e das conquistas, o homem desbravou- se durante o período das grandes navegações em uma nova “olhada” no então mundo desconhecido, envolvido por uma mística do “universo”. Nessas descobertas o espaço natural era o que se considerava desconhecido, representando assim, o desafio a ser vencido, desbravado, dominado e modificado. Qual o lugar da natureza em nossa sociedade? 5 A sociedade feudal ai estabe- lecida passara a vivenciar a “contes- tação” do seu poder, já que as desco- bertas de outros mundos ofereceu a mentalidade desta época a possibili- dade de abrir novos horizontes, des- cortinando-se diante de crenças e mitos até então convenientes e indis- cutíveis para a manutenção do poder político imposto pelo mundo feudal. A humanidade vivencia então uma nova etapa, cujas transformações em todos os níveis configuraram em um novo período clássico, de desvelamento de totalidade e quebra de paradigmas. Surge a ciência para pôr em choque as “verdades absolutas” e pôr tudo em discussão. A superação de paradigmas, a construção da modernidade em que delineava-se a “nova” sociedade passou pela retomada da Geografia, não àquela restrita apenas a territo- rialidade espacial, e sim para além dessa leitura, onde a modernidade instalou, seguindo a nova perspecti- va de ser humano no ideário dos territórios inéditos; da capacidade; da disponibilidade; do desejo e cren- ça. Nesse ínterim revolucionário, surge o novo modo de produção determinado pela introdução da máquina em todo processo, substituindo assim o modo de produção artesanal. É o fim da idade média, Saiba mais! – O impacto do homem sobre o meio ambiente depende de variáveis históricas. Como o modo de produção, a estrutura de classes, os recursos tecnológicos e a cultura de cada sociedade ao longo do tempo. Os diferentes modos de produção surgi- dos ao longo da história sempre con- sideraram a questão de onde retirar matéria-prima como tendo uma única resposta: a natureza. A concepção de que os recursos naturais existem em quantidade ilimitada, possibilitando o crescimento contínuo das sociedades humanas remonta as sociedades pré- capitalistas e permanece em nossa concepção, causando danos irreversí- veis á natureza. A ação da espécie humana sobre o meio ambiente tem uma característica qualitativa única: possui um enorme potencial desequi- librador, pois as mudanças que provo- ca nem sempre são assimiláveis pelos ecossistemas, ameaçando assim a permanência dos sistemas naturais. (Fonte: Adaptado de: Disponível em: http://karinajd.sites.uol.com.br. Aces- so em: 17 jul. 2010). 6 ruína do feudalismo, surgimento de novas políticas; renascimento de novos pensa- mentos; novos territórios, descobertas científicas, substituição do modo de produzir, agir e até mesmo o de ver as coisas. Fonte: http://purl.pt/93/1/iconografia/imagens/pi1550/postal1550_rosto_3.jpg. Acesso em: 20 jul. 2010. Passamos do feudo para as grandes aglomerações nos núcleos “urbanos”, se assim podemos chamar as cidades fundadas, com novas estruturas, e práticas de po- deres. Essas novas cidades surgem com regulamentações de convívio entre os habitan- tes, estruturando-se assim um espaço, vislumbrado pela relação de troca, de comércio, de informação/educação formal e de novas formas de poluição. Todo esse advento proporcionado pelo novo processo industrial que acarretou no progresso cientifico e ampliação dos espaços de assentamento humano, veio de- terminar, mudanças nas relações sociais, econômicas e espaciais, sendo esta última, ressaltada na necessidade de desobstruir os espaços “urbanos” até então menores mais com volume de habitantes maiores. Dessa forma os espaços naturais passaram a receber uma atenção especial. A natureza passara então, a ser vislumbrada como um espaço a ser conquistado e passí- vel de modificação. Inicialmente, visto como um lugar onde o homem pudesse con- templar, distanciando do cotidiano urbano; citando John McCormick, estudioso do movimento ambientalista (1992, p. 2): 7 o crescimento do interesse pela história natural revelou muito sobre as consequên- cias da relação de exploração do homem com a natureza. Isso levou inicialmente a um movimento pela proteção da vida selvagem, e depois, a reivindicações pra que fossem proporcionadas oportunidades rurais de lazer, como antídoto para a vida nas florescentes conurbações industriais. As descobertas atreladas a exploração, e colonização do novo mundo oferece- ram base para que se constituísse um esboço do pensamento ambientalista. Quanto a isto McCormick, (1992, p. 22) ressalta: Há paralelos entre o crescimento do interesse pelo ambiente natural na Europa Ocidental e na América do Norte. Havia um florescimento similar do interesse pela história natural, e a influencia do romantismo era comparável. Mas havia uma dife- rença principal obvia no fato de que a Europa fora de há muito colonizada e explo- rada, enquanto vastas áreas novas no oeste da América do Norte estavam sendo abertas pra colonização, da mesma maneira, como havia acontecido na Austrália e na África do Sul. Houve casos de preservação da natureza, na costa leste durante os primeiros anos da colonização européia Por exemplo, William Penn decretou, quan- do da fundação da Pensilvânia, no final do século XVII, que os colonos deveriam deixar meio hectare de árvores para cada dois e meio que fossem desmatados. O mundo bucólico (natural), era visto como uma maravilha a ser preser- vada. Entretanto, no começo do século XX e a eclosão da I Guerra Mundial, houve uma substituição do pensamento humano quanto ao modelo de domina- ção e introdução de novos valores para as sociedades. O capitalismo sob a égide da industrialização se fez avassalador em território norte americano, não alheio ficou o restante do planeta onde processos de transformações socioeconômicas ocorreram. Um exemplo é a América do Sul que assistiu aos movimentos migratórios de europeus e asiáticos e as transfor- mações no modo de produção industrial, mesmo que tardiamente, mais que pôs fim às oligarquias ruralistas, estabelecendo às bases do capitalismo, o crescimento das cida- des, a modificação da produção agrícola. 8 O período que separara as duas grandes guerras mundiais foi de grandes trans- formações para a sociedade. Após a II Guerra Mundial, caem os impérios e há uma nova retomada política, econômica, cultural e tecnológica no mundo. Define-se então um novo cenário mundial, cujos valores e atitudes afetaram a mentalidade ambienta- lista até aqui constituída socialmente. Os avanços e conquistas tecnológicas nas áreas das comunicações eletrônicas, transportes, (para citar alguns), promoveram novasmudanças no comportamento humano. Sobre esse processo cita-se Hobsbawn (1995, p. 284): “a mudança social mais impressionante e de mais longo alcance que nos isola para sempre do mundo do passado, é a morte do campesinato”. Refletir a relação sociedade X natureza, torna-se uma tarefa complexa devido às várias facetas da cronologia humana em relação ao meio natural. Atualmente para enfrentar essas ques- tões requer a adoção de um conjunto de medidas que viabilizem um processo político de educação, informação e cul- tura. Um processo que possa colocar em prática os conhecimentos produzi- dos, organizados e sistematizados; que contribua para a formação de pessoas dotadas de comportamento político-crítico, com liberdade para possuir seus meios de vivências mais igualitários e com perspectivas de alternativas políticas que lhes garantam viver de forma sustentável. O termo sustentabilidade refere-se a jornada o homem deve trilhar, entretan- to, essa jornada depende da “boa vontade” para a mudança de hábitos e dos sistemas que movimentam o mundo, devendo adaptarem-se às condições ambientais. È um longo e demorado caminho para o alcance da sustentabilidade. Porém, alguns passos podem e devem ser superados pelo homem; primeiro alimentar a noção de conservação dos recursos naturais, entendendo a sua dinâmica e respeitando-a; e segundo compreender que a degradação dos recursos naturais parte do seu uso exagerado. Tome nota – O termo educação ambiental ou environmental edu- cation, foi lançado em 1965, na Inglaterra, numa Conferência de Educação que aconteceu na Uni- versidade de Keele, mas já existia a expressão “estudos ambientais” no vocabulário dos professores da Grã-Bretanha. 