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jÇyfe da Câmara Cascudo Crônicas de Origem A cidade de Natal nas crônicas cascudianas dos anos 20 2" edição Raimundo Arrais Organização e estudo introdutório Crônicas de Origem A cidade de Natal nas crônicas cascudianas dos anos 20 Luís da Câmara Cascudo Crônicas de Origem A cidade de Natal nas crônicas cascudianas dos anos 20 2aedição Raimundo Arrais Organização e estudo introdutório Ediloro da UFRN Natal, 2011 UNIVERS.DADE FEDERAL DO R.O GRANDE DO NORTE Reitor José Ivonildo do Rego Vice-Reitora Angela Maria Paiva Cruz Diretorda EDUFRN Herculano Ricardo Campos Conselho Editoral CiprianoMaia de Vasconcelos (Presidente) Ana Luiza Medeiros Humberto Hermenegildo de Araújo John Andrew Fossa Herculano Ricardo Campos MÔnica Maria Fernandes Oliveira Tânia Cristina Meira Garcia Tecia Maria de Oliveira Maranhão Virgínia Maria Dantas de Araújo Willian Eufrásio Nunes Pereira Editor Helton Rubiano de Macedo Revisão Sílvia Barbalho Brito Wildson Confessor Editoraçãoeletrônica Helton Rubiano de Macedo Capa Ivana lima Foto dacapa Bruno Bougard (1904) Praça André de Albuquerque Acervo do Instituto Histórico Geográfico do Rio Grande do Norte Supervisãoeditorial Alva Medeiros daCosta Supervisão gráfica Francisco Guilherme de Santana Divisão deServiços Técnicos f^!^^^ Centra, Zila Mamede Cascudo, Luís daCâmara. »/iSzcOEj^*22-c?rs cascudianas dos—Arrais. - 2. ed. - Natal, RN: EDUFRN 2011 'ntrodutõrio Raimundo 118p. ISBN 978-85-7273-743-2 RN/UF/BCZM CDD B869.93 CDU821.134.3(81)-94 TOdOS^v^^^ Ugoa Nov8a |59.07^ N^/RN ^7?^° Prefácio à segunda edição Esta segunda edição de Crônicas de Origem, com modifica ções pontuais em relação à edição anterior, de 20051, reúne um conjunto decrônicas que Luís da Câmara Cascudo publicou na imprensa da cidade de Natal, ao longo da década de 20 do século passado. O estudo introdutório que abre o livro procura auxi liar na compreensão dessas crônicas, que falam de uma Natal tão distanteno tempo que nem parece ao leitor a cidade em que vivemos hoje. Procura apresentar o homem e a cidade que foi a principal fonte desua arte, e situar algumas das idéias expostas nessas crônicas. Procura relacionar as idéias das crônicas de Cas cudo com aquelas dos seus contemporâneos, e dos que vieram antes dele, e identificar os pontos emque as idéias de uns e de outros se cruzavam, e talvez mesmo se confundissem. As crônicas de Cascudo, e também dos outros cronistas de seu tempo, deixam patente que a cidade estava inserida e atra vessada pelos problemas da modernidade do ocidente, que che gava a Natal sob a forma de notícias, objetos, idéias, imagens. Mesmo que entre nós essa modernidade não tenha suscitado a mesma euforia, nem a violência que em outras latitudes desen cadeou sobre os mundos tradicionais,na escalareduzida de uma pequena cidade na periferia do ocidente, os natalenses (pelos menos os jovens intelectuais e os dois últimos governantes do período da República Velha) chegaram aexcitar-se einquietar-se em face das possibilidades, verdadeiras ou ilusórias, de trans formação de sua cidade. As crônicas de Cascudo registraram o burburinho eainquietação que acompanharam onascimento de uma nova cidade. Elas nos fornecem orelato de suas origens. Entretanto, as crônicas também falam do intelectual que as escreveu. Revelam ao mesmo tempo oateliê do cronista (seu método de pesquisa, seu modo de compor com palavras) eos produtos saídos desse ateliê numa fase de formação, que vai se desdobrar em uma carreira de cronista ehistoriador da cidade de Natal, desenvolvida décadas afio, no jornal eno livro Por isso, oexame atento pode fornecer aos leitores interessados a compreensão das nuanças, apresentadas na trajetória intelectual de um Cascudo que éprovavelmente mais conhecido entre nós como ofolclorista ehistoriador da cidade de Natal. Essas crônicas andavam esquecidas em velhos jornais, até que oprofessor José Luiz Ferreira (UERN) as localizou eas trans creveu. Elas chegaram-me por intermédio do professor Hum berto Hermenegildo de Araújo, então coordenador do Núcleo Câmara Cascudo de Estudos Norte-rio-grandenses (NCCEN- -UFRN). Foi, portanto, essa rede de colaboração, que está desen volvendo-se no seio da UFRN, em torno dos estudos da cultura do Rio Grande do Norte sob ainspiração de Cascudo, que, acima de tudo, tornou este livro possível. Prof. Raimundo Arrais Departamento de História/UFRN Sumário Estudo introdutório 11 | O nascimento do cronista e o nascimento da cidade de Natal Seleção de Crônicas 67 | Instituto Histórico eGeográfico do Rio Grande do Norte 69 | A noite em Natal 71 | A casa do operário 74 | Homo Brasiliensis 76 | Lei n. 145 78 | O livro das velhas figuras 83 | A nossa D. G. de E. 86 | O doutor Antunes 89 | Ea nossa universidade popular? 92 | A taça florida 94 | Carnaval! Carnaval! 100 | Proteção da alegria popular 103 | Ângelo Roselli 106 | O novo plano da cidade I: A cidade 110 | Onovo plano da cidade II: ARibeira no "Master Plan 115 | Junqueira Ayres ESTUDO INTRODUTÓRIO O nascimento do cronista e o nascimento da cidade de Natal Luís da Câmara Cascudo - singularizado na paisagem cultural do Rio Grande do Norte pela luminosa erudição, pelos amplos horizontes do interesse intelectual epela pesquisa siste mática das manifestações da cultura popular - deve algo.de sua formação e do seu reconhecimento ao pequeno meio natalense onde nasceu e no qual desenvolveu seus projetos deescritor. Ao longo de toda sua vida intelectual, ele observou acidade de Na tal, estudou-a e, como tantos outros intelectuais de seu tempo, procurou participar do destino dessa cidade eintegrar-se nele. Como veremos, sob certos aspectos, as idéias de Cascu do expressas nas crônicas selecionadas neste livro revelam mu danças em relação ao pensamento da geração de intelectuais de Natal que escreveram na passagem do século XIX para o XX. Todavia, também foi um continuador dos intelectuaisque o pre cederam, ao menos, em dois aspectos: desenvolvendo temasque haviam sido esboçados por alguns daqueles autores, e assumin do posicionamentos semelhantes aos deles. Mas, éem relação ao lugar que os intelectuais julgavam que deveriam ocupar dentro da sociedade, que iremos encontrar a firme continuidade entre as duas gerações: uma, a de Henrique Castriciano (1874-1947); outra, a de Câmara Cascudo (1898-1986). Para eles, osescritores e os poetas deveriam desempenhar um papel ativo diante das grandes questões que percorriam e agitavam a cidade. Este estudo introdutório pretende situar no seu tempo e no seu espaço as crônicas que Cascudo publicou na década de u 20 do século passado, um período em que se tornava evidente para ele e para seus contemporâneos a emergência daquilo que estava sendo visualizando como uma nova cidade, uma nova ci dade de Natal. Quando Cascudo nasceu, a capital contava com pouco mais de dezesseis mil pessoas, e quando ele escreveu a primeira das crônicas que selecionamos neste volume, no ano de1924 (ele começou a publicar crônicas em 1918, em1921 veio àluz Alma patrícia, seu primeiro livro depois da compilação que realizou dos versos de Lourival Açucena, em 1920), esse número ultrapassava acifra dos trinta mil.2 Aimagem que estampamos na capa de Crônicas de Origem ilustracomo emduas décadas a ci dade mudou sua fisionomia. Trata-se de uma fotografia de Bru no Bougard, captada do alto da Catedral (hoje Catedral Velha). Dos elementos que aparecem no panorama que abarca o núcleo original da cidade, hoje só permanecem o rio, os mangues, as dunas ea igrejinha de Nossa Senhora do Rosário. Oano era 1904, e esse era o cenário correspondente à atual Praça André de Al buquerque. Em 1896, portanto, dois anos antes do nascimento deCascudo, quando o terreno trazia poucos sinais de interven ção humana, a imprensa, empregando os argumentos da época, pedia que ele fosse convertido num "iugar de recreio para quer messes eoutras festas ao ar livre, tão necessárias àhigiene moral do povo...".3 Vinte anos depois, mais ou menos no tempo que Cascudodebutava na imprensa, a praça estaria completamente modificada, exibindo passeio, pavilhão central e coreto.4 As crônicas de Cascudo começaram a ser publicadas no jornal AImprensa, fundado em 1914 pelo seu pai, ocoronel Fran cisco Cascudo, que no "principado do Tirol" (residência "princi- pesca" de Cascudo, ocupando vasta área entre as avenidas Cam pos Sales eRodrigues Alves, eas ruas Apodi eJundiaí, no bairro do Tirol) acolhia um grupo de jovens ansiosos por conquistar um lugar no mundo das letras. Câmara Cascudo recordou que AImprensa fora "fundada emantida por Francisco Cascudo, sem ganhos eretribuições, antes constituindo um amplo aprendiza do para duas dezenas de nomes que não podem esquecer avelo cidade inicial, oambiente animador efraternal, solidário com os vôos eencorajador de todos os remígios".5 Nesse ambiente, Luís da Câmara Cascudo se tornou uma liderança intelectual, ocu pando na pequena capital dos anos 20 uma posição que podia ser comparada àquela que, na geração anterior, coubera aHenrique Castriciano.6 As crônicas reunidas neste pequeno repertório não falam apenas da cidade de Natal. Falam também de seu autor. Com a pulsação de sua sintaxe pessoal, as cores eas manias da época, elas nos permitem acompanhar um momento decisivo da for mação do intelectual de maior relevo da cidade de Natal, reco nhecido mais tarde como aquele que "tudo sabe" a respeito de sua cidade e de seu povo, que se habilitava, progressivamente, à tarefa de escrever a memória de Natal nas crônicas oferecidas regularmente aos leitores nos jornais da cidade, publicando, em 1947, aprimeira história da cidade de Natal.7 Flores e automóveis Na crônica intitulada Ataça florida, publicada em 07 de fe vereiro de 1929, Câmara Cascudo se reportava auma Natal pró diga em jardins cuidados por mãos recatadas de donas de casa, i 3 uma cidade cujos moradores encontravam