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Professor: Carlos Bráulio da Silveira chaves Componente Curricular: CIÊNCIA POLÍTICA E A TEORIA DO ESTADO Carga horária: 40 hs 1.0 Introdução à Ciência Política e à Teoria do Estado Se você está se perguntando por que precisa estudar Ciência Política e Teoria do Estado no início de um curso de Direito, saiba que essa pergunta vem sendo feita há muito tempo, por inúmeros estudiosos. Historicamente, segundo Bonavides (2011, p. 48), a Ciência Política levou muito tempo para se tornar uma ciência autônoma na França, por exemplo. Antes disso, suas discussões e temáticas eram todas abarcadas pelo Direito, principalmente o Direito Constitucional (e essa aproximação ainda existe, como vocês vão perceber quanto mais se aprofundarem). Até mesmo o nome “Ciência Política” precisou de tempo para se firmar e ser por todos reconhecido como algo específico e determinado. Isso porque, na cultura anglo-americana, por exemplo, o que se chamava “Ciência Política” era, na verdade, um acúmulo de relatos e experiências vividas por instituições (casos em que os interesses em jogo eram sempre ditados pelas forças políticas competitivas) ou análises técnicas que se constituíam ignorando os desenvolvimentos teóricos. (BONAVIDES, 2011, p. 46). Já na Alemanha, os juristas que se dedicavam a esse estudo, sempre envolvidos com o culto e a superstição do poder, só recentemente passaram a reconhecer uma “Ciência Política” propriamente dita, com contribuições e construções próprias, independentemente do condicionamento jurídico, sob a influência de correntes americanas excessivamente pragmáticas. Antes disso, esses estudos eram todos abarcados pela “Teoria Geral do Estado”, que apenas reconhecia variações de método e conteúdo dentro de sua amplitude. (BONAVIDES, 2011, p. 46). A denominação “Teoria Geral do Estado”, que foi forte na Alemanha, não teve a mesma força na França e só chegou ao Brasil na década de 1940, durante a ditadura, ingressando nos currículos dos cursos de Direito, por imposição do regime ditatorial e não por pertinência temática ou pedagógica. À época, a Constituição da República de 1937 enfrentava grande resistência nas escolas pelos professores de formação democrática. (BONAVIDES, 2011, p. 46). O fato é que a evolução terminológica veio também acompanhada da evolução dos métodos e delimitações da Ciência Política enquanto ciência, ramo do saber. Assim, segundo Soares (2004, p. 5-7), a Ciência Política estuda “a realidade política, o fenômeno político, o mundo ou o universo político e a res publica” (expressão do latim que significa "coisa do povo" ou "coisa pública", e que deu origem à palavra “república”). Seu objeto de estudo, então, é “o conhecimento do universo político polarizado pelo fenômeno político do poder”, que ela analisa e transforma em um “conhecimento ordenado, racional, objetivo e metódico” que pode ser recepcionado pelos outros ramos do saber, inclusive a Teoria do Estado, que vai, a partir desse arcabouço de ideias, buscar entender se o Estado deve se colocar e atuar diante dos fenômenos atuais, além de como fazê-lo. Esse entendimento se dá a partir do conhecimento e da interpretação das relações de que eles possuem com a história e com a realidade global. 1.1 Conceituação da Ciência Política e da Teoria do Estado Desde que Kant (em seu livro Elementos Metafísicos das Ciências da Natureza) definiu como “ciência” a “toda série de conhecimentos sistematizados ou coordenados mediante princípios”, a ação intelectual dos positivistas e dos evolucionistas desenvolveu esse conceito de forma a torná-lo cada vez mais preciso. Desenvolvimento esse que culminou na formulação de um conceito de “ciência” como sendo “o conhecimento das relações entre coisas, fatos ou fenômenos, quando ocorre identidade ou semelhança, diferença ou contraste, com existência ou sucessão nessa ordem de relações”. (BONAVIDES, 2011, p. 26). Como vimos, a Ciência Política precisou de muito tempo para se desvencilhar do Direito e ser reconhecida como uma ciência autônoma, com seus próprios métodos e objetos. Uma vez reconhecida, no entanto, vamos ver como ela é conceituada enquanto área de conhecimento a partir desses critérios estabelecidos e desenvolvidos ao longo das décadas de estudo. 1.2 Ciência Política Para conceituar “Ciência Política” e “Teoria do Estado”, Pinto (2013) faz uma escolha interessante e recorre à filologia e ao estudo da linguagem em fontes históricas escritas, de forma a entender melhor os significados dos termos que compõem essas expressões e produzir conhecimento a partir dessas nomenclaturas. Primeiramente, então, ele recorre ao conceito de “ciência” disposto no dicionário mais famoso e tradicional da língua portuguesa: Atentos à objetividade desejada, lembramos que, para Aurélio Buarque de Holanda, ciência é “[...] saber que se adquire pela leitura e meditação; [...] Conjunto de conhecimentos socialmente adquiridos ou produzidos, historicamente acumulados, dotados de universalidade e objetividade que permitem sua transmissão, e estruturados com métodos, teorias e linguagens próprias, que visam compreender e [...] orientar a natureza e as atividades humanas [...]”. (PINTO, 2013, p. 3). Ciência: pesquisa /conhecimento/ compreensão/estudo Em seguida, para complementar essa análise, recorre à conceituação de um filósofo: Para Régis Jolivet, o termo ciência pode ser encarado nos pontos de vista objetivo e subjetivo: “Objetivamente, a ciência é conjunto de verdades certas logicamente encadeadas entre si, de maneira que forme um sistema coerente [...]