9 Há uma crescente necessidade para solucionar os problemas ambientais e o compromisso é um caminho, além das iniciativas individuais que impulsionam essa busca de soluções. Esses passos para alcançar a sustentabilidade, perpassam por uma necessidade de fundamentação teórica, conceitual e registrada por estudiosos das ciências naturais. A história da humanidade concretizada nos fatos políticos, geopolíti- cos, econômicos e desenvolvimento tecnológico, nos direcionam a sustentabilidade, ou seja, viver em consonância com os recursos naturais. Disponível em: http://static.infoescola.com/wp-content/uploads/2009/08/full-19-088ecb250e.jpg. Acesso em: 27 set. 2010. De acordo com Miller (2007, p. 5), “Uma sociedade sustentável no que diz res- peito ao meio ambiente atende às necessidades básicas de recursos de seu povo sem degradar ou exaurir o capital natural que fornece esses recursos.” Discutir sustentabili- dade é falar de desenvolvimento sustentável que é um conceito social, voltado para o planejamento do uso e da apropriação dos elementos naturais. Isso não significa retro- ceder no processo de produção, mas, reestruturá-lo para melhor aproveitamento dos recursos renováveis e não renováveis. Eis o desafio a ser cumprido pela humanidade, modificar ou alterar os sistemas (econômico e cultural) das sociedades. Esse desafio implica em questionamentos a serem considerados segundo Sachs (2002, p. 32): 10 • Como conservar escolhendo-se estratégias corretas de desenvolvimento em vez de simplesmente multiplicarem-se reservas supostamente invioláveis? • Como planejar sustentabilidade múltipla da Terra e dos recursos não renováveis? • Como desenhar uma estratégia diversificada de ocupação da Terra, na qual as reservas restritas e as reservas da biosfera tenham o seu lugar nas normas es- tabelecidas para o território a ser utilizado para usos produtivos? Para responder a estas questões basta reavaliarmos o nível de consciência do homem quanto ao meio natural e a sua importância no processo de produção enquan- to fator capital. Sachs (2002, p. 47-48) diz que: A onda da conscientização ambiental é ainda mais recente embora ela possa ser parcialmente atribuída ao choque produzido pelo lançamento da bomba atômica em Hiroshima e a descoberta de que a humanidade havia alcançado suficiente po- der técnico para destruir eventualmente toda a vida do nosso planeta. Paradoxal- mente, foi a aterrissagem na lua – outro feito técnico e cientifico grandioso- que despertou a reflexão sobre a finitude do que então era do que então era denomi- nado Espaçonave Terra. A opinião pública tornou-se cada vez mais consciente tanto na limitação do capital da natureza quanto dos perigos decorrentes das agressões ao meio ambiente, usado como depósito. A humanidade tem em sua trajetória o pensamento do natural (água, solo, bio- diversidade, recursos minerais e energéticos), como recurso monetário que serve ape- nas para o consumo e geração de renda que favorece ao crescimento econômico, uma vez, pela abundância desses recursos ou pelo poder de transformação destes, além de sua incorporação ao PIB de cada país. A cada instante, se faz emergente a concretiza- ção de uma solução que equalize o uso e o não uso dos recursos naturais e para isso, é necessário cidadãos e lideranças alfabetizadas ecologicamente, voltadas e esclarecidas para a construção de uma sociedade global sustentável. Começa a emergir assim a educação ambiental, um instrumento direcionado para a sensibilização e capacitação da população em geral sobre os problemas ambientais. Com ela, busca-se desenvolver técnicas e métodos que facilitem o processo de tomada de consciência sobre a gravidade dos problemas ambientais e a necessidade urgente de nos debruçarmos seriamente sobre eles. Existem várias definições para a educação ambiental. No Capítulo 36 da Agenda 21, ela é definida como o processo que busca: 11 […] desenvolver uma população que seja consciente e preocupada com o meio am- biente e com os problemas que lhes são associados. Uma população que tenha co- nhecimentos, habilidades, atitudes, motivações e compromissos para trabalhar, in- dividual e coletivamente, na busca de soluções para os problemas existentes e para a prevenção dos novos […] A educação ambiental objetiva principalmente contribuir para a conservação e preservação da biodiversidade, para a auto-realização individual e comunitária e para a autogestão política e econômica, através de processos educativos e participativos que promovam a melhoria do meio ambiente e da qualidade de vida. Existem três vertentes de opiniões visando afirmar as melhores formas de se proceder a educação ambiental. A primeira vertente defende que deve haver uma disciplina específica para tratar do as- sunto, a ser incluída no currículo escolar. Há, nesta vertente, aqueles que defendem ex- tensões diferenciadas nos assuntos e no tempo de duração da disciplina. A segunda ver- tente defende que a educação ambiental deva fazer parte do conteúdo programático da disciplina de Ciências. Já a terceira vertente defende que a educação ambiental deva ser passada aos alunos sem pré estabelecimentos de disciplinas e de professores específi- cos, isto é, a educação ambiental deve ser ministrada por todos os professores indistin- tamente, de forma natural e em doses homeopáticas, encaixando o assunto em suas disciplinas, no desenrolar das aulas, como pílulas de informações. A Carta da Terra (2000, princípio 14) indica que se deve “integrar na edu- cação formal e aprendizagem ao longo da vida, os conhecimentos, valores e ha- bilidades necessárias para um modo de vida sustentável”, oferecendo a todos, especialmente crianças e jovens, oportu- nidades educativas que possibilitem con- tribuir ativamente para o desenvolvimen- to sustentável. A educação, seja formal ou informal, só é completa quando a pes- soa pode chegar nos principais momen- Educação formal – É um processo institucionalizado que ocorre nas unidades de ensino, seja público ou privado; Educação informal – Realiza-se fora da escola, envolvendo flexibi- li¬dade de métodos e deconteú- dos e um público alvo muito va- riável em suas características (faixa etária, nível de escolarida- de, nível de conhecimento da problemática ambiental, etc.). 12 tos de sua vida a pensar por si próprio, agir conforme os seus princípios, viver segundo seus critérios. Tendo essa pre- missa básica como referência, propõe-se que a Educação Ambiental seja um pro- cesso de formação dinâmico, permanente e participativo. Assim, as pessoas envol- vidas passam a ser agentes transformado- res, participando ativamente da busca de alternativas para a redução de impactos ambientais e para o controle social do uso dos recursos naturais. A seguir destaca- mos alguns pressupostos básicos nortea- dores da prática em educação ambiental: » Visão holística: compreender que a totalidade é mais do que as partes somadas e que a vida decorre de interações entre os elementos vivos e não-vivos do planeta, inexistindo uma natureza neutra e passiva e uma humanidade inde- pendente dos limites naturais; » Interdisciplinaridade: respeito mútuo entre as diferentes experiências de vida e formas de saber e a análise globalizante dos problemas, através de um conhe- cimento integrado e interdisciplinar. O trabalho deve ser integrado e planejado, utilizando-se da contribuição das várias disciplinas e superando a compartimen- tação do ato de conhecer, típico do trabalho científico; » Participação: igualdade no processo e respeito às experiências acumuladas pe- los indivíduos, através da construção coletiva em busca da cidadania plena e da autopromoção, consolidando os objetivos de autogestão, democracia, liberda- de e convivência; » Continuidade: A educação ambiental deve ocorrer durante todos os momentos e em todos os espaços sociais e pedagógicos; não deve restringir-se apenas ao período escolar, mas ao longo de toda a vida de cada indivíduo, de forma a lhe garantir a informação, atualização e capacitação; 13 » Contextualização: adequar o pro- cesso educativo à realidade coti- diana, propiciando a compreen- são dos grandes problemas, a partir do concreto, do imediato, desenvolvendo um senso de per- tencimento ao educando e à co- munidade; » Integração: é um processo per- manente no qual os indivíduos e a comunidade tomam consciên- cia do seu meio ambiente e ad- quirem o conhecimento, os valores, as habilidades, as experiências e a determina- ção que os tornam aptos a agir, individual e coletivamente e resolver os problemas ambientais; » Transformação: possibilita a aquisição de conhecimentos e habilidades capazes de induzir mudanças de atitudes. Objetiva a construção de uma nova visão das relações do ser humano com o seu meio e a adoção de novas posturas indivi- duais e coletivas em relação ao meio ambiente; » Transversalidade: propõe-se que as questões ambientais não sejam tratadas como uma