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Política de Autocomposição TJMG

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Autor: Juliano Carneiro Veiga 
E-mail para sugestões ou críticas: 
juliano.veiga@tjmg.jus.br
 
 
 
Política de Autocomposição no 
TJMG – Identificação dos casos 
de Mediação, Conciliação e 
Justiça Restaurativa 
mailto:juliano.veiga@tjmg.jus.br
mailto:juliano.veiga@tjmg.jus.br
Política de Autocomposição no TJMG 
Juliano Carneiro Veiga 
 
2 
 
 
UNIDADE I – A POLÍTICA PÚBLICA DE AUTOCOMPOSIÇÃO 
 
1.1 A Res. nº 125/CNJ e as principais inovações legislativas: as diretrizes nacionais 
da Política Pública 
 
De início, cumpre destacar que a tentativa de adoção de métodos 
autocompositivos esteve presente em diversos diplomas legislativos desde nossa primeira 
Constituição de 1824. Tal intento aflorou na década de 1990, quando se iniciaram 
diversas reformas legislativas que pretendiam simplificar o sistema de resolução de 
conflitos por meio da adoção da conciliação, tanto no processo comum como nos juizados 
especiais (v.g Leis 8.952/94 e 9.099/95). 
Todavia, mesmo com as inovações legislativas, ressalvada a existência de alguns 
projetos bem-sucedidos pelo Brasil, verificava-se que, na prática, a autocomposição 
permanecia sendo tratada como mera formalidade do sistema, recebendo pouca atenção 
para a efetiva capacitação e desenvolvimento de competências específicas dos 
facilitadores, juízes e demais operadores que atuavam na resolução consensual de 
conflitos, situação que indicava, uma vez mais, que a mera alteração legislativa não 
implica mudanças na prática cotidiana. 
Nesse contexto, considerando a missão precípua do Poder Judiciário de resolver 
adequadamente os conflitos a ele submetidos e promover a pacificação social, não 
apenas por meio de processos judiciais, mas também pela adoção de outros métodos 
capazes de realizar tal propósito, o Conselho Nacional de Justiça publicou, em 
29/11/2010, a Resolução nº 125, que dispõe sobre a Política Judiciária Nacional de 
Política de Autocomposição no TJMG 
Juliano Carneiro Veiga 
 
3 
 
Tratamento Adequado dos Conflitos de Interesses. Com a implementação dessa Política 
Pública, pretende-se estimular, apoiar e difundir a sistematização e o aprimoramento das 
boas práticas já adotadas pelos tribunais do país, bem como organizar e uniformizar os 
serviços de conciliação, mediação e outros métodos consensuais de solução de conflitos, 
evitando as disparidades de orientação e práticas. 
Consoante disposto no art. 1o da Res nº 125/2010, o objetivo central dessa 
Política Pública é “assegurar a todos o direito à solução dos conflitos por meios 
adequados à sua natureza e peculiaridade”. Desse modo, o critério orientador da escolha 
pelo método que será utilizado na resolução dos conflitos passa a ser o da 
adequabilidade, indicando que deve ser ofertado e assegurado aos envolvidos no 
conflito o mecanismo de solução mais adequado à natureza e particularidades do conflito 
por eles vivenciado. 
Assim, a depender do conflito submetido ao Poder Judiciário, devem ser 
oferecidos, ao lado do processo judicial, outros métodos capazes de oportunizar uma 
resolução adequada para o caso. Para tanto, não basta a simples oferta formal da 
possibilidade de uma composição, sendo fixadas como diretrizes a preocupação com a 
boa qualidade dos serviços prestados e a necessidade de disseminação da cultura de 
pacificação social, por meio da resolução não violenta de conflitos, tendo sempre como 
norte a satisfação dos usuários do sistema. 
 A propósito, o Código de Processo Civil de 2015 (CPC) encampou as principais 
diretrizes estabelecidas pela Res nº 125/CNJ, assegurando o amplo acesso ao Poder 
Judiciário, mas inovando ao normatizar o princípio da Promoção pelo Estado da 
Autocomposição, prevendo que “o Estado promoverá, sempre que possível, a solução 
consensual dos conflitos”, bem como que “a conciliação, a mediação e outros métodos de 
Política de Autocomposição no TJMG 
Juliano Carneiro Veiga 
 
4 
 
solução consensual de conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, 
defensores públicos e membros do Ministério Público, inclusive no curso do processo 
judicial” (art. 3o, §§ 2o e 3o, do CPC). Assim, a atual sistemática processual indica a opção 
legislativa pela implementação do modelo de Múltiplas Portas de solução de conflitos 
(Multidoor Courthouse), com a integração da solução jurisdicional tradicional a outros 
métodos de solução de litígios, concebendo o Poder Judiciário como um Centro de 
Resoluções de Disputas com a oferta de distintos processos, adequando os 
procedimentos e métodos às características específicas de cada conflito. 
Desse modo, embora se garanta, como regra, a incondicionalidade do direito de 
acesso ao Judiciário, a nova sistemática processual reforça o caráter substitutivo da 
solução adjudicada dos conflitos, incentivando, sempre que possível, que as próprias 
partes construam, com efetiva participação em procedimento mediado pelo contraditório, 
a solução mais adequada para o conflito por elas vivenciado. 
Ademais, vale destacar que, no final de 2015, também entrou em vigor a Lei de 
Mediação (Lei nº 13.140/2015), que dispõe sobre a mediação entre particulares como 
meio de solução de controvérsias e sobre a autocomposição de conflitos no âmbito da 
Administração Pública. Embora referida lei tenha se alinhado às disposições do CPC e, 
até mesmo, repetido suas principais linhas normativas acerca da mediação judicial, em 
outros dispositivos trouxe inovações importantes, reforçando a importância da mediação 
extrajudicial (arts. 9o, 21 a 23) e a possibilidade de criação de câmaras de prevenção e 
resolução administrativa de conflitos envolvendo a União, Estados, DF e Municípios (art. 
32 e ss). 
Política de Autocomposição no TJMG 
Juliano Carneiro Veiga 
 
5 
 
Assim, em síntese, no contexto da implementação da Política Pública de 
Tratamento Adequado dos Conflitos, as seguintes diretrizes passam a nortear o papel do 
Judiciário e dos operadores do Direito na resolução dos conflitos: 
i) revisão do conceito de acesso à Justiça (art. 5º, XXXV, CR/88) – que passa a 
ser visto como acesso qualificado “à ordem jurídica justa e a soluções efetivas”, 
oportunizando a participação decisiva de ambas as partes na busca do resultado que 
satisfaça seus interesses, de forma tempestiva, efetiva e adequada; 
ii) promoção da mudança de mentalidade e da emancipação/cidadania dos 
indivíduos – contribuindo para o exercício da autonomia na condução de processos 
decisórios, estimulando o desenvolvimento de uma nova cultura de solução negociada e 
amigável dos conflitos; 
iii) filtro da litigiosidade – objetivando reduzir a excessiva judicialização dos 
conflitos de interesses, da quantidade de recursos e de execução de sentenças; 
iv) adequação de métodos – no intuito de assegurar a todos o direito à solução 
dos conflitos por meios adequados à sua natureza e peculiaridade; 
v) organização e uniformização – evitando disparidades de orientação e práticas 
relativas aos serviços de conciliação, mediação e outros métodos consensuais de solução 
de conflitos, possibilitando a boa execução da política pública; 
vi) garantia da qualidade dos serviços – adequada capacitação, treinamento, 
aperfeiçoamento, monitoramento e avaliação dos servidores, conciliadores e mediadores; 
vii) redefinição e reafirmação do papel do Poder Judiciário – função precípua de 
pacificar, humanizar e harmonizar as relações sociais; 
viii) promoção da satisfação do usuário – com o devido acolhimento, escuta ativa, 
identificação do conflito e encaminhamento ao método mais adequado de resolução, 
Política de Autocomposição no TJMG 
Juliano Carneiro Veiga 
 
6 
 
possibilitando a devida participação na construção da decisão por meio da negociação 
colaborativa e da construção de acordos que atendam a seus reais interesses e 
necessidades. 
Na implementação dessa Política Pública, a Resolução nº 125/2010 estabeleceu 
que osTribunais deverão criar um Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de 
Solução de Conflitos (art. 7o) e os Centros Judiciários de Solução de Conflitos e 
Cidadania (Centros ou CEJUSCs), unidades do Poder Judiciário, preferencialmente, 
responsáveis pela realização ou gestão das sessões e audiências de conciliação e 
mediação que estejam a cargo de conciliadores e mediadores, bem como pelo 
atendimento e orientação ao cidadão (art. 8o). Ademais, o próprio CPC (art. 165) e a Lei 
de Mediação (art. 24) também determinam a criação dos CEJUSCs, cuja organização e 
composição devem ser definidas pelos próprios Tribunais, observadas as normas do CNJ. 
 
