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Autor: Juliano Carneiro Veiga E-mail para sugestões ou críticas: juliano.veiga@tjmg.jus.br Política de Autocomposição no TJMG – Identificação dos casos de Mediação, Conciliação e Justiça Restaurativa mailto:juliano.veiga@tjmg.jus.br mailto:juliano.veiga@tjmg.jus.br Política de Autocomposição no TJMG Juliano Carneiro Veiga 2 UNIDADE I – A POLÍTICA PÚBLICA DE AUTOCOMPOSIÇÃO 1.1 A Res. nº 125/CNJ e as principais inovações legislativas: as diretrizes nacionais da Política Pública De início, cumpre destacar que a tentativa de adoção de métodos autocompositivos esteve presente em diversos diplomas legislativos desde nossa primeira Constituição de 1824. Tal intento aflorou na década de 1990, quando se iniciaram diversas reformas legislativas que pretendiam simplificar o sistema de resolução de conflitos por meio da adoção da conciliação, tanto no processo comum como nos juizados especiais (v.g Leis 8.952/94 e 9.099/95). Todavia, mesmo com as inovações legislativas, ressalvada a existência de alguns projetos bem-sucedidos pelo Brasil, verificava-se que, na prática, a autocomposição permanecia sendo tratada como mera formalidade do sistema, recebendo pouca atenção para a efetiva capacitação e desenvolvimento de competências específicas dos facilitadores, juízes e demais operadores que atuavam na resolução consensual de conflitos, situação que indicava, uma vez mais, que a mera alteração legislativa não implica mudanças na prática cotidiana. Nesse contexto, considerando a missão precípua do Poder Judiciário de resolver adequadamente os conflitos a ele submetidos e promover a pacificação social, não apenas por meio de processos judiciais, mas também pela adoção de outros métodos capazes de realizar tal propósito, o Conselho Nacional de Justiça publicou, em 29/11/2010, a Resolução nº 125, que dispõe sobre a Política Judiciária Nacional de Política de Autocomposição no TJMG Juliano Carneiro Veiga 3 Tratamento Adequado dos Conflitos de Interesses. Com a implementação dessa Política Pública, pretende-se estimular, apoiar e difundir a sistematização e o aprimoramento das boas práticas já adotadas pelos tribunais do país, bem como organizar e uniformizar os serviços de conciliação, mediação e outros métodos consensuais de solução de conflitos, evitando as disparidades de orientação e práticas. Consoante disposto no art. 1o da Res nº 125/2010, o objetivo central dessa Política Pública é “assegurar a todos o direito à solução dos conflitos por meios adequados à sua natureza e peculiaridade”. Desse modo, o critério orientador da escolha pelo método que será utilizado na resolução dos conflitos passa a ser o da adequabilidade, indicando que deve ser ofertado e assegurado aos envolvidos no conflito o mecanismo de solução mais adequado à natureza e particularidades do conflito por eles vivenciado. Assim, a depender do conflito submetido ao Poder Judiciário, devem ser oferecidos, ao lado do processo judicial, outros métodos capazes de oportunizar uma resolução adequada para o caso. Para tanto, não basta a simples oferta formal da possibilidade de uma composição, sendo fixadas como diretrizes a preocupação com a boa qualidade dos serviços prestados e a necessidade de disseminação da cultura de pacificação social, por meio da resolução não violenta de conflitos, tendo sempre como norte a satisfação dos usuários do sistema. A propósito, o Código de Processo Civil de 2015 (CPC) encampou as principais diretrizes estabelecidas pela Res nº 125/CNJ, assegurando o amplo acesso ao Poder Judiciário, mas inovando ao normatizar o princípio da Promoção pelo Estado da Autocomposição, prevendo que “o Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos”, bem como que “a conciliação, a mediação e outros métodos de Política de Autocomposição no TJMG Juliano Carneiro Veiga 4 solução consensual de conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial” (art. 3o, §§ 2o e 3o, do CPC). Assim, a atual sistemática processual indica a opção legislativa pela implementação do modelo de Múltiplas Portas de solução de conflitos (Multidoor Courthouse), com a integração da solução jurisdicional tradicional a outros métodos de solução de litígios, concebendo o Poder Judiciário como um Centro de Resoluções de Disputas com a oferta de distintos processos, adequando os procedimentos e métodos às características específicas de cada conflito. Desse modo, embora se garanta, como regra, a incondicionalidade do direito de acesso ao Judiciário, a nova sistemática processual reforça o caráter substitutivo da solução adjudicada dos conflitos, incentivando, sempre que possível, que as próprias partes construam, com efetiva participação em procedimento mediado pelo contraditório, a solução mais adequada para o conflito por elas vivenciado. Ademais, vale destacar que, no final de 2015, também entrou em vigor a Lei de Mediação (Lei nº 13.140/2015), que dispõe sobre a mediação entre particulares como meio de solução de controvérsias e sobre a autocomposição de conflitos no âmbito da Administração Pública. Embora referida lei tenha se alinhado às disposições do CPC e, até mesmo, repetido suas principais linhas normativas acerca da mediação judicial, em outros dispositivos trouxe inovações importantes, reforçando a importância da mediação extrajudicial (arts. 9o, 21 a 23) e a possibilidade de criação de câmaras de prevenção e resolução administrativa de conflitos envolvendo a União, Estados, DF e Municípios (art. 32 e ss). Política de Autocomposição no TJMG Juliano Carneiro Veiga 5 Assim, em síntese, no contexto da implementação da Política Pública de Tratamento Adequado dos Conflitos, as seguintes diretrizes passam a nortear o papel do Judiciário e dos operadores do Direito na resolução dos conflitos: i) revisão do conceito de acesso à Justiça (art. 5º, XXXV, CR/88) – que passa a ser visto como acesso qualificado “à ordem jurídica justa e a soluções efetivas”, oportunizando a participação decisiva de ambas as partes na busca do resultado que satisfaça seus interesses, de forma tempestiva, efetiva e adequada; ii) promoção da mudança de mentalidade e da emancipação/cidadania dos indivíduos – contribuindo para o exercício da autonomia na condução de processos decisórios, estimulando o desenvolvimento de uma nova cultura de solução negociada e amigável dos conflitos; iii) filtro da litigiosidade – objetivando reduzir a excessiva judicialização dos conflitos de interesses, da quantidade de recursos e de execução de sentenças; iv) adequação de métodos – no intuito de assegurar a todos o direito à solução dos conflitos por meios adequados à sua natureza e peculiaridade; v) organização e uniformização – evitando disparidades de orientação e práticas relativas aos serviços de conciliação, mediação e outros métodos consensuais de solução de conflitos, possibilitando a boa execução da política pública; vi) garantia da qualidade dos serviços – adequada capacitação, treinamento, aperfeiçoamento, monitoramento e avaliação dos servidores, conciliadores e mediadores; vii) redefinição e reafirmação do papel do Poder Judiciário – função precípua de pacificar, humanizar e harmonizar as relações sociais; viii) promoção da satisfação do usuário – com o devido acolhimento, escuta ativa, identificação do conflito e encaminhamento ao método mais adequado de resolução, Política de Autocomposição no TJMG Juliano Carneiro Veiga 6 possibilitando a devida participação na construção da decisão por meio da negociação colaborativa e da construção de acordos que atendam a seus reais interesses e necessidades. Na implementação dessa Política Pública, a Resolução nº 125/2010 estabeleceu que osTribunais deverão criar um Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos (art. 7o) e os Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania (Centros ou CEJUSCs), unidades do Poder Judiciário, preferencialmente, responsáveis pela realização ou gestão das sessões e audiências de conciliação e mediação que estejam a cargo de conciliadores e mediadores, bem como pelo atendimento e orientação ao cidadão (art. 8o). Ademais, o próprio CPC (art. 165) e a Lei de Mediação (art. 24) também determinam a criação dos CEJUSCs, cuja organização e composição devem ser definidas pelos próprios Tribunais, observadas as normas do CNJ. 1.2 A Política Autocompositiva do TJMG Para atender às determinações da Res nº 125/2010/CNJ, o TJMG editou, em 2011, as Resoluções 661 e 682, que criaram o Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Conflitos (Nupemec) e os Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania (CEJUSCs), dispondo sobre sua instalação e funcionamento. Referidas resoluções foram revogadas pela Resolução 873/2018, que atualmente dispõe sobre a estrutura e o funcionamento do Nupemec e estabelece normas para a instalação dos CEJUSCs. Política de Autocomposição no TJMG Juliano Carneiro Veiga 7 O Nupemec é um órgão do TJMG, sob a coordenação do Terceiro Vice- Presidente1, que tem como objetivo desenvolver, no âmbito do Poder Judiciário do Estado de Minas Gerais, a Política Judiciária de tratamento adequado dos conflitos de interesses estabelecida na Res nº 125/2010/CNJ. As atribuições do Nupemec estão previstas no artigo 5o da Resolução 873/2018, dentre as quais se destacam o desenvolvimento, planejamento, manutenção e aperfeiçoamento, no âmbito do TJMG, de ações voltadas ao cumprimento da Política Judiciária de tratamento adequado dos conflitos de interesses e suas metas. Além de atuar na instalação dos CEJUSCs, o Nupemec também tem a atribuição de promover, por meio da Escola Judicial Desembargador Edésio Fernandes, EJEF, capacitação, treinamento e atualização permanente de magistrados, servidores, conciliadores e mediadores nos métodos consensuais de solução de conflitos. Em observância às disposições da Res nº 125/2010/CNJ, a Política Pública de Autocomposição do TJMG estabelece como prioritária a disponibilização aos jurisdicionados de métodos adequados de resolução de conflitos, ao lado do processo tradicional, em especial a conciliação e a mediação, a serem conduzidos por facilitadores devidamente capacitados, oportunizando a ampliação do acesso à Justiça com a criação dos CEJUSCs – verdadeiros Centros de Tratamento Efetivo e Adequado dos Conflitos de Interesses que deságuam no Poder Judiciário. Os CEJUSCs passam a ser vistos como a nova porta de entrada do Poder Judiciário, com a oferta de um serviço qualificado de acolhimento, atendimento e orientação ao cidadão (setor de cidadania), bem como de métodos prévios de resolução de conflitos (setor pré-processual), no intuito de filtrar a excessiva judicialização e oportunizar uma resolução tempestiva, efetiva e adequada dos conflitos de interesses. 