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E-book 3 Design by Freepik Franceli Guaraldo TEORIA E HISTÓRIA DO DESIGN GRÁFICO Neste E-Book: INTRODUÇÃO ���������������������������������������������� 3 MOVIMENTO CONTRACULTURA �����������4 DESIGN A PARTIR DA DÉCADA DE 1960 ����������������5 PÓS- MODERNIDADE �������������������������������������������� 18 DESIGN GRÁFICO PÓS-MODERNO ���������������������� 20 NOVA ONDA DA TIPOGRAFIA ������������������������������ 23 DESIGN RETRÔ E VERNACULAR �������������������������� 30 DESIGN GRÁFICO E REVOLUÇÃO DIGITAL ���������� 35 CONSIDERAÇÕES FINAIS ���������������������� 55 SÍNTESE �������������������������������������������������������57 2 INTRODUÇÃO Neste e-book, vamos conhecer a trajetória do design contemporâneo a partir da década de 1960, período em que surgem críticas severas ao consumismo e à sociedade de cultura de massa, caracterizando o movimento conhecido como contracultura, o que resulta em uma crítica ao funcionalismo a base do design moderno� Nesse contexto, as manifestações de design rela- cionam-se ao psicodelismo, à cultura da Pop Art, ao movimento Retrô e ao design vernacular, ao discurso desconstrucionista que, juntamente com o advento das novas tecnologias digitais, modelam caminhos do design na Pós-Modernidade� Além disso, abriu diversas possibilidades de pensar o design, seja pela ordem seja pela desordem, seja pela construção seja pela desconstrução, o que foi de suma importância, pois repercutiu diretamente na prática profissional do designer nos dias atuais. 3 MOVIMENTO CONTRACULTURA O crescimento econômico, a ampliação da sociedade de consumo de massa e o consumismo desenfrea- do do American way of life caracterizaram os anos 1960 que, por outro lado, trouxeram uma severa crí- tica a essa mesma sociedade, com novas atitudes e comportamentos, propiciando o surgimento da con- tracultura, isto é, diversos movimentos de protesto que propuseram novas atitudes e novas formas de comportamento com relação à cultura vigente� Entre eles, destacam-se o movimento Flower Power, slogan ou expressão criado pelo movimento hippie (psicodelia), de 1960 até o começo dos anos de 1970 nos Estados Unidos, como símbolo da não violência e repúdio à Guerra do Vietnã (1955-1975); a luta pelos direitos civis nos Estados Unidos, liderada por Martin Luther King Jr�; o movimento a favor da pílula anticon- cepcional; o movimento estudantil na França (1968); e o movimento ambientalista que criticou a socieda- de de consumo e suas consequências danosas para o meio ambiente, com o advento do Clube de Roma e a publicação de Os Limites do Crescimento (1972), de Donella H� Meadows, Dennis L� Meadows, Jørgen Randers e William W� Behrens III� No campo do design, ocorreu uma crise do funcio- nalismo que provocou o surgimento de movimentos radicais na Grã-Bretanha, Itália e Alemanha, ao se 4 questionar o Estilo Tipográfico Internacional, a tipo- grafia neutra e a funcionalidade dos impressos, a cultura industrial e a produção de produtos de mas- sa sem inspiração dada à similaridade das formas empregadas e a “fria” limitação funcionalista dos objetos às suas funções prático-técnicas� Tudo isso resultou em uma retomada dos aspectos emocionais e simbólicos, bem como no diálogo com a Arte en- quanto questões centrais no processo de projetar� DESIGN A PARTIR DA DÉCADA DE 1960 A estética da Pop Art articulou-se com a linguagem do Flower Power do movimento hippie (psicodelia) e da pop music britânica, exercendo grande influência nas áreas da moda e do design como um todo� A Pop Art influenciou o design de móveis, com a valorização da cultura kitsch, que envolve uma ca- tegoria de produtos comuns, baratos e do cotidiano, em detrimento daqueles que seriam categorizados como pertencentes à cultura erudita; com a valori- zação também de móveis montados pelo próprio usuário — “faça você mesmo” (Do it yourself) — e de práticas de reutilização de materiais (entulho), que passaram a fazer parte da cultura habitacional� O emprego de novos materiais sintéticos possibilitou o surgimento do design de formas lúdicas e provo- cativas no design de produtos. No design gráfico, visões antigeométricas, antifuncionalistas e antirra- 5 cionalistas começaram a explorar o humor, o acaso e o mau gosto encontrado no contexto de uma estética moderna (Figura 1, Figura 2, Figura 3 e Figura 4)� Figura 1: Símbolo do desarmamento nuclear, ou da paz (1956). Fonte: Wikipedia. Figura 2: Capa The Jimi Hendrix Experience (1967). Fonte: Wikipedia. 6 https://en.wikipedia.org/wiki/Gerald_Holtom#/media/File:Peace_symbol%20.svg https://pt.wikipedia.org/wiki/Axis:_Bold_as_Love#/media/Ficheiro:Axis%20BoldAsLove.jpg Figura 3: pôster de The Association: Concert at the Fillmore Auditorium (1966). Cosmerican. Figura 4: Pôster de The Miller Blues Band (1966). Fonte: Cooper Hweitt. 7 http://cosmerican.com/poster-img/BG-18/thumbs/BG-18__1-w400.jpg https://images.collection.cooperhewitt.org/82672_a8b71092733186ff_b.jpg https://images.collection.cooperhewitt.org/82672_a8b71092733186ff_b.jpg Podcast 1 A psicodelia (do grego: psique = alma e delein = manifestação) e a experiência psicodélica estão relacionadas às experiências obtidas frequente- mente por uso de substâncias alucinógenas, que produzem alterações na percepção e na sineste- sia, estados alterados de consciência similares ao sonho, psicose e êxtase religioso� O psicodelismo tem sido associado ao Surrealismo, movimento em que a linguagem dos sonhos e do subconsciente é explorada na criação� Segundo Heller e Schawst (1988), a psicodelia traz um retorno a uma vida comunitária, aos conceitos de produção artesanal do Arts and Crafts, integrados às artes, música e literatura� O “estilo psicodélico” é aplicado ao design de pôsteres, roupas, joias, mobi- liário e automóveis� A psicodelia tornou-se então um código visual e, em- bora faça uso de letras com formas do movimento Sezession, ornamentos Art Noveau e tipografia vito- riana, sua paleta inspirada em drogas e sua icono- grafia de quadrinhos a transformaram em um estilo gráfico americano diferenciado. Os artistas mais inovadores são os cartunistas Wes Wilson, Rick Griffin, Stanley Mouse e Victor Moscoso (Figura 1, Figura 2, Figura 3 e Figura 4), que produ- ziram pôsteres para concertos de blues e rock n’roll na Costa Oeste� 8 https://famonline.instructure.com/files/168878/download?download_frd=1 Os cartazes psicodélicos que representam o movi- mento hippie dos anos 60 contêm uma expressão gráfica associada às curvas fluídas e sinuosas do movimento Art Nouveau, à