disciplina específica, mas sim que permeie os conteúdos, objetivos e orientações didáticas em todas as disciplinas. A educação contemporânea deve promover mudanças que contribuam para formação e transformação de educadores e educandos. Nesse processo, é fundamental o compromisso dos atores envolvidos de contribuir para o aumento da consciência ambiental e do papel de cada um na teia da vida, considerando todas as inter-relações com os outros seres vivos do planeta. A expressão meio ambiente (mili- eu ambiance) foi utilizada pela primeira vez pelo naturalista fran- cês Geoffrey de Saint-Hilaire em sua obra Études progressives d´un naturaliste, de 1835, onde milieu significa o lugar onde está ou se movimenta um ser vivo, e ambiance designa o que rodeia esse ser. 14 Conteúdo 2 – Questão ambiental ontem e hoje O modelo de produção introdu- zido pela Revolução Industrial, baseado no uso intensivo de energia fóssil, na super exploração dos recursos naturais e no uso do ar, água e solo como depó- sito de dejetos, é apontado como a principal causa da degradação ambien- tal atual. Contudo, os problemas ambi- entais não passaram a existir somente após a Revolução Industrial. É inegável, porém, que os impactos da ação dos seres humanos se ampliaram violenta- mente com o desenvolvimento tecnoló- gico e com o aumento da população mundial provocados por essa Revolu- ção. Os primeiros grandes impactos da Revolução Industrial, ou os primeiros sintomas da crise ambiental, surgiram na década de 50. Em 1952, o “smog”, poluição atmosférica de origem industrial, provocou muitas mortes em Londres. A ci- dade de Nova York viveu o mesmo problema no período de 1952 a 1960. Em 1953, a cida- de japonesa de Minamata enfrentou o problema da poluição industrial por mercúrio e milhares de pessoas foram intoxicadas. Alguns anos depois, a poluição por mercúrio apa- rece novamente, desta vez na cidade de Niigata, também no Japão. Entretanto, o movimento ambientalista nasce na década de 60 quando ocor- rem vários movimentos sociais, culturais e políticos como: os movimentos feministas; hippies; negro; antiguerra (Vietnã) e a corrida armamentista. Tange destacar movi- mentações que de certa forma deram os primeiros passos pró- ambientalistas ocorri- dos em Paris na década de 60, sob o julgo de barricadas do desejo, cujo lema era “que- Smog em Los Angeles, EUA. 15 remos um planeta mais azul”. Este movimento veio alertar para o novo discurso do homem no planeta, assim como indicar que algo novo nascera no pensamento huma- no e na sua posição sócio política. O momento emergia para o resgate do indivíduo enquanto sujeito independente, tirando-o do circulo massificador que o descaracteri- zava. Era preciso repensar a posição do homem perante o Estado. De forma avassaladora o mundo mudara e as revoluções não continham- se apenas no campo ideológico, intelec- tual mais também no tecnológico e isso fez uma grande diferença no que con- cerne ao fornecimento de informações do que ocorria no mundo. Um exemplo são as guerras ocorridas quando deixaram de ser “transmitidas” via rádio passando para a transmissão televisiva como foi a guerra do Vietnã. A partir de então começava a delinear uma nova percepção do mundo e suas relações sociais com o poder, des- mantelando alguns paradigmas existentes e colocando em dúvida e em discussão as atitudes até então tomadas em relação ao meio ambiente e as relações humanas . O filosofo Hebert Marcuse com sua tese “O fim da utopia”, contribuiu para as manifesta- ções ocorridas em Paris no que concerne as suas idéias e ideais. Marcuse (1985, p. 10) retrata da seguinte forma: as verdadeiras mudanças só aconteceriam se houvesse a libertação de uma nova dimensão humana, se surgisse uma nova antropologia cujo objetivo fosse o de transformar as necessidades. Uma delas, vital é a necessidade de liberdade e tudo o que ela implica. A condição para posicionar-se em prol das questões ambientais foram motivadas da opressão imposta pelo sistema capitalista e pelo Estado. Então a necessidade de posici- onar-se diante do que ocorria no mundo (política, economia, meio ambiente) era necessá- rio e urgente. Então o ano de 1968 parece vislumbrar toda essa efervescência ambientalis- ta que segundo Hobesbawn (1998, p. 5): “O que 1968 trouxe à tona foi a extraordinária aceleração das transformações sociais das décadas posteriores a 1945, que os historia- dores vão reconhecer como as mais revolucionarias da historia mundial”. 16 O movimento ambientalista surge diante de grandes manifestações sociais, po- líticas e culturais, cujo ápice estava no risco atômico e no modo de produção capitalis- ta e no risco de deterioração do meio ambiente. O autor americano John McCormick (1992, p. 65) ressalta sobre o surgimento do movimento ambientalista: O movimento ambientalista foi um produto de forças tanto internas quanto exter- nas a seus objetos imediatos, os elementos de mudanças já vinham emergindomui- to antes dos anos 60, quando finalmente se entrecruzaram uns como os outros e com fatores sociopolíticos mais amplos, o resultado foi uma nova formação em prol da mudança social e política seis fatores em particular parecem ter desempenhado um papel na mudança: os efeitos da afluência, a era dos testes atômicos, o livro Si- lent Spring uma serie de desastres ambientais bastante divulgados, avanço nos co- nhecimentos científicos e a influência de outros movimentos sociais. Percebe-se, portanto que o movimento ambiental não restringe-se ou melhor não restringiu-se a uma leitura apenas ecológica, mas sim a uma perspectiva mais am- pla, onde os temas político-sociais construídos historicamente fazem parte da constru- ção deste movimento. O livro Primavera Silenciosa (Silent Spring), de Raquel Carson, publicado em 1962, foi à primeira reação, ou a primeira crítica mundi- almente conhecida dos efeitos ecológicos da utilização generalizada de insumos químicos e do despejo de dejetos industriais no ambien- te (Fonte: Disponível em: http://www. cdcc. usp.br/ ciencia/ artigos/ art_26/ eduambien- talimagem/ livrorc. gif). Essa critica ressalta a perda da funcionalidade de vida, devido a artificialização da vida do ser humano e do uso indiscriminado dos recursos naturais. Esse livro foi um marco para o debate ambiental e a socialização da questão ambiental no mundo in- dustrializado. 17 SAIBA MAIS! Depois de a norte-americana Rachel Carson ter lançado o alerta para o pe- rigo de contaminação ambiental pelo DDT , em 1962, com o seu livro Primavera Silenciosa, aquele produto acabou por ser banido. Já passaram mais de três dé- cadas, mas o DDT está a regressando, e da forma mais inesperada. O degelo in- duzido pelas alterações climáticas, está libertando DDT que ali se tinha deposita- do e que permanecia aprisionado e que até agora nos pareciam eternos. Estudos recentes realizados na Antártida revelam que os pinguins estão expostos nova- mente àquele produto químico. De acordo com observações feitas por uma equipa de biólogos marinhos do Virginia Institute of Marine Science em Glouces- ter, nos EUA, o nível de contaminação dos pinguins não tem efeitos negativos nos animais, mas se o degelo continuar, dizem os cientistas, pode ser libertada uma sopa de químicos perigosa. O DDT (diclorodifeniltricloretano), potente veneno utilizado no terceiro mundo para o controle de pragas e endemias, permanece por mais de vinte anos com sua estrutura molecular inalterada. O DDT tem efeito prolongado, move-se facilmente pelo ar, rios e solo e acumula-se no organismo dos seres vivos, no ca- so do homem na glândula tireóide, fígado e rim. Há vários estudos relacionando um subproduto do DDT, o DDE, à redução do aleitamento materno. Outros estu- dos associam o DDT a problemas nos sistemas hormonal, nervoso e reprodutivo do homem. (Fonte: Pinguins com DDT. Disponível em: http://coisasecoisasby shadow.blogspot.com/2008/05/pinguins-com-ddt.html. Acesso em: 16 jul. 2010). Nos anos 70 outros autores estenderam essas críticas ao modelo de produção como um todo, incluindo a questão do crescimento das desigualdades econômico- sociais, erosão de solos, eutrofização da água pelo despejo de nutrientes nos cursos d'água, aumento no número de pragas e doenças, destruição de habitats naturais, erosão geológica, acúmulo de lixo e aumento da instabilidade econômica e social nas comunidades tradicionais. A ampla repercussão que essas obras alcançaram indica um sentimento coletivo de insatisfação com a ideologia do progresso e o mal-estar nas sociedades industriais. 