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- -1 MELHORAMENTO GENÉTICO ANIMAL ENDOGAMIA E EXOGAMIA NO MELHORAMENTO GENÉTICO Autoria: Me. Luciano Eduardo Morello Polaquini - Revisão técnica: Dra. Talita Barban Bilhassi - -2 Introdução Ao longo desta unidade, estudaremos os conceitos, os riscos e as aplicações da endogamia em programas de melhoramento genético animal. Afinal, você conhece quais são as vantagens e desvantagens da endogamia em programas de MGA? Será avaliado, também, como esses programas utilizam os acasalamentos endogâmicos, tendo como vantagens a manutenção do padrão racial, a fixação de características desejáveis de raças consideradas nos acasalamentos e a formação de linhagens endogâmicas distintas para posterior cruzamento (heterose). Eles também permitem a seleção mais eficiente a partir da formação de famílias distintas, facilitando a eliminação daquelas consideradas inferiores, assim como da prepotência de reprodutores. Dessa forma, será possível aprender como calcular o coeficiente de endogamia entre os indivíduos pertencentes a uma população de animais. Aliás, você saberia explicar qual é a melhor opção: endogamia e/ou exogamia em programas de MGA? Qual é a diferença entre os dois? Por fim, será abordado o conceito de exogamia e heterose, a importância e, principalmente, as vantagens desse sistema de acasalamento. Bons estudos! Tempo estimado de leitura: 36 minutos. 2.1 Endogamia: conceito, riscos e aplicações Atualmente, a endogamia vem ganhando destaque entre criadores que buscam desenvolver linhagens com características desejáveis e que, posteriormente, serão transmitidas para gerações futuras em maior proporção. Diante desse contexto, antes de nos aprofundarmos quanto aos aspectos práticos, é preciso entender o significado de . Segundo Otto (2012), ela consiste no acasalamento entre indivíduos maisendogamia aparentados que a média da população. Dessa forma, indivíduos consanguíneos e/ou endogâmicos são resultantes do acasalamento entre parentes. - -3 O grau de parentesco (R) deve ser medido entre os indivíduos que têm ao menos um ascendente em comum, podendo ser um grau de parentesco direto ou colateral. O pode ser calculado dagrau de parentesco direto seguinte maneira: Figura 1 - Esquema para ilustrar o parentesco entre indivíduos Fonte: Elaborada pelo autor, 2021. #PraCegoVer Na figura, temos um esquema indicando o cálculo para grau de parentesco direto. Há quatro indivíduos (A, B, C e D). Vamos considerar no esquema que A seria pai de B, avô de C e bisavô de D. Nesse grau de parentesco, um indivíduo é descende diretamente do outro. Em nosso esquema, o que separa uma geração da outra é a seta. Desse modo, considere que o indivíduo recebe 50% dos genes do pai e outros 50% dos genes da mãe. Assim, cada seta corresponde a 50% de grau de parentesco. Para realizar o cálculo adequadamente, devemos fazer o seguinte: A1 - Grau de parentesco entre A e B R( ) = (0.5) , em que representa o número de gerações entre indivíduos.AB x x R( ) = (0.5) = 0.5 ou 50%AB 1 Interpretação do resultado: entre A e B, existem 50% de genes em comum. A2 - Grau de parentesco entre A e C R( ) = (0.5) = 0.25 ou 25%AC 2 Interpretação do resultado: entre A e C, existem 25% de genes em comum. A3 - Grau de parentesco entre A e D R( ) = (0.5) = 0.125 ou 12.5%AD 3 Interpretação do resultado: entre A e D, existem 12.5% de genes em comum. Você sabia? O termo “endogamia” significa um sistema de acasalamento entre indivíduos que têm, pelo menos, um ancestral em comum, ou seja, que apresentam uma ligação genética, podendo ser um pai, uma mãe, um tio, um avô ou, até, bisavô. - -4 Já o grau de parentesco colateral pode ser calculado da seguinte maneira: Figura 2 - Esquema para calcular o grau de parentesco entre X, T e Z Fonte: Elaborada pelo autor, 2021. #PraCegoVer Na figura, temos um esquema apresentado a genealogia dos indivíduos X, T e Z para que, posteriormente, seja calculado