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1 GERIATRIA | HAB. CLÍNICAS | MEDICINA| RAYSSA OLIVEIRA SANTOS Para uma avaliação mais qualitativa e funcional da saúde do idoso é preciso individualizá-lo de forma a promover um melhor atendimento. A avaliação clínica deve ser individualizada em cada fase da vida. Muitas condições peculiares nessa faixa etária, como as demências e as quedas, passam despercebidas ou são mal dimensionadas pela avaliação clínica padrão. O processo diagnóstico e, por vezes de direcionamento terapêutico do idoso é conhecido como “Avaliação Geriátrica Ampla” (AGA). É sempre multidimensional, frequentemente interdisciplinar e tem por objetivo determinar as deficiências e incapacidades apresentadas pelo idoso, objetivando o planejamento do cuidado e de acompanhamento a longo prazo. Ela integra o processo clínico padrão, mas enfatiza a avaliação da capacidade funcional e da qualidade de vida. Parâmetros objetivos de avaliação, com escalas e questionários padronizados, são muitas vezes empregados para esse fim. O primeiro passo para identificar qual paciente idoso mais se beneficiaria da AGA, é a estratificação em níveis de risco para declínio funcional. Uma das formas é a ferramenta IVCF. Trata-se de um instrumento conciso, fácil de ser utilizado e que possui boa correlação com a AGA. O IVCF avalia oito dimensões: a idade; a auto-percepção da saúde; as atividades de vida diária (três AVD instrumentais e uma AVD básica); a cognição; o humor/comportamento; a mobilidade (alcance, preensão e pinça; capacidade aeróbica/muscular; marcha e continência esfincteriana); a comunicação (visão e audição) e; a presença de comorbidades múltiplas, representada por polipatologia, polifarmácia e/ou internação recente. As perguntas podem ser respondidas pelo idoso ou por alguém que conviva com ele. É importante que as respostas sempre sejam confirmadas pelos cuidadores, pois, muitas vezes, o idoso com déficit cognitivo pode não perceber o problema e não apresentar queixa de memória ou de perda funcional nas atividades de vida diária. S A Ú D E D O I D O S O avaliação geriátrica ampla 2 GERIATRIA | HAB. CLÍNICAS | MEDICINA| RAYSSA OLIVEIRA SANTOS Cada pergunta recebe uma pontuação específica, de acordo com o desempenho do idoso, no total de 40 pontos. Além das perguntas, algumas medidas, como a circunferência da panturrilha, a velocidade da marcha e o peso/índice de massa corporal, são incluídas para aumentar o valor preditivo do instrumento. E S C O R E A pontuação gera três classificações: de 0 a 6 pontos, o idoso tem provavelmente baixa vulnerabilidade clínico-funcional, e não necessita de avaliação e acompanhamento especializados; de 7 a 14 pontos, verifica-se risco aumentado de vulnerabilidade, que vai apontar necessidade de avaliação mais ampla e atenção para identificação e tratamento apropriado de condições crônicas; com 15 ou mais pontos, considera-se alto risco de vulnerabilidade ou mesmo fragilidade instalada, que exigem avaliação ampliada. 3 GERIATRIA | HAB. CLÍNICAS | MEDICINA| RAYSSA OLIVEIRA SANTOS Uma vez identificados os indivíduos de moderado e alto risco clínico-funcional, é essencial a AGA. Existem diversos modelos disponíveis no Brasil. De forma a avaliar cada um de seus componentes, descreveremos em detalhes aqui o modelo sugerido pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), disponível no site da sociedade. 4 GERIATRIA | HAB. CLÍNICAS | MEDICINA| RAYSSA OLIVEIRA SANTOS I D E N T I F I C A Ç Ã O : Na identificação, já é possível perceber nuances da avaliação do idoso. A situação conjugal e o local de residência podem ser marcadores de vulnerabilidade social e de saúde, na medida em que viúvos e residentes de instituições de longa permanência tendem a ter piores desfechos em várias condições de saúde. Outros pontos relevantes são a escolaridade e as fontes de renda, medida para acesso e aderência aos tratamentos. Aspectos religiosos são importantes, tanto pelo engajamento social, quanto na perspectiva da preparação