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BIOMEDICINA CIÊNCIAS BIOMÉDICAS APLICADAS 1. Gônadas: ovários e testículos • Desordens gonadais femininas e masculinas • Puberdade normal e os distúrbios puberais • Menopausa • Diagnóstico laboratorial: LH, FSH, hCG, Testosterona total e livre, estradiol, androstenediona, DHEA, DHEA-S, 17- OH-progesterona, PRL e progesterona. Testes de estímulo com GnRH. 2. Tumores hipofisários • Hiperprolactinemia e prolactinomas • Acromegalia 3. Glândulas Adrenais • Síndrome de Cushing • Insuficiência adrenal primária e secundária • Diagnóstico laboratorial: Cortisol sérico basal, ritmo circadiano, cortisol salivar, cortisol livre urinário (24 hs), teste de supressão com dexametasona (1 mg e 2 mg) e dosagem de ACTH. Testes: ITT e estímulo com ACTH sintético. 4. Doenças osteometabólicas • Osteoporose • Hipocalcemia, hipercalcemia. • Diagnóstico laboratorial: Cálcio sérico (total, livre), cálcio urinário (24 hs), fósforo sérico, fósforo urinário (24hs), paratormônio (PTH), PTHrp, fosfatase alcalina, densitometria óssea, raio X. 5. Marcadores tumorais (somente para alunos de Hormônios II isolado) • Calcitonina (CT); Tireoglobulina (TG) • Antígeno carcinoembrionário (CEA); -fetoproteína (-FP) • Gonadotrofina coriônica humana (hCG) • Antígeno prostático específico (PSA): total e livre • CA 15-3; CA 19-9; CA 125 6. Discussão de artigos e casos clínicos Hormônios II 2 ESTEROIDOGÊNESE COLESTEROL DHEA-SULFATO Colesterol desmolase 17-hidroxilase 17-20 liase PREGNENOLONA 17-0H-PREGNENOLONA DHEA ANDROSTENEDIOL 3 ol desidrogenase 17-hidroxilase 17-20 liase 5-redutase PROGESTERONA 17-0H-PROGESTERONA ANDROSTENEDIONA TESTO DHT 21-hidroxilase aromatase aromatase DESOXICORTICOSTERONA 11-DESOXICORTISOL ESTRONA ESTRADIOL 11-hidroxilase (composto S) CORTICOSTERONA CMO I 18-OH-CORTICOSTERONA CORTISOL CMO II (composto F) ALDOSTERONA ZONA GLOMERULAR ZONA FASCICULADA ZONA RETICULAR Hormônios II 3 GÔNADAS As gônadas governam o desenvolvimento, a maturação e a nutrição das células germinativas. Ajudam, também, no crescimento inicial e no desenvolvimento da prole, no organismo da mãe. DIFERENCIAÇÃO SEXUAL Durante as primeiras 5 semanas de gestação as gônadas masculina e feminina são indiferenciáveis. As células germinativas primordiais geram as oogônias e espermatogônias, que se transformam em ovócitos e espermatozóides. Uma linhagem celular da gônada indiferenciada transforma-se nas células da granulosa do folículo ovariano e nas células de Sertoli dos túbulos seminíferos testiculares. A função destas células é homóloga: sustentar as células germinativas, estimular sua maturação e orientar seu movimento para o interior do sistema de ductos genitais. Além de produzir os hormônios estrogênicos nas mulheres. Outra linhagem celular da gônada indiferenciada, as células intersticiais, dá origem às células da teca no ovário e às células de Leydig no testículo. A função primária desta linhagem celular consiste em secretar os hormônios androgênicos. No homem eles são importantes na diferenciação sexual e produção dos espermatozóides, enquanto na mulher os andrógenos são precursores para a síntese de estrógenos. A diferenciação sexual dos órgãos genitais internos depende do testículo. Se o testículo é normal, provoca uma diferenciação masculina, que se completa até a 12ª semana de vida intra-uterina, através da secreção de testosterona, que desenvolve os ductos de Wolff, e do hormônios antimülleriano, que provoca a regressão dos respectivos ductos de Müller. A testosterona provoca também a virilização dos órgãos genitais externos. Um indivíduo de cariótipo masculino poderá não ter virilização dos órgãos genitais externos devido a transtornos de síntese de testosterona ou a um transtorno da receptividade dos androgênios. SÍNTESE DOS ESTERÓIDES GONADAIS – esteroidogênese a partir do colesterol (vide figura anexa) CONTROLE DA SECREÇÃO HORMONAL: O hormônio hipotalâmico GnRH estimula os gonadotrofos da hipófise anterior a sintetizarem e secretarem as gonadotrofinas – LH e FSH. Os neurônios secretores de GnRH são encontrados na área pré- óptica do hipotálamo anterior, com terminações nervosas na porção lateral da eminência mediana. As gonadotrofinas se ligam aos receptores ovarianos e testiculares e regulam a função gonadal, promovendo a produção dos esteróides sexuais (esteroidogênese) e a gametogênese. A secreção das gonadotrofinas é episódica, com picos a cada 90-120 minutos. As gonadotrofinas são hormônios glicoproteicos, compostos de duas subunidades: e . A subunidade é idêntica à encontrada nas moléculas de LH, hCG (gonadotrofina coriônica) e TSH. A subunidade confere especificidade e atividade biológica à molécula. A subunidade do LH é homóloga à do hCG. Na mulher, no início da fase folicular, o hipotálamo secreta GnRH em resposta aos baixos níveis de estrógenos. O GnRH estimula as secreções de LH e FSH. O FSH estimula o crescimento folicular e a síntese de estrógeno pelo folículo. Os níveis de estrógenos aumentam e causam um feedback positivo nas secreções de LH e FSH, resultando nos picos pré-ovulatórios de LH e FSH. O pico de LH no meio do ciclo leva à ovulação. Após a ovulação, o LH estimula a produção de estrógenos e progesterona pelas células da teca interna do corpo lúteo, o que faz com que os níveis de gonadotrofinas caiam. No fim do ciclo, o corpo Hormônios II 4 lúteo regride, por falta de LH, e a produção de estrógenos e progesterona cai. No caso do óvulo ser fertilizado e implantado no endométrio, a placenta começa a secretar hCG, que mantém o corpo lúteo e continua a produção de estrógenos e progesterona. A secreção de estrógeno pelo folículo é dependente do LH e FSH. Na infância, as liberações de LH e FSH são fortemente inibidas, apesar dos baixos níveis de esteróides gonadais. A puberdade geralmente é iniciada com o surgimento de picos noturnos de LH nos meninos e secreção cíclica de LH e FSH nas meninas. Assim, a secreção das gonadotrofinas aumenta, estimulando a produção de esteróides gonadais, levando ao desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários. Após a 5ª década de vida, em ambos os sexos, ocorre queda da função gonadal. Nos homens este declínio é gradual, enquanto nas mulheres a capacidade reprodutiva é perdida completamente, ocorrendo a menopausa. Na ausência de feedback negativo pelos hormônios gonadais as gonadotrofinas se elevam, sendo o aumento de FSH maior que o de LH. Nos homens, o FSH estimula o crescimento testicular e aumenta a produção da proteína ligadora de andrógenos pela célula de Sertoli. Esta proteína mantém a alta concentração local de testosterona, um fator essencial para o desenvolvimento da espermatogênese normal (estimula a espermatogênese). O LH age nas células intersticiais ou de Leydig estimulando a produção de testosterona. LH e FSH são importantes para a maturação dos espermatozóides. Alças de feedback: • Feedback positivo: o estrógeno influencia positivamente os efeitos do GnRH nas secreções de LH e FSH. A progesterona amplia a duração dos picos de LH e FSH e aumenta o efeito dos estrógenos. • Feedback negativo: a secreção de FSH na mulher é regulada por feedback negativo dos estrógenos e inibina. Na mulher, a falência gonadal primária ou menopausa resultam em aumento nos níveis de LH e FSH; no homem, a falência gonadal primária também aumenta o LH e FSH. A destruição seletiva dos túbulos seminíferos resulta em azoospermia e aumento somente do FSH. A inibina é um polipeptídeo secretado pelas células de Sertoli dos túbulos seminíferos. É o maior fator que inibe a secreção de FSH por feedback negativo. Os andrógenos estimulam a produção de inibina.TESTÍCULOS Os testículos pesam em média 40g cada, com um diâmetro longitudinal de aproximadamente 4,5 cm no adulto. 80% do testículo adulto são constituídos por túbulos seminíferos; os 20% restantes são formados por tecido conjuntivo, dentro do qual estão espalhadas as células de Leydig. Os túbulos seminíferos são uma massa de alças que drenam, através dos dúctulos deferentes, para o epidídimo. Este funciona como local de armazenamento e de maturação para os espermatozóides. Cada túbulo é limitado por uma membrana basal, que o separa das células de Leydig e do tecido conjuntivo. Imediatamente abaixo da membrana basal estão localizadas as espermatogônias e as células de Sertoli. À medida que as espermatogônias se dividem e se transformam, sucessivamente, em espermatócitos e espermátides, é formada uma coluna de células germinativas, que vai da membrana basal até a luz do túbulo, culminando nos espermatozóides. Hormônios II 5 As células de Leydig são células puramente secretoras de esteróides. Seu principal produto, a testosterona, exerce efeitos locais importantes, tanto sobre a replicação das células germinativas como sobre as células-alvo distantes. A produção de espermatozóides é um processo contínuo, ao longo da vida reprodutiva do homem. São produzidos diariamente cerca de 100 a 200 milhões de espermatozóides. A espermatogênese completa dura cerca de 74 dias. Fisiologia do sistema reprodutor masculino Controle da função testicular: • Eixo hipotálamo-hipófise-célula de Leydig • Eixo hipotálamo-hipófise-túbulos seminíferos HIPOTÁLAMO GnRH Hipófise Anterior LH FSH CÉLULA DE LEYDIG CÉLULA DE SERTOLI Testosterona Espermatozóides e inibina A espermatogênese depende da presença de FSH e de grandes concentrações de andrógenos (testosterona) nos túbulos seminíferos. O feedback da secreção de LH é regulado pelos níveis de testosterona e estradiol; já o feedback do FSH é regulado por um fator não esteróide denominado inibina, originário da célula de Sertoli. Efeitos biológicos dos andrógenos: • Diferenciação sexual