. Subjetivamente, a ciência é um conceito certo das coisas por suas causas ou por suas leis.” A ciência demanda, portanto, objeto, método e lei. (PINTO, 2013, p. 3). Trabalhada a análise do termo “ciência”, o autor segue sua análise terminológica dedicando-se, então, ao termo “política”, que é uma expressão bastante conhecida e discutida pela filosofia. Política: politéia (πολιτεία), politiké (política em geral) Polis – grego – cidades Os autores, normalmente, separam o conceito clássico e conceito moderno de política. Assim é, por exemplo, no Dicionário de Política, de Norberto Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino. Para o conceito propagado por Aristóteles em sua obra Política, o termo significa a “Arte de Governar”, abrangendo a natureza, as funções e as várias formas de governo. O termo política consagrou-se classicamente no âmbito acadêmico como sendo estudo de atividades humanas referentes à existência do Estado, do poder soberano e de seu exercício. (PINTO, 2013, p. 4). A este significado, o autor acrescenta considerações sobre a utilização atualizada do termo “política”, que tem hoje inúmeras outras acepções, podendo ser utilizado para denominar “um conjunto de atividades estatais”, como a atuação do Estado em busca de um resultado determinado. Acepção essa que dá origem às ideias de “política eleitoral”, “política partidária” ou até “políticas públicas”, por exemplo. Nesse sentido, a “política” assume um conceito bastante popularizado e amplamente utilizado em várias esferas e temáticas do Poder Estatal. (PINTO, 2013, p. 4). A partir, então, dessas reflexões, Pinto (2013, p. 4) passa a construir uma conceituação de “Ciência Política” que respeite a filologia dos termos que compõem a expressão e combine esses significados. A "Ciência Política”, assim, seria um estudo metódico (com a metodologia e os procedimentos sólidos e específicos que constituem uma ciência) cujo objeto seria a política enquanto conjunto de atividades do Estado em suas mais diversas atuações e ramificações ligadas ao exercício do poder soberano, na busca por abranger todo o fenômeno estatal. Definir a atuação estatal como objeto de estudo da Ciência Política, no entanto, pode parecer uma simplificação, mas não é. A força estatal é marcada pelo poder, e o poderperpassa todas as estruturas sociais. O poder é histórico e geral, esteve e está presente em todos os momentos e em todos os grupos sociais, mas se manifesta de formas variadas que precisam ser entendidas e discutidas. Nesse sentido, o autor destaca a amplitude dos objetos de estudo a partir da grande e dispersa presença do poder nas estruturas sociais. Dessa forma, podemos conceituar ciência política como uma das áreas das ciências sociais, tendo como objeto de estudo o ESTADO, mediante a análise de seus elementos estruturais, sendo eles: Povo, Território e Poder. Cabe à ciência política, portanto, o estudo de todo o processo histórico do exercício do poder, desde as estruturas mais rudimentares até as mais complexas e as mais modernas; do matriarcalismo instintivo ao patriarcalismo, como natural expressão de força. Cabe, do mesmo modo, a análise da estruturação ideológica do poder, dos pré-socráticos aos pensadores da atualidade. Cabe ainda o estudo detalhado da família como célula de poder, passando pelos clãs, tribos e as polis gregas, o Império Romano, o Império da China e as civilizações pouco conhecidas como os incas, astecas e maias, chegando mesmo ao Estado Moderno como hoje é conhecido. No campo filosófico, portanto, muito há o que se estudar em relação à política, e o mesmo se diga quanto aos campos sociológico, antropológico, econômico e até o religioso. Não serão poucos, desse modo, os objetivos deste estudo e não serão poucos os autores a serem consultados. (PINTO, 2013, p. 4). Formas de estado: a unitária, a federação e a confederação. Formas de governo: a monarquia e a república. Sistema de governo: presidencialismo e o parlamentartismo. 2.1 A Ciência Política e suas três dimensões: a filosófica, a sociológica e a jurídica Inúmeros e reconhecidos teóricos e juristas acompanham a tendência universal de estudar a Ciência Política a partir de um aspecto tríplice ou tridimensional que compreenda as dimensões filosófica, sociológica e jurídica. (BONAVIDES, 2011, p. 45- 46). Esse entendimento é consequência direta da multiplicidade e da grande abrangência do objeto de estudo da Ciência Política, que se detém, como vimos, sobre o Estado, o poder e as relações que deles decorrem em todas as suas esferas e âmbitos. Os fatos e realidades que se constroem e são discutidos pela Ciência Política são também apreendidos por outros ramos do saber e essas compreensões se alimentam. Aqui, vamos analisar como se constituem essas dimensões dentro da Ciência Política e de que forma elas se aproximam. 2.2 Dimensão Filosófica Os assuntos políticos são temáticas que interessam os seres humanos desde os tempos mais remotos, principalmente desde Sócrates, Platão e Aristóteles. (BONAVIDES, 2011, p. 40). É natural, então, que a filosofia enquanto ciência tenha sempre acompanhado a sucessão de fatos históricos e a evolução da construção dos modelos que hoje naturalizamos na sociedade, na tentativa de discutir as origens, a ideologia e a justificação do Estado enquanto fenômeno político-cultural. Nesse sentido: A Filosofia conduz para os livros de Ciência Política a discussão de proposições respeitantes à origem, à essência, à justificação e aos fins do Estado, como das demais intuições sociais geradoras do fenômeno do poder, visto que nem todos aceitam circunscrevê-lo apenas à célula máter, embriogênica, que no caso seria naturalmente o Estado, acrescentando-lhe os partidos, os sindicatos, a igreja, as associações internacionais, os grupos econômicos, etc. Convive o debate filosófico ademais com a investigação sociológica com a fixação jurídica dos fatos, normas e instituições políticas... (BONAVIDES, 2011, p. 41). Uma vez que a Ciência Política se proponha a analisar os acontecimentos, as instituições e as ideias políticas (bem como os seus históricos e desenvolvimentos), essas questões podem ser discutidas a partir da análise do passado (como foram ou deveriam ter sido), do presente (como são ou deveriam ser) ou do futuro (como serão ou deverão ser). (BONAVIDES, 2011, p. 40). 2.3 Dimensão sociológica Se a Ciência Política estuda fatos sociais, como vimos, sua aproximação com a Sociologia é inevitável e indiscutível. Sendo o fenômeno político um fato social por excelência, como ensina Durkheim, a análise de um fato político vai fundamentar uma Sociologia Política, que vai compartilhar com a Ciência Política noções e discussões sobre grupos, classes, ideologias, etc. E esses são aspectos fundamentais que precisam ser considerados em qualquer análise da evolução do Estado. Bonavides (2011, p. 42-43), citando a obra de Vierkandt, destaca o caráter classista do Estado e da sociedade, as dinâmicas de luta pelo poder nas sociedades, os partidos como representação de interesses e as tendências e movimentos reformistas que se constituem considerando as relações de trabalho, a educação, a saúde espiritual da juventude, e o papel da igreja, por exemplo. Também aproximam Sociologia e Ciência Política o forte caráter histórico necessário para a análise da evolução política. (BONAVIDES, 2011, p. 42). 