para o fim da vida. D I A G N Ó S T I C O S / M E D I C A M E N T O S : Na pessoa idosa, a presença de comorbidades é a regra. A coexistência de mais de uma doença torna novos diagnósticos e as intervenções terapêuticas mais complexos. Um inventário com os problemas mais relevantes para aquele indivíduo norteia as futuras condutas, bem como permite a comunicação com outros integrantes da equipe que assistem o paciente, assim como o estadiamento de cada uma das principais doenças. Entre as intervenções em saúde, o uso de medicamentos é a principal forma de iatrogenia no idoso. Pessoas idosas frequentemente utilizam muitos medicamentos, prescritos por diferentes médicos, adquiridos de parentes ou nas farmácias, o que aumenta o risco de interações medicamentosas e eventos adversos. Todos os fármacos em uso devem ser revistos a cada encontro com o paciente. O melhor método para se detectar risco de problemas relacionados a medicamentos é pedir ao idoso que traga todos medicamentos à consulta, incluindo vitaminas, herbais e aqueles adquiridos por outra via que não a prescrição médica. POLIFARMÁCIA é o termo que indica o uso concomitante de cinco ou mais medicamentos, que marca o aumento do risco de ventos adversos relacionados a fármacos. D I M E N S Ã O F U N C I O N A L : 5 GERIATRIA | HAB. CLÍNICAS | MEDICINA| RAYSSA OLIVEIRA SANTOS Funcionalidade é a capacidade de gerir a própria vida e de cuidar de si mesmo. Uma pessoa é considerada saudável quando é capaz de realizar suas atividades sozinha, de forma independente e autônoma, ainda que tenha doenças. A perda de funcionalidade não é natural à medida que envelhecemos e exige investigação e intervenções apropriadas. Um idoso deve ser avaliado em três níveis de funcionalidade: nas atividades da vida diária (AVD ́s) básicas, aquelas desempenhadas para o autocuidado; as AVD ́s instrumentais, aquelas relativas à habilidade para manter de modo independente as atividades domésticas; as AVD ́s avançadas, relativas aos papeis sociais, comunitário ou laboral. A seguir, relacionamos, nas tabelas 2 e 3, dois instrumentos simples de avaliação das AVD ́s básicas e instrumentais, amplamente utilizadas no nosso meio e indicadas na diretriz da SBGG. 6 GERIATRIA | HAB. CLÍNICAS | MEDICINA| RAYSSA OLIVEIRA SANTOS Ressalta-se aqui a pesquisa de incontinências, condições comuns e com grave repercussão na vida do idoso. São definidas com a perda involuntária de urina ou de fezes, quase sempre com problemas sociais graves.. Sua intensidade pode variar desde episódios ocasionais de gotejamento de pequenas quantidades de urina até a incontinência urinária (IU) e/ou fecal contínuas. A saúde física, o bem-estar psicológico, as condições sociais e os custos com a assistência à saúde podem ser afetados negativamente pelas incontinências. Muitas das incontinências são tratáveis, desde que devidamente reconhecidas. Adicionalmente às medidas de avaliação de independência para AVD ́s, é importante determinar o risco de quedas, que está intrinsecamente relacionado à marcha. Por si só, a redução da mobilidade e os distúrbios da marcha são marcadores de pior prognóstico no idoso. Todo idoso deve ser inquirido ativamente quanto à ocorrência de quedas. Mais de um evento no último ano, uma ou mais quedas com lesões secundárias, o idoso que refere desequilíbrio e o desequilíbrio detectado no exame físico são preditores de risco aumentado de quedas e indicam necessidade de avaliação pormenorizada. Testes específicos podem auxiliar na avaliação, sobretudo por torná-la mais objetiva e para se observar resposta aos tratamentos. A descrição desses testes pode ser vista na tabela 4.7 GERIATRIA | HAB. CLÍNICAS | MEDICINA| RAYSSA OLIVEIRA SANTOS A V A L I A Ç Ã O N E U R O P S I C O L Ó G I C A : A Incapacidade Cognitiva é um dos principais problemas da saúde do idoso. O termo cognição refere-se ao conjunto das capacidades mentais superiores. Todas às vezes, em que há um comprometimento dessas funções, capaz de prejudicar ou mesmo impedir a pessoa de