o grau de parentesco entre eles. De X, temos A (C e D) e B (E e F). De T, temos A (C e D) e B (E e F). De Z, temos A (C e D) e G (H e I). Nesse caso, temos que X e T são irmãos completos (próprios), ou seja, filhos dos mesmos pais (A e B). Além disso, são irmãos paternos de Z porque têm o mesmo pai (A). X é parente colateral de T e Z, enquanto Z é parente colateral de T. Para o cálculo do grau de parentesco entre os indivíduos, devemos considerar: B1 - Grau de parentesco entre X e T - -5 Figura 3 - Esquema para calcular o grau de parentesco entre os indivíduos X e T Fonte: Elaborada pelo autor, 2021. #PraCegoVer Na figura, temos um esquema apresentado a genealogia dos indivíduos X e T para que seja calculado o grau de parentesco entre eles. De X, temos A (C e D) e B (E e F). De T, temos A (C e D) e B (E e F). R(XT) = X - A - T = (0.5) 2 = 0.25 X - B - T = (0.5) = 0.252 0.50 ou 50% grau parentesco Interpretando o resultado, podemos observar que, na média entre X e T, existem 50% de genes em comum. B2 - Grau de parentesco entre X e Z (meio irmãos) - -6 Figura 4 - Esquema para calcular o grau de parentesco entre os indivíduos X e Z Fonte: Elaborada pelo autor, 2021. #PraCegoVer Na figura, temos um esquema apresentado a genealogia dos indivíduos X e Z para que seja calculado o grau de parentesco entre eles. De X, temos A (C e D) e B (E e F). De Z, temos A (C e D) e G (H e I). R(XZ) = X - A - Z = (0.5) 2 = 0.25 0.25 ou 25% grau parentesco Interpretando o resultado, na média entre X e Z, existem 25% de genes em comum. Os primeiros estudos com a endogamia evidenciam que ela foi utilizada na formação de raças puras no início do século XVIII, permitindo a formação de linhagens puras (homozigotas). Contudo, a que se atentar para a necessidade de manter elevada pressão de seleção nos animais, evitando incorporar aqueles que possuam genes deletérios (RODRIGUES ., [ .]).et al s. d Você o conhece? Jonas Carlos Campos Pereira possui graduação em Medicina Veterinária pela Universidade Federal de Minas Gerais, mestrado e doutorado pela mesma universidade, é pesquisador do CNPq e foi coordenador do Programa de Genética Animal da Organização dos Estados Americanos (OEA) de 1994 a 1998. Atualmente é professor titular de Bioestatística Médica da Faculdade de Saúde e Ecologia Humana. Vale se aprofundar nessa personalidade importante da área! - -7 A grosso modo, podemos dizer que existem três . Vejamos!tipos de endogamia Endogamia natural Normalmente observada em plantas autógamas, ou seja, que realizam a autofecundação. Dessa forma, a mesma planta tem o polinizador (androceu) e o receptor (gineceu). Endogamia artificial (não intencional) Quando populações pequenas se reproduzem aleatoriamente, aumentando o acasalamento entre indivíduos aparentados. Endogamia artificial (intencional) Quando se deseja aumentar a homozigose, buscando fixar características desejáveis (linhagens endogâmicas). A maioria dos criadores abre mão desse recurso quando pretende fixar uma característica desejável em uma família ou um grupo de animais. Nesse caso, a endogamia é desejável e traz o benefício esperado, mas devemos nos preocupar com a perda de variabilidade genética da população em questão, pois o processo pode alterar a constituição genética de uma população a partir do aumento da homozigose (EUCLIDES FILHO, 1999). Com isso, é válido salientar que os estão normalmente associados a determinadasgenes recessivos deletérios doenças, manifestando-se em maior intensidade com o aumento da homozigose, colocando em risco, a longo prazo, a manutenção da população envolvida. 