intensa vibração ótica de cores associada ao breve movimento pop art, além de utilizar recursos vinculados à reciclagem de imagens oriundas da cultura popular mediante a manipulação (como a redução de imagens ao alto contraste de preto e branco) que vigorava na pop art (MEGGS; PURVIS, 2009)� Na década de 1960, um dos melhores exemplos na área de design gráfico é o trabalho produzido pelo escritório americano Push Pin Studios, que utilizou imagens da história da arte e do design gráfico, ou seja, das pinturas do Renascimento até as histórias em quadrinhos, parafraseando livre- mente e incorporando uma diversidade de ideias ao seu trabalho, transformando tudo em formas inovadoras e inesperadas� O Push Pin foi fundado na cidade de Nova York (EUA) em 1954, pelos de- signers Milton Glaser e Seymour Schwast� Observe algumas de suas obras na Figura 5, Figura 6, Figura 7 e Figura 8: 9 Figura 5: Capa de disco para The Sound of Harlem (1964). Fonte: Amazon. Figura 6: Cartaz de Bob Dylan (1967). Fonte: MoMA. 10 https://www.amazon.com/Sound-Harlem-Jazz-Odyssey-III/dp/B004TTI5O6 https://www.moma.org/media/W1siZiIsIjIxMTg4OCJdLFsicCIsImNvbnZlcnQiLCItcmVzaXplIDIwMDB4MjAwMFx1MDAzZSJdXQ.jpg?sha=cc7be532894a7d59 Figura 7: Projetos de tipos display. Fonte: art85.patrickaievoli.com. Figura 8: Capa de disco para The Threepenny Opera (1975). Fonte: Discogs. 11 http://art85.patrickaievoli.com/wp-content/uploads/2017/10/harlem.jpghttps://www.discogs.com/release/3179097-Die-Dreigroschenoper-The-Threepenny-Opera/images Um dos expoentes do Push Pin Studios, Milton Glaser utilizou figuras contornadas por nanquim, coloridas por meio de películas adesivas, que integram a ico- nografia sintética dos quadrinhos, o sinuoso desenho curvilíneo dos arabescos persas e o Art Noveau, a cor chapada das gravuras japonesas e dos recortes de Matisse, além da dinâmica da pop art, o que resulta em uma solução inovadora para a capa do The Sound of Harlem� No outro trabalho, o cartaz de Bob Dylan, Glaser elaborou uma imagem singular do músico, utilizando uma silhueta preta com cabelos em cores claras, inspirados no Art Nouveau, combinado sua visão pessoal com a essência do tema� O trabalho de Seymour Schwast, em contraste com o de Glaser, mostra uma planaridade absoluta e um amor pelas letras vitorianas e figurativas, integran- do informações figurativas e textuais que resultam em soluções inesperadas e inovadoras� Na capa do The Threepenny Opera, Schwast combinou a gra- vura expressionista alemã com deslocamentos es- paciais surreais e cores dinâmicas encontradas na arte primitiva� Tanto Glaser quanto Schwast desenvolvem uma série de displays, que inicialmente são letras para traba- lhos, mas depois passam a ser desenvolvidos em alfabetos inteiros� Na década de 1960, esses designers juntamente com Herb Lubalin usaram grafismos oriundos de fontes históricas, do design vernacular americano e da cultura popular, rompendo com a neutralidade 12 e funcionalismo do Estilo Tipográfico Internacional. Isso resultou em soluções irreverentes, artísticas e coloridas, baseadas no humor e na expressão visível da personalidade do designer� O trabalho do Push Pin é considerado uma das raízes do design gráfico pós-moderno� Bert F. “Herb” Lubalin, designer gráfico e type desig- ner, praticou o design como um meio de dar forma visual a um conceito ou mensagem, sendo respon- sável por um dos maiores avanços do design gráfi- co americano, pois abandonou as regras e práticas tipográficas modernas, considerando os caracteres alfabéticos simultaneamente como forma visual e comunicação de mensagens� Figura 9: Logotipo da revista Avant Garde (1968). Fonte: www.works- designgroup.com. 13 http://worksdesigngroup.com/wp-content/uploads/2017/07/avant.png http://worksdesigngroup.com/wp-content/uploads/2017/07/avant.png Figura 10: Tipograma de um cartaz de anúncio de tipos Stettler (1965); Proposta de logotipo de revista (1967). Fonte: www.works- designgroup.com. Em seu trabalho mais inovador, esses elementos se combinam em uma unidade chamada tipograma, um breve poema visual tipográfico: palavras e letras transformam-se em imagens, um jogo tipográfico que exige a participação do leitor� Isso se torna possível devido ao sistema de fotocomposição e à fotoletra, ampliando as possibilidades de projeto� Tal sistema é explorado criativamente por Lubalin, que fez experimentações com a variação no espace- jamento e sobreposição de letras, alteração de tama- nho sem a perda de nitidez, intensificando a imagem impressa e o conteúdo a ser expresso na mensagem (Figura 13, Figura 14, Figura 15 e Figura 16)� Lubalin projetou a fonte ITC Avant Garde (Figura 9, Figura 10, Figura 11 e Figura 12), tendo colaborado com Ralph Ginzburg como diretor de arte no desenho e leiaute das revistas Eros, Fact e Avant Garde; esta última foi uma luxuosa revista que publicava ensaios visuais, ficção e reportagem que, até o final da déca- da de 1960, assumiu um formato quadrado� Em 1970, 14 http://worksdesigngroup.com/wp-content/uploads/2017/07/motherchild-768x510.png http://worksdesigngroup.com/wp-content/uploads/2017/07/motherchild-768x510.png Lubalin fundou a International Typeface Corporation (ITC); a partir de 1972, lecionou na Cornell University e, de 1976 a 1981, na Cooper Union em Nova York; em 1973, o in-house magazine da ITC, Upper and lower case (U&lc)� Figura 11: Capa para a Eros (1962). Fonte: Alliance Graphique Internationale. Figura 12: Páginas de Eros (1962). Fonte: Abebooks. 15 https://0dbcc3748b8f47fd775c-77a5fe26cae7cb35bb07eccfb28cee77.ssl.cf3.rackcdn.com/herblubalin/_1600xAUTO_crop_center-center_75/Lubalin_01.jpg https://0dbcc3748b8f47fd775c-77a5fe26cae7cb35bb07eccfb28cee77.ssl.cf3.rackcdn.com/herblubalin/_1600xAUTO_crop_center-center_75/Lubalin_01.jpg https://www.abebooks.com/Eros-Volume-Marilyn-Monroe-Bert-Stern/14768885507/bd#&gid=1&pid=1 Figura 13: Cartaz anunciando tipos Davida Bold (1965). Fonte: MACTM Of Pilgrim. Figura 14: Anúncio para concurso de cartazes contra a guerra de Avant Garde (1967). Fonte: Fonts In Use. 16 https://ofpilgrim.files.wordpress.com/2012/05/herb_lubalin_045.jpg https://assets.fontsinuse.com/static/use-media-items/6/5730/full-1260x1652/5dcaf305/7419680134_e17ab7d207_o.jpeg?resolution=0 No período em questão, o Estilo Tipográfico Internacional passou a ser repensado na Europa por trabalhos como os de Rosmarie Tissi e Siegfried Odermatt (da Escola de Zurique) e Steff Geissbuhler, cujos trabalhos podem ser consultados na Figura 15� Esses designers expandiram os parâmetros do design gráfico, abrindo caminho para