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O COTIDIANO ESCOLAR E A AÇÃO PEDAGÓGICA Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS Autoria: Mônica Maria Baruffi CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Cristiane Lisandra Danna Norberto Siegel Camila Roczanski Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Bárbara Pricila Franz Marcelo Bucci Revisão de Conteúdo: Lúcia Cristiane Moratelli Pianezzer Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2018 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. B295o Baruffi, Mônica Maria O cotidiano escolar e a ação pedagógica. / Mônica Maria Baruffi – Indaial: UNIASSELVI, 2018. 144 p.; il. ISBN 978-85-53158-58-4 1.Educação – Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 370 Impresso por: Mônica Maria Baruffi Possui graduação em Pedagogia pela Fundação Universidade Regional de Blumenau (1990) e Mestrado em Educação pela Fundação Universidade Regional de Blumenau (2005). Atualmente é Docente da EAD da SOCIEDADE EDUCACIONAL LEONARDO DA VINCI S/S LTDA, e Professora do Governo do Estado de Santa Catarina. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Currículo , Didática e a Formação do Professor como também Políticas Educacionais. Palestrante na área relativa a Educação envolvendo temas como Alteridade, Identidade e Formação do Professor. Pesquisadora do Grupo de Estudos Filosofi a e Educação - EDUCOGITANS , do Programa Mestrado em Educação da Universidade Regional de Blumenau - FURB - Blumenau-SC. Sumário APRESENTAÇÃO ..........................................................................07 CAPÍTULO 1 O Contexto Educacional Brasileiro ........................................09 CAPÍTULO 2 A Estrutura Escolar ..................................................................41 CAPÍTULO 3 CAPÍTULO 4 Gestão Democrática – Participativa ..........................................71 Os Desafios do Coordenador Pedagógico na Escola Atual ............................................................................................105 APRESENTAÇÃO Na disciplina “O cotidiano escolar e ação pedagógica” estudaremos sobre a análise crítica e de conjunto da prática do coordenador pedagógico e demais atores escolares. Em cada capítulo você verá: Capítulo 1 – O Contexto Educacional Brasileiro, com a constituição brasileira e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional; A organização do ensino nas diversas leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional; A construção da escola pública e seus progressos e impasses, além das tendências pedagógicas e sua influência na identidade da escola. Capítulo 2 – A estrutura escolar, com sua organização e gestão escolar; O papel dos elementos formadores da escola e a organização escolar e a cultura organizacional – teoria e prática. Capítulo 3 – Gestão democrática participativa, enfocando a organização e a gestão escolar com suas concepções; Conceituando democracia e participação na escola democrática; Princípios da gestão escolar democrática participativa; O coordenador pedagógico no cotidiano escolar e as relações entre coordenador pedagógico e o diretor. Capítulo 4 – Os desafios da escola atual através do papel do coordenador pedagógico junto aos professores no cotidiano escolar; Os desafios sociais que a escola enfrenta: violência ou conflitos? E o conflito que pode tornar-se violência nas escolas e integração escola e comunidade neste enfrentamento. Esperamos que você faça uso deste material com muito carinho e que ele possa auxiliá-lo no crescimento profissional que você busca. A autora CAPÍTULO 1 O CONTEXTO EDUCACIONAL BRASILEIRO A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Reconhecer os aspectos históricos que envolvem a Constituição Brasileira e a Lei de Diretrizes e Bases. Perceber que a construção da escola pública passa por diversos impasses e progressos. Reconhecer as tendências pedagógicas que infl uenciaram e infl uenciam a identidade e a organização da escola brasileira. 10 O COTIDIANO ESCOLAR E A AÇÃO PEDAGÓGICA 11 O CONTEXTO EDUCACIONAL BRASILEIRO Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Ao tratarmos do contexto educacional brasileiro estamos entrando em um mundo diferenciado, no qual encontramos profundas raízes no desenvolvimento da educação de diversas gerações. Estas raízes nos levam às leis que regem nossa educação e, consequentemente, uma estrutura chamada escola que, em seu dia a dia, necessita de estruturação e organização pedagógica. Por isso, estaremos tratando neste primeiro capítulo sobre estes documentos, sua validade e necessidade de utilização. Estaremos ainda buscando, inicialmente, um conhecimento macro de como o sistema educacional brasileiro está estruturado, por meio das políticas educacionais, partindo da Constituição Federal, caminhando pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB – e chegando à escola. Iremos também compreender que a construção da escola pública passa por diversos impasses e progressos e que as tendências pedagógicas auxiliam na construção da Identidade da escola, conhecendo seu cotidiano. Assim, podemos perceber que o objetivo inicial deste capítulo é tratar sobre o contexto educacional brasileiro, buscando as leis que regem esta estrutura e como a escola é vista neste processo através das tendências pedagógicas existentes em nosso meio. Haverá muito a ser estudado e descoberto, assim, convidamos você, leitor, a realizar esta caminhada conosco por estas páginas. 2 A CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA E A LDB Quando falamos em escola, diretamente nos deparamos com sua formação organizacional, a qual necessita de leis que auxiliem no desenvolvimento de seus trabalhos. Com isso, podemos realizar uma busca histórica junto a documentos que balizam o desenvolvimento do trabalho educacional. Estes documentos são a Constituição Federal e a LDB. 12 O COTIDIANO ESCOLAR E A AÇÃO PEDAGÓGICA A Constituição Federal é conhecida como a “Carta Magna” de um país democrático. Nós, brasileiros, possuímos nossa Constituição, a qual aborda em suas linhas todos os direitos e deveres do cidadão, trazendo os princípios fundamentais que cada cidadão deve conhecer e que são a base da Constituição, a qual “expressa os valores mais altos da sociedade, de tal forma que integrado na ordem Constitucional, passa a orientar todas as demais normas e regras do ordenamento jurídico que ela baliza” (MACHADO, 2016, p. 3). Com isso podemos perceber que a Constituição é um documento de extrema importância, pois determina a ordem de disciplina que se não seguir as regras ali presentes estará sob “pena de, não o fazendo, ser considerada inconstitucional, justifi cando sua exclusão do ordenamento jurídico” (MACHADO, 2016, p. 3). Bem, desta forma, podemos verifi car que estamos diante de um documento que estabelece a identidade de um estado democrático, que deve ser respeitado, conseguindo desta maneira manter a ordem e o progresso do país. Podemos verifi car assim, que nosso país passou por várias constituições, sendo a Primeira Constituição a Imperial, em 1824, e até hoje passamos por sete, sendo que a que está prevalecendo é a Constituição Federal de 1988. Para sua melhor compreensão, elaboramos um quadro no qual estão todas as Constituições e seus fatos determinantes relativos à educação, que é nosso foco de estudos neste capítulo. CONSTITUIÇÃO / ANO FATOS DETERMINANTES Constituição Imperial /1824Ato Institucional / 1834 Incorporou a iniciativa de implantação de colégios e uni- versidades ao conjunto de direitos civis e políticos, além de fi xar a gratuidade do ensino primário. O processo ge- rencial fi cou aos cuidados da coroa e, quatro anos mais tarde, instalam-se as câmaras municipais que fi cam com a responsabilidade de inspecionar as escolas primárias. A declaração do Ato Institucional criou as Assembleias Legislativas Provinciais, cabendo-lhes a atribuição de legislar sobre instrução pública. Ocorre aqui a elitização do ensino, pois a maioria das escolas secundárias abrigava-se em mãos de particulares, o que por si só representava uma elitização da escola, dado que so- mente famílias de posse poderiam custear os estudos de seus fi lhos. A escola que se queria buscava a tradição da educação aristocrática, totalmente voltada para os fre- quentadores da corte e, portanto, para os destinatários do ensino superior, em detrimento dos demais níveis de ensino. QUADRO 1 – CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS 13 O CONTEXTO EDUCACIONAL BRASILEIRO Capítulo 1 Constituição Republicana / 1891 Trouxe mudanças signifi cativas na educação. Ao Con- gresso Nacional foi atribuída a prerrogativa legal exclu- siva de legislar sobre ensino superior. Ainda poderia criar escolas secundárias e superiores nos estados, além de responder pela instrução secundária do Distrito Feder- al. Aos estados cabia legislar sobre o ensino primário e secundário, implantar e manter escolas primárias, se- cundárias e superiores. Nestes dois últimos casos, o gov- erno federal poderia, igualmente, atuar. Constituição / 1934 Coube à União Federal, a tarefa de fi xar as diretrizes e bases da educação nacional. Criou, também, o Consel- ho Nacional de Educação, e os estados e o Distrito Fed- eral ganharam autonomia para organizar seus sistemas de ensino e, ainda, instalar conselhos estaduais de edu- cação com idênticas funções das do Conselho Nacional, evidentemente, dentro dos âmbitos de suas jurisdições. A União recebeu a tarefa de institucionalizar e elaborar o Plano Nacional de Educação, com dois eixos funda- mentais: organização do ensino nos diferentes níveis e áreas especializadas e a realização de ação supleti- va junto aos estados, seja subsidiando com estudos e avaliações técnicas, seja aportando recursos fi nanceiros complementares. Constituição / 1946 No clima de afi rmação democrática que invadiu o mundo no ambiente do pós-guerra, buscou-se um eixo repre- sentado por um conjunto de valores transcendentais que tinham, na liberdade, na defesa da dignidade humana e na solidariedade internacional, os dormentes de sus- tentação. Proclamava a educação como um direito de todos. Nesta Carta de 1946, prescreveu uma organização equilibrada do sistema educacional brasileiro, mediante um formato administrativo e pedagógico descentraliza- do, sem que a União abdicasse da responsabilidade de apresentar as linhas mestras de organização da edu- cação nacional. Neste documento, há muito das ideias e do espírito do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova de 1932. Foi a partir desta percepção que o Min- istro da educação de então, Clemente Mariani, ofi cial- izou a comissão de educadores para propor uma refor- ma geral da educação nacional. Aqui, a origem da Lei nº 4.024/61, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nossa primeira LDB, somente aprovada pelo Congresso Nacional depois de uma longa gestação de onze anos. Ainda neste momento, o Ministério da Educação e Cultu- ra passa a exercer as atribuições de poder público feder- al em matéria de educação. 