2.1.1 Riscos A utilização de biotécnicas reprodutivas — como transferência de embriões (TE), inseminação artificial convencional (IA), inseminação artificial em tempo fixo (IATF), fertilização (FIV) e clonagem —in vitro acarretam o entre os indivíduos do rebanho por promoverem a intensaaumento da consanguinidade utilização de um determinado reprodutor, tendo seus genes disseminados em muitosrebanhos. Assim, há o crescimento de descendentes de um mesmo animal em diferentes plantéis. Inclusive, Faria . (2001)et al fizeram uma observação importante em seus estudos: 10 touros, em um período compreendido entre 1994 e 1998, foram pais de 19.3% de todos os bovinos nascidos no Brasil. A endogamia também é conhecida como consanguinidade e pode acarretar diversas nosalterações descendentes, como: • diminuição da variabilidade genética (aumento da homozigose), produzindo animais mais uniformes, impedindo o ganho genético; • - -8 • diminuição da heterose, acarretando perda de produtividade pelas progênies; • promoção do aumento da prepotência, que é a habilidade de um indivíduo (normalmente o pai) transmitir a mesma herança para descendentes diferentes, padronizando suas características nas progênies; • depressão endogâmica (manifestação de combinações genéticas desfavoráveis), acarretando sérios problemas reprodutivos e produtivos. Segundo Koury Filho (2002), a cada 10% no coeficiente de endogamia há depressão de até 7% nas características de vigor (heterose), produtivas e reprodutivas; • aumento considerável das anomalias genéticas, como catarata, atrofia de membros, animais agnatas, perda de fertilidade, perda de prolificidade, resistência a doenças, entre outras. Em função do observado, é de suma importância o conhecimento dos dos animais que serãopedigrees utilizados, principalmente os que deixarão inúmeras progênies. Isso porque, de acordo com Silva ([ .]), os. d aumento da homozigose pode resultar em diversos problemas para as diferentes espécies de interesse econômico. Podemos destacar nesse sentido: Gatos Doença de Chediak-Higashi, em que os animais afetados apresentam plaquetas defeituosas, grânulos aumentados em leucócitos polimorfonucleares e monócitos, assim como aumento de melanina nos pelos. Suínos Ausência de extremidades (animais nascem vivos e sem os membros posteriores e anteriores), fenda palatina (animais não mamam), hemofilia e hidrocefalia. Ovinos Nanismo, animais com “boca de papagaio” e membros fixos ao nascer (rígidos). Bovinos • • • • Você quer ler? No artigo escrito pelo pesquisador William Koury Filho, intitulado Mitos e Realidade , o pesquisador explora o melhoramento genético sobre Consanguinidade ou Endogamia e os aspectos positivos e negativos de se utilizar, de maneira intensa, a endogamia. Além disso, explica e exemplifica o conceito de coeficiente de endogamia, respondendo à seguinte pergunta: por que é bom para o produtor utilizar animais menos aparentados? A fim de descobrir a resposta, clique no botão abaixo e acesse o artigo na íntegra! Acesse http://www.brasilcomz.com/assets/uploads/downloads/mitos-e-realidade-sobre-consaguinidade-ou-endogamia-william-koury-filho-2002-ftcu.pdf - -9 Agnatia, amputação de membro anterior e posterior, prognatismo e hérnia cerebral. Equinos Ausência de membros anteriores, atresia de cólon. Cães Distrofia muscular (andar normalmente rígido), abdução das patas, adução dos joelhos e enfraquecimento muscular. Agora, que pudemos entender um pouco melhor sobre o conceito de endogamia e seus riscos, vamos conhecer as aplicações desse recurso? Acompanhe a seguir! 2.1.2 Aplicações da endogamia Muitos programas de melhoramento utilizam a endogamia com o objetivo claro de manter uniformidade produtiva, disponibilizando ao mercado animais mais parecidos. Entre as espécies exploradas comercialmente, aquela que mais se beneficia dessa estratégia de acasalamento é a , pois o segmentoavicultura industrial precisa produzir indivíduos uniformes para atender a um mercado cada vez mais exigente nos cortes apresentados para o consumo. Segundo Ledur . (2011), no início da década de 1960, as diferentes linhagens de aves produzidas foramet al amplamente comercializadas no mundo todo sob a chancela de uma marca (linhagem). O mercado brasileiro de aves e produtos avícolas cresceu de maneira