1 O Serviço de Apoio ao Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos - Seanup - presta auxílio administrativo ao Nupemec. Contatos: (31) 3237.5141 / nupemec@tjmg.jus.br Política de Autocomposição no TJMG Juliano Carneiro Veiga 8 Nos CEJUSCs também são realizadas as audiências de conciliação e mediação dos processos que estão em andamento (setor processual), podendo os autos serem remetidos ao setor tanto para a audiência inaugural, como também nas demais fases do processo, desde que vislumbrada a possibilidade de uma composição de interesses. Com efeito, sem afastar a importância da resolução endoprocessual, verifica-se que, em diversas situações, as soluções consensuais, precedidas da negociação integrativa de interesses e necessidades, garantem a efetiva satisfação dos interessados e a resolução do conflito por eles vivenciado, sendo inclusive mais adequadas do que a imposição jurisdicional de uma decisão, ainda que bem fundamentada e em observância aos princípios consubstanciadores do modelo constitucional do processo. Outrossim, enfatiza-se que a Política Autocompositiva não objetiva apenas a obtenção de acordos e o abreviamento do trâmite processual, porquanto o simples acordo formal pode não representar o efetivo tratamento adequado do conflito submetido aos métodos autocompositivos. Cumpre destacar que os conflitos têm natureza multifacetada e dinâmica, sendo a projeção jurídica apenas uma de suas faces, abarcando ainda aspectos afetivos, psicológicos, relacionais, culturais, sociais e econômicos. Conforme preceitua Roberto Bacellar, quando o juiz extingue o processo, com ou sem julgamento de mérito, soluciona apenas a lide processual (aquela descrita no processo judicial), deixando, muitas vezes, de atender ao que efetivamente é o interesse das partes (BACELLAR, 2011). No mesmo sentido, André Gomma de Azevedo enfatiza que o processo judicial, em muitos casos, aborda o conflito apenas sob o aspecto jurídico, e, “[…] ao tratar exclusivamente daqueles interesses juridicamente tutelados, exclui aspectos do conflito que são possivelmente tão Política de Autocomposição no TJMG Juliano Carneiro Veiga 9 importantes quanto ou até mais relevantes do que aqueles juridicamente tutelados” (AZEVEDO, 2010, p. 29). Vale destacar que, desde o início da regulamentação interna, o TJMG vislumbrou a possibilidade de integração do setor de conciliação dos Juizados Especiais ao setor processual dos CEJUSCs, restando tal previsão confirmada pela Resolução 873/2018 (art. 25, § 2o). Ademais, existem experiências exitosas, em alguns Juizados Especiais, da oferta da resolução pré-processual de conflitos, que se alinham aos objetos da Política de Autocomposição. Nesse ponto, ressalta-se que os CEJUSCs estão subordinados ao Nupemec, coordenado pela Terceira Vice-Presidência, enquanto os Juizados Especiais estão vinculados ao Conselho de Supervisão e Gestão, que está sob a direção da Presidência do TJMG. Por outro lado, urge destacar que, em diversos Estados, foram criados CEJUSCs específicos dos Juizados Especiais, com a disponibilização dos três setores de atendimento referidos acima. Em Minas Gerais, a questão está em estudo, sendo importante registrar alguns passos já dados no sentido de integrar os CEJUSCs e os Juizados Especiais em uma única Política Institucional de Autocomposição, dentre eles a adoção de capacitação única para magistrados, servidores, estagiários, voluntários, conciliadores e mediadores, bem como a indicação de um juiz coordenador dos Juizados para o NUPEMEC, estando em estudo a possibilidade de indicação de um juiz pela Terceira Vice-Presidência para o Conselho dos Juizados Especiais e a integração das estatísticas dos CEJUSCs e dos JESPs, dentre outras possibilidades de integração. Política de Autocomposição no TJMG Juliano Carneiro Veiga 10 UNIDADE II – OS MÉTODOS AUTOCOMPOSITIVOS 2.1 Metodologias avaliativa (conciliação) e facilitativa (mediação) A conciliação e a mediação situam-se dentre os denominados Meios Alternativos de Solução de Conflitos, conhecidos internacionalmente pela sigla ADR (Alternative Dispute Resolution), caracterizando-se como métodos consensuais de resolução de disputas nos quais a construção para a solução do conflito dá-se de maneira autônoma e consensual entre as partes, não havendo qualquer imposição por parte do(s) terceiro(s) que atua(m) como interventor(es) no processo de resolução do conflito. No contexto da implementação da Política Pública de Autocomposição, sugere-se que tais métodos sejam denominados como “Meios ou Métodos Adequados ou Apropriados de Solução de Conflitos”, porquanto a expressão “alternativos” pode sugerirque tais métodos não seriam adotados prioritariamente no tratamento dos conflitos submetidos ao Judiciário, além do princípio da adequabilidade ser o norteador da escolha do método resolutivo. No Brasil, tanto a conciliação quanto a mediação são utilizadas como formas de resolução de conflitos no decorrer de um processo judicial (incidental), e também na resolução de conflitos ainda não ajuizados (conciliação e mediação pré- processual/extrajudicial). Ademais, embora possuam características assemelhadas, a conciliação e a mediação não são tratadas como sinônimos, sendo comum diferenciar tais métodos em razão da postura do conciliador e do mediador na condução do procedimento, bem como em razão da natureza dos conflitos submetidos a um ou a outro método. O mediador atuaria apenas como um facilitador da comunicação entre as partes, sem sugerir ou apresentar qualquer solução para o conflito, uma vez que essa deve ser construída exclusivamente pelas partes. Por outro lado, o conciliador, além de facilitar a comunicação e a negociação entre as partes, poderia sugerir possíveis soluções para o conflito, sendo facultado às partes aceitá-las ou não. Além disso, há diferenciação com relação à natureza do conflito a ser resolvido por um ou outro método consensual. Nesse sentido, a utilização da técnica conciliatória mostra-se mais indicada para os conflitos que não necessitam de uma análise muito Política de Autocomposição no TJMG Juliano Carneiro Veiga 11 aprofundada para sua solução, nos quais as partes envolvidas mantenham apenas relações pontuais e o diálogo e a negociação revelem-se fluentes entre os envolvidos, como, por exemplo, em conflitos envolvendo relações de consumo e de trânsito. Diferentemente, a técnica da mediação é mais indicada para os conflitos de natureza complexa, nos quais há laços intensos de relacionamento entre os envolvidos, sendo difícil trabalhar o conflito de maneira superficial, sem um adentramento nas causas que deram origem à situação conflituosa, como geralmente acontece nos conflitos familiares e de vizinhança. Para Roberto Portugal Bacellar: A conciliação, em um dos prismas do processo civil brasileiro, é a opção mais adequada para resolver situações circunstanciais, como uma indenização por acidente de veículo, em que as pessoas não se conhecem (o único vínculo é o objeto do incidente), e, solucionada a controvérsia, lavra-se o acordo entre as partes, que não mais vão manter qualquer outro relacionamento; já a mediação afigura-se recomendável para situações de múltiplos vínculos, sejam eles familiares, de amizade, de vizinhança, decorrentes de relações comerciais, trabalhistas, entre outros. Como a mediação procura preservar as relações, o processo mediacional bem conduzido permite a manutenção dos demais vínculos, que continuam a se desenvolver com naturalidade durante e depois da discussão da causa (BACELLAR, 2011, p. 35-36). Em relação à postura do conciliador e do mediador e à natureza dos conflitos a serem encaminhados para resolução pela conciliação ou pela mediação, assim prevê o art. 165, §§ 2o e 3o, do CPC: Art. 165 [...] § 2 o O conciliador, que atuará preferencialmente nos casos em que não houver vínculo anterior entre as partes, poderá sugerir soluções para o litígio, sendo vedada a utilização de qualquer tipo de constrangimento ou intimidação para que as partes conciliem; § 3 o O mediador, que atuará preferencialmente nos casos em que houver vínculo anterior entre as partes, auxiliará os interessados a compreender as questões e os interesses em conflito, de modo que eles possam, pelo restabelecimento da comunicação, identificar, por si próprios, soluções consensuais que gerem benefícios mútuos. Política de Autocomposição no TJMG Juliano Carneiro Veiga 12 Assim, o mediador atuaria apenas como um facilitador da comunicação entre as partes, sem sugerir ou apresentar qualquer solução para o conflito, uma vez que essa deve ser construída exclusivamente pelas partes (metodologia facilitativa).2 Lado outro, o