uma transfor- mação que ocorre a partir dos anos de 1970, uma vez que produziram um design mais intuitivo e me- nos regrado, com alto impacto visual, com menor preocupação com regras de clareza e legibilidade, com conotações simbólicas, subjetividade e acaso, flexibilizando as regras do estilo suíço, o que abre um caminho para o desenvolvimento do design pós-moderno� Figura 15: Anúncio para os cofres Union (1968); Anúncio para E. Lutz & Company (1964); Capa de folheto da Geigy (1965). Fonte: Thinglink. A partir da década de 1960, o papel do design gráfico cresceu para os novos meios, como a televisão e o 17 https://cdn.thinglink.me/api/image/517558951001194497/1240/10/scaletowidth vídeo (HOLLIS, 2001), bem como para a divulgação da cultura e para a área de serviços públicos� Os designers tornaram-se responsáveis pela comercia- lização de produtos e serviços cujas imagens fos- sem capazes de identificar o próprio produto e/ou a empresa; assim, grande parte do design gráfico foi incorporada ao marketing, à mídia ou à indústria de entretenimento� Embora o design gráfico modernista no estilo suíço ainda seja predominante nesse contexto, surgem novas abordagens a partir dos movimentos de con- tracultura� Uma delas relaciona-se ao movimento punk na Grã-Bretanha; a outra, retém elementos do modernismo suíço e torna-se a “nova onda”, fazendo uso da nova tecnologia fotográfica e digital, particu- larmente na Holanda e nos EUA� Podcast 2 PÓS- MODERNIDADE As décadas de 1970 e 1980 foram marcadas por um contexto sócio-político e econômico de caráter conservador (Era Reagan nos Estados Unidos; Era Thatcher ou thatcherismo na Grã-Bretanha), haven- do uma crise da inteligência crítica, o que resultou em uma crise intelecto-cultural que foi dominante durante toda essa época, denominada pós-moderna� 18 https://famonline.instructure.com/files/168879/download?download_frd=1 As manifestações artísticas, a partir do início de 1980, são rotuladas como pós-modernas, mas o termo Pós-Modernismo foi cunhado por teóricos da crítica literária durante a década de 1960, agrupa- dos em torno das ideias do filósofo francês Jacques Derrida, sendo o conceito aplicado primeiramente na literatura e, posteriormente, consolidado na arquite- tura, no design, nas ciências sociais e na filosofia a partir de 1979� A década de 1980 foi marcada por grandes desenvol- vimentos técnicos e tecnológicos de comunicação, ocorrendo uma estetização dos objetos de uso co- tidiano e da comunicação de massa, em um mundo onde prevalece a lógica capitalista� Nesse contexto, vivências e necessidades humanas (afeto, prazer, lazer e liberdade) são concluídas por meio de mercadorias, não de relações sociais, com experiências de consumo esteticamente configura- das e baseadasna cultura do prazer (hedonismo)� A percepção torna-se, assim, um processo media- do pelas mídias, a partir de uma grande quantidade de signos visuais e da diversidade de referências simbólicas que se constituem no modo básico de apropriação e construção da realidade do mundo� Em outras palavras, uma realidade imediata capta- da por imagens e sinais provenientes dos meios de comunicação de massa� Consequentemente, tal realidade (ou hiper-realidade) propicia uma ilusão ou desrealização propriamente 19 dita desse mundo, causando desagregação mental e alienação da consciência social e política� Dessa forma, o pensamento pós-moderno se fun- damenta na valorização da percepção e da senso- rialidade no instante, no efêmero, na pluralidade, na diferença e na heterogeneidade, rejeitando toda e qualquer ideia de progresso baseado no controle do mundo pela razão, objetividade e ciência: discurso único, universal e totalizante do Modernismo� DESIGN GRÁFICO PÓS-MODERNO Heller e Schwast (1988) discutem o pós-modernis- mo no campo do design gráfico considerando uma convergência casual de várias teorias e práticas de designers e escolas espalhadas pelo mundo, o que inclui todas as manifestações contemporâneas que não estão baseadas nos princípios bauhausianos e do Estilo Internacional, mas que envolvem subestilos dos anos 1980, como Neodada, Neoexpressionismo, Punk, dentre outros� Para Lupton e Miller (1996), o desenvolvimento do de- sign pós-moderno está relacionado ao movimento da pop art; aos conceitos das teorias pós-estruturalistas de significação que se popularizaram nas escolas de design americanas, como o descontrutivismo de Jacques Derrida� Esse autor se pautava na ideia da inexistência de significados fixos para qualquer texto escrito, sen- 20 do frequentemente submetido às forças externas que, de modo incessante, reestruturaram seu signi- ficado, fornecendo novas leituras e interpretações, bem como às teorizações propostas pelo arquiteto Robert Venturi em Complexidade e Contradição na Arquitetura, de 1960� Nessa obra, uma espécie de manifesto, o autor defen- de a complexidade e a contradição como condições inerentes à vida e aos diversos edifícios do passado histórico, que devem estar presentes na criação de uma nova arquitetura, bem como ter o poder de evo- car e conter elementos dos estilos arquitetônicos do presente e do passado, além de elementos lúdicos e engenhosos sem que seja necessário ater-se a determinadas regras, tais quais as preconizadas pelo Estilo Internacional� Em oposição às ideias de Mies van Der Rohe de que “o menos é mais” (less is more), Robert Venturi afirma que “o menos é entediante” (less is bore). A mensagem de Venturi, gradualmente absorvida, fez emergir a partir de 1980, uma arquitetura que não se prendia a um conjunto de princípios preestabelecidos, mas que incluía diversas referências, projetando um sentido de lugar ou uma atmosfera única cujo intuito fosse transformar o ambiente em um ambiente espe- cial para seus usuários, como evidenciam as obras do próprio Robert Venturi e do arquiteto Charles W� Moore� Em outro livro, Aprendendo com Las Vegas, Venturi observa a paisagem urbana composta por outdoors, 21 letreiros luminosos e edifícios comuns quando reco- menda aos designers que aprendam com a vitalidade e o resplendor dos elementos gráficos encontrados em Las Vegas� Hollis (2001) defende que as práticas associadas ao design pós-moderno rejeitam os aspectos ideológi- cos do Modernismo, considerado sem referências históricas, livre de valores, transformando a prática do design em uma prática de formalismo árido, com uma “fórmula” que muitos consideram esgotada� Entretanto, alguns preceitos do modernismo, como o uso de grelhas ou de técnicas de solução de pro- blemas, continuam a ser empregados em alguns