1.2 A Política Autocompositiva do TJMG 
 
Para atender às determinações da Res nº 125/2010/CNJ, o TJMG editou, em 
2011, as Resoluções 661 e 682, que criaram o Núcleo Permanente de Métodos 
Consensuais de Conflitos (Nupemec) e os Centros Judiciários de Solução de Conflitos e 
Cidadania (CEJUSCs), dispondo sobre sua instalação e funcionamento. Referidas 
resoluções foram revogadas pela Resolução 873/2018, que atualmente dispõe sobre a 
estrutura e o funcionamento do Nupemec e estabelece normas para a instalação dos 
CEJUSCs. 
Política de Autocomposição no TJMG 
Juliano Carneiro Veiga 
 
7 
 
O Nupemec é um órgão do TJMG, sob a coordenação do Terceiro Vice-
Presidente1, que tem como objetivo desenvolver, no âmbito do Poder Judiciário do Estado 
de Minas Gerais, a Política Judiciária de tratamento adequado dos conflitos de interesses 
estabelecida na Res nº 125/2010/CNJ. As atribuições do Nupemec estão previstas no 
artigo 5o da Resolução 873/2018, dentre as quais se destacam o desenvolvimento, 
planejamento, manutenção e aperfeiçoamento, no âmbito do TJMG, de ações voltadas ao 
cumprimento da Política Judiciária de tratamento adequado dos conflitos de interesses e 
suas metas. Além de atuar na instalação dos CEJUSCs, o Nupemec também tem a 
atribuição de promover, por meio da Escola Judicial Desembargador Edésio Fernandes, 
EJEF, capacitação, treinamento e atualização permanente de magistrados, servidores, 
conciliadores e mediadores nos métodos consensuais de solução de conflitos. 
Em observância às disposições da Res nº 125/2010/CNJ, a Política Pública de 
Autocomposição do TJMG estabelece como prioritária a disponibilização aos 
jurisdicionados de métodos adequados de resolução de conflitos, ao lado do processo 
tradicional, em especial a conciliação e a mediação, a serem conduzidos por facilitadores 
devidamente capacitados, oportunizando a ampliação do acesso à Justiça com a criação 
dos CEJUSCs – verdadeiros Centros de Tratamento Efetivo e Adequado dos Conflitos de 
Interesses que deságuam no Poder Judiciário. 
Os CEJUSCs passam a ser vistos como a nova porta de entrada do Poder 
Judiciário, com a oferta de um serviço qualificado de acolhimento, atendimento e 
orientação ao cidadão (setor de cidadania), bem como de métodos prévios de resolução 
de conflitos (setor pré-processual), no intuito de filtrar a excessiva judicialização e 
oportunizar uma resolução tempestiva, efetiva e adequada dos conflitos de interesses. 
 
1
 O Serviço de Apoio ao Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos - Seanup - 
presta auxílio administrativo ao Nupemec. Contatos: (31) 3237.5141 / nupemec@tjmg.jus.br 
Política de Autocomposição no TJMG 
Juliano Carneiro Veiga 
 
8 
 
Nos CEJUSCs também são realizadas as audiências de conciliação e mediação dos 
processos que estão em andamento (setor processual), podendo os autos serem 
remetidos ao setor tanto para a audiência inaugural, como também nas demais fases do 
processo, desde que vislumbrada a possibilidade de uma composição de interesses. 
Com efeito, sem afastar a importância da resolução endoprocessual, verifica-se 
que, em diversas situações, as soluções consensuais, precedidas da negociação 
integrativa de interesses e necessidades, garantem a efetiva satisfação dos interessados 
e a resolução do conflito por eles vivenciado, sendo inclusive mais adequadas do que a 
imposição jurisdicional de uma decisão, ainda que bem fundamentada e em observância 
aos princípios consubstanciadores do modelo constitucional do processo. Outrossim, 
enfatiza-se que a Política Autocompositiva não objetiva apenas a obtenção de acordos e 
o abreviamento do trâmite processual, porquanto o simples acordo formal pode não 
representar o efetivo tratamento adequado do conflito submetido aos métodos 
autocompositivos. 
Cumpre destacar que os conflitos têm natureza multifacetada e dinâmica, sendo a 
projeção jurídica apenas uma de suas faces, abarcando ainda aspectos afetivos, 
psicológicos, relacionais, culturais, sociais e econômicos. Conforme preceitua Roberto 
Bacellar, quando o juiz extingue o processo, com ou sem julgamento de mérito, soluciona 
apenas a lide processual (aquela descrita no processo judicial), deixando, muitas vezes, 
de atender ao que efetivamente é o interesse das partes (BACELLAR, 2011). No mesmo 
sentido, André Gomma de Azevedo enfatiza que o processo judicial, em muitos casos, 
aborda o conflito apenas sob o aspecto jurídico, e, “[…] ao tratar exclusivamente daqueles 
interesses juridicamente tutelados, exclui aspectos do conflito que são possivelmente tão 
Política de Autocomposição no TJMG 
Juliano Carneiro Veiga 
 
9 
 
importantes quanto ou até mais relevantes do que aqueles juridicamente tutelados” 
(AZEVEDO, 2010, p. 29). 
Vale destacar que, desde o início da regulamentação interna, o TJMG vislumbrou 
a possibilidade de integração do setor de conciliação dos Juizados Especiais ao setor 
processual dos CEJUSCs, restando tal previsão confirmada pela Resolução 873/2018 
(art. 25, § 2o). Ademais, existem experiências exitosas, em alguns Juizados Especiais, da 
oferta da resolução pré-processual de conflitos, que se alinham aos objetos da Política de 
Autocomposição. Nesse ponto, ressalta-se que os CEJUSCs estão subordinados ao 
Nupemec, coordenado pela Terceira Vice-Presidência, enquanto os Juizados Especiais 
estão vinculados ao Conselho de Supervisão e Gestão, que está sob a direção da 
Presidência do TJMG. Por outro lado, urge destacar que, em diversos Estados, foram 
criados CEJUSCs específicos dos Juizados Especiais, com a disponibilização dos três 
setores de atendimento referidos acima. 
Em Minas Gerais, a questão está em estudo, sendo importante registrar alguns 
passos já dados no sentido de integrar os CEJUSCs e os Juizados Especiais em uma 
única Política Institucional de Autocomposição, dentre eles a adoção de capacitação única 
para magistrados, servidores, estagiários, voluntários, conciliadores e mediadores, bem 
como a indicação de um juiz coordenador dos Juizados para o NUPEMEC, estando em 
estudo a possibilidade de indicação de um juiz pela Terceira Vice-Presidência para o 
Conselho dos Juizados Especiais e a integração das estatísticas dos CEJUSCs e dos 
JESPs, dentre outras possibilidades de integração. 
 
Política de Autocomposição no TJMG 
Juliano Carneiro Veiga 
 
10 
 
UNIDADE II – OS MÉTODOS AUTOCOMPOSITIVOS 
 
2.1 Metodologias avaliativa (conciliação) e facilitativa (mediação) 
 
A conciliação e a mediação situam-se dentre os denominados Meios Alternativos 
de Solução de Conflitos, conhecidos internacionalmente pela sigla ADR (Alternative 
Dispute Resolution), caracterizando-se como métodos consensuais de resolução de 
disputas nos quais a construção para a solução do conflito dá-se de maneira autônoma e 
consensual entre as partes, não havendo qualquer imposição por parte do(s) terceiro(s) 
que atua(m) como interventor(es) no processo de resolução do conflito. No contexto da 
implementação da Política Pública de Autocomposição, sugere-se que tais métodos 
sejam denominados como “Meios ou Métodos Adequados ou Apropriados de Solução de 
Conflitos”, porquanto a expressão “alternativos” pode sugerirque tais métodos não seriam 
adotados prioritariamente no tratamento dos conflitos submetidos ao Judiciário, além do 
princípio da adequabilidade ser o norteador da escolha do método resolutivo. 
No Brasil, tanto a conciliação quanto a mediação são utilizadas como formas de 
resolução de conflitos no decorrer de um processo judicial (incidental), e também na 
resolução de conflitos ainda não ajuizados (conciliação e mediação pré-
processual/extrajudicial). Ademais, embora possuam características assemelhadas, a 
conciliação e a mediação não são tratadas como sinônimos, sendo comum diferenciar tais 
métodos em razão da postura do conciliador e do mediador na condução do 
procedimento, bem como em razão da natureza dos conflitos submetidos a um ou a outro 
método. 
O mediador atuaria apenas como um facilitador da comunicação entre as partes, 
sem sugerir ou apresentar qualquer solução para o conflito, uma vez que essa deve ser 
construída exclusivamente pelas partes. Por outro lado, o conciliador, além de facilitar a 
comunicação e a negociação entre as partes, poderia sugerir possíveis soluções para o 
conflito, sendo facultado às partes aceitá-las ou não. 
Além disso, há diferenciação com relação à natureza do conflito a ser resolvido 
por um ou outro método consensual. Nesse sentido, a utilização da técnica conciliatória 
mostra-se mais indicada para os conflitos que não necessitam de uma análise muito 
Política de Autocomposição no TJMG 
Juliano Carneiro Veiga 
 
11 
 
aprofundada para sua solução, nos quais as partes envolvidas mantenham apenas 
relações pontuais e o diálogo e a negociação revelem-se fluentes entre os envolvidos, 
como, por exemplo, em conflitos envolvendo relações de consumo e de trânsito. 
Diferentemente, a técnica da mediação é mais indicada para os conflitos de 
natureza complexa, nos quais há laços intensos de relacionamento entre os envolvidos, 
sendo difícil trabalhar o conflito de maneira superficial, sem um adentramento nas causas 
que deram origem à situação conflituosa, como geralmente acontece nos conflitos 
familiares e de vizinhança. Para Roberto Portugal Bacellar: 
 
A conciliação, em um dos prismas do processo civil brasileiro, é a opção mais 
adequada para resolver situações circunstanciais, como uma indenização por 
acidente de veículo, em que as pessoas não se conhecem (o único vínculo é o 
objeto do incidente), e, solucionada a controvérsia, lavra-se o acordo entre as 
partes, que não mais vão manter qualquer outro relacionamento; já a mediação 
afigura-se recomendável para situações de múltiplos vínculos, sejam eles 
familiares, de amizade, de vizinhança, decorrentes de relações comerciais, 
trabalhistas, entre outros. Como a mediação procura preservar as relações, o 
processo mediacional bem conduzido permite a manutenção dos demais vínculos, 
que continuam a se desenvolver com naturalidade durante e depois da discussão 
da causa (BACELLAR, 2011, p. 35-36). 
 