tempo para cultivar flores, que eles conheciam pelos nomes. As flores, ocronista con verte-as em elemento representativo daquela cidade antiga: tra dicionais, singelas, vicejando nos canteiros que olhavam avida passar lentamente, seus perfumes chegando até os passantes. Uma atmosfera de lirismo recobria aquela Natal eseus po etas mais expressivos escreviam versos ingênuos, ecoando por vezes um romantismo que retirava sua força da natureza sobre a qual acidade estava assentada. Cascudo identificou isso na poesia de Ferreira Itajubá.» Porém, ele devia ter aspirado esse lirismo nos tempos felizes vividos na casa paterna (estivera sob seu teto nos anos 10 e20, até odesmoronamento financeiro do pai), aqual exi bia belos caramanchões com jasmins, resedás ebogarisejardinsco roados de dálias, que ele recordou mais tarde, em suas memórias.' Todavia, nessa Natal nem tudo eram flores. No panora ma suave das páginas cascudianas, que apresentam aos olhos do leitor acalmaria da cidade antiga, às vezes irrompe de modo inesperado oelemento perturbador da harmonia eda quietude que fez essa cidade desaparecer em algum momento do início do século XX. Em algum momento se rompera aplacidez antiga. Em algum momento, apontava ocronista: "A vida apressou o ritmo e estas flores desapareceram". Nessa perspectiva, ele parece assinalar aconsumação de um estado de coisas que, na opinião de alguns, estava se inician do por volta de 1908. Pois, naquele ano, algumas vozes haviam saudado os meios de transporte sobre trilhos, eoritmo novo que os burros correndo sobre esses trilhos estavam introduzindo em Natal. Destaquemos uma voz desse coro de entusiastas: 14 Parecia que o Natal triste e macambúzio metera-se em brios, todo risos, todo festas, para o início de uma nova era. Ealgo de novo havia no ativo de uma cidade que se prepara para sergrande namoderna civilização: o bonde, encurtando distâncias, acelerando o movimento, criando a vida de rua, é certamente uma verdadeira revolução no meio pacato emque temos permanecido atéagora.10 Duas passagens das memórias de Cascudo, escritas muito de pois das crônicas da década de 20, deixam-nos perceber aforça eper manência da impressão do poder destrutivo do tempo. Numa das passagens ele condena apressa que regia avida da cidade moderna, as pessoas vivendo "quase sem ver apaisagem lateral"; ocronista la menta que aexpansão violenta da cidade houvesse provocado "oexí liodo transeunte".11 Noutra passagem, o tom é igualmente amargo: Natal lamenta o privilégio de possuir o maior número de automóveis per capita, em todo o Brasil. O transeunte é um hóspede indesejável e atrevido, disputando aos mo tores bufantes as reduzidas faixas de acesso. A via, por eufemismo, pública, é praticamente uma pista de veloci dade, sonorizada por buzinas incessantes.12 Nos anos 20, como veremos ao longo desta introdução, a cidade de Natal se renovava. Essa era uma realidade inegável para os seus intelectuais. Mas, o nosso cronista, ao passar em revista essa cidade nova que foi tomando forma diante de seus olhos, nãodeixava de valorizar justamente oselementos do pas sado que ela comportava, que sobreviviam dentro dela. Assim, nessa crônica de 1929, que voltaremos a explorar mais adiante, Cascudo dirigia palavras entusiasmadas àação do prefeito Ornar 0'Grady, que, no mesmo ano, estava colocando em execução o PlanoGeral de Sistematização de Natal, elaborado peloarquiteto Giacomo Palumbo, como apoio do governador Juvenal Lamarti- 15 k. ne de Faria. Oefeito do programa urbanístico que fora aplicado na capital era sintetizado por Cascudo nessa frase breve: opre feito estava "tornando Natal uma cidade bonita". Ele reconhecia naquela cidade orenovar de uma beleza que devia ser atribuída, pelo menos em parte, ao conjunto de ações da municipalidade e do governo do estado, que mandara construir jardins erealizara oplantio sistemático de árvores. Cumpre destacar que, eCascu do trata do tema em duas longas crônicas da época, oPlano Ge ral de Sistematização de Natal apresentava um alcance que oar- quiteto-historiador George Dantas, mencionando oalargamento em relação ao plano que havia criado aárea correspondente aos bairros de Petrópolis eTirol, associada ao nome de Polidrelli, nos apresenta em suas grandes linhas: O Plano incorporou às suas metas trabalhos já realiza dos - ou em realização, na administração de 0'Grady -, expandiu a malha definida por Polidrelli em 1904, e foi delineado pelo zoning, atribuindo a cada parte da cida de uma função específica. Preocupava-se em preparar a cidade parao futuro, [...] pensando nas necessidades de tráfego, aéreo e viário.13 Esse "retorno às flores" indicava a recuperação de alguma coisa que pertencia ao quadro da cidade desaparecida. Assim, a crônica de 1929 introduz a referência aos ruídos, entre eles o ruído do automóvel, que estavam sufocando alinguagem sutil das flores. Cascudo exprimia ainquietante sensação de que os elementos que assinalavam as particularidades do modo de vida tradicional da ci dade estavam sendo corroídos. Épossível identificarmos em Cascu do eem outros intelectuais de sua cidade esua geração elementos para reconstituirmos onome daquela cidade suspirada do passado, que não existia mais nos anos 20: era a Natal antiga. Esse nome foi 16 adotado justamente sob oimpacto da destruição que aapagara. As sim, onome surgiu posteriormente ao fato que ele representa, por que aNatal em que vivia Cascudo era percorrida por uma mudança acelerada que estava fazendo nascer outra cidade, designada como uma nova Natal. Desse modo, torna-se impossível descrever acida de antiga sem asua contrapartida, oseu outro, acidade nova. No plano dos signos (nas páginas dos cronistas, poetas, memorialistas), portanto, écomo se ela fosse despontando entre os escombros da cidade que se modernizava, de modo mais acentuado nos anos 20. Anova Natal que estava tomando forma lentamente aos olhos dos intelectuais egovernantes era muito mais do que uma realidade geográfica, embora ela tivesse sido anunciada, pela primeira vez, diretamente associada àgeografia, dentro de uma área que corresponderia aos futuros bairros de PetrópoliseTirol (área em que foi implantada a"malha definida por Polidrelli, em 1904", aque se refere George Dantas, na referida passagem), organizada segundo um traçado de linhas retas elargas, expri mindo os princípios elementares do racionalismo que orienta va oplanejamento das cidades. Essa área tomaria exatamente o nome de Cidade Nova. Num sentido mais amplo, essa nova Natal designava tam bém um conjunto de modificações introduzidas nos dois bairros mais antigos, aCidade Alta eaRibeira, aterramentos, construção de edifícios prestigiosos (exemplo, oTeatro Carlos Gomes), ajar- dinamento de praças, inauguração de linhas de bonde eilumina ção elétrica. Anova Natal, aqui reportada, consiste, portanto, num conjunto formado pela matéria (o solo urbano, os edifícios e os equipamentos) que recobre toda aparte urbana da cidade epelas 17 práticas sociais que se desenrolavam sobre este solo: as relações entre as pessoas, os costumes, amoda, as expressões artísticas. Na crônica que dedicou ao comerciante Ângelo Roselli, em 1929, Cascudo invocava a cidade do passado como uma Natal "velha edeliciosa, dorminhenta à beira-rio, tão recatada edoce como aágua móbil everde". Portanto, uma cidade que se .mpregnava da quietude das águas em cujas margens ela se estend,a; mais se acomodando auma ordem natural, do que a modificando para conformá-la àvontade humana. Temos aqui o estabelecimento de mais um franco contraste entre avida naque la Natal antiga eavida na cidade moderna: acidade da natureza, a cidade da técnica. Acidade de Natal dos escritores do início do século XX se encontrava justamente no centro da tensão entre essas duas forças: anatureza eatécnica. ANatal antiga estava mais pró- x.ma do mundo natural; anova Natal, ao contrário, era em boa med,da um artifício, oresultado da engenhosidade humana que •mplantara edificações, ruas, monumentos, eque, com os meios de transporte acelerados eaenergia elétrica, estavam emanci pando seus moradores das restrições impostas pelo meio epelos elementos naturais. Uma dessas restrições da cidade antiga residia no fato de que os moradores de Natal tinham de organizar sua vida confor me os ciclos do dia. Na crônica Anoite em Natal, de 1924, Cascudo relembrava uma cidade em que ocair da noite obrigava os mo radores se refugiarem em casa para evitar aescuridão ou, na me lhor das situações, asemiescuridão dos lampiões das ruas So mente em 1911 chegara aNatal oserviço de iluminação pública 18 saudado entusiastícamente. Afinal, permitia alongar o dia sobre certos territórios da"cidade, dilatando as possibilidades da vida social, na medida em que atraía os natalenses para as atividades noturnas realizadas nos espaços públicos (o que se compreende bem quando consideramos que o simples clarão da luz elétrica era um atrativoque levavaas pessoas às ruas), e desencadeando uma força multiplicadora sobre uma série de outros melhora mentos dentro da cidade.14 Até o início do século XX, na noite mal-iluminada da ca pital, o território mais densamente ocupado e freqüentado pe los moradores achava-se seccionado em dois bairros: Ribeira e Cidade Alta. A Ribeira e a Cidade Alta estavam separadas por uma ladeira cascalhenta e escorregadia (atual Junqueira Aires), o que incomodava especialmente nos dias chuvosos. Isso se re fletia numa forma de organização localista que levava os mo radores a estranhamentos e hostilidades mútuas, designando-se uns aos outros, de modo provocador, como xarias e canguleiros, espécies de peixes que compunham a dieta dos moradores de cada um dos dois bairros. As dificuldades de se percorrer o tre cho entre os dois bairros motivavam protestos na imprensa. Em 1902, pedia-se no Diário de Natal o calçamento "da artéria princi pal que liga a Cidade Alta