segmentos, é o caso da confecção de gráficos de informação� De acordo com Meggs e Purvis (2009), o pós-mo- derno no design gráfico consiste em um movimento, com vertentes em várias direções, tal qual a rebeldia da New Wave Typography dos novos designers su- íços, liderados por Wolfgang Weingart; pluralidade e ecletismo dos trabalhos dos designers do Grupo Memphis de Milão, de William Longhauser na Costa Leste dos EUA, e dos designers da Costa Oeste dos EUA, principalmente de San Francisco, a partir de 1980� O movimento Retrô, que revive ou reinventa soluções vernaculares e modernistas europeias e norte-ameri- canas do período entre guerras (baseadas em grande parte na Art Déco daquele período), como observado 22 nos trabalhos de Neville Brody para as revistas The Face e Arena, também na década de 1980� A revolução digital, com o aparecimento do compu- tador gráfico pessoal Macintosh, a partir de 1984, que revive o construtivismo no design e reinterpreta todos os outros estilos da época através dos bitmaps e das curvas vetoriais, nas quais se destacaram os próprios designers da interface da Apple, Susan Kare e Bill Adkins, a dupla da Émigré, Zuzana Licko e Rudy VanderLans e April Greiman� NOVA ONDA DA TIPOGRAFIA Em 1964, Wolfgang Weingart, formado em tipografia e Artes, vai para Basiléia (Suiça) estudar com Emil Ruder e Armin Hofmann� Em 1968, reuniu-se ao corpo docente com Armin Hofmann, na Escola da Basiléia� Na sua prática de ensino e em seus estudos e pesqui- sas, passa a questionar e repensar princípios e regras consagradas da tipografia e sistemas de linguagem visual� Por exemplo, com vistas a dar ênfase a uma palavra importante em um título, Weingart a coloca em branco sobre um retângulo preto, retoma o es- pacejamento largo, utiliza o humor e as metáforas expressivas para definir seu próprio trabalho. Observe a Figura 16 e Figura 17: 23 Figura 16: Experiências tipográficas (1971). Fonte: www.shillingto- neducation.com. Figura 17: Quatro palavras em alemão exploram formas invertidas de “m” em caixa-baixa para compor um “E” e um “w”, enquanto dois- -pontos e apóstrofos são combinados para formar a letra “u” acentuada. Fonte: Typetoken. 24 https://www.shillingtoneducation.com/content-blog/uploads/2015/06/slide-show_461-800x459.jpg https://www.shillingtoneducation.com/content-blog/uploads/2015/06/slide-show_461-800x459.jpg http://www.typetoken.net/wp-content/uploads/2014/05/03_Weingart_Typografie.jpg Em meados dos anos de 1970, Weingart envolveu-se com a impressão offset e o sistema de filme, reali- zando experimentações com a câmera do impressor para alterar imagens, explorando as propriedades do fotolito, afastando-se do projeto puramente tipográ- fico e adotando a colagem como meio de comunica- ção visual (Figura 18, Figura 19 e Figura 20): Figura 18: Anúncio na revista Typografische Monatsblätter (1974). Fonte: www.berghy.wordpress.com. Figura 19: Cartaz de exposição (1977). Fonte: https://www.aiga.org. 25 https://berghy.wordpress.com/2019/01/29/new-wave/#jp-carousel-62 https://www.aiga.org/medalist-wolfgang-weingart#slideshow-0-3 Figura 20: Cartaz de exposição (1982). Fonte: www.typographicpos- ters.com. Nesse contexto, Weingart sobrepôs imagens visuais através da intercalação ou estratificação de imagens e tipos fotografados, justapondo texturas e imagens, unificando imagens e tipos fotografados de modo original. Explorou as qualidades gráficas de pontos reticulares ampliados e os efeitos moiré produzidos por esses padrões de pontos sobrepostos e depois deslocados um sobre o outro� No seu processo de design, o autor utilizou múltiplos fotolitos empilhados e organizados para produzir um negativo que, em seguida, é impresso� No cartaz da exposição (Figura 18, Figura 19 e Figura 20), utilizou- -se a sobreimpressão a fim de construir camadas volumétricas de formas ilusionistas� 26 https://www.typographicposters.com/wolfgang-weingart https://www.typographicposters.com/wolfgang-weingart Weingart defendia que os designers, assim como os primeiros tipógrafos, deveriam estar envolvidos em todas as etapas do processode design e produção da peça gráfica (conceito, composição, produção, pré-impressão e impressão) para garantir a realiza- ção de seu projeto� As concepções de Weingart foram disseminadas para os Estados Unidos a partir dos anos 1970, com os trabalhos de April Greiman, Dan Friedman e Willi Kunz, ex-alunos da Escola de Design da Basiléia� Figura 21: Capa da revista Typografische Monatsblätter (1971). Fonte: www.tm-research-archive.ch. 27 http://www.tm-research-archive.ch/issue/1971-1/ Figura 22: Páginas de Typographical Interpretations (1975). Fonte: www.psycho-geographical art. Figura 23: Cabeçalho para Luxe (1978). Fonte: Luna. Figura 24: Cartaz para California Institute of the Arts (1979). Fonte: Cooper Hewitt. 28 https://psychogeographicart.files.wordpress.com/2012/04/kunz.jpg?w=614 https://images-prod01.lib.ncsu.edu/des/Size3/NCSULIB-1-NA/1027/41240.jpg https://images.collection.cooperhewitt.org/89746_69f0902346ccadc6_b.jpg FIQUE ATENTO Wolfang Weingart questiona os princípios de uso da tipografia estabelecidos pelo design moderno suíço por meio de experimentações visuais cujo objetivo é o de repensar e ampliar os princípios preestabelecidos: [No]...imaculado ambiente acadêmico, o sempre inquieto Weingart começou a questionar: por que o tipo precisa ser alinhado à esquerda e irregular à direita? Por que os parágrafos precisam ser inden- tados? Não queria rejeitar tudo o que viera antes dele, somente expandir esses conceitos. Em 1968 teve início o Curso de Design Gráfico Avançado e ele recebeu um convite para fazer parte do corpo docente no curso de tipografia. Suas contribui- ções ao léxico do design gráfico são considerá- veis: espaços maiores que as letras, sobreposição de imagens fotográficas e tipográficas, chapados e blocos inteiros de tipos em negativo, indicação de grades e posterior violação das mesmas, su- blinhados, misturas nada convencionais de tipos com diferentes tamanhos e pesos, tipografia em diagonal e o uso de formas geométricas e unida- des tipográficas como recursos ilustrativos - to- dos os elementos que mais tarde seriam adota- dos como maneirismos contemporâneos. Weingart ficou satisfeito? Dificilmente. Ele con- denaria essa lista como o “creme do design”, algo que foi removido e usado em fragmentos isola- dos por designers sem ideias próprias� “Jamais 29 tive a intenção de criar um estilo”� Tinha a inten- ção de descobrir uma nova atitude visual e um método de experimentação baseado numa sóli- da experiência