das genitálias interna e externa durante o desenvolvimento fetal; • Na puberdade, desenvolvimento órgãos internos e caracteres sexuais secundários; alterações na voz, pêlos corporais e genitais, aumento da massa muscular, aumento da eritropoiese, alterações no comportamento social e estirão do crescimento puberal. Esteróides gonadais: Hormônios Secreção testicular (%) Secreção adrenal (%) Conversão periférica (%) Testosterona Dihidrotestosterona Estradiol DHEA sulfato 95 20 20 < 10 < 1 < 1 < 1 90 < 5 80 80 - Hormônios II 6 5 redutase Testosterona Dihidrotestosterona (DHT) aromatase Estradiol Esteróides (testosterona) no sangue: 60% ligada à SHBG (sex-hormone binding globulin) 38% à albumina 2% livre A SHBG é uma -proteína homóloga à proteína ligadora de andrógenos, secretada pelas células de Sertoli. Fatores que SHBG: estrógenos, hipertiroidismo, cirrose. Fatores que SHBG: andrógenos, hipotiroidismo, obesidade, acromegalia. OVÁRIOS Anatomia: ➢ Ovários maduros: um par de estruturas nodulares, medindo 2,5-5,0 x 2 x 1 cm e pesando de 4 a 8 g, dependendo do ciclo menstrual. Embriologia: os ovários se originam das cristas genitais; as células germinativas primordiais originam-se do endoderma e migram para as cristas genitais em torno da 6a semana de gestação. Estes oócitos primários são circundados por uma camada de epitélio e células mesenquimais formando os folículos primordiais. No meio da gestação os oócitos atingem um pico de 7 milhões. As células germinativas primordiais aumentam de tamanho e se tornam oogônias. No meio da gestação elas começam a primeira divisão meiótica e se tornam oócitos primários. Esta prófase dura até antes da ovulação, que ocorre 12-40 anos mais tarde. Cerca de 400 óvulos são perdidos no processo da ovulação durante a vida da mulher. O restante sofre degeneração e no período da menopausa poucos estão presentes. Histologia: ➢ Uma camada de epitélio germinativo, com células colunares. ➢ Uma camada densa de tecido conjuntivo, chamada túnica albugínea. ➢ Porções cortical e medular. A córtex contém folículos (contém o óvulo e as células da esteroidogênese) em diversos estágios de desenvolvimento, circundado por tecido conjuntivo e células secretoras de esteróides. A medula contém vasos, nervos, fibras musculares lisas e tecido conjuntivo. Hormônios ovarianos: estrógenos, andrógenos, progesterona, inibina, relaxina, ativinas e folistatinas e prostaglandinas. ➢ O ovário é normalmente a maior fonte de estrógenos. Androstenediona é o principal andrógeno secretado pelo ovário, mas pequenas quantidades de DHEA e testosterona também são secretados. ➢ A esteroidogênese folicular ovariana tem sido explicada pelo mecanismo das duas células: células da granulosa e células da teca. Os receptores de FSH presentes na célula da granulosa são estimulados pelo próprio FSH, ou seja, novos receptores são criados pelo próprio estímulo do FSH. Além disso, o Hormônios II 7 FSH induz à atividade da enzima aromatase nas células da granulosa. Por sua vez, os receptores de LH estão presentes nas células da teca e, inicialmente, ausentes nas células da granulosa; mas, com o crescimento dos folículos, o FSH induz o aparecimento de receptores de LH nas células da granulosa. As células de teca são responsáveis pela atividade esteroidogênica estimulada pelo LH, resultando especificamente na produção de andrógenos. A aromatização desses andrógenos para estrógenos é realizada nas células da granulosa, estimulada pelo FSH. ➢ Na síndrome dos ovários policísticos (SOP) os altos níveis de LH podem promover uma produção excessiva de andrógenos pelas células da teca, e as células da granulosa, diante dos níveis mais baixos de FSH, podem ter uma capacidade reduzida de converter estes andrógenos em estrógenos. ➢ Transporte do estradiol: 38% SHBG (grande afinidade), 60% albumina, 1,8 % livre e 0,1% CBG; progesterona se liga fortemente à CBG (17,7%) e fracamente à albumina (80%). O nível de SHBG da mulher é duas vezes o do homem. ➢ Principais funções do ovário adulto: síntese e secreção dos esteróides sexuais e liberação do óvulo maduro a cada 28-30 dias. ➢ Efeitos fisiológicos das esteróides hormonais Os receptores dos estrógenos estão no núcleo, enquanto os da progesterona estão no núcleo e citoplasma. Relaxina: polipeptídeo que parece ter papel no relaxamento dos ligamentos pélvicos e amolecimento da cérvix uterina. Secretada pelas células da granulosa luteinizadas. Seus níveis aumentam após o pico de LH do ciclo menstrual, durante a menstruação e no final do primeiro trimestre de gestação. Inibina: inibe a secreção de FSH; ativina: estimula a secreção de FSH. Folistatina: proteína ligadora de ativina e inibina; modula a secreção de esteróides pelas células da granulosa e retarda o amadurecimento do oócito em desenvolvimento no folículo pré-ovulatório. Ciclo menstrual O ciclo normal é de 21-35 dias, com média de 28 dias. Em mulheres com ciclos ovulatórios o intervalo entre o início da menstruação e a ovulação (fase folicular) é variável, mas a fase lútea é relativamente constante, com média de 14 2 dias. A maior variabilidade na duração do ciclo ocorre nos primeiros anos após a menarca e nos anos anteriores à menopausa (quando os ciclos anovulatórios são mais comuns). Ciclo ovariano: unidade reprodutora básica do ovário – folículo primordial - inativo (oócito pequeno, algumas células da granulosa pouco diferenciadas e membrana basal). Quando o folículo primordial deixa sua fase de repouso, o oócito aumenta de tamanho, a zona pelúcida começa a se formar (circundará o oócito) e as células da granulosa formam uma camada mais diferenciada – folículo primário.Subseqüentemente, as células da granulosa se proliferam formando várias camadas ao redor do oócito e uma camada de células externamente à membrana basal se prolifera formando a teca – folículo secundário. As células da granulosa continuam a se proliferarem, há acúmulo de líquido entre as camadas da granulosa formando o “antrum”. O oócito e parte das células da granulosa são deslocados para um dos lados da cavidade folicular - folículo terciário. Há crescimento rápido do folículo, com acúmulo de líquidos e crescimento das células da granulosa. O folículo atinge 2-2,5 cm de diâmetro pouco antes da ovulação. Após a ovulação as células da granulosa se tornam luteinizadas e juntamente com a camada da teca, formam o corpo lúteo. Na ausência de gestação, o corpo lúteo dura 14 dias e é substituído por tecido fibroso, corpo albicans. Hormônios II 8 No caso de ocorrer a gestação, após a nidação, a placenta começa a produzir hCG, que manterá a produção de progesterona pelo corpo lúteo até que o tecido placentário assuma a secreção de progesterona (em torno de 10ª semana). Principais exames solicitados na investigação das desordens gonadais masculinas: 1. ANÁLISE SÊMEN Com algumas exceções, a análise de sêmen normal exclui disfunção gonadal. No entanto, uma única análise anormal não é suficiente para diagnosticar um distúrbio na função testicular. São necessárias pelo menos 3 amostras de sêmen, examinadas num período de 2 a 3 meses, para que se possa avaliar a função gonadal masculina. O ciclo da espermatogênese se completa em aproximadamente 3 meses. Alguns fatores como febre, trauma, exposição a drogas e outros devem ser questionados, pois podem alterar temporariamente a espermatogênese. 2. TESTOSTERONA TOTAL E LIVRE: nas condições associadas com baixas concentrações de SHBG, considerar a dosagem de testosterona livre. Valores normais: testosterona total (homem) 300-1000 ng/dL; (mulher) 30-90 ng/dL; crianças até 50 ng/dL. testosterona livre (homem) 18-40 pg/mL; homem após 60 anos 10-26 pg/mL; mulher 0,9-3,2 pg/mL; mulher após 60 anos 0,4-2,2 pg/mL. 3. DOSAGENS SÉRICAS DE LH, FSH e PRL: ➢ As dosagens de LH e FSH estão elevadas nos casos hipogonadismo periférico. ➢ A PRL geralmente é dosada nos casos de investigação de hipogonadismo, uma vez que a hiperprolactinemia pode causar falência testicular secundária. A PRL age diretamente sobre o hipotálamo, inibindo a liberação de GnRH, resultando em redução na secreção das gonadotrofinas e testosterona. 4. TESTE DE ESTÍMULO COM hCG (teste do Pregnyl ou Profasi): Indicação: criança com criptorquidia. Permite avaliar a presença de tecido testicular. Pode também servir como um estímulo para a descida dos testículos criptorquídicos. Administrar uma dose semanal de 50 a 100 U/Kg peso por 4 a 6 semanas; colher sangue no basal e 48-72 horas após a última dose. Dosar testosterona e hCG. 5. TESTE DE ESTÍMULO COM GnRH: Indicações: avaliação dos distúrbios puberais e da reserva secretória de LH e FSH Cateterizar veia periférica e mantê-la com solução fisiológica. Aplicar 100 g de GnRH em bolo IV. Tempos de coleta de sangue: 0´ 15´ 30´ 45´ 60´ Dosar LH e FSH em todos os tempos e estradiol/testosterona no tempo zero. Pico de resposta do LH: entre 15 e 30 min. Pico de resposta do FSH: entre 45 e 60 min. Efeitos colaterais: não há. Hormônios II 9 6.CARIÓTIPO Principais exames solicitados na investigação das desordens gonadais femininas: 1. DOSAGENS HORMONAIS: LH, FSH, ESTRADIOL, PROGESTERONA E PROLACTINA: ➢ Os níveis de LH e FSH variam no decorrer do ciclo menstrual, sendo em geral mais baixos na fase lútea. O LH tem um pico imediatamente antes da ovulação. Após a menopausa os níveis de LH e FSH se elevam muito, principalmente os de FSH. ➢ O estradiol ou 17-estradiol é o principal estrogênio de origem ovariana. Em condições normais se eleva na fase folicular, estando um pouco mais baixo na fase lútea. Está diminuído no hipogonadismo, como após a menopausa. ➢ Progesterona: geralmente realizada na fase lútea, se eleva após a ovulação. ➢ Prolactina: geralmente dosada nos casos de irregularidade menstrual e na síndrome dos ovários policísticos (se encontra elevada em 30% dos casos). 