 Em relação à postura do conciliador e do mediador e à natureza dos conflitos a 
serem encaminhados para resolução pela conciliação ou pela mediação, assim prevê o 
art. 165, §§ 2o e 3o, do CPC: 
 
Art. 165 [...] 
§ 2
o
 O conciliador, que atuará preferencialmente nos casos em que não houver 
vínculo anterior entre as partes, poderá sugerir soluções para o litígio, sendo 
vedada a utilização de qualquer tipo de constrangimento ou intimidação para que 
as partes conciliem; 
§ 3
o
 O mediador, que atuará preferencialmente nos casos em que houver vínculo 
anterior entre as partes, auxiliará os interessados a compreender as questões e os 
interesses em conflito, de modo que eles possam, pelo restabelecimento da 
comunicação, identificar, por si próprios, soluções consensuais que gerem 
benefícios mútuos. 
Política de Autocomposição no TJMG 
Juliano Carneiro Veiga 
 
12 
 
 
Assim, o mediador atuaria apenas como um facilitador da comunicação entre as 
partes, sem sugerir ou apresentar qualquer solução para o conflito, uma vez que essa 
deve ser construída exclusivamente pelas partes (metodologia facilitativa).2 Lado outro, o 
conciliador, além de facilitar a comunicação e a negociação entre as partes, poderia 
sugerir possíveis soluções para o conflito, sendo facultado às partes aceitá-las ou não 
(metodologia avaliativa). 
Nesse sentido, as orientações do terceiro facilitador podem variar de acordo com 
a definição do objeto da autocomposição e com a percepção do mediador quanto ao seu 
papel. Segundo preconizado por Leonard Riskin,3 na definição do objeto, uma mediação 
pode ter características restritas ou ter mais características amplas, sendo que a 
“mediação restrita” estaria vinculada mais aos pontos controvertidos e norteada pelo 
objeto litigioso, enquanto a “mediação ampla” abordaria, além dos pontos controvertidos, 
outros interesses, elementos subjacentes ou demais aspectos considerados relevantes 
para a adequada resolução do conflito. 
Entretanto, embora o CPC traga previsão expressa acerca da possibilidade de o 
conciliador apresentar uma apreciação do mérito ou uma recomendação de solução 
(avaliação), a posição adotada pelo CNJ, na capacitação dos conciliadores e mediadores, 
é no sentido de recomendar que, como regra, não sejam apresentadas sugestões de 
acordo ou direcionamentos quanto ao mérito, procurando ofertar um rol de técnicas 
autocompositivas que evitem a adoção da postura avaliadora. A propósito, referida 
orientação está em estreita sintonia com os objetivos da Política Pública de 
Autocomposição, porquanto se busca incentivar o empoderamento e a autonomia das 
próprias partes na resolução de suas questões. 
Na linha adotada pelo CNJ, a recomendação de adoção da postura facilitadora 
restou corroborada por pesquisas que indicaram que as mediações facilitadoras 
trouxeram maior grau de satisfação dos usuários, índices mais elevados de acordos e de 
cumprimento espontâneo do que a postura avaliadora. Portanto, seja em conciliações, 
seja em mediações, a orientação é de que os conciliadores e mediadores adotem a 
 
2
 Cf. SALES, Lília Maia de Morais. Justiça e mediação de conflitos. Belo Horizonte: Del Rey, 2004, p. 23. 
3
 Cf. RISKIN, Leonard L. Compreendendo as orientações, estratégias e técnicas do mediador: um padrão para iniciantes. Trad. de 
Henrique Araújo Costa. In: AZEVEDO, André Gomma de (Org.) Estudos em arbitragem, mediação e negociação. Brasília: Ed. Brasília 
Jurídica, 2002. 
Política de Autocomposição no TJMG 
Juliano Carneiro Veiga 
 
13 
 
postura facilitadora, consoante capacitação obrigatória, tanto para atuação nos Juizados 
Especiais quanto nos CEJUSCs, na forma preconizada pelo CNJ. 
Além da diferença em relação à postura do facilitador e à natureza dos conflitos, 
cabe registrar, também, que o procedimento adotado na conciliação é composto por fases 
mais sumarizadas, havendo limitação de tempo no desenrolar das etapas da sessão 
conciliatória, o que implica a redução do leque de técnicas utilizadas e a postura mais 
intervencionista do conciliador. Como regra, a conciliação é realizada em uma única 
sessão, que pode durar de 30 a 60 minutos, havendo previsão no CPC de que sejam 
marcadas com um intervalo mínimo de 20 minutos (art. 334, § 12). Por sua vez, o 
procedimento da mediação se desenvolve com a aplicação integral de todas as técnicas 
autocompositivas, não havendo, como regra, limitação de tempo para sua realização. Em 
geral, a mediação pode durar de 01 a 05 sessões, cada uma com duração aproximada de 
01 hora e 30 minutos. Assim, na mediação há um alongamento do procedimento e do 
desenvolvimento de cada fase, no intuito de melhor trabalhar a comunicação e a 
negociação com a identificação, esclarecimento e integração dos interesses e 
necessidades dos envolvidos. 
Por fim, cabe registrar que o objetivo da política autocompositiva no âmbito do 
Estado de Minas Geraisé aumentar paulatinamente o número de casos encaminhados 
para a mediação de conflitos. Embora o procedimento da mediação possa se estender 
por mais sessões, o resultado final evita o surgimento de novas demandas conexas e 
promove mudanças significativas na forma de abordagem e administração futura de 
conflitos, preservando e harmonizando os relacionamentos sociais. 
 
2.2 Outras ferramentas metodológicas disponíveis (Justiça Restaurativa, Oficinas 
de Parentalidade, etc.) 
 
Consoante diretriz da Política Pública de Autocomposição, a administração da 
Justiça deve se voltar para a adequação dos métodos no intuito de melhor resolver as 
disputas trazidas ao Poder Judiciário, desapegando-se de fórmulas exclusivamente 
positivadas para incorporar métodos interdisciplinares de tratamento de conflitos, 
objetivando abordar não apenas os interesses juridicamente tutelados, mas também 
Política de Autocomposição no TJMG 
Juliano Carneiro Veiga 
 
14 
 
outros interesses e aspectos relevantes para a devida resolução do conflito e 
harmonização das relações sociais. 
Nesse sentido, cabe ao Poder Judiciário ampliar o rol de metodologias para a 
adequada administração e resolução de conflitos, devendo estimular, difundir e educar o 
usuário para melhor resolver seus conflitos, por intermédio de ações comunicativas mais 
eficientes. Assim, o acesso à Justiça passa a ser visto não apenas como o mero acesso 
formal ao Judiciário, com a prevenção e reparação de direitos por meio de soluções 
adjudicadas, mas também engloba o acesso a outras metodologias que propiciam o 
empoderamento e a responsabilização dos envolvidos na administração de suas questões 
e na construção de soluções para seus problemas. 
Nesse sentido, além da conciliação e da mediação, que são métodos basilares na 
Política de Autocomposição, o Judiciário passou a incluir e ofertar outras ferramentas 
metodológicas para o adequado tratamento dos conflitos de interesses, como, por 
exemplo, as Oficinas de Parentalidade e Divórcio e a Justiça Restaurativa. 
As Oficinas de Parentalidade objetivam auxiliar as famílias que passam por 
processos de separação, divórcio ou dissolução de união estável, na transição oriunda do 
rompimento de relações conjugais que geraram filhos, no intuito de que possam lidar com 
a situação da melhor maneira possível, mantendo os vínculos dos genitores com os filhos 
de maneira saudável, evitando práticas de alienação parental, fornecendo a todos os 
envolvidos (pais, mães, filhos de idade entre 6 e 17 anos) possibilidades de melhor 
administrar desentendimentos, interesses e sentimentos. Não raras vezes, os genitores 
têm dificuldades para separar e diferenciar o término da relação conjugal com a 
continuidade da relação parental, que prosseguirá mesmo após o divórcio, razão pela 
qual essas oficinas contribuem de maneira significativa para reafirmar a responsabilidade 
dos genitores em relação aos filhos comuns, bem como valorizar o papel do outro genitor 
na relação com os filhos. Além disso, auxiliam os filhos a entender o que está 
acontecendo, sem assumir para si a culpa pelo término do relacionamento dos pais, 
mantendo relações saudáveis com ambos os genitores. 
Ademais, referidas oficinas auxiliam na promoção da reflexão e conscientização 
das partes acerca da postura adotada por elas no encaminhamento do processo do 
divórcio ou dissolução da união estável e na administração das diversas questões, 
interesses e sentimentos envolvidos. Em geral, após as partes serem encaminhadas para 
Política de Autocomposição no TJMG 
Juliano Carneiro Veiga 
 
15 
 
participar das Oficinas de Parentalidade, elas retornam ao processo de mediação com 
uma postura diferenciada para lidar com o conflito e dar sequência ao diálogo e à 
negociação, com maiores possibilidades de construção de acordos que atendam seus 
interesses e necessidades. 
Vale destacar que o CNJ e o TJMG incentivam a adoção de tais oficinas, 
possuindo cursos específicos para capacitação de multiplicadores.4 Outrossim, as partes 
podem ser encaminhadas para participar de referidas oficinas sempre que for detectada a 
presença de conflito, independentemente da fase de tratamento, seja ela processual, no 
decorrer da conciliação/mediação incidental, na pendência de julgamento, com sentença 
ou acordo já celebrado, bem como nos casos em que buscam o setor pré-processual. 
Ressalta-se que, caso a comarca não disponha de estrutura para a realização das 
oficinas presenciais, as partes podem se inscrever e participar das oficinas de 
parentalidade on line, disponibilizadas no site do CNJ, com carga horária de 20 horas 
(http://www.cnj.jus.br/formacao-e-capacitacao/cursos-abertos?view=course&id=18). 
Urge salientar que, nas oficinas, não é realizada a resolução de questões, 
servindo como uma ferramenta metodológica complementar, preventiva, educacional e 
multidisciplinar aos demais métodos de resolução de conflitos, objetivando auxiliar os 
envolvidos a assumir o protagonismo e uma postura diferenciada na condução da 
resolução de suas questões quando do retorno ao processo resolutivo. Os encontros nas 
oficinas ocorrem em dois momentos distintos, primeiro com a participação de um dos 
genitores e, no segundo, com a participação do outro genitor que possui a guarda dos 
filhos. Nesse segundo momento, também é realizada a oficina para as crianças e 
adolescentes, que utiliza uma linguagem acessível e dinâmicas em grupo, ocorrendo em 
separado da oficina realizada com os pais. 
Por sua vez, a Justiça Restaurativa objetiva dar um tratamento mais adequado à 
administração e resolução de questões que envolvem a prática de infrações penais, no 
intuito de satisfazer os envolvidos e afetados por um ato danoso, promovendo a 
responsabilização do autor sem descuidar da reparação da vítima e restauração da 
própria comunidade envolvida. 
 