à Ribeira", pois esse caminho estava "completamente inutilizado, ou antes aterrado pelo grosso areai conduzido da Cidade Alta, pelas águas dos invernos, tornando por demais incômoda, especialmente para as senhoras, a passa gem por ali".15 Para Cascudo, a integração desse espaço, que oficialmente correspondia à cidade de Natal, somente havia sido obtida com 19 a atuação do bonde na cidade, a partir de 1908. Com os trilhos ligando os dois bairros se pôde rigorosamente falar da existên cia de um natalense, esse coletivo que transcendia os particularis- mos. Com efeito, quando os bondes começam asubir a ladeira, "aproximando os dois núcleos", Cascudo, escrevendo nos anos quarenta, sentencia: "Xarias e canguleiros morreram. Ficou ona talense".16 No passado mais recuado, seus moradores viviam em re lativa independência, inexistindo aunidade necessária ao orde namento humano designado como cidade. Com efeito, embora seus dois bairros exibissem adenominação de "cidade" (a Cida de Alta eaCidade Nova), Natal não podia, na opinião de alguns, exibir otítulo de cidade- Com efeito, para Cascudo acidade que até então existira somente na ordem dos signos, no registro civü, no título outorgado, estaria verdadeiramente nascendo do sopro moderno que estava passando por ela, naqueles anos 20.18 Idéia implícita em vários escritos que ele dedicou aNatal eque apare ce com todas as letras abrindo a crônica de 1929: "Oficialmente existe aCidade do Natal há trezentos e trinta anos. Relativamen te parece com este título a oito ou nove anos. Ou melhor, imita cidade recém fundada, se oenviesamento das artérias não de nunciasse avelhice." (O novo plano da cidade I: Acidade). Caso os trilhos do bonde concorreram para integrar os dois primeiros bairros de Natal, acidade, por todos os lados, continu ava isolada do território mais amplo que, na condição de capi tal, ela deveria subordinar, ou, pelo menos, sobre oqual deveria exercer alguma hegemonia. De um lado, aporta do mar, opor to, entrada esaída para os mercados nacionais etransoceânicos, 20 Pororasóse passeou na Ribeira sistematizada. Aimpres sãoé de audácia muito respeitosa. Tudo ou quase tudo se poupou. Os traçados obedeceram a linha tradicional paralelos everticais ao rio. Apenas obraço do homem ali nhou racionadamente os valores confusos que herdamos em nome da cidade. (O novo plano da cidade I: ARibeira no "Master Plan"). Guiado por aquela "audácia muito respeitosa", oplano Pa- lumbo deveria interligar o espaço urbano sem destruir as linhas básicas do ordenamento da cidade, o que, de acordo com Cas cudo, efetivamente estava sucedendo. Aí estava uma forte razão para levar Cascudo aposicionar-se de modo favorável em rela ção às mudanças introduzidas nos dois bairros: a Natal que iria irromper daquela intervenção indicava uma conciliação entre o passado eopresente, ovelho eonovo, otradicional eomoderno. Cascudo reconhecia como uma virtude da cidade nova o fato de que ela, na sua gênese, estava conservando certos ele mentos da cidadeantiga, numa atitudeconciliadora entreo novo eovelho. Mas a relação entreo novo eovelho, desde pelo menos a entrada do século XX, vinha assumindo formas variadas entre os intelectuais de Natal. Uma dessas formas consistia em opor: de um lado a técnica, o artifício, a criação humana; de outro, a natureza, o ambiente natural. Desde o início do novo século, a esperança no futuro forta lecia a convicção na capacidade daação humana de transformar oespaço edar-lhe as formas consideradas adequadas ao conforto econdições higiênicas necessárias àvida coletiva, superando um passado ainda muito preso ànatureza. Ao longo das três primei ras décadas do século XX, a idéia a respeito da evolução da cida de de Natal eos rumos que ela deveria tomar estava atravessada 23 poruma ambigüidade: de um lado, a paisagem natural de onde teria emergido a cidade; de outro, a cidade-artifício, o produto dasoperações técnicas, dos"melhoramentos materiais", fórmula entusiástica encontrada para designar asintervenções da técnica e da engenharia, realizando calçamento, instalando iluminação, água encanada, serviços de saneamento, linhas de bonde, que desde a segunda metade doséculo XIX iam sendo instalados nas capitais brasileiras pelos ingleses, franceses,canadenses e norte- -americanos, sobretudo. Esse éum dos fortes temas que se impõem àqueles que in dagam a respeito das perspectivas futuras da cidade de Natal; àqueles dominados pela idéia obsessiva de que a humanidade, tendo à frente a humanidade dascidades, rumava inelutavelmen- te para um futuro melhor, àqueles redatores de Oásis, periódico local (iniciativa de um grêmio literário da cidade), publicado na última década do século XIX, que adotara o lema do sacerdote do progresso Eugène Pelletan - Le monde marche (O mundo avança) - dedicando-se aexaltar, com aforça que atribuía ao verbo revolu cionário da imprensa, a ação do progresso eas luzes do século.21 De fato, as transformações que na entrada do século XX vinham acompanhando onovo século em Natal, impunham aos intelectuais a indagação arespeito do ponto em que acidade se localizava nessa escala que ia da natureza ao artifício, ou à- para empregar uma palavra cara à época - civilização. Isso se devia, pelo menos parcialmente, às relações próximas que, para aque les que assumiram ogoverno do Rio Grande do Norte, oregime republicano estabelecera com oprogresso, uma palavra grafada freqüentemente com a inicial maiúscula, oque lhe conferia uma 24 grandeza de entidade supra-histórica, uma força condutora do destino dos povos: oProgresso. Afinal, como escreveu um anô nimo em 1890, no entusiasmo dos primeiros dias da República: Oespírito republicano, que étambém oespírito da civiliza ção, já invadiu todos os diques da opinião publica, já abri gou na maioria generosa dos corações brasileiros, já avassa- loutodas asresistências condenadas e inúteis, ejáassinalou umaeradecivilização parao Brasil.22 Tavares de Lyra, reunindo oponto de vista do historiador (ele foi um pioneiro na historiografia norte-rio-grandense), com ade ex-governador (tendo governado de 1904 a1906), integrante do grupo político efamiliar dos Albuquerque Maranhão (genro de Pedro Velho), era de opinião que oprogresso chegara ao Rio Grande do Norte trazido pelos republicanos. Seus governos te riam introduzido, em contraste com os presidentes de província do tempo do império, medidas vigorosas contra as secas, tinham lutado por estradas de ferro, tinham realizado melhoramentos no porto da capital, mesmo que - e isso era reconhecido pelos homens do poder, mas sobretudo pelos oposicionistas - nada disso tivesse concorrido para converter Natal em algo mais do que uma pequena capital, mais do que amodesta sede de um governo estadual. De fato, isolada entre as dunas e o mar, Natal, na opinião de seus intelectuais, precisava sofrer uma intervenção decidida sobre a natureza,uma intervenção técnica destinadaa - para nos determos na enumeração de duas das operações mais solicitadas na época para remover os obstáculos ao progresso da capital - reequipar seu porto, incluindo afixação de dunas, aretirada de obstáculos naturais, que bloqueavam a entrada de embarcações 25 de maior calado, e ligar por vias férreas eestradas carroçáveis a capital aos sertões. A partir da década de 10, fortalece-se entre a intelectua lidade natalense a convicção na necessidade imperiosa de se aplicar sobre anatureza os conhecimentos técnicos, que fascina vam o mundo moderno e que, acreditava-se, poderiam redimir acidade dos males que ahaviam paralisado no século anterior, quando, num século tão irradiante de esperanças, as elites locais, dada a condição periférica do Rio Grande do Norte, tiveram de se contentar com a minguada porção que o progresso lhes reser vara. Apartir daquela década, fez-se ouvir em voz eloqüente o apelo à técnica dirigido aos governos estaduais e sobretudo ao governo federal.23 Já na primeira década do século XX, nas crônicas que Hen rique Castriciano, poeta, filósofo e homem ligado à diversas ad ministrações até ocomeço dos anos 20, publicou na imprensa lo cal, despontavam vividas imagens de Natal, cujos problemas não eram somente o seu isolamento do mundo. Olhado de dentro, o quadro também era desalentador: acidade parecia plantada num deserto de melancolia, povoada por gente simplória eamesqui- nhada por um materialismo brutal.24 Como uma das terapêuticas a serem aplicadas a essa população, Castriciano recomendava o ajardinamento das praças da cidade. Ele não se conformava com ofato de que os moradores da cidade resistissem ao costume, tão comum àqueles que a retórica evolucionista da época chamava de "povos adiantados" (ingleses, franceses, norte-americanos...), de gozar dos benefícios dos jardins que ogoverno de Alberto Ma ranhão eTavares de Lyra haviam construído na capital.25 26 Entusiasta dos esportes, Castriciano lançava no ar a inda gação: por que amocidade natalense não nadava, não remava, não se dedicava às excursões pelos arredores da cidade, deixan do de desenvolver músculos firmes e privando-se de apreciar a beleza dos panoramas que circundavam acidade? Aginástica, entre outras aplicações preconizadas naquela época de naciona- lismos agressivos, servia para disciplinar efortalecer ocorpo re clamado pela pátria, consoante aidéia que se generalizava pelo mundo num momento em que as nações, numa desenfreada competição imperialista, faziam do entusiasmo por músculos e pelo ardor patriótico amunição que iria explodir nos campos de batalha da Primeira Guerra Mundial.26 Entre esses intelectuais do início do século, oque predomi nava não eram os derramamentos emocionais diante deuma na tureza destinada àpura contemplação, ao modo do Romantismo do século XIX. Apaisagem por um lado era concebida como um instrumento a serviço do progresso dos indivíduos, e, por ou tro, convertia-se em objeto de exame científico. Era observada e analisada apartir da categoria meio, que compreendia elementos naturais como vegetação, clima, regime de chuvas e topografia. Aanálise do meio, fundada nos postulados do evolucionismo do século XIX, situando todos os povos dentro de uma única escala (cujo ponto culminante era oda história humana, era oestágio da "civilização"), combinada com a categoria de raça, que, pre tendendo apoiar-se em noções científicas, atribuía a brancos e negros níveis diferentes de inteligência e moralidade, fecundou o vocabulário do século do progresso, nos seus desdobramen tos sinonímicos (o progresso material, o progresso espiritual). 