2. TESTE DE ESTÍMULO COM GnRH 3. DOSAGENS DE ANDRÓGENOS: testosterona total e livre, androstenediona, 17OH-progesterona, DHEA e DHEA sulfato. 4. OUTRAS DOSAGENS: glicemia, insulina, SHBG e lípides séricos. 5. ULTRASSONOGRAFIA PÉLVICA: avaliar útero e ovários. 6. CARIÓTIPO 7. CITOLOGIA CÉRVICO-VAGINAL Desordens gonadais masculinas O distúrbio gonadal que cursa com insuficiência é denominado hipogonadismo. O hipogonadismo pode se dever a um problema periférico (gonadal), sendo denominado hipogonadismo hipergonadotrófico, ou central (hipofisário ou hipotalâmico), sendo denominado hipogonadismo hipogonadotrófico. 1. SÍNDROME DE KLINEFELTER (disgenesia dos túbulos seminíferos 47,XXY) É a causa mais comum de hipogonadismo masculino. Presente em 0,1% dos bebês masculinos nascidos-vivos. O genótipo clássico é o 47,XXY. Há alta estatura, com proporções eunucóides (membros mais longos que o tronco), testículos pequenos e endurecidos, bem como alterações cognitivas e comportamentais. Se correlaciona positivamente com achados epidemiológicos de pais mais velhos ao nascimento. O defeito cromossômico se expressa na puberdade, quando as gonadotrofinas se elevam, mas os túbulos seminíferos não aumentam e sofrem fibrose e hialinização. Os testículos se tornam firmes e pequenos. Há azoospermia. O desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários pode variar muito entre os indivíduos. As células de Leydig funcionam anormalmente. O mecanismo responsável pela deficiência androgênica é desconhecido e o grau de disfunção das células de Leydig é variável. O estímulo do LH pode causar uma relação aumentada de estradiol/testosterona, resultando em ginecomastia. Há altos níveis de LH e FSH na fase adulta da vida. Hormônios II 10 Há também aumento de SHBG, resultando em testosterona total normal baixa, com testosterona livre baixa. 2. ANORQUIA BILATERAL (síndrome dos testículos evanescentes): Rara; consiste na ausência de testículos palpáveis na bolsa ou no trajeto inguinal. Pode se dever a uma lesão testicular pré-natal, após 16ª semana de gestação, por trauma, infecção, insuficiência vascular, resultando em perda do tecido testicular num paciente com fenótipo masculino normal. Não há desenvolvimento puberal. LH e FSH se elevam na época da puberdade, com testosterona baixa. Há necessidade de exploração cirúrgica cuidadosa para estabelecer o diagnóstico definitivo. Pode ocorrer a anorquia unilateral, que é mais comum. 3. CRIPTORQUIDIA Ausência unilateral ou bilateral dos testículos na bolsa escrotal. 5% dos recém-nascidos a termo apresentam criptorquidia. No primeiro ano de vida a maioria dos testículos desce espontaneamente, reduzindo a incidência para 0,2-0,8% com 1 ano de idade. LH, FSH e testosterona são normais. Não há hipogonadismo. 4. ORQUITE - falência dos túbulos seminíferos no adulto: pode ser causada por infecção gonocócica, hanseníase, irradiação local, vírus da caxumba, uremia, alcoolismo, quimioterápicos, entre outros. Há hipoespermatogênese, aplasia das células germinativas e hialinização tubular. Os testículos apresentam atrofia leve a moderada. Há infertilidade. Análise do sêmen mostra oligo ou azoospermia, com testosterona e LH normais. FSH basal pode ser normal ou alto. 5. HIPOGONADISMO CENTRAL (hipogonadotrófico) Panhipopituitarismo por irradiação, tumor, necrose hipofisária, etc. Síndrome de Kallmann: consiste numa desordem no desenvolvimento migratório dos neurônios GnRH da região do aparelho olfatório para a região pré-óptica do hipotálamo, o que resulta na redução da secreção de GnRH e graus variáveis de hiposmia (reduçãodo olfato). Há atraso puberal e baixos níveis de LH e FSH. 6. TUMORES TESTICULARES 1-2% das neoplasias malignas no homem. 2o tipo de câncer mais freqüente entre 20-34 anos. 95% tem origem nas células germinativas; 5% células do estroma (Células de Leydig). Etiologia: desconhecida. Fatores predisponentes: disgenesia testicular e criptorquidia. Marcadores tumorais: • hCG aumentado em 5-10% dos seminomas, 100% dos coriocarcinomas e em mais de 50% dos teratocarcinomas ou carcinomas de células embrionárias. • fetoproteína: aumentado em 70% dos tumores de células germinativas não-seminomas. • fetoproteína e hCG estão aumentados em 50% dos tumores germinativos não-seminomatosos. Hormônios II 11 7. GINECOMASTIA É comum no período neonatal e está presente em 70% dos meninos na puberdade. Causas: fisiológica (neonatal, puberal), drogas (andrógenos e anabolizantes, estrógenos, drogas anti-androgênicas, cetoconazol, omeprazol, cimetidina, ranitidina, quimioterápicos, amiodarona, verapamil, captopril, etc), hiperprolactinemia, hipertiroidismo, cirrose hepática, uremia, tumores testiculares ou adrenais feminilizantes, etc. Deve-se dosar na investigação: função hepática e renal, hCG, LH, FSH, TSH, PRL, testosterona e estradiol. Mecanismos propostos: desequilíbrio estrógeno/andrógeno, com ação no tecido mamário. Desordens gonadais femininas 1. SÍNDROME DE TURNER: o cariótipo mais freqüente nas pacientes afetadas é 45,X0. É a causa mais comum de falência gonadal (hipogonadismo hipergonadotrófico) na menina. A forma clássica se caracteriza por baixa estatura, puberdade atrasada, amenorréia primária, pescoço alado, tórax em barril, implantação baixa das orelhas e dos cabelos, ovários em fita (disgenesia gonadal), entre outras. As determinações laboratoriais que comprovam a insuficiência ovariana são gonadotrofinas elevadas e estradiol baixo. 2. MENOPAUSA PRECOCE - falência ovariana prematura: geralmente ocorre antes dos 40 anos. Causas: ooforectomia bilateral (retirada cirúrgica dos ovários), quimioterapia, radioterapia e auto- imune (ooforite autoimune). Pode se associar à tiroidite de Hashimoto neste caso. A confirmação diagnóstica é feita com altos níveis de FSH e baixos níveis de estradiol. 3. DESORDENS HIPOFISÁRIAS: tumores, síndrome de Sheehan (necrose hipofisária pós-parto) e outras causas de hipopituitarismo. Há baixos níveis de gonadotrofinas e de estradiol. Não há elevação do LH e FSH após estímulo com GnRH. 4. SÍNDROME DE KALLMANN: hipogonadismo hipogonadotrófico + anosmia. Causado pela falha no desenvolvimento do lobo olfatório e deficiência de GnRH. 5. AMENORRÉIA HIPOTALÂMICA: funcional (doença, estresse, viagens, etc.), em atletas com esforço físico intenso e anorexia nervosa. Hipogonadismo hipogonadotrófico. 6. PSEUDO-HERMAFRODITISMO FEMININO: é o aparecimento de virilização dos órgãos genitais externos em meninas com cariótipo 46,XX, cujos órgãos genitais internos são normais. A virilização se deve a um excesso de andrógenos de origem supra-renal (hiperplasia adrenal congênita) ou materna (tumores virilizantes ou hormônios exógenos). Ao nascimento há genitália ambígua. O cariótipo é importante no diagnóstico e para a correção cirúrgica da genitália. 7. PSEUDO-HERMAFRODITISMO MASCULINO: é a ausência de virilização de um feto masculino portador de testículos e cariótipo 46,XY. Mecanismos: a secreção de testosterona é insuficiente devido a um defeito enzimático da síntese de testosterona a partir do colesterol ou a testosterona é secretada normalmente, porém há um déficit do receptor ou ausência da 5-redutase. A síndrome de feminização testicular é a mais freqüente. A amenorréia se associa a um desenvolvimento Hormônios II 12 incompleto da puberdade feminina. O desenvolvimento dos seios é normal, mas há ausência de pêlos corporais. A vulva é normal, a vagina é reduzida em fundo cego, não se percebendo o útero. Nos grandes lábios ou na região inguinal podem ser percebido as duas pequenas massas, que são os testículos. Diagnóstico: cariótipo. Tratamento: ressecção das gônadas (risco de degeneração) e reposição hormonal. 8. TUMORES OVARIANOS FUNCIONANTES: podem secretar andrógenos, levando à amenorréia e graus variáveis de virilização (aumento de pêlos corporais, alterações da voz, atrofia mamária, acne, aumento do clítoris, etc) ou estrógenos, causando puberdade precoce na criança, sangramento uterino pós-menopausa, irregularidade menstrual ou amenorréia na mulher pré- menopausa. 9. SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS (SOP): é uma síndrome caracterizada por anovulação crônica e hiperandrogenismo, na ausência de outras etiologias que possam ser identificadas (hiperplasia adrenal congênita, síndrome de Cushing e tumores secretores de andrógenos). QUADRO CLÍNICO: irregularidade menstrual, infertilidade, hiperandrogenismo (hirsutismo, acne), obesidade, hipertensão arterial e acantose nigricans e intolerância à glicose ou diabetes mellitus. Há hiperinsulinemia, resistência insulínica e risco aumentado de doença cardiovascular. O hirsutismo consiste na presença de pêlos terminais – grossos e pigmentados – na face, tórax, dorso, abdome inferior e raiz da coxa. ETIOPATOGENIA: Uma das características da SOP são os níveis plasmáticos elevados de LH, sem o pico ovulatório que ocorre no meio do ciclo menstrual normal. A amplitude e freqüência dos pulsos de LH são maiores do que as observadas nas mulheres normais. Sugere-se uma secreção hipotalâmica inadequada de GnRH. O FSH, por sua vez, encontra-se em níveis plasmáticos baixos ou nos limites inferiores da normalidade. Há um estímulo crônico do ovário pelos altos níveis de LH, levando à hipersecreção androgênica e alterações morfológicas ovarianas. Os ovários aumentam de volume, a cápsula se espessa e múltiplos folículos em estágios diferentes de maturação e atresia são encontrados na superfície. Apesar da associação entre SOP e resistência insulínica ser amplamente reconhecida, permanecem dúvidas sobre como se inter-relacionam. A