4
 Segue o link para acesso ao Regulamento e às apostilas que são utilizadas nas oficinas de parentalidade: 
http://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/conciliacao-e-mediacao-portal-da-conciliacao/cursos-formacao/curso-de-formacao-de-
expositores-de-oficinas-de-divorcio-e-parentalidade 
http://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/conciliacao-e-mediacao-portal-da-conciliacao/cursos-formacao/curso-de-formacao-de-expositores-de-oficinas-de-divorcio-e-parentalidade
http://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/conciliacao-e-mediacao-portal-da-conciliacao/cursos-formacao/curso-de-formacao-de-expositores-de-oficinas-de-divorcio-e-parentalidade
Política de Autocomposição no TJMG 
Juliano Carneiro Veiga 
 
16 
 
A Justiça Restaurativa oportuniza que as pessoas envolvidas no conflito (autor, 
vítima, familiares e comunidade) possam conversar e entender a causa real do conflito, 
buscando transformar situações conflitivas em relações de cooperação e construção de 
soluções que restaurem a harmonia e promovam a pacificação social. O propósito é não 
apenas responsabilizar o autor da infração penal, mas também cuidar das necessidades 
das vítimas e da comunidade, oportunizando a efetiva reparação dos danos provocados 
pelo conflito e a transformação de situações e relacionamentos. 
A prática restaurativa considera as consequências da violência e suas 
implicações futuras, tendo como pressuposto a interdependência existente entre todos os 
indivíduos, que estão interconectados, de modo que o ato danoso não atinge apenas as 
pessoas diretamente envolvidas (autor/vítima), mas também a família e a própria 
comunidade. Assim, o procedimento restaurativo valoriza a autonomia e a 
responsabilização ativa dos indivíduos, a sabedoria coletiva e a potencialidade 
transformadora da conexão existente de cada um consigo (autoconscientização) e com o 
outro (consciência coletiva). 
Desse modo, o procedimento restaurativo objetiva conectar pessoas por meio de 
ações comunicativas e construtivas que abordamas necessidades determinantes e 
emergentes do conflito, de forma a aproximar e corresponsabilizar todos os participantes, 
desenvolvendo um plano de ações que procura restaurar laços sociais, compensar danos 
e gerar compromissos futuros mais harmônicos. Ademais, considera a complexidade 
envolvendo o fenômeno do conflito e da violência, abarcando aspectos que extrapolam as 
relações individuais, como questões sociais, comunitárias e institucionais. 
A Resolução do CNJ n. 225/2016 dispõe sobre a Política Nacional de Justiça 
Restaurativa no âmbito do Poder Judiciário, objetivando dar uniformidade em relação ao 
próprio conceito de Justiça Restaurativa, evitando disparidades de orientação e ação. Em 
seu art. 1o, dispõe que “a Justiça Restaurativa constitui-se como um conjunto ordenado e 
sistêmico de princípios, métodos, técnicas e atividades próprias, que visa à 
conscientização sobre os fatores relacionais, institucionais e sociais motivadores de 
conflito e violência, e por meio do qual os conflitos geram dano, concreto ou abstrato”. 
Ademais, referida resolução estabelece a necessidade de participação do ofensor e da 
vítima, quando houver, bem como de suas famílias e dos demais envolvidos no fato 
danoso, com a presença de representantes da comunidade direta ou indiretamente 
Política de Autocomposição no TJMG 
Juliano Carneiro Veiga 
 
17 
 
atingida pelo fato e de um ou mais facilitadores restaurativos, que coordenarão as práticas 
restaurativas, conforme atribuições previstas no art. 14 da referida resolução. 
Para que seja realizado o procedimento restaurativo, as partes envolvidas 
precisam manifestar sua concordância (adesão voluntária), devendo ser informadas de 
que podem desistir da opção a qualquer momento, até a homologação do procedimento 
restaurativo. Além disso, as partes devem ser informadas sobre o procedimento e sobre 
as possíveis consequências de sua participação, bem como de seu direito de solicitar 
orientação jurídica em qualquer estágio do procedimento (art. 2o da Res. 225/2016/CNJ). 
Para que o conflito seja trabalhado no âmbito da Justiça Restaurativa, é 
necessário que as partes reconheçam, ainda que em ambiente confidencial incomunicável 
com a instrução penal, que os fatos essenciais são verdadeiros, sem que isso implique 
admissão de culpa em eventual retorno do conflito ao processo judicial (art. 2o, 1o, da 
Res. 225/2016/CNJ). Com efeito, cumpre ressaltar que o procedimento restaurativo não 
objetiva apontar culpados ou vítimas do conflito, mas sim suscitar a percepção de que 
nossas ações geram consequências e afetam os outros e a nós mesmos, cabendo-nos 
assumir a responsabilidade pelos seus efeitos. Com isso, retira-se o ofensor da condição 
de sujeito passivo de uma punição para conscientizá-lo acerca das consequências 
provocadas pela sua conduta e levá-lo a assumir a responsabilidade pelo conserto e 
reparação dos efeitos provocados pelo seu ato, tanto para a vítima e sua família, quanto 
para a própria comunidade da qual ele próprio é membro. 
Em relação às práticas restaurativas realizadas em âmbito judicial, podem ser 
encaminhados procedimento e processos judiciais em qualquer fase de tramitação, pelo 
juiz, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, da Defensoria Pública, das partes, 
de seus advogados e dos setores técnicos de psicologia ou serviço Social, podendo, até 
mesmo, ser sugerido pela autoridade policial o encaminhamento do conflito para o 
procedimento restaurativo quando da lavratura do termo circunstanciado ou do relatório 
do inquérito policial. Outrossim, a aplicação do procedimento restaurativo pode ocorrer de 
forma alternativa ou concorrente com o processo judicial, objetivando sempre construir as 
melhores soluções para as partes envolvidas e a comunidade. 
Observando-se os princípios básicos previstos no art. 2o da referida resolução, o 
procedimento restaurativo se desenvolve como um conjunto de etapas e atividades que 
objetivam conceder um tratamento diferenciado dos conflitos, nos termos do conceito de 
Política de Autocomposição no TJMG 
Juliano Carneiro Veiga 
 
18 
 
Justiça Restaurativa apresentado acima (art. 1o), sendo comum no Poder Judiciário a 
adoção dos procedimentos denominados de mediação vítima-ofensor e de círculos 
restaurativos. 
As sessões restaurativas são destinadas à reunião das pessoas diretamente 
envolvidas na situação de violência ou conflito (ofensor e vítima), contando com a 
presença de seus familiares, amigos e de representantes da própria comunidade, sob a 
orientação de um terceiro facilitador (mediador ou guardião do círculo) devidamente 
capacitado (art. 13). Cabe a esse facilitador garantir que as regras estabelecidas para a 
realização do procedimento sejam observadas, propiciando uma comunicação adequada 
entre os participantes, no intuito de criar um espaço seguro para as pessoas abordarem o 
problema e construírem juntas soluções viáveis. 
 O procedimento restaurativo é realizado em duas etapas: 1ª) pré-mediação ou 
pré-círculo – é composta das seguintes fases: declaração de abertura, reunião de 
informações, confirmação do interesse em participar do procedimento, preparação da 
escuta e discursos e resumo da expectativa quanto à sessão. O objetivo dessa etapa é 
preparar o encontro e os próprios participantes para tal momento. São realizadas sessões 
individuais com cada um dos participantes e os facilitadores, buscando identificar os 
danos, necessidades e sentimentos; 2ª) sessão conjunta ou círculo – é a realização da 
reunião entre os participantes, seguindo as fases assemelhadas às apresentadas no 
procedimento da mediação (declaração de abertura, reunião de informações, resumo, 
identificação e esclarecimento de questões, interesses e sentimentos, resolução de 
questões, etc). Vale destacar que alguns programas também adotam uma terceira etapa, 
chamada de pós-círculo, na qual há o acompanhamento do caso submetido à prática 
restaurativa, no intuito de se aferir se o procedimento foi eficaz para atender às 
necessidades e sentimentos dos participantes, bem como se os compromissos assumidos 
estão sendo cumpridos. 
Na realização da sessão de mediação ou do círculo restaurativo, os envolvidos 
são convidados a contarem suas percepções, observações, necessidades, interesses, 
sentimentos e perspectivas sobre o ocorrido, em um ambiente que garante segurança e 
iguais oportunidades de manifestação, utilizando-se de uma comunicação apropriada que 
propicia momentos de fala e de escuta. Além disso, garante-se o sigilo do que é falado, 
ressalvada a concordância de todos com a publicidade de algum relato, no intuito de se 
Política de Autocomposição no TJMG 
Juliano Carneiro Veiga 
 
19 
 
criar um ambiente seguro para todos expressarem seus sentimentos e necessidades, sem 
receio de consequências externas. Nesse procedimento, procura-se desenvolver a 
empatia entre os participantes, propiciando a conexão com as necessidades, sentimentos 
e interesses do outro, tendo como pressuposta a ideia de que todos podem contribuir para 
transformar a situação conflituosa em oportunidade de construir novos caminhos e 
recomeços de vida. 
Consoante definido pela própria Res. 125/2010/CNJ (art. 18), cabe aos Tribunais 
de Justiça acompanhar o desenvolvimento dos projetos de Justiça Restaurativa, 
prestando suporte e auxílio para que não se afastem dos princípios básicos e dos 
balizamentos definidos na Res. 225/2016/CNJ. A propósito, cabe destacar que os 
procedimentos restaurativos não se caracterizam pela forma, mas sim por seus valores e 
princípios adotados. Nesse sentido, consoante levantamento recente realizado pelo 
TJMG, percebe-se a existência de diversas iniciativas no Estado de Minas Gerais que têm 
contornos restaurativos, embora nem todos configurem propriamente a prática da Justiça 
Restaurativa nos termos da Política Institucional. No momento, o Tribunal pretendecriar 
um Núcleo de Justiça Restaurativa para delinear e uniformizar as práticas, tendo como 
dois referenciais básicos os projetos já existentes no Juizado Especial Criminal de Belo 
Horizonte e no Centro Integrado de Atendimento ao Autor de Ato Infracional de Belo 
Horizonte (CIA-BH). Inobstante ainda não se tenha previsão de obrigatoriedade de sua 
implantação, percebe-se que a construção de redes de atendimento e colaboração tem 
auxiliado significativamente na ampliação da oferta dessa metodologia de tratamento de 
conflitos, inclusive com a realização da prática restaurativa em instituições parceiras após 
o encaminhamento pelo Poder Judiciário, especialmente em casos envolvendo a prática 
de atos infracionais, de violência doméstica contra a mulher e de crimes de menor 
potencial ofensivo. 
Por fim, urge salientar a existência de outras ferramentas metodológicas que 
também podem ser adotadas para o tratamento adequado dos conflitos de interesses por 
parte do Poder Judiciário. A título de exemplo, cabe registrar a utilização de Constelações 
Sistêmicas em alguns CEJUSCs e Varas do Estado como desdobramento de conciliações 
e mediações realizadas em conflitos familiares com alto grau de litigiosidade, inclusive 
com bons resultados em termos de acordos efetivos em casos complexos. A propósito, 
vale destacar que a Constelação Familiar Sistêmica foi proposta e sistematizada pelo 
Política de Autocomposição no TJMG 
Juliano Carneiro Veiga 
 