rápida na época e forçou alguns órgãos de pesquisa, como a Embrapa, a desenvolverem linhagens nacionais geneticamente melhoradas, objetivando atender o crescente mercado consumidor. A Embrapa, no desenvolvimento de suas linhagens de poedeiras comerciais puras, utilizou como metodologia de índices de , combinados com a seleção para ganhos desejados seleção por níveis independentes para o , assim como a (LEDUR ., 2011). A figura a seguir descreve adescarte seleção recorrente recíproca et al seleção recorrente recíproca em maiores detalhes. - -10 Figura 5 - Esquema de seleção recorrente recíproca Fonte: Elaborada pelo autor, baseado em LEDUR et al., 2011. #PraCegoVer Na figura, temos um esquema de seleção recorrente recíproca evidenciando como podemos selecionar duas populações de aves e combiná-las nos cruzamentos, produzindo populações mais produtivas a cada geração. Na avicultura comercial também é comum a utilização de metodologia de seleção baseada na produção e no cruzamento de linhagens consanguíneas, permitindo a formação de famílias distintas com características desejáveis. Observe a próxima figura e entenda como esse esquema funciona na prática! Figura 6 - Esquema seleção de linhagens consanguíneas Fonte: Elaborada pelo autor, 2021. #PraCegoVer Na figura, temos um esquema retratando a seleção a partir de linhagens consanguíneas, normalmente utilizado nas linhagens de aves comerciais (corte e postura), aumentando o seu desempenho e explorando o efeito de complementariedade entre as linhagens. A utilização de métodos de seleção endogâmico na avicultura possibilitou a formação de linhagens com características específicas. Vamos pensar em um exemplo fictício para fixarmos melhor o conteúdo? Considere uma , cujo objetivo é ter animais com alto rendimento de coxa elinhagem consanguínea A sobrecoxa (fixar característica), bem como características tradicionais de desempenho (ganho de peso e rendimento de carcaça). - -11 Na , por sua vez, o objetivo é ter animais com alto rendimento de peito (fixarlinhagem consanguínea B característica), bem como características tradicionais de desempenho (ganho de peso e rendimento de carcaça). Figura 7 - Esquema de seleção para produção de indivíduos advindos de linhagens endogâmicas A e B Fonte: Elaborada pelo autor, 2021. #PraCegoVer Na figura, temos um esquema de seleção baseado na produção de linhagens consanguíneas A e B, com o objetivo de explorar o efeito de complementariedade entre as linhagens consideradas nos acasalamentos. Na junção de A e B, temos indivíduos AB (coxa/sobrecoxa e peito). Pensemos, ainda, na linhagem consanguínea C, cujo objetivo é ter animais com alto rendimento na oviposição (fixar característica), bem como características tradicionais de desempenho (ganho de peso e rendimento de carcaça). Por fim, temos a , com o objetivo de ter animais com alto rendimento delinhagem consanguínea D empenamento rápido (fixar característica), bem como características tradicionais de desempenho (ganho de peso e rendimento de carcaça). - -12 Figura 8 - Esquema de seleção para produção de indivíduos advindos de linhagens endogâmicas C e D Fonte: Elaborada pelo autor, 2021. #PraCegoVer Na figura, temos um esquema de seleção baseado na produção de linhagens consanguíneas C e D, com o objetivo de explorar o efeito de complementariedade entre as linhagens consideradas nos acasalamentos. Na junção de C e D, temos indivíduos CD (oviposição/empenamento). Assim, a avicultura se baseia na máxima eficiência produtiva, explorando todas as possibilidades, tanto nas adequações ambientais (instalações modernas, programas nutricionais sofisticados, manejo sanitário com foco na prevenção, entre outros) quanto na escolha dos melhores genótipos, buscando sempre o máximo desempenho nas linhagens a cada geração. Na próxima figura, temos um esquema de seleção em que o (procedente de uma linhagemmacho AB endogâmica) é acasalado com uma (procedente de