14 O COTIDIANO ESCOLAR E A AÇÃO PEDAGÓGICA Constituição /1967 Pautada sob a inspiração da ideologia da segurança na- cional, o ensino particular recebeu amplo apoio e forta- lecimento. Ocorreu a ampliação da obrigatoriedade de ensino fundamental de 07 até 14 anos, aparentemente grande conquista, pois confl itava com outro preceito que permitia o trabalho de crianças com 12 anos. Nisto, contrastava com a Carta de 1946, que estabelecia os 14 anos de idade como idade mínima para o trabalho de menores. Retirava-se a obrigatoriedade de percentuais do orçamento destinados à manutenção e desenvolvi- mento do ensino. Constituição / 1969 Preservaram-se todos os ângulos da constituição an- terior. Os recursos orçamentários vinculados ao ensino fi caram restritos aos municípios que se obrigavam a aplicar, pelo menos, 20% da receita tributária no ensino médio. O lado mais obscurantista deste texto foi relativo às atividades docentes. A escola passou a ser palco de vigilância permanente dos agentes políticos do Estado. Neste período, editaram-se vários Atos Institucionais que eram acionados, com muita frequência, contra a liberdade docente. Constituição / 1988 Esta constituição signifi cou a reconquista da cidadania sem medo. Nela, a educação ganhou lugar de altíssima relevância. O país inteiro despertou para esta causa co- mum. As emendas populares calçaram a ideia de edu- cação como direito de todos (direito social) e, portanto, deveria ser universal, gratuita, democrática, comunitária e de elevado padrão de qualidade. Em síntese, transfor- madora da realidade. Aqui, as universidades passaram a gozar de autonomia didático-científi ca administrativa e de gestão fi nanceira e patrimonial, e a obedecer ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. FONTE: Carneiro (2015, p. 29-32) Podemos verifi car que nesta linha histórica encontramos uma evolução e busca de novas perspectivas junto à educação. Em alguns momentos históricos, a educação fi cou relegada em segundo plano, mas com o caminhar da sociedade e suas mudanças, passou a ser observada com maior cuidado, principalmente na Constituição de 1988, a qual nos rege. Assim, a Constituição Federal de 1988 nos garante a conquista e, em algumas situações, a reconquista de diversos direitos, como à cidadania e à educação, democrática, gratuita, comunitária, com padrão de qualidade e universal. Sabemos que estamos em busca de todos estes direitos, os quais estão previstos em nossa “Carta Magna”, pois conforme Machado (2016, p. 1081), “[...] a educação não pode ser vista como privilégio de poucos, mas como um 15 O CONTEXTO EDUCACIONAL BRASILEIRO Capítulo 1 direito de todos, e em nosso país esse direito é assegurado pela Carta Magna, principalmente em seus artigos 6º, que prevê os direitos sociais [...]”. Referente ao artigo 6º da Constituição Federal, está assim redigido: “Art.6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição” (BRASIL, 1988, s.p.). Junto a este artigo, observamos que se busca apresentar os direitos mínimos e necessários para garantir uma existência digna. Focamos aqui o direito à educação, o qual está inserido na Constituição Federal nos artigos 205 a 214. Não distante da Constituição Federal, encontramos a Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB –, a qual à luz da Constituição é o “GPS e bússola da educação escolar” (CARNEIRO, 2015, p. 17). Com isso, podemos observar que a LDB – Lei nº 9.934/96 – é o “fi o condutor do ordenamento jurídico nacional na área da educação escolar” (CARNEIRO, 2015, p. 21). Este fi o condutor nos conduz à história da Lei de Diretrizes e Bases da Educação. A mesma possui a organização do ensino nas disposições normativas, as quais são três leis que iremos observar sempre a luz da Constituição Federal (CF). 3 A ORGANIZAÇÃO DO ENSINO NAS DIVERSAS LEIS DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL QUADRO 2 – LEI Nº 4.024/61 Lei nº 4.024/61 Duração • Ensino primário • Ciclo ginasial do ensino médio • Ciclo colegial do ensino médio • Ensino superior Quatro anos Quatro anos Três anos Variável Observações a) A passagem do primárioao ginasial era feita através de uma prova de acesso: o exame de Admissão. b) Os ciclos ginasial e colegial eram divididos em ramos de ensino, a saber: secundário, comercial, industrial, agrícola, normal e outros. O industrial dividido em básico (quatro anos) e de mestria (dois anos). Havia, ainda, os cursos artesanais, de duração curta e variável, e os de aprendizagem. FONTE: Adaptado de Carneiro (2015, p. 44) 16 O COTIDIANO ESCOLAR E A AÇÃO PEDAGÓGICA Lei nº 5.692/71 Duração • Ensino do primeiro grau • Ensino do segundo grau • Ensino superior Oito anos Três a quatro anos Variável Observações a) Com a junção dos antigos primário e ginasial, desapareceu o Exame de Admissão. b) A duração normal do 2º grau era de três anos. Ultrapassava, no entanto, o limite quando se tratava de curso profi ssionalizante. c) O ensino de 1º e 2º graus tinha uma carga horária mínima anual de 720 horas e o ano letivo de duração mínima de 180 horas. FONTE: Adaptado de Carneiro (2015, p. 44) Das mudanças ocorridas com a Lei nº 5.692/71, passaram-se muitos anos. Buscou-se neste período desenvolver novos mecanismos, os quais no ano de 1996, após muitos embates políticos, idas e vindas de propostas junto aos políticos, através das esferas da sociedade organizada, obtêm-se grande vitória com a votação da Lei nº 9.934/96, a qual traz nova abertura para a educação, assim constituída: QUADRO 4 – LEI Nº 9.394/96 Lei nº 9.394/96 Duração • Educação Básica - Educação Infantil: > Creche > Pré – escola - Ensino Fundamental - Ensino Médio • Educação Superior 17 anos 5 anos, sendo: 3 anos 2 anos 9 anos 3 anos (no mínimo) Variável. Observação a) Os níveis macro estruturantes da educação escolar (art.1º) passam a ser dois: educação básica e educação superior. b) As modalidades de educação inicialmente são: educação de jovens e adultos (art. 37), educação especial (art. 58), educação profi ssional (art. 39) e educação escolar indígena (art.78). Com a Res. CNE/CEB 4/2010, por via do art. 27, foram acrescidas: educação do campo e educação a distância. c) A educação básica, nos níveis fundamental e médio, passa a ter carga horária mínima de 800 horas anuais, distribuídas em 200 dias letivos anuais, no mínimo. FONTE: Adaptado de Carneiro (2015, p. 44) Após dez anos, e muita caminhada, ocorreu uma nova reformulação da LDB, surgindo a Lei nº 5.692/71 com as seguintes mudanças: QUADRO 3 – LEI Nº 5.692/71 17 O CONTEXTO EDUCACIONAL BRASILEIRO Capítulo 1 Com esta organização do ensino, podemos observar que as leis de diretrizes e bases da educação passaram por transformações, as quais buscavam em seu momento histórico e político, adaptar-se à realidade do momento. Na atualidade, temos em mãos a Lei nº 9.394, de 20/12/96, a qual estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Em seu Título I – da Educação – “Art. 1º, a educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais” (BRASIL, 1996). É importante ressaltar, que este artigo necessita ser articulado com o artigo 205 da Constituição Federal, que assim está redigido: Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualifi cação para o trabalho (BRASIL, 1988, s.p.). Com isso, podemos determinar que a educação é muito mais que ensino, ultrapassa a ideia de educação fechada, engessada. Nesta nova redação, a educação vai além das salas de aula, busca-se a ação coletiva “para construir identidades nas mais diferentes ambiências humanas” (CARNEIRO, 2015, p. 48). Estas ambiências são: família, trabalho, escola, organizações sociais etc. Cabe fazer uma ressalva neste ponto, relativa às ambiências de que fala Carneiro (2015), pois também possuem a denominação de cultura organizacional, apresentadas por Libâneo (2012), e que serão tratadas no Capítulo 2 deste livro. Conforme Carneiro (2015, p. 48), relativo às ambiências: Em qualquer desses espaços, há um processo formativo, ou seja, um chão de aprendizagem sobre o qual se forma a cidadania. Trata-se por conseguinte, de uma prática humana eivada de equipamentos de subjetividade e de ações intencionalizadas que focam a construção histórica e coletiva da humanidade. Podemos