hereditariedade também parece estar relacionada à SOP DIAGNÓSTICO LABORATORIAL: ultra-sonografia pélvica, dosagens de LH, FSH, PRL, testosterona livre e total, DHEA, DHEA-S, androstenediona e 17OH-progesterona. Relação LH/FSH geralmente maior que 2,5. Há hiperprolactinemia entre 11-40% casos. Andrógenos elevados. Hormônios II 13 CLIMATÉRIO Entre, aproximadamente 40-65 anos, as mulheres vivenciam uma fase complexa, denominada climatério, que é uma síndrome de instalação gradual, com sintomatologia variável quanto ao tipo e intensidade e que afeta o organismo como um todo. Durante este período, os ovários, perdem, progressivamente, sua capacidade de produção hormonal e de ovulação. O termo menopausa significa a última menstruação. As alterações na função endócrina não ocorrem abruptamente na menopausa espontânea. O climatério se inicia com a redução dos níveis de estrógenos e inibina decorrentes da diminuição do número de folículos ovarianos. Isso acarretará uma elevação dos níveis de FSH e encurtamento da 1ª fase do ciclo. Posteriormente, a diminuição adicional de folículos resulta em níveis ainda menores de estrógenos, que são incapazes de provocar o pico ovulatório de LH, com conseqüente desaparecimento da ovulação e diminuição da progesterona. Os níveis dos andrógenos também caem. QUADRO CLÍNICO: ondas de calor (fogachos), sudorese, insônia, atrofia do epitélio vaginal e uretral, incontinência e urgência urinária, pele fina e com rugas, queda de pêlos corporais, ansiedade, depressão e irritabilidade. Posteriormente, pode se desenvolver osteoporose, elevação do colesterol plasmático, com aumento do risco de doença coronariana. EXAMES LABORATORIAIS: LH (elevado), FSH (elevado), estradiol (baixo). US pélvico, US mamas, mamografia, densitometria óssea (avaliarperda óssea e risco de osteoporose), glicemia, colesterol total e frações, triglicérides, TSH (descartar associação de hipotiroidismo). PUBERDADE É um estágio no contínuo processo de crescimento e desenvolvimento que se inicia na gestação e persiste até o final da vida reprodutiva. Após um intervalo de inércia durante a infância, o gerador de pulsos hipotalâmicos aumenta sua atividade no período pré-puberal, levando a um aumento na secreção das gonadotrofinas hipofisárias e subseqüente aumento dos esteróides gonadais sexuais, que levam ao desenvolvimento sexual secundário, estirão do crescimento e fertilidade. O início da puberdade vêm se antecipando com os anos, provavelmente devido às melhores condições sócio-econômicas e nutricionais. Vários fatores endógenos e exógenos podem alterar o início da puberdade: obesidade moderada se associa com puberdade adiantada, e obesidade acentuada com atraso puberal. Doença crônica e desnutrição geralmente atrasam a puberdade. A idade da menarca da mãe se correlaciona com a da filha, indicando a presença de fatores genéticos. Conceitos: Telarca – aparecimento das mamas Pubarca – aparecimento dos pêlos pubianos Menarca – primeira menstruação Adrenarca – produção dos andrógenos pelas adrenais Gonadarca – produção dos hormônios sexuais pelas gônadas Classificação da puberdade segundo Tanner (I-II-III-IV-V): usada para avaliar as mamas, os testículos e os pêlos pubianos (meninos e meninas). Hormônios II 14 FISIOLOGIA DA PUBERDADE Alterações físicas associadas à puberdade: Meninas: os primeiros sinais de puberdade são aumento da velocidade de crescimento e desenvolvimento mamário, pela secreção ovariana de estrógenos. O tamanho e formato das mamas são determinados por fatores genéticos e nutricionais. O desenvolvimento dos pêlos pubianos é determinado pela secreção de andrógeno pela adrenal e ovários. A telarca e pubarca geralmente ocorrem concomitantemente. Meninos: o primeiro sinal de puberdade é o aumento testicular (> 2,5 cm ou 4 mL), principalmente pelo desenvolvimento dos túbulos seminíferos secundário ao estímulo pelo FSH. O desenvolvimento dos pêlos pubianos é determinado pela secreção de andrógenos pela adrenal e testículos. Na presença de um tumor secretor de hCG, somente as células de Leydig são estimuladas, e os testículos não crescem como na puberdade normal. Espermarca ocorre nos estádio puberais 3-4. Idade de início da puberdade: dados americanos – meninas de 8 a 13 anos e meninos de 9 a 14 anos. Tempo decorrido entre o início da puberdade e o desenvolvimento adulto completo: meninas – de 1,5-6 anos (média de 4,2 anos); meninos – 2-4,5 anos (média de 3,5 anos). Estirão do crescimento: é o aumento acentuado da velocidade de crescimento que ocorre na puberdade. Envolve um complexo controle endócrino, com participação de vários hormônios, como T3, T4, GH, IGF-I e hormônios sexuais. Nas meninas o estirão se inicia logo no começo da puberdade e se completa geralmente com a menarca. O ganho estatural é de ~ 25 cm. Nos meninos o estirão ocorre no final da puberdade, com ganho de ~28 cm. Alterações na composição corporal: meninos e meninas pré-puberais apresentam igual proporção de massas magra e gorda. Ao final da puberdade, as meninas têm o dobro de tecido adiposo e os meninos 1,5X a quantidade de massa muscular. Outras alterações puberais: ganho de massa óssea, dermatite seborreica, alterações na flora oral, a resistência insulínica se acentua (por aumento do GH), etc. ALTERAÇÕES ENDÓCRINAS DA VIDA FETAL À PUBERDADE Na vida fetal as secreções de GnRH e gonadotrofinas são observadas a partir do final do 1o trimestre, com pico no meio da gestação e queda logo após. No termo, as gonadotrofinas estão suprimidas, mas com o clearance dos altos níveis de estrógenos circulante o feedback negativo diminui surgindo picos de LH e FSH meses após o nascimento. Picos episódicos de gonadotrofinas podem ocorrer até os 2 anos de vida. Após os 2 anos até o início da puberdade as secreções das gonadotrofinas são bem baixas. Na peri-puberdade os picos de GnRH aumentam em freqüência e amplitude durante as primeiras horas de sono e as concentrações de estrógenos e testosterona aumentam algumas horas após. Com o progresso da puberdade os picos ocorrem também durante o dia e finalmente, durante todo o dia. No início da puberdade as gonadotrofinas são bem sensíveis ao feedback negativo das hormônios sexuais, mas com o decorrer da puberdade esta sensibilidade se diminui, requerendo maiores concentrações de esteróides para suprimir o LH e FSH séricos. As concentrações dos esteróides sexuais aumentam com o progredir da puberdade. Resposta ao estímulo com GnRH: em crianças abaixo de 2 anos, as secreções de LH e FSH aumentam marcadamente. No período de “pausa” entre 2 e 9-10 anos o GnRH tem pouco efeito na liberação de LH. Hormônios II 15 No período peri-puberal o GnRH induz o aumento do LH. Esta resposta persiste na vida adulta. Não há alterações significativas na secreção de FSH após estímulo com GnRH com o início da puberdade. OVULAÇÃO E MENARCA: o último estágio no desenvolvimento do eixo hipotálamo-hipofisário é a início do feedback positivo, levando à ovulação e menarca. Os primeiros ciclos menstruais são anovulatórios – 90% dos ciclos menstruais são anovulatórios no primeiro anos após a menarca. ADRENARCA: a córtex adrenal secreta andrógenos fracos como androstenediona, DHEA e DHEA sulfato; esta secreção se inicia geralmente aos 6-7 anos na menina e 7-8 anos no menino. A adrenarca ocorre antes da gonadarca. São eventos independentes. PUBERDADE ATRASADA É a ausência de desenvolvimento puberal em meninas com 13 anos e meninos de 14 anos. Classificação: 1. Atraso puberal constitucional (LH, FSH e esteróides gonadais baixos) 2. Hipogonadismo hipogonadotrófico (LH, FSH e esteróides gonadais baixos) - Desordens do sistema nervoso central (tumores hipotalâmicos ou hipofisários, radioterapia, etc) - Deficiência isolada de gonadotrofinas (Sd de Kallmann) - Panhipopituitarismo (deficiência de todos os hormônios da hipófise anterior) - Doença crônica, desnutrição, anorexia nervosa, atividade física excessiva, etc. 3. Hipogonadismo hipergonadotrófico (LH e FSH altos, esteróides gonadais baixos) Meninos: Sd de Klinefelter, anorquia, criptorquidia, etc Meninas: Sd de Turner, radioterapia, ooforite autoimune, etc. PUBERDADE PRECOCE É o desenvolvimento sexual secundário antes dos 8 anos na menina e 9 anos no menino. Se a causa for a ativação prematura do eixo H-H-gonadal, é chamada de puberdade precoce verdadeira ou completa. Se não houver ativação do eixo é chamada de puberdade precoce incompleta. Classificação: PUBERDADE PRECOCE VERDADEIRA: LH após GnRH com resposta puberal (eixo ativado), esteróides gonadais com níveis puberais. Causas: - Constitucional - Idiopática - Desordens do sistema nervoso central: hamartomas, tumores, hidrocefalia, anomalias congênitas, traumas, infecções, etc. - Síndromes virilizantes: hiperplasia adrenal virilizante, tumor virilizante, etc. PUBERDADE PRECOCE INCOMPLETA: ausência de ativação do eixo. Causas: Hormônios II 16 Meninos: secreção endógena autônoma de andrógenos pelos testículos ou adrenais, administração exógena iatrogênica de andrógenos, etc. Meninas: administração exógena ou secreção endógena autônoma de estrogênio, com níveis baixos de LH e FSH. Ex: cistos foliculares, ingestão de estrógenos ou uso de cremes com estrógenos, etc. Hormônios II 17 INVESTIGAÇÃO DOS DISTÚRBIOS PUBERAIS: - LH, FSH, estradiol/testosterona - Teste de estímulo com GnRH: pico do LH maior que 7,0 mUI/mL (método imunofluorescente) indica ativação do eixo gonadal. - TSH, PRL - Andrógenos - Cariótipo - Raio X de punho e mão – idade ósssea - Raio X de crânio - US pélvicoou de testículos - US abdome - Tomografia computadorizada ou ressonância nuclear magnética de crânio VARIANTES DO DESENVOLVIMENTO PUBERAL: • Telarca precoce idiopática: aparecimento