2.4 Dimensão jurídica A dimensão jurídica da Ciência Política tem como grande expoente o trabalho de Kelsen, considerado o “Pai do Positivismo”, para quem o Estado e o Direito seriam uma única coisa. O Direito, para Kelsen, seria a lei. E a lei seria o que definiria e constituiria o Estado. Nesse raciocínio, o papel do Estado seria o de realizar a positivação do Direito. Seguindo essa abordagem, Kelsen propõe também uma Teoria Geral do Estado com bases fundamentalmente jurídicas, que assimilam o Estado ao Direito. Ainda segundo Kelsen, o Estado pertenceria ao mundo do “dever-ser” (que ele chama de “sollen”) e seria explicado pela “unidade das normas de direito de determinado sistema”. Assim, para o autor, “quem elucidar o direito como norma elucidará o Estado”, porque a força coercitiva do Estado é o mesmo que o grau de eficácia da norma jurídica. (BONAVIDES, 2011, p. 44). Essa valorização do Direito é também o que faz com que a Ciência Política tenha sido (e ainda seja um pouco) reduzida a um simples corpo de normas, objeto de estudo do Direito Político (BONAVIDES, 2011, p. 43). O Estado, na teoria de Kelsen, é esvaziado de toda substantividade e de todas as implicações de ordem moral, ética, histórica, sociológica. Território e população, elementos materiais que compõem o Estado, assumem aqui as faces de “âmbito espacial” e “âmbito pessoal” de validade do ordenamento jurídico. O que resta é o Estado como puro conceito, retintamente jurídico. A valorização descomunal (e desproporcional) do poder (seu elemento formal) aproxima-o da “santidade inviolável de normas concebidas como direito puro”. (BONAVIDES, 2011, p. 44). 4. ORIGEM DO PENSAMENTO POLÍTICO Prevalece o entendimento, os gregos como os primeiros a pensar sobre a prática política organizada. Filósofos clássicos: Sócrates, Platão e Aristóteles. foram os primeiros a se perguntar como deveria ser a organização política para resguardar o bem coletivo Entre o Renascimento e a modernidade Filósofos que também deixaram significativas contribuições para a constituição do pensamento político, sendo eles: 1. Nicolau Maquiavel – O Príncipe. Nessa obra, o autor buscou estabelecer as bases para que um governante consiga se manter em um governo estável. 2. Jean Bodin e Thomas Hobbes - dedicaram-se a defender o absolutismo como forma de governo legítima nos séculos XVI e XVII. 3. John Locke – nova forma de pensamento político na modernidade: o liberalismo político. Defensor de um sistema de governo parlamentar, Locke passou a defender um sistema político que não aturasse os abusos de um governo centralizado. executivo será exercido pelo chefe de Estado (o rei ou o Presidente) e pelo Chefe de Governo (Primeiro Ministro), o parlamentarismo é o sistemasensível às exigências sociais e políticas da sociedade; o governo depende da confiança do parlamento. os ministros prestam contas de seus atos políticos ao parlamento As contribuições dos filósofos iluministas 1. Voltaire - a liberdade religiosa e a liberdade de expressão. Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias; 2. Montesquieu- divisão de “poderes” - o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. Legislativo – Atribuições Típicas – Inovar o ordenamento jurídico e fiscalizar No âmbito da União - Art. 44. O Poder Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, que se compõe da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Câmara dos Deputados - Representantes do povo Art. 45. A Câmara dos Deputados compõe-se de representantes do povo, eleitos, pelo sistema proporcional, em cada Estado, em cada Território e no Distrito Federal. Senado Federal- representantes dos Estados e do Distrito Federal. No Âmbito estadual : Assembleia Legislativa No Âmbito Municipal: Câmara dos vereadores Art. 46. O Senado Federal compõe-se de representantes dos Estados e do Distrito Federal, eleitos segundo o princípio majoritário. Executivo – atribuição típica: administrar o Estado nos limites da lei. Judiciário – exercer a jurisdição – julgar no caso concreto as lides. 5.0 A Teoria do Estado e o Direito: a teoria monística, dualística e paralelística Não foi só Kelsen quem se dedicou a estudar e discutir a relação entre o Estado e o Direito. Essa é uma questão que há muito ocupa os pensadores. Maluf (2010, p. 1) inicia a sua obra já chamando atenção para essa questão: O Estado é uma figura abstrata e estruturada política, social e juridicamente, ocupando um território e destinada a manter, pela aplicação do Direito, as condições universais de ordem social. Ainda, o Estado é uma organização destinada a manter, pela aplicação do Direito, as condições universais de ordem social. Já o Direito é o conjunto normativo que regulamenta o comportamento do ser humano em sociedade, que ao Estado cumpre assegurar. Podemos ainda conceituar o Direito como o conjunto das condições existenciais da sociedade, que ao Estado cumpre assegurar. Para o estudo do fenômeno estatal, tanto quanto para iniciação na ciência jurídica, o primeiro problema a ser enfrentado é o das relações entre Estado e Direito. (MALUF, 2010, p. 1). Como se pode ver no trecho reproduzido, essa já é uma concepção bem moderna, que reconhece a separação entre as ideias de Estado e de Direito sem ignorar a relação de interdependência. O Estado, para Maluf, se orienta e se mantém pelas normas criadas pelo Direito, e ao mesmo tempo é responsável por garantir o seu cumprimento. É justamente por isso que a compreensão dessa relação é importante desde já, no início da formação jurídica. Os estudos que se dedicaram a compreender as relações entre Estado e Direito dividem-se principalmente em três teorias: a monística, a dualística e a paralelística, que vamos conhecer brevemente a seguir. TEORIA MONÍSTICA ou Estatismo Jurídico Teóricos precursores do monismo jurídico: Hegel, Thomas Hobbes e Jean Bodin. Desenvolvida pelos seguintes teóricos - Rudolf von Ihering, Jellinek, e Hans Kelsen. O Estado é a fonte única do direito, pois não admitem eles a idéia de qualquer regra jurídica fora do estado. O Estado e o Direito confundem-se em uma só realidade. A Teoria Monística é também chamada de “estatismo jurídico” e reúne os pensadores que acreditam que o Estado e o Direito se confundem em uma só