conciliador, além de facilitar a comunicação e a negociação entre as partes, poderia sugerir possíveis soluções para o conflito, sendo facultado às partes aceitá-las ou não (metodologia avaliativa). Nesse sentido, as orientações do terceiro facilitador podem variar de acordo com a definição do objeto da autocomposição e com a percepção do mediador quanto ao seu papel. Segundo preconizado por Leonard Riskin,3 na definição do objeto, uma mediação pode ter características restritas ou ter mais características amplas, sendo que a “mediação restrita” estaria vinculada mais aos pontos controvertidos e norteada pelo objeto litigioso, enquanto a “mediação ampla” abordaria, além dos pontos controvertidos, outros interesses, elementos subjacentes ou demais aspectos considerados relevantes para a adequada resolução do conflito. Entretanto, embora o CPC traga previsão expressa acerca da possibilidade de o conciliador apresentar uma apreciação do mérito ou uma recomendação de solução (avaliação), a posição adotada pelo CNJ, na capacitação dos conciliadores e mediadores, é no sentido de recomendar que, como regra, não sejam apresentadas sugestões de acordo ou direcionamentos quanto ao mérito, procurando ofertar um rol de técnicas autocompositivas que evitem a adoção da postura avaliadora. A propósito, referida orientação está em estreita sintonia com os objetivos da Política Pública de Autocomposição, porquanto se busca incentivar o empoderamento e a autonomia das próprias partes na resolução de suas questões. Na linha adotada pelo CNJ, a recomendação de adoção da postura facilitadora restou corroborada por pesquisas que indicaram que as mediações facilitadoras trouxeram maior grau de satisfação dos usuários, índices mais elevados de acordos e de cumprimento espontâneo do que a postura avaliadora. Portanto, seja em conciliações, seja em mediações, a orientação é de que os conciliadores e mediadores adotem a 2 Cf. SALES, Lília Maia de Morais. Justiça e mediação de conflitos. Belo Horizonte: Del Rey, 2004, p. 23. 3 Cf. RISKIN, Leonard L. Compreendendo as orientações, estratégias e técnicas do mediador: um padrão para iniciantes. Trad. de Henrique Araújo Costa. In: AZEVEDO, André Gomma de (Org.) Estudos em arbitragem, mediação e negociação. Brasília: Ed. Brasília Jurídica, 2002. Política de Autocomposição no TJMG Juliano Carneiro Veiga 13 postura facilitadora, consoante capacitação obrigatória, tanto para atuação nos Juizados Especiais quanto nos CEJUSCs, na forma preconizada pelo CNJ. Além da diferença em relação à postura do facilitador e à natureza dos conflitos, cabe registrar, também, que o procedimento adotado na conciliação é composto por fases mais sumarizadas, havendo limitação de tempo no desenrolar das etapas da sessão conciliatória, o que implica a redução do leque de técnicas utilizadas e a postura mais intervencionista do conciliador. Como regra, a conciliação é realizada em uma única sessão, que pode durar de 30 a 60 minutos, havendo previsão no CPC de que sejam marcadas com um intervalo mínimo de 20 minutos (art. 334, § 12). Por sua vez, o procedimento da mediação se desenvolve com a aplicação integral de todas as técnicas autocompositivas, não havendo, como regra, limitação de tempo para sua realização. Em geral, a mediação pode durar de 01 a 05 sessões, cada uma com duração aproximada de 01 hora e 30 minutos. Assim, na mediação há um alongamento do procedimento e do desenvolvimento de cada fase, no intuito de melhor trabalhar a comunicação e a negociação com a identificação, esclarecimento e integração dos interesses e necessidades dos envolvidos. Por fim, cabe registrar que o objetivo da política autocompositiva no âmbito do Estado de Minas Geraisé aumentar paulatinamente o número de casos encaminhados para a mediação de conflitos. Embora o procedimento da mediação possa se estender por mais sessões, o resultado final evita o surgimento de novas demandas conexas e promove mudanças significativas na forma de abordagem e administração futura de conflitos, preservando e harmonizando os relacionamentos sociais. 2.2 Outras ferramentas metodológicas disponíveis (Justiça Restaurativa, Oficinas de Parentalidade, etc.) Consoante diretriz da Política Pública de Autocomposição, a administração da Justiça deve se voltar para a adequação dos métodos no intuito de melhor resolver as disputas trazidas ao Poder Judiciário, desapegando-se de fórmulas exclusivamente positivadas para incorporar métodos interdisciplinares de tratamento de conflitos, objetivando abordar não apenas os interesses juridicamente tutelados, mas também Política de Autocomposição no TJMG Juliano Carneiro Veiga 14 outros interesses e aspectos relevantes para a devida resolução do conflito e harmonização das relações sociais. Nesse sentido, cabe ao Poder Judiciário ampliar o rol de metodologias para a adequada administração e resolução de conflitos, devendo estimular, difundir e educar o usuário para melhor resolver seus conflitos, por intermédio de ações comunicativas mais eficientes. Assim, o acesso à Justiça passa a ser visto não apenas como o mero acesso formal ao Judiciário, com a prevenção e reparação de direitos por meio de soluções adjudicadas, mas também engloba o acesso a outras metodologias que propiciam o empoderamento e a responsabilização dos envolvidos na administração de suas questões e na construção de soluções para seus problemas. Nesse sentido, além da conciliação e da mediação, que são métodos basilares na Política de Autocomposição, o Judiciário passou a incluir e ofertar outras ferramentas metodológicas para o adequado tratamento dos conflitos de interesses, como, por exemplo, as Oficinas de Parentalidade e Divórcio e a Justiça Restaurativa. As Oficinas de Parentalidade objetivam auxiliar as famílias que passam por processos de separação, divórcio ou dissolução de união estável, na transição oriunda do rompimento de relações conjugais que geraram filhos, no intuito de que possam lidar com a situação da melhor maneira possível, mantendo os vínculos dos genitores com os filhos de maneira saudável, evitando práticas de alienação parental, fornecendo a todos os envolvidos (pais, mães, filhos de idade entre 6 e 17 anos) possibilidades de melhor administrar desentendimentos, interesses e sentimentos. Não raras vezes, os genitores têm dificuldades para separar e diferenciar o término da relação conjugal com a continuidade da relação parental, que prosseguirá mesmo após o divórcio, razão pela qual essas oficinas contribuem de maneira significativa para reafirmar a responsabilidade dos genitores em relação aos filhos comuns, bem como valorizar o papel do outro genitor na relação com os filhos. Além disso, auxiliam os filhos a entender o que está acontecendo, sem assumir para si a culpa pelo término do relacionamento dos pais, mantendo relações saudáveis com ambos os genitores. Ademais, referidas oficinas auxiliam na promoção da reflexão e conscientização das partes acerca da postura adotada por elas no encaminhamento do processo do divórcio ou dissolução da união estável e na administração das diversas questões, interesses e sentimentos envolvidos. Em geral, após as partes serem encaminhadas para Política de Autocomposição no TJMG Juliano Carneiro Veiga 15 participar das Oficinas de Parentalidade, elas retornam ao processo de mediação com uma postura diferenciada para lidar com o conflito e dar sequência ao diálogo e à negociação, com maiores possibilidades de construção de acordos que atendam seus interesses e necessidades. Vale destacar que o CNJ e o TJMG incentivam a adoção de tais oficinas, possuindo cursos específicos para capacitação de multiplicadores.4 Outrossim, as partes podem ser encaminhadas para participar de referidas oficinas sempre que for detectada a presença de conflito, independentemente da fase de tratamento, seja ela processual, no decorrer da conciliação/mediação incidental, na pendência de julgamento, com sentença ou acordo já celebrado, bem como nos casos em que buscam o setor pré-processual. Ressalta-se que, caso a comarca não disponha de estrutura para a realização das oficinas presenciais, as partes podem se inscrever e participar das oficinas de parentalidade on line, disponibilizadas no site do CNJ, com carga horária de 20 horas (http://www.cnj.jus.br/formacao-e-capacitacao/cursos-abertos?view=course&id=18). Urge salientar que, nas oficinas, não é realizada a resolução de questões, servindo como uma ferramenta metodológica complementar, preventiva, educacional e multidisciplinar aos demais métodos de resolução de conflitos, objetivando auxiliar os envolvidos a assumir o protagonismo e uma postura diferenciada na condução da resolução de suas questões quando do retorno ao processo resolutivo. Os encontros nas oficinas ocorrem em dois momentos distintos, primeiro com a participação de um dos genitores e, no segundo, com a participação do outro genitor que possui a guarda dos filhos. Nesse segundo momento, também é realizada a oficina para as crianças e adolescentes, que utiliza uma linguagem acessível e dinâmicas em grupo, ocorrendo em separado da oficina realizada com os pais. Por sua vez, a Justiça Restaurativa objetiva dar um tratamento mais adequado à administração e resolução de questões que envolvem a prática de infrações penais, no intuito de satisfazer os envolvidos e afetados por um ato danoso, promovendo a responsabilização do autor sem descuidar da reparação da vítima e restauração da própria comunidade envolvida. 