de ensino� (Fonte: HELLER, S� Linguagens do design: com- preendendo o design gráfico. São Paulo: Rosari, 2007, p� 272)� DESIGN RETRÔ E VERNACULAR Na década de 1980, ocorreu um processo de valori- zação e crescente entendimento no que tange aos aspectos históricos relacionados ao design� Esse processo fez surgir um movimento de reativação de estilos históricos, tornando-se um fenômeno em Nova York (EUA) a partir de 1985, e disseminando-se rapidamente pelo mundo� Tal movimento, denominado Retrô, não está iden- tificado com algum tempo, escola ou designer específico, mas refere-se ao interesse que surge pelas propostas estéticas da primeira metade do século 20, particularmente o Art Déco e as fontes tipográficas maneiristas das décadas de 1920 e 1930, praticamente esquecidos durante a Segunda Guerra Mundial� 30 Figura 25: Cartaz para CBS Records (1979). Fonte: MoMA. Figura 26: Cartaz dos relógios Swatch (1985). Fonte: www.eyeon- design.aiga.org. 31 https://www.moma.org/media/W1siZiIsIjMxODI5OCJdLFsicCIsImNvbnZlcnQiLCItcmVzaXplIDIwMDB4MjAwMFx1MDAzZSJdXQ.jpg?sha=54a9fdf1749930ec https://eyeondesign.aiga.org/wp-content/uploads/2014/12/paula-scher-swatch-poster-design.jpg https://eyeondesign.aiga.org/wp-content/uploads/2014/12/paula-scher-swatch-poster-design.jpg Figura 27: Capa de livro para The Sonnets to Orpheus (1987). Fonte: Meggs e Purvis (2009, p. 619). O design Retrô de Nova York surge com os trabalhos de um pequeno número de designers, dos quais se destacaram Paula Scher, Louise Fili e Carin Goldberg� Elaboram trabalhos de cunho original e pessoal, as- sumindo riscos e experimentando fontes variadas, uso de espaçamentos extremos entre letras e a im- pressão de tipos em sutis combinações de cor� O Construtivismo Russo, Art Déco e tipos antiquados são uma fonte de inspiração importante para Paula Scher; Louise Fili, que trabalhou com Herb Lubalin, utilizou temas tipográficos vitorianos e Art Noveau no design de livros; Carin Goldberg descreveu seu trabalho como intuitivo, mas com influência de an- tigos designers modernistas, como Cassandre e os arquitetos e designers do Sezssionstil� 32 Nesse cenário, surgiu então o design vernacular que, afiliado ao Retrô, constituiu-se na estética de formas gráficas de uso corriqueiro, como cartões de bei- sebol, caixas de fósforo, ilustrações de comerciais antigos, cartazes de circo e outros impressos comer- ciais de décadas anteriores (MEGGS; PURVIS, 2009)� O grupo de designers Duffy Design Group, da cidade de Mineápolis (EUA) formado por Joe Duffy e Charles S� Anderson, realiza projetos ao explorar as artes gráficas vernaculares e modernistas da primeira me- tade do século 20� Por exemplo, ornamentos astecas e tabuleiros ouija estudados pela sua forma e cor, antigas ilustrações da década de 1940 colecionadas por Anderson, ilustrações grosseiramente impressas em velhas capas de caixas de fósforo e anúncios de jornal, tipos tradicionais de xilogravuras do século 19 aplicados a embalagens de mercearias, marcas figurativas antigas, selos postais e sinetes etc. Em 1989, Anderson saiu do grupo Duffy Design e abriu a Charles S� Anderson Design Company, na qual procurou agregar valores artísticos aos seus projetos (Figura 28, Figura 29 e Figura 30): 33 Figura 28: Marca Marine Midland Auto Financing Division (1985). Fonte: Meggs e Purvis (2009, p. 312). Figura 29: Projetos de rótulos para o molho de macarrão Classico (1985). Fonte: www.eyemagazine.com. 34 https://farm6.staticflickr.com/5586/14896802162_3384d23e22.jpg Figura 30: Capa para CSA Archive Catalog of Stock Art (1995). Fonte www.walkerart.org. DESIGN GRÁFICO E REVOLUÇÃO DIGITAL A partir do advento dos microprocessadores (e com- putadores), a Revolução Digital possibilitou o desen- volvimento de novas Tecnologias de Comunicação e Informação (TIC) e novas formas de comunicação e expressão artística, a digitalização de informações provenientes de diferentes mídias (texto, artes grá- ficas, filme, som, música etc.) e posteriormente o mundo conectado em rede através da internet, o que transforma por completo nosso modo de viver, trabalhar, morar, comunicar, comprar e produzir, de- sencadeando um aumento da produção material e novas formas e conceitos de produção e transporte de produtos� 35 https://walkerart.org/minnesotabydesign/content/1-objects/16-csa-archive/csa.jpg Na área do design gráfico, a partir de 1984, o com- putador pessoal Macintosh (Apple) ofereceu as pri- meiras possibilidades de hardware efetivas para a realização de trabalhos na área gráfica, possibilitando integração, controle e realização de todas as fases de um projeto gráfico por uma única pessoa (layout, tipografia, composição, fotografia e reprodução fo- tográfica, impressão...), flexibilizando o trabalho do designer gráfico. A esse hardware se integram o desenvolvimento da linguagem PostScript de programação (Adobe Systems) para o layout de páginas e tipografia gerado eletronicamente, e uma das primeiras aplicações de software que utilizou essa linguagem, o Pagemaker (da Aldus) em 1985� Os primeiros equipamentos tinham limitações téc- nicas, sendo que a mais evidente está relacionada à baixa resolução dada pelo número de pontos por polegada, oferecidas pelos processos de impressão (72 dpi)� Tal condição gerava uma falta de acabamen- to, sendo rejeitada por muitos designers� Entretanto, as condições “primitivas” foram explo- radas por alguns designers em buscade uma nova estética no design� Segundo Meggs e Purvis (2009), os primeiros designers a explorar essas novas tec- nologias, denominados “os novos primitivos”, fo- ram April Greiman, Rudy VanderLans, John Hersey e Zuzana Licko, cujas obras podem ser analisadas na Figura 31 e Figura 32: 36 Figura 31: Cartaz para o Los Angeles Institute of Contemporary Art (1986). Fonte: UnFramed. 37 https://unframed.lacma.org/sites/default/files/attachments/M2016_139_9-20180807-Access.jpg Figura 32: Imagens gráficas para Design Quarterly, n. 133, 1987. Este cartaz/revista composto de imagens digitalizadas foi produzido por uma impressora de baixa resolução. Fonte: WalkerArt. 