gerir a própria vida ou cuidar de si mesmo, há Incapacidade Cognitiva. Termos como “confusão” e “lucidez” são muito amplos e imprecisos e têm pouca utilidade clínica. Todo paciente acima de 60 anos, sobretudo aqueles com suspeita de Incapacidade Cognitiva, devem ser avaliados globalmente, uma vez que comorbidades frequentemente são causa ou fator de piora da cognição. A anamnese e o exame físico devem, portanto, ser abrangentes. O histórico de medicamentos, o uso de drogas lícitas ou ilícitas, trauma crânio-encefálico e doenças psiquiátricas devem ser investigados, assim como internações hospitalares e outras intervenções terapêuticas. Também é fundamental a avaliação quanto à presença de depressão, uma vez que ela pode ser causa ou associar-se a outras causas de deterioração da cognição. Instrumentos como a Escala de Depressão Geriátrica são úteis para rastreamento dessa condição (tabela 5). Juntamente com a avaliação das atividades da vida diária e o rastreamento de depressão, testes simples de avaliação da cognição podem ser realizados em qualquer contexto e fornecem importantes parâmetros sobre o status cognitivo do idoso. A tabela 6 relaciona alguns dos testes mais empregados, seus componentes e a maneira de interpretá-los. Deve ser ressaltado que nenhum resultado dos testes de avaliação cognitiva comprova ou afasta definitivamente o diagnóstico de demência. A avaliação global do quadro clínico, associado com a observação de desempenho em atividades da vida diária é essencial. 8 GERIATRIA | HAB. CLÍNICAS | MEDICINA| RAYSSA OLIVEIRA SANTOS A V A L I A Ç Ã O N U T R I C I O N A L : O estado nutricional alterado associa-se a inúmeras doenças no idoso, piora seu prognóstico e também a qualidade de vida. Por outro lado, um bom cuidado nutricional parece estar diretamente relacionado ao envelhecimento bem-sucedido. Há várias formas de se identificar o idoso que se encontra em risco ou com comprometimento nutricional. A triagem pelo questionário de Mini Avaliação Nutricional (tabela 7) pode ser um ponto de partida. O principal parâmetro antropométrico útil à avaliação nutricional no idoso é o índice de massa corporal (IMC), obtido dividindo-se o peso corporal (kg) pela altura ao quadrado (m2). Tanto o baixo peso quanto o sobrepeso têm efeitos deletérios conhecidos para a saúde geral. Importante ressaltar que os valores do IMC aumentam com o passar da idade, uma vez que a adiposidade aumenta, mesmo com o peso estável. Consequentemente, para os idosos, sugerem-se diretrizes de idade-específica para o IMC, que compreende o intervalo entre 22 e 27kg/m2. Valores de IMC abaixo de 22 e acima de 27 devem ser considerados como risco potencial para deterioração da saúde geral. 9 GERIATRIA | HAB. CLÍNICAS | MEDICINA| RAYSSA OLIVEIRA SANTOS Outra medida útil, que avalia não somente o estado nutricional, mas também a capacidade funcional e o risco de quedas, é a circunferência da panturrilha (CP). Uma CP inferior a 31 cm é considerada, atualmente, o importante indicador clínico de sarcopenia, risco de incapacidade funcional e de queda. R I S C O C A R D I O V A S C U L A R E A L C O O L I S M O : Apesar da prevalência de tabagismo hoje ser menor em idosos, quando comparados aos adultos mais jovens, a carga tabágica maior implica maior risco para doenças relacionadas ao cigarro. Há benefícios em parar de fumar, mesmo na idade avançada. Quando uma pessoa para de fumar aos 65 anos, estima-se que homens aumentem a expectativa de vida em 1,4-2,0 anos e mulheres, em 2,7-3,4 anos. Em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica, sua maioria composta de idosos, a melhora sintomática após a cessação do tabaco é evidente. O hábito de tabagismo deve ser avaliado em toda pessoa idosa, assim como o aconselhamento e o tratamento para a cessação do tabagismo. Aproximadamente, 15% dos idosos evoluem com problemas de saúde relacionados ao consumo de álcool, sobretudo por sua interação com medicamentos e condições crônicas. Dois a quatro por cento preenchem critérios para