realidade. Para os monistas, o Estado é a única fonte do Direito e não existe qualquer regra jurídica fora do Estado, somente o “direito estatal”. É o Estado quem dá vida ao Direito quando a ele empresta a “força coativa” de que detém o monopólio. Só o Estado pode agir por meio da coação e uma regra jurídica sem coação seria uma “contradição em si, um fogo que não queima, uma luz que não ilumina”. (MALUF, 2010, p. 1). TEORIA DUALÍSTICA ou Pluralística Teóricos precursores: Gierke e Gurvitch, ganhou terreno com a doutrina de Léon Duguit Estado não é a fonte única do Direito nem com este se confunde. O Direito é criação social, não estatal. O Direito, assim, é um fato social em contínua transformação. O Estado e o Direito duas realidades distintas, independentes e inconfundíveis. A Teoria Dualística, também chamada de “Teoria Pluralística”, por sua vez, sustenta que o Estado e o Direito são duas realidades “distintas, independentes e inconfundíveis”. Para os dualistas, o Estado não se confunde com o Direito e nem mesmo é sua única fonte. O que o Estado detém é apenas o Direito Positivo (e o poder de positivar o Direito), mas o Direito não é e não pode ser visto como criação estatal. Trata-se de uma criação social que carrega em si os frutos do desenvolvimento e das mudanças que se operam na vida de cada povo sob a constante influência de fatores sociais, como as questões éticas, psíquicas, biológicas, e econômicas, por exemplo. (MALUF, 2010, p. 2). Nesse sentido: O direito, assim, é um fato social em contínua transformação. A função do Estado é a de positivar o Direito, isto é, traduzir em normas escritas os princípios que se firmam na consciência social. Normas jurídicas têm sua origem no corpo social. (MALUF, 2010, p. 2). TEORIA DO PARALELISMO Teórico Defensor: Giorgio Del Vecchio. Estado e Direito são duas realidades distintas que se completam na interdependência. A Teoria Monista, como vimos, é a que não vê separação entre Estado e Direito, já que os dois são tão próximos e dependentes que se confundem, e que acredita que o Estado é a única fonte do Direito. A Dualística, no sentido contrário, vê diferenças e separações claras entre o Direito e o Estado, reconhece outras fontes de Direito e concebe o Direito enquanto fato social. É nesse terreno que se desenvolve a Teoria Paralelística, uma corrente eclética, situada em uma posição de relativo equilíbrio entre os extremos e que, segundo Maluf (2010, p. 2-5), vê Estado e Direito como “realidades distintas, porém necessariamente interdependentes”. A Teoria Paralelística, então, reconhece a existência de Direito fora do Estado ao mesmo tempo que admite ser o Estado o detentor da “vontade social predominante” e, portanto, o único capaz de positivar o Direito. (MALUF, 2010, p. 3). Assim: A teoria do pluralismo reconhece a existência do direito não estatal, sustentando que vários centros determinação jurídica surgem e se desenvolvem fora do Estado, obedecendo a uma graduação de positividade. Sobre todos estes centros particulares do ordenamento jurídico, prepondera o Estado como centro de irradiação da positividade. O ordenamento jurídico do Estado representaria aquele que, dentro de todos os ordenamentos jurídicos possíveis, se afirmaria como o “verdadeiramente positivo”, em razão da sua conformidade com a vontade social predominante. A teoria do paralelismo completa a teoria pluralista, e ambas se contrapõem com vantagem à teoria monista. Efetivamente, Estado de Direito são duas realidades distintas que se completam na interdependência. (MALUF, 2010, p. 3). 6.0 A sociedade: origem e seus elementos característicos Soares (2004, p. 14), ao discutir os inúmeros conceitos de sociedade, começa pelo mais “genérico”, a sociedade como “o gênero humano,considerado o conteúdo abstrato e todas as formas de convivência humana ou a união entre os homens em geral”, ou, nas palavras de Bonavides (2011, p. 57), “todo o complexo de relações do homem com seus semelhantes”. Esse conceito genérico, no entanto, é bastante primário, uma vez que as sociedades se constituem de formas cada vez mais complexas em razão do aperfeiçoamento de mecanismos como a divisão do trabalho humano, o aproveitamento e controle de recursos naturais, as descobertas e invenções. Verifica-se que, no decorrer do processo histórico, grupos sociais passaram a executar tarefas específicas, atingindo um amplo e intricado pluralismo social, que exige que recorra o jurista à Ciência Política como condição para o desenvolvimento de estudo aprofundado dessas relações sociais e jurídicas. Assim, faz-se necessário estabelecer uma caracterização geral das complexas sociedades, delineando os pontos em comum por meio de análise do conjunto de regras de atuação de cada sociedade. (SOARES, 2004, p. 15). Citando Dallari, Soares (2004, p. 15) elenca os elementos considerados necessários pelos estudos dessa natureza para que os agrupamentos humanos sejam reconhecidos como sociedades. os seguintes: A finalidade ou valor social As manifestações de conjunto ordenadas (ordem social e ordem jurídica) O poder social Cada um destes tópicos poderá ser compreendido a seguir. Fonte: Michael D Brown, Shutterstock, 2020 #PraCegoVer: imagem pictórica de pessoas em forma de desenho, em cima de um disco ou círculo, sendo que uma delas está do lado de fora e sendo ajudada por outra a subir nele. 6.1 Finalidade ou valor social Sobre a finalidade (ou valor social) da sociedade, é importante destacar que se trata de um elemento bastante discutido pelas mais diversas teorias (ou concepções). Pela concepção determinista, então, o homem é totalmente submetido às leis naturais e ao princípio da causalidade, não podendo escolher um objetivo ou orientar a sua vida social pois esta estará sempre condicionada a fatores que ele não pode controlar. (SOARES, 2004, p. 15). De acordo com a concepção finalista, o homem deve ser sujeito de sua própria história e, assim, contribuir para transformações sociais. Já a concepção tomista acredita que o homem tem consciência de que deve viver em sociedade e, por isso, busca fixar como objetivo da sua vida social uma finalidade condizente com o que lhe parece mais valioso e com as suas necessidades fundamentais. (SOARES, 2004, p. 15). Já Tomás de Aquino refere-se ao bonum commune (bem comum) como a finalidade principal da sociedade organizada. Nesse raciocínio, é responsabilidade do Estado