38 https://walkerart.org/minnesotabydesign/content/1-objects/19-design-quarterly-133/greiman.jpg April Greiman explorou as características visuais e a estética do pixel e bitmap, combinando impres- sões em camadas e sobreposições no monitor, utilizando-se das possibilidades que a nova tec- nologia oferecia� Em 1984, surgiu a revista Emigre em São Francisco (EUA), uma publicação com tipos, diagramação e ilustrações experimentais, criada por Rudy VanderLans e Zuzana Licko, que também são fun- dadores da fundição digital Emigre (Figura 33, Figura 34 e Figura 35)� A revista foi editada entre 1984 e 2005, com uma proposta inovadora, enunciada no primeiro número “The magazine that ignores boundaries” (A revista que ignora limites), sem um projeto gráfico está- vel, na qual cada exemplar apresentou novas ex- perimentações visuais, colunas desalinhadas com blocos de textos justapostos e com novos tipos ou fontes topográficas criadas por Zuzana Licko, a par- tir de 1987� As publicações e fontes desenvolvidas para a Emigre por VanderLans/Licko constituem-se em uma importante influência no desenvolvimento do design gráfico dos anos de 1990. 39 Figura 33: Capa para Emigre, n. 11 (1989). Fonte: Emigre Fonts. Figura 34: Capa do n. 10 (1989). Fonte: Emigre Fonts. 40 https://www.emigre.com/assets/img/magazine/Emigre11Cover.png https://www.emigre.com/assets/img/magazine/Emigre10Cover.png Figura 35: Página interna e fontes. Fonte: Emigre Fonts. Edward Fella é outro importante designer do final da década de 1980� Seu trabalho é resultado da com- binação de teorias desconstrutivistas com uso de imagens vernaculares, o que gerou soluções com desintegrações de formas, intervalos espaciais irre- gulares e caracteres excêntricos (Figura 36)� Figura 36: Mala direta para Detroit Focus Gallery (1987); Anúncio para uma palestra (1995). Fonte: https://jocelynfoye.typepad.com. 41 https://www.emigre.com/assets/img/bookscds/Emigre70/Emigre70Book1.png https://jocelynfoye.typepad.com/.a/6a0133f390af73970b0133f390b79e970b-pi Na direção da Cranbrook Academy of Art por 24 anos (1971-1995), a designer gráfica Katherine McCoy e seu marido, o designer de produto Michael McCoy, renovaram a teoria e prática do design gráfico por meio de intensa experimentação com a nova tec- nologia da computação gráfica, rejeitando a unifor- midade da filosofia e da metodologia adotadas na área de design� Inspirada por Edward Fella, com quem trabalhou no escritório Designers & Partners antes de seu cargo na Cranbrook, Katherine McCoy fez grandes modifi- cações no currículo do curso de design, passando assim a questionar as possibilidades e os limites expressivos do Estilo Tipográfico Internacional, voltando-se à investigação das formas vernacu- lares e pré-modernas, bem como a validade de regras e convenções� No cartaz elaborado para a divulgação do curso de design da Cranbrook, Katherine McCoy rompeu com conceitos funcionalistas, normas vigentes e reducionistas da comunicação, uma vez que fez a sobreposição de diverso níveis de mensagens visuais e verbais, a serem decifradas pelo público, desafiando assim as normas dos impressos de di- vulgação da Faculdade� 42 Figura 37: Cartaz de divulgação do curso da Cranbrook Academy of Art (1989). Fonte: Cranbrook Art Museum. Um dos designers que se destacou pela originalida- de é Neville Brody, que em Londres, nos anos 1980, projetou ilustrações e capas para discos de rock, atuando na direção de arte de revistas inglesas, como Arena e The Face� 43 https://cranbrookartmuseum.org/wp-content/uploads/2016/02/CAM2008_97.jpg Embora Neville Brody tenha sido influenciado pe- los artistas do Construtivismo Russo e pela experi- mentação e preceitos do Dadaísmo, tendo sido um protagonista do movimento Retrô nos anos 70, nos anos 80 e 90 é um designer cujo trabalho se pauta pela abordagem intuitiva, porém lógica do design, bem como pela reinvenção de métodos de trabalho e configurações espaciais (MEGGS; PURVIS, 2009). Observe seu trabalho na Figura 38 e Figura 39: Figura 38: Projeto de capa de disco para Parliament (1985). Fonte: Axonographic. 44 https://blog.typogabor.com//files/graphrusse_comp7.jpg Figura 39: Títulos da página do sumário de The Face, n. 49, 52 e 55 (1984). Fonte: Meggs e Purvis (2009, p. 623). No final da década de 1980, Neville Brody passou a ser um dos mais conhecidos designers gráficos britânicos de sua geração, pioneiros na pesquisa de novas possibilidades digitais� À frente do design editorial criativo de revistas editadas no Reino Unido, na Alemanha e na França, realizou diversas experi- mentações visuais� Criou leiautes surpreendentes e novas fontes, projetou uma série de tipos geomé- tricos sem serifa para a The Face, dando-lhe uma identidade forte (Figura 40 e Figura 41)� As manchetes são transformadas em imagens, e a revista foi considerada um objeto multidimensional que existe no tempo e espaço, havendo uma conti- nuidade de um número para o outro� 45 Figura 40: Capa da revista The Face (1984). Fonte: www.foliomag.com. Figura 41: Páginas da The Face, n. 59 (1985). Fonte: http://graficayco- municacionum.blogspot.com. 46 https://www.foliomag.com/files/images/The_Face_1985_0.jpg https://3.bp.blogspot.com/-wz9c0tMlakE/WacUt1dWQvI/AAAAAAAAAn0/nEYSKEIA_MIm8qFEACZq2lmQO9iQNzbWgCLcBGAs/s1600/1985marzo-the%2Bface%2B59%2Ba.jpg https://3.bp.blogspot.com/-wz9c0tMlakE/WacUt1dWQvI/AAAAAAAAAn0/nEYSKEIA_MIm8qFEACZq2lmQO9iQNzbWgCLcBGAs/s1600/1985marzo-the%2Bface%2B59%2Ba.jpg De acordo com Meggs e Purvis (2009), o projeto de leiaute com níveis de significado sobrepostos pode ser observada na página dupla de abertura de uma entrevista com o artista Andy Warhol (Figura 40 e Figura 41), em que a repetição da fotografia se rela- ciona ao uso da repetição por Warhol� O grande w resulta da inversão do m da edição an- terior, com uma entrevista com a cantora Madonna, e traz consigo uma pequena parte de uma foto e um fragmento de texto, o que parafraseia o uso que Warhol faz de material gráfico existente. A oval inse- rida no círculo e a cruz acima desse círculo estão re- lacionadas à sexualidade da vida e à obra de Warhol� É importante mencionar aqui o trabalho do norte- -americano David Carson, ex-surfista e professor de ensino fundamental, que passou a atuar com design gráfico editorial a partir de 1980. Seu trabalho tem sido considerado uma forma de Neodadá, uma vez que não se preocupa com a clareza e a lógica da informação� Nas revistas que publicou, na área de surf e de rock music, Carson deu um tratamento não convencional, repudiando todos os esquemas e leiau- tes ou modelos tipográficos consistentes, rejeitando a sintaxe tipográfica e as hierarquias visuais (Figura 42, Figura 43, Figura 44 e Figura 45)� 47 Figura 42: Hanging at Carmine Street, Beach Culture (1991). Fonte: https://www.researchgate.net. Figura 43: Is Techno Dead? (1994). Fonte: www.hiveminer.com. 48 https://www.researchgate.net/profile/Grayson_Lawrence/publication/216473323/figure/fig18/AS:668278154350606@1536341336773/Hanging-at-Carmine-Street-David-Carson-art-director-and-Pat-Blashill-photographer.png