20 
 
alemão Bert Hellinger, com atuação em questões familiares mal resolvidas, objetivando 
identificar e tornar consciente a origem de determinado problema, comportamento ou 
situação vivenciada, criando possibilidades de cura, compreensão e ressignificação do 
conflito vivenciado. Entretanto, recomenda-se certa cautela em relação à adoção dessas 
outras ferramentas metodológicas ainda não institucionalizadas, no intuito de evitar o 
distanciamento das diretrizes da Política Institucional. Ademais, caso sejam adotadas, 
devem contar com facilitadores devidamente capacitados, bem como sugere-se a 
realização de consulta prévia ao NUPEMEC – Núcleo Permanente de Métodos 
Consensuais de Solução de Conflitos, ligado a Terceira Vice-Presidência do TJMG. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Política de Autocomposição no TJMG 
Juliano Carneiro Veiga 
 
21 
 
UNIDADE III – OS CENTROS JUDICIÁRIOS - CEJUSCS 
 
3.1 A estrutura do CEJUSC: setores pré-processual, processual e cidadania 
 
De início, cabe registrar que o Código de Processo Civil de 2015, ao tratar dos 
métodos autocompositivos, encampou as disposições contidas no texto original da 
Resolução n. 125/2010/CNJ, reforçando as diretrizes preconizadas pela Política Pública 
de Autocomposição. Consoante determinação do art. 165 do CPC, “os tribunais criarão 
centros judiciários de solução consensual de conflitos, responsáveis pela realização de 
sessões e audiências de conciliação e mediação e pelo desenvolvimento de programas 
destinados a auxiliar, orientar e estimular a autocomposição”. Por sua vez, a Lei de 
Mediação (Lei 13.140/15) trouxe disposição semelhante em seu art. 24. No mesmo 
sentido, a Resolução n. 125/2010/CNJ dispõe em seu artigo 8o que “os tribunais deverão 
criar os Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania (Centros ou Cejuscs), 
unidades do Poder Judiciário, preferencialmente, responsáveis pela realização ou gestão 
das sessões e audiências de conciliação e mediação que estejam a cargo de 
conciliadores e mediadores, bem como pelo atendimento e orientação ao cidadão”. 
Assim, o Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania – CEJUSC – é o 
responsável pela realização das sessões e audiências de conciliação e mediação, pré-
processuais e processuais, pelo atendimento e orientação ao cidadão, bem como pelo 
desenvolvimento de programas destinados a auxiliar, orientar e estimular a 
autocomposição. 
Em Minas Gerais, os CEJUSCs são instalados por meio de Portaria-Conjunta do 
Presidente, do Terceiro Vice-Presidente e do Corregedor-Geral de Justiça (art. 21 da 
Resolução 873/2018/TJMG). Conforme disposição do art. 25 da Resolução 873/2018, os 
CEJUSCs serão integrados por três setores, quais sejam: i) setor pré-processual de 
solução de conflitos, com a atribuição de realizar sessões de conciliação e de mediação 
pré-processuais; ii) setor processual de solução de conflitos, com a atribuição de realizar 
audiências de conciliação e de mediação processuais; iii) setor de cidadania, com 
atribuição de atender e orientar o cidadão. 
Antes do advento da Resolução nº 125/2010/CNJ e da exigência legal da criação 
de CEJUSCs, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais possuía diversos projetos e 
Política de Autocomposição no TJMG 
Juliano Carneiro Veiga 
 
22 
 
programas de incentivo à Conciliação e à Mediação de Conflitos, que passaram a integrar 
o CEJUSC quando da sua instalação em cada comarca. Desse modo, as experiências 
pré-processuais de resolução de conflitos (ex: Juizados de Conciliação) passaram a 
integrar o setor pré-processual do CEJUSC. Por sua vez, as Centrais de Conciliação e o 
Serviço de Conciliação dos Juizados Especiais Cíveis passaram a integrar o Setor 
Processual do CEJUSC. Vale ressalvar que a integração do serviço de conciliação dos 
JESPs ainda depende de uma melhor adequação e alinhamento entre o Nupemec e o 
Conselho de Supervisão dos Juizados Especiais. De qualquer modo, em comarcas 
menores, essa integração já costuma ser realizada pelo Juiz Coordenador quando da 
instalação do CEJUSC. Além desses dois setores, o Setor Cidadania abarcou uma 
experiência exitosa realizada pelo Serviço de Atendimento ao Cidadão – SEAC – em Belo 
Horizonte, ampliando as possibilidades de acolhimento, escuta, orientação e 
encaminhamento dos usuários que procuraram o CEJUSC. 
Desse modo, todo CEJUSC instalado deve abranger, necessariamente, o setor de 
solução de conflitos pré-processual, o setor de solução de conflitos processual e o setor 
de cidadania. Ademais, cabe registrar, por oportuno, que, além das disposições do 
Código de Processo Civil, da Lei de Mediação, da Lei 9.099/95, da Resolução nº 
125/2010/CNJ e da Resolução nº 873/2018/TJMG, existem enunciados emitidos pelo 
Fórum de Coordenadores de Nupemecs (Fórum Nacional de Mediação e Conciliação - 
Fonamec), aprovados pela Comissão Permanente de Acesso à Justiça e Cidadania, ad 
referendum do plenário do CNJ, que integram a Resolução nº 125/2010/CNJ, com efeitos 
vinculativos para aplicação no âmbito dos CEJUSCs (art. 12-A, da Resolução nº 
125/2010/CNJ), consoante destacaremos ao longo desta unidade. 
O setor cidadania é responsável pelo acolhimento e escuta do cidadão que 
procura o CEJUSC, realizando o primeiro atendimento e a triagem do caso. Na hipótese 
de o caso apresentado ser passível de atendimento no CEJUSC, o cidadão poderá ser 
direcionado para o agendamento de uma sessão de conciliação ou mediação no setor 
pré-processual do CEJUSC. Por outro lado, quando se tratar de questões cuja resolução 
não por possível no âmbito do CEJUSC, cabe ao setor de cidadania oferecer serviços de 
orientação e encaminhamento do cidadão (Enunciado nº 07 do Fonamec), de forma 
qualificada, evitando a peregrinação do mesmo por vários órgãos e instituições até obter 
alguma informação precisa para a resolução da questão apresentada. Ademais, podem 
Política de Autocomposição no TJMG 
Juliano Carneiro Veiga 
 
23 
 
ser formalizadas parcerias com entidades públicas e privadas para oferecer no setor de 
cidadania serviços de emissão de documentos (Carteira de Identidade [Registro Geral[, 
Carteira de Trabalho, Título de Eleitor, etc.) e outros serviços de interesse dos cidadãos, 
nos termos do Enunciado nº 13 do Fonamec. Outrossim, há possibilidade de realização 
de Eventos de Promoção da Cidadania, inclusive de forma itinerante, realizados em 
sistema de parceria comoutras instituições públicas e privadas, no intuito de oferecer 
uma vasta gama de serviços de promoção da inclusão social e do acesso ao Sistema de 
Direitos. 
No setor pré-processual, após a escuta e triagem do caso, são realizados os 
agendamentos das sessões de conciliação e mediação para resolução dos conflitos não-
judicializados, ou seja, em que não existem processos em tramitação. Cabe ao 
responsável pela triagem indagar ao interessado no agendamento se há ou não processo 
em tramitação, podendo se valer de consulta ao SISCOM para confirmar a informação. 
Em relação às matérias que podem ser objeto de agendamento de 
conciliações/mediações, não há nenhuma restrição legal acerca da natureza do conflito 
ou do valor discutido pelas partes, razão pela qual podem ser atendidas quaisquer 
matérias que poderiam ser levadas à apreciação da Justiça Estadual. Eventualmente, 
havendo um CEJUSC com atendimento exclusivo para questões levadas aos Juizados 
Especiais, deve haver a observância das regras de competência previstas na Lei nº 
9.099/95. 
A propósito, o Enunciado nº 5 do Fonamec dispõe que “o setor de solução de 
conflitos pré-processual dos CEJUSCs poderá atender as partes em disputas de qualquer 
natureza, exceto aquelas que tratarem de direitos indisponíveis não transacionáveis, nos 
termos do art. 3º da Lei de Mediação (Lei nº 13.140/2015), colhendo, sempre que 
necessária, nos termos da lei, a manifestação do Ministério Público, antes da 
homologação pelo Juiz Coordenador”. No mesmo sentido, o En. nº 7 do Fonamec prevê 
que “é viável a organização de rotinas de trabalho nas áreas tributária, ambiental, 
criminal, fazendária e previdenciária, e matérias de competência dos Juizados, tanto na 
área pré-processual como na área processual”. 
Após o registro sucinto da reclamação apresentada pelo solicitante, constando 
apenas o assunto a ser conversado na sessão de conciliação/mediação agendada, é 
entregue uma via da Carta Convite ao interessado para que ele próprio se encarregue do 
Política de Autocomposição no TJMG 
Juliano Carneiro Veiga 
 