27 Dentro dos parâmetros científicos que se impuseram àintelectu alidade brasileira da segunda metade do século XIX, essas duas categorias foram centrais para oexame das formas de fixação e adaptação dos indivíduos nos diversos ambientes epara apro dução de diagnósticos sobre o futuro nacional.27 De fato, conforme as relações que os indivíduos eos po vos, dominados pelos seus caracteres raciais, estabeleciam com o meio ambiente, destinos diferentes os aguardavam. Em 1908, aplicando essa tese à realidade do Rio Grande do Norte, Henri que Castriciano escrevia: "Há uma grande diferença física entre a gente do agreste e a do sertão; diferença que se afirma na sin gular energia da população da última dessas zonas, em contraste com a meiguice humilde dos habitantes da primeira".28 Na interpretação da realidade local, a aplicação dos pos tulados cientificistas na observação da sociedade humana teria produzido diferenças de ordem psicológicas entre os habitantes dos vários ambientes do Rio Grande do Norte. Os sertanejos, internados no isolamento de um mundo rústico, operosos ere sistentes, travavam uma incansável batalha contra a natureza e assim vinham endurecendo o seu caráter. Podemos notar aí a reverberação da ciência eloqüente irradiada apartir de Euclides da Cunha, que denunciava na guerra travada nos sertões de Ca nudos o drama de impacto sobre a nacionalidade brasileira no final do século XIX. Arelação entre homem emeio, ou mais pre cisamente entre tipos raciais e características físico-ambientais, devia ser levada em conta por aquele que, como oautor de Os sertões, formulava prognósticos sobre o destino nacional no iní cio do século XX. 28 Esses diagnósticos orientaram os intelectuais de Natal no momento em que eles procuravam indagarsobre a relação entre a cidade e as condições naturais que a envolviam e a atravessa vam. Por vezes esses diagnósticos vieram acompanhados de uma tendência a acentuar as virtudes da natureza em contraste com a cidade, que ia sendo tomada por problemas decorrentes da for ma como osindivíduos haviam seorganizado naquele ambiente. Avida coletiva organizada adequadamente requeria os cuidados do planejamento em alguns pontos fundamentais, impondo aos governantes, engenheiros e médicos desafios como distribuir a água saudável, eliminar dejetos das residências e do espaço pú blico, edificar fora docaminho dosventos contaminados, orientar os indivíduos a se alimentarem adequadamente. Emcrônica de 20 de maio de 1908, Henrique Castriciano escrevia que "o clima, a água, a carne, nem sempre de boa qualidade, as doenças do sangue, as cloacas que infectam a área urbana, tudo tem vindo à baila, tudoaparece à tona da discussão, enquanto sevai morren do, nem sempre com a felicidade do súbito desaparecimento".29 O problema parecia residir na falta deracionalidade no es tabelecimento da organização social. Em 1920, Henrique Castri ciano contemplava uma natureza formosa desaproveitada pela sociedadeurbana e os males batendo às portas da cidade. Assim, escrevia ele a propósito dos natalenses: Habitantes de uma das cidades mais formosas do mundo - falo emrelação à paisagem quenos serve de moldura - ficamos sabendo com certeza que andam por aí os germes da febre amarela, do impaludismo, da varíola e das várias helmintoses que no Brasil anemiam e estiolam as classes de recursos parcos.30 29 Acidade não tinha virtudes aexibir. Tudo oque ela pos suía de belo era sua natureza original, que fora conspurcada pe las enfermidades da sociedade. Avida na cidade era temida Mas oatestado cabal de que os males da vida urbana haviam conta minado uma natureza benéfica foi ,avrado pelo médico Januário Cicco (mspetor de saúde do Porto de Natal echefe das clínicas do Hospital Juvino Barreto), com sua topografia médica, divul gada em livro de 1920. Januário Cicco não reconhecia beleza e generosidade na natureza àsua volta, mas tão somente um qua dro assustador produzido pela completa negligência com que foi se realizando aocupação da cidade, pela falta de equipamentos de saúde coletiva epela ausência de cuidado dos governos com as vidas dos natalenses. Para se organizar aexistência dos mo radores dentro da capital, segundo Januário Cicco, era preciso corrigir as condições naturais. Os males da cidade deveriam ser corrigidos, mediante ain tervenção do Estado, apartir da aplicação do saber de higienistas eengenheiros. Mas os destinos da cidade não estavam nas mãos do medico, afirmava Januário Cicco, com linguagem vigorosa e eloqüente, em várias passagens de seu livro. Pois aindiferença dos governos, até aquele ano de 1920, deixara dormir nas gavetas dos gabinetes projetos destinados acorrigir os problemas -pelo menos na opinião autorizada do médico - tenebrosos de Natal Em contrapartida, omundo rural, especificamente omun do do sertão, era invocado como uma fonte de virtudes. Havia quem, suspirando pelo modo de viver antigo, atribuísse os males dos habitantes da cidade ao afastamento em que eles viviam em relação aos hábitos que se conservavam no sertão. Afinal, essa é 30 uma idéia generalizada na época, os moradores da cidade eram atraídos avidamente pelos costumes estrangeiros. Assim, Eloy de Souza, revelando seu tradicionalismo sob o pseudônimo de Jacinto Canela de Ferro, se manifestava contrário aos remédios de botica (farmácia), declarando ser um usuário de ervas e me- zinhas do sertão. Para ele, as causas das doenças que afetavam a vida moderna consistiam no abuso de café, fumo e bebida, e num regime alimentar inferior àquele dos sertanejos, com suas boas quatro refeições ao dia.31 Esse Jacinto se mostrava tão radicalmente partidário dos costumes do sertão, que recusava um olhar simpático até aos melhoramentos recebidos com aplausos gerais na capital. Assim, preferia deixar de lado os solavancos do bonde e realizar seus deslocamentos a cavalo. Alguns anos antes, na conferência pro nunciada em 1909, Eloy de Souza já empregava o mote da "so briedade sertaneja". Era essasobriedade que assegurava aosho mens do sertão a resistência necessária diante das calamidades naturais. Eles viviam a dura vida com "insano labor e austera eco nomia". A cidade era o teatro da futilidade, vaidade e desdém do passado. Afirmavaele, na condição de homem fixado na capital, "no sertão, refugiam-se as tradições que não prezamos".32 Para Eloy de Souza, que havia entrado na política em 1894 sob a proteção de Pedro Velho de Albuquerque Maranhão (sua carreira foi desencadeada pela frase, uma promessa e uma con vocação, que o chefe republicano dirigiu ao jovem estudante de Direito: "Serás deputado"), as modificações indesejadas naquela Natal das primeiras décadas do século XX não podiam ser atri buídas somente àforça corrosiva do progresso sobre os costumes 31 tradicionais. E.oy de Souza atribuía muitos dos frutos ruins ger- mmados dentro da cidade, que se modificava, ao legado que o regune monárquico deixara para os governos republicanos To- mava forma, desse modo, uma das fronteiras que de.imitava o nm da velha Natal: ainstalação do regime republicano Oprogresso, do qual os republicanos fizeram sua bandei ra, trouxera entretanto problemas para aquela sodedade que vi nha repousando no seu tranqüilo sono monárquico. Conforme as palavras de Eloy de Souza (1873-1959), apartir de 1904 (ele se referiaaumperíodocorrespondenteaosgovemosdeTavaresde Lyra, 1904-1906, Antônio José de Melo eSouza, 1907-1908 ecom preende osegundo governo de Alberto Maranhão, entre 1908 e 1913), tendo recebido inúmeras realizações, "Natal perdeu por asam dizer, repentinamente, costumes que pareciam invetera dos, não encontrando, entretanto, sucedâneos em harmonia com as necessidades espirituais de seus habitantes»» Abase da afir mação éamesma utilizada por Tavares de Lyra, porém aanálise de Eloy de Souza procura compreender oefeito das mudanças sobre as relações sociais. Ele enumera, na sua análise, a"indeci são ereceio na escolha dos nossos hábitos", afalta de educação dos moços eacarência de polidez, dois sinais que, segundo as convés da época, atestavam obaixo "grau de civilização" de nossa sociedade. De fato, na opinião de Eloy de Souza, as moças de Natal vi vam encerradas em casa, num inaceitável estado de ignorância eb.sonfuce, oque olevava àconclusão cabal: "falta cordialida de nas relações pessoais".- Contudo, ele deixava escapar no pe- nult.mo parágrafo um otimismo súbito eincontido, dirigindo-se 32 assim à sua audiência: "Natal, minhas senhoras e meus senho res, se transforma e sente-se que aos poucos irá deixando essa amarga tristeza que ainda lhe dá um aspecto soturno e mau".35 Os pequenos sinais de mudança que ele observava à sua volta podiam serenfileirados numaconsiderável enumeração: jardins, árvores, avenidas, empedramento do areai que ligava a-Ribeira à Cidade Alta, aterramento de alagados, bondes... E arrematava, com uma frase em que o efeito retórico superava as evidências: "Por toda a parte a visão de agonia do velho Natal...".36 Para Eloy de Souza, enfim, e ele partilhava da opinião cor rente, assistia-se ao crepúsculo daquela Natal antiga, por obra do progresso, ainda que, para ele, o saldo do progresso não fos se de todo positivo. De modo inequívoco, o progresso arrasta ra tudo consigo, na sua torrente avassaladora, o bom e o ruim. Por exemplo, liquidara os bons costumes e as tradições ingênu as, deixando para trás hábitos pitorescos como as peixadas na praia da Redinha, as cavalhadas, a romaria votiva nos botes. A paisagem mudava, o progresso dissolvia as relações tradicionais, introduzindo novidades mal-assimiladas, produzindo-se uma situação de desconcerto nas práticassociais ainda não sedimen tadas entre os natalenses. Assim, a vida moderna exigia novas formas de sociabilidade, que as pessoas de Natal soletrandoas primeiras letras do abecedário da civilidade, ainda não se mos travam capazes de praticar. A despeito de tudo, entre os intelectuais da cidade, não fal tavam diagnósticos positivos para Natal. Manoel Dantas (1867- 1924), por exemplo, escrevia em 1901: "Nesses tempos que vêm perto, o Rio Grande do Norte terá atingido o desenvolvimento 33 que lhe está assegurado na vida dos povos, e Natal será uma das grandes cidades da América".