18 Até a década de 1970, a lógica do sistema econômico não atribuía ao meio am- biente a importância que lhe era devida e não atentava para a sua complexidade. Acreditava-se que havia fontes inesgotáveis de matéria-prima e energia para alimentar o sistema, e que o processo de produção converteria todos os insumos em produtos, e não existiriam, portanto, resíduos indesejáveis. Segundo a lógica econômica clássica desenvolvida pela sociedade ocidental, a natureza é vista apenas como um meio de produção de riquezas. Fonte: Disponível em: http://img155.imageshack.us/img155/5794/ qdepnvs7krcup4.jpg. Acesso em: 20 jul. 2010. Emergem a busca de novos caminhos, coerentes com as necessidades internas de cada nação e com o imperioso fortalecimento das relações entre elas. A preocupação das sociedades passa a ser conciliar o desenvolvimento e assegurar a integridade ambiental. Para fazer frente a essas questões, estruturas estatais foram sendo criadas para regula- mentação e para a fiscalização das atividades causadoras de danos ao meio ambiente. Assim como os documentos e ações foram criados e estabelecidos para alertar sobre as questões ambientais. Leituras voltadas para estas questões como os limites do cres- cimento, 1972, veio mostrar que o homem sempre olhava o mundo de fora, sem con- siderar a sua participação no mundo natural. A existência de uma natureza se fazia notória, entretanto, este era considerado dissociado da vida humana, contudo ao final de década de 60 e mais efetivamente na década de 70, o homem reconhece-se como parte integrante do meio natural e agente transformador desse meio. Inesgotável? 19 A busca por referenciais em prol do meio ambiente não parou, a publicação de Nosso Futuro Comum e a conferencia ambiental de cunho internacional (Rio 92) mar- caram a mudança de paradigmas que acalentaram as perspectivas sociais de produção de consumo e de exploração dos recursos naturais. Essa mudança estabeleceu uma substituição de representações de pensamentos, de posicionamento político, de trans- formação dos espaços e de formação do indivíduo (educação). Concretiza-se dessa forma as novas referencias sociais e políticas que vão dar um salto qualitativo na rela- ção do homem e o meio ambiente. CHICO MENDES – O líder sindical e seringueiro Chico Men- des foi assassinado no dia 22 de dezembro de 1988, em Xa- puri, no Acre, vítima de um tiro de espingarda calibre 20. O crime foi atribuído a Darly Alves da Silva e seu filho Darci Alves Pereira. O seringueiro é considerado um símbolo da luta pela preservação do meio ambiente no Acre e dos inte- resses dos povos da floresta, que sobreviviam do que ela gerava: do látex. Denunci- ava a intensidade e o ritmo com que a floresta estava sendo desmatada. Um das demonstrações de sua luta foi em março de 1987, quando Chico fez um discurso cheio de denúncias na reunião do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) em Miami (EUA). Pediu a suspensão do financiamento do organismo para o prosse- guimento da construção da BR-364, que cortava o estado de Rondônia e se estende- ria até o Acre. (Fonte: Disponível em: http://www.portalsaofrancisco. com.br/alfa/chico-mendes-biografia/chico-mendes.php. Acesso em: 16 jul. 2010). No Brasil, o debate ambiental sofre uma mudança acentuada a partir de 1990. Já não se dissocia proteção ambiental de desenvolvimento econômico, a questão em debate tem o foco voltado para como compatibilizar o desenvolvimento econômico com a con- servação ambiental vislumbrando um cenário de sustentabilidade. Essa mudança pode ser atribuída a três acontecimentos marcantes: as queimadas na Amazônia, a morte de Chico Mendes (líder sindicalista) e a realização da Conferência Internacional sobre Desenvolvi- mento e Meio Ambiente, que viria a acontecer em 1992. A partir daí consolida-se no País, de forma ostensiva, um planejamento voltado para a questão ambiental, mesmo que ho- rizontalmente, desarticulado entre os vários setores do governo. 20 IMPACTOS AMBIENTAIS – Desmatamentos e queimadas Foco de atenção do mundo todo, o desmatamento das florestas da Ama- zônia é um dos agentes responsáveis pelas grandes mudanças da paisagem da região. Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas daAmazônia (INPA), até o fim da II Guerra Mundial, a presença humana no meio ambiente quase não trouxe modificações à cobertura vegetal natural da Amazônia. Um novo período foi iniciado, contudo, com as políticas – principalmente no Brasil – visando a expansão das fronteiras agrícolas e o assentamento de imigrantes, oriundos de regiões densamente povoadas e/ou carentes. Atualmente, diversas pesquisas vêm sendo desenvolvidas com o objetivo de analisar os impactos que a ação humana vem causando no funcionamento e na biodiversidade dessas florestas. As atividades agropecuária e madeireira, realizadas principalmente nos últimos trin- ta anos, são responsáveis por grande parte dos desmatamentos ocorridos nessas florestas. De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), já foram devastados cerca de 550 mil quilômetros quadrados da floresta amazônica brasilei- ra, o que equivale a 13,7% da mata. Desse total, 200 mil quilômetros foram abando- nados pelos exploradores assim que os recursos naturais se esgotaram. (Fonte: Adaptado de: Disponível em: http://www.comciencia.br/reportagens/amazonia/ amaz14.htm. Acesso em: 20 jul. 2010). Fonte: Disponível em: http://institutoecobrasil.org/wp-content/uploads/2010/08/DSC_0279.jpg. Aceso em: 25 ago. 2010. 21 DICA DE LEITURA – Floresta em chamas: origens, impactos e prevenção do fogo na Amazônia Autores: Daniel Nepstad, Adriana Moreira, Ana Alencar A cada ano, o fogo na Amazônia brasileira atinge uma área dez vezes o tamanho da Costa Rica. Quando fazendeiros e agricultores utilizam o fogo em suas terras para converter florestas em roças e pastagens, e/ou para recuperar pastagens invadidas por ervas daninhas, inadvertidamente, queimam florestas, pastagens e plantações. O risco anual de incêndio acidental desencoraja os pro- prietários a investirem em suas propriedades, o que perpetua o domínio da pe- cuária extensiva e da agricultura de corte e queima em detrimento do estabele- cimento de sistemas agroflorestais e do manejo florestal sustentável. O fogo aumenta a inflamabilidade das paisagens da Amazônia, e inicia um ciclo vicioso; as florestas são substituídas por uma vegetação inflamável que per- petua a presença de incêndios na região. Este livro apresenta uma análise do fo- go na Amazônia com a finalidade de identificar os meios pelos quais seus efeitos negativos podem ser reduzidos. A análise do problema é baseada em vários es- tudos sobre esse assunto conduzidos em anos recentes, entre os quais um estu- do de campo pioneiro, conduzido em 1996, sobre a extensão geográfica e os im- pactos econômicos do fogo na região. (Fonte: Disponível em: http://rapid share.com/files/172571675/Floresta_em_Chamas.pdf. Acesso em: 20 jul. 2010). 1. Desenvolvimento sustentável No início do século XXI a questão ambien- tal, ganha nova perspectiva devido ao reconhe- cimento definitivo do homem sobre a degrada- ção ambiental. Desde então os países em sua totalidade estão alertas. Entretanto, a preocupa- ção ambiental veio paulatinamente ganhando formato por meio de autores e suas discussões como, por exemplo: Malthus e sua teoria sobre 22 conhecimento demográfico versus re- cursos naturais. A preocupação de Mal- thus, mesmo que considerada alarmista é visionária já que atualmente a terra apresenta uma superpopulação e o desafio de alimentá-la; de garantir o desenvolvimento econômico de cada nação e de conservação dos recursos naturais. As manifestações ambientais até então estavam sendo “motivadas” tam- bém por outras manifestações de cunho cultural, político e econômico. Entretan- to, nos anos 70 essa preocupação ambi- ental tornou-se regulamentada através de legislação que visavam o controle ambiental. Na década de 80 entra em vigor legislação que controlam a instala- ção de indústrias poluentes e com isso surge os meios reguladores “controlar” o uso do meio natural, sendo assim, são criadas as empresas especializadas em Estudos de Impacto Ambiental. A conservação do meio ambien- te ganha então um rótulo defensivo, que busca soluções corretivas, pauta- das na legislação e que deve ser segui- da por todos os interessados em explo- rar o meio natural, seja na forma de extração dos recursos ou na implanta- ção de empreendimentos. Este alerta ganhou importância devido aos aciden- CHERNOBYL – No ano de 1986, os operadores da usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, realizaram um experimento com o reator 4. A intenção inicial era observar o comportamento do reator nuclear quando utilizado com baixos ní- veis de energia. Contudo, para que o teste fosse possível, os res- ponsáveis pela unidade teriam que quebrar o cumprimento de uma série de regras de segurança indispensáveis. Foi nesse momen- to que uma enorme tragédia nu- clear se desenhou no Leste Euro- peu. Entre outros erros, os funcionários envolvidos no episó- dio interromperam a circulação do sistema hidráulico que contro- lava as temperaturas do reator. Com isso, mesmo operando com uma capacidade inferior, o reator entrou em um processo de supe- raquecimento incapaz de ser re- vertido. Em poucos instantes a formação de uma imensa bola de fogo anunciava a explosão do rea- tor rico em Césio-137, elemento químico de grande poder radioa- tivo. Com o ocorrido, a usina de Chernobyl liberou uma quantida- de letal de material radioativo que contaminou uma quilométri- ca região atmosférica. Em termos comparativos, o material radioati- vo disseminado naquela ocasião era assustadoramente quatrocen- tas vezes maior que o das bombas utilizadas no bombardeio às cida- des de Hiroshima e Nagasaki, no fim da Segunda Guerra Mundial. (Fonte: SOUSA. Rainer. Disponível em: http://www.brasilescola.com/ historia/chernobyl-acidente-nucle ar.htm. Acessado em: 17 jul. 2010). 