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1 Elen Lima Direito empresarial – Lei 14.010/2020 Uma das preocupações no cenário pandêmico que envolveu o Brasil que certamente foi pauta de muitas e incansáveis discursões foi a afetação da economia que em maior ou menor grau atingiria todos os brasileiros. A preocupação com os cumprimentos contratuais impactou o país inteiro, dado casos de demissões, cortes de salário, falta de rendimento do setor e o pior fator, mas constantemente enfrentado na situação da crise de saúde, a morte de uma das partes contratantes, especialmente do devedor, que inviabilizaria o cumprimento da prestação principal e, consequentemente, dos deveres anexos. Assim, não faltaram discursões sobre qual o caminho a seguir diante dos possível e fatídico descumprimentos contratuais, especialmente, porque diante do estado emergencial enfrentado o judiciário poderia afastar penalidades que em situação normal seriam aplicadas ao inadimplemento, o que é previsto no Código Civil vigente em seus artigos 394, 395 e 408. Assim, o outro lado do contrato estaria mais vulnerável que o padrão normal, afinal, ao se assinar um contrato, ambos os lados aceitam uma parte do risco doa cordo firmado, porém na atual situação o risco é ainda maior. Destarte, algumas medidas tiveram que ser tomadas para assegurar alguns direitos da população e tentar equilibrar a relação contratual, ou seja, manter a segurança jurídica. Com isso, houve necessidade da criação de algumas leis em caráter emergencial para diminuir o impacto causado pelo fechamento de vários estabelecimentos comerciais e públicos, garantindo e mantendo durante o período da pandemia o emprego e a sobrevivência das empresas por meios legais. Visando essa garantia e o cárter emergencial do momento, foi necessário a criação da lei 14.010/2020, que trouxe à baila a discussão de dois importantes institutos do Direito material: Prescrição e decadência. Para fazer uma análise dos institutos em fomento, é necessário o conhecimento hermenêutico para uso do critério cronológico. A diferença entre esses dois institutos em relação a prescrição se dá quando o tempo atua na exigibilidade de um direito, não desconstituindo uma relação jurídica já existente, enquanto que na decadência o advento do tempo não vem apenas com o intuito de atingir a exigibilidade do direito, mas o direito em si. 2 A lei 14.010/20, que dispõe sobre o Regime Jurídico Emergencial e Transitório (RJET), trouxe reflexos em diversos ramos do Direito Privado - Direito de família, de sucessões, do consumidor, obrigacional, do trabalho e Reais. Assim, para focar no o Direito Empresarial e ao que a esse é pertinente, destacar-se-á alguns artigos da lei para que se possa compreender, ainda que não de forma esgotada, seu impacto nos contratos empresariais. O artigo 3⁰ suspende todos os prazos prescricionais que regulam o Direito Privado, fazendo com que sejam usados os critérios da especialidade para análise casuística, ou seja, analise de caso a caso. O Art. 8º expressa que “até 30 de outubro de 2020, fica suspensa a aplicação do art. 49 do Código de Defesa do Consumidor – CDC – na hipótese de entrega domiciliar (delivery) de produtos perecíveis ou de consumo imediato e medicamentos”, nota-se neste texto que à época o legislador acreditava que 30 de outubro era uma data em que a sociedade estaria, senão livre, mas menos afetada pelo Coronavírus e seus transtornos. Assim, percebendo uma crescente dos pedidos deliverys, o que já estava em crescente exponencial devido à população que estava confinada dentro de suas casas, algumas em trabalhos onlines, direcionou esse artigo para solucionar um problema que também crescia e se agigantaria no futuro, embasado no direito de protesto do consumidor, direito este que é previsto no artigo 49 do CDC, no qual o consumidor poderia sem motivações explicitas protestar suas compras, ou seja, tinha o prazo de 7 dias para trocar ou ainda devolver e receber integralmente seu dinheiro de volta, o que tornava não só a empresa vendedora como responsável deste dever a ser cumprido como também as empresas de cartão de créditos solidárias a este dever. No entanto, com o artigo 8º da lei da pandemia, como ficou conhecida, esse direito foi suspenso, assim, o consumidor não poderia rejeitar sem motivos compras que fizesse de forma online com entrega em domicilio, desde que fossem os produtos perecíveis, ou de consumo imediato e medicamentos. Ao afastar esse