* Surpreende que esse mesmo autor elaborasse, poucos anos depois, aentusiástica evisionária conferência Natal daqui a50 anos? Agitações modernas dentro da cidade de Natal Mesmo que asensibilidade dos intelectuais dos anos 10 e20 deixasse ver aemergência de uma nova Natal no interior da velha Natal, não há como identificar as fronteiras nítidas que situam ave lha cidade no tempo, nem estabelecer sua cronologia, assinalandoa data de sua origem ede seu desaparecimento. Entre os artífices des sa Natal antiga, aqueles que no plano da representação (escreven do crônicas, poesias, ficção, memórias) deram forma enome aessa entidade, não havia acordo sobre isso. Muitos deles se inclinavam aassociar essa cidade aum vago período que cobrira quase todo o tempo vivido sob oregime monárquico. Rocha Pombo, em seu livro de 1922, sintetizou aevolução da cidade no século XIX com essas palavras: "Continuou Natal asua vida mofina até além de meados do século". Eanunciou aentrada da cidade no século XX, depois de apenas uma década de regime republicano, nesse tom animador: "Estava, pois, preparada para fazer-se em breve uma das mais belas capitais do Norte".» Aparece aí, novamente, odiscurso dos republi canos que pretendiam reivindicar apaternidade dessa nova Natal. Embora estivesse muito longe de ser um entusiasta do re gime republicano (em parte por uma questão de geração, pois quando aRepública foi instalada ele contava apenas dez anos), Câmara Cascudo reforçou ainterpretação do papel do regime republicano na dinamização da vida da cidade, formulada por 34 aqueles segundo os quais o que havia de condenável na velha Natal ia sendo superado pelo efeito das energias irradiadas do regime instalado em 1889. Para esses entusiastas republicanos, o tempo da monarquia deixara a marca do atraso e abandono da província do Rio Grande do Norte, quando, obedecendo a um princípio de rotatividade adotado como estratégia na orga nização política do Império, os governos provinciais eram entre gues aos filhos de outras províncias, destinando-se àpobre terra, freqüentemente, governantes desenraizados e alheios ao desti no dos potiguares.39 Assim, numa das crônicas desta coletânea, Cascudo perfila opresidente de província Alarido José Furtado, aquele que "treze meses depois largava opoleiro", tendo reali zado uma administração que poderia serretratada num relatório de três frases: "Não fez coisa alguma. Nem um benefício. Nem uma machadada abrindo rua."(Larico Pellado).40 Para Cascudo, o não fazer nada, o nada acontecer, era um dos traços daquela Natal do passado, presa na imobilidade. Não sabemos se, no rigor do termo, a imobilidade era um atributo da velha Natal. As coisas, os costumes, as formas de concebere de sentir o mundo estavam se movimentando, mesmo para os natalenses, ainda que por canais que não temos ainda como re conhecer, e emdimensões que ainda não temos como avaliar. A interpretação de um mundo imóvel se deve a uma visão de his tória, ao modo como o historiador trata seu objeto de estudo, e provavelmente, aofato deque ele tomou como escala demedida a dinâmica do tempoque ele percebia nos anos 20. E aqui aparecem as grandes linhas que caracterizam a abordagem de Cascudo sobre o passado, tanto o historiador 35 comoo estudiosoda cultura popular:o historiadorCascudo des creve uma sociedade esvaziada de suas tensões, protegida das rupturas radicais. Seu tratamento folclórico concebe o passado da cidade como odomínio de uma cultura popular na qual se sobressai uma doce ingenuidade, privada de toda manifestação dissonante, alheia às forças sociais.41 Opassado que Cascudo traz à tona, o passado da cultura popular, confere ao escritor a condição de criador e voz dessa cultura, numa operação assim descrita por um estudioso do tema: Ele, ofolclorista ou etnógrafo que fala do morto, apretex to de lhe devolver avida, mas que só osepulta eodistan cia cada vez mais. Vozes de apossamento, de captura, que vaodesenhando uma geografia do eliminado, ao mesmo tempo que instituem um lugar para o iluminado, aquele que pode dar novamente a luz a estes sujeitos obscureci- dos, salvadores de um saber condenado.42 Em Cascudo, o povo será fixado assim: um aglomerado sem nome, quenão aparece senão sob oclarão deseus atributos, a espontaneidade, a criatividade e a irreverência (ver a crônica sobre Larico Pellado). Ele se torna visível nas festas, nos folgue dos, esó ganha existência dentro da coletividade indistinta, mo- vendo-se sob oimpério da irracionalidade. Observa-se que esse povo não tem classe, nem família, nem individualidade. Do mesmo modo que, no início do século, Eloy de Souza e Henrique Castriciano ofizeram, Cascudo descrevia Natal como uma cidade de vida pública retraída, defeito que estava ligado ao fraco espírito de iniciativa de sua população, ou seja, àfalta de ações associativas visando no bem-comum ("não possuímos oinstinto do 'saloon', do ambiente, do ajuntamento", afirma ele em Anoite em Natal). Avida das ruas é dominada, de um lado, 36 pelos gestos solitários eautoritários dos governantes; de outro, pelo silêncio morrinhento, periodicamente rompido pelas emo ções coletivas de alegria, eventualmente pelo medo epela dor. Em Odoutor Antunes, o cronista observa a "pacata domes- ticidade de Natal", aludindo às formas de sociabilidade da cida de, ou mais precisamente, aquilo que poderia ser descrito como uma ausência dessa sociabilidade. Pois as formas de se agregar em torno de igrejas, santos e procissões, base da sociabilidade desde os tempos coloniais, não podiam, segundo o pensamento dominante naquele começo de século XX, dar os fundamentos da sociedade moderna. Assim, o natalense é retratado como um ser que desapa rece nas sombras do mundo familiar (a família permaneceu por muito tempo em uma zona escura para os historiadores). Desa parecida entre as paredes domésticas, avida privada opaca não era compensada por uma vida pública ativa, que, aos olhos dos reformadores do início do século, como Castriciano, e dos que vieram depois, como Cascudo, parecia profundamente debilita da. Cascudo, como se estivesse dando prosseguimento à incan sável campanha de seu mestre e amigo Castriciano, mobilizou suas crônicas para mudar esse quadro. Nelas, ele chamava os moradores da cidade para freqüentar as praças e as cerimônias públicas, propondo nos seus escritos, ações que possam dinami zar a vida urbana. Demodo semelhante, e maisuma vez desenvolvendo uma linha de pensamento muitopróxima à de Castriciano, aspropos tas de Cascudo se voltavam para a criação de instituições que reunissem os indivíduos em torno de interesses comuns, uma 37 vez que aassociação era um instrumento do progresso, segundo omodo do século XIX conceber aevolução social. Cascudo se inscrevia na continuidade daqueles reformadores sociais do co meço do século, que pediam que os natalenses se juntassem em formas de organizações leigas que contribuíssem com ainstru ção das pessoas, difundissem aprática dos esportes, reunissem ; capital para promover melhoramentos urbanos. E, de fato pelo menos uma dessas iniciativas deu um fruto duradouro: aLiga de Ensmo, tendo Henrique Castriciano àfrente, fundada em 191! da qual se originaria aEscola Doméstica de Natal. Ardia dentro' do jovem cronista, com amesma intensidade que em Henrique Castnciano eem Manoel Dantas, oanseio de ver surgirem na ca pital lugares apropriados ao exercício de novas sociabilidades.« Ainda no começo da década de 20, Cascudo não reconhe ça grandes mudanças na cidade. Em 1921, quando publicou Alma patrícia, ele se reportava aNatal quando mencionoua"tris teza ntual das cidades pequenas"." Tratava-se de uma cidade tao macambuzia quanto aquela Natal que alguém, identificando- -se como D, descrevia quase vinte ecinco anos antes: Ita7tadomf^°HS "em paSSeÍOS' de conv(vio s°dal ™«o fada n„T men°S e"I derredor sorri a™^eza opulen:tada pela majestosa altaneria das florestas virgens para o.nd.v.duo que deseja distrair-se, ocarnaval Seradocomo um Oásis no deserto dessa sensaborona Z£pS£ De acordo com D, Natal parecia um lugar desprovido de tudo, anão ser do Carnaval. Entretanto, econtinuarmos aleitura da croruca, veremos que operíodo seguinte retira toda esperança do leItor ao afirmar que naquela cidade mesmo os momentos de 38 expansão festiva eram insípidos: "Mas aqui o carnaval é justa mentea épocaem que a gente mais se aborrece".46 Em face disso, a Cascudo e a outros intelectuais da cidade, impunha-se uma espécie de missão civilizadora. Seguindo uma tradição que se manifestava desdea passagem do século, tendo à frente Manoel Dantas, Eloy de Souza e Henrique Castriciano, cada um no seu estilo, Câmara Cascudo é o intelectual inspirado pelo desejo deação: assuas crônicas revelam odesejo deagir so bre o meio, reformá-lo, conduzir os rumos do futuro da cidade. Formulando sugestões pragmáticas em letra impressa, nos jornais, revistas e livros, esses intelectuais podiam atingir opúbli co leitor, participar