23 tes ambientais ocorridos nesta década como o de Chernobyl, na antiga União Soviéti- ca; Basiléia na Suíça e Bhopal na Índia; além da já constatada destruição da camada de ozônio. O acidente ambiental de Chernobyl, considerada uma catástrofe nuclear na década de 80 mais precisamente em 26 de Abril de 1986, na Ucrânia (até então parte da Ex-União Soviética), produziu uma radioatividade mais intensa que a bomba de Hi- roxima ao final da II Guerra Mundial. Esse acidente resultou em efeitos drásticos sob a saúde de milhares de pessoas e sob o meio ambiente, uma vez que houve a contaminação direta dos recursos natu- rais (água, solos). A radioatividade produzida provocou a falência de um grupo social que habitavam as cidades atingidas, deliberando consequências genéticas, já que, os organismos dos sobreviventes se encontravam contaminados. Portanto casos de tu- mores cancerígenos, cardiopatias, doenças crônicas e deformações dos fetos são al- gumas das consequências obtidas diante a permanente exposição de ambientes con- taminados. Após o acidente de Chernobyl, a Associação Mundial dos Exploradores das Cen- trais Nucleares adotou medidas preventivas com o intuito de prevenir e impedir outro Chernobyl. Em três de dezembro de 1984, cerca de 40 toneladas de metil isocianato e outros gases letais vazaram da fábrica de agrotóxicos da Union Carbide Coorporation, em Bhopal , Índia. Esse foi o pior desastre químico da história, onde se estima que en- tre 3,5 e 7,5 mil pessoas morreram em decorrência da exposição direta aos gases. A Union Carbide abandonou a área, deixando para trás uma grande quantidade de vene- nos perigosos. Os moradores ficaram com fornecimento de água contaminada e um legado tóxico que ainda causa prejuízos. A Unio Carbide tentou se livrar da responsabilidade pelo desastre e mortes, pa- gando compensações inadequadas ao governo Indiano. Porém, arrasta-se em juízo ações contra a empresa que atualmente chama-se Dow/Union Carbide, devido a um processo de fusão ocorrido em 1999 com a multinacional Dow Chemicals, sediada nos Estados Unidos.Esse acidente chocou o mundo e provocou mudanças no comporta- mento da indústria. Depois do desastre a legislação ambiental e de segurança química em muitos países ricos ficou mais rigorosa e o setor desenvolveu códigos de conduta, como a Atuação Responsável. De acordo com o vice-presidente para questões ambien- tais da Dow em um discurso realizado, diz que “em 1984, a terrível tragédia que ocor- 24 reu em Bhopal, na Índia, serviu para despertar a indústria química como um todo”. No entanto, as mudanças ocorri- das no setor químico não foram sufici- entes e não contemplam totalmente as pessoas mais afetadas pelo acidente, os pedidos de compensação apropriada e descontaminação da área continuam sendo ignorados. As companhias que produzem, manipulam e emitem substâncias tóxi- cas, deveriam ser responsabilizadas pelos impactos que causam na saúde humana e no meio ambiente. O Greenpeace está trabalhando com organizações locais em Bhopal para exigir que a Dow/Union Carbide seja totalmente responsável pela descontaminação da área pela descontaminação da área e indenização de todas as vítimas do desastre. O momento é pensar o desenvolvimento de maneira responsável e cuidadoso em um mundo onde o processo da globalização já ditava as regras do desenvolvimento econômico. Disto isto, as nações reuniam-se para discutir o rumo do desenvolvimento econômico e a conservação ambiental, para isso documentos como o Protocolo de Montreal (1987), o Relatório de Brundtland (1987) e a Convenção da Basiléia (1989), foram discutidos e assinados como o primeiro passo para a disseminação do conceito de desenvolvimento sustentável. A década de 90 veio para afirmar a necessidade de manter o equilíbrio ambien- tal e a preocupação com o uso indiscriminado e nocivo dos recursos não renováveis; aqueles a beira da extinção; a necessidade da reciclagem e racionalização de fontes energéticas. Tudo isso visando um único objetivo que é a qualidade de vida e conse- quente qualidade ambiental. Ações isoladas não mais surtiam efeitos, por isso a Rio - 92 mostrou ao discutir temas ambientais globais que eram alvos de preocupações de cientistas e de toda a humanidade. Questões como: biodiversidade, aquecimento glo- bal e desenvolvimento sustentável eram a “bola da vez”. 25 Entretanto, em 1989 a ONU, in- terviu a discussão ambiental, e exigiu que se criassem estratégias que servis- sem para deter e modificar os efeitos da degradação ambiental, então duran- te a Rio-92 foi aprovada a Agenda 21. Este documento, em escala mundial, procura traduzir em ações o conceito de desenvolvimento sustentável e res- gata o termo “Agenda” no seu sentido de intenções, desígnio, desejo de mu- danças para um modelo de civilização em que possa predominar o equilíbrio ambiental e a justiça social entre as nações. Constitui a mais ousada e abrangente tentativa já realizada de promover, em escala planetária, um novo padrão de desenvolvimento. Na sua formalização contribuíram gover- nos e instituições da sociedade civil de 179 países num processo preparatório que durou dois anos A Agenda 21 define estratégias as quais, deveriam ser executadas até o século XXI pelas nações e Organizações Governamentais ou não. Este docu- mento constitui um grande plano de ação mundial, voltado para alcançar o desenvolvimento sustentável, porém recomenda ações de cunho local com propostas de planejamento voltadas para a relação socioeconômica e a con- BHOPAL – Na madrugada de 03/12/1984, uma nuvem tóxica de isocianato de metila causou a mor- te de milhares de pessoas na cida- de de Bhopal, a capital de Madya- Pradesh, na Índia central. A emis- são foi causada por uma planta do complexo industrial da Union Car- bide situada nos arredores da cida- de, onde existiam vários bairros marginais. O isocianato de metila é um produto utilizado na síntese de produtos inseticidas, comercial- mente conhecidos como “Sevin” e “Temik”, da família dos carbama- tos, utilizados como substitutos de praguicidas organoclorados, como o DDT.Em condições normais, o isocianato de metila é líquido à temperatura de 0º C e pressão de 2,4 bar. Na noite do acidente, a pressão dos tanques de armaze- namento se elevou mais de 14 bar e a temperatura dos reservatórios se aproximou de 200º C. A causa provável do aumento da pressão e da temperatura foi atribuída à en- trada de água num dos tanques causando uma reação altamente exotérmica. (Fonte: Disponível em: http://www.cetesb.sp.gov.br/emer gencia/riscos/acidentes/bhopal.asp Acesso em: 17 jul. 2010). 