de mamas antes dos 2 anos, sem outros sinais puberais nem aumento da velocidade de crescimento. Resulta da secreção pulsátil de FSH que ocorre nos primeiros meses de vida, com algum estímulo ovariano e sem concomitante amento da secreção de LH, diferindo assim de uma puberdade verdadeira. O processo é geralmente autolimitado, ocorrendo regressão espontânea das mamas. • Pubarca precoce idiopática: definida como aparecimento de pêlos pubianos antes dos 8 anos nas meninas e antes dos 9 anos nos meninos, com ou sem aparecimento de pêlos axilares e mudanças do odor da transpiração e sem outros sinais de desenvolvimento sexual. Mais freqüente na menina que no menino, sendo geralmente secundária à adrenarca precoce. Pode causar aumento transitório da velocidade de crescimento e da maturação óssea, mas que não resultarão em perda de estatura. O DHEA-S se encontra elevado em até 50% casos. Afastar presença de tumores adrenais e hiperplasia adrenal congênita. Hormônios II 18 ADENOMAS HIPOFISÁRIOS Os adenomas hipofisários mais freqüentes são os secretores de prolactina, denominados prolactinomas. Os prolactinomas ocorrem em 60% dos casos, enquanto os tumores secretores de GH (acromegalia ou gigantismo) ocorrem em 20% das vezes e os secretores de ACTH 10% (síndrome de Cushing). As hipersecreções de TSH e gonadotrofinas são pouco comuns. Tumores não secretores ocorrem em 10% dos casos. Os adenomas hipofisários podem ser classificados de acordo com o tamanho em microadenoma (< 1 cm de diâmetro) ou macroadenoma (>1 cm de diâmetro). Tumores maiores que 2 cm geralmente se estendem fora da sela túrcica, invadindo a região supra-selar, seio esfenoidal e seios cavernosos. Quanto maior o tumor, maior a freqüência de comprometimento visual e insuficiência hipofisária. HIPERPROLACTINEMIA A prolactina é um hormônio proteico sintetizado pelos lactotrofos da hipófise anterior. Sua secreção é tonicamente inibida pelo hipotálamo. A dopamina é o principal fator hipotalâmico inibidor da PRL, enquanto o TRH é considerado um potente liberador de prolactina. Sua secreção é também estimulada pelo VIP (polipeptídeo intestinal vasoativo) e pelas vias serotoninérgicas. Contém 198 aminoácidos. Sua molécula apresenta homologia parcial com GH e lactogênio placentário. Ocorre no soro na forma de monômero de PM=23 KDa (“little”) ou como polímeros de PM=48 a 56 KDa (“big”) ou de 150 KDa (big-big). Moléculas de PRL de PM=150 podem representar agregados de PRL com atividade biológica reduzida, clearance plasmático reduzido e com menor capacidade de ligação aos receptores da PRL. Isto explica a síndrome clínica de hiperPRL com sintomas mínimos (ciclos menstruais normais e galactorréia mínima) - macroprolactinemia. O principal órgão-alvo da prolactina é a glândula mamária feminina. Na mulher a PRL tem função de iniciar e manter a lactação. Sua ação no homem é pouco conhecida. Os níveis de PRL apresentam uma variação diurna, com níveis mais altos durante o sono. Na fase folicular do ciclo menstrual os níveis de PRL são mais baixos, elevando-se na fase lútea. Durante a gestação os níveis de PRL aumentam muito, atingindo o pico na época do parto. Os níveis retornam ao normal 4 semanas após o parto, na ausência de amamentação. Por até 3 meses após o parto, os níveis de PRL aumentam em resposta à sucção do mamilo. Efeito gancho ou hook: é uma condição em que uma amostra com valor muito elevado de um determinado hormônio apresenta pequena resposta no ensaio, causando resultados falsamente baixos. Ele ocorre quando um excesso de Ag é capaz de saturar simultaneamente tanto o Ac monoclonal de captura quanto o Ac monoclonal revelador, impossibilitando a realização do "sanduíche". Pode ser evitado com a realização do ensaio em duas fases, ou seja, uma pré-incubação do soro com o Ac de captura, seguida pela lavagem e posterior incubação com o Ac monoclonal revelador. A hipersecreçcão de PRL é a anormalidade endócrina mais comum do eixo hipotálamo-hipofisário. A hiperPRL causa não só galactorréia, mas também disfunção gonadal. Logo, a dosagem da PRL deve ser realizada nos pacientes com galactorréia, suspeita de lesão do eixo hipotálamo-hipofisário, Hormônios II 19 aumento selar e anormalidades gonadais (impotência, diminuição da libido, distúrbios menstruais ou infertilidade). CAUSAS DE HIPERPROLACTINEMIA: 1. Fisiológicas: gestação, puerpério, amamentação, estresse e exercício físico. 2. Farmacológicas: drogas bloqueadoras dos receptores de dopamina (clorpromazina, metoclopraminda, sulpiride, etc), drogas depletoras de dopamina (reserpina e -metildopa), drogas antagonistas dos receptores H2 de histamina, estrogênios e TRH. 3. Patológicas: prolactinomas, outros tumores hipofisários, secção da haste hipofisária, hipotiroidismo primário, síndrome dos ovários policísticos, insuficiência renal crônica, cirrose hepática e lesões na inervação intercostal. PROLACTINOMA O prolactinoma é um adenoma hipofisário secretor de PRL. O tamanho do tumor varia de microadenoma a tumores que invadem as regiões extra-selares. A maioria dos pacientes apresenta ao diagnóstico um microadenoma. Incide mais entre 3a e 4a décadas de vida. Acomete igualmente ambos sexos. As mulheres em fase reprodutiva geralmente apresentam microadenoma ao diagnóstico, enquanto nos homens e mulheres pós- menopausa os macroadenomas são mais comuns, provavelmente devido à suspeita clínica ser mais tardia nestes. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DA HIPERPROLACTINEMIA HOMENS Galactorréia (< 30%) Impotência Hipopituitarismo Cefaléia Alterações no campo visual MULHERES Galactorréia (30-80%) Irregularidade menstrual Infertilidade Cefaléia Alterações no campo visual Diagnóstico: Avaliar na história clínica: ciclos menstruais, gestação, fertilidade, uso de medicamentos, sinais e sintomas de hipotiroidismo ou hipopituitarismo. Dosagem de PRL basal: a coleta requer jejum e paciente em repouso. O ideal na suspeita de hiperPRL é se dosar 3 amostras seqüenciais a cada 30 minutos, fazendo-se assim um pool. Os testes dinâmicos com dosagem de PRL apresentam pouca utilidade prática. Fatores que interferem na coleta: estresse, gestação, amamentação, sono, exercício e hipoglicemia. Se PRL basal de 20-40 ng/mL, pode ser um pico na secreção da PRL ou estresse ou outras causas não patológicas. PRL entre 40 e 100 ng/mL é de difícil diagnóstico, pois pode se dever a um microadenoma ou a outras causas de hiperPRL. PRL entre 100 e 200 ng/mL sugere presença de um micro ou macroprolactinoma. Hormônios II 20 PRL basal > 200 ng/mL é fortemente sugestivo de um macroprolactinoma, pois geralmente há uma correlação entre o nível da PRL e o tamanho do adenoma hipofisário. Avaliação da função hipofisária anterior: LH, FSH, testosterona/estradiol, TSH, T3, T4, cortisol, teste de gravidez (se mulher). Se necesário, fazer o Teste Combinado. Exames de imagem: Raio X de crânio; tomografia computadorizada de hipófise; ressonância nuclear magnética de hipófise; campimetria visual. ACROMEGALIA E GIGANTISMO A acromegalia é uma doença crônica caracterizada por desfiguração facial, aumento das extremidades e alterações metabólicas, decorrentes da produção excessiva do hormônio do crescimento (GH) e dos fatores teciduais de crescimento GH-dependentes, como o IGF-I (insulin-like growth factor I ou somatomedina C). Quando a doença se inicia antes do fechamento das epífises dos ossos longos, acompanha-se de alta estatura e recebe o nome de gigantismo. Doença rara, que acomete ambos os sexos com igual freqüência. Geralmente é diagnosticada entre a 3a e 5a décadasde vida. ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA DA ACROMEGALIA • adenomas hipofisários produtores de GH: 95% dos casos. • tumores secretores de GHRH, levando ao estímulo secundário excessivo do somatotrofo: hamartoma hipofisário, ganglioneuroma, tumores carcinóide, brônquico, do trato gastrointestinal e pâncreas. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Cefaléia Sudorese excessiva Aumento de extremidades (pés, mãos) Prognatismo Macroglossia Hipertensão arterial Aumento das regiões supra-orbitárias Aumento de partes moles Aumento do espaço entre os dentes Redução do campo visual Aumento tireoideano Intolerância à glicose/Diabetes Mellitus Hipogonadismo DIAGNÓSTICO 1. Dosagem basal de GH basal sérico: as concentrações basais de GH estão elevadas na acromegalia, mas flutuam amplamente. Sendo a secreção de GH pulsátil e periódica, sua determinação numa amostra isolada pode, às vezes, não ser útil para diagnóstico ou para exclusão da acromegalia. 2. Testes funcionais com dosagem de GH: O mais clássico é o teste de supressão do GH após sobrecarga de glicose. O normal é que ocorra a supressão da secreção do GH com a glicose, mas na hipersecreção de GH ocorre um efeito paradoxal e o Hormônios II 21 GH se eleva com a administração de glicose. O diagnóstico de acromegalia é feito na ausência de supressão do GH abaixo de 1 mcg/L após administração de 75 g de glicose oral. Protocolo do teste: requer jejum. Cateterizar veia periférica e dar ao paciente 75g de glicose diluída em água, via oral. O primeiro gole é considerado como tempo zero. As amostras deverão ser colhidas antes da ingestão e nos tempos 30, 60, 90, 120 e 180 minutos. Dosa-se GH e glicose em todos os tempos. Teste de estímulo do TRH com dosagem de GH sérico: cerca de 50% dos acromegálicos apresentam aumento nos níveis de GH após estímulo com TRH, indicando que nestes casos há somatotrofos anômalos que apresentam receptores para TRH. 3. Dosagem de IGF-I basal: grande parte dos efeitos biológicos do GH ocorre pela ação da IGF-I. Os níveis de IGF-I possuem boa correlação com a secreção integrada de GH, sendo sua medida considerada como o índice mais sensível de atividade da doença. 