alcoolismo. O uso de bebidas alcoólicas pode impactar negativamente na funcionalidade e na cognição. Fatores de risco para abuso de álcool em idosos incluem: luto depressão, ansiedade dor incapacidade física e história prévia de abuso de bebidas alcoólicas. O aconselhamento médico é efetivo na redução do uso de álcool e deve sempre ser utilizado. Na medida em que não há níveis seguros ou benéficos para consumo de álcool bem determinados, esse não deve ser uma recomendação para manutenção da saúde de idosos. Um idoso fisicamente ativo tende a ser mais saudável quando comparado ao sedentário. Os benefícios da atividade física vão além da prevenção de doenças cardiovasculares. Qualquer quantidade de atividade física é melhor que nenhuma e nunca é tarde para se tornar fisicamente ativo. Portanto, é essencial delimitar o tipo, a frequência e a intensidade das atividades físicas praticadas, incluindo as aeróbicas, de flexibilidade, fortalecimento muscular e equilíbrio. O incentivo à prática de atividades físicas para o idoso sedentário deve ser sempre feito, adaptadas às condições crônicas e de funcionalidade de cada indivíduo. D É F I C I T S S E N S O R I A I S E S O N O : Mudanças na acuidade visual e auditiva seguem invariavelmente o envelhecimento. A baixa acuidade visual é um fator de risco para quedas e, em alguns estudos, está associada a aumento da mortalidade. 10 GERIATRIA | HAB. CLÍNICAS | MEDICINA| RAYSSA OLIVEIRA SANTOS O impacto na perda visual em qualidade de vida é significativo, e muitas de suas causas são potencialmente tratáveis. É importante que o idoso faça uma avaliação oftalmológica a cada um ou dois anos, para se identificarem lesões que exijam tratamentos específicos. A perda auditiva é a terceira condição crônica que mais interfere na qualidade de vida do idoso, atrás apenas da hipertensão e da osteoartrose. São consequências da presbiacusia, depressão, isolamento social, aumento do risco de hospitalização, declínio cognitivo e perda funcional. A audiometria tonal é o teste de escolha para avaliação de perdas auditivas, mas testes simples como o de sussurro são sensíveis e específicos na detecção de perdas auditivas relevantes. A identificação pode, assim, direcionar para os tratamentos adequados. Aproximadamente 50% dos idosos referem dificuldade para dormir. A piora do sono não é consequência do envelhecimento, mas de doenças que o acompanham, maior número de medicamentos e aumento da incidência de doenças específicas do sono. O histórico de dificuldades para dormir e um registro dos padrões de sono são, em geral, suficientes para diagnóstico e direcionamento do tratamento. A melhora desses problemas resulta na melhora significativa da qualidade de vida e na funcionalidade diurna dos idosos. A vacinação está diretamente relacionada à melhor qualidade e à expectativa de vida. Pessoas imunocompetentes têm mais condições de enfrentar adversidades associadas à ação de vírus e bactérias, portanto, é um grande equívoco negligenciar a prevenção de danos à saúde por meio de vacinas, independentemente da faixa etária. De modo geral, todas as vacinas podem ser aplicadas aos idosos. Algumas requerem precauções especiais, como é o caso da vacina do sarampo, da caxumba, da rubéola, da varicela e da febre amarela, compostas de vírus vivos atenuados. Os principais objetivos da vacinação em idosos são evitar doençasinfecciosas potencialmente graves; reduzir a suscetibilidade e o risco de quadros infecciosos graves pela presença de comorbidades; prevenir a descompensação de doenças crônicas de base causada por doenças infecciosas; melhorar a qualidade e a expectativa de vida. Um dos principais determinantes em saúde do idoso é o grau de suporte social, sobretudo no âmbito familiar. Com o evoluir das perdas funcionais, isso fica mais evidente, e a presença de cuidadores, sejam formais ou informais, se faz essencial para o cumprimento de qualquer plano de cuidado. Para se avaliar o grau de suporte social, no paciente sem déficit cognitivo grave, recomenda-se o questionário APGAR da família, destinado a refletir a experiência do idoso com seus relacionamentos mais próximos. 