assim perceber que a educação ultrapassa a ideia de ensino, como aparecia na lei anterior – Lei nº 5.692/71. A nova Lei nº 9.394/96 busca a construção de uma educação voltada à qualidade não apenas formal da educação, mas também à construção de sujeitos históricos, com identidade, qualifi cação social, crítica e participativa na vida política de sua comunidade e país. 18 O COTIDIANO ESCOLAR E A AÇÃO PEDAGÓGICA Até o momento, diante do que foi apresentado, você, leitor, acredita que a educação brasileira está próxima deste patamar educacional? Cabe ressaltar que a escola, neste movimento de construção da identidade, é de extrema importância, pois não se restringe ao ensino, mas sim, a ampliar este movimento, levando para o “campo de compreensão potencializador e emancipador que envolve ações e processos complexos como: desenvolver, formar, qualifi car, aprender a aprender, aprender a pensar, aprender a intervir e aprender a mudar” (CARNEIRO, 2015, p. 48). Cabe ressaltar que a LDB/96 trata também sobre o desenvolvimento da pesquisa. Conforme Carneiro (2015, p. 49): Na verdade, pesquisa e desenvolvimento são conceitos interdependentes. [...] Aqui não se pensa em treinamento nem se pretende produzir clones. A atividade da educação escolar é de desenvolvimento humano, ou seja, de potencialização de capacidades em quatro perspectivas claras e convergentes: realização pessoal, qualidade de vida, participação política e inclusão planetária. Assim, sendo, a Constituição Federal e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação possuem uma conexão relativa à educação que envolve “a noção mais elástica de espaços de aprendizagem” (CARNEIRO, 2015, p. 49). Busca-se assim, uma educação escolar, na qual exista o envolvimento da escola com os demais ambientes sociais, retirando a ideia de escola somente enquanto espaço físico, dando possibilidade de busca de novas formas e parceiros na construção do conhecimento. Esta mudança de prisma leva a escola a abrir suas portas e buscar movimentos “relevantes sob o ponto de vista social. Seja porque oportuniza o crescente envolvimento de pessoas e instituições no processo educativo” (CARNEIRO, 2015, p. 49). E este é o movimento que determina o sucesso do processo ensino-aprendizagem e dá à escola uma identidade social e educativa junto à sociedade. 19 O CONTEXTO EDUCACIONAL BRASILEIRO Capítulo 1 Frente a este questionamento, podemos observar que a educação brasileira está buscando novas mudanças e já conseguimos caminhar muito mesmo diante do quadro político que recai sobre todos os segmentos da sociedade. Mesmo assim, temos muitas vitórias, as quais nos remetem ao que falávamos anteriormente, à abertura da escola para a sociedade, a novas parcerias. Assim, à luz da Constituição Federal e amparada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação, a escola consegue realizar sua caminhada, com a tríplice fi nalidade da educação que é “o pleno desenvolvimento do educando; o preparo para o exercício da cidadania e a qualifi cação para o trabalho” (BRASIL, 1996, s. p.). Cabe ressaltar que o que estamos apresentando nestas linhas é um recorte da importância e necessidade que possuímos de conhecer e reconhecer a Constituição Federal e a LDB, documentos aos quais recorremos a todo o momento, muitas vezes de maneira subliminar, mas que constituem as colunas que sustentam todo o sistema educacional brasileiro. Por este motivo,precisamos saber de sua existência e importância. CARNEIRO, Moaci Alves. LDB fácil: leitura crítico-compreensiva artigo a artigo. 23. ed. revista, atualizada e ampliada. Petrópolis, RJ: Vozes, 2015. MACHADO, Costa (Org.). Constituição federal interpretada: artigo por artigo, parágrafo por parágrafo. 7. ed. Barueri, SP: Manole, 2016. 20 O COTIDIANO ESCOLAR E A AÇÃO PEDAGÓGICA Atividades de Estudos: 1) Perante o que vimos até o momento, a Constituição Brasileira sofreu avanços desde sua primeira constituição. Pontue alguns avanços que você acredita terem sido alcançados. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2) Em se tratando da LDB nº 9.349/96, podemos dizer que esta lei é um marco para a educação brasileira. Assim sendo, assinale V para verdadeiro e F para falso, as alternativas que identifi cam esta lei como sendo: ( ) Um fi o condutor do ordenamento jurídico relativo à educação. ( ) Documento que reprime os conhecimentos e abre a clonagem do ensino. ( ) Carta Magna da Educação, voltada para construção da identidade do sujeito. ( ) Lei que rege os deveres de cada cidadão, pensando no treinamento. As sentenças corretas são: a) ( ) V –V – F – V. b) ( ) V – F – V – F. c) ( ) F – F – V – F. d) ( ) F – V – V – F. 4 A CONSTRUÇÃO DA ESCOLA PÚBLICA EM SEUS PROGRESSOS E IMPASSES Com o que vimos até o momento, as leis que foram e são elaboradas buscam auxiliar a engrenagem chamada escola a manter-se aberta, construtora e propensa a desenvolver diversos trabalhos, os quais possam refl etir na comunidade em que está inserida. 21 O CONTEXTO EDUCACIONAL BRASILEIRO Capítulo 1 Para tanto, fazemos a seguinte pergunta: você saberia me dizer o que signifi ca escola? Pense um pouco... O termo escola em “grego é scholé; schola, em latim, signifi cava, entre outras coisas, lazer, tempo livre, ocupação do tempo com estudos livres e prazerosos” (LIBÂNEO, 2012, p. 233). A seguir, apresentamos, nas palavras de Libâneo (2012, p. 233), o conceito escola: Na língua latina, o termo passou a signifi car também os seguidores de um mestre, a instituição ou lugar de formação, ensino e aprendizagem. Embora a tradição greco-romana desvalorizasse o trabalho manual e a formação profi ssional – o que justifi ca a compreensão do termo escola como lugar de ócio, do não trabalho –, foi o ideal grego de educação que forneceu as bases das instituições escolares, à medida que a escola se ia constituindo como instituição de aprendizagem organizada, dirigida para um objetivo. Já na educação grega antiga, para os “homens livres” surgiram instituições educativas com características de escola como treino para as atividades práticas cotidianas, como espaço de instrução e treinamento militar, baseadas em ideais de perfeição física, bravura, coragem, nobreza de caráter, obediência às leis e, mais tarde, no desenvolvimento da razão. Na Idade Média, o ensino ocorria principalmente nos mosteiros, para a formação religiosa dos clérigos e dos leigos. Com o desenvolvimento do comércio na idade moderna, a consolidação das cidades, surgiu a necessidade de aprender a ler, escrever e contar. A nova classe, a burguesia, propagou outro tipo de escola, com professores leigos nomeados pelo Estado e com o ensino voltado para as coisas práticas da vida, isto é, para os interesses da nova classe que emergia – do que se conclui que a escola atende historicamente a interesses de quem a controla. Diante desta leitura, verifi camos que a escola passou por diversos meandros, os quais determinaram a utilidade da instituição escolar. No Brasil, a instituição escolar foi criada pelos jesuítas em 1549, com sua chegada. De acordo com Libâneo (2012, p. 234): Os colégios jesuíticos eram missionários, isto é, pretendiam formar sacerdotes para atuar na nova terra e também buscavam catequizar e instruir o índio. Eram igualmente usados para formar jovens que realizariam estudos superiores na Europa. Em outras palavras, dedicavam-se à educação da elite nacional. 22 O COTIDIANO ESCOLAR E A AÇÃO PEDAGÓGICA Cabe ressaltar que a instituição escolar iniciou seus trabalhos como uma educação pública estatal, no século XVIII, na Alemanha e na França, não tendo como preocupação o atendimento aos fi lhos dos trabalhadores. Já no Brasil, foi inaugurada a primeira escola pública, “no fi nal do século XIX e nas primeiras décadas do século XX, quando principiou o processo de industrialização no país” (LIBÂNEO, 2012, p. 234). Podemos determinar que nesta fase a escola tinha como diretrizes a preocupação com o atendimento às indústrias, as quais necessitavam de trabalhadores que soubessem ler, escrever e calcular. A partir da década de 1920, os princípios até aqui desenvolvidos pelos jesuítas, passam a não mais compactuar com o desejo da sociedade. Neste instante surgem os escolanovistas, os quais acreditavam que a educação era o único elemento efi caz para o desenvolvimento de uma sociedade democrática, que leva ao desenvolvimento do respeito, à diversidade, à individualidade do sujeito, levando-o a refl etir sobre sua inserção na sociedade. Os escolanovistas em 1932 publicam suas ideias liberais por meio do Manifesto dos pioneiros da educação. Com este documento, propunham a reformulação da política educacional existente no Brasil e novas bases pedagógicas. Se realizarmos uma análise dos documentos apresentados no quadro relativo às constituições, perceberemos que a escola pública sofreu diversos embates e difi culdades para ser construída, pois com a Constituição de 1934 ocorreu apenas a aceitação de parte das propostas, sendo atribuído ao Estado o papel de controlador e promotor da educação pública. Além disso, foi instituído com esta Constituição o ensino primário obrigatório e gratuito, sendo criado também o concurso público de magistério e os percentuais mínimos para a educação. Cabe ressaltar que já com o Estado Novo, surge a Carta Constitucional de 1937, que, conforme Libâneo (2012, p. 167), “[...] reforçou o dualismo educacional que provê os ricos com escolas particulares e públicas de ensino propedêutico e confere aos pobres a condição de usufruir da escola pública mediante a opção pelo ensino profi ssionalizante”. Com isso, entre 1942 e 1946, foram promulgadas leis orgânicas, denominadas de Reforma Capanema – que realizou, junto ao ensino profi ssionalizante, novos empreendimentos particulares, com o objetivo de preparar mão de obra, pois ocorria a expansão da área industrial, devido a “restrições às importações no período da Segunda Guerra Mundial” (LIBÂNEO, 2012, p. 168). 