garantir aos membros da sociedade as condições necessárias para que alcancem o bem-estar material e cumpram o instinto humano de conservação. A finalidade social escolhida pelo homem, então, seria o bem comum, que consistiria no “conjunto de todas as condições de vida que configurem e favoreçam o desenvolvimento integral da personalidade humana”. (SOARES, 2004, p. 15-16). Foi o Papa João XXIII que formulou esse conceito de “bem comum”, tido como a finalidade das sociedades. Segundo ele, "o bem comum consiste no conjunto de todas as condições de vida social que consintam e favoreçam o desenvolvimento integral da personalidade humana" (Encíclica "Pacem inm Terris", II, 58) 6.2 Manifestações de conjunto ordenadas A simples reunião de um grupo de pessoas em busca de um mesmo objetivo não é suficiente para garantir que esse objetivo seja alcançado. Para isso, é preciso, antes, que esse grupo esteja organizado para agir em busca desse fim. É disso que se trata a manifestação de conjunto ordenada: a ação de um grupo em conjunto orientada para um fim específico. E, para isso, é preciso que essas ações tenham reiteração, ordem e adequação. A reiteração vem da ideia de que as manifestações de conjunto em busca de um objetivo devem ser realizadas permanentemente, e os atos individuais devem se conjugar em um todo coletivo. A ordem, que alguns autores dividem entre natural e humana e outros em social e jurídica, diz respeito à produção das manifestações para que se alcance o objetivo planejado, seja por causalidade ou por imputação. E, por fim, a adequação é a necessária preocupação com as exigências e possibilidades da realidade social. 6.3 Poder Social O poder social é uma realidade verificável em diversas modalidades de relacionamento humano e consiste na faculdade de alguém impor a sua vontade ao outro sem necessariamente precisar recorrer ao uso da força. (SOARES, 2004, p. 18). O poder social sempre existiu na sociedade humana, apresentando, em qualquer grupo social, traços característicos de sociabilidade — o poder é um fenômeno social — e de bilateralidade — o poder é a correlação de duas ou mais vontades, sendo que uma predomina. (SOARES, 2004, p. 18). 7.0 Teorias sobre os fundamentos da sociedade: a interpretação organicista e mecanicista da sociedade As sociedades organizam-se de formas variadas, que se distinguem pelos fins, pela amplitude e pelo grau de intensidade dos vínculos que envolvem os membros do grupo social aos tipos de associação existentes. Assim, a partir da análise das finalidades, pode-se distinguir dois tipos de sociedades: as de fins particulares, que possuem objetivos definidos voluntariamente escolhidos por seus membros, e as de fins gerais, que possuem objetivos indefinidos e genéricos que se destinam a possibilitar aos indivíduos que busquem atingir seus fins particulares. (SOARES, 2004, p. 19). O Estado é uma forma de sociedade que Soares (2004, p. 19) denomina como “sociedade política”, que é a que se ocupa da “totalidade das ações humanas, coordenando-as em função de um objetivo comum”, coexiste com outras estruturas sociais, tais como a família, as tribos e os clãs, delas se diferenciando pelo monopólio legítimo da coação física para fazer valer as suas determinações. A interpretação organicista compreende a sociedade como “o conjunto de relações por intermédio das quais vários indivíduos vivem e atuam solidariamente, de forma ordenada, visando estabelecer entidade nova e superior”. Os principais teóricos que se destacaram nessa corrente foram Aristóteles, Platão, Comte (organicismo materialista), Savigny (organicismo ético e idealista) e Del Vecchio. (SOARES, 2004, p. 13). Bonavides também relembra Aristóteles e Platão e os apresenta como o “tronco milenar da filosofia grega” de onde procedem os organicistas. E destaca já na produção aristotélica a ideia de que os homens são partes de um todo que é social. (BONAVIDES, 2011, p. 58). Na doutrina aristotélica assinala-se, com efeito, o caráter social do homem. A natureza fez um homem um “ser político”, que não pode viver fora da sociedade. Se a sociedade é o valor primário fundamental, se a sua existência importa numa realidade superior, subsistente por si mesma, temos o organicismo. Reunião de várias partes que preenchem funções distintas e que, por sua ação combinada, concorrem para manter a vida do todo. (BONAVIDES, 2011, p. 58). Mas é importante anotar a observação de Bonavides, que apontou que os organicistas apresentavam tendências a adotar posições ideológicas reacionárias em relação ao poder. (SOARES, 2004, p. 13). Entende esta que o homem jamais nasceu na liberdade e, invocando o fato biológico do nascimento, mostra que desde o berço o princípio de autoridade o toma nos braços, rodeando-o, amparando-o, governando-o. Vinte e quatro horas fora da proteção dos pais bastariam para acabar com o ser que chega ao mundo tão frágil e desprotegido. Dependência, autoridade, hierarquia, desamparo, debilidade, eis já no núcleo familiar os vínculos primeiros que envolvem a criatura humana e dos quais jamais logrará desatar-se inteiramente. Fazem os organicistas a apologia da autoridade. Estimam osocial porque veem na Sociedade o fato permanente, a realidade que sobrevive, a organização superior, o ordenamento que, desfalcado dos indivíduos na sucessão dos tempos, no lento desdobrar das gerações, sempre persiste, nunca desaparece, atravessando o tempo e as idades. Os indivíduos passam, a sociedade fica. (BONAVIDES, 2011, p. 59). Os mecanicistas, por sua vez, atacam a Teoria Organicista sempre negando que exista alguma espécie de identificação entre os organismos biológicos e a sociedade, pois a sociedade experimenta fenômenos que não encontram equivalência na realidade do sujeito, tal como migrações, mobilidade social e suicídios, por exemplo. No organismo individual, as partes não vivem por si mesmas, nem podem estar fora do ser que integram ou em outra posição que não aquela que a natureza lhes determinou. (BONAVIDES, 2011, p. 60-61). A teoria mecanicista é predominantemente filosófica, com especial destaque para os filósofos jusnaturalistas, segundo os quais a “sociedade é um grupo derivado de um acordo de vontades formalizado por seus próprios membros” que se unem por um “mesmo interesse comum”, que depende da conjugação de seus esforços para que seja alcançado. De acordo com essas ideias, o fundamento da sociedade