linhagem endogâmica), produzindo avesfêmeaCD comerciais, explorando ao máximo a heterose nesses cruzamentos. - -13 Figura 9 - Esquema de seleção para produção de indivíduos advindos de linhagens endogâmicas AB e CD Fonte: Elaborada pelo autor, 2021. #PraCegoVer Na figura, temos um esquema de seleção baseado na produção de indivíduos advindos de linhagens consanguíneas AB e CD, com o objetivo de explorar o efeito de complementariedade entre as linhagens, produzindo a ave comercial com alta capacidade produtiva. Na junção de macho AB e fêmea CD, encontramos aves comerciais ABCD. A partir dos esquemas apresentados, é possível entender uma das principais vantagens do referido método de seleção (linhagens consanguíneas), que consiste na fixação de características que, posteriormente, serão transmitidas a progênies de maneira intensa nas aves comerciais. Dessa maneira, será observado alto rendimento de coxa, sobrecoxa, peito e oviposição, com empenamento rápido, características que o mercado e o produtor desejam nos animais. 2.2 Endogamia: cálculo do coeficiente de endogamia ou consanguinidade VAMOS PRATICAR? Considere dois indivíduos (M e H). Observando parte da árvore genealógica de M, pode- se observar que ele é filho de J com K e tem como avós paternos C e D, bem como avós maternos E e F. Avalie, também, a árvore genealógica de H, que tem como pais J e B. Seus avós paternos são C e D, e avós maternos E e F. Baseado nessas informações, calcule o grau de parentesco entre os indivíduos M e H. - -14 O afeta diretamente a diversidade genética de um grupo de animais (população),coeficiente de endogamia sendo descrito inicialmente por Wright (1951) como um método estatístico para estimar a chance de um indivíduo apresentar genes idênticos em um mesmo , os quais foram herdados de antepassadoslocus procedentes de grupos endogâmicos. A endogamia resulta da reprodução (intencional ou não) de indivíduos que têm algum ancestral em comum, provocando perda da variabilidade genética e, consequentemente, aumento dos genes homozigotos, alterando a frequência genotípica, mas não a frequência gênica. Mesmo com os riscos evidenciados em inúmeros trabalhos acadêmicos, a endogamia vem sendo utilizada por criadores com o intuito de (uniformidade) nos descendentes de determinadosfixar características desejáveis reprodutores que têm boa aceitação comercial. Como exemplo, podemos citar os garanhões que impõem atributos como conformação de garupa, andamento e até coloração da pelagem para seus descendentes. Burrow (1993), em seus estudos de revisão sobre endogamia, observou que, em gado de corte, conforme aumentava o coeficiente de endogamia (F) em 1%, ocorria uma queda, em média, de 0,06 kg de peso ao nascer, 0,44 kg no peso ao desmame e 0,69 kg a menos no peso ao ano, impactando negativamente todo o desempenho e, com isso, pondo em risco a lucratividade do sistema. Estudo de Caso Imagine o seguinte caso: um criador de cães da raça pastor alemão, baseado em seus levantamentos, acredita que é possível aumentar sua oferta de filhotes para o mercado. Mediante a situação, solicita a ajuda de um médico veterinário para que possam, juntos, implantar um programa de MGA para a raça em questão. O canil é muito pequeno, com apenas cinco cadelas adultas e um padreador, todos com e importados da Europa. Lucas (proprietário do canil), sempre muito pedigree preocupado com a qualidade dos filhotes, solicitou ao veterinário a elaboração de uma estratégia que permita a implantação do programa, mesmo com poucos animais, tomado cuidado para evitar problemas relacionados à consanguinidade. Com as informações prestadas pelo criador, o médico veterinário fez sua avaliação. A partir dela, foram introduzidas práticas que permitiram o controle reprodutivo dos animais existentes, bem como a utilização de biotecnologias, como a inseminação artificial, com animais de outros plantéis, proporcionando que a variabilidade genética se