4. Dosagem basal de PRL sérica: útil na avaliação da acromegalia, pois 20-40% dos pacientes apresentam elevação desse hormônio. 5. Avaliação da função hipofisária anterior: dosagens basais e teste combinado, se necessário. 6. Raio X de crânio; tomografia computadorizada; ressonância nuclear magnética de hipófise Hormônios II 22 ADRENAL ➢ Anatomia: as duas adrenais pesam juntas de 8 a 10 g. Do peso total, 90% corresponde à córtex e 10% à medula. Ricamente vascularizadas. ➢ A adrenal se divide em duas partes: medula e córtex. A córtex adrenal produz principalmente cortisol, aldosterona e andrógenos e a medula produz as catecolaminas, como a adrenalina, noradrenalina e dopamina. ➢ A córtex se divide em 3 zonas: glomerular, fasciculada e reticular. 1. Zona glomerular: camada mais externa; produz aldosterona; é deficiente em 17-hidroxilase, logo, não produz cortisol nem andrógenos. 2. Zona fasciculada: camada do meio; produz cortisol e andrógenos; composta por células ricas em lipídios; responde agudamente ao ACTH. 3. Zona reticular: camada mais interna; produz cortisol e andrógenos; composta por células pobres em lipídios; mantém a secreção de cortisol basal e a induzida por estímulo prolongado do ACTH. ➢ O ACTH regula as secreções hormonais das zonas fasciculada e reticular. A ausência de ACTH leva à atrofia destas zonas. ➢ A secreção hormonal da zona glomerular é regulada pelo K+ e sistema renina-angiotensina (descrita a seguir). ➢ Colesterol: é o precursor do cortisol e andrógenos. Fontes de colesterol: lipoproteínas plasmáticas, colesterol livre sérico e a partir do acetato (na glândula). O ACTH estimula a conversão de colesterol em pregnenolona. ➢ Os andrógenos adrenais – DHEA, DHEA-S e androstenediona – têm atividade androgênica intrínseca mínima, mas contribuem para a androgenicidade pela conversão periférica em andrógenos mais potentes, como testosterona e dihidrotestosterona (DHT). ➢ Regulação das secreções de cortisol e andrógenos adrenais – eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA): CRH → ACTH → córtex adrenal. O próprio cortisol regula sua secreção através do feedback negativo. ➢ CRH (hormônio liberador da corticotrofina) se liga a receptores na membrana celular do corticotrofo e aumenta a síntese e secreção do ACTH hipofisário. A vasopressina também estimula a secreção de ACTH, mas não a síntese. ➢ A regulação do eixo HHA é feita pela ação combinada de várias vias neuronais e fatores circulantes, como os glicocorticóides. Os glicocorticóides inibem a síntese e secreção de CRH e modificam a reposta induzida pelo estresse. ➢ O eixo HHA é ativado em resposta ao estresse hemodinâmico, metabólico (hipoglicemia), psicológico (dor, imobilização, etc) e físico. Estresse emocional e treinamento prolongado (atletas profissionais) resultam em ativação persistente do CRH central. 40-70% dos pacientes com depressão maior têm hipersecreção mantida de ACTH e cortisol. Tumores como carcinóide brônquico, nefroblastoma, feocromocitoma, carcinoma medular da tireóide e tumores de ilhotas podem secretar CRH e co-secretar ACTH (quadro clínico e laboratorial semelhante à síndrome de ACTH ectópico). ➢ No 1o trimestre de gestação o CRH é baixo, começa a aumentar no 2o trimestre, com pico no termo e diminui rapidamente 24 horas após o parto. O CRH está aumentado em condições patológicas como gestação gemelar, retardo do crescimento intrauterino e hipertensão da gravidez. ➢ O ACTH deriva da pró-opiomelanocortina (POMC), que é uma molécula grande, precursora de ACTH, MSH (melanocortina), lipotrofina e endorfina. A secreção de ACTH é regulada pelo SNC e pelos níveis séricos dos glicocorticóides. Sua secreção é estimulada principalmente pelo CRH, mas também pela vasopressina e catecolaminas. Situações de estresse, como dor, infecção e choque elétrico, aumentam a secreção de ACTH. O ACTH estimula as secreções dos esteróides adrenais, como glicocorticóides e andrógenos. Os glicocorticóides inibem as secreções de ACTH e CRH. A administração prolongada de glicocorticóides ou a hipersecreção endógena leva à atrofia adrenal e inibição do eixo HHA. A supressão do eixo HHA pode durar de 6 a 12 meses após a retirada de um tumor causador de síndrome de Cushing. Infecções microbianas e lesão tecidual ativam o eixo HHA, via Hormônios II 23 interleucinas e FNT, aumentando a secreção dos glicocorticóides, que possivelmente inibem a produção de citocinas no foco inflamatório. ➢ Mecanismos do controle neuroendócrino: 1. Ritmo circadiano: pico às 8:00 da manhã, diminuindo no decorrer do dia, atingindo 50% do valor do pico às 16:00 e nadir à noite. Começa a aumentar novamente após 3-5 horas de sono. Fatores que alteram este ritmo: ritmo do sono, exposição claro-escuro, horário das refeições, estresse físico (doença, fome, trauma, cirurgia), estresse psicológico, distúrbios neurológicos, síndrome de Cushing, doença hepática e renal e alcoolismo. As secreções de ACTH e cortisol apresentam pulsatilidade com um intervalo de 39 minutos entre os pulsos e uma duração de 19 minutos para cada pulso. 2. Resposta ao estresse: o estímulo é captado pelo SNC, estimulando a secreção de CRH pelo hipotálamo, que estimula a secreção hipofisária de ACTH. Altas doses de glicocorticóides exógena ou endógena bloqueiam esta reposta. * Efeito da secreção circadiana do ACTH nos andrógenos adrenais: DHEA e androstenediona possuem periodicidade circadiana semelhante ao ACTH e cortisol; DHEA-S não tem ritmo diurno, pois seu clearance é prolongado. ➢ Circulação: o cortisol e os andrógenos adrenais se ligam às proteínas plasmáticas (forma inativa – pool circulante). Cortisol: 10% na forma livre (~1 g/dl) , 75% ligado à CBG(globulina ligadora de cortisol) e 15% à albumina. A albumina tem maior capacidade de ligação ao cortisol, mas menor afinidade; os glicocorticóides sintéticos estão largamente ligados à albumina, exceto a prednisolona, que se liga à CBG. Os andrógenos se ligam principalmente à albumina, mas numa ligação fraca. No entanto, a testosterona se liga à SHBG, uma globulina específica. ➢ Metabolismo: Os esteróides são metabolizados em formas inativas e hidrossolúveis no fígado e 90% é excretado pelos rins. Fatores que alteram o metabolismo do cortisol: ▪ Crianças e idosos têm menor metabolismo; ▪ Doença hepática crônica; ▪ Hipotiroidismo e hipertiroidismo; ▪ Inanição, anorexia nervosa e gestação apresentam redução no clearance por aumento de CBG; Os andrógenos adrenais podem ser degradados e inativados ou convertidos em andrógenos mais potentes, como testosterona e DHT. DHEA pode ser convertido em DHEA-S na adrenal, fígado e rim ou ser convertido em androstenediona. Efeitos biológicos dos glicocorticóides: aumentam a gliconeogênese hepática, inibem a captação de glicose pelo músculo e tecido adiposo, aumentam a lipólise, aumentam a deposição de gordura no tronco, diminuem a síntese proteica e aumentam a proteólise. A administração de glicocorticóides aumenta os leucócitos polimorfonucleares circulantes e reduz os linfócitos, monócitos e eosinófilos. Reduz a migração de células inflamatórias para o local de injúria (ação anti-inflamatória), além de ter ação imunológica reduzindo a produção de interleucinas, o processamento de antígenos e a produção de anticorpos (interleucina-1 estimula as secreções de CRH e ACTH). Aumenta o débito cardíaco e o tônus vascular periférico. O excesso de glicocorticóides inibe os fibroblastos, resultando em pele fina, formação de estrias e cicatrização difícil. Inibe a formação óssea, estimula a reabsorção óssea, reduz a absorção intestinal de cálcio e aumenta a excreção urinária de cálcio (osteopenia). Inibe o crescimento em crianças. Causa hipertensão arterial. Aumenta a pressão intraocular em pacientes predispostos (glaucoma). Hormônios II 24 SISTEMA RENINA-ANGIOTENSINA O principal regulador da zona glomerular é o sistema renina-angiotensina. A renina é uma enzima proteolítica liberada pelas células justaglomerulares do rim em resposta a uma série de estímulos, como a redução da pressão na arteríola aferente do glomérulo, diminuição do fluxo tubular de sódio na mácula densa e aumento da secreção de prostaglandinas. A renina converte o angiotensinogênio em angiotensina I, que é transformada pela enzima de conversão em angiotensina II no leito capilar pulmonar. A angiotensina II tem ação vasoconstritora e age estimulando a secreção de aldosterona. A concentração de potássio também é importante na regulação da aldosterona. A hiperpotassemia estimula e a hipopotassemia reduz a produção de aldosterona. A postura ereta é um forte estímulo para a secreção de renina. Elevações agudas de ACTH plasmático podem estimular a via de síntese da zona glomerular. Mecanismos de feedback: a retenção de sódio e água aumenta o volume plasmático e reduz a secreção de renina; o sistema nervoso autônomo também afeta a secreção de renina; o fator natriurético atrial age como antagonista da renina e aldosterona. Os principais mineralocorticóides secretados pela córtex adrenal são aldosterona e desoxicorticosterona. Os principais órgãos-alvo para a ação dos mineralocorticóides são os rins, mucosa gastrointestinal, glândulas salivares e sudoríparas. Causam reabsorção de sódio nos túbulos renais (coletores e contornados distais) e excreção de íons potássio e hidrogênio. Mecanismo da hipertensão arterial induzida pelos mineralocorticóides: expansão do volume plasmático e extracelular (retenção de sódio e água), aumento da resistência vascular periférica e efeito inotrópico positivo (aumenta o débito cardíaco). Hormônios II 25 AVALIAÇÃO LABORATORIAL DOSAGENS BASAIS: 1) Dosagem de cortisol sérico basal: a amostra deve ser colhida entre 7 e 9 horas da manhã. Sua dosagem isolada é de baixa sensibilidade e especificidade. Coleta com paciente em repouso, em jejum, com veia cateterizada por pelo menos 30 minutos. 