https://farm9.static.flickr.com/8250/8537421970_69858d1083_b.jpg Figura 44: Morrissey: The Loneliest Monk (1994). Fonte: www.de- signboom.com. Figura45: Páginas internas da revista Ray Gun. Fonte: www.desig- nboom.com. Em seu trabalho realizado até 1996, ele criou uma estética visual que rompe com todos os princípios 49 https://static.designboom.com/wp-content/uploads/2014/09/david_carson_interview_10.jpg https://static.designboom.com/wp-content/uploads/2014/09/david_carson_interview_10.jpg https://static.designboom.com/wp-content/uploads/2014/09/david_carson_interview_09.jpg https://static.designboom.com/wp-content/uploads/2014/09/david_carson_interview_09.jpg de legibilidade. Seu trabalho se caracteriza pela flexi- bilização, transgressão, desconstrução� Os números são rotacionados e se transformam em letras, letras mal impressas de placas de rua e fotografias com pouco contraste e desfocadas são valorizadas� Carson inverteu a hierarquia de elementos visuais em uma capa de revista, colocando em evidência elementos, como códigos de barras entre outros� Dentre os seus trabalhos na área editorial, desta- ca-se a revista Ray Gun� A revista de Carson não precisa ser lida, mas interpretada, ou simplesmente observada como uma dinâmica de signos que estão à disposição� David Carson tem inspirado muitos jovens desig- ners desde a década de 1990, ao mesmo tempo em que seu trabalho origina grande polêmica, pois sua tipografia, criticada e denunciada, leva o trabalho de design gráfico até o limite da ilegibilidade. Além disso, as imagens elaboradas por ele utilizam técnicas de vídeo e filme, resultando em um proje- to de página dinâmica, relacionada a um ambiente espacial instável, cinético, onde tipo e imagem se sobrepõem, esmaecem e confundem-se, segundo Megg e Purvis (2009)� No período em que atuou como diretor de arte da Ray Gun, Carson abriu espaço para ilustradores e fotógrafos exporem seus trabalhos, apresentando novos artistas e abrindo espaço para leitores exibi- rem suas ilustrações de letras de músicas� Após sua saída da revista, em 1996, Carson passou a aplicar 50 seu enfoque em impressos e trabalhos em outras mídias para anunciantes dos meios de comunicação de massa, como Coca-Cola e Nike� Uma importante contribuição de Carson ao design gráfico consiste no repensar sobre as questões as- sociadas à legibilidade, além dos limites colocados por uma teoria e prática funcionalista de design� A partir do trabalho de Carson, os designers descobrem que muitos leitores são mais flexíveis do que se havia suposto e que com frequência as mensagens podem ser lidas em condições aquém das ideais� De acordo com esse designer, legibilidade e comuni- cação são conceitos distintos, uma vez que muitas mensagens veiculadas de modo tradicional são teo- ricamente legíveis, entretanto, pouco têm a oferecer aos leitores em termos de atrativo visual, enquanto projetos mais “expressionistas” podem atrair e pro- vocar maior engajamento desses leitores� SAIBA MAIS Para David Carson, um bom design é uma via- gem interminável de descoberta, o que envolve um bom senso de humor� Saiba mais sobre a concepção do processo de design de Carson, as- sistindo a uma de suas palestras, Design e Des- coberta (2003), que se encontra disponível neste link: Acesso em: 30 nov� 2019� 51 https://www.ted.com/talks/david_carson_on_design?language=pt-br. REFLITA Reflita sobre: “a forma segue a função”, base do desenvolvimento do design modernista/ funcio- nalista, e “a forma segue a emoção”, que carac- teriza o design na contemporaneidade, após a Revolução Digital� Busque exemplos de peças gráficas em mídias impressas e/ou digitais que ilustrem a conceitu- ação de design presente em cada uma dessas afirmações. A partir da década de 1990, com o advento dos com- putadores pessoais e da internet, surgiu um novo paradigma cultural, o que caracterizou a chamada Era da Informação, com a formação de uma “gera- ção digital”� A mídia que deu voz a esse contexto é a Wired, uma revista norte-americana com a direção de arte de John Plunkett e Barbara Kuhr, designers e diretores da Plunkett + Kuhr, sediada em Park City, Utah (EUA)� A Revista aborda temáticas relaciona- das à tecnologia, ciência, entretenimento, design e negócios; sua influência se dá sobre a sociedade, cultura, economia e política� Segundo Plunkett, o desafio do projeto dessa revista, lançada em 1994, consistia em utilizar a mídia im- pressa e a técnica de impressão convencional para informar a respeito de um mundo emergente não linear, fluído, assíncrono e eletrônico. 52 Para isso, é adotada uma solução de projeto na qual o fluxo de informação é apresentado a partir de uma estrutura em camadas, em que o texto passa por cima das imagens com frequência, de modo a ex- pressar o conteúdo multidimensional da internet e a experiência dos leitores, fazendo uso ainda de tintas fluorescentes e pantones nunca utilizados na publi- cação de revistas impressas (Figura 42, Figura 43, Figura 44 e Figura 45)� Isso sinalizou um novo paradigma para a comunica- ção impressa a partir da influência das novas mídias eletrônicas� Na Wired, os projetos dos artigos fazem uso de diversas fontes angulosas nos títulos, e seus designers encomendaram a própria fonte de texto projetada pelo designer Matthew Carter� Essa fonte, chamada Wiredbaum, baseia-se na Walbaum, uma fonte moderna sem serifa� Figura 46: Revista Wired, página dupla inicial. Fonte: Meggs e Purvis (2009, p. 638). 53 Figura 47: Página dupla da matéria de destaque da Wired. Fonte: Meggs e Purvis (2009, p. 638). A Revolução Digital trouxe uma individualização, fle- xibilidade e customização de fontes, sendo que na década de 1990 ocorreu uma proliferação de fontes digitais e de fantasia� Assim, a superabundância de novos projetos de fontes envolveu inovações em fontes, e ao mesmo tempo são lançadas versões medíocres de tipos tradicionais� Em conformidade com Meggs e Purvis (2009), no contexto da Era da Informação, a fotografia perdeu seu status de documento da realidade, uma vez que novos programas possibilitam a manipulação da imagem, e as fronteiras entre fotografia, ilustração e artes plásticas se tornaram tênues e começam a se desfazer, de modo similar àquelas que separa- vam o designer do ilustrador e do fotógrafo; assim, as mídias interativas ampliaram e consolidaram as possibilidades de atuação do designer gráfico no século 21� 54 CONSIDERAÇÕES FINAIS Até meados do século 20, a teoria e a prática do de- sign se estruturavam na ordem pautada no sistema de grid, na