mantivesse elevada, mesmo o canil tendo poucos animais. Dessa forma, podemos perceber que é possível implementar programas de melhoramento genético mesmo em pequenos criadores, desde que conduzidos de maneira adequada. - -15 Para avaliar o coeficiente de endogamia entre dois indivíduos, é necessário verificar se existe algum ancestral em comum, ou seja, um laço genético entre os animais. Para facilitar a compreensão, observe a figura a seguir, em que temos um esquema representando a árvore genealógica do indivíduo W. Figura 10 - Representação da árvore genealógica do indivíduo W Fonte: Elaborada pelo autor, 2021. #PraCegoVer Na figura, temos a representação esquemática da árvore genealógica do indivíduo W para avaliar a endogamia em seus antepassados, bem como calcular o coeficiente endogâmico. Ele tem como descendentes X e Z. De X, temos A (C e D) e B (E e F). De Z, temos A (C e D) e G (H e I). Observe que o animal W é filho de X e Z (animais irmãos por parte de pai). No caso, o animal A é pai tanto de X quanto de Z. Além disso, baseando-se no esquema apresentado, pode-se concluir que o indivíduo W é considerado consanguíneo, tendo em vista que seus pais têm grau de parentesco. Inclusive, vale citar que X e Z são considerados meio irmãos por conta das mães diferentes (B e G). Partindo dessas afirmações, podemos calcular o coeficiente de endogamia (F) do animal W, da seguinte maneira: Você quer ler? A respeito dos efeitos deletérios da endogamia em sistemas de produção animal, sugerimos a leitura do artigo Efeito da Endogamia sobre Características de Crescimento , escrito por Sandra Aidar de Queiroz, Lucia Galvão de Bovinos da Raça Gir no Brasil de Albuquerque e Neli Aparecida Lanzoni. No texto, os pesquisadores avaliaram os efeitos da endogamia e suas influências sobre o crescimento de bovinos de corte entre os anos de 1970 até 1995, chegando a resultados importantes em relação à prática. Leia na íntegra clicando no botão abaixo! Acesse https://www.scielo.br/j/rbz/a/pSctmQWZ6GZn5SssWHSR8vK/?lang=pt&format=pdf - -16 F( ) = R( ) / 2T ZT F( ) = 0,25 / 2T F( ) = 0.125 ou 12,5%T Interpretando o resultado, temos que, em média, 12,5% dos genes que eram heterozigotos em A passaram a ser homozigotos em W pelo fato de X e Z serem parentes. Agora, para fixar nossos conhecimentos, antes de prosseguirmos com nossos estudos, valor realizar uma atividade? Acompanhe e responda à questão a seguir! Como já abordado, existem algumas possibilidades de melhoramento genético a partir de características fenotípicas (quantitativas e qualitativas). Sua externalização depende do ambiente em que o animal é produzido (alimentação, sanidade, estrutura física, entre outros). Porém, independentemente das características a serem trabalhadas, os programas podem optar pela utilização de acasalamentos consanguíneos, tornando-se uma estratégia a mais de seleção. Diante disso, com base em nosso material e em seus conhecimentos, assinale a alternativa a seguir que apresenta vantagens da utilização da endogamia. a. Fixar características e formação de famílias distintas. b. Aumentar a quantidade de genes heterozigotos na população. c. Diminuir a frequência de genes recessivos na população. d. Explorar a heterose máxima. e. Tornar os indivíduos da população muito diferentes fenotipicamente. Resposta(s) correta(s): a. Fixar características e formação de famílias distintas. TESTE SEUS CONHECIMENTOS (ATIVIDADE NÃO PONTUADA) - -17 Retomando, é válido salientar que animais com alto grau de endogamia podem acarretar prejuízos nos sistemas de produção animal, pois apresentam perda de vigor, menores índices de fertilidade, risco aumentado de surgimento de doenças deletérias causadas por genes recessivos, entre outras situações. No entanto, de acordo com estudos realizados, um F com valor inferior a 7% não traz prejuízo do ponto de vista produtivo. 