11 GERIATRIA | HAB. CLÍNICAS | MEDICINA| RAYSSA OLIVEIRA SANTOS O acrônimo APGAR, proveniente da língua Inglesa, é de Adaptação (“adaptation”), Participação (“partneship”), Crescimento (“growth”), Afeição (“affection”) e Resolução (“resolution”). O paciente assinala uma das três escolhas, as quais têm a seguinte pontuação: 2 pontos para "Quase sempre", 1 ponto para "Às vezes", e 0 para "Raramente". Os pontos para cada uma das cinco questões são totalizados. O resultado de 7 a 10 sugere uma família altamente funcional. O resultado de 4 a 6 sugere uma família moderadamente disfuncional. O resultado de 0 a 3 sugere uma família gravemente disfuncional. Conhecidas como os 5 is Insuficiência cognitiva Incontinência urinária e/ou fecal Instabilidade postural e quedas Imobilidade Iatrogenia Sarcopenia/fragilidade • geralmente têm múltiplas etiologias • não constituem risco de vida eminente, mas associam-se a maior mortalidade • podem ocorrer concomitantemente e compartilham fatores de risco entre si • Associam-se a perda de funcionalidade e comprometem a qualidade de vida 12 GERIATRIA | HAB. CLÍNICAS | MEDICINA| RAYSSA OLIVEIRA SANTOS Uma das medidas adotadas para a adequação da atenção aos idosos é o rastreamento de problemas de saúde por meio de ferramentas padronizadas, possibilitando a identificação de pacientes que necessitam de intervenções específicas e individualizadas, de acordo com o problema apresentado. Realizado numa etapa prévia à consulta médica, com questionários e técnicas passíveis de serem utilizados por diferentes profissionais de saúde, o rastreamento de transtornos nos níveis físico, mental e social possibilita a otimização dela. Embora se perceba a necessidade de avaliação global dos idosos, não são muitos os instrumentos capazes de realizar a triagem de várias funções ao mesmo tempo, por exame direto. É possível identificar na literatura abordagens por telefone e questionários de autoavaliação, estratégias de eficácia questionável em regiões onde predominam a pobreza e a baixa escolaridade, onde o exame objetivo traria mais benefícios. Outros instrumentos multidimensionais têm sido elaborados, como o de Overcash et al destinado, segundo os autores, ao “pré- rastreamento” de idosos atendidos em serviços de oncologia. Focalizada em apenas quatro dimensões, esta “AGA abreviada” (AGA- a), de acordo com os autores, contém os 19 elementos com a maior correlação item-escala de instrumentos de avaliação de AVDs (3), AIVDs (4), depressão (4) e cognição (8), dentre os quais o MEEM e a Escala de Katz. Subescores para cognição e depressão indicam a necessidade de aplicar todo o instrumento, mas com relação à capacidade funcional, não há pontos de corte e a necessidade de assistência em qualquer função implica em avaliação completa da dimensão. 13 GERIATRIA | HAB. CLÍNICAS | MEDICINA| RAYSSA OLIVEIRA SANTOS orientação • Dias da semana (1 ponto) • Dia do mês (1 ponto) • Mês (1 ponto) • Ano (1 ponto) • Hora (1 ponto) – aceitar erro de até 60 min • Local específico (1 ponto) • Instituição (casa ou rua) (1 ponto) • Bairro ou rua próxima (1 ponto) • Cidade (1 ponto) • Estado (1 ponto) registro Repetir as palavras (3 pontos): • vaso • carro • tijolo (Pontue as palavras repetidas na primeira tentativa. Se houver erros, repita até 3 vezes para o aprendizado). cálculo Sete seriado: • 100-7= • 93-7= • 86-7= • 79-7= • 72-7= • 65.... 