é, então, o consentimento dos cidadãos firmado por meio do pacto social. (SOARES, 2004, p. 13- 14). A teoria mecânica é predominantemente filosófica e não sociológica. Seus representantes mais típicos foram alguns filósofos do direito natural desde o começo da idade moderna. Seus corolários, com rara exceção, e Hobbes é aqui uma dessas exceções, acabam, sob o aspecto político, na explicação e legitimação do poder democrático. Das teses contratualistas, da postulação que estas fazem, infere-se que a base da Sociedade é o assentimento e não o princípio de autoridade. A democracia liberal e a democracia social partem desse postulado único e essencial de organização social, de fundamento a toda a vida política: a razão, como guia da convivência humana, com apoio na vontade livre e criadora dos indivíduos. (BONAVIDES, 2011, p. 61). De acordo com a Teoria Mecanicista, são três as hipóteses que podem explicar o surgimento da sociedade: 1- a sociedade originou-se da vontade humana formulada por meio de pacto; 2- a sociedade é resultado da última etapa de evolução da primeira hipótese, em perspectiva material ou espiritual; 3- a sociedade teria nascido da predisposição e das necessidades da natureza humana. (SOARES, 2004, p. 14). Os organicistas, então, são os que “se abraçam ao valor Sociedade” e se esquecem das liberdades individuais e da autonomia. Assim, com base nessas crenças, os organicistas tendem a assumir posições antidemocráticas, autoritárias e de direita, bem como defender justificações reacionárias do poder e autocracia. Os mecanicistas, ao contrário, são os que não reconhecem a sociedade como uma realidade suscetível de subsistir fora ou acima dos indivíduos, mas apenas como uma soma de partes. (BONAVIDES, 2011, p. 59). Se o organicismo e o mecanicismo foram as duas mais importantes formulações históricas sobre os fundamentos da sociedade, qualquer conceito que se desenvolva sobre “sociedade” vai trazer maior influência de uma ou de outra concepção. Assim, quando se diz que “a sociedade é o grupo derivado de um acordo de vontades, de membros que buscam, mediante o vínculo associativo, um interesse comum impossível de obter-se pelos esforços isolados dos indivíduos”, trata-se, na verdade, de um conceito bem alinhado ao mecanicismo. Todavia, quando se define a sociedade como “o conjunto de relações mediante as quais vários indivíduos vivem e atuam solidariamente em ordem a formar uma entidade superior”, estamos diante de um conceito fundamentalmente organicista. (BONAVIDES, 2011, p. 57-58). É ISSO AÍ! Nesta unidade, você teve a oportunidade de: Compreender que a Ciência Política passou por algumas evoluções terminológicas e, principalmente, pela evolução dos métodos e delimitações enquanto ciência, para então conseguir ser reconhecida como ciência autônoma e se desvencilhar das outras ciências, principalmente do Direito. Saber que, apesar de ter se desvinculado do Direito, a Ciência Política e as Ciências Jurídicas têm muitos pontos de encontro e se alimentam em vários pontos. Ter sempre em mente que, conforme a Ciência Política possibilita, existe um caráter classista do Estado e da sociedade, bem como dinâmicas de luta pelo poder nas sociedades. Compreender que o bem comum, tido como a finalidade social escolhida pelo homem, consistiria no “conjunto de todas as condições de vida que configurem e favoreçam o desenvolvimento integral da personalidade humana”. entender que qualquer conceito que se desenvolva sobre “sociedade” vai trazer maior influência d o organicismo ou do mecanicismo, já que estas foram as duas mais importantes formulações históricas sobre os fundamentos da sociedade. O PODER POLÍTICO NO PENSAMENTO DE NICOLAU MAQUIAVEL; O CONCEITO DE SOBERANIA EM JEAN BODIN; Trata-se de um dos elementos essenciais na formação do Estado. Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, const itui - se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa V - o pluralismo político. Estado e soberania: visão dos clássicos do pensamento político. É necessário compreendermos alguns pontos das teorias mais comentadas na doutrina clássica. 1. Doutrina teocrática Soberania como um poder advindo de Deus. O poder soberano era legitimado sobre um elemento divino ou natural. Teólogos assumem um papel de destaque na teoria filosófica, política e social. Santo Tomás de Aquino fundamenta a soberania no poder divino, mas ressaltavam que este poder passava pelo povo. A síntese do pensamento de Santo Tomás de Aquino é expressada como: Omnis potestas a Deo per populum – Todo poder vem de Deus pelo povo. 1.2 O poder político em Nicolau Maquiavel Nicolau Maquiavel escreveu o famoso livro O Príncipe, de 1513. Considerado como um dos textos que funda a Política como arte de governar o Estado. Maquiavel é inserido no contexto de uma Itália instável, formada por diversos estados assimétricos e com invasões constantes, daí a preocupação central em estabelecer um poder político que consiga perpetuar no tempo. O exercício do poder seria uma forma de manutenção do próprio poder e da estabilidade do Estado, sendo que a política “era precisamente a arte de conquistar o poder político, conservá-lo e exercê-lo” 1.3 O conceito de soberania em Jean Bodin Jean Bodin foi o primeiro autor a descortinar o elemento da Soberania e a buscar sua justificativa. Esse poder soberano clássico, também chamado de summa potestas, não tinha relação como hoje a um direito internacional, mas em um âmbito interno. Era o poder absoluto e eterno que não conhecia limites por ninguém, pois não havia autoridade superior ao soberano (majestas est summa in cives ac súbditos legisbusque soluta postesta). Era exceção justamente aquele que legitimaria este poder: Deus e as leis divinas. No sentido de conferir legitimidade ao modelo absolutista Dos escritos de Bodin, podemos sintetizar que a soberania é esse poder perpétuo, inalienável e imprescritível que não tem limites senão em Deus. Montesquieu, os três poderes e as leis Obra: “o espírito das leis” A referida obra não se resume a tratar da Divisão orgânica de Funções – Divisão “Poderes”, sendo na verdade uma teorização sociológica dos governos, do direito e das organizações políticas. A Teoria da separação dos “poderes” foi pensada por Aristóteles, John Locke e Jacques Rousseau, apesar de que a definiçãoe divulgação se deu mesmo com Montesquieu. Atualmente – art. 2º, CF, in verbis: são poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. Características: independentes e harmônicos. Independência - ausência de subordinação, de hierarquia entre os “Poderes”. Harmonia - por sua vez, significa colaboração, cooperação; visando garantir que os “Poderes” expressem uniformemente a vontade da União. A independência entre os Poderes não é absoluta? Não. Ela é limitada pelo sistema de freios e contrapesos, de origem norte-americana. Esse sistema prevê a interferência legítima de um Poder sobre o outro, nos limites estabelecidos constitucionalmente. Exemplos: 1. Quando o Poder Judiciário controla a constitucionalidade de leis elaboradas pelo Poder Legislativo. 