4 Segue o link para acesso ao Regulamento e às apostilas que são utilizadas nas oficinas de parentalidade: http://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/conciliacao-e-mediacao-portal-da-conciliacao/cursos-formacao/curso-de-formacao-de- expositores-de-oficinas-de-divorcio-e-parentalidade http://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/conciliacao-e-mediacao-portal-da-conciliacao/cursos-formacao/curso-de-formacao-de-expositores-de-oficinas-de-divorcio-e-parentalidade http://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/conciliacao-e-mediacao-portal-da-conciliacao/cursos-formacao/curso-de-formacao-de-expositores-de-oficinas-de-divorcio-e-parentalidade Política de Autocomposição no TJMG Juliano Carneiro Veiga 16 A Justiça Restaurativa oportuniza que as pessoas envolvidas no conflito (autor, vítima, familiares e comunidade) possam conversar e entender a causa real do conflito, buscando transformar situações conflitivas em relações de cooperação e construção de soluções que restaurem a harmonia e promovam a pacificação social. O propósito é não apenas responsabilizar o autor da infração penal, mas também cuidar das necessidades das vítimas e da comunidade, oportunizando a efetiva reparação dos danos provocados pelo conflito e a transformação de situações e relacionamentos. A prática restaurativa considera as consequências da violência e suas implicações futuras, tendo como pressuposto a interdependência existente entre todos os indivíduos, que estão interconectados, de modo que o ato danoso não atinge apenas as pessoas diretamente envolvidas (autor/vítima), mas também a família e a própria comunidade. Assim, o procedimento restaurativo valoriza a autonomia e a responsabilização ativa dos indivíduos, a sabedoria coletiva e a potencialidade transformadora da conexão existente de cada um consigo (autoconscientização) e com o outro (consciência coletiva). Desse modo, o procedimento restaurativo objetiva conectar pessoas por meio de ações comunicativas e construtivas que abordamas necessidades determinantes e emergentes do conflito, de forma a aproximar e corresponsabilizar todos os participantes, desenvolvendo um plano de ações que procura restaurar laços sociais, compensar danos e gerar compromissos futuros mais harmônicos. Ademais, considera a complexidade envolvendo o fenômeno do conflito e da violência, abarcando aspectos que extrapolam as relações individuais, como questões sociais, comunitárias e institucionais. A Resolução do CNJ n. 225/2016 dispõe sobre a Política Nacional de Justiça Restaurativa no âmbito do Poder Judiciário, objetivando dar uniformidade em relação ao próprio conceito de Justiça Restaurativa, evitando disparidades de orientação e ação. Em seu art. 1o, dispõe que “a Justiça Restaurativa constitui-se como um conjunto ordenado e sistêmico de princípios, métodos, técnicas e atividades próprias, que visa à conscientização sobre os fatores relacionais, institucionais e sociais motivadores de conflito e violência, e por meio do qual os conflitos geram dano, concreto ou abstrato”. Ademais, referida resolução estabelece a necessidade de participação do ofensor e da vítima, quando houver, bem como de suas famílias e dos demais envolvidos no fato danoso, com a presença de representantes da comunidade direta ou indiretamente Política de Autocomposição no TJMG Juliano Carneiro Veiga 17 atingida pelo fato e de um ou mais facilitadores restaurativos, que coordenarão as práticas restaurativas, conforme atribuições previstas no art. 14 da referida resolução. Para que seja realizado o procedimento restaurativo, as partes envolvidas precisam manifestar sua concordância (adesão voluntária), devendo ser informadas de que podem desistir da opção a qualquer momento, até a homologação do procedimento restaurativo. Além disso, as partes devem ser informadas sobre o procedimento e sobre as possíveis consequências de sua participação, bem como de seu direito de solicitar orientação jurídica em qualquer estágio do procedimento (art. 2o da Res. 225/2016/CNJ). Para que o conflito seja trabalhado no âmbito da Justiça Restaurativa, é necessário que as partes reconheçam, ainda que em ambiente confidencial incomunicável com a instrução penal, que os fatos essenciais são verdadeiros, sem que isso implique admissão de culpa em eventual retorno do conflito ao processo judicial (art. 2o, 1o, da Res. 225/2016/CNJ). Com efeito, cumpre ressaltar que o procedimento restaurativo não objetiva apontar culpados ou vítimas do conflito, mas sim suscitar a percepção de que nossas ações geram consequências e afetam os outros e a nós mesmos, cabendo-nos assumir a responsabilidade pelos seus efeitos. Com isso, retira-se o ofensor da condição de sujeito passivo de uma punição para conscientizá-lo acerca das consequências provocadas pela sua conduta e levá-lo a assumir a responsabilidade pelo conserto e reparação dos efeitos provocados pelo seu ato, tanto para a vítima e sua família, quanto para a própria comunidade da qual ele próprio é membro. Em relação às práticas restaurativas realizadas em âmbito judicial, podem ser encaminhados procedimento e processos judiciais em qualquer fase de tramitação, pelo juiz, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, da Defensoria Pública, das partes, de seus advogados e dos setores técnicos de psicologia ou serviço Social, podendo, até mesmo, ser sugerido pela autoridade policial o encaminhamento do conflito para o procedimento restaurativo quando da lavratura do termo circunstanciado ou do relatório do inquérito policial. Outrossim, a aplicação do procedimento restaurativo pode ocorrer de forma alternativa ou concorrente com o processo judicial, objetivando sempre construir as melhores soluções para as partes envolvidas e a comunidade. Observando-se os princípios básicos previstos no art. 2o da referida resolução, o procedimento restaurativo se desenvolve como um conjunto de etapas e atividades que objetivam conceder um tratamento diferenciado dos conflitos, nos termos do conceito de Política de Autocomposição no TJMG Juliano Carneiro Veiga 18 Justiça Restaurativa apresentado acima (art. 1o), sendo comum no Poder Judiciário a adoção dos procedimentos denominados de mediação vítima-ofensor e de círculos restaurativos. As sessões restaurativas são destinadas à reunião das pessoas diretamente envolvidas na situação de violência ou conflito (ofensor e vítima), contando com a presença de seus familiares, amigos e de representantes da própria comunidade, sob a orientação de um terceiro facilitador (mediador ou guardião do círculo) devidamente capacitado (art. 13). Cabe a esse facilitador garantir que as regras estabelecidas para a realização do procedimento sejam observadas, propiciando uma comunicação adequada entre os participantes, no intuito de criar um espaço seguro para as pessoas abordarem o problema e construírem juntas soluções viáveis. O procedimento restaurativo é realizado em duas etapas: 1ª) pré-mediação ou pré-círculo – é composta das seguintes fases: declaração de abertura, reunião de informações, confirmação do interesse em participar do procedimento, preparação da escuta e discursos e resumo da expectativa quanto à sessão. O objetivo dessa etapa é preparar o encontro e os próprios participantes para tal momento. São realizadas sessões individuais com cada um dos participantes e os facilitadores, buscando identificar os danos, necessidades e sentimentos; 2ª) sessão conjunta ou círculo – é a realização da reunião entre os participantes, seguindo as fases assemelhadas às apresentadas no procedimento da mediação (declaração de abertura, reunião de informações, resumo, identificação e esclarecimento de questões, interesses e sentimentos, resolução de questões, etc). Vale destacar que alguns programas também adotam uma terceira etapa, chamada de pós-círculo, na qual há o acompanhamento do caso submetido à prática restaurativa, no intuito de se aferir se o procedimento foi eficaz para atender às necessidades e sentimentos dos participantes, bem como se os compromissos assumidos estão sendo cumpridos. Na realização da sessão de mediação ou do círculo restaurativo, os envolvidos são convidados a contarem suas percepções, observações, necessidades, interesses, sentimentos e perspectivas sobre o ocorrido, em um ambiente que garante segurança e iguais oportunidades de manifestação, utilizando-se de uma comunicação apropriada que propicia momentos de fala e de escuta. Além disso, garante-se o sigilo do que é falado, ressalvada a concordância de todos com a publicidade de algum relato, no intuito de se Política de Autocomposição no TJMG Juliano Carneiro Veiga 19 criar um ambiente seguro para todos expressarem seus sentimentos e necessidades, sem receio de consequências externas. Nesse procedimento, procura-se desenvolver a empatia entre os participantes, propiciando a conexão com as necessidades, sentimentos e interesses do outro, tendo como pressuposta a ideia de que todos podem contribuir para transformar a situação conflituosa em oportunidade de construir novos caminhos e recomeços de vida. Consoante definido pela própria Res. 125/2010/CNJ (art. 18), cabe aos Tribunais de Justiça acompanhar o desenvolvimento dos projetos de Justiça Restaurativa, prestando suporte e auxílio para que não se afastem dos princípios básicos e dos balizamentos definidos na Res. 225/2016/CNJ. A propósito, cabe destacar que os procedimentos restaurativos não se caracterizam pela forma, mas sim por seus valores e princípios adotados. Nesse sentido, consoante levantamento recente realizado pelo TJMG, percebe-se a existência de diversas iniciativas no Estado de Minas Gerais que têm contornos restaurativos, embora nem todos configurem propriamente a prática da Justiça Restaurativa nos termos da Política Institucional. No momento, o Tribunal pretendecriar um Núcleo de Justiça Restaurativa para delinear e uniformizar as práticas, tendo