26 servação ambiental. Ainda na década de 90 a Inglaterra, estabeleceu aquelas que seri- am as normas britânicas BS7750 – Specification for Environmental Management Sys- tems (Especificações para Sistemas de Gestão Ambiental) e que serviram de base para a confecção de normas ambientais a serem utilizada mundialmente. Estas normas visa- ram à conservação do meio ambiente e o desenvolvimento sustentável. A sustentabilidade tornou-se um conceito pertinente, e reforçado por outros conceitos de premiações e certificações. Mas, com a Rio + 10, alguns temas chaves voltaram a ser discutidos e dentre eles, compatibilização entre globalização e desen- volvimento sustentável. O terreno para alcançar a sustentabilidade delineava-se com compromissos oficializados e assinados pelos países. Porém, levar esses compromissos à prática é o desafio para implementar de fato as metas estabelecidas pela Agenda 21. O objetivo é modificar padrões de produção, consumo e uso dos recursos naturais, priorizando menos gastos energéticos e produção de menos resíduos. Posto tudo isso, pergunta-se o que de fato é sustentabilidade e será que a humanidade pode concretizá-la? De acordo com a ONU (2002), a população mundial atingirá um nível elevado até 2050, isso implica no aumento da produção e da exploração dos recursos naturais. Para evitar um colapso ambiental, a batalha pelo desenvolvimento sustentável torna- se fundamental contra a degradação. Alguns modelos de desenvolvimento classifica- dos de acordo com o tipo de interação homem natureza são sugeridos por José Maria G. de Almeida Jr. (1990/1994), Tais como: Equilibrada Tipo I Cooperativo: favoráveis ao homem e ao ambiente. Sociedades tribais: Agricultura Kaiapó. Equilibrada Tipo II Competitivo desfavorável ao homem e ao ambiente. Desastres ambientais, degra- dação ambiental excessiva. Equilibrada Tipo I Conflito egoísta: favorável ao homem e desfavorável ao am- biente. Modelo usual, perdas ambien- tais e ganhos socioeconômicos. Equilibrada Tipo II Conflito altruísta: desfavorável ao homem e favorável ao am- biente. Manutenção de unidades de conservação e Prioridade so- bre a proteção de espécies. Fonte: Adaptado de: ALMEIDA JR., José Maria G. de, 1990, 1994. 27 De acordo com o autor, no mun- do real todos estes modelos básicos interagem, ainda que com prevalência de um ou de outro, por um certo tempo ou durante o tempo todo, em função das circunstâncias. Prevalece, porém, o quadro atual de crise ambiental planetá- ria resultante da preponderância ao longo da história de evolução humana, especialmente a partir da Revolução Industrial, de padrões interativos homem-ambiente que se caracterizam por crescentes ganhos socioeconômicos para o homem, ao preço de crescentes perdas ecológicas para o am- biente, ou seja, modelo “desequilibrado/conflito” – Tipo I. O autor traz também a reflexão onde não há como analisar os padrões de inte- ração do homem-ambiente sem recorrer aos referenciais de valores e de percepção humana que sustentam estes padrões. E são estes que precisam ser modificados para evitar os inúmeros problemas ambientais que tem afligido toda humanidade. Para isso há algumas ações de cunho social que deverão ser intensificadas como: o acesso a educação;o incentivo ao planejamento familiar e acesso a saúde. No que concerne a educação, esta perpassa pela proposta de educação formal e não formal, que se fará valer pelo grau de formação, conhecimento e compreensão do sujeito. Conteúdo 3 – Sociedade global: mobilizações em torno da questão ambiental Dada a compreensão desta dinâmica globalizante da problemática ambiental – que desconhece fronteiras e limites administrativos – emerge, a partir dos anos 1950, uma articulação internacional formalizada em diversos encontros e eventos voltados ao tratamento da questão. Ampliam-se, a partir de então, leituras críticas quanto ao próprio processo de desenvolvimento, entendido como ambientalmente insustentável. Em 1972 tem início a preocupação com o esgotamento dos recursos naturais, surgida a partir do relatório The Limits to Growth (Os Limites do Crescimento), divul- 28 gado pelo Clube de Roma, onde se fazia uma previsão bastante pessimista do futuro da humanidade, caso as bases do modelo de exploração não fossem mo- dificadas. A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Huma- no, realizada em Estocolmo nesse mes- mo ano, contribuiu decisivamente para o surgimento de políticas de gestão ambiental e, em especial, chamou a atenção para a necessidade de se criar um “Programa Inter- nacional de Educação Ambiental”. A recomendação nº 96 da Conferência reconhecia o desenvolvimento da Educação Ambiental como um dos elementos críticos para o combate à crise ambiental. Nessa conferência foi criado o Programa das Nações Uni- das para o Meio Ambiente (PNUMA). No âmbito das preocupações das instituições públicas, tanto nacionais como internacionais, a Organização das Nações Unidas para a Educação e a Cultura (UNESCO), criou em 1975, em colaboração com o PNUMA, o Pro- grama Internacional de Educação Ambiental (PIEA), destinado a promover, nos países membros, a reflexão, a ação e a cooperação internacional. Dos diversos seminários e oficinas promovidos pela UNESCO e o PNUMA, em diversos países, para tratar sobre o tema, merece destaque o Seminário Internacional de Educação Ambiental, realizado em Belgrado, capital da antiga Iugoslávia, também em 1975, tendo como resultado a “Carta de Belgrado”, que estabeleceu como meta ambiental “melhorar as relações ecológicas, incluindo as do homem com a natureza e as dos homens entre si.” E, como meta da Educação Ambiental, garantir que a população mundial tenha consciência do meio ambiente e se interes- se por ele e por seus problemas conexos e que conte com os conhecimentos, atitu- des, motivação e desejos necessários para trabalhar individual e coletivamente na busca de soluções dos problemas atuais e para prevenir os que possam aparecer. A Carta de Belgrado indicava para a necessidade de se repensar o modelo de desenvolvimento e o conceito de “qualidade de vida”, que não significa, necessaria- mente, abundância de recursos materiais, mas a forma como o homem relaciona-se com os recursos à sua disposição, devendo este evitar o desperdício, os excessos e a 29 imprevidência, causadores da pobreza e da miséria social. No entanto, o documento Nosso Futuro Comum, também conhecido como Relatório Brundtland, elaborado em 1987, é que veio definitivamente incorporar a sustentabilidade ambiental nas ações desenvolvimentistas. A partir da publicação desse documento uma nova tendência foi assinalada mediante o esforço da Comissão Mundial de Meio Ambiente das Nações Unidas, que, após analisar os conflitos entre desenvolvimento econômico e proteção ambiental, promoveu uma série de discussões e mobilização política, introduzindo a temática ambiental nos debates sobre política econômica, relações internacionais e em outros temas de difícil penetração. A partir desse Relatório surge o conceito de “Desenvolvimento Sustentável” como sendo “aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibi- lidade de as gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades”. A UNESCO e o PNUMA ampliam a discussão sobre o tema promovendo a primeira Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental, realizada em Tbilisi, na Geórgia, em 1977. Os principais pontos enfocados foram: os problemas ambientais da sociedade contemporânea; pressupostos da educação para contribuir na resolução dos problemas ambientais; ativi- dades implementadas em nível nacional e internacional com vistas ao desenvolvimento da educação ambiental e estratégia de implementação. No seu final, o evento reuniu orienta- ções fundamentais que foram incorporadas ao marco teórico da Educação Ambiental, constituindo-se em um ponto de partida para muitos países elaborarem seus programas e instituírem políticas públicas direcionadas para a área. Após essa Conferência o meio ambiente passou a ser compreendido “não somente como o meio físico biótico, mas, também, o meio social e cultural, e relaciona os proble- mas ambientais com os modelos de desenvolvimento adotados pelo homem.” Enfatiza que a educação ambiental deve “preparar o indivíduo mediante a compreensão dos principais problemas do mundo contemporâneo, possibilitando-lhe conhecimentos téc- nicos e as qualidades necessárias para desempenhar uma função produtiva com vistas 30 a melhorar a vida e proteger o meio ambiente considerando os valores éticos”. Assim, a educação ambiental passa a adotar um enfoque global, interdisciplinar, reconhecendo a existência de uma profunda interdependência entre o meio natural e o meio artifici- al. Foram destacados ainda aspectos importantes no que se refere à função, aos obje- tivos e aos princípios norteadores da Educação Ambiental. Após dez anos da Conferência de Tbilisi, foi realizada em Moscou, a se- gunda Conferência Intergovernamental sobre Educação e Formação Ambiental, onde foram analisadas as conquistas e dificuldades ocorridas na área de Edu- cação Ambiental nos últimos dez anos. Foram constituídas novas estratégias para a formação de educadores ambientais, im- plantado o uso de meios de comunicação como ferramenta essencial para a EA, incen- tivando as pesquisas e metodologias para essa área. Em 1997 foi realizada em Tessalô- nica, na Grécia, a Conferência Internacional sobre Meio Ambiente e Sociedade, com o tema Educação e Conscientização Pública para a Sustentabilidade. Promovida pela UNESCO, o fórum reconheceu o desenvolvimento insuficiente da EA, tendo como re- sultado uma declaração que apresenta algumas conclusões importantes: a reorienta- ção da educação formal para a sustentabilidade; a retomada dos currículos e das mo- dalidades do ensino; o trabalho em conjunto e a integração entre os aspectos sociais e culturas dentro da ética, permeando a sustentabilidade em sua totalidade. 