14 GERIATRIA | HAB. CLÍNICAS | MEDICINA| RAYSSA OLIVEIRA SANTOS (Se houver erro prossiga a partir do número correto. Considere correto se o indivíduo se corrigir espontaneamente). MEMÓRIA DE EVOCAÇÃO (3 pontos) linguagem Aponte para um lápis e um relógio (2 pontos) Repetir “nem aqui, nem ali, nem lá” (1 ponto) . COMANDO DE 3 ESTÁGIOS (3 pontos) . • (Pegue o papel com a mão direita, dobre no meio e coloque no chão) LER E OBEDECER À FRASE FECHE OS OLHOS ESCREVER UMA FRASE QUE FAÇA SENTIDO (1 ponto) COPIE O DESENHO ABAIXO (1 ponto) resultado Normal: >=26pontos (8 ou + anos de escolaridade); 22 pontos (4 anos); 18 (analfabeto). Uma pontuação > 5 indica rastreio positivo para transtorno depressivo Pontuação > 8 depressão moderada Pontuação > 10 depressão grave 15 GERIATRIA | HAB. CLÍNICAS | MEDICINA| RAYSSA OLIVEIRA SANTOS O objetivo do cálculo do risco cardiovascular global é identificar os indivíduos que devem ser aconselhados e que devem receber tratamento para prevenir a doença cardiovascular, bem como estabelecer o nível de agressividade da terapêutica. a quem deve calcular o risco cardiovascular global? O risco cardiovascular global deve ser calculado nos indivíduos considerados em risco de desenvolver doença aterosclerótica, ou seja, em prevenção primária da doença cardiovascular. Estes indivíduos são os que têm fatores de risco mas ainda sem doença estabelecida. Os indivíduos com doença aterosclerótica estabelecida, são considerados de alto risco e devem ser abordados de forma intensiva, tratando todos os factores de risco agressivamente. Os doentes com Diabetes Mellitus (DM)tipo 2, os com Diabetes Mellitus tipo 1 com microalbuminúria, os indivíduos com níveis muito elevados de um único fator de risco, os com aneurisma da aorta abdominal ou com Insuficiência Renal Crónica são considerados, em termos de risco cardiovascular global, equivalentes aos doentes com doença cardiovascular estabelecida e devem ser abordados como de alto risco. Nos casos considerados de alto risco, o cálculo do risco cardiovascular global não é utilizado para avaliar o grau de risco, uma vez que esse já é conhecido, mas pode ser útil para avaliar o benefício das intervenções terapêuticas usadas, ao permitir comparar um valor prévio de risco com um segundo, obtido após terapêutica. como calcular? Para calcular o risco cardiovascular global, e de acordo com as European Guidelines on Cardiovascular Disease Prevention, 1 deve fazer-se a avaliação dos seguintes parâmetros: Anamnese: história de doença cardiovascular prévia, história familiar de doença cardiovascular prematura, tabagismo, hábitos dietéticos, actividade física, nível social e educacional; Exame objetivo: pressão arterial, frequência cardíaca, ausculta cardiopulmonar, palpação de pulsos periféricos, índice de massa corporal, perímetro da cintura, fundoscopia [se houver hipertensão arterial (HTA) grave]; 16 GERIATRIA | HAB. CLÍNICAS | MEDICINA| RAYSSA OLIVEIRA SANTOS Foram criadas escalas de avaliação do risco cardiovascular global, instrumentos que permitem quantificar o risco de um determinado indivíduo, resultante da presença simultânea de vários fatores de risco cardiovascular. O uso destas escalas vai permitir: Quantificar o risco e identificar quais os indivíduos com risco elevado; Avaliar a necessidade e a intensidade da intervenção terapêutica, ao estabelecer valores de risco a partir dos quais deve ser ponderada a introdução de terapêutica farmacológica, para além das medidas terapêuticas não farmacológicas; Motivar os indivíduospara alterar comportamentos, uma vez que são instrumentos muito úteis para explicar o conceito de risco cardiovascular, bem como as implicações de ter um risco elevado e ilustrar quais os benefícios passíveis de serem obtidos com a redução dos fatores de risco existentes. De acordo com o valor de risco obtido, definir intervalos de vigilância médica e estabelecer objetivos terapêuticos. Existem várias escalas para cálculo do risco cardiovascular global. Abordaremos as escalas de Framingham (ver Figura 1 e 2) e SCORE (Systematic COronary Risk Evaluation)(ver Figura 3), pelas seguintes razões: A escala de Framingham, americana, teve uma importância muito grande no desenvolvimento do conceito de risco global e é a base da criação de muitas outras escalas, incluindo a usada no Adult Treatment Panel III (ATP III); O SCORE é o instrumento recomendado na Europa e no nosso país, de acordo com a circular normativa da Direção-geral de Saúde, publicada em Abril de 2007 escala de framingham Foram criadas quatro