da criação de um sistema literário na provín cia e, especialmente aqueles que detinham um saber especializa do (engenheiros e médicos), agir efetivamente sobre a realidade local, à medida que iam se inserindo na máquina do governo. Tanto quanto a geração que os precedeu, Cascudo e seus contemporâneos, manejando vários gêneros de escrita, procura ram interferir na organização da vida coletiva dos moradores de Natale pensando no seu desempenho podemos afirmar que, sob o ponto de vista simbólico, elesproduziram a cidade.47 Entretanto, pelo menos num ponto Cascudo se diferenciava da maioria de seus contemporâneos dos anos 20: enquanto alguns, em nome do ideal moderno, recusavam ou viam com reservas as manifesta ções dopovo (o quemais tarde seria chamado de cultura popular), Cascudo jáaparece nessas crônicas como ofolclorista que se em penha na preservação dessas manifestações. Assim, em Proteção da alegria popular, ele condenava a posição de indiferença e es- nobismo das elites locais ("possuímos um solene desprezo pelo 3.9 espírito popular"), conferindo valor ao folguedo, explicando que obumba meu boi espelhava "através duma síntese de sarcasmo alegre ede descuidosa alegria acrítica eoregistro da evolução social eeconômica da região." E, logo aseguir: vflas" HnTnt13 figU/aS Saíram da vida das fa2mdas edas mini^ / SalU? me$tiça im0bili2a admiravel-mente todos os fatores históricos do nosso passado. É Zneo a"drama °nde 0S ePbódios ePiloSam tudo quantoimpressionou a moral ambiente. Cascudo chegou apedir aintervenção do Estado para a preservação dessas manifestações tradicionais, antevendo oefei to destrutivo da modernização sobre elas: Ogoverno do Estado edo Município nio vindo em aiuda aesta gente, simplificando as exibições econferindo pní Ts mTrrerfeM ÍS" <"** f°daS aS fatas *ad"°- Corn^n,. H? M0,Tera0 CT° Uma la«°a vai se **ando.<-om lentidãoe sem parar de secar. Na crônica Eanossa universidade popular?, dentro das ativi dades educativas desencadeadas pelo governador José Augusto ele sugere assuntos que pudessem concorrer com ainstrução do operanado, indicando os nomes dos palestrantes para desenvol ver cada um deles assuntos.* Assim, depois de aludir ao plano de estudos que traçara para aUniversidade Popular, Cascudo conclama dois intelectuais que haviam realizado viagem de es tudos ao Egito, Eloy de Souza eCristovam Dantas, para falar ao publico naquele grêmio. Omesmo em relação aJanuário Cicco sobre os remédios populares que omédico andava estudando Pretendia contar igualmente, nesse empreendimento, com aco laboração de um íntimo conhecedor do "sertão antigo", ogover nador Juvenal Lamartine. 40 Aseleção dos temas que deveriam ser explanados diante dos operários demarcava cs interesses que, ao longo dos anos, iriam fecundar os estudos deCascudo. Ainiciativa revela apreocupação com o registro dos depoimentos pessoais colhidos daqueles que eram capazes de falar sobre o passado, fornecendo informações para ocronista da Natal antiga. Atodas as pessoas que haviam conhecido acidade antiga, como também osertão antigo, Cascudo dirigia indagações, na empreitada de reconstituir opassado em to das as suas matizes. Seu rol de informantes incluía homens cultos como Juvenal Lamartine epescadores como Chico Preto. Adeter minação de Cascudo na preservação eno registro das informações concernentes ao passado dacidade e da cultura popular se torna ainda mais compreensível se considerarmos que acidade guardou muito pouco dos registros do seu passado. Por isso, as fontes orais são os que Cascudo tem de mais precioso: écom elas que ohisto riador, do mesmo modo que o folclorista, vai compor seus livros. Daí a ansiedade do autor de ouvir a todos, saber tudo, registrar as minúcias daquilo que os informantes têma revelar. As conferências deviam antes de qualquer coisa concorrer paraa instrução dos indivíduos. Aliás, comessas recomendações ao plano de estudos da Universidade Popular, Cascudo assina la uma diferença de posição em relação ao gênero literário em voga nas primeiras décadasdo século XX, as conferências literá rias, que proliferaram na atmosfera finissecular da Belle Epoque da Capital Federal, o Rio de Janeiro, se espalhando como uma febre elegante nos centros urbanos da periferia intelectual do país. Conferências dirigidasa um públicoávido por novidadese sensíveis aos floreios verbais, consistindo em exercícios literários 41 em torno de assuntos como aflor, oleque, obinóculo.» Cascudo recusava esse gênero fátuo, lembrando-se de advertir aos seus hv Tf?b"nada ^ CUmPddeZa' ^ deSCO~s, de tenta-hva de falar boruto." (£ „nossa universidade popular?) Entretanto, as inidativas destinadas adisseminar ains trução necessária ao aprimoramento da população de Natal pa-reciam t da ^^ ^ ^ ^^^ P Inst^toH.storicoeCeográhcodoRioCrandedoNortesedesin-umb de tarefa dvilizadora a jn8títuiçao focada Pe.o espírito burocrático, exibia um gosto pronuncado por comemorações. Cascudo registra os poucos nomes daqueles socos que consagravam otempo pesquisando opassado da pro- mc.V.cente Lemos, Nestor Lima, Manuel Dantas, Lyra, Me.ra eSá eAntônio de Souza, um gropo pequeno de es. tud.osos que -observemos -acrescentavam aos cargos públicos que exerçam aimensa tarefa de praticamente iniciar apesquisa histórica no Rio Grande do Norte. ^ Despertam as forças do progresso, nasce acidade Para Luís da Câmara Cascudo, epossivelmente para toda sua gerado fora do Estado nâo havia possibUidade de renova-oda Cldade. Mas os afortunados nata]enses ^ me^ ^ dida os norte-rio-grandenses) tiveram asorte de, apartir de me ados da década de «20, ganhar dois governantes esclarecidos á .turada tarefa modernizado, que otempo impunha aeles. Se anos o °naSCT° ^ °Ídade de NataI <* — Natal) nosanos 20 estava na administração do prefeito Ornar 0<Crady ou tro smal estava na gestão realizada por dois governadores do Rio 42 Grande do Norte, no período entre 1924e 1930,José Augusto Be zerra de Medeiros e Juvenal Lamartine de Faria. Antes que, entre os anos 30 e 40, o cronista Cascudo fosse deixando cair umas gotas deamargura e pincelando uns tons crepusculares sobre as crônicas que tratavam da cidade desaparecida no passado50, na queles anos 20, diferentemente, eleestava exaltando o despertar das forças do progresso acionadas pelos dois governantes deter minados a dar uma feição moderna à capital. A atuação de José Augusto, pondo ênfase na educação, na higiene e na modernização da agricultura, procurara imprimir uma nova organização na vida econômica, na saúde dos indiví duos e dos negócios do Estado. No seu governo teriamaparecido às linhas de ação que caracterizamos modos de administração modernos - a racionalidade, a impessoalidade - dirigidas para a solução e harmonização das grandes tensões da sociedade. As sim, Cascudo enfatizava o culto ao trabalho que ele promovia, pondo ênfase nas suas medidas destinadas à instrução do pro letariado. Ganhava força à concepção da qual o trabalho era um fator de progresso e virtude social, justamente num período em que o tom de voz do proletariado urbano se elevava na cena po lítica local. Como parte da estratégia populista de seu governo, José Augusto dirigiu ações tais como a instrução dos trabalha dores e a melhoria da moradia proletária, inspiradas nos princí pios científicos que postulavam a associação entre as condições do ambiente e as características morais dos indivíduos (A casa do operário eEa nossa Universidade Popular?)? Esse ciclo de realizações, que seria quebrado com a queda de Lamartine, em outubro de 1930, animava os jovens intelectu- 43 -s. Alguns deles se inflamavam com ajuventude que irradiava daqueles dois homens maduros, José Augusto eJuvenalÍa xahado ainda que Cascudo era Hdgar Barbosa, em crôni am-iadaS^^^,^^^^^^^^^^ dXirms%mdta^r'siva saír desse ambfe-mava em uma bagunça ,VrS T"? qUe a transfol-•«o jerimum Sffi^'íer™^2 Um ^ laboriosamente em dias H„ it agreste "'aramentre as pzlrnj™ £g?;™™°™^«do... A^ onde passam todos os venceIresdo^Tma' S"4 P°rzando em audácias de aro .S Zul que estào rea'i- de ícaro, aqui, onde na m . °,° SOnho ™tologico Io, tinha de se môvfmen? ma'°r 'deia liberal d° sécu- parados, uma s™o eTnânTo^fo6"^"» C°raçteveias nordestinas...» namca 1ue com» pujante pelas Mais ou menos na mesma época, ereferindo-se aJuvenal Lamartine, que na crônica de Edgar Barbosa, realizara "audÍ c.asdeaçoealumínio^fazendovibrar-sanguenovo^Cald"num de 1928; intitu)ada „Eu^ temo . «£ uiu: i;;;ta retânea)'decamava â de l~-dü ri 6StaVa COnheCend° - -5-*. *> trabalho assíduo. Euma surpresa oencanto das avenidas, orendilhado dasjamas o jüveni] duma tem despMa „£ma;s ^ds te fixava esse retrato meio futurista de uma Natal que ia sen do arrastada para ofuturo pela marcha do progresso: ™oU;r d°o? p^iSeTT0 d°S SUÍndastes' dos essa aeE7â° ^ ' m°ddade" "* 3C0rd° COm escudo foiessa aexclamação pronunciada por Juvenal Lamarfine. Eas qua- 44 lidades excepcionais do governante vão sendo reveladas, uma a uma, no perfil traçado pelo cronista: "Um presidente que guia automóvel, viaja de avião, discute literatura, dirige politicamen te a campanha do feminismo brasileiro é pouco parecido comas figuras hirtas e que quatrienalmente recebemditirambos nos Es tados".54 Automóvel, avião, proximidade dos homens de letras, voto feminino... Eis as forças das quais, em sua curta administra ção de dois anos, Juvenal Lamartine lançou mão para forjar sua imagem de governante e homem moderno, com que chegou à posteridade local. A aviaçãoregular, de fato, chegou ao Rio Grande do Norte ainda na administração de José Augusto, cujo marco inicial foi à abertura do campo de pouso de Parnamirim, com o estímulo do então senador Juvenal Lamartine.55 Foi entre a administração José Augusto, com pleno apoio e com continuidade de Juvenal Lamartine, que a cidade de Natalentrou na rotamundial da avia ção. Com a instalação da linha francesa de aviação