2. o Congresso Nacional (Poder Legislativo) fiscaliza os atos do Poder Executivo (art. 49, X, CF/88) Assim, com a teoria de Montesquieu atualizada nos tempos atuais, podemos dizer que temos o “Poder” Legislativo, “Poder” Executivo e o “Poder” Judiciário. A divisão entre as competências típicas/Precípuas dos órgãos estatais: O poder legislativo – lnova o Ord. jurídico e fiscaliza – art. 44 da CF/88. O poder executivo - administrar o estado, nos termos da lei – art. 76 da CF/88. O poder judiciário – exercer a jurisdição - Julgar casos concretos – Art. 92 da CF/88. Atribuições Atípicas: O poder executivo - inovar o ordenamento jurídico, mediante a edição de MP. O poder legislativo – julgamento do Presidente pela pratica de crime de responsabilidade art. 52, I O Judiciário – pratica dos atos e procedimentos administrativos. O Estado e seus Elementos Constitutivos do Estado É com o advento da modernidade e o fim da Idade Média que o Estado toma a forma conceitual que adotamos na Teoria do Estado atual. Personalidade jurídica do Estado. Estado é uma pessoa jurídica, o Estado seria uma pessoa em si, que ganharia um status jurídico em virtude de sua organização, com o elemento subjetivo composto pelo seu povo, em um território delimitado que é a representação corpórea e o governo soberano que exerce a manifestação de vontade dessa pessoa. Para que possamos chamar uma sociedade de Estado será necessária à cumulação destes três elementos: o território, a população e o governo soberano. Observação: É necessário tomar nota que alguns autores acrescentam um quarto elemento para a constituição do Estado, sendo ele: a finalidade “atualmente, a proteção da dignidade humana e a promoção dos direitos fundamentais prevalecem como fins do Estado.” 2.1 Território O território é o próprio corpo físico do estado, um espaço físico que o compõe. É a partir deste limite que é, em regra, será reconhecida a soberania estatal e suas relações jurídicas internas podem ser formadas. Tratados entre os Estados de que há uma porção de terras que pertence a um deles, e que o outro não o violará, é de grande importância para a compreensão desta característica nos Estados modernos. Esse território é, portanto, um pedaço físico de terra com seu subsolo e também a atmosfera que o cerca. Inclui-se os rios, lagos e os mares, conforme tratados internacionais. É a partir deste limite que é, em regra, será reconhecida a soberania estatal e suas relações jurídicas internas podem ser formadas. 2.2 Poder soberano A soberania, portanto, é o poder supremo do estado, que não tem poder semelhante em seu território competindo com ele. Soberania Interna: A relação do poder com aqueles que vivem no estado. Soberania Externa: A relação do estado com os demais estados no âmbito internacional. 2.3 Povo Povo é o elemento humano, ou subjetivo, do Estado. A doutrina diferencia o povo da nação. Povo é a população do Estado considerada sob o aspecto puramente jurídico, sendo constituído por um grupo de pessoas entendidas em sua integração em uma ordem estatal determinada. Pode ser também compreendido como o conjunto de indivíduos sujeitos às mesmas ordem jurídica estatal. Uma nação é constituída por uma população que partilha a mesma origem, língua, religião e/ou cultura, ou seja, agrupamento humano que possui uma história e identidade comuns, seja ela quanto à origem, à língua, à religião e/ou cultura Formas de estado, sistema, forma e regime de governo 1. FORMAS DE ESTADO 1.1 – SIMPLES: Unitário e Federado A) Unitário: Possui um único centro dotado de capacidade Legislativa, Administrativa, Política, bem como a concentração de competência constitucionalmente estbalecida. B) Federação: Capacidade política, administrativa e Legislativa, são distribuídas para a competência de entes regionais, possuindo então autonomia. Art. 18, CF - A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito. Clausula pétrea – Art. 60, § 4º, CF § 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: I - a forma federativa de Estado; II - o voto direto, secreto, universal e periódico; III - a separação dos Poderes; IV - os direitos e garantias individuais. 1.2 - COMPOSTOS: Confederação: Acordo em que os Estados unem-se visando um empreendimento comum e benéfico a ambos que, neste aspecto, confunde-se com a Federação. No entanto, é disponível a cada ente Politica tanto sua autonomia quanto sua soberania, além de prever a possibilidade de secessão (separação dos Estados), sendo estes últimos as características diferenciadoras entre Confederação e Federação. 2.0 - FORMAS DE GOVERNO Meio pelo qual um Estado se organiza a fim de exercer o seu poder sobre a sociedade, bem como as relações entre os detentores do poder e demais membros da sociedade. a. – Monarquia O cargo de chefe é vitalício e hereditário. O poder político está concentrado nas mãos de uma só pessoa. Ou seja, é um Estado dirigido, comandado, administrado por uma só pessoa conforme sua arbitrariedade, independendo da vontade da população de querê-lo ou não como monarca. b. – República O Titular do poder - povo, tem o direito de escolher seus governantes, participando da administração de forma direta ou indireta, dependendo do sistema de governo. 3.0 - SISTEMAS DE GOVERNO 3.1 – Presidencialismo Há concentração do chefe de governo e o do chefe de Estado na figura de uma só pessoa, o Presidente. 