como dois referenciais básicos os projetos já existentes no Juizado Especial Criminal de Belo Horizonte e no Centro Integrado de Atendimento ao Autor de Ato Infracional de Belo Horizonte (CIA-BH). Inobstante ainda não se tenha previsão de obrigatoriedade de sua implantação, percebe-se que a construção de redes de atendimento e colaboração tem auxiliado significativamente na ampliação da oferta dessa metodologia de tratamento de conflitos, inclusive com a realização da prática restaurativa em instituições parceiras após o encaminhamento pelo Poder Judiciário, especialmente em casos envolvendo a prática de atos infracionais, de violência doméstica contra a mulher e de crimes de menor potencial ofensivo. Por fim, urge salientar a existência de outras ferramentas metodológicas que também podem ser adotadas para o tratamento adequado dos conflitos de interesses por parte do Poder Judiciário. A título de exemplo, cabe registrar a utilização de Constelações Sistêmicas em alguns CEJUSCs e Varas do Estado como desdobramento de conciliações e mediações realizadas em conflitos familiares com alto grau de litigiosidade, inclusive com bons resultados em termos de acordos efetivos em casos complexos. A propósito, vale destacar que a Constelação Familiar Sistêmica foi proposta e sistematizada pelo Política de Autocomposição no TJMG Juliano Carneiro Veiga 20 alemão Bert Hellinger, com atuação em questões familiares mal resolvidas, objetivando identificar e tornar consciente a origem de determinado problema, comportamento ou situação vivenciada, criando possibilidades de cura, compreensão e ressignificação do conflito vivenciado. Entretanto, recomenda-se certa cautela em relação à adoção dessas outras ferramentas metodológicas ainda não institucionalizadas, no intuito de evitar o distanciamento das diretrizes da Política Institucional. Ademais, caso sejam adotadas, devem contar com facilitadores devidamente capacitados, bem como sugere-se a realização de consulta prévia ao NUPEMEC – Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos, ligado a Terceira Vice-Presidência do TJMG. Política de Autocomposição no TJMG Juliano Carneiro Veiga 21 UNIDADE III – OS CENTROS JUDICIÁRIOS - CEJUSCS 3.1 A estrutura do CEJUSC: setores pré-processual, processual e cidadania De início, cabe registrar que o Código de Processo Civil de 2015, ao tratar dos métodos autocompositivos, encampou as disposições contidas no texto original da Resolução n. 125/2010/CNJ, reforçando as diretrizes preconizadas pela Política Pública de Autocomposição. Consoante determinação do art. 165 do CPC, “os tribunais criarão centros judiciários de solução consensual de conflitos, responsáveis pela realização de sessões e audiências de conciliação e mediação e pelo desenvolvimento de programas destinados a auxiliar, orientar e estimular a autocomposição”. Por sua vez, a Lei de Mediação (Lei 13.140/15) trouxe disposição semelhante em seu art. 24. No mesmo sentido, a Resolução n. 125/2010/CNJ dispõe em seu artigo 8o que “os tribunais deverão criar os Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania (Centros ou Cejuscs), unidades do Poder Judiciário, preferencialmente, responsáveis pela realização ou gestão das sessões e audiências de conciliação e mediação que estejam a cargo de conciliadores e mediadores, bem como pelo atendimento e orientação ao cidadão”. Assim, o Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania – CEJUSC – é o responsável pela realização das sessões e audiências de conciliação e mediação, pré- processuais e processuais, pelo atendimento e orientação ao cidadão, bem como pelo desenvolvimento de programas destinados a auxiliar, orientar e estimular a autocomposição. Em Minas Gerais, os CEJUSCs são instalados por meio de Portaria-Conjunta do Presidente, do Terceiro Vice-Presidente e do Corregedor-Geral de Justiça (art. 21 da Resolução 873/2018/TJMG). Conforme disposição do art. 25 da Resolução 873/2018, os CEJUSCs serão integrados por três setores, quais sejam: i) setor pré-processual de solução de conflitos, com a atribuição de realizar sessões de conciliação e de mediação pré-processuais; ii) setor processual de solução de conflitos, com a atribuição de realizar audiências de conciliação e de mediação processuais; iii) setor de cidadania, com atribuição de atender e orientar o cidadão. Antes do advento da Resolução nº 125/2010/CNJ e da exigência legal da criação de CEJUSCs, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais possuía diversos projetos e Política de Autocomposição no TJMG Juliano Carneiro Veiga 22 programas de incentivo à Conciliação e à Mediação de Conflitos, que passaram a integrar o CEJUSC quando da sua instalação em cada comarca. Desse modo, as experiências pré-processuais de resolução de conflitos (ex: Juizados de Conciliação) passaram a integrar o setor pré-processual do CEJUSC. Por sua vez, as Centrais de Conciliação e o Serviço de Conciliação dos Juizados Especiais Cíveis passaram a integrar o Setor Processual do CEJUSC. Vale ressalvar que a integração do serviço de conciliação dos JESPs ainda depende de uma melhor adequação e alinhamento entre o Nupemec e o Conselho de Supervisão dos Juizados Especiais. De qualquer modo, em comarcas menores, essa integração já costuma ser realizada pelo Juiz Coordenador quando da instalação do CEJUSC. Além desses dois setores, o Setor Cidadania abarcou uma experiência exitosa realizada pelo Serviço de Atendimento ao Cidadão – SEAC – em Belo Horizonte, ampliando as possibilidades de acolhimento, escuta, orientação e encaminhamento dos usuários que procuraram o CEJUSC. Desse modo, todo CEJUSC instalado deve abranger, necessariamente, o setor de solução de conflitos pré-processual, o setor de solução de conflitos processual e o setor de cidadania. Ademais, cabe registrar, por oportuno, que, além das disposições do Código de Processo Civil, da Lei de Mediação, da Lei 9.099/95, da Resolução nº 125/2010/CNJ e da Resolução nº 873/2018/TJMG, existem enunciados emitidos pelo Fórum de Coordenadores de Nupemecs (Fórum Nacional de Mediação e Conciliação - Fonamec), aprovados pela Comissão Permanente de Acesso à Justiça e Cidadania, ad referendum do plenário do CNJ, que integram a Resolução nº 125/2010/CNJ, com efeitos vinculativos para aplicação no âmbito dos CEJUSCs (art. 12-A, da Resolução nº 125/2010/CNJ), consoante destacaremos ao longo desta unidade. O setor cidadania é responsável pelo acolhimento e escuta do cidadão que procura o CEJUSC, realizando o primeiro atendimento e a triagem do caso. Na hipótese de o caso apresentado ser passível de atendimento no CEJUSC, o cidadão poderá ser direcionado para o agendamento de uma sessão de conciliação ou mediação no setor pré-processual do CEJUSC. Por outro lado, quando se tratar de questões cuja resolução não por possível no âmbito do CEJUSC, cabe ao setor de cidadania oferecer serviços de orientação e encaminhamento do cidadão (Enunciado nº 07 do Fonamec), de forma qualificada, evitando a peregrinação do mesmo por vários órgãos e instituições até obter alguma informação precisa para a resolução da questão apresentada. Ademais, podem Política de Autocomposição no TJMG Juliano Carneiro Veiga 23 ser formalizadas parcerias com entidades públicas e privadas para oferecer no setor de cidadania serviços de emissão de documentos (Carteira de Identidade [Registro Geral[, Carteira de Trabalho, Título de Eleitor, etc.) e outros serviços de interesse dos cidadãos, nos termos do Enunciado nº 13 do Fonamec. Outrossim, há possibilidade de realização de Eventos de Promoção da Cidadania, inclusive de forma itinerante, realizados em sistema de parceria comoutras instituições públicas e privadas, no intuito de oferecer uma vasta gama de serviços de promoção da inclusão social e do acesso ao Sistema de Direitos. No setor pré-processual, após a escuta e triagem do caso, são realizados os agendamentos das sessões de conciliação e mediação para resolução dos conflitos não- judicializados, ou seja, em que não existem processos em tramitação. Cabe ao responsável pela triagem indagar ao interessado no agendamento se há ou não processo em tramitação, podendo se valer de consulta ao SISCOM para confirmar a informação. Em relação às matérias que podem ser objeto de agendamento de conciliações/mediações, não há nenhuma restrição legal acerca da natureza do conflito ou do valor discutido pelas partes, razão pela qual podem ser atendidas quaisquer matérias que poderiam ser levadas à apreciação da Justiça Estadual. Eventualmente, havendo um CEJUSC com atendimento exclusivo para questões levadas aos Juizados Especiais, deve haver a observância das regras de competência previstas na Lei nº 9.099/95. A propósito, o Enunciado nº 5 do Fonamec dispõe que “o setor de solução de conflitos pré-processual dos CEJUSCs poderá atender as partes em disputas de qualquer natureza, exceto aquelas que tratarem de direitos indisponíveis não transacionáveis, nos termos do art. 3º da Lei de Mediação (Lei nº 13.140/2015), colhendo, sempre que necessária, nos termos da lei, a manifestação do Ministério Público, antes da homologação pelo Juiz Coordenador”. No mesmo sentido, o En. nº 7 do Fonamec prevê que “é viável a organização de rotinas de trabalho nas áreas tributária, ambiental, criminal, fazendária e previdenciária, e matérias de competência dos Juizados, tanto na área pré-processual como na área processual”. Após o registro sucinto da reclamação apresentada pelo solicitante, constando apenas o assunto a ser conversado na sessão de conciliação/mediação agendada, é entregue uma via da Carta Convite ao interessado para que ele próprio se encarregue do Política de Autocomposição no TJMG Juliano Carneiro Veiga 24 envio