24 
 
envio ou entrega ao solicitado, convidando-o para comparecer à sessão agendada. Entre 
a procura e a data da sessão deve ser observado um prazo suficiente para que a entrega 
da carta convite seja realizada tempestivamente. No dia marcado, comparecendo as duas 
partes, é realizada a sessão de conciliação ou mediação (que pode se desdobrar em mais 
sessões), sendo registrado em ata apenas eventual acordo formulado pelas partes, que 
seguirá para a homologação pelo Juiz Coordenador do CEJUSC. Havendo interesses de 
incapazes, o procedimento deverá seguir para manifestação prévia do Ministério Público, 
antes da homologação judicial. Ressalta-se que os procedimentos do pré-processual não 
devem ser distribuídos para posterior homologação, uma vez que a distribuição contraria 
o objetivo de desjudicialização. Por outro lado, em caso de não cumprimento espontâneo 
do acordo, eventual ação de cumprimento deverá ser distribuída (En. nº 29 do Fonamec), 
consoante os critérios de definição da competência das varas ou dos Juizados Especiais, 
nos casos em que passível a execução nos termos da Lei nº 9.099/95. 
Não havendo acordo, o procedimento é arquivado e as partes são orientadas 
acerca da possibilidade de buscarem outras vias para a resolução do conflito (ex: Juizado 
Especial, Defensoria Pública, etc.). Destaca-se que, não sendo possível a composição ou 
estando ausente uma ou ambas as partes, é formalizada uma ata registrando-se apenas 
que a conciliação/mediação restou infrutífera. Salienta-se que, em razão do princípio da 
confidencialidade, não podem constar na referida ata quaisquer detalhamentos sobre as 
negociações ou sobre as propostas recusadas. Os atendimentos realizados no setor pré-
processual independem do pagamento de custas processuais (En. nº 19 do Fonamec), 
porquanto a Política de Autocomposição se volta ao incentivo da resolução prévia de 
conflitos, existindo, ainda, outros incentivos normativos acerca dessa questão para que a 
autocomposição seja adotada prioritariamente pelas partes (ex.: art. 90, § 3o, CPC; art. 
22, § 2o, IV, e art. 29, ambos da Lei de Mediação, etc). 
Outrossim, enfatiza-se que todos os CEJUSCs devem dar prioridade e centrar 
seus esforços para a promoção da resolução pré-processual de conflitos, atendendo aos 
objetivos da Política Autocompositiva, oferecendo um filtro à judicialização e promovendo 
a pacificação social por meio de soluções adequadas, tempestivas e efetivas. Nesse 
sentido, o En. nº 6 do Fonamec estabelece que, “sempre que possível, deverá ser 
buscado o tratamento pré-processual do conflito, evitando-se a judicialização”. 
Política de Autocomposição no TJMG 
Juliano Carneiro Veiga 
 
25 
 
Além disso, há possibilidade que o Coordenador do CEJUSC remeta as partes 
para a conciliação e mediação privadas (Enunciado n. 37 do FONAMEC), nas comarcas 
nas quais existam Câmaras Privadas de Conciliação e Mediação, incentivando o 
fortalecimento da rede de tratamento e resolução extrajudicial de conflitos. Ressalta-se 
que a Portaria Conjunta n. 655/2017 do TJMG regulamenta o cadastramento das referidas 
Câmaras, dispondo que o requerimento do cadastro será entregue ao juiz coordenador do 
CEJUSC, nas comarcas nas quais há Centro Judiciário instalado (art. 2o, § 2º), instruído 
com os documentos relacionados no art. 3o. Cabe ao coordenador do CEJUSC realizar a 
análise desse requerimento e a verificação da idoneidade da Câmara (art. 5o), com a 
emissão de parecer prévio e posterior envio ao coordenador do NUPEMEC para 
avaliação final e inclusão em lista própria, em caso de deferimento do requerimento. O 
cadastro terá validade de 2 anos, com possibilidade de prorrogações (art. 8o). Destaca-se 
que os acordos pré-processuais celebrados nessas Câmaras Privadas podem ser 
enviados para a homologação do coordenador do CEJUSC, independentemente de 
pedido judicial (art. 10). Em relação aos processos judiciais, as partes podem optar, de 
comum acordo, pela realização da conciliação/mediação nas Câmaras Privadas 
cadastradas no TJMG, mediante manifestação nos autos, inclusive para fins de 
suspensão do processo (art. 11), cabendo-lhes remeter as cópias das peças processuais 
necessárias e arcar com os valores previamente ajustados e cobrados pelas Câmaras. 
Destaca-se que as Câmaras Privadas deverão suportar no mínimo 20% (vinte por cento) 
de sua capacidade de atendimento para a realização de conciliações e mediações, sem 
cobrança de honorários, nos processos em que for deferida a gratuidade judiciária (art. 
15). Para atuarem em conciliação/mediação processual, todos os conciliadores e 
mediadores da Câmara deverão estar inscritos no Cadastro Nacional de Conciliadores e 
Mediadores Judiciais (CNJ), após participação em curso específico, nos termos do art. 
167 do CPC. Não havendo manifestação das partes ou ocorrendo divergência, não há 
possibilidade de remessa dos autos para a conciliação/mediação nas Câmaras Privadas, 
podendo a mesma ser realizada no próprio CEJUSC ou juízo de origem. Além da análise 
inicial do pedido de cadastramento, o coordenador do CEJUSC também realizará o 
acompanhamento estatístico das conciliações/mediações realizadas nas Câmaras, que 
deverão enviar a ele relatórios mensais, até o quinto dia útil de cada mês, cabendo ao 
CEJUSC fazer a remessa ao NUPEMEC. 
Política de Autocomposição no TJMG 
Juliano Carneiro Veiga 
 
26 
 
Ademais, cabe registrar que o setor pré-processual pode funcionar junto aos 
demais setores do CEJUSC, em prédio próprio ou no Fórum, ou estender seu 
funcionamento em faculdades, associações comerciais, associações de bairro, escolas, 
espaços oferecidos por prefeituras ou por outras instituições públicas ou privadas, bem 
como de forma itinerante pelos municípios que compõem a comarca. Para tanto, deverá 
ser formalizado um convêniocom a instituição parceira, conforme modelos 
disponibilizados pelo TJMG. 
Por sua vez, o setor processual do CEJUSC é responsável pela realização das 
audiências de conciliação/mediação dos processos que estão em andamento, podendo 
receber processos das várias unidades judiciárias que compõem a comarca em qualquer 
fase de tramitação. Ordinariamente, os CEJUSCs realizam todas as audiências de 
conciliação/mediação previstas no art. 334 do CPC. Após o recebimento da petição inicial, 
a própria secretaria do juízo realiza o agendamento da data da referida audiência, 
consoante pauta disponibilizada pelo CEJUSC, cabendo à própria secretaria providenciar 
a expedição do mandado de citação antes da remessa dos autos ao setor do CEJUSC. 
Essa audiência deve ser marcada com antecedência mínima de 30 dias, devendo o réu 
ser citado com pelo menos 20 dias de antecedência (art. 334, CPC). No que diz respeito 
às ações de família, o mandado de citação conterá apenas os dados necessários à 
audiência e deverá estar desacompanhado de cópia da petição inicial, podendo a citação 
ocorrer com antecedência mínima de 15 dias da data da audiência (art. 695, CPC). Por 
sua vez, a intimação do autor para a referida audiência será realizada na pessoa de seu 
advogado. 
Vale destacar que essa audiência do art. 334 do CPC somente não será realizada 
se ambas as partes manifestarem, expressamente, o desinteresse na composição 
consensual ou quando não se admitir a autocomposição. Assim, a manifestação apenas 
do autor na petição inicial acerca do desinteresse na autocomposição não implica a 
dispensa da designação da referida audiência, devendo o réu também manifestar seu 
desinteresse, por petição, em até 10 dias antes da data da audiência (Enunciado nº 45 do 
Fonamec). Ademais, registra-se que “o não comparecimento injustificado do autor ou do 
réu à audiência de conciliação é considerado ato atentatório à dignidade da justiça e será 
sancionado com multa de até dois por cento da vantagem econômica pretendida ou do 
valor da causa, revertida em favor da União ou do Estado” (art. 334, § 8o, CPC). Ainda 
Política de Autocomposição no TJMG 
Juliano Carneiro Veiga 
 
27 
 
não há consenso em relação ao momento para a aplicação dessa multa, havendo juízes 
que a aplicam logo após a audiência, em face do caráter pedagógico, e outros que optam 
pela aplicação apenas na sentença, deixando de aplicá-la caso a autocomposição seja 
obtida no curso do processo. 
No dia da audiência de conciliação/mediação, as partes devem comparecer 
acompanhadas por seus advogados ou defensores públicos (art. 334, § 9o, CPC), 
podendo ser nomeado um defensor dativo caso a parte compareça desacompanhada de 
advogado e inexista defensor público disponível para assisti-la. Entretanto, consoante 
disposição do Enunciado nº 47 do Fonamec, quando o advogado ou defensor público, 
devidamente intimado, não comparecer à audiência injustificadamente, o ato poderá ser 
realizado sem a sua presença se o cliente/assistido concordar expressamente. Não 
obstante a orientação de que as próprias partes envolvidas no conflito compareçam nessa 
audiência, o § 10 do art. 334 do CPC prevê que a parte poderá constituir representante, 
por meio de procuração específica, com poderes para negociar e transigir. Caso 
necessário à composição das partes, pode ser realizada mais de uma sessão de 
conciliação ou mediação, havendo previsão no CPC de que o procedimento não poderá 
se alongar por mais de 2 meses a contar da realização da primeira sessão (art. 334, §2o), 
enquanto a Lei de Mediação dispõe que as partes poderão requerer a suspensão do 
processo por prazo suficiente para a solução do conflito (art. 16). Consoante previsão 
integrativa do artigo 313, II, § 4o, do CPC, pode-se adotar o entendimento de que essa 
suspensão poderia durar até no máximo 06 (seis) meses, consoante convencionado pelas 
partes. Por outro lado, pode-se entender que a previsão da Lei de Mediação deve 
prevalecer, uma vez que é norma especial sobre procedimento, com aplicação apenas 
supletiva do CPC (art. 1.046 § 2º), devendo ser privilegiada a interpretação que mais se 
alinhe aos princípios da mediação, porquanto há casos que exigem uma dilação maior do 
procedimento para serem adequadamente tratados. 
Havendo acordo, as sentenças homologatórias prolatadas em processos 
encaminhados ao CEJUSC de ofício ou por solicitação do juiz coordenador reverterão 
para o juízo de origem para efeito de estatística de produtividade (art. 8o, § 8º, da 
Resolução 125/2010/CNJ). Caso as partes não cheguem a um acordo, o processo é 
remetido à unidade judiciária de origem e começa a correr o prazo de 15 dias para o 
oferecimento da contestação, contado da data da audiência ou da última sessão de 
Política de Autocomposição no TJMG 
Juliano Carneiro Veiga 
 