23 O CONTEXTO EDUCACIONAL BRASILEIRO Capítulo 1 Cabe ressaltar que com isso, nesse período, surge o Senai – que foi constituído e administrado pelos industriais e o Senac, dirigido pelos comerciantes. Segundo Libâneo (2012, p. 168), “Atualmente, essas duas instituições têm peso signifi cativo no ensino profi ssional, oferecido no país, embora em ritmo decrescente a partir do fi nal dos anos 1980, diante do crescimento do atendimento público gratuito”. Ressalta-se aqui que, estas instituições – Senai e Senac – passam a oferecer cursos tecnológicos de nível superior e em programas de educação a distância, isso nos primeiros anos do século XXI. É importante destacar que em 1948, quando se dá início à tramitação do anteprojeto da primeira LDB, observa-se que para existir uma democratização da educação pública, era necessário que existisse uma abertura da escola particular de nível secundário, pois ambas estavam nas mãos dos católicos, os quais atendiam à classe privilegiada. Conforme Libâneo (2012, p. 168): Alegando que o projeto determinava o monopólio estatal da educação,os católicos defendiam a liberdade do ensino e o direito da família de escolher o tipo de educação a ser oferecida aos fi lhos. Na verdade, essa questão impedia a democratização da educação pública, ao incorporar no texto legal a cooperação fi nanceira para as escolas privadas em uma sociedade em que mais da metade da população não tinha acesso à escolarização. Observe, que com esta situação, estudantes, intelectuais e sindicalistas, apoiaram os liberais, que se opuseram a esta postura elitista, iniciando uma campanha na qual defendiam a escola pública. Nesta campanha foi elaborado um documento intitulado Manifesto dos educadores, isso em 1959, que tinha como proposta a utilização dos recursos públicos somente nas escolas públicas e para as escolas privadas, a fi scalização estatal. Já em 1964, com o golpe militar, a escola privada teve sua expansão, principalmente no ensino superior (LIBÂNEO, 2012). Podemos perceber que a escola pública e a privada tiveram momentos de embates e isso se verifi cou também a partir da elaboração da Constituição de 1988. Os embates estiveram presentes, pois os membros formadores das escolas privadas agora não se compunham mais de “grupos religiosos católicos, mas também de protestantes e empresários do ensino”. Conforme Libâneo (2012, p. 169): 24 O COTIDIANO ESCOLAR E A AÇÃO PEDAGÓGICA Ideologicamente, atacavam o ensino público, caracterizado como inefi ciente e fracassado, contrastando-o com a suposta excelência da inciativa privada, mas ocultando os mecanismos de apoio governamental à rede privada, tais como imunidade fi scal sobre bens, serviços e rendas, garantia de pagamento das mensalidades escolares e bolsas de estudo. Esses mecanismos mantiveram-se mesmo após a promulgação da Constituição Federal de 1988. Com este descompasso e desigualdade existente entre a rede pública e a particular, a escola pública passa a ter a deteriorização “dos salários dos professores e as condições de trabalho, o que gerou greves e mobilizações. A preferência pela escola particular ampliou-se por sua aparência de melhor organização e efi cácia” (LIBÂNEO, 2012, p. 169). Ainda, conforme Libâneo (2012), muitas famílias buscaram realizar gastos exorbitantes para dar aos fi lhos um ensino supostamente de melhor qualidade, junto à escola particular. Aqui vale uma refl exão; será que a escola privada é superior à pública? Bem, esta pergunta nos leva à análise de que isto não é uma realidade. Pois “a análise de que escola privada é superior à pública não se sustenta, em geral, por não haver homogeneidade em nenhuma das redes – há boas e más escolas em ambas –, como demonstram as análises do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb)” (LIBÂNEO, 2012, p. 169-170). Para maiores informações relativas ao censo escolar da educação básica de 2016, acesse o site, disponível em: <https://goo. gl/s3m6i6>. Neste site, você encontrará informações interessantes relativas tanto à escola pública quanto à privada. Vale a pena buscar estas informações. Você vai verifi car junto ao Censo Escolar da Educação Básica, de 2016, no site apresentado anteriormente, que a educação pública em nosso país é importantíssima, como também para a democratização da sociedade, que busca desempenhar papel expressivo na inclusão social. 25 O CONTEXTO EDUCACIONAL BRASILEIRO Capítulo 1 Diante dos inúmeros percalços ocorridos e que ocorrem em nossa economia, em meados de 1980, observou-se que a classe média passou a diminuir os seus gastos, e um deles foi com a educação, tirando seus fi lhos da escola privada e levando-os para a escola pública, devido à crise econômica internacional e ao desemprego que levaram ao arrocho salarial. Com isso, o ensino público passa a ser atendido pelo Estado, conforme orientações do Banco Mundial, “uma vez que esse nível de educação é considerado imprescindível na organização do trabalho” (LIBÂNEO, 2012, p. 172). Observamos com isso que a partir da metade da década de 2000, ocorre um grande apoio dos segmentos sociais no campo ofi cial, como associações e movimentos de educadores, “em favor da retomada do protagonismo do Estado na área educacional” (LIBÂNEO, 2012, p. 172). Além disso, verifi camos que muitos avanços ocorreram, como: a organização do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profi ssionais da Educação (Fundeb); a obrigatoriedade do ensino de 4 a 17 anos através da Emenda Constitucional nº 59; a oferta e expansão da educação superior por meio das universidades federais, além do avanço junto às novas tecnologias. Se observarmos, na atualidade, muitas escolas estão voltadas para além do ler, escrever e calcular, preocupadas com a inserção da informatização. O mundo capitalista quer este tipo de trabalhador, voltado também às novas tecnologias. Verifi camos assim, que a escola está envolvida com os interesses políticos e sociais da sociedade. Ela necessita buscar formas de modular-se, pois conforme Lima (1992, p. 23), “a escola constitui um empreendimento humano, uma organização histórica, política e culturalmente marcada”. Diante disso, podemos determinar que a escola se molda ao período histórico e à forma como se olha para ela. Segundo Libâneo (2012, p. 235): Numa perspectiva crítica, a escola é vista como uma organização política, ideológica e cultural em que os indivíduos e grupos de diferentes interesses, preferências, crenças, valores e percepções da realidade mobilizam poderes e elaboram processos de negociação, pactos e enfrentamentos. Diante do que nos diz Libâneo (2012), cabe ressaltar que a educação não ocorre somente na instituição escola, mas em todos os espaços sociais, através da interação entre as pessoas, na socialização dos valores, interesses e hábitos que auxiliam na produção da vida em sociedade, além de possuir um caráter social e com historicidade. 26 O COTIDIANO ESCOLAR E A AÇÃO PEDAGÓGICA Com isso, notamos que “a prática educativa envolve a presença de sujeitos que ensinam e aprendem ao mesmo tempo, de conteúdos (objetos de conhecimento a ser apreendidos), objetivos, métodos e técnicas coerentes com os objetivos desejados” (LIBÂNEO, 2012, p. 235). Observa-se a partir de Libâneo (2012), que a escola, acaba confi gurando-se como um espaço no qual estão presentes várias formas de articulação; sejam elas a disciplina e a indisciplina, a democracia e a opressão, a intolerância e despreocupação, o respeito e a intransigência. Verifi ca-se assim, que é um espaço que mescla todas as formas de articulação e nunca se mantem engessada, estando em constante movimento. Além disso, a escola é um espaço que possui diferentes concepções de educação. E quando falamos em concepções de educação estamos nos referindo a: [...] determinados modos de compreender as modalidades de educação, as funções sociais e pedagógicas da escola, os objetivos educativos, as dimensões da educação, os objetivos de aprendizagem, o currículo, os conteúdos e a metodologia de ensino, as formas de organização e gestão” (LIBÂNEO, 2012, p. 239). Com tudo isso, percebemos que a escola passou e passa por diversos impasses, os quais vão sendo modifi cados, moldados, transformados, para que possa auxiliar o sistema vigente e os interesses sociais, buscando construir sua identidade. Assunto que iremos tratar logo, logo, aguarde! Atividades de Estudos: 1) No que diz respeito às ideias dos escolanovistas, você acredita que ainda buscamos por estes ideais, ou já existem avanços relativos a uma escola pública de qualidade? Se já existe, apresente alguns destes elementos que auxiliam neste avanço. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 27 O CONTEXTO EDUCACIONAL BRASILEIRO Capítulo 1 5 AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICASE SUA INFLUÊNCIA NA IDENTIDADE DA ESCOLA Já vimos inicialmente o sentido da palavra escola. Esta palavra possui um enorme signifi cado para todos, pois é a partir dela, de maneira formal, que são desenvolvidos os mais diversos movimentos, os quais determinam, ou não, o crescimento dos educandos. Sabemos que em nossa vida, a escola confi gura–se como um espaço de convivência e desenvolvimento, pois como nos afi rma Veiga-Neto (2000, p. 104): [...] em vez de pensar que já sabemos o que é a escola, prefi ro examinar como ela se tornou o que é, como ela está envolvida com a sociedade em que se insere, como podemos entender melhor, através dela, as transformações que o mundo está sofrendo. Eis aqui um dos movimentos que nós necessitamos realizar cotidianamente, buscar entender e ver a escola como um espaço de transformações, de construção de novas possibilidades, voltadas aos educandos e aos profi ssionais que ali trabalham. Não esquecendo o seu entorno – a comunidade. Várias foram e são as mudanças que a escola passou e ainda há de passar, pois conforme a sociedade se modifi ca, a escola é o espaço que também recebe esta demanda e acaba buscando novas maneiras de acompanhá-las. Além disso, se observarmos as mudanças histórico-sociais, estamos nos envolvendo com o tempo e a forma, pois conforme Silva (2012, p. 33), “a categoria tempo é a rapidez e a velocidade com que essas mudanças estão correndo. E a categoria forma é como essas mudanças impactam a vida cotidiana dos sujeitos na atualidade”. E o que isso tem a ver com a identidade da escola? Tudo. Pois ao tratarmos da escola estamos tratando diretamente com a sociedade e vice-versa. As duas estão intrinsicamente ligadas. As mudanças e a rapidez com que elas ocorrem no cotidiano, recaem na instituição escola, que necessita organizar-se para as diversas transformações que surgem e as quais muitas vezes nos apresentam enormes transtornos sociais, econômicos e culturais. Conforme Touraine (2007, p. 11 apud OLIVEIRA; SILVA, 2012, p. 33), “o transtorno que estamos vivendo não é mais profundo que os transtornos que vivemos no decorrer dos últimos séculos [...]”. 28 O COTIDIANO ESCOLAR E A AÇÃO PEDAGÓGICA Tudo isso nos mostra que tanto a escola quanto a sociedade, apesar das mudanças e difi culdades enfrentadas ao longo da história, continuam avançando na busca pela evolução e transformação. Para tanto, vamos procurar algumas evidências da mudança da escola num breve espaço de tempo, utilizando-nos das tendências pedagógicas, as quais são determinantes para a visualização destas mudanças dentro da instituição. PEDAGOGIA LIBERAL PEDAGOGIA PROGRESSISTA 1. TRADICIONAL 2. RENOVADA PROGRESSISTA 3. RENOVADA NÃO DIRETIVA (ESCOLA NOVA) 4. TECNICISTA 1. LIBERTADORA 2. LIBERTÁRIA 3. CRITICO-SOCIAL DOS CONTEÚDOS QUADRO 5 – TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS E SUAS INFLUÊNCIAS NO COTIDIANO ESCOLAR FONTE: A autora Nesta linha do tempo, vamos iniciar com a Pedagogia Liberal, que possui, como nos afi rma Libâneo (1990, p. 21), sua doutrina voltada para: [...] defender a predominância da liberdade e dos interesses individuais na sociedade, estabeleceu uma forma de organização social baseada na propriedade privada dos meios de produção, também denominada “sociedade de classes”. A pedagogia Liberal, portanto, é uma manifestação própria desse tipo de sociedade. Com isso, visualizamos uma escola, na qual sua identidade estava voltada para os interesses da classe dominante, a capitalista, que buscava preparar os educandos para desempenhar papéis conforme suas aptidões. À escola na Tendência Tradicional, conforme Baruffi (2016, p. 32): [...] fi ca a função do repasse dos conteúdos, e ao aluno fi ca a obrigatoriedade de esforçarem-se para obter o conhecimento necessário para seu crescimento. Cabe salientar que se o aluno não conseguir acompanhar os estudos, o mesmo deve ir em busca de uma escola onde tenham ensino profi ssionalizante. Observa-se que todos recebem o conhecimento, mas não existe a preocupação em reconhecer que cada um possui seu momento de aprender. Assim sendo, relativo à aprendizagem, Libâneo (1990, p. 24-25) nos diz que: 29 O CONTEXTO EDUCACIONAL BRASILEIRO Capítulo 1 A aprendizagem é receptiva e mecânica, para o que se recorre frequentemente à coação. A retenção do material ensinado é garantida pela repetição de exercícios sistemáticos e recapitulação da matéria. A transferência da aprendizagem depende do treino. [...]. Observe que neste movimento, a escola apresenta como único detentor do saber o professor, cabendo a ele realizar o repasse dos conteúdos, não se preocupando com o educando. O professor verifi cava se ocorreu a aprendizagem através das provas, as quais serviam como única base de avaliação. Já na Tendência Liberal Renovada Progressista, tem-se os interesses do aluno em primeiro lugar, em que as experiências do cotidiano são levadas a sério, pois, conforme Libâneo (1990, p. 25), a função da escola é “permitir ao aluno, educar-se, num processo ativo de construção e reconstrução do objeto, numa interação entre estruturas cognitivas do indivíduo e estruturas do ambiente”. Podemos apresentar como educadores que foram importantes nesta tendência e que ainda estão presentes no cotidiano escolar: • Maria Montessori, com o Método Montessori, que apresenta seis pilares educacionais: autoeducação; educação como ciência; educação cósmica; ambiente preparado; adulto preparado e a criança equilibrada. • Ovide Decroly, o qual trata do Método do Centro de Interesses. Para Decroly (1996) as crianças aprendem a partir da visão do todo, e que logo depois chega a organizar-se em partes, indo do caos à ordem. • John Dewey, o qual apresenta o Método de Projetos. Com este método, Dewey (1959) sugere que o aluno aprenda por meio da realização de tarefas integradas aos conteúdos. Nesta tendência, as crianças passam a ser estimuladas a pensar e experimentar por si só. Cabe salientar que a democracia faz parte deste método e John Dewey (1959) acreditava que ela deveria ocorrer fora e dentro da escola. Sobre a Tendência Liberal Renovada não Diretiva, denominada como Escola Nova, o papel da escola volta-se mais para as questões psicológicas do que as pedagógicas e sociais, pois, conforme Libâneo (1990, p. 27), “o que se busca é uma mudança dentro do indivíduo de maneira favorável, adequando-o às convocações do ambiente”. Cabe salientar que Carl Rogers foi quem elaborou este movimento, sendo considerado mais psicólogo clínico do que educador. E Libâneo (1990, p. 27) reforça que: 30 O COTIDIANO ESCOLAR E A AÇÃO PEDAGÓGICA Rogers considera que o ensino é uma atividade excessivamente valorizada; para ele os procedimentos didáticos, a competência na matéria, as aulas, livros, tudo tem muito pouca importância, face ao propósito de favorecer a pessoa um clima de autodesenvolvimento e realização pessoal, o que implica estar bem consigo próprio e com seus semelhantes. O resultado de uma boa educação é muito semelhante ao de uma boa terapia. Nesta tendência, o professor passa a ter um papel de especialista e a avaliação não possui grande sentido, a autoavaliação é que embasa este método. Chegamos à Tendência Liberal Tecnicista, na qual a escola atua como aperfeiçoadora da ordem social do sistema capitalista. Conforme Libâneo (1990, p. 29), esta tendência vai: [...] articulando-se diretamente com o sistema produtivo; para tanto, emprega a ciência da mudança de comportamento, ou seja, a tecnologia comportamental. Seu interesse imediato é o de produzir indivíduos “competentes” para o mercado de trabalho, transmitindo, efi cientemente, informações precisas, objetivas e rápidas. Observamos assim, que a fi gura do professor é a de um técnico, que repassa os conteúdos por meio de materiais sistematizados como vídeos, livros didáticos etc. Desta forma, o aprender é “uma questão de modifi cação do desempenho: o bom ensinodepende de organizar efi cientemente as condições estimuladoras, de modo que o aluno saia da situação de aprendizagem diferente de como entrou” (LIBÂNEO, 1990, p. 30). Frente a estas disposições, podemos verifi car que o papel da escola nesta tendência estava voltado muito mais aos interesses da mera classifi cação e formação do indivíduo, correlato ao que o sistema desejava. Agora, vamos verifi car o que ocorreu e ocorre junto à Pedagogia Progressista. Mesmo ela sendo apresentada junto ao sistema capitalista, a adoção desta nova tendência pedagógica tornou-se “um instrumento de luta dos professores ao lado de outras práticas sociais“ (LIBÂNEO, 1990, p. 32). Podemos ainda observar que a Pedagogia Progressista tem como objetivo “designar as tendências que, partindo de uma análise crítica das realidades sociais, sustentam implicitamente as fi nalidades sociopolíticas da educação” (LIBÂNEO, 1990, p. 32). A Pedagogia Progressista possui três tendências que são: libertadora, libertária e crítico-social dos conteúdos. 