1. Educação ambiental no Brasil A institucionalização da educação ambiental no Brasil tem início a partir da cri- ação da Secretaria de Meio Ambiente (SEMA), em 1973, para atender às exigências internacionais emergentes na área ambiental. O processo de educação ambiental de- senvolvido pela SEMA tem um enfoque interdisciplinar, voltado para a capacitação de recursos humanos e para a sensibilização da sociedade. No Brasil, o conceito legal de meio ambiente encontra-se disposto no art. 3º da Lei nº. 6.938/81, que dispõe sobre os fins, mecanismos de formulação e aplicação da Política Nacional do Meio Ambiente, 31 que diz que meio ambiente é “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. Notamos que se trata de uma definição bastante naturalista e limitada na sua abrangência. O conceito de meio ambiente deve ser global, abrangendo a natureza original e artificial, assim como o patrimônio histórico, artístico e cultural. Essa mesma Lei estabelece no seu décimo princípio: “educação ambiental a todosos níveis do ensino, inclusive a edu- cação da comunidade, objetivando capa- citá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente.” No âmbito da política educacional, o então Conselho Federal de Educação (CFE) manifestou-se, ressaltan- do a urgência da “formação de uma cons- ciência pública voltada para a preserva- ção da qualidade ambiental”, indicando o seu caráter interdisciplinar e recomendando a criação de Centros de Educação Ambiental no País. No entanto, só a partir da Constituição Brasileira, de 1988, a educação ambien- tal passa a ter maior ênfase e amplitude. É dedicado o Capítulo VI ao Meio Ambiente que, em seu Artigo 225, Inciso VI, destaca a necessidade de “promover a Educação Ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente”, cabendo essa tarefa ao poder público. Ainda no mesmo artigo, refere-se ao “Meio Ambiente ecologicamente equilibrado”, amplia essa responsabili- dade quando impõe não apenas ao poder público, mas à “coletividade o dever de de- fendê-lo e preservá-lo para as presentes e as futuras gerações”. A Constituição Federal foi um grande motivador para desencadear no País a inclu- são da Educação Ambiental nas Constituições Estaduais, assim como nas Leis Orgâ- nicas dos municípios, passando o tema a ser contemplado, a partir daí, nas três ins- tâncias da administração pública. Estas reflexões serviram de fundamentação teórica às principais propostas le- vadas à Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento – 32 CNUMAD, realizada em 1992, na cidade do Rio de Janeiro. Esse evento representou o ponto alto da consciência planetária em torno da importância vital de submeter as necessidades do desenvolvimento aos limites toleráveis pela natureza. Com referência à Educação Ambiental, a Declaração do Rio reafirma a Declara- ção de Estocolmo, e reconhece: “A natureza integral e interdependente da Terra, ob- servando o estabelecimento de acordos internacionais que respeitem os interesses de todos e protejam a integridade do meio ambiente global e o sistema de desenvolvi- mento”. O documento teve como objetivo estabelecer uma nova e justa parceria glo- bal através da criação de novos níveis de cooperação entre os Estados e setores impor- tantes da sociedade. A Rio-92 reconheceu a necessidade da mútua colaboração entre os países para reequilibrar as relações do homem com o meio ambiente. Um programa de ações con- juntas com o objetivo de promover em escala planetária um novo estilo de desenvol- vimento foi o compromisso assumido pelos 179 países, reunidos na Conferência tam- bém conhecida como Cúpula da Terra. O Ministério da Educação, presente na Rio-92, promoveu um Seminário sobre Educação Ambiental originando um outro documento, a “Carta Brasileira para a Educação Ambiental”, destacando “a necessidade de um compromisso real do poder público federal, estadual e municipal, no cumprimento da legislação ambiental”. Um outro marco importante para a educação ambiental, ainda no âmbito da Rio-92, foi a realização do Fórum Global, evento paralelo promovido pelas Organiza- ções Não-Governamentais (ONG), marcando uma ampla participação da sociedade civil nacional e internacional. Como resultado foi elaborado o “Tratado de Educação Ambi- ental para as Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global”, contendo os princí- pios norteadores da Educação Ambiental para o desenvolvimento sustentável, com ênfase nas ações não formais, reconhecendo ainda a “educação como um processo dinâmico em permanente construção”. Dos vários documentos internacionais assinados na Conferência, destaca-se a Agenda 21, elaborada como um plano de ação estratégica para o Desenvolvimento Sustentável Global. O documento, que contém princípios e recomendações a serem adotados para se alcançar o desenvolvimento sustentável, acentua: “[...] as maiores causas da continuada deterioração do meio ambiente global são os insustentáveis pa- drões de produção e consumo, particularmente nos países industrializados”. 33 A Agenda 21, no seu conteúdo, faz uma crítica ao modelo de desenvolvimento vigente, considerado injusto socialmente e perdulário do ponto de vista ambiental. Para fazer frente a esse modelo, a capacitação e a educação ambiental contemplada na Agenda 21 são assinaladas como de fundamental importância para a reorientação da educação escolar básica como condição para o desenvolvimento econômico e social e a conservação do meio ambiente; ampliação da conscientiza- ção pública, que compreende as ações destinadas às comunidades urbanas e rurais, visando sensibilizá-las sobre os problemas ambientais e de desenvolvimento, crian- do canais de participação na busca de soluções urgentes e atribuindo responsabili- dades individual e coletiva em relação ao meio ambiente e; incentivo ao treinamen- to, destinado à formação e à capacitação de recursos humanos para atuarem na conservação do meio ambiente e como agentes do desenvolvimento sustentável. Para assegurar o pacto estabelecido na Agenda 21 ficou claro que os governos têm a prerrogativa e a responsabilidade de deslanchar e facilitar o processo de imple- mentação da Agenda 21 em todas as escalas, estendendo-se essa convocação a todos os segmentos da sociedade, considerados “atores relevantes” e “parceiros do desen- volvimento sustentável”. O famoso lema ecológico “Agir local, pensar global” já expressa a compreensão de que as realidades locais são profundamente afetadas por ações, decisões e políticas definidas internacionalmente. A remessa de toneladas de resíduos tóxi- cos dos paises industrializados para o Terceiro Mundo, a ação da chuva acida em uma região diferente daquela que a produz e os desequilíbrios climáticos são exemplos disso. Muitas vezes, um impacto ambiental localizado é fruto de deci- são gerada no bojo das correlações de força e dos princípios da chamada nova ordem econômica mundial. A pressão para liberação da produção de sementes transgênicas no Brasil é outro exemplo que envolve tomada de decisão relacio- nada ao comércio e as esferas de interesses econômicos internacionais, a qual terá impactos profundos sobre consumidores de produtos rurais, particularmen- te de pequenos produtores, e sobre o consumo de alimentos transgênicos, com implicações para toso o pais. 34 Em decorrência da necessidade de uma melhor instrumentalização legal para respaldar as ações de Educação Ambiental no Brasil, foi criado em 1994, o Programa Nacional de Educação Ambiental – PRONEA. Os princípios que nortearam este Progra- ma foram os mesmos estabelecidos, aprofundados e consolidados na Conferência de Tbilisi, contemplando linhas de ação que acarretam objetivos, e estratégias apropria- das; subsídios políticos para adequação do programa por outras instâncias da adminis- tração pública; bem como propõe diretrizes para viabilizar ações com a participação da sociedade civil. Em 1996 foram criados pelo Minis- tério da Educação e Cultura os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), que consis- tem na inserção de novos temas no pro- cesso de