neutralidade e na legibilidade da tipografia. A partir da década de 1960, com uma severa crítica a uma sociedade de consumo e à desconstrução do discurso modernista, tal qual com a Revolução Digital, outros caminhos se tornaram possíveis de serem explorados� A história recente do design mostra que existem diversas maneiras de organizar a informação e as imagens, e que a decisão de usar um grid sempre depende da natureza do conteúdo a ser trabalhado no projeto� Por vezes, o conteúdo precisa ignorar uma estrutura para gerar um envolvimento intelectual mais pro- fundo do seu usuário, ou evocar reações emotivas específicas a fim de possibilitar maior engajamento dos usuários e gerar a efetiva comunicação� Sem a necessidade de tornar legível um texto ou claramente visível e compreensível uma imagem, do ponto de vista funcional, o designer pode expressar livremente sua criatividade e seus valores subjetivos� Portanto, é possível considerar também e afirmar que no design “a forma segue a emoção”� 55 No século 21, em plena Era da Informação, com o surgimento das mídias digitais interativas, as pos- sibilidades de atuação do designer gráfico têm se ampliado e se consolidado cada vez mais, mas sua essência permanece inalterada e consiste em dar ordem às informações, dar forma às ideias, dar ex- pressão e emoção aos artefatos que registram a experiência humana� 56 SÍNTESE DESIGN A PARTIR DA DÉCADA DE 1960 A pop art se articula com a psicodelia e propicia um retorno a uma vida comunitária, aosconceitos de produção artesanal do Arts and Crafts, integradas às artes, à música e à literatura. O “estilo psicodélico” é aplicado ao design de pôsteres, roupas, joias, mobiliário e automóveis. A Psicodelia se torna um código visual, e embora faça uso de letras com formas do movimento Sezession, ornamentos Art Noveau, e tipografia vitoriana, sua paleta inspirada em drogas e sua iconografia de quadrinhos a transformam num estilo gráfico americano diferenciado. A PÓS-MODERNIDADE Em torno das ideias do filósofo francês Jacques Derrida, surge o pensamento pós-moderno, que se fundamenta na valorização da percepção e da sensorialidade, no instante, no efêmero, na pluralidade, na diferença e na heterogeneidade, rejeitando a ideia de progresso baseado no controle do mundo através da razão, da objetividade e da ciência, o discurso único, universal e totalizante do Modernismo. • Design Gráfico Pós-Moderno O pós-moderno no design gráfico consiste um movimento, com vertentes em várias direções, como a rebeldia da New Wave Typography dos novos designers suíços; a pluralidade e o ecletismo dos trabalhos dos designers do Grupo Memphis de Milão; o movimento Retrô, que revive e/ou reinventa soluções vernaculares e modernistas europeias e norte-americanas do período entre guerras (baseadas em grande parte na Art Déco daquele período), e a revolução digital, com o aparecimento do computador gráfico pessoal Macintosh, a partir de 1984. • Nova Onda da Tipografia (New Wave Typography) Tem como base as ideias de Wolfang Weingart, que questiona os princípios de uso da tipografia estabelecidos pelo design moderno suíço através de experimentações visuais que tem o objetivo de repensar e ampliar os princípios já estabelecidos. • Design Retrô e Vernacular O movimento Retrô não está identificado com algum tempo, escola ou designer específico, mas refere-se ao interesse que surge pelas propostas estéticas da primeira metade do século 20, particularmente o Art Déco e as fontes tipográficas maneiristas das décadas de 1920 e 1930, praticamente esquecidos durante a Segunda Guerra Mundial. O design vernacular que, afiliado ao retrô, constitui-se na estética de formas gráficas de uso corriqueiro, tais como cartões de beisebol, caixas de fósforo, ilustrações de comerciais antigos, cartazes de circo, e outros impressos comerciais de décadas anteriores. • Design Gráfico e Revolução Digital Na área de design gráfico, a partir de 1984, o computador pessoal da Apple, o Macintosh, oferece as primeiras possibilidades de hardware efetivas para a realização de trabalhos na área gráfica, e possibilita a integração, controle e realização de todas as fases de um projeto gráfico por uma pessoa por flexibilizando o trabalho do designer gráfico. MOVIMENTO CONTRACULTURA Crescimento econômico e ampliação da sociedade de consumo de massa, consumismo desenfreado do American way of life caracterizam a década de 1960 que, por outro, traz uma severa crítica a essa mesma sociedade, com novas atitudes e comportamentos, o que propicia o surgimento da contracultura: diversos movimentos de protesto, trazendo novas atitudes e novas formas de comportamento com relação à cultura vigente, tais como o movimento flower power, slogan ou expressão criada pelo movimento hippie (a psicodelia), dos anos 1960 até o começo dos anos de 1970 nos Estados Unidos, movimento estudantil na França, movimento ambientalista, com o Clube de Roma, dentre outros. TEORIA E HISTÓRIA DO DESIGN GRÁFICO DESIGN GRÁFICO PÓS-MODERNO E CONTEMPORÂNEO Referências Bibliográficas & Consultadas BURDEK, B� E� História, Teoria e Prática do Design de Produtos� 2� ed� São Paulo: Blücher, 2010 [Minha Biblioteca]� CARDOSO, R� Uma introdução à história do de- sign� São Paulo: Edgard Blücher, 2008 [Minha Biblioteca]� CONSOLO, C� (Org�)� Tipografía em Latinoamérica: Orígenes y Identidad� São Paulo: Edgard Blücher, 2013 [Minha Biblioteca]� HELLER, S�; SCHWAST, S� Graphic Style: from victorian to postmodern� London: Thames and Hudson Ltd�, 1988� HOLLIS, R� Design Gráfico: uma história concisa� São Paulo: Martins Fontes, 2001� LUPTON, E�; MILLER, J� A� Design Writing Research: Writing on Graphic Design� New York: Princeton Architectural Press, 1996� MEGGS, P� B�; PURVIS, A� W� História do Design Gráfico� São Paulo: Cosac Naify, 2009� PATROCÍNIO, G�; NUNES, J� M� (Orgs�)� Design e Desenvolvimento: 40 anos depois� São Paulo: Edgard Blücher, 2015 [Minha Biblioteca]� SANTOS, J� C� C� História da arte e do design� Porto Alegre: Sagah, 2018 [Minha Biblioteca]� SCHNEIDER, B� Design: uma introdução: o design no contexto social, cultural e econômico� São Paulo: Edgard Blücher, 2010� _GoBack _cz7wq6ksa9kt _qtibccdzd06x _snk2m6kr7mhe _zaicwqifxndb _d57ecbmk2bm2 _d5ctxhpaiwph _wgd9367rgblt _vjqfi796esdp _7ji1nggfo1v INTRODUÇÃO MOVIMENTO CONTRACULTURA DESIGN A PARTIR DA DÉCADA DE 1960 PÓS- MODERNIDADE DESIGN GRÁFICO PÓS-MODERNO NOVA ONDA DA TIPOGRAFIA DESIGN RETRÔ E VERNACULAR DESIGN GRÁFICO E REVOLUÇÃO DIGITAL CONSIDERAÇÕES FINAIS Síntese
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