2) Avaliação do ritmo circadiano do Cortisol: feita pela coleta de amostras séricas para dosagem de cortisol às 8, 16 e 24 horas (opcional). O desaparecimento do ritmo circadiano é um das alterações mais precoces da síndrome de Cushing. O teste é bastante sensível, mas pouco específico, pois condições como estresse, alcoolismo e depressão podem abolir o ritmo. 3) Dosagem de cortisol salivar: dosa a fração livre do cortisol. Não tem estresse, pode ser coletado em casa e encaminhado no dia seguinte ao laboratório. Útil em crianças, pela facilidade da coleta. Sua concentração é bem menor que no soro e os valores de referência estão sendo padronizados. 4) Dosagem de ACTH plasmático: usada para diagnóstico diferencial entre síndrome de Cushing ACTH- dependente e ACTH-independente, mas com problemas de sensibilidade. Dosado por RIA, possui limitações técnicas e práticas, além de custo elevado. O ACTH é instável no plasma, sendo rapidamente inativado por enzimas proteolíticas. Na coleta usa-se seringa e tubo gelados e centrífuga refrigerada; colher em jejum, em tubo plástico com EDTA, pois o ACTH é absorvido pelo vidro. Apresenta sensibilidade e precisão insatisfatórios para baixas concentrações. 5) Andrógenos séricos: testosterona livre e total, androstenediona, DHEA-S, 17-OH-progesterona, DHEA, 11-desoxicortisol, DHT, 17-OH-pregnenolona. Indicados nos casos de hiperandrogenismo. 6) Dosagem de Cortisol livre na urina: quando dosado em urina de 24 horas representa uma integração da secreção diária de cortisol. Os métodos empregados baseiam-se na cromatografia líquida de alta performance (HPLC) ou em radioimunoensaios. Bom para avaliação da hipersecreção de cortisol, mas sem sensibilidade para investigação de insuficiência adrenal. TESTES DE ESTÍMULO: 7) Teste de tolerância à insulina (ITT): indicado na avaliação do eixo HHA. A hipoglicemia estimula o eixo e avaliamos a secreção de cortisol. Aplicar: Insulina simples 0,05 - 0,1 U/Kg peso. Tempos de coleta de sangue: 0´ 15´ 30´ 45´ 60´ 90´. Dosar cortisol e glicemia. Picos de resposta: Glicemia: entre 15 e 30 min; Cortisol: entre 60 e 90 min. Durante o teste, usar glicosímetro para controle da glicose no sangue capilar em todos os tempos descritos acima. O paciente deve apresentar sintomas clínicos de hipoglicemia e/ou taxa de glicose < 40 mg%. Cuidados: manter sempre glicose hipertônica preparada na seringa para ser usada em caso de hipoglicemia severa. Resposta normal do cortisol: pico maior que 18-20 g/dl. 8) Teste de estímulo com ACTH sintético (antigo teste da cortrosina): indicação - avaliação da reserva adrenal. Administra-se EV 250 g de ACTH sintético e colhe-se sangue para a dosagem de cortisol nos tempos 0 e 60 minutos. Resposta normal do cortisol: pico maior que 18-20 g/dl aos 60 minutos. 9) Teste de estímulo com ACTH sintético: indicação – avaliação de hirsutismo e pubarca precoce. Este teste é como descrito acima, mas dosa-se os andrógenos adrenais além do cortisol. Este teste identifica os defeitos de síntese ao nível das enzimas 21-hidroxilase, 11-hidroxilase e 3ol-desidrogenase. O teste deve ser realizado na fase folicular, se a paciente menstruar. Administra-se EV 250 g de ACTH e colhe-se sangue tempos 0 e 60 minutos. Dosar nos tempos basais: LH, FSH, PRL, testosterona, estradiol e DHEAS. Dosar em todos os tempos: cortisol, 17OH-progesterona, DHEA, androstenediona, 17-pregnenolona e composto S (11-desoxicortisol). Pode fazer o teste simplificado, dosando-se somente cortisol e 17-OH-progesterona nos dois tempos. TESTES DE SUPRESSÃO: 10) Teste de supressão do cortisol com administração de dexametasona: Hormônios II 26• Supressão do cortisol com 1 mg de dexametasona: consiste na administração oral de 1 mg de dexametasona às 23 horas e na coleta de sangue às 8 horas da manhã seguinte, para dosagem de cortisol. A resposta normal é o valor de cortisol abaixo de 3 g/dl. Resultados falso-positivos podem ocorrer por falhas na ingestão ou absorção da droga, pelo uso concomitante de hidantoinatos, no alcoolismo, na depressão endógena e na obesidade. Usada na investigação de hipercortisolismo. • Supressão do cortisol com 2 mg de dexametasona: realizado como o teste acima, mas com dose de 2mg. Uma resposta normal é a queda do nível de cortisol para valores inferiores a 3 g/dl. São raras as respostas falso-positivas e falso-negativas. Usada na investigação de hipercortisolismo. • Supressão com 8 mg de dexametasona: teste indicado quando paciente já apresenta hipercortisolismo confirmado e necessita investigar a causa deste. Baseia-se na premissa de que altas doses de glicocorticóides suprimem a produção de ACTH e cortisol nos pacientes com Doença de Cushing, mas não naqueles com síndrome de ACTH ectópico ou tumores adrenais. É realizado administrando-se 2 mg de dexametasona a cada 6 horas por 02 dias ou uma dose única de 8 mg às 23 horas, com coleta às 8 horas do dia seguinte. Uma resposta com queda dos valores de cortisol a níveis abaixo de 50% do valor basal é considerada positiva e característica de Doença de Cushing. A maioria dos pacientes com Doença de Cushing suprime com 8 mg, embora alguns necessitem de doses maiores. Pacientes com síndrome de ACTH ectópico podem, eventualmente, apresentar supressão. SÍNDROME DE CUSHING Conceito: grupo de desordens clínicas e metabólicas caracterizadas por hiperfunção da córtex adrenal, associadas à produção excessiva de glicocorticóides ou glicocorticóides e andrógenos. Classificação: ▪ ACTH-dependente: o hipercortisolismo decorre da secreção excessiva de ACTH. ▪ ACTH-independente: o hipercortisolismo independe da secreção de ACTH. CAUSAS MAIS COMUNS: ▪ Doença de Cushing: tumor hipofisário secretor de ACTH; 60% ▪ Tumor produtor de ACTH ectópico 20% ▪ Adenoma adrenal 10% ▪ Carcinoma adrenal 5% QUADRO CLÍNICO: Ganho de peso, obesidade central, face em lua cheia, pletora facial, fraqueza muscular, adinamia, depressão, irregularidade menstrual e amenorréia (em mulheres), hirsutismo, estrias, acnes, pele fina e de difícil cicatrização, poliúria, redução da libido, hipertensão arterial, intolerância à glicose ou Diabetes Mellitus. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL: 1º passo: Investigação de hipercortisolismo: 1. Teste de supressão do cortisol sérico com dexametasona (1 ou 2 mg): ausência de supressão - (cortisol > 3g/dL) 2. Dosagem de cortisol urinário livre em urina de 24 horas: acima do valor de referência do método. 3. Dosagem do cortisol às 24 hs: > 7,5 g/dL 4. Ritmo circadiano do cortisol: perda do ritmo. 2º passo: Investigação da causa do hipercortisolismo: 5. Dosagem sérica de ACTH; 6. Dosagem dos andrógenos séricos; Hormônios II 27 7. Teste de supressão do cortisol sérico com 8 mg de dexametasona: usado somente para casos de S. de Cushing ACTH dependente, para diferenciar doença de Cushing de S. Cushing por secreção ectópica de ACTH. 8. Exames de imagem: RNM de hipófise, US de abdome e adrenais, TC de adrenais. - Causas de não supressão do cortisol com dexametasona: alcoolismo, doença psiquiátrica e estresse. A fenitoína causa aumento do metabolismo da dexametasona, que não suprime adequadamente a secreção de cortisol, causando um teste falso-positivo. O uso de estrógenos pode aumentar a CBG resultando em níveis elevados de cortisol. Outras causas de falso-positivos: 1% indivíduos sadios, 13% obesos e 25% dos pacientes hospitalizados e cronicamente doentes. Falso-negativos ocorrem em 2% dos casos. - Supressão com baixa dose de dexametasona: usada para distinguir indivíduo normal daqueles com síndrome de Cushing. - Supressão com altas doses de dexametasona: usada para distinguir Doença de Cushing das demais causas de hipercortisolismo. INSUFICIÊNCIA ADRENOCORTICAL Conceito: É a redução das secreções de glicocorticóides e mineralocorticóides pelas adrenais. Pode ser classificada em: primária (problema adrenal) e secundária (problema central). INSUFICIÊNCIA ADRENAL PRIMÁRIA (OU DOENÇA DE ADDISON) Causada por uma disfunção ou destruição da córtex adrenal; há deficiência de glico e mineralocorticóides. Causas: • Auto-imune (adrenais pequenas e atróficas, associada a outras doenças auto-imunes); • Hemorragia adrenal (acomete pacientes gravemente enfermos, com aumento do volume adrenal bilateralmente); • Infecções: tuberculose, citomegalovírus, histoplasmose, paracoccidiodomicose, etc; • Linfoma ou metástases tumorais (pulmão, mama, gastrointestinal, rins); • Drogas que bloqueiam a síntese do cortisol: cetoconazol, metapirona, mitotane, etc. Fisiopatologia: - A perda de mais de 90% da córtex adrenal resulta em manifestações clínicas de insuficiência adrenal; - A destruição adrenal pode ser: - Crônica (gradual); - Aguda: precipitada por estresse cirúrgico, trauma, infecção, etc. Quadro clínico geral: ➢ Na insuficiência adrenal crônica os sinais e sintomas são progressivos e aparecem insidiosamente: fraqueza, fadiga, anorexia, perda de peso, hiperpigmentação da pele, hipotensão arterial, náuseas e vômitos, “fome” por sal. ➢ Na insuficiência adrenal aguda o quadro é de hipotensão arterial e choque, febre, desidratação severa, náuseas, vômitos, anorexia, hipoglicemia, apatia e fraqueza. Hormônios II 28 Diagnóstico laboratorial: Dosagem de eletrólitos: hiponatremia, hiperpotassemia; Hemograma: normal ou mostrar anemia (normocítica/normocrômica), neutropenia, eosinofilia, linfocitose relativa. Glicose: pode ocorrer hipoglicemia. INSUFICIÊNCIA ADRENAL SECUNDÁRIA Secreção deficiente de ACTH pela hipófise, causando hipossecreção de glicocorticóides. Causa principal: terapia com glicocorticóides. Outras causas: lesões no eixo hipotálamo-hipofisário. Fisiopatologia: a deficiência de ACTH é o evento primário, levando à deficiência de cortisol e andrógenos adrenais. A secreção de aldosterona permanece normal. Quadro clínico: não há hiperpigmentação da pele. Não há sintomas de deficiência de mineralocorticóides, como desidratação e hipotensão arterial. Diagnóstico laboratorial: Dosagem de eletrólitos: Na e K geralmente normais. Pode haver hiponatremia, por retenção de água. Hemograma: normal ou pode mostrar anemia (normocítica/normocrômica), neutropenia, eosinofilia, linfocitose relativa. Glicose: pode ocorrer hipoglicemia. Dosagens hormonais para diagnóstico da insuficiência adrenal (primária e secundária) 1. Dosagem basal de cortisol sérico: pode ser normal na insuficiência adrenal parcial; não recomendado. 