direito o legislador deu inicio a diversas discursões doutrinárias e jurisprudenciais, já que tal artigo não foi aceito unanimemente pelos operadores do Direito e os tribunais tinham julgados recentes que contrapunham a isso e mais e novos casos chegando à mesa, além de que o direito ao protesto, ainda que especifico aos produtos determinados na letra Lei nova, se estende a diversos outros https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10601327/artigo-49-da-lei-n-8078-de-11-de-setembro-de-1990 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91585/c%C3%B3digo-de-defesa-do-consumidor-lei-8078-90 3 setores além do alimentício, como o de transporte aéreo com regras próprias e que prejudicaram muitos consumidores de imediato à crise de saúde, o que aumenta as discussões em torno do tema. No que tange aos contratos de locação de imóveis, bem como de aquisição por usucapião, destacam-se os artigos 9º e 10º: Art. 9º Não se concederá liminar para desocupação de imóvel urbano nas ações de despejo, a que se refere o art. 59, § 1º, incisos I, II, V, VII, VIII e IX, da Lei nº 8.245, de 18 de outubro de 1991, até 30 de outubro de 2020. Promulgação partes vetadas Art. 10. Suspendem-se os prazos de aquisição para a propriedade imobiliária ou mobiliária, nas diversas espécies de usucapião, a partir da entrada em vigor desta Lei até 30 de outubro de 2020. (BRASIL, 2020) A partir dessa cautelar há uma proteção ao morador em risco de despejo, tal proteção não é uma medida individualista, nem apoio legal para à inadimplência, não busca propositadamente a onerosidade para o proprietário, mas uma construção jurídica que equilibre os direitos fundamentais em choque, o da vida, de sua proteção, em face uma pandemia mundial com vítimas fatais em crescimento de casos a números alarmantes, desta forma, limita o direito à propriedade. Tal proteção se volta ao proprietário de imóvel ocupado por outrem, que em virtude do Covid-19 não poderia desocupar o imóvel e com o percurso do tempo teria prazo legal contado para usucapião, o artigo 10, no sentido de evitar esse cumprimento impróprio do prazo para usucapir um imóvel o torna suspenso durante o vigor da Lei. Desta forma, em artigo publicado para o site Conjur, Alice Cysneiros e Venceslau Tavares Costa Filho declaram: A função social não se sobrepõe ao direito de propriedade. No entendimento aqui defendido, o direito de propriedade poderá ser condicionado ou limitado pela função social, à luz da chamada "teoria externa". Significa que o direito à propriedade não é absoluto e pode sofrer restrições, limites e intervenções [9], como todos os direitos fundamentais. É de se louvar a contenção do ministro Barroso na construção da decisão sob análise, respeitando os espaços de autonomia do direito civil. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/lei/L14010.htm#derrubadaveto https://www.conjur.com.br/2021-jun-14/direito-civil-atual-porque-acertada-suspensao-despejos-durante-pandemia#author https://www.conjur.com.br/2021-jun-14/direito-civil-atual-porque-acertada-suspensao-despejos-durante-pandemia#author https://www.conjur.com.br/2021-jun-14/direito-civil-atual-porque-acertada-suspensao-despejos-durante-pandemia#_ftn9 4 Assim, a proteção do Estado a vida, liberdade e propriedade nas relações privadas deve ocorrer pela mediação normativa de direito privado, e não da Constituição; tendo em vista a necessidade de separaçãoentre Estado e Sociedade Civil enquanto conquista jurídica. (CYSNEIROS E FILHO, 2021) Há muitos elementos a serem considerados na discursão sobre como a pandemia afetou os contratos e como a Lei 14.010/2020 o fez também, sabe-se que a pandemia de covid-19 vem ainda atingindo, com maior ou menor gravidade, os mais diversos setores da economia, impedindo ou gerando dificuldades para diversas empresas e causando forte impacto nas relações contratuais, os tempos tem sido difíceis para ambos os lados contratantes e que apesar da necessidade de uma lei emergencial para o período atípico que a sociedade vive no momento, conclui-se que, os contratos foram abalados, porém como a sociedade é formado por humanos, este tem a capacidade de se reinventarem, o mesmo se estende aos seus acordos contratuais. Com a vacinação em avanço já há apontamento teóricos para novas mudanças no cenário econômico e logo para o direito empresarial, como se dará isto? Os martelos nos tribunais em pouquíssimo tempo nos dirão.
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