ou entrega ao solicitado, convidando-o para comparecer à sessão agendada. Entre a procura e a data da sessão deve ser observado um prazo suficiente para que a entrega da carta convite seja realizada tempestivamente. No dia marcado, comparecendo as duas partes, é realizada a sessão de conciliação ou mediação (que pode se desdobrar em mais sessões), sendo registrado em ata apenas eventual acordo formulado pelas partes, que seguirá para a homologação pelo Juiz Coordenador do CEJUSC. Havendo interesses de incapazes, o procedimento deverá seguir para manifestação prévia do Ministério Público, antes da homologação judicial. Ressalta-se que os procedimentos do pré-processual não devem ser distribuídos para posterior homologação, uma vez que a distribuição contraria o objetivo de desjudicialização. Por outro lado, em caso de não cumprimento espontâneo do acordo, eventual ação de cumprimento deverá ser distribuída (En. nº 29 do Fonamec), consoante os critérios de definição da competência das varas ou dos Juizados Especiais, nos casos em que passível a execução nos termos da Lei nº 9.099/95. Não havendo acordo, o procedimento é arquivado e as partes são orientadas acerca da possibilidade de buscarem outras vias para a resolução do conflito (ex: Juizado Especial, Defensoria Pública, etc.). Destaca-se que, não sendo possível a composição ou estando ausente uma ou ambas as partes, é formalizada uma ata registrando-se apenas que a conciliação/mediação restou infrutífera. Salienta-se que, em razão do princípio da confidencialidade, não podem constar na referida ata quaisquer detalhamentos sobre as negociações ou sobre as propostas recusadas. Os atendimentos realizados no setor pré- processual independem do pagamento de custas processuais (En. nº 19 do Fonamec), porquanto a Política de Autocomposição se volta ao incentivo da resolução prévia de conflitos, existindo, ainda, outros incentivos normativos acerca dessa questão para que a autocomposição seja adotada prioritariamente pelas partes (ex.: art. 90, § 3o, CPC; art. 22, § 2o, IV, e art. 29, ambos da Lei de Mediação, etc). Outrossim, enfatiza-se que todos os CEJUSCs devem dar prioridade e centrar seus esforços para a promoção da resolução pré-processual de conflitos, atendendo aos objetivos da Política Autocompositiva, oferecendo um filtro à judicialização e promovendo a pacificação social por meio de soluções adequadas, tempestivas e efetivas. Nesse sentido, o En. nº 6 do Fonamec estabelece que, “sempre que possível, deverá ser buscado o tratamento pré-processual do conflito, evitando-se a judicialização”. Política de Autocomposição no TJMG Juliano Carneiro Veiga 25 Além disso, há possibilidade que o Coordenador do CEJUSC remeta as partes para a conciliação e mediação privadas (Enunciado n. 37 do FONAMEC), nas comarcas nas quais existam Câmaras Privadas de Conciliação e Mediação, incentivando o fortalecimento da rede de tratamento e resolução extrajudicial de conflitos. Ressalta-se que a Portaria Conjunta n. 655/2017 do TJMG regulamenta o cadastramento das referidas Câmaras, dispondo que o requerimento do cadastro será entregue ao juiz coordenador do CEJUSC, nas comarcas nas quais há Centro Judiciário instalado (art. 2o, § 2º), instruído com os documentos relacionados no art. 3o. Cabe ao coordenador do CEJUSC realizar a análise desse requerimento e a verificação da idoneidade da Câmara (art. 5o), com a emissão de parecer prévio e posterior envio ao coordenador do NUPEMEC para avaliação final e inclusão em lista própria, em caso de deferimento do requerimento. O cadastro terá validade de 2 anos, com possibilidade de prorrogações (art. 8o). Destaca-se que os acordos pré-processuais celebrados nessas Câmaras Privadas podem ser enviados para a homologação do coordenador do CEJUSC, independentemente de pedido judicial (art. 10). Em relação aos processos judiciais, as partes podem optar, de comum acordo, pela realização da conciliação/mediação nas Câmaras Privadas cadastradas no TJMG, mediante manifestação nos autos, inclusive para fins de suspensão do processo (art. 11), cabendo-lhes remeter as cópias das peças processuais necessárias e arcar com os valores previamente ajustados e cobrados pelas Câmaras. Destaca-se que as Câmaras Privadas deverão suportar no mínimo 20% (vinte por cento) de sua capacidade de atendimento para a realização de conciliações e mediações, sem cobrança de honorários, nos processos em que for deferida a gratuidade judiciária (art. 15). Para atuarem em conciliação/mediação processual, todos os conciliadores e mediadores da Câmara deverão estar inscritos no Cadastro Nacional de Conciliadores e Mediadores Judiciais (CNJ), após participação em curso específico, nos termos do art. 167 do CPC. Não havendo manifestação das partes ou ocorrendo divergência, não há possibilidade de remessa dos autos para a conciliação/mediação nas Câmaras Privadas, podendo a mesma ser realizada no próprio CEJUSC ou juízo de origem. Além da análise inicial do pedido de cadastramento, o coordenador do CEJUSC também realizará o acompanhamento estatístico das conciliações/mediações realizadas nas Câmaras, que deverão enviar a ele relatórios mensais, até o quinto dia útil de cada mês, cabendo ao CEJUSC fazer a remessa ao NUPEMEC. Política de Autocomposição no TJMG Juliano Carneiro Veiga 26 Ademais, cabe registrar que o setor pré-processual pode funcionar junto aos demais setores do CEJUSC, em prédio próprio ou no Fórum, ou estender seu funcionamento em faculdades, associações comerciais, associações de bairro, escolas, espaços oferecidos por prefeituras ou por outras instituições públicas ou privadas, bem como de forma itinerante pelos municípios que compõem a comarca. Para tanto, deverá ser formalizado um convêniocom a instituição parceira, conforme modelos disponibilizados pelo TJMG. Por sua vez, o setor processual do CEJUSC é responsável pela realização das audiências de conciliação/mediação dos processos que estão em andamento, podendo receber processos das várias unidades judiciárias que compõem a comarca em qualquer fase de tramitação. Ordinariamente, os CEJUSCs realizam todas as audiências de conciliação/mediação previstas no art. 334 do CPC. Após o recebimento da petição inicial, a própria secretaria do juízo realiza o agendamento da data da referida audiência, consoante pauta disponibilizada pelo CEJUSC, cabendo à própria secretaria providenciar a expedição do mandado de citação antes da remessa dos autos ao setor do CEJUSC. Essa audiência deve ser marcada com antecedência mínima de 30 dias, devendo o réu ser citado com pelo menos 20 dias de antecedência (art. 334, CPC). No que diz respeito às ações de família, o mandado de citação conterá apenas os dados necessários à audiência e deverá estar desacompanhado de cópia da petição inicial, podendo a citação ocorrer com antecedência mínima de 15 dias da data da audiência (art. 695, CPC). Por sua vez, a intimação do autor para a referida audiência será realizada na pessoa de seu advogado. Vale destacar que essa audiência do art. 334 do CPC somente não será realizada se ambas as partes manifestarem, expressamente, o desinteresse na composição consensual ou quando não se admitir a autocomposição. Assim, a manifestação apenas do autor na petição inicial acerca do desinteresse na autocomposição não implica a dispensa da designação da referida audiência, devendo o réu também manifestar seu desinteresse, por petição, em até 10 dias antes da data da audiência (Enunciado nº 45 do Fonamec). Ademais, registra-se que “o não comparecimento injustificado do autor ou do réu à audiência de conciliação é considerado ato atentatório à dignidade da justiça e será sancionado com multa de até dois por cento da vantagem econômica pretendida ou do valor da causa, revertida em favor da União ou do Estado” (art. 334, § 8o, CPC). Ainda Política de Autocomposição no TJMG Juliano Carneiro Veiga 27 não há consenso em relação ao momento para a aplicação dessa multa, havendo juízes que a aplicam logo após a audiência, em face do caráter pedagógico, e outros que optam pela aplicação apenas na sentença, deixando de aplicá-la caso a autocomposição seja obtida no curso do processo. No dia da audiência de conciliação/mediação, as partes devem comparecer acompanhadas por seus advogados ou defensores públicos (art. 334, § 9o, CPC), podendo ser nomeado um defensor dativo caso a parte compareça desacompanhada de advogado e inexista defensor público disponível para assisti-la. Entretanto, consoante disposição do Enunciado nº 47 do Fonamec, quando o advogado ou defensor público, devidamente intimado, não comparecer à audiência injustificadamente, o ato poderá ser realizado sem a sua presença se o cliente/assistido concordar expressamente. Não obstante a orientação de que as próprias partes envolvidas no conflito compareçam nessa audiência, o § 10 do art. 334 do CPC prevê que a parte poderá constituir representante, por meio de procuração específica, com poderes para negociar e transigir. Caso necessário à composição das partes, pode ser realizada mais de uma sessão de conciliação ou mediação, havendo previsão no CPC de que o procedimento não poderá se alongar por mais de 2 meses a contar da realização da primeira sessão (art. 334, §2o), enquanto a Lei de Mediação dispõe que as partes poderão requerer a suspensão do processo por prazo suficiente para a solução do conflito (art. 16). Consoante previsão integrativa do artigo 313, II, § 4o, do CPC, pode-se adotar o entendimento de que essa suspensão poderia durar até no máximo 06 (seis) meses, consoante convencionado pelas partes. Por outro lado, pode-se entender que a previsão da Lei de Mediação deve prevalecer, uma vez que é norma especial sobre