3.2 – Parlamentarismo Há Descentralização de chefia de governo e chefia de Estado numa só pessoa; O Poder Executivo será exercido por dois agentes, sendo um chefe de Estado (o rei ou o Presidente - relações externas e forças armadas), e o outro Chefe de Governo (Primeiro Ministro - administra o pais), o parlamentarismo é o sistema sensível às exigências sociais e políticas da sociedade; o governo depende da confiança do parlamento. os ministros prestam contas de seus atos políticos ao parlamento • Parlamento escolhe o chefe de Estado; • Dissolução do parlamento com convocação de novas eleições gerais, por injunção do Chefe de Estado.; Direitos Políticos 1. Conceito: Conjunto de regras previstas no texto constitucional, disciplinando a participação do cidadão na organização e decisões politicas do estado. 2. Matriz Constitucional: Arts. 14 até 16, CF 3. Estruturação dos Direito Políticos 3.1 Dir. Político Positivo: a) Capacidade Política Ativa – b) Capacidade Politica Passiva – 3.2 Dir. Político Negativo: a) Causas de perda ou suspensão dos Direitos Políticos . b) Causas de inelegibilidade Dir. Político Positivo: Capacidade Política ativa e Capacidade Política Passiva Capacidade Política Ativa – Direito de Votar e alistabilidade Categorias: Obrigatório(art. 14, § 1º, I, CF): + 18 até 70 anos, quando alfabetizados. Facultativo (art. 14, § 1º, II, CF): + 70 anos; os analfabetos; +16 e – 18 anos. Inalistáveis (art. 14, § 2º, CF): os estrangeiros; durante o período do serviço militar obrigatório, os conscritos; -16 anos Capacidade Política Passiva Direito de ser votado e Elegibilidade Condições de elegibilidade, na forma da lei – Art. 14, § 3º, CF I - a nacionalidade brasileira; Presidente e vice Presidente da Republica – Bras. Nato II - o pleno exercício dos direitos políticos; III - o alistamento eleitoral; IV - o domicílio eleitoral na circunscrição; Local – Município - Prefeito e vice + Vereadores Estadual - Estado – Governador e vice + Deputado estadual e federal + Senadores Nacional – Presidente e Vice V - a filiação partidária; Obs.: Proibição da candidatura avulsa VI - a idade mínima de: Presidente e Vice-Presidente da República e Senador- 35 anos Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal – 30 anos Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito – 21 anos Vereador – 18 anos 3.2 Dir. Político Negativo: Conceito: São normas que impedem a participação do cidadão no processo político, abrangendo as causas de perda ou suspensão dos Direitos Políticos, bem como as inelegibilidades. Causas de inelegibilidade: Espécies: Absoluta: quando se aplica a todos os cargos eletivos Analfabetos (art. 14,§ 4º, CF) e Inalistáveis (art. 14, § 4º c/c o § 2º, CF) Relativa: quando se restringe a determinados cargos eletivos. 1. Por vinculação funcional para o mesmo cargo (art. 14,§ 5º, CF) § 5º O Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um único período subseqüente. 2. Por vinculação funcional para o outro cargo (art. 14,§ 6º, CF) § 6º Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes do pleito. 3. Por vinculação funcional em razão de laços familiares (art. 14,§ 7º, CF) - Inelegibilidade Reflexa § 7º São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes consangüíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição. 4. Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade – LC 64/90 (art. 14, § 9º, CF) § 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta. LC 64/90 Causas de perda ou suspensão dos Direitos Políticos. Perda dos Direitos Políticos ( Privação definitiva dos direitos políticos ativos e passivos) Art.15, I, CF - cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado; Art.15, II, CF - incapacidade civil absoluta. Suspensão dos Direitos políticos ( Privação temporária dos direitos políticos ativos e passivo) Art.15, III, CF - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos; Art.15, IV, CF - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII; Art.15, V, CF - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º. LEI Nº 8.429, DE 2 DE JUNHO DE 1992 Dos Partidos políticos 1. Conceito: Trata-se de um grupo organizado de pessoas que formam legalmente uma agremiação, caracterizada como sendo PJ de Direito Privado, constituída com base em formas voluntárias de participação, tendo o seu ato constitutivo registrado no TSE. 3. Criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos (art. 17, CAPUT) É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos, resguardados: a soberania nacional; o regime democrático; o pluripartidarismo; os direitos fundamentais da pessoa humana. 5. Preceitos obrigatórios: (art. 17, I até IV, CF) I - caráter nacional; II - proibição de recebimento de recursos f inanceiros de entidade ou governo estrangeiros ou de subordinação a estes; III - prestação de contas à Justiça Eleitoral; IV - funcionamento parlamentar de acordo com a lei. Recursos do fundo partidário e acesso gratuito ao rádio e à televisão ( art. 17, § 3º, CF) Requisitos: os partidos políticos que alternativamente: I - obtiverem, nas eleições para a Câmara dos Deputados, no mínimo, 3% (três por cento) dos votos válidos, distribuídos em pelo menos um terço das unidades da Federação, com um mínimo de 2% (dois por cento) dos votos válidos em cada uma delas; ou (Incluído pela Emenda Constitucional nº 97, de 2017) II - tiverem elegido pelo menos quinze Deputados Federais distribuídos em pelo menos um terço das unidades da Federação. Utilização pelos partidos políticos de organização paramilitar (art. 17, § 4º, CF) É vedada a utilização pelos partidos políticos de organização paramilitar. Da Constituição Conceito: Norma hierarquicamente superior de um Estado Nação, trazendo consigo os seguintes elementos: a estruturação do Estado, a formação dos poderes públicos, forma de governo, aquisição do poder, distribuição de competências, direitos, garantias e deveres dos cidadãos Modif icação: Emendas Constitucionais Processo Legislativo Iniciativa- I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal; II - do Presidente da República; III - de mais da metade das Assembléias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros. Limitação Circunstancial: não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de sítio. Quórum de aprovação: (art. 60, § 2º) A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros. Promulgação: Promulgada pelas Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Limitação Material: Clausulas Pétreas § 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: I - a forma federativa de Estado; II - o voto direto, secreto, universal e periódico; III - a separação dos Poderes; IV - os direitos e garantias individuais.
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