31 O CONTEXTO EDUCACIONAL BRASILEIRO Capítulo 1 A tendência libertadora possui como seu mentor, Paulo Freire (1921-1997), o qual utilizou-se da realidade do educando. Conforme Baruffi (2016, p. 53), “para assim, o mesmo construir seu conhecimento, a partir de sua realidade, de sua vivência diária”. Este foi o mais célebre educador de nosso país – Brasil –, tendo atuado e por possuir reconhecimento internacional por meio de sua pedagogia. FIGURA 1 – PAULO FREIRE – EDUCADOR BRASILEIRO FONTE: <http://www.folhavitoria.com.br/economia/blogs/ gestaoeresultados/2012/05/08/>. Acesso em: 6 jan. 2018. Nesta tendência, os professores buscam sair da escola tradicional, em que o conhecimento era depositado nos educandos em gavetas, como uma educação bancária. Na tendência libertadora, o professor questiona, discute, busca junto ao educando a construção e transformação do homem, junto ao outro, à natureza e com ele mesmo. Observa-se uma abertura, no que tange à nova identidade da escola. Com a Tendência Libertária, encontramos nas palavras do professor Libâneo (1990, p. 36), o papel da escola como sendo a que: [...] exerça uma transformação na personalidade dos alunos num sentido libertário e autogestionário. A ideia básica é introduzir modifi cações institucionais, a partir dos níveis subalternos que, em seguida, vão “contaminando” todos os sistemas. A escola instituirá, com base na participação grupal, mecanismos institucionais de mudança (assembleias, conselhos, eleições, reuniões, associações etc.). Temos como utilizadores desta fi losofi a de trabalho, Celestin Freinet e Miguel Gonzales Arroyo. Verifi camos que, nesta tendência, a participação não é individualizada, mas sim, grupal, na qual “as matérias são colocadas à disposição do aluno, mas não 32 O COTIDIANO ESCOLAR E A AÇÃO PEDAGÓGICA são exigidas. É um instrumento a mais, porque importante é o conhecimento que resulta das experiências vividas pelo grupo [...]” (LIBÂNEO, 1990, p. 36). Desta maneira, a relação entre professor e aluno, transforma o professor em um “orientador e catalizador” (LIBÂNEO, 1990, p. 37), sendo o aluno um ser livre para questionar, e construir seus conhecimentos em relação aos demais colegas. Para a Tendência Crítico-Social dos Conteúdos, “um instrumento de apropriação do saber é o melhor serviço que se presta aos interesses populares, já que a própria escola pode contribuir para eliminar a seletividade social e torná- la democrática” (LIBÂNEO, 1990, p. 39), garantindo assim um bom ensino, pois: [...] a atuação da escola consiste na preparação do aluno para o mundo adulto e suas contradições, fornecendo-lhe um instrumental, por meio da aquisição de conteúdos e da socialização, para uma participação organizada e ativa na democratização da sociedade (LIBÂNEO, 1990, p. 39). Temos como representantes desta tendência: G. Synders, Charlot e nossos educadores brasileiros, José Carlos Libâneo e Demerval Saviani. A partir destas tendências podemos notar que a escola em sua linha do tempo passou e passa por várias mudanças que determinam que não deve ser pensada como: [...] o lugar em que se inventaram novas formas de viver o espaço e o tempo, ou seja, não se trata de dizer que a escola originou essas novas formas. Trata-se sim, de pensá-la como uma instituição que se estabeleceu e se desenvolveu em conexão indissolúvel, imanente, com as práticas – sociais, culturais, religiosas, econômicas [...] (VEIGA-NETO, 2003, p. 107). Frente ao que vimos junto às pedagogias apresentadas anteriormente, o papel da escola nestas tendências nos ajuda a compreender que: [...] boa parte das práticas que se dão na escola não foram simplesmente criadas com o objetivo de que as crianças aprendessem melhor. Nem foram, tampouco, o resultado de uma inteligência melhor dos professores, dos pedagogos e daqueles que pensaram a escola. Claro que isso não signifi ca que muitas práticas não funcionem positivamente para aprendizagem [...]. Uma das lições tiradas de tudo isso é o fato de que, bem antes de funcionar como um aparelho de ensinar conteúdos e de promover a reprodução social, a escola moderna funcionou – e continua funcionando – como uma grande fábrica que fabricou – e continua fabricando – novas formas de vida (VEIGA-NETO, 2003, p. 107-108). 33 O CONTEXTO EDUCACIONAL BRASILEIRO Capítulo 1 Assim sendo, observamos que a escola tem em seu papel a combinação do tempo e do espaço apresentada por Veiga-Neto (2003, p. 108), na qual “ao analisarmos como outras sociedades e culturas viviam ou vivem o espaço e o tempo, compreendemos que a percepção que temos de ambos – e, consequentemente, o signifi cado que lhes damos e os usos que fazemos deles – é um caso particular numa ampla variedade possível”. Com isso, podemos compreender que ao combinar espaço e tempo, estamos combinando ou realizando “algumas análises históricas e culturais e algumas análises contemporâneas das práticas escolares têm dado resultados muito interessantes e de longo alcance prático” (VEIGA-NETO, 2003, p. 108). Frente ao que Veiga-Neto (2003) nos apresenta, podemos perceber que conseguimos com estas mudanças avaliar nossas condutas pedagógicas e os mecanismos utilizados a serviço da aprendizagem e do ensino, pois “entre as práticas escolares e as rápidas modifi cações espaciais e temporais que estão acontecendo no mundo atual, está boa parte daquilo que se costuma denominar de ‘crise da escola’” (VEIGA-NETO, 2003, p. 108). Assim, determinamos que a escola, mesmo em suas “crises de identidade”, consegue em muitos casos se reinventar, pois ela é um conjugado de práticas, às quais precisa manter-se conectada com as diversas práticas sociais, que necessariamente precisam ser pensadas a partir das mudanças que ocorrem junto à sociedade e buscar uma escola de excelência. Arriscamos dizer, que a escola é uma metamorfose constante! E o convidamos a uma leitura instigante de Marcia Rosiello Zenker, que trata da busca da escola de excelência. Acompanhe. O QUE É UMA ESCOLA DE EXCELÊNCIA? O século XXI apresenta desafi os constantes, advindos de mudanças paradigmáticas que nos convidam a repensar o nosso jeito de estar no mundo. Se antes imperavam a linearidade e a certeza das respostas às questões humanas, divididas em certas e erradas, boas e más, hoje nos impacta a complexidade da vida e, mais do que respostas, estamos a todo o momento nos indagando. 34 O COTIDIANO ESCOLAR E A AÇÃO PEDAGÓGICA Segundo Morin (2002, p. 35), “Trata-se de uma necessidade histórica-chave: uma vez que a complexidade dos problemas de nosso tempo nos desarma, torna-se necessário que nos rearmemos intelectualmente, instruindo-nos para pensar a complexidade, para enfrentar os desafi os da agonia/nascimento desse interstício entre os dois milênios e para pensar os problemas da humanidade na era planetária”. Apartir disso, emergem algumas questões básicas: • A escola está oferecendo aos alunos, que enfrentarão cenários talvez nem imaginados por nós, uma educação que lhes permitirá usar os conhecimentos, articulá-los e transformá-los em prol de si e da comunidade? • A escola está sendo efi caz no sentido de proporcionar um processo de alfabetização para muito além do saber ler e escrever? • A escola está promovendo uma refl exão sobre seu papel no mundo, atualizando seu projeto político-pedagógico com a participação de todos os envolvidos na educação? • A escola está garantindo as condições para a aprendizagem dos alunos? • A escola está contextualizando o conhecimento sabidamente importante para a formação de um aluno crítico e global? • A escola está implantando a cultura da mediação do conhecimento em seus ambientes educativos? • A escola está questionando se é excelente e, se faz essa pergunta, poderia elucidar com clareza os conteúdos e as ações pertinentes à busca pela excelência? • Quais são os critérios que a escola utiliza para avaliar sua qualidade? Parece que estamos diante de um trabalho sem fi m, pois hoje, mais do que nunca, a sociedade nacional e internacional está atenta aos resultados dos indicadores de qualidade das instituições educacionais. Excelência e avaliação são dois conceitos que dependem um do outro. O argumento principal é que a avaliação constitui uma condição necessária para a melhoria da qualidade das escolas. Sabemos que qualidade é um conceito multifacetado e tem sido defi nido de diferentes maneiras, como, por exemplo: 35 O CONTEXTO EDUCACIONAL BRASILEIRO Capítulo 1 É fazer bem a coisa certa à primeira vez, procurando sempre melhorar e satisfazer o cliente; é ir ao encontro das necessidades do cliente da primeira vez e sempre; é fornecer produtos e serviços aos clientes e que, consistentemente, vão ao encontro das suas necessidades e expectativas (GOETSCH; DAVIS, 1997). Logo, estabelecer uma defi nição de escola de excelência apresenta-se como uma tarefa extremamente complicada, além de não haver uma concordância quanto ao que constitui a sua qualidade. No sentido mais lato, ela é atributo de um produto que pode ser melhorado. A maioria das pessoas associa a qualidade a um produto ou serviço entregue. No entanto, considerar tão somente isso seria adotar um olhar reducionista, especialmente quando se trata de educação. Devemos incluir os processos, o ambiente e as pessoas. Se retomarmos uma das funções primordiais das instituições de ensino — transformação do conhecimento imediato para o mediato —, poderemos sugerir que: [...] a escola de qualidade é aquela que tem como valor fundamental a garantia dos direitos de aprendizagem de seus alunos, que dispõe de infraestrutura necessária, que ensina o que é relevante e pertinente através de processos aceitos pela comunidade escolar e pela sociedade servida. Seus professores e funcionários e os pais dos alunos estão satisfeitos, e os alunos mostram, através de formas objetivas, que aprenderam o que deles se esperava (SOARES, 2005, p. 18). A partir dessa perspectiva, o principal indicador de qualidade é o desempenho dos alunos. Contudo, avaliar todas as dimensões da escola, desde a gestão escolar, representada pelo diretor, até a gestão da sala de aula, representada pelo professor, os insumos (materiais disponíveis), a participação dos pais no acompanhamento da escolaridade dos fi lhos, torna-se a gênese da melhoria da qualidade das escolas para que elas alcancem a excelência desejada e possam contribuir para a saúde socioeconômica do país. Nesse sentido, avaliações externas às instituições são instrumentos importantes para o gestor escolar visualizar áreas problemáticas e pensar em soluções inovadoras [...]. 