ensino-aprendizagem, denomi- nados como “Temas de Relevante Interesse Social”, sendo o “Meio Ambien- te” um dos temas que passam a integrar os considerados “Temas Transversais” ao currículo. A inclusão da variável ambiental nos currículos consiste no entendimento de que a educação escolar deve estar fundamentalmente voltada para a construção de cidadãos, conscientes de suas atribuições políticas e sociais, com condições de posicio- nar-se de forma crítica e responsável nas diferentes situações sociais. Em termos edu- cacionais essa perspectiva contribui para evidenciar a necessidade de um trabalho que esteja em consonância com os princípios da dignidade do ser humano, da participação, da co-responsabilidade, da solidariedade e da equidade. Vinte anos depoisde Tbilisi, o Brasil realiza em 1997, em Brasília, sua primeira Conferência Nacional de Educação Ambiental, espaço onde se refletiu sobre as práti- cas, avaliou-se as tendências e se identificou as perspectivas e estratégias da Educação Ambiental no País. Dentre os pontos abordados, destaca-se a importância da educação em suas diversas modalidades como um meio indispensável para dar a todos os homens e mulheres do mundo a capacidade para conduzir suas próprias vidas, exercitar suas opções pessoais, e a responsabili- dade para viver uma vida sem fronteiras, sejam políticas, geográficas, culturais, re- ligiosas, linguísticas ou de gênero. 35 Contudo, o grande marco para a história da educação ambiental no Brasil, é atri- buída à instituição da Política Nacional de Educação Ambiental, Lei nº 9.795/99. Resul- tado de um amplo debate com a sociedade civil, o documento reflete o entendimento e a compreensão dos princípios e recomendações obtidos para a educação ambiental ao longo dessas duas décadas. Esta Lei apresenta alguns avanços que merecem ser destacados: a educação ambiental passa a ser reconhecida como um componente permanente da educação nacional, adquire um espaço privilegiado de ação, inserindo- se no âmbito da educação formal e dos processos educativos não-formais; estabelece que o poder público ao definir políticas públicas, deve incorporar a dimensão ambien- tal, fortalecer a Educação Ambiental no âmbito escolar e criar mecanismo de participa- ção para que a sociedade seja um parceiro nos processos de gestão ambiental. A temática ambiental tem sido tratada de maneira diferente segundo três ins- tancias de atividade dos homens: ciência, artes e atividades políticas. Nas ciências a abordagem faz parte de sua própria origem, e elas evidentemente a tratam segundo a característica de cada momento histórico de seu desenvolvimento. O que hoje se vê difundido, prin- cipalmente na mídia, do que seja o meio ambiente, não foi assim desenvolvido pela ciência ao longo de sua trajetória, até porque o momento atual exige uma reflexão e um tratamento diferenciado da questão ambiental. Estamos diante de um mundo globalizado, individualis- ta, egoísta e principalmente capitalista, onde as questões ambientais são descaracterizadas, por se acreditar que elas sejam um entrave ao desenvolvimento econômico. Quando nos referimos à temática intitulada Consciência Ambiental, estamos nos reportando ao trabalho de sensibilização que o professor deve incorporar a sua práxis pedagógica, objetivando desperta no aluno o interesse pela preservação do am- biente em que ele vive, pois, de uma questão de sobrevivência, atribuída aos povos primitivos, a natureza passa a ser vista como fonte de energia, de prazer e de status. A natureza deveria ser conhecida, dominada e usada, mas quando começaram a surgir os grandes problemas ecológicos da segunda metade do século XX, ela passa a ser tida como algo em risco, por causa da violência das sociedades humanas. Assim, 36 cada vez mais tornou-se absolutamente necessário, proteger a natureza e corrigir os erros que os homens cometeram em busca de suas necessidades e ambições, estabe- lecendo relações complexas entre os grupos humanos. O despertar da consciência ecológica, principio e fim de uma educação ambien- tal é substanciada por uma nova razão crítica, que percebe as relações de poder de caráter dominador e explorador, que desestruturam que rompem laços, produzem cisão, que degradam homem e natureza. É preciso desenvolver uma educação ambien- tal do “ser amoroso”, que estabelece elos com o mundo (LEIS, 1999), a do “saber cui- dar” como uma “ética do ser humano de compaixão pela Terra” (BOFF, 1999). Essa Educação Ambiental, que visa à sustentabilidade da vida do planeta, se estabelece no movimento que provoca rupturas e religações fundantes de um novo paradigma. Morin (1997) afirma que nossa educação nos ensinou a separar e a isolar as coisas. Separamos o objeto de seu contexto, separamos a realidade em disciplinas compartimentadas umas das outras. Mas, como a realidade é feita de laços e interações, nosso conhecimento é incapaz de perceber o complexus – o tecido que junta o todo. O ambiente como uma realidade complexa é aquele que interconecta o que está dentro e fora da escola, está na realidade local e global, está na reserva ambiental, está no social e no ambien- tal. Portanto, Educação Ambiental que assim concebe ambiente, é uma propos- ta aberta ao novo, a uma nova visão de mundo que procura romper com os pa- radigmas de disjunção (MORIN, 1997) que constituíram o modelo de socieda- de contemporânea, produtora de graves problemas socioambientais da atualida- de. A realidade socioambiental se inter-relaciona de forma interdependente, não sen- do aspectos isolados da realidade. A natureza do problema está, portanto, no atual Edgard Morin 37 modelo de sociedade, fragmentária, reducionista, individualista, consumista e concen- tradora de riqueza, exploratória, que se volta para a degradação, antagônico às carac- terísticas de uma natureza que é complexa, coletiva, sistêmica, sinergética, que recicla e que se volta para a vida. Conteúdo 4 – Organizações Não Governamentais (ONG) Devido ao aumento dos movi- mentos ambientalistas iniciado na déca- da de 60, uma onda de denúncias contra a degradação ambiental, também se fazia equivalente e paralelo a tudo isso, nascia organizações em prol meio ambi- ente, das quais cita-se o Greenpeace. O movimento do Greenpeace é destacado, pois, configurou-se como uma “guerrilha verde”, iniciada na década de 60, quando a guerra do Vietnã eclodia e os movimentos avessos a guerra nos Estados Unidos paira- vam nas universidades entre os intelectuais. Esse contexto fez com que manifestantes se dirigissem para a fronteira ocidental entre os Estados Unidos e o Canadá, bloquean- do-a. Essa manifestação se deu por motivo não tão próximo, mas por defesa de um território situado no Alasca, denominado de Ilha Amchitka. Esse pequeno relato denota o sentido do Greenpeace que surgiu dentro de um processo de tomada de consciência, concretizado por um protesto que estava em ou- tro território e que os envolvidos externalizavam a preocupação com futuro da huma- nidade. Firmava-se a consciência cidadã planetária. Nas décadas subsequentes, a soci- edade organizou-se em grupos, minorias, que estabeleceram uma linguagem, reorganizando as ações de compreensão do homem em relação ao meio ambiente e dos homens entre si. Assim, as organizações não governamentais (ONG) surgem para dar uma importância nessa relação homem-natureza, estabelecendo novas diretrizes de representação e tomadas de decisão. 38 A militância ambiental ocorreria nas mais variadas vertentes e necessidades do homem e do planeta, onde as iniciativas particulares deslocavam-se para um padrão de adesão mais coletiva coordenadas por ações planejadas. Este processo de dimensão internacional repercutiu imediatamente na quantidade de ONG formadas e envolvidas na questão ambiental. Era a forma da sociedade civil se organizar como uma nova for- ça de pressão aliada às vezes, ao poder público e a iniciativa privada. O Greenpeace é um exemplo desse processo de organização civil que espa- lhou-se como semente, gerando frutos ou seja, servindo de modelo para o surgimen- to de outras Organizações não governa- mental. No Brasil as ONG surgem com atra- so, mas, o cenário participativo da sociedade civil era permanente. No perío- do de 70 alguns grupos ambientalistas nas- ceram, esses tinha a localização nas princi- pais cidades das regiões Sul e Sudeste do país e constituíam-se em pequenos grupos de ativistas que tinham o apoio financeiro de simpatizantes e objetivava a denúncia de problemas de degradação ambiental. Viola et al., (1987) ressalta que, o crescimento dos grupos ambientalistas
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