2. Dosagem de cortisol urinário livre: não utilizado. 3. Teste de estímulo rápido com ACTH sintético: avalia a reserva adrenal. Resposta subnormal do cortisol ao estímulo com ACTH indica diminuição da reserva adrenal, mas não permite a diferenciação entre insuficiência primária e secundária. Dosar nestes casos ACTH basal. Resposta normal do cortisol ao estímulo com ACTH não exclui uma insuficiência adrenal secundária parcial. Nestes casos, realizar teste de tolerância insulínica (ITT). Este teste avalia a integridade funcional das adrenais e dá apenas uma noção indireta da função hipotalâmico-hipofisária. Seu resultado, no entanto, pode ser anormal na insuficiência secundária grave, devido à atrofia da córtex adrenal. 4. Teste de tolerância insulínica (ITT) com dosagem de cortisol sérico: a hipoglicemia age estimulando o eixo hipotálamo-hipofisário-adrenal. 5. Dosagem de ACTH plasmático: usada para diferenciar insuficiência adrenal primária de secundária. Na primária o ACTH é geralmente >100pg/mL. Na secundária o ACTH pode ser baixo ou no limite inferior da normalidade. Hormônios II 29 METABOLISMO ÓSSEO CÁLCIO - Papel central na regulação do metabolismo e fisiologia celular. - 98% do cálcio do organismo adulto se encontra no esqueleto; o restante se divide entre o fluido extracelular e os tecidos (p. muscular). - Cálcio extracelular: controle rígido, pois age na contração muscular, transmissão sináptica, agregação plaquetária, coagulação, exocitose celular e secreção hormonal. - Cálcio intracelular: mantido em concentrações 10.000-X mais baixas que no extracelular, pois funciona como segundo mensageiro dentro da célula. Estes níveis são mantidos através de bombas iônicas. - Cálcio sérico se encontra nas formas: 50% livre ou ionizado – forma ativa 50% ligado 5% compostos não-proteicos (fosfato, citrato, sulfato e bicarbonato) 45% proteínas plasmáticas (p. albumina) - O pH e a concentração proteica no líquido extracelular alteram a distribuição do cálcio. A diminuição do pH aumenta a ionização do cálcio; a hipoalbuminemia reduz o cálcio total, sem alterar o cálcio iônico. A redução de 1g/100ml na albumina sérica reduz o cálcio total em ~0,8 mg/100ml. - Variação diurna do cálcio ionizado: pico às 21 h e nadir às 9 h. Há também pequena variação no cálcio urinário: pico às 23 h e nadir às 11 h. - Níveis normais: Cálcio total 8,5 – 10,5 mg/dl. Cálcio iônico 4,4 – 5,2 mg/dl - Manutenção da homeostase do cálcio envolve: intestino, osso e rim. - Principais hormônios envolvidos: paratormônio (PTH) e 1,25-dihidroxicolecalciferol [1,25(OH)2D3]. - Ingestão diária de cálcio: 800 – 1200 mg/dia. - O cálcio deriva do leite e derivados. É absorvido no duodeno e jejuno por transporte ativo. O intestino absorve somente 10-20% do cálcio ingerido. - A perda de cálcio se dá principalmente pela excreção urinária (50-200 mg/dia). FÓSFORO - 85% se encontra no esqueleto. O restante é encontrado nos fosfolípides, ácidos nucleicos, nucleotídeos, constituintes celulares, etc. - Maior parte do fósforo se encontra no compartimento intracelular. - Níveis normais: 2,5 – 4,8 mg/dl. Crianças em crescimento têm níveis mais elevados (4–7 mg/dl). - Seus níveis são flutuantes, variando com a dieta e devido a desvios entre os compartimentos intra e extracelulares. - Ritmo diurno: valores mais altos à tarde e à noite, atingindo o dobro dos valores da manhã. - Encontrado em quase todos os alimentos. Ingesta diária de fósforo no adulto: varia de 800 a 1000 mg/dia. - 2/3 do fosfato ingerido é absorvido no intestino por mecanismo ativo (p. jejuno). Dieta rica em fosfato ou com baixo teor de cálcio aumentam os níveis séricos de fósforo. Vitamina D estimula a absorção de fósforo. Excretado pelos rins. A insuficiência renal leva ao aumento do fósforo. - Controle da homeostase: intestino, rim e esqueleto. PTH - Secretado pelas 4 glândulas localizadas adjacentes à tireóide. A paratireóide é composta por células epiteliais e estroma gorduroso. - Função do PTH: regular a concentração de cálcio extracelular. Hormônios II 30 - A célula da paratireóide apresenta um sensor para o cálcio – receptor de membrana (receptor do cálcio). A elevação do cálcio estimula o receptor e inibe a secreção de PTH. A hipocalcemia estimula o PTH. Hipermagnesemia inibe a secreção de PTH, enquanto a hipomagnesemia moderada estimula sua secreção. A hipomagnesemia severa inibe o PTH. - PTH – molécula intacta: peptídeo com 84 aminoácidos, com extremidades amino e carboxi-terminais. - Ensaio: PTH-intacto, por IRMA ou quimioluminescência. Valor normal: 10-60 pg/ml. - Ações do PTH: 1. Estimula a conversão renal de 25-OHD3 em 1,25(OH)2D3. A 1,25(OH)2D3 estimula a absorção de cálcio intestinal; 2. Reabsorção de cálcio do osso para manter sua concentração sérica; 3. Estimula a reabsorção tubular renal de cálcio; 4. Inibe a reabsorção tubular do fósforo (utilidade pouco conhecida); - Mecanismo de ação do PTH: ligação ao seu receptor no rim e osso. * PTHrP (proteína relacionada ao PTH): peptídeo com porção amino-terminal semelhante à do PTH, produzido em abundância por tumores malignos. Se liga ao mesmo receptor que o PTH, produzindo hipercalcemia severa. Não cruza o ensaio do PTH. CALCITONINA - Peptídeo com 32 aminoácidos, secretado pelas células C da tireóide. - Principal função: inibir a reabsorção óssea mediada pelo osteoclasto. - A célula C possui o receptor sensor de cálcio em sua membrana, aumentando a secreção de calcitonina em resposta à hipercalcemia e reduzindo-a na hipocalcemia. - Antagonista fisiológico do PTH. - O importância da calcitonina ainda não está bem clara, pois seu excesso ou diminuição aparentemente não causam alterações no metabolismo mineral. - Interesse clínico: marcador tumoral de carcinoma medular de tireóide e uso terapêutico como inibidor da reabsorção óssea. VITAMINA D - Hormônio esteróide. Sua forma endógena – colecalciferol (vitamina D3) - é sintetizada na pele pela luz ultravioleta, a partir do metabólito do colesterol (7-dehidrocolesterol). - Não há fonte natural dietética de vitamina D. - Vitamina D2 (ergocalciferol), acrescentada a alguns alimentos, é produzida pela irradiação UV do ergosterol da planta. - A vitamina D precisa ser metabolizada no fígado (25-hidroxilação - 25-OHD3) e rim [1-hidroxilação - 1,25(OH)2D3] para se tornar ativa. - 25-OHD3: pouca atividade biológica, mas é o maior metabólito circulante da vitamina D. - Papel da vitamina D: aumentar os níveis plasmáticos de cálcio e fósforo. Ela facilita a absorção intestinal de cálcio e a reabsorção renal de fosfato. - O PTH estimula a síntese de 1,25(OH)2D3. OSSO – ANATOMIA E REMODELAÇÃO Funções do osso: 1. Sustentação das extremidades e cavidades corporais; 2. Fixação dos músculos e locomoção; Hormônios II 31 3. Reservatório de íons como cálcio, fósforo, magnésio e sódio. - Osso cortical: composto de camadas densas de colágeno mineralizado (encontrado nos ossos longos). - Osso trabecular: aparência esponjosa, constitui a maior parte do esqueleto axial (ex: vértebras). - 2/3 do peso do osso: mineral; restante, água e colágeno. - Osso mineral: duas formas – cristais de hidroxiapatita e fosfato amorfo de cálcio. - Tipos de células ósseas: 1. Osteoblasto: célula formadora de osso, com receptores para PTH e vitamina D. Responsável pela produção das cadeias proteicas precursoras de colágeno (prolina, hidroxiprolina, etc) e secreção de fosfatase alcalina. As células diferenciadas se dirigem para a superfície óssea. No processo de mineralização, os cristais de hidroxiapatita são depositados nas camadas de colágeno, formando o osso lamelar. A mineralização requer: cálcio, fósforo e fosfatase alcalina. 2. Osteócito: célula óssea em estado de repouso. 3. Osteoclasto: célula gigante, multinucleada, especializada na reabsorção óssea, com receptores para calcitonina. Se adere à superfície óssea e secreta ácidos que quebram a matriz óssea, liberando os peptídeos de colágeno (piridinolinas). HIPERCALCEMIA Manifestações clínicas: - Alterações no sistema nervoso central: letargia, depressão, psicose, ataxia e coma; - Alterações neuromusculares: fraqueza, hipertonia muscular, miopatia proximal; - Efeitos cardiovasculares: hipertensão, bradicardia; - Efeitos renais: cálculos, poliúria, diminuição da filtração glomerular, nefrocalcinose; - Efeitos gastrointestinais: náuseas, vômitos, constipação intestinal e anorexia. Mecanismos que levam à hipercalcemia: 1. Aumento da reabsorção óssea; 2. Aumento da absorção gastrointestinal de cálcio; 3. Diminuição da excreção renal de cálcio. Causas de hipercalcemia: - Hiperparatiroidismo primário - Hipercalcemia hipocalciúrica familiar benigna - Hipercalcemia relacionada à malignidade (causada por PTHrP, vitamina D ou lesões ósseas líticas)
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