2.3 Exogamia e heterose A exogamia ou o cruzamento diz respeito a reproduzir indivíduos com grau de parentescoinferior à média da população, ou seja, que não têm ancestrais em comum, permitindo que a variabilidade genética se mantenha elevada. O cruzamento possibilita, de forma rápida e eficiente, a obtenção de características desejáveis (precocidade reprodutiva, acabamento de carcaça, ganho de peso maior, melhor conversão alimentar, adaptação a diferentes ambientes produtivos etc.) quando comparada às raças puras. Outro aspecto muito comum é explorar o chamado .efeito da complementariedade entre raças Nos diferentes programas de MGA, é possível utilizar os cruzamentos com os seguintes objetivos: Complementação entre linhagens maternas e paternas Aproveitar o crescimento rápido e boa conformação de carcaça que os machos transmitem para seus filhos com as características das fêmeas, como produção de leite e fertilidade, promovendo ganhos produtivos nos animais cruzados ou mestiços. Combinações entre raças Permite que raças diferentes possam produzir indivíduos melhores, como no cruzamento entre animais da raça Nelore ( , o famoso Zebuíno, rústico e adaptado ao ambiente tropical) com animais da raçaBos taurus indicus Aberdeen Angus ( , o famoso Taurino, características produtivas desejáveis, precocidadeBos taurus taurus sexual e terminação de carcaça). Você quer ver? No vídeo , são abordados aspectos da necessidade de Melhoramento Genético de Ovinos se investir em seleção de reprodutores, utilizando artifícios para melhorar o plantel a cada geração. O produtor reporta suas dificuldades e os resultados obtidos com a implantação do programa de melhoramento em sua propriedade. Confira o vídeo completo no botão abaixo! Acesse https://www.youtube.com/watch?v=Sn0zv4nfLVg - -18 Ainda temos outros objetivos que valem a pena ser mencionados: • promover a absorção de raças a partir de uma base genética desconhecida, permitindo que, a partir dela, possam ser originados animais “puros por cruza”, que são mais produtivos e especializados; • criação de novas raças, permitindo a formação de raças especializadas que atendam a todas as necessidades dos consumidores e criadores; • introdução de características (genes) desejáveis, como a resistência a doenças, marmorização de gordura e docilidade; • explorar a heterose, permitindo que os filhos apresentem resultados superiores à média de seus pais. Dentro desse contexto, importante citar que a heterose, também conhecida como “ ”, évigor do híbrido definida como a superioridade dos filhos em relação à média dos pais, sendo mais intensa quanto mais afastados geneticamente forem as raças ou linhagens em relação à sua origem. Os efeitos, no entanto, são mais perceptíveis em características relacionadas à reprodução e adaptabilidade, ou seja, em características de baixa herdabilidade. De acordo com Miranda e Freitas (2009, p. 2), “[...]na escolha de uma ou outra raça, ou de alguma das diferentes opções de cruzamentos, devem ser considerados vários aspectos, como o sistema de produção a ser adotado na propriedade, o clima (temperatura, ventos, radiação solar, umidade relativa do ar, precipitação média anual), o tipo e a fertilidade do solo, a topografia do terreno, o preço dos animais, a preferência pessoal do produtor, a capacidade de investimento etc. Basicamente, pode-se utilizar qualquer raça ou tipo de cruzamento e ter sucesso, dependendo do sistema de produção adotado na propriedade, das tecnologias usadas, da capacidade gerencial e administrativa do produtor, do preço de venda do leite, entre outros [...]”