postal ligan do Natal, acosta do Senegal eaFrança, por meio da Companhia Latécoère, em seguida Compagnie Générale Aéropostale, àqual se somaram bem cedo as concorrentes italianas, inglesas enorte- -americanas. Em pouco tempo, Natal tornou-se "porta de entrada do continente sul-americano" eem maio de 1930 protagonizou a façanha de Jean Mermoz, oprincipal piloto da Aéropostale, que realizou atravessia aérea direto do Senegal àdesembocadura do Potengi. Toda essa movimentação foi acompanhado pelo Cascu do jornalista, cujas notas sobre aviação apareceram recentemen te-* Aposição estratégica da cidade valeu-lhe olisonjeiro título 'cais da Europa", que as elites locais trataram de difundir.57 45 Segundo Cascudo, Lamartine gaivanizava as energias mancpatorias que se manifestavam por todos os lados. Alg^ cheg r aacreditar que aprópria polífica, inspirada na purfra ep s nt VÍdad° ^ V°ntadeS P«™•"- querep.sen ava .gnorância eatraso* Era patente avibração dos io- «rCT"em reIaçâ0 aos govemos renovad°- v̂j. lulo XX aqUe,e m0VÍment° M«*«™*- ^ Laoséculo XX se iniciar sob aforte sensar^a* ui ie sensação de renascimento pm vá•os dommios da organizaçâo da ^ -jm - =5==£=2e£ do governo, especiahnente do governo Lamartine tive am um -prego pouco criativo: na bruta„dade contra aopol 0pI menos contra amais incontida, pondoanu ofato de que filll herda oos métodos da velha política de seus antecesoreÍZ 1 ndloa ^^" ÍmPUÍSÍ°naVa aP0'ÍHCa e*«—iecundando as .deolog.as totalitárias iniciadas na Europa « s^ulo^^'"^^^^^^i*** r; zrr quepaxtóamanundara~^o^mulher. As mulheres letradas, ainda que fossem poucas também Tm°̂ *"'<*̂ *™fratura adornada cmtetonca«.^reveIa.se a - : ^™ :r;sodedade em muda- -*»^ -:Pe V, ,flcto;, em que se^^„a mu]her nafa)ense ^ 46 sido,em todos os tempos, escravizada aos preconceitos - verdadei ros entraves à sua marcha pela vida. Em geral, na estreiteza do meio ambiente, quanto não tem de cumprir a nobremissãode esposa e mãe, existe como se fosse uma planta de estufa". E, mais adiante, revelando a esperançade uma emancipação por meioda instrução: "Um gesto decisivo seria oavanço para a emancipação doseu espí rito. Que a mulher de amanhã o tenha mais esclarecido!"61 Embora não saibamos se era isso o que efetivamente pediam as redatoras de Via láctea, Lamartine teve um gesto de repercussão nacional volta doparaasmulheres do Rio Grande do Norte, fazendo introduzir na lei eleitoral do Estado, em 1927, o direito do voto feminino.62 O governo de Juvenal, prosseguindo o de José Augusto, e, sob alguns aspectos particulares, o de Alberto Maranhão, no início do século, teria descortinado novas perspectivas para os jovens. Com efeito, o governante fornecia abrigo a muitos ho mens de letras e aos tecnicamente qualificados, alargando aquela proteção às atividades intelectuais promovidas ainda no gover no de Alberto Maranhão, especificamente com a lei de apoio a publicação de livros, aprovada em agostode 1900, recordada por Cascudo numa crônica, em que prescreve oscasos emquese de veria recorrer a ela. (ver a crônica Lei n.145). José Augusto, que antecedera Lamartine, jáhavia recebido sua cota de palavras entusiastas da parte de Cascudo. Assim, em Homo brasiliensis, Cascudo saudava a emergência entre nós de um novo tipo de homem (José Augusto), o qual, adotando um novo estilo de governo, teria afastado a influência daquela política corroída pelos vícios do personalismo e dos interesses pessoais que emperravam o progresso ea autonomia do Estado. 47 Ja em Lamartine, Cascudo via um governante que estava adotando métodos modernos de organização da produção edos dados da economia estadual, essa última mediante aorganiza ção da Diretoria Geral de Estatística, dirigida por Anfilóquio Cã- > mara. Em Anossa D. G. de E., ele discorre sobre oensino agrícola j mcenfivado por Lamartine, uma iniciativa que ilustrava aquele mtuito de aplicar conhecimentos técnicos àprodução, acionando as estações experimentais eas fazendas de sementes, parte de uma política de melhoramentos da lavoura do algodão « Todavia, cercar-se da força eda vitalidade dos jovens não semeavam, por si só, uma renovação virtuosa. Em livro prepa rado no exílio, depois de ser destituído do governo, oex-gover nador deixa evidente as limitações que tivera de enfrentar para desenvolver uma administração avançada, procurava justificar as nomeações de familiares para auxiliá-lo em cargos de primei ra .mportância - como odo engenheiro agrônomo Cristovam Dantas, filho de Manoel Dantas eseu sobrinho; ade Olavo La martine, seu filho; ade Octavio Lamartine, outro filho etambém engenheiro agrônomo -argumentando que havia recrutado seus auxihares dentro do próprio círculo familiar por não encontrar no me.o natalense(é isso que ofeitor depreende dessas páginas de Lamartine) gente mais qualificada para as funções técnicas requeridas por sua administração.64 Em Por aue não temos um centro musical? Cascudo identifica - governo de Juvenal Lamartine aforça do instrumento mais revoIuclonário da Vlda moderna. os aviões^ ou nas ^^ os aviões trepidantes", que passam pelos céus do Rio Grande do Norte. Oavião, assim como oautomóvel, introduzia-se na 48 cena natalense, entusiasmando acidade eentrando na literatura local. Esse foi um dos grandes elementos aque Lamartine asso ciou sua reputação de governante esclarecido. Aelaboração dessa nova sociedade trazia seus modelos, que estavam nas nações que integravam aquüo que se entendia, na época, como o"mundo civilizado": França, Inglaterra, Esta dos Unidos... As crônicas que Cristovam Dantas escreveu nos anos 20, no jornal ARepública, dando otestemunho edificante sobre uma sociedade digna de ser imitada, acivilização norte- -americana, com oseu amor às árvores eaos maquinismos, in troduzia outros modelos que poderiam orientar aformação de uma nova cidade.65 As influências novas sobre acidade, aformação de hábitos novos eaprodução de novas sensibilidades, eram acompanha das de uma enxurrada de novos nomes. Assim como os nomes nem sempre eram de fácil pronúncia, os elementos que eles de signavam nem sempre eram facilmente assimilados. Era aessa situação que se reportava Eloy de Souza ao comentar os desa justes que ele observava nas relações sociais entre os natalenses. Relaciona-se a isso o fato que podemos observar no mo dernismo local dos anos 20. Entre nós, pode-se dizer que, pelo menos na sua expressão mais elevada, apoesia de Jorge Fernan des, arepresentação da vida moderna se dá recorrendo ao léxico da tradição para descrever os elementos novos que irrompem no meio potiguar. Em alguns de seus textos, os instrumentos da modernidade, ao entrarem na realidade local parece não terem chegado a adquirir uma autonomia lingüística em face dos ele mentos da cultura local. Podemos lembrar a descrição do Ford 49 amerissagem seeuia M u mdroaviao' ™«npacto da ficabatend dese^estando, espalhando aágua Enca batendo opapo, cansado de voar..."." passado remi u" '*^"'^ »*«* — dos anosr:Pr::riação dos ,etrados -m—**-* rio, desenvolva li;;CTem0**^ ***"»• balho intelectua e,e J °" ^ ^ "° « «» de 1920 a a °na ^ paSSad0- Co™ nos anos ni irjr::seria consasrad° •-1—--oncebla etazia asuperfíde QpassadQ ^ ^ cj^ -efa*^^^ f ""*«"a*—*"vestida da «stóricoeCeorfiTÍ "°^ * ^ °^*° eLje°granco doRio Grande doKW* r *« odever dos historiadores da c ade^ ' "^ esquecimento, encontrando estudald "^'"anuo, estudando ecomentando os docu- 50 mentos que falavam desse passado. Um passado queseexprimi riaemcertos temas particulares, que ele mesmo chegoua indicar como sugestões de estudos. Por outro lado, a reconstituição histórica que Cascudo rea liza da cidade antiga levava em conta as estreitas relações entre os indivíduos e o meio onde viviam. Esses traços aparecem tão próximos nos textos de Cascudo, nas fisionomias dos moradores da cidade,pelo menos daqueles que ele considerava representa tivos, a ponto de deixar a sugestão que os tipos humanos carre gam em sios mesmos traços da cidade. Verifica-se uma espécie de afinidade de caracteres entre o meio e o indivíduo, mas em Cascudo essa afinidade perde seus fundamentos cientificistasdo século XIX e de seu mestre e amigo Castriciano, e se converte em simples procedimento literário. São incontáveis os indiví duos que, nos perfis traçados por Cascudo, parecem conservar uma espécie de fidelidade àquele "espírito do lugar", constante, etéreo, que se impregna em seus moradores, especialmente na queles "tipos representativos" da cidade, que forma objeto de muitas de suas crônicas. Sua concepção a respeito de registro do passado é ampla, ele se orienta segundo um sentido largo ao usar os documentos para reconstituir o passado da cidade, extraindo o que era possí vel dos vestígios escassos. Ele amplia as possibilidadesdo reper tório documental do historiador. E faz isso, por exemplo, incor porando a noção de validade dos testemunhos de todos, sábios e ignorantes, exatos e boateiros. Por isso ele sustentou o papel da anedota como fonte importante para o estudioso da sociedade. E numa crônica de 1928, não incluída nesta coletânea, sugere que 51 Postulava aimportância^^^^°<"**«* zada, afirmando que nenhum . "^ em Sera' menospre- uma vez que ela ' exo ^ P°d6 ^"^ deIa, Pe-tiu apreender addTCTT ""*^ "" I mento comum aora« a m°S ac*ui um eIe- *-UUIum ao Cascudo dos ano* ?n ~ está nascendo, eoCascudo , *^ ddade ^ tes. Observamos ma f T "*"*^ «^S^ temperamen: e:i^rd° ^ **—«- Pe«o —pó..'., ^e^~--*~-- ocotidiano, mesmo oprosaico EleTport d "PeqUen°' sencialmente um cronista ,V nT ' °S HtaIos' es" imensoeeclé lol üT* " l"*tt« «*»* - caior das ruas Ele ,è sbre "" ""*"^**"*» humamdade as mfi T W ' *"""* "*** da d-"sares;z::re::::::arp,san°- ritmo easolidão das ruas os ti i *** C°ÍSaS' ° earealidade, ocronista ado P ^ "** *̂ ^ eom as ruas Assim d tT " mStrUment°S para —rsar -am aoso^^l**"*"—- sus- "o tempo; "Há ^s Das T !""