28 
 
conciliação/mediação. Reitera-se, ainda, que não sendo possível a composição, registra-
se apenas que a conciliação/mediação restou infrutífera, sem constar eventuais propostas 
recusadas ou o conteúdo das negociações, em observância ao princípio da 
confidencialidade. Vale ressaltar que não é atribuição do CEJUSC receber contestações, 
devendo a resposta do réu ser protocolizada no juízo de origem, consoante disposição do 
Enunciado 44 do Fonamec. 
Ademais, os CEJUSCs, embora sejam unidades judiciárias, por não contarem 
com uma Secretaria própria para a confecção de expedientes, não expedem intimações, 
mandados, ofícios, alvarás, formal de partilha, cartas de sentenças e outros. Assim, 
muitos CEJUSCs passaram a adotar como prática a consignação na própria ata do 
acordo da dispensa da expedição de tais documentos, valendo a sentença para fins de 
registro nos Cartórios de Registro Civil e Registros de Imóveis, para desconto do valor de 
pensão alimentícia junto à fonte pagadora, etc, sendo entregue uma via original, 
devidamente assinada, ao cidadão para que ele a apresente no cartório respectivo. 
A propósito, vale registrar que algumas serventias de Serviço de Registro de 
Imóveis (SRI) e de Registro Civil de Belo Horizonte vinham se negando a registrar a 
decisão de partilha, ao exigir carta de sentença ou o competente formal, razão pela qual 
foi realizada uma consulta à Corregedoria-Geral de Justiça pelo Coordenador do 
CEJUSC, Dr. Clayton Rosa de Resende, oportunidade em que a CGJ entendeu como 
impertinente a negativa dos Cartórios de Registro em registrar o provimento jurisdicional 
homologatório advindo do CEJUSC, em clara afronta aos princípios processuais e 
constitucionais da efetividade e da celeridade (Decisão nº 543 proferida pelo Corregedor 
Des. José Geraldo Saldanha da Fonseca em 29/1/2019). 
Por fim, destaca-se que, após cada atendimento realizado no CEJUSC, o usuário 
é convidado a preencher uma Avaliação de Satisfação, com o propósito de aferir a 
qualidade do atendimento e o índice de satisfação dos usuários. Além dessa pesquisa, 
todos os atendimentos realizados nos três setores do CEJUSC são contabilizados e 
devem ser enviados mensalmente para o Nupemec, consoante modelo de mapa de 
produtividade, atentando-se para o envio pelo SEI até o dia 5 do mês seguinte ao da 
apuração. A aferição adequada das estatísticas é de fundamental importância para o 
acompanhamento da implantação da Política Autocompositiva e avaliação do alcance das 
metas institucionais. 
Política de Autocomposição no TJMG 
Juliano Carneiro Veiga 
 
29 
 
 
3.2 A composição da equipe do CEJUSC 
 
Todo CEJUSC deve contar com estrutura funcional mínima, composta por um 
Juiz Coordenador e, eventualmente, juízes adjuntos, devidamente capacitados, com a 
função de administrar, fiscalizar e orientar o serviço prestado nos três setores do 
CEJUSC, bem como de acompanhar a seleção e a capacitação dos conciliadores e 
mediadores. Assim, o Coordenador tem a responsabilidade de acompanhar a atuação e o 
desempenho dos facilitadores, podendofazê-lo com o auxílio de sua equipe, conferindo-
se a ele a prerrogativa de suspender e até mesmo desligar o conciliador ou mediador que 
descumprir as disposições do Código de Ética, atuar em desconformidade com as 
técnicas autocompositivas ou com as orientações do CEJUSC. 
Além disso, cabe ao juiz coordenador do CEJUSC a homologação dos acordos 
celebrados no setor pré-processual, contabilizando para ele tais sentenças para fins de 
produtividade. A propósito, vale registrar que o Órgão Especial acolheu a impugnação 
acerca do critério de produtividade formulada pelo então Coordenador do CEJUSC de 
Belo Horizonte, Dr. Renan Chaves Carreira Machado, definindo que as sentenças 
homologatórias decorrentes da atuação pré-processual reverterão, a título de 
produtividade, ao coordenador do CEJUSC, nos termos do art. 8o, § 8º, da Resolução 
125/2010/CNJ (Decisão no processo SEI/TJMG 1049134). No mesmo sentido, o 
Enunciado nº 50 do Fonamec prevê que “é possível a homologação pelo Juiz 
Coordenador do CEJUSC de acordos celebrados extrajudicialmente”, podendo o Juiz 
Coordenador do CEJUSC homologar acordos celebrados em escritórios de advocacia ou 
na mediação extrajudicial, alinhando-se às disposições previstas no art. 57 da Lei nº 
9.099/95 e no art. 20, parágrafo único, da Lei de Mediação. 
Ademais, a recomendação é de que todo CEJUSC conte com, ao menos, um 
servidor com dedicação exclusiva, devidamente capacitado em métodos consensuais de 
solução de conflitos e em triagem e encaminhamento adequado de casos. Alguns 
CEJUSCs que tiveram dificuldades na lotação de um servidor efetivo do quadro do TJMG, 
conseguiram obter a cessão de servidores efetivos de municípios ou a cessão de 
funcionários de instituições parceiras para atuação com dedicação exclusiva no CEJUSC. 
Política de Autocomposição no TJMG 
Juliano Carneiro Veiga 
 
30 
 
Além disso, para o funcionamento do CEJUSC é de fundamental importância a 
formação de uma equipe de conciliadores e mediadores que atuarão como facilitadores 
dos procedimentos autocompositivos. Ao instalar o Centro Judiciário, a comarca recebe 
vagas de estágio para seleção e lotação de estagiários no CEJUSC, podendo ser uma, 
duas ou três vagas, concedidas para comarcas de primeira, de segunda ou de entrância 
especial, respectivamente. Por sua vez, além dos estagiários contratados pelo TJMG, 
revela-se de grande valia contar com a atuação de conciliadores e mediadores 
voluntários, que podem contribuir para a ampliação e melhoria do atendimento, consoante 
sua disponibilidade de tempo. Para ser mediador judicial é necessário que a pessoa seja 
graduada há pelo menos dois anos em curso de ensino superior de instituição 
reconhecida pelo Ministério da Educação (art. 11 da Lei de Mediação). Cabe ressalvar 
que os mediadores já capacitados antes da vigência da Lei 13.140/2015 podem integrar 
os cadastros, independentemente de preencherem os requisitos previstos na Lei de 
Mediação, observada a capacitação continuada, no intuito de aproveitar os mediadores 
formados que já atuavam antes do advento da referida lei (Enunciado nº 46 do Fonamec). 
Por outro lado, não há essa exigência de ser graduado em curso superior para atuar 
como conciliador e nem como mediador extrajudicial (Enunciado nº 56 do Fonamec e art. 
9o da Lei de Mediação), havendo possibilidade de atuação de estudantes de qualquer 
curso, aposentados, profissionais liberais, servidores, etc. Urge salientar que o setor pré-
processual é integrante do CEJUSC/Poder Judiciário, razão pela qual os mediadores que 
atuam no referido setor devem atender aos requisitos do art. 11 da Lei de Mediação, 
sendo considerados mediadores judiciais. Por sua vez, diversas instituições podem 
realizar a mediação extrajudicial sem que seus mediadores atendam a tais requisitos (ex: 
associações comunitárias, mediações escolares, etc). Entretanto, há possibilidade de ser 
exigida a capacitação dos mediadores extrajudiciais nos termos preconizados na Res. 
125/2010/CNJ nos casos de pedido de cadastramento de Câmaras Privadas de Mediação 
e Conciliação ou de Cartórios Extrajudiciais que pretendam oferecer serviços de 
mediação de conflitos, dentre outros. 
Todos os conciliadores e mediadores devem ser devidamente capacitados para 
atuar no CEJUSC, não havendo possibilidade de que conduzam procedimentos 
Política de Autocomposição no TJMG 
Juliano Carneiro Veiga 
 
31 
 
autocompositivos sem a prévia capacitação.5 Antes de iniciar sua atuação, o candidato 
realiza um curso de capacitação em conciliação ou mediação com uma carga horária 
teórica de 40 horas-aula, seguida de 60 horas de estágio supervisionado, sendo que este 
pode ser realizado no próprio CEJUSC, com a atuação conjunta nas sessões 
autocompositivas e o envio de relatórios aos supervisores. Assim, para receberem o 
certificado do curso e realizarem sua inscrição no Cadastro Nacional, os conciliadores e 
mediadores devem concluir as 100 horas de capacitação. Após receber o certificado, o 
conciliador/mediador deverá acessar o site do CNJ para efetuar o seu cadastro 
(https://www.cnj.jus.br/ccmj/), informando sua especialidade de atuação (cível, família, 
empresarial), definindo se atuará como voluntário ou remunerado, informando o patamar 
de remuneração, consoante definição do CNJ, além de anexar seu currículo lattes e 
registrar outras informações pertinentes. A relação dos conciliadores, mediadores e 
câmaras privadas cadastradas está disponível para consulta pública no seguinte link: 
http://www.cnj.jus.br/ccmj/pages/publico/consulta.jsf. 
Destaca-se, por oportuno, que o art. 167, § 5o, do CPC prevê que, caso os 
conciliadores e mediadores cadastrados sejam advogados, estarão impedidos de exercer 
a advocacia nos juízos em que desempenhem suas funções. Entretanto, após debate 
sobre o alcance desse impedimento, restou estabelecido no Enunciado nº 47 do Fonamec 
que referido impedimento não se aplica aos advogados que atuam como conciliadores ou 
mediadores vinculados aos CEJUSCs, uma vez que se adotou o entendimento de que os 
Centros Judiciários não exercem jurisdição stricto sensu, sendo que os 
conciliadores/mediadores estão subordinados ao Juiz Coordenador do CEJUSC, sem 
qualquer vinculação com o juízo do processo. 
Por fim, registra-se ser de grande importância que todos os funcionários do Poder 
Judiciário (magistrados, servidores, terceirizados, estagiários, etc.) conheçam a Política 
de Tratamento Adequado dos Conflitos, seus princípios, objetivos e ações, uma vez que 
todos podem contribuir para o cumprimento e ressignificação da função do Judiciário, 
tornando mais humanizado o acolhimento e o atendimento efetivo de todos os usuários. 
Para tanto, além de cursos ou palestras, podem ser realizadas reuniões de alinhamento 
 