36 O COTIDIANO ESCOLAR E A AÇÃO PEDAGÓGICA [...] Precisamos avançar para além dos números para alcançar excelência com equidade. O importante é oferecer à sociedade brasileira (famílias, secretários de educação, alunos, jornalistas, gestores escolares, professores, empresários) mais e melhores espaços de debate a respeito dos problemas educacionais, assim como caminhos possíveis para solucioná-los. O fortalecimento dos laços sociais como um todo, restituindo cada vez mais o pensar ao indivíduo, cria o suporte necessário para visões apuradas sobre a busca da excelência das escolas. Não basta avaliar, diagnosticar e divulgar os resultados. Iniciativas advindas das próprias escolas e de investidores sociais, questionamentos dos pais e alunos, angústias dos professores e gestores escolares nessa busca de excelência tornam-se a matéria- prima das transformações em educação que pretendemos alcançar. E temos competência nacional para trabalhar com essa matéria- prima. Uma reunião bem dirigida na escola, que provoque a refl exão crítica dos professores, instigue a criatividade, desenvolva as competências pedagógicas e dê apoio aos planos de metas na sala de aula, contribui para a qualidade da instituição de ensino. Nesse caso, a autoavaliação ou avaliação interna é fundamental para subsidiar decisões, especialmente as pedagógicas. Então, o que é uma escola de excelência? Não há resposta lógica para essa pergunta, mas as próprias escolas sabem que são capazes de buscá-la e, se não souberem ou perderam a esperança, faz-se necessária uma intervenção urgente. Um bom começo é convidar cada escola a revisitar o seu projeto político-pedagógico, já que ele norteia a busca pela excelência. Trazê-lo ao coração de toda a equipe, torná-lo vivo nas ações educativas cotidianas, promover a sua inserção nas novas realidades do mundo contemporâneo através do diálogo interno (principalmente com os professores) e externo (com as famílias, os pensadores em educação, o conhecimento e as boas práticas de outras instituições educacionais) movimenta o pensamento, areja as emoções, cria possibilidades inusitadas. 37 O CONTEXTO EDUCACIONAL BRASILEIRO Capítulo 1 A expansão é a meta do desenvolvimento individual e coletivo para continuarmos a ser sujeitos da nossa história aqui na Terra. A excelência nas escolas talvez seja isto: torná-las sujeito, mais humanizadas, mais livres das amarras do que já não têm mais signifi cado efetivo. FONTE: <http://loja.grupoa.com.br/revista-patio/artigo/8329/o-que-e- uma-escola-de-excelencia.aspx>. Acesso: em: 8 jan. 2018. Através desta leitura, sobre o que é uma escola de excelência, nos questionamos e podemos determinar que os profi ssionais que trabalham na escola também necessitam estar ligados com o que ocorre no entorno dela e na sociedade como um todo, pois sabemos que é na escola que surgem as mais diversas situações, as quais são positivas ou negativas. Encontrar o equilíbrio junto a esta máquina, chamada escola, é algo que precisa ser tratado com respeito, carinho, comprometimento e equilíbrio. Acreditar que a escola é um espaço de crise pode ser muito forte. É melhor dizer que a escola é um espaço de mudança, que necessita ser vista pelo prisma da ética, da humanização, da amorosidade, da fi rmeza, da disciplina, do acolhimento, da autoavaliação, pois estamos trabalhando com seres humanos e não com máquinas. Frente ao exposto, podemos perceber que a identidade da escola está sendo construída a partir da realidade em que ela está inserida. Na atualidade, a escola tem como objetivo levar os educandos a compreender-se, a auxiliar na construção do conhecimento historicamente construído, o qual não pode ser esquecido na busca do desenvolvimento de estratégias de enfrentamento dos desafi os que nos chegam a todo instante. Estar aberta à comunidade, tendo os alunos como auxiliares no processo de construção e de formalização do ensino e aprendizagem de excelência. Para falarmos sobre isso, com um pouco mais de cuidado, apresentaremos no próximo capítulo a estrutura escolar! Vale a pena continuar a leitura! Antes,vamos a uma refl exão e dicas sobre as Pedagogias Liberal e Progressista. 38 O COTIDIANO ESCOLAR E A AÇÃO PEDAGÓGICA Atividade de Estudos: 1) No que diz respeito às tendências pedagógicas, qual você acredita estar mais próxima a nossa realidade educacional e social? Por quê? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Para maior aprofundamento em seus estudos, deixamos alguns sites, nos quais você encontrará maiores informações sobre as tendências e seus idealizadores. <http://educarparacrescer.abril.com.br/ aprendizagem/ovide-decroly-307894.shtml> <http://revistaescola.abril.com.br/formacao/mentor- educacao-consciencia-423220.shtml> <http://revistaescola.abril.com.br/formacao/formador- criancas-pequenas-422947.shtml?page=0> <http://www.ebc.com.br/infantil/para-pais/2015/05/o- que-e-o-metodo-montessori-de-ensino> 6 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Junto ao que foi proposto neste capítulo, apresentamos que as leis que regem nosso país e a educação estão intrinsecamente ligadas. Na educação brasileira já perpassaram inúmeras tendências, sendo que algumas estão presentes em nosso cotidiano escolar. 39 O CONTEXTO EDUCACIONAL BRASILEIRO Capítulo 1 Buscar inovações no processo de ensino e aprendizagem acarreta a necessidade de encontrar meios que nos levem a uma escola que possa ser considerada de excelência. Para o próximo capítulo, reservamos a você, leitor, o entendimento da estrutura escolar e seu papel na comunidade em que está inserida! REFERÊNCIAS BARUFFI, Mônica Maria. Políticas educacionais. Indaial: Uniasselvi, 2016. BRASIL. Constituição Federal Brasileira. Brasília, 1988. ______. Lei nº 9.394, de 20/12/96. Diário Ofi cial da União. Brasília, 1996. CARNEIRO, Moaci Alves. LDB fácil: leitura crítico-compreensiva, artigo a artigo. 23. ed. revista e ampliada. Petrópolis, RJ: Vozes, 2015. DECLORY, O. El juego educativo: iniciacion a La actividad intelectual y matriz/ Ovídio Decroly, e Monchamp. (Trad.)M Olasagasti. Madrid: Morata, 1986. DEWEY, John. Democracia e educação. 3. ed. Tradução de Gobofredo Rangel e Anísio Teixeira. São Paulo: Nacional, 1959. MACHADO, Costa (Org.). Constituição Federal interpretada: artigo por artigo, parágrafo por parágrafo. 7. ed. Barueri, SP: Manole, 2016. FERRARI, Marcio. Ovide Decroly. Revista: Educar para crescer. 2011. Disponível em: <http://educarparacrescer.abril.com.br/aprendizagem/ovide- decroly-307894.shtml>. Acesso em: 27 dez. 2017. ______. Paulo Freire, o mentor da educação para a consciência. Revista da Escola. Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/formacao/mentor- educacao-consciencia-423220.shtml>. Acesso em: 27 dez. 2017 ______. Friederich Froebel, o formador das crianças pequenas. Revista Nova Escola. Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/formacao/formador- criancas-pequenas-422947.shtml?page=0>. Acesso em: 27 dez. 2017 LIBÂNEO, José Carlos. Educação escolar: políticas, estrutura e organização. 10. ed. São Paulo: Cortez, 2012. 40 O COTIDIANO ESCOLAR E A AÇÃO PEDAGÓGICA ______. Democratização da escola pública: a pedagogia crítico-social dos conteúdos. 9. ed. São Paulo: Edições Loiola, 1990. LIMA, L. A escola como organização e a participação na organização escolar: um estudo da escola secundária em Portugal (1974 – 1988). Tese de doutorado – Instituto de Educação, Universidade do Minho, Braga, 1992. SILVA, Lisandra Oliveira e. Os sentidos de escola na atualidade: narrativas de docentes e estudantes da rede municipal de ensino de Porto Alegre. Tese de Doutorado. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2012. VEIGA-NETO, Alfredo. Educação e governamentalidade neoliberal: novos dispositivos, novas subjetividades. In: PORTOCARRERO, Vera; CASTELO BRANCO, Guilherme. Retratos de Foucault. Rio de Janeiro: Nau Editora, p. 179-217, 2000. VORRABER COSTA, Marisa (Org.). A escola tem futuro? Entrevistas. Rio de Janeiro: DP&A, 2003. ZENKER, Marcia Rosiello. O que é uma escola de excelência? Revista Pátio, n. 65, fev. 2013. Disponível em: <http://loja.grupoa.com.br/revista-patio/artigo/ 8329/o-que-e-uma-escola-de-excelencia.aspx>. Acesso em: 8 jan. 2018. CAPÍTULO 2 A ESTRUTURA ESCOLAR A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Conhecer e reconhecer o sentido de organização e gestão escolar e o que acontece entre o sistema de ensino e a sala de aula. Identifi car o papel de cada profi ssional que constitui a escola. Compreender a organização pedagógica e a cultura organizacional nas escolas. 42 O COTIDIANO ESCOLAR E A AÇÃO PEDAGÓGICA 43 A ESTRUTURA ESCOLAR Capítulo 2 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Neste capítulo, vamos tratar da estrutura escolar. Quando falamos em estrutura escolar, estamos falando da organização, gestão, objetivos de ensino e da função de cada profi ssional dentro da escola. Faremos uma análise de como a escola funciona, a partir de documentos ofi ciais, do conselho escolar, da associação de pais e professores, entre outros. Trataremos também sobre o papel dos elementos formadores da escola, as características que auxiliam a instituição em sua organização e dão aporte ao desenvolvimento dos trabalhos realizados. Vamos nos ater à cultura organizacional, uma organização informal que atua fortemente em nossas escolas e que necessita ser estudada, analisada, conhecida e a partir dela, compreendermos o projeto político-pedagógico da escola, o currículo, a gestão e a avaliação. Curioso para este momento? Afi rmamos que a leitura deste material será de extremo valor para suas atividades como profi ssional da área educacional! Ótimos estudos! 