^ ' " "*" ""*««aS PaSSad°S' fí2 um Passeio csmarento elon- 52 gopelas velhas ruasde Natal. Tanta casa silenciosa rompendo a mudez para gritar-menomes e erguer figuras idas no pretérito" (O doutor Antunes). Cascudo nasceu na cidade de Natal do ano de 1898, cir cunstância que lhe permitiu travar contato, desde a infância, com a velhice de natalenses que vinham de meados do século XIX, de modo que ele pode ouvir relatos dos antigos e pôde reconhecer à sua volta os velhos costumes que resistiram até os anos 10 e 20. Para saber a respeito daquelas épocas que sua vivência pessoal não poderia ter alcançado, e que ele, por conseguinte, não pode ria recordar, valia-se exaustivamente do saber de seus informan tes. Os depoimentos foram essenciais no seu método de recons- tituição histórica. Na busca dos traços do passado, o cronista se refere às histórias que circulam entre os natalenses indagando: "Quantas rolam ainda semi-mortas na memória coletiva?" Com efeito, de um de seus perfilados, ele afirma, arrematando: "Ficou da sua vida um traço." (O doutor Antunes). Mas, é com esses tra ços que ele vai reconstituindo as vidas desaparecidas dentro da cidade, deixando-nos alguns perfis magistrais nas crônicas que se iniciam nesses anos 20. Com o distanciamento operado pelo tempo, a cidade re construída por Cascudo e outros intelectuais figuraria cada vez mais claramente como a pátria ideal para o homem, que chega va aos seus dias de velhice num ambiente que se modificava de modo acelerado, sem deixar registro nem notícia. Somente bus cando esses vestígios precários, podia serrecuperado o passado na cidade deescrita escassa e memória frágil. Por isso ele escreve sobre Junqueira Ayres, aquele que deu nome à rua que passava Ç3 diante da ultima residência do cronista: "Para nós está esquec- do.Nadavivequelherecordeopassado.Ageraçãoqueoconheceudispensou-se de justifica ]n ™ ,ejushhca-Io para anossa." (Junaueira Ayres). Ocromsta vive opresente da cidade eestuda oseu pass - Cidades. Com efe.to, aNata, que toma forma nos anos 20 eo 54 Bibliografia ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz de. Luís da Câmara Cascudo em as ba talhas contra o tempo: a biografia histórica de um erudito brasileiro (1898-1986). Projeto de Pesquisa CNPq, 2004. Digitado. ANDRADE, Alenuska Kelly G. A alma da cidade: a energia elétrica em Natal (1905-1920). 2003. Monografia (Graduação em História) - Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal. ARAÚJO, Humberto Hermenegildo de. Modernismo: anos 20no RioGrande do Norte. Natal: EDUFRN, 1995. . (Org.) Histórias deLetras: pesquisas sobre a literatura no RioGrande do Norte. Natal: Scriptorin Candinha Bezerra: Fundação Hélio Galvão, 2001. ARAÚJO, Martha Maria de. José Augusto de Medeiros: político e educador mili tante. Natal: EDUFRN; Assembléia Legislativa doRio Grande do Norte; Fun dação José Augusto, 1998. ARRAIS, Raimundo. Posfácio. In: CASCUDO, Luís da Câmara. História da cida dedo Natal.4. ed. 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Natal: Livraria Cosmopolita, F. Aranha, 55 •err, i orto. Renascença Portuguesa 1922 PROVÍNCIA 3. Nata,: Fundação José Augusto, 1974. ARepública, Natal, 27 ago. 1890. ARepública, Natal, 15 abr. 1896. ARepública, Natal, 12 set. 1908. ARepública, Natal, 01 jan. 1922. ARepública, Natal, 12 jul. 1923. ^Sa^fi^-ggf ****>, Kàr *„.Rio de Janeiro. SOUZA, Eloy de. G*/KWes toc^. 2. ed Natal- Verhn c^u „ ataJ" Verbo- Sebo Vermelho, 1999. lia: Senldo^derlt^"^ ^ "° ^ Gra«**""* (1889-1930). Brasí- TAKEIA, Denise Monteiro- IFWa u organ^a^e noLPdrcLlCar0,?a Wande^ey. Natal: 1914-1915 flfei A Natal: EDUFPRa^°2SheÍr0 ^ ***• *™««*> "> Rio Gnii,* &Abife 2. ed WEBER, Eugen. Françafin-de-siècle São Pauln- r«• ^ao Iaulo. Companhia das Letras, 1988. 58 Notas i Foramcorrigidas imprecisões, desfeito o erro relativo ao ano de nas cimento de CâmaraCascudo, algumaspassagens foram melhoradas e algumas linhas desnecessárias foram suprimidas. Na parte correspondente à seleção de crônicas de Cascudo, nada foi modificado. Continuam os dezesseis escritos, publicados nos anos de1924,1927,1928 e, em sua maior parte, no ano de1929. Crônicas de Origem continua soba autoria de Cascudo, porque entendoque as crônicasdo intelectual fortemente vinculado a sua cidade,que por mais de seis décadas foi testemunha privilegiada da vida natalense,são o que o livro traz de original e revelador. Nesta segunda edição, agradeço a leitura competente feita pelo colega e amigo, professor Raimundo Nonato deAraújo Rocha. 2 A primeira crônica de Cascudo foi publicada em 18de outubro de 1918, no jornal A Imprensa, sobo título Bric-à-brac, e pode ser lida em LIMA, Diógenes da Cunha. Câmara Cascudo, umbrasileiro feliz, p.51-52. 3 A República, 15 abril 1896. 4 NESI, Jeane Fonseca Leite. Caminhos de Natal, p. 15-20. 5 CASCUDO, Luís da Câmara. Históriada cidade doNatal, p. 335. 6 Sobre o papel de Cascudo na vida cultural da cidade, ver GURGEL, Tarcísio. Informação daliteratura potiguar, p. 59-60.Posteriormente, esse estudio so tratou da vida literária em Natal na obra Belle époque na esquina: o que se passou na República das Letras potiguar, p. 249-267. Explorei a relação entre as crônicas de Cascudo e a consolidação do papel de historiador da cidade em ARRAIS, Raimundo. Posfácio. In: CASCU DO,Luís da Câmara. História da cidade do Natal. 4. ed, p. 623-648. 9 10 11 p. 193,179; 12 ld.Ontem: maginações e notas deum professor de província, p. 59. 13 DANTAS, George Alexandre Ferreira. Natal "Cães da Europa": o ;I^° Geral de Sistematização no contexto da modernização da cidade (1929- 1930), p. 67-68. 14 Sobre oassunto, ver ANDRADE, Alenuska KellvG. Aalma da cidade, aener gia elétrica em Natal (1905-1920). Sobre opapel do bonde na expansão física do espaço nsico de Natal, ver COSTA, Madslane Leandro da. Natal: quando amodernidade vi nha debonde, cap. 4"Natal: decidade a urbe: ocaminho dasua modernização". CASCUDO, Luís da Câmara. Alma patrícia, p. 109-124. ld. O tempo e eu (confidencias e proposições), p. 61-62. Coisas da Terra. A República, 12set.1908. CASCUDO, Luís da Câmara. O tempo eeu (confidencias e proposições), 59 !í f-J L5 16 19 20 22 poesias, vC2^Tfo5C'ANa "^"^ *«-* 19 fev. 1,08. ,n: Sefete textos e 26 WFRPI3 c r, F *-•"•/p. iUo-111. mais forte». *' E"gen' Fr""ffin-desièck, cap. 11 «Mais ráDi . . r mais rápido, mais alto 60 ^ adia. Com ainiendència. D,„>,0 do Natal, 02 ^ ^ 17 Sobre aCidade Nova, ver PAtVA r~ H-ow*. cesso de modernização do Natal, ££$£ f^"™" * **«̂ ^°Pr» SOUZA, Eloy de. Memórias, p. 25. NESI, Jeanne Fonseca Leite. Cannnhos de Nata,, p85 112 Oaszs. Periódico Litterario enoticioso, 1894 e1897. 30 CASTRICIANO, Henrique. Se/eta: textos e poesias. Cinco minutos, 24 abril 1920,p. 367. 31 Jacinto Canela de Ferro (SOUZA, Eloy de). Cartas de um desconhecido, p. 69-71- Essa carta éde 14 de maio de 1914. 32 SOUZA, Eloy de. Costumes locais, p. 16-24. 33 SOUZA, Eloy de. Costumes locais, p. 40. Sobre as realizações desses governos, incluindo o segundo governo de Alberto Maranhão, ver SOUZA, Itamar de. ARepública Velha no Rio Grande do Norte, 4a. parte "A administração dos governos estaduais". 34 SOUZA, Eloy de. Costumes locais, p. 43. 35 ld., p. 44. 36 ld., p. 46. 37 DANTAS, Manoel. Homens deoutrora, p. 151. 38 POMBO, Rocha. História do Estado do Rio Grande do Norte, p. 371-372. 39 Aexplicação dessa estratégia está emCARVALHO, José Murilo de. A construção daordem: a elite imperial, 1996. 40 O perfil desse administrador, num tom mais sóbrio (se comparado com a crônica Larico Pellado), está em CASCUDO, Luís da Câmara. Governo do Rio Grande do Norte, p. 51-52. 41 Na História da cidade do Natal há algunsexemplos dessaingenuidade das festas populares. CASCUDO, Luís da Câmara. História da cidade do Natal, p.127. 42 ALBUQUERQUEJÚNIOR, Durval Muniz de. Luís da Câmara Cascu do em As batalhas contra o tempo: a biografia histórica de um erudito brasileiro (1898-1986). Projeto de pesquisa CNPq., 2004. Digitado. 43 MARINHO, Márcia. Natal também civiliza-se:sociabilidade, lazer e es porte na Belle Époque natalense, 2011. 44 CASCUDO, Luísda Câmara. Alma patrícia, p. 47. 45 A República, 07 mar. 1897. 46 ld. 47 Um exemplo desse engajamento está na ficção moralista, queexpõe a hipocrisia da sociedade moderna e o cerco que ela promovia aos "valores tradicionais". Veja-se, porexemplo, o livro de Lucas da Costa, Disfarçados, de 1924, tratando das máscaras usadas na vida pública, e os dois romances de Polycarpo Feitosa, nome literário do governador Antônio José de Melo eSouza (governador em 1907-1908; 1908-1913), Gizinha, de1930, eOs Moluscos, de1938, tematizando a situação da família na sociedade natalense. 61 48 Uma análise da UniversiriArU p~„ i • , contrabalançara liderança de5ífS„''C"ada P°''OSé Au8us[° "Para Norte", esuas relações com apolfficá ohl»r panado do Rio Grande do CA, V^^^StÍSS^T'^CaPÍta' M™<- - ^O- José Augusto^^^^^^ífo do proletariado no governo dor militante, p. 157-160; sobre ^nS^SfnAugUS.toJde MedeirosTeduca-dos anos 20, ver COSTA, Homero ffi° ^<?*ranado em Natal, no final Natal, oprimeiro ato da tragédfa p55 65 """^ cwmmíste * ^35: ^W^a^^^ ogoverno de Juvenal Lamartine noIfe^SanT^T?***** termos: "Com renovador eousado. Aviação, comuntocfeTmnr ™"gunwe um período rústico para Natal, dinamismo daZa^ZT™'^0 fanWna Plan° urba" da inteligência para os quadro PoIfto^S^,cha??,rent0da mocidade eoEstado elibertar ateia do j^SS.TEde P°df fazer P^granizar mcontestado das nossas energL"BA^S? FH ^ ^ eCOraÇão de líder& •KA1<B°SA, Edgar. Imagens do tempo, p. 13-14. Oó • A O/T r¥-xy^ w 54 55 62 CASCUDO, Luís da Câmara. Eu não temoamocidade, Praíínãa, 3, p. 23 Idem, p. 21. LAMARTINE, Pery. Epopéia nos ares, p. 27. gem aérea^S^)^3 Câmara- "° ""^ do ***>•" Notas de reporta- -ação Ani^fe1^ -* Em 1922, aadminis- mesmo do governo, como fJSSSSSS^ ^ Um alÍad° °U §ente vao alheiando dos interesses ecarrifhos
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