procedimento, com aplicação apenas supletiva do CPC (art. 1.046 § 2º), devendo ser privilegiada a interpretação que mais se alinhe aos princípios da mediação, porquanto há casos que exigem uma dilação maior do procedimento para serem adequadamente tratados. Havendo acordo, as sentenças homologatórias prolatadas em processos encaminhados ao CEJUSC de ofício ou por solicitação do juiz coordenador reverterão para o juízo de origem para efeito de estatística de produtividade (art. 8o, § 8º, da Resolução 125/2010/CNJ). Caso as partes não cheguem a um acordo, o processo é remetido à unidade judiciária de origem e começa a correr o prazo de 15 dias para o oferecimento da contestação, contado da data da audiência ou da última sessão de Política de Autocomposição no TJMG Juliano Carneiro Veiga 28 conciliação/mediação. Reitera-se, ainda, que não sendo possível a composição, registra- se apenas que a conciliação/mediação restou infrutífera, sem constar eventuais propostas recusadas ou o conteúdo das negociações, em observância ao princípio da confidencialidade. Vale ressaltar que não é atribuição do CEJUSC receber contestações, devendo a resposta do réu ser protocolizada no juízo de origem, consoante disposição do Enunciado 44 do Fonamec. Ademais, os CEJUSCs, embora sejam unidades judiciárias, por não contarem com uma Secretaria própria para a confecção de expedientes, não expedem intimações, mandados, ofícios, alvarás, formal de partilha, cartas de sentenças e outros. Assim, muitos CEJUSCs passaram a adotar como prática a consignação na própria ata do acordo da dispensa da expedição de tais documentos, valendo a sentença para fins de registro nos Cartórios de Registro Civil e Registros de Imóveis, para desconto do valor de pensão alimentícia junto à fonte pagadora, etc, sendo entregue uma via original, devidamente assinada, ao cidadão para que ele a apresente no cartório respectivo. A propósito, vale registrar que algumas serventias de Serviço de Registro de Imóveis (SRI) e de Registro Civil de Belo Horizonte vinham se negando a registrar a decisão de partilha, ao exigir carta de sentença ou o competente formal, razão pela qual foi realizada uma consulta à Corregedoria-Geral de Justiça pelo Coordenador do CEJUSC, Dr. Clayton Rosa de Resende, oportunidade em que a CGJ entendeu como impertinente a negativa dos Cartórios de Registro em registrar o provimento jurisdicional homologatório advindo do CEJUSC, em clara afronta aos princípios processuais e constitucionais da efetividade e da celeridade (Decisão nº 543 proferida pelo Corregedor Des. José Geraldo Saldanha da Fonseca em 29/1/2019). Por fim, destaca-se que, após cada atendimento realizado no CEJUSC, o usuário é convidado a preencher uma Avaliação de Satisfação, com o propósito de aferir a qualidade do atendimento e o índice de satisfação dos usuários. Além dessa pesquisa, todos os atendimentos realizados nos três setores do CEJUSC são contabilizados e devem ser enviados mensalmente para o Nupemec, consoante modelo de mapa de produtividade, atentando-se para o envio pelo SEI até o dia 5 do mês seguinte ao da apuração. A aferição adequada das estatísticas é de fundamental importância para o acompanhamento da implantação da Política Autocompositiva e avaliação do alcance das metas institucionais. Política de Autocomposição no TJMG Juliano Carneiro Veiga 29 3.2 A composição da equipe do CEJUSC Todo CEJUSC deve contar com estrutura funcional mínima, composta por um Juiz Coordenador e, eventualmente, juízes adjuntos, devidamente capacitados, com a função de administrar, fiscalizar e orientar o serviço prestado nos três setores do CEJUSC, bem como de acompanhar a seleção e a capacitação dos conciliadores e mediadores. Assim, o Coordenador tem a responsabilidade de acompanhar a atuação e o desempenho dos facilitadores, podendofazê-lo com o auxílio de sua equipe, conferindo- se a ele a prerrogativa de suspender e até mesmo desligar o conciliador ou mediador que descumprir as disposições do Código de Ética, atuar em desconformidade com as técnicas autocompositivas ou com as orientações do CEJUSC. Além disso, cabe ao juiz coordenador do CEJUSC a homologação dos acordos celebrados no setor pré-processual, contabilizando para ele tais sentenças para fins de produtividade. A propósito, vale registrar que o Órgão Especial acolheu a impugnação acerca do critério de produtividade formulada pelo então Coordenador do CEJUSC de Belo Horizonte, Dr. Renan Chaves Carreira Machado, definindo que as sentenças homologatórias decorrentes da atuação pré-processual reverterão, a título de produtividade, ao coordenador do CEJUSC, nos termos do art. 8o, § 8º, da Resolução 125/2010/CNJ (Decisão no processo SEI/TJMG 1049134). No mesmo sentido, o Enunciado nº 50 do Fonamec prevê que “é possível a homologação pelo Juiz Coordenador do CEJUSC de acordos celebrados extrajudicialmente”, podendo o Juiz Coordenador do CEJUSC homologar acordos celebrados em escritórios de advocacia ou na mediação extrajudicial, alinhando-se às disposições previstas no art. 57 da Lei nº 9.099/95 e no art. 20, parágrafo único, da Lei de Mediação. Ademais, a recomendação é de que todo CEJUSC conte com, ao menos, um servidor com dedicação exclusiva, devidamente capacitado em métodos consensuais de solução de conflitos e em triagem e encaminhamento adequado de casos. Alguns CEJUSCs que tiveram dificuldades na lotação de um servidor efetivo do quadro do TJMG, conseguiram obter a cessão de servidores efetivos de municípios ou a cessão de funcionários de instituições parceiras para atuação com dedicação exclusiva no CEJUSC. Política de Autocomposição no TJMG Juliano Carneiro Veiga 30 Além disso, para o funcionamento do CEJUSC é de fundamental importância a formação de uma equipe de conciliadores e mediadores que atuarão como facilitadores dos procedimentos autocompositivos. Ao instalar o Centro Judiciário, a comarca recebe vagas de estágio para seleção e lotação de estagiários no CEJUSC, podendo ser uma, duas ou três vagas, concedidas para comarcas de primeira, de segunda ou de entrância especial, respectivamente. Por sua vez, além dos estagiários contratados pelo TJMG, revela-se de grande valia contar com a atuação de conciliadores e mediadores voluntários, que podem contribuir para a ampliação e melhoria do atendimento, consoante sua disponibilidade de tempo. Para ser mediador judicial é necessário que a pessoa seja graduada há pelo menos dois anos em curso de ensino superior de instituição reconhecida pelo Ministério da Educação (art. 11 da Lei de Mediação). Cabe ressalvar que os mediadores já capacitados antes da vigência da Lei 13.140/2015 podem integrar os cadastros, independentemente de preencherem os requisitos previstos na Lei de Mediação, observada a capacitação continuada, no intuito de aproveitar os mediadores formados que já atuavam antes do advento da referida lei (Enunciado nº 46 do Fonamec). Por outro lado, não há essa exigência de ser graduado em curso superior para atuar como conciliador e nem como mediador extrajudicial (Enunciado nº 56 do Fonamec e art. 9o da Lei de Mediação), havendo possibilidade de atuação de estudantes de qualquer curso, aposentados, profissionais liberais, servidores, etc. Urge salientar que o setor pré- processual é integrante do CEJUSC/Poder Judiciário, razão pela qual os mediadores que atuam no referido setor devem atender aos requisitos do art. 11 da Lei de Mediação, sendo considerados mediadores judiciais. Por sua vez, diversas instituições podem realizar a mediação extrajudicial sem que seus mediadores atendam a tais requisitos (ex: associações comunitárias, mediações escolares, etc). Entretanto, há possibilidade de ser exigida a capacitação dos mediadores extrajudiciais nos termos preconizados na Res. 125/2010/CNJ nos casos de pedido de cadastramento de Câmaras Privadas de Mediação e Conciliação ou de Cartórios Extrajudiciais que pretendam oferecer serviços de mediação de conflitos, dentre outros. Todos os conciliadores e mediadores devem ser devidamente capacitados para atuar no CEJUSC, não havendo possibilidade de que conduzam procedimentos Política de Autocomposição no TJMG Juliano Carneiro Veiga 31 autocompositivos sem a prévia capacitação.5 Antes de iniciar sua atuação, o candidato realiza um curso de capacitação em conciliação ou mediação com uma carga horária teórica de 40 horas-aula, seguida de 60 horas de estágio supervisionado, sendo que este pode ser realizado no próprio CEJUSC, com a atuação conjunta nas sessões autocompositivas e o envio de relatórios aos supervisores. Assim, para receberem o certificado do curso e realizarem sua inscrição no Cadastro Nacional, os conciliadores e mediadores devem concluir as 100 horas de capacitação. Após receber o certificado, o conciliador/mediador deverá acessar o site do CNJ para efetuar o seu cadastro (https://www.cnj.jus.br/ccmj/), informando sua especialidade de atuação (cível, família, empresarial), definindo se atuará como voluntário ou remunerado, informando o patamar de remuneração, consoante definição do CNJ, além de anexar seu currículo lattes e registrar outras informações pertinentes. A relação dos conciliadores, mediadores e câmaras privadas cadastradas está disponível para consulta pública no seguinte link: http://www.cnj.jus.br/ccmj/pages/publico/consulta.jsf. Destaca-se, por oportuno, que o art. 167, § 5o, do CPC prevê que, caso os conciliadores e mediadores cadastrados sejam advogados, estarão impedidos de exercer a advocacia nos juízos em que desempenhem suas funções. Entretanto, após debate sobre o alcance desse impedimento, restou estabelecido no Enunciado nº 47 do Fonamec que referido impedimento não se aplica aos advogados que atuam como