folhas de cálculo do risco cardiovascular: uma com base no colesterol total e outra no colesterol LDL, para cada um dos sexos. Os parâmetros usados para o cálculo do risco cardiovascular global são, em categorias, a idade, o colesterol total, o colesterol HDL, a pressão arterial e ainda a presença ou não de diabetes e tabagismo. Um risco aos 10 anos superior ou igual a 20% foi arbitrariamente recomendado como o limite a partir do qual deverá haver uma intensa intervenção para modificação dos fatores de risco. Um risco absoluto global aos 10 anos de 20% significa que, nos próximos 10 anos, em cem indivíduos com os mesmos fatores de risco, vinte vão sofrer um evento coronário (fatal ou não fatal). Existe ainda uma tabela que permite o cálculo do risco relativo, ou seja, relaciona o valor obtido com o valor médio de risco para uma pessoa da mesma idade. O cálculo do risco relativo é importante porque a idade, só por si, constitui um fator de risco cardiovascular. Este facto assume particular relevância nos extremos etários, porque o risco absoluto tende a ser baixo nos jovens e elevado nos idosos. A riscos absolutos baixos pode corresponder riscos relativos elevados e vice-versa. 17 GERIATRIA | HAB. CLÍNICAS | MEDICINA| RAYSSA OLIVEIRA SANTOS escala score O SCORE foi elaborado por várias sociedades europeias Pretende substituir ou complementar o Framingham nos países europeus. Foi iniciado em 1994 e é baseado em bases de dados muito maiores do que o estudo de Framingham Criou folhas de cálculo para as regiões da Europa consideradas de baixo e de alto risco cardiovascular. Este aspecto é importante porque há grandes diferenças na Europa no que respeita às mortes por IAM e AVC. Esta escala avalia mortalidade por doença cardiovascular total (exclui os eventos não fatais). O valor obtido corresponde ao risco absoluto de doença cardiovascular fatal aos 10 anos (doença coronária fatal + doença não coronária fatal – AVC fatal e doença vascular periférica fatal). O SCORE é constituído por duas tabelas, uma para cada sexo, subdivididas em duas outras – para fumadores e não fumadores. As idades estão organizadas em escalões, assim como os valores do colesterol e da pressão arterial sistólica. As tabelas apresentam maior detalhe nas faixas etárias dos 50 aos 65 anos, período em que as mudanças no risco ocorrem mais rapidamente. Suprimiu-se a faixa etária dos 30 anos, uma vez que estes estão praticamente isentos de risco nos próximos dez anos. Assim, mostrar-lhes o risco poderia dar uma mensagem errada sobre o risco a longo prazo dos indivíduos jovens com fatores de risco elevados. No SCORE existem dois modelos: um baseado no colesterol total; outro na razão colesterol total/colesterol HDL. Pessoas com múltiplos factores de risco tendem a ter níveis de colesterol HDL mais baixos, o que sustenta a preocupação de que ao não considerar o valor do HDL se esteja a subestimar o risco. O valor de risco obtido deve ser multiplicado por 4 no caso das mulheres diabéticas e por 2 nos homens diabéticos. Deve ser multiplicado por 1,5 se houver antecedentes pessoais de AVC. As intervenções terapêuticas não farmacológicas e farmacológicas agressivas são recomendadas para riscos iguais ou superiores a 5%. Existe também uma tabela de risco relativo. Os endpoints utilizados são reprodutíveis, o que constitui uma grande vantagem em relação à escala de Framingham. O risco de morte por doença coronária e não coronária (AVC e doença vascular periférica) podem ser avaliados separadamente, através das aplicações informáticas. A doença cardiovascular não coronária representa uma grande proporção do total do risco cardiovascular nas regiões da Europa com taxas mais baixas de doença coronária, pelo que o seu cálculo é importante. 18 GERIATRIA | HAB. CLÍNICAS | MEDICINA| RAYSSA OLIVEIRA SANTOS No entanto, salienta-se que o cálculo do risco cardiovascular total é preferível quando se tomam decisões terapêuticas ou quando se faz educação do doente.
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