5
 Para mais informações e indicação de conciliadores e mediadores para participação nos cursos, orienta-se entrar em contato 
diretamente com o Serviço de Apoio ao Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos – SEANUP ((31) 
3237.5141 / nupemec@tjmg.jus.br) 
https://www.cnj.jus.br/ccmj/
http://www.cnj.jus.br/ccmj/pages/publico/consulta.jsf
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Juliano Carneiro Veiga 
 
32 
 
com todos os funcionários que trabalham no Judiciário local, inclusive com a participação 
e estímulo de todos os magistrados da comarca. 
 
UNIDADE IV – COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA 
 
4.1 O que é comunicação não-violenta 
 
Inicialmente, ressalta-se que, desde os primeiros cursos de capacitação de 
facilitadores realizados em Minas Gerais após a Res. 125/2010, foi adotada como diretriz 
a abordagem da comunicação não-violenta como parte integrante do desenvolvimento 
das competências autocompositivas. Com efeito, percebe-se que a comunicação 
inadequada está na raiz de inúmeros conflitos interindividuais apresentados para 
resolução no Poder Judiciário,porquanto muitas partes têm dificuldade em utilizar uma 
linguagem apropriada para externalizar seus interesses e necessidades sem atacar 
aqueles dos quais dependem para a realização de seus propósitos. Por outro lado, a 
comunicação é o instrumento basilar utilizado nos processos autocompositivos de 
resolução de conflitos, sendo que, ao adotar uma linguagem adequada, as partes 
conseguem superar diversos entraves para a integração de seus interesses e 
necessidades. Assim, a comunicação não-violenta possibilita a abordagem e o tratamento 
adequado dos conflitos de interesses, de forma compassiva e empática, contribuindo para 
a manutenção e a melhoria dos relacionamentos, para a humanização das interações e 
para a pacificação social, uma vez que oferece um caminho de aprendizagem nas 
conexões intersubjetivas que objetivam a realização das necessidades dos envolvidos em 
processos conflituosos. 
Política de Autocomposição no TJMG 
Juliano Carneiro Veiga 
 
33 
 
A comunicação não-violenta (CNV) foi desenvolvida pelo psicólogo americano 
Marshall Rosenberg, tendo como ponto de partida a compreensão de que cada ser 
humano possui necessidades básicas e de que nossas ações são estratégias adotadas 
para atender uma ou mais dessas necessidades. Além disso, adota como pressuposto 
que todos somos compassivos por natureza, sendo que as estratégias violentas adotadas 
na satisfação de nossas necessidades são ensinadas e aprendidas. 
Rosenberg percebe a importância da linguagem na capacidade de manutenção 
ou retorno a esse estado compassivo, propondo um novo aprendizado com o 
desenvolvimento de habilidades de linguagem e comunicação que fortaleçam a 
capacidade de mantermos nossa humanidade e empatia na arte de nos relacionarmos, 
mesmo em situações adversas. 
Assim, a CNV procura reformular o modo como nos expressamos e ouvimos os 
outros, tornando consciente o que observamos, sentimos e desejamos, ao mesmo tempo 
em que o olhar se volta às necessidades e sentimentos do outro com quem nos 
relacionamos (atenção respeitosa e empática ao outro). 
Para tanto, Rosenberg propõe 04 componentes básicos para desenvolver as 
habilidades da comunicação empática (CNV), tanto em relação à forma como nos 
expressamos quanto à forma como recebemos as informações do outro: 1) observação; 
2) sentimento; 3) necessidades; 4) pedido. Primeiramente, precisamos desenvolver a 
capacidade de articular nossas observações sem fazer nenhum julgamento ou avaliação, 
registrando apenas o que nos agrada ou não na fala, comportamento ou ação do outro. 
Em seguida, devemos identificar como nos sentimos ao observar aquela ação. Após isso, 
é importante identificar qual ou quais necessidades estão atreladas aos sentimentos 
identificados. Por fim, precisamos expressar de modo claro e objetivo um pedido 
Política de Autocomposição no TJMG 
Juliano Carneiro Veiga 
 
34 
 
específico do que queremos da outra pessoa para enriquecer nossa vida e satisfazer 
nossas necessidades. 
Ao desenvolvermos a capacidade de utilizar esses quatro componentes para nos 
expressarmos e auxiliarmos os outros a fazerem o mesmo, estabelecer-se-á um fluxo 
comunicativo que leva à manifestação da compaixão e empatia, uma vez que 
percebemos que temos necessidades e que o outro também possui necessidades; que as 
ações do outro despertam em nós sentimentos, mas que as nossas também geram 
sentimentos no outro; que precisamos de algo para enriquecer nossa vida e que o outro 
também está pedindo algo para enriquecer a vida dele. 
Por outro lado, quando repetimos um modelo comunicativo baseado em 
julgamentos, classificações e comparações, geramos antagonismos e distanciamentos do 
outro, camuflando nossas próprias necessidades e ofuscando nosso olhar em relação às 
necessidades do outro. Com isso, desenvolvemos um processo de alienação e 
desumanização, em que o “outro” e o “eu” se tornam sujeitos estranhos e polarizados, 
reproduzindo um sistema que reforça a competitividade e leva o outro a também adotar 
uma postura defensiva e repelente às nossas necessidades. 
Dessa maneira, pode-se definir como violenta toda comunicação que implica 
desconexão com nossas necessidades e sentimentos e nos afasta daquilo que de fato é 
importante para nós, gerando uma perda de oportunidade de construirmos algo novo com 
o outro para enriquecer nossas vidas. A violência não é apenas pautada por expressões 
verbais, podendo se dar por gestos, símbolos ou pelo próprio tom de voz utilizado. 
Por sua vez, a comunicação não-violenta promove a humanização de nossas 
relações e uma conexão empática com o outro, serve como um guia para reformularmos 
o modo como nos expressamos e escutamos os outros, auxilia a nos ligarmos uns aos 
Política de Autocomposição no TJMG 
Juliano Carneiro Veiga 
 
35 
 
outros e a nós mesmos, possibilitando que floresça nossa compaixão natural. Ademais, a 
CNV pode ser utilizada nos mais diversos momentos da nossa vida, seja no trabalho, na 
escola, na família, nas negociações ou em qualquer outro contato social, e não apenas 
como recurso para resolução de conflitos. 
Além disso, vale ressaltar seu importante papel preventivo em relação às 
manifestações conflituosas, uma vez que, na linha adotada por Rosenberg, a 
comunicação é causa de grande parte dos conflitos que vivenciamos e, paradoxalmente, 
é pela comunicação que prevenimos e resolvemos grande parte das situações 
conflituosas vivenciadas em nossas interações. 
 
4.2 Os quatro componentes da comunicação não-violenta 
 
Desenvolver habilidades de comunicação não-violenta é essencial na realização 
da intermediação de uma resolução adequada de conflitos nas diversas metodologias 
adotadas. Com isso, desenvolve-se a empatia entre os participantes, garantindo espaços 
de fala e escuta ativa, evitando a adoção de uma comunicação com aspectos violentos 
que desconectam os participantes. Para que possamos desenvolver referidas habilidades, 
é salutar observarmos os seguintes passos: 
1o) Observar uma situação sem emitir julgamento, apenas descrevendo 
precisamente o que ocorreu. 
2o) Perceber e identificar como se sente em relação a essa situação descrita. 
3o) Reconhecer qual necessidade foi afetada pela situação descrita e se encontra 
na raiz do sentimento. 
Política de Autocomposição no TJMG 
Juliano Carneiro Veiga 
 
36 
 
4o) Fazer um pedido específico e positivo (ação de fazer) a outra pessoa. Esse 
pedido deve refletir uma das formas possíveis para garantir nossa necessidade. 
Em relação ao primeiro passo (observar sem avaliar), cumpre destacar que, ao 
combinarmos observações com avaliações, a pessoa tende a receber isso como uma 
crítica ou um ataque, resistindo ao que dizemos. Isso não significa que a CNV exige de 
nós uma neutralidade e abstenção de avaliar em todos os momentos, mas apenas que 
devemos separar nossas observações das nossas avaliações. Com isso, evitamos 
generalizações estáticas, ligando avaliações a observações específicas de cada contexto 
e momento, tendo em vista que a vida é dinâmica e está em constante mudança e 
desenvolvimento, motivo pelo qual exige a adoção de uma linguagem que também seja 
dinâmica. 
A título de exemplo, poder-se-ia dizer que João é um sujeito preguiçoso 
(linguagem estática) ou que nós observamos um comportamento específico de João de 
permanecer em casa durante todo o dia, fazendo coisas que rotulamos de “preguiçosas” 
(linguagem dinâmica). Quando rotulamos alguém, positiva ou negativamente, limitamos 
nossa percepção em relação à totalidade do ser de outra pessoa. Além disso, a utilização 
do verbo “ser” desconectada de um contexto e tempo determinados implica observação 
associada com avaliação, como, por exemplo, quando dizemos “Túlio é um péssimo 
jogador de futebol”, diferentemente de falarmos “Túlio não marcou nenhum gol nas 10 
partidas do campeonato” (observação isenta de avaliação). 
Quanto

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