. MIRANDA, J. E. C.; FREITAS, A. F. Raças e tipos de cruzamentos para produção de leite. Circular , Juiz de Fora, 2009. Disponível em: Técnica https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao /737102/racas-e-tipos-de-cruzamentos-para-producao-de-leite. Acesso em: 11 jun. 2021. • • • • TESTE SEUS CONHECIMENTOS (ATIVIDADE NÃO PONTUADA) https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/737102/racas-e-tipos-de-cruzamentos-para-producao-de-leite https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/737102/racas-e-tipos-de-cruzamentos-para-producao-de-leite - -19 Baseado na citação anterior e em seus conhecimentos até o momento, analise as afirmativas a seguir sobre a exogamia e heterose. I. Animais cruzados apresentam alta heterose, que consiste na superioridade produtiva média dos filhos em relação aos seus progenitores. II. Animais cruzados apresentam baixa heterose, que consiste na inferioridade produtiva média dos filhos em relação aos seus progenitores. III. Animas cruzados apresentam combinações de méritos genéticos de diferentes raças em um único animal. IV. Os cruzamentos não alteram a frequência genética nas populações. Está correto o que se afirma em: a. I e III. b. I e IV. c. II, III e IV. d. II e III. e. I, II e IV. Resposta(s) correta(s): a. I e III. Retomando nossos estudos para finalizar o material, Manella (2004) complementa mencionando que os cruzamentos podem ser de três tipos, conforme segue: • rotacionado: utilização de apenas duas raças, mantendo as fêmeas (F1) para reprodução na próxima geração, sendo acasaladas com animais da raça paterna ou materna (retrocruzamento); • terminal: cruzamento entre duas raças, sendo toda progênie destinada ao abate (machos e fêmeas); • rotacionado terminal: utilização de duas raças para produzir as fêmeas F1, sendo necessário utilizar uma terceira raça para acasalar com tais fêmeas, destinando-se toda a progênie ao abate. • • • - -20 Agora, que tal praticar um pouco com o conhecimento adquirido neste material? VAMOS PRATICAR? Realize uma pesquisa a respeito de exemplos de cruzamentos utilizados em espécies de interesse pecuário. Depois, elabore um texto em Word de, no máximo duas páginas, e compartilhe com seus colegas! - -21 Conclusão Chegamos ao fim do material. Aqui, foi possível entender sobre os conceitos de endogamia e consanguinidade, bem como exogamia e heterose, identificando suas aplicações. Com isso, pode-se concluir que os dois sistemas de acasalamento podem ser utilizados em programas de melhoramento genético animal. Nesta unidade, você teve a oportunidade de: • aprender o conceito de endogamia, bem como seus riscos e as aplicações da utilização da prática em programas de MGA; • entender como calcular o coeficiente de consanguinidade (F) e o coeficiente de parentesco (Rx,y); • compreender que esses coeficientes são de suma importância para avaliar se a variabilidade genética está aumentando ou diminuindo na população sob melhoramento genético; • identificar como a exogamia pode implementar ganhos produtivos e reprodutivos nos rebanhos sob seleção, assim como elevar a variabilidade genética no plantel. • • • • - -22 Referências BURROW, H. M. The effects of inbreeding in beef cattle. , [ .], v. 61, n. 11, p.Animal Breeding Abstracts s. l 737-751, nov. 1993. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication /285667729_The_effects_of_inbreeding_in_beef_cattle. Acesso em: 28 abr. 2021. EUCLIDES FILHO, K. : fundamentos, história e importância.Melhoramento genético animal no Brasil Campo Grande: Embrapa, 1999. Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao /323391/melhoramento-genetico-animal-no-brasil-fundamentos-historia-e-importancia. Acesso em: 11 jun. 2021. FARIA, F. J. C. . Intervalo de gerações e tamanho efetivo da população na raça Nelore. : 38ª REUNIÃOet al In ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 2001, Piracicaba. […]. Piracicaba: [Anais s. e .], 2001. KOURY FILHO, W. Mitos e realidades sobre consanguinidade ou endogamia. , [ .], ano 2,Revistas ABCZ s. l n. 10, 2002. 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Conclusão Referências questao01: Off questao01: Off questao01: Off questao01: Off questao01: Off questao01: Off questao01: Off questao01: Off questao01: Off questao01: Off questao01: Off questao01: Off
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