2 A ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DA ESCOLA Ao tratarmos da organização e da gestão de uma escola, estamos tratando de um conjunto de situações e dos meios que utilizamos para que exista um bom funcionamento da instituição escolar. Conseguindo isso – esta organização – estaremos alcançando os objetivos propostos para o bom andamento da escola. Se buscarmos em dicionários, as palavras organização e gestão, os signifi cados vêm sempre associadas a empresas, ao administrativo, a governos, como também aos órgãos públicos, famílias, e escolas que buscam a realização de seus objetivos. Podemos assim dizer que: 44 O COTIDIANO ESCOLAR E A AÇÃO PEDAGÓGICA No caso da escola, a organização e a gestão referem-se ao conjunto de normas, diretrizes, estrutura organizacional, ações e procedimentos que asseguram a racionalização do uso de recursos humanos, materiais, fi nanceiros e intelectuais assim como a coordenação e o acompanhamento do trabalho das pessoas (LIBÂNEO, 2012, p. 411, grifos do original). Com o que nos afi rma Libâneo (2012), vamos buscar duas frases que ali estão inseridas e que tomamos a liberdade de grifar. As frases são: “racionalização do uso de recursos humanos” e “acompanhamento do trabalho das pessoas”. Essas duas frases refl etem bem o que se busca em uma gestão escolar com qualidade, fazendo a escolha de bons objetivos e a utilização correta dos recursos humanos, conseguindo, assim, garantir o bom desempenho para o desenvolvimento dessa engrenagem chamada escola. Relativo ao acompanhamento do trabalho das pessoas, estamos nos reportando às ações e metodologias, buscando a articulação das pessoas junto às atividades desenvolvidas, para que se possa chegar ao alcance dos objetivos propostos pelo grupo. Para que os objetivos propostos sejam efetivados, faz-se necessário que exista o planejamento, a organização, o saber dirigir estes objetivos e o saber avaliar o processo. Conforme Libâneo (2012, p. 418), “A condução dessas funções, mediante várias ações e procedimentos, é o que sedesigna gestão, a atividade que põe em ação um sistema organizacional”. Observamos com isso que a escola necessita de organização, pois sem ela será impossível chegarmos ao alcance de seus objetivos, visto que não pode ser vista como um fi m, mas sim como um meio, em que muitas são e serão as buscas pela conquista de suas fi nalidades. De acordo com Libâneo (2012, p. 412): a) A escola é uma organização em que tanto seus objetivos e resultados quanto seus processos e meios são relacionados com a formação humana, ganhando relevância, portanto, o fortalecimento das relações sociais, culturais e afetivas que nela tem lugar; b) As instituições escolares, por prevalecer nelas o elemento humano, precisam ser democraticamente administradas, de modo que todos os seus integrantes canalizem esforços para a realização de objetivos educacionais, acentuando- se a necessidade da gestão participativa e da gestão de participação. Com isso, a escola necessita, junto de sua organização e gestão, buscar condições/ meios para que sejam realizados todos os objetivos propostos. 45 A ESTRUTURA ESCOLAR Capítulo 2 Desta maneira, a escola fará bom uso dos recursos em sala de aula, promovendo o trabalho em equipe; acompanhando as atividades desenvolvidas; dando feedbacks a partir da participação e, desta forma, alcançando seu principal objetivo: o aprendizado dos educandos. Se pararmos para analisar, a escola não deixa de ter um caráter administrativo, no que tange aos trabalhos relativos à área burocrática, porém, não podemos esquecer que estamos tratando com seres humanos e não com máquinas. De acordo com Libâneo (2012, p. 413): Os estudos atuais sobre o sistema escolar e sobre as políticas educacionais têm-se centrado na escola como unidade básica e como espaço de realização das metas do sistema escolar. A ideia de ter as escolas como referência para a formulação e gestão das políticas educacionais não é nova, mas adquire importância crescente no planejamento de reformas educacionais exigidas pelas recentes transformações do mundo contemporâneo. Por essa razão, as propostas curriculares, as leis e as resoluções referem-se atualmente à prática organizacional como autonomia, descentralização, projeto pedagógico-curricular, gestão centrada na escola e avaliação institucional. É importante ressaltar que a gestão educacional centrada na escola, pode ser visualizada de duas maneiras, na perspectiva neoliberal e na perspectiva sociocrítica, conforme nos apresenta Libâneo (2012, p. 415) e que é de extremo valor sabermos: Na perspectiva neoliberal, pôr a escola como centro das políticas signifi ca liberar boa parte das responsabilidades do Estado, deixando as comunidades e escolas a iniciativa de planejar, organizar e avaliar os serviços educacionais. Já na perspectiva sociocrítica, a decisão signifi ca valorizar as ações concretas dos profi ssionais na escola que sejam decorrentes de sua inciativa, de seus interesses, de suas interações (autonomia e participação), em razão do interesse público dos serviços educacionais prestados, sem, com isso, desobrigar o Estado de suas responsabilidades. Podemos com isso perceber que a perspectiva sociocrítica dá aos profi ssionais da escola a possibilidade de organizarem-se construindo um espaço educativo, no qual ocorra a formação e a aprendizagem, espaço este, em que os profi ssionais podem deliberar sobre o trabalho realizado e reconhecerem-se como profi ssionais. Com o que foi dito até o momento, podemos determinar que a escola não é um espaço em que somente o professor auxilia o aluno na aprendizagem, mas todos os que ali trabalham realizam ações educativas, ensinando de uma maneira ou outra os educandos e assim também aprendem, pois o ato de educar está inserido em todas as ações dos profi ssionais que ali trabalham. 46 O COTIDIANO ESCOLAR E A AÇÃO PEDAGÓGICA Educamos através de nossas atitudes junto ao outro, até mesmo no atendimento aos pais, ou a qualquer pessoa que chegue ou esteja na escola. O simples fato de cumprimentar qualquer membro da escola já é uma maneira de educar. É necessário ressaltar que a escola traz consigo a utilização de valores, que em muitos casos não são encontrados em outros espaços da sociedade. Segundo Libâneo (2012, p. 414): [...] exemplos mostram que todas as ações e ocorrências em uma escola têm caráter eminentemente pedagógico. As escolas são, pois, ambientes formativos, o que signifi ca que as práticas de organização e gestão educam, isto é, podem criar ou modifi car os modos de pensar e agir das pessoas. Por outro lado, também a organização escolar aprende com as pessoas, uma vez que sua estrutura e seus processos de gestão podem ser construídos pelos próprios membros que a compõem. Com isso, podemos determinar que quem faz seu espaço de trabalho é o próprio profi ssional, pois se chegar ao trabalho de maneira abrupta, achando-se o único detentor do conhecimento, estará fadado a contaminar outras pessoas e a permanecer sozinho naquele espaço, que deve ser de prazer, dinamismo e comprometimento junto aos demais colegas de profi ssão e aos objetivos educacionais propostos. De acordo com Amiguinho e Canário (1994 apud LIBÂNEO, 2012, p. 414 ), “Os indivíduos e os grupos mudam, mudando o próprio contexto em que trabalham”. FIGURA 1 – OS GRUPOS SE FAZEM NA AÇÃO-REFLEXÃO FONTE: <http://www.frasespequenas.com.br/autor-paulo-freire>. Acesso em: 11 jan. 2018. 47 A ESTRUTURA ESCOLAR Capítulo 2 Assim sendo, salienta-se que dependendo do sistema político e econômico, a escola também passa por diversas mudanças que necessitam ser avaliadas junto aos grupos de trabalho e perante o sistema de ensino apresentado. Cabe, então, ressaltar que a escola, conforme Paro (2007, p. 33): [...] é uma agência educativa [...] tomada a educação como apropriação da cultura, e entendida esta como um conjunto de conhecimentos, valores, crenças, artes, fi losofi a, ciência, tudo enfi m, que é produzido pelo homem em sua transcendência da natureza e que constitui como ser histórico. Junto ao que o autor nos apresenta, a escola, enquanto agência educativa, não pode mais ser compreendida como um espaço de mera transmissão de conteúdos, mas sim, voltada ao contexto social a qual está inserida. Com isso, podemos entender que a escola é uma instituição que possui grandes responsabilidades e que se encontra entre duas grandes instâncias, conforme a fi gura a seguir. FIGURA 2 – A ESCOLA INSERIDA ENTRE DUAS GRANDES INSTÂNCIAS FONTE: Libâneo (2012, p. 415) Frente ao que foi exposto no diagrama, perceb emos que a escola é um espaço que recebe a infl uência das diretrizes de ensino e da sociedade em si. De acordo com Libâneo (2012, p. 415), “a escola é instância integrante do todo social, sendo afetada pela estrutura econômica e social, pelas decisões políticas e pelas relações de poder em vigor na sociedade”. Com isso, percebemos que a escola recebe esta infl uência da sociedade, do próprio sistema de ensino – seja federal, estadual ou municipal – e isso recai nas salas de aula. Desta forma, é imprescindível que os profi ssionais da educação tenham conhecimento das diretrizes e possuam consciência “das determinações sociais e políticas, das relações de poder implícitas nas decisões administrativas e pedagógicas do sistema e da maneira pela qual afetam as decisões e ações levadas a efeito na escola e nas salas de aula” (LIBÂNEO, 2012, p. 416). 48 O COTIDIANO ESCOLAR E A AÇÃO PEDAGÓGICA Para tanto, cada profi ssional necessita saber seu papel e encontrar maneiras de desenvolver seu trabalho, buscando sempre o incremento de novas práticas junto a documentos ofi ciais que integram o sistema de ensino. Para saber qual o papel de cada profi ssional da escola, trataremos agora de cada um em particular, mas, antes, vamos para uma atividade de estudo com nosso Leo Mascote. Atividade de Estudos:
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