conciliadores ou mediadores vinculados aos CEJUSCs, uma vez que se adotou o entendimento de que os Centros Judiciários não exercem jurisdição stricto sensu, sendo que os conciliadores/mediadores estão subordinados ao Juiz Coordenador do CEJUSC, sem qualquer vinculação com o juízo do processo. Por fim, registra-se ser de grande importância que todos os funcionários do Poder Judiciário (magistrados, servidores, terceirizados, estagiários, etc.) conheçam a Política de Tratamento Adequado dos Conflitos, seus princípios, objetivos e ações, uma vez que todos podem contribuir para o cumprimento e ressignificação da função do Judiciário, tornando mais humanizado o acolhimento e o atendimento efetivo de todos os usuários. Para tanto, além de cursos ou palestras, podem ser realizadas reuniões de alinhamento 5 Para mais informações e indicação de conciliadores e mediadores para participação nos cursos, orienta-se entrar em contato diretamente com o Serviço de Apoio ao Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos – SEANUP ((31) 3237.5141 / nupemec@tjmg.jus.br) https://www.cnj.jus.br/ccmj/ http://www.cnj.jus.br/ccmj/pages/publico/consulta.jsf Política de Autocomposição no TJMG Juliano Carneiro Veiga 32 com todos os funcionários que trabalham no Judiciário local, inclusive com a participação e estímulo de todos os magistrados da comarca. UNIDADE IV – COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA 4.1 O que é comunicação não-violenta Inicialmente, ressalta-se que, desde os primeiros cursos de capacitação de facilitadores realizados em Minas Gerais após a Res. 125/2010, foi adotada como diretriz a abordagem da comunicação não-violenta como parte integrante do desenvolvimento das competências autocompositivas. Com efeito, percebe-se que a comunicação inadequada está na raiz de inúmeros conflitos interindividuais apresentados para resolução no Poder Judiciário,porquanto muitas partes têm dificuldade em utilizar uma linguagem apropriada para externalizar seus interesses e necessidades sem atacar aqueles dos quais dependem para a realização de seus propósitos. Por outro lado, a comunicação é o instrumento basilar utilizado nos processos autocompositivos de resolução de conflitos, sendo que, ao adotar uma linguagem adequada, as partes conseguem superar diversos entraves para a integração de seus interesses e necessidades. Assim, a comunicação não-violenta possibilita a abordagem e o tratamento adequado dos conflitos de interesses, de forma compassiva e empática, contribuindo para a manutenção e a melhoria dos relacionamentos, para a humanização das interações e para a pacificação social, uma vez que oferece um caminho de aprendizagem nas conexões intersubjetivas que objetivam a realização das necessidades dos envolvidos em processos conflituosos. Política de Autocomposição no TJMG Juliano Carneiro Veiga 33 A comunicação não-violenta (CNV) foi desenvolvida pelo psicólogo americano Marshall Rosenberg, tendo como ponto de partida a compreensão de que cada ser humano possui necessidades básicas e de que nossas ações são estratégias adotadas para atender uma ou mais dessas necessidades. Além disso, adota como pressuposto que todos somos compassivos por natureza, sendo que as estratégias violentas adotadas na satisfação de nossas necessidades são ensinadas e aprendidas. Rosenberg percebe a importância da linguagem na capacidade de manutenção ou retorno a esse estado compassivo, propondo um novo aprendizado com o desenvolvimento de habilidades de linguagem e comunicação que fortaleçam a capacidade de mantermos nossa humanidade e empatia na arte de nos relacionarmos, mesmo em situações adversas. Assim, a CNV procura reformular o modo como nos expressamos e ouvimos os outros, tornando consciente o que observamos, sentimos e desejamos, ao mesmo tempo em que o olhar se volta às necessidades e sentimentos do outro com quem nos relacionamos (atenção respeitosa e empática ao outro). Para tanto, Rosenberg propõe 04 componentes básicos para desenvolver as habilidades da comunicação empática (CNV), tanto em relação à forma como nos expressamos quanto à forma como recebemos as informações do outro: 1) observação; 2) sentimento; 3) necessidades; 4) pedido. Primeiramente, precisamos desenvolver a capacidade de articular nossas observações sem fazer nenhum julgamento ou avaliação, registrando apenas o que nos agrada ou não na fala, comportamento ou ação do outro. Em seguida, devemos identificar como nos sentimos ao observar aquela ação. Após isso, é importante identificar qual ou quais necessidades estão atreladas aos sentimentos identificados. Por fim, precisamos expressar de modo claro e objetivo um pedido Política de Autocomposição no TJMG Juliano Carneiro Veiga 34 específico do que queremos da outra pessoa para enriquecer nossa vida e satisfazer nossas necessidades. Ao desenvolvermos a capacidade de utilizar esses quatro componentes para nos expressarmos e auxiliarmos os outros a fazerem o mesmo, estabelecer-se-á um fluxo comunicativo que leva à manifestação da compaixão e empatia, uma vez que percebemos que temos necessidades e que o outro também possui necessidades; que as ações do outro despertam em nós sentimentos, mas que as nossas também geram sentimentos no outro; que precisamos de algo para enriquecer nossa vida e que o outro também está pedindo algo para enriquecer a vida dele. Por outro lado, quando repetimos um modelo comunicativo baseado em julgamentos, classificações e comparações, geramos antagonismos e distanciamentos do outro, camuflando nossas próprias necessidades e ofuscando nosso olhar em relação às necessidades do outro. Com isso, desenvolvemos um processo de alienação e desumanização, em que o “outro” e o “eu” se tornam sujeitos estranhos e polarizados, reproduzindo um sistema que reforça a competitividade e leva o outro a também adotar uma postura defensiva e repelente às nossas necessidades. Dessa maneira, pode-se definir como violenta toda comunicação que implica desconexão com nossas necessidades e sentimentos e nos afasta daquilo que de fato é importante para nós, gerando uma perda de oportunidade de construirmos algo novo com o outro para enriquecer nossas vidas. A violência não é apenas pautada por expressões verbais, podendo se dar por gestos, símbolos ou pelo próprio tom de voz utilizado. Por sua vez, a comunicação não-violenta promove a humanização de nossas relações e uma conexão empática com o outro, serve como um guia para reformularmos o modo como nos expressamos e escutamos os outros, auxilia a nos ligarmos uns aos Política de Autocomposição no TJMG Juliano Carneiro Veiga 35 outros e a nós mesmos, possibilitando que floresça nossa compaixão natural. Ademais, a CNV pode ser utilizada nos mais diversos momentos da nossa vida, seja no trabalho, na escola, na família, nas negociações ou em qualquer outro contato social, e não apenas como recurso para resolução de conflitos. Além disso, vale ressaltar seu importante papel preventivo em relação às manifestações conflituosas, uma vez que, na linha adotada por Rosenberg, a comunicação é causa de grande parte dos conflitos que vivenciamos e, paradoxalmente, é pela comunicação que prevenimos e resolvemos grande parte das situações conflituosas vivenciadas em nossas interações. 4.2 Os quatro componentes da comunicação não-violenta Desenvolver habilidades de comunicação não-violenta é essencial na realização da intermediação de uma resolução adequada de conflitos nas diversas metodologias adotadas. Com isso, desenvolve-se a empatia entre os participantes, garantindo espaços de fala e escuta ativa, evitando a adoção de uma comunicação com aspectos violentos que desconectam os participantes. Para que possamos desenvolver referidas habilidades, é salutar observarmos os seguintes passos: 1o) Observar uma situação sem emitir julgamento, apenas descrevendo precisamente o que ocorreu. 2o) Perceber e identificar como se sente em relação a essa situação descrita. 3o) Reconhecer qual necessidade foi afetada pela situação descrita e se encontra na raiz do sentimento. Política de Autocomposição no TJMG Juliano Carneiro Veiga 36 4o) Fazer um pedido específico e positivo (ação de fazer) a outra pessoa. Esse pedido deve refletir uma das formas possíveis para garantir nossa necessidade. Em relação ao primeiro passo (observar sem avaliar), cumpre destacar que, ao combinarmos observações com avaliações, a pessoa tende a receber isso como uma crítica ou um ataque, resistindo ao que dizemos. Isso não significa que a CNV exige de nós uma neutralidade e abstenção de avaliar em todos os momentos, mas apenas que devemos separar nossas observações das nossas avaliações. Com isso, evitamos generalizações estáticas, ligando avaliações a observações específicas de cada contexto e momento, tendo em vista que a vida é dinâmica e está em constante mudança e desenvolvimento, motivo pelo qual exige a adoção de uma linguagem que também seja dinâmica. A título de exemplo, poder-se-ia dizer que João é um sujeito preguiçoso (linguagem estática) ou que nós observamos um comportamento específico de João de permanecer em casa durante todo o dia, fazendo coisas que rotulamos de “preguiçosas” (linguagem dinâmica). Quando rotulamos alguém, positiva ou negativamente, limitamos nossa percepção em relação à totalidade do ser de outra pessoa. Além disso, a utilização do verbo “ser” desconectada de um contexto e tempo determinados implica observação associada com avaliação, como, por exemplo, quando dizemos “Túlio é um péssimo jogador de futebol”, diferentemente de falarmos “Túlio não marcou nenhum gol nas 10 partidas do campeonato” (observação isenta de avaliação). Quanto
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