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O BULLYING NO AMBIENTE ESCOLAR: UMA REVISÃO SOBRE AS MEDIDAS DE ENFRENTAMENTO E PREVENÇÃO. BULLYING IN THE SCHOOL ENVIRONMENT: A REVIEW OF COPING AND PREVENTION MEASURES. Fabiana Alves Moreira Lira1 Fátima Vercília Mariano Bronzeri2 Jéssica Alexandre dos Santos3 Maria Viviane Silva de Sousa4 Jaqueline Sobreira Rodrigues(Orientador)5 RESUMO INTRODUÇÃO: O bullying tem se destacado como um fenômeno multicausal que corresponde a todos os comportamentos agressivos, conflitos interpessoais e antissociais, bem como atitudes de intimidação, perseguição dentre outros considerado um problema social complexo e grave sendo visível mais provavelmente na fase infantojuvenil e escolar. OBJETIVO: Analisar as estratégias de prevenção e enfrentamento do bullying no ambiente escolar disponíveis na literatura científica. METODOLOGIA: Trata-se de uma pesquisa de revisão integrativa do tipo exploratória. Utilizou como critérios de inclusão os artigos publicados em inglês, espanhol e português entre os anos de 2016 e 2021 e como critério de exclusão, os resumos e aqueles não disponíveis em sua íntegra. RESULTADOS: Durante o processo de busca foram encontrados 29 estudos publicados. Após serem analisados foram escolhidos 7 artigos como amostra final, dos quais atendiam rigorosamente aos critérios estabelecidos e a objetividade do estudo. CONCLUSÃO: Pode-se observar diversas formas de prevenção e enfrentamento ao bullying cujos resultados são apresentados diante da experiência e realidade de cada local considerando as características sociais, econômicas e culturais. Palavras-chave: Bullying; Serviço de saúde escolar; adolescente; intervenção educacional precoce. 1ABSTRACT INTRODUCTION: Bullying has been highlighted as a multicausal phenomenon that corresponds to all aggressive behaviors, interpersonal and antisocial conflicts, as well as attitudes of intimidation, persecution, among others, considered a complex and serious social problem that is most likely to be visible in the childhood and adolescence phase at school. OBJECTIVE: To analyze bullying prevention and coping strategies available in the scientific literature. METHODOLOGY: This is an integrative review research of exploratory type. It 1Acadêmica de graduação em Psicologia do Centro Universitário Ateneu – Unidade. E-mail: 20171112944@aluno.uniateneu.edu.br 2Acadêmica de graduação em Psicologia do Centro Universitário Ateneu – Unidade. E-mail: 20171111703@aluno.uniateneu.edu.br 3Acadêmica de graduação em Psicologia do Centro Universitário Ateneu – Unidade. E-mail: 20171111399@aluno.uniateneu.edu.br 4Acadêmica de graduação em Psicologia do Centro Universitário Ateneu – Unidade. E-mail: 20182119317@aluno.uniateneu.edu.br 5Mestre em psicologia. Docente do curso de Psicologia do Centro Universitário Ateneu – Unidade Grande Shopping. E-mail: jaqueline.rodrigues@professor.uniateneu.edu.br 2 used as inclusion criteria the articles published in English, Spanish and Portuguese between the years 2016 and 2021 and as exclusion criteria, the abstracts and those not available in their entirety. RESULTS: During the search process, 29 published studies were found. After being analyzed, 7 articles were chosen as the final sample, which strictly met the established criteria and the objectivity of the study. CONCLUSION: Several forms of prevention and confrontation of bullying can be observed, whose results are presented according to the experience and reality of each place, considering the social, economic and cultural characteristics. Keywords: Bullying; school health service; adolescent; early educational intervention. 1 INTRODUÇÃO Ao analisar os comportamentos agressivos entre os alunos no ambiente escolar, observa- se que a violência escolar, em particular o bullying, tem se configurado em uma realidade para muitas crianças e adolescentes. O bullying tem se destacado como um fenômeno multicausal que corresponde a todos os comportamentos agressivos, conflitos interpessoais e antissociais, bem como atitudes de intimidação, perseguição, exclusão e humilhação, dentre outros (OLWEUS, 2013). O bullying pode ocorrer dentro e/ou fora das escolas, envolvendo um ou grupos de estudantes contra outros sem que exista uma justificativa por sua ação, fazendo parecer ou ser confundido como uma brincadeira natural da idade das crianças e adolescentes. Ele possui forte ligação com questões de desigualdades socioeconômicas, culturais e com os aspectos subjetivos e comportamentais dos indivíduos compondo agressões repetidas e que podem durar por muitos anos o que ocasionam consequências deletérias para os envolvidos a curto e longo prazo (ZEQUINÃO et al., 2017). Em específico ao ambiente escolar, o bullying é um problema social complexo e grave sendo visível mais provavelmente na fase infantojuvenil. A prevalência de bullying, em âmbito internacional, apresenta-se com variação de 32% a 2% (TSITSIKA et al., 2014). Já no Brasil, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde Escolar (PeNSE), a prevalência nacional de prática de bullying é de 19,8%, observando pequena variação dessa prática entre os estados brasileiros, onde os maiores percentuais foram identificados nas regiões Sudeste (22,2%) e centro-oeste (20,2%) em contrapartida menores nas regiões norte (17,9%) e nordeste (16,9%) (SILVA et al., 2019). 3 As consequências do bullying envolvem questões relacionadas ao campo da saúde, do desenvolvimento psicossocial e do ensino-aprendizagem. Esses atos podem estar ligados a combinação de alterações psicológicas como baixa autoestima, rejeição entre os colegas, sintomas depressivos, pensamentos suicidas, distúrbios psiquiátricos provocando então atitudes agressivas e provocativas como razão para a prática de bullying. Dessa forma, se faz necessárias ações intersetoriais, múltiplos atores e serviços além de programas e políticas públicas de enfrentamento e de prevenção do bullying no ambiente escolar (CARLOS et al., 2017). Algumas dessas intervenções, como medidas de enfrentamento e prevenção são bem- sucedidas e podem contribuir para ações específicas dentro das escolas. Em escolas inglesas estimou-se que o bullying reduziu em 67% após intervenções comuns como conversar com os agressores, aconselhar a vítima, medidas disciplinares entre outras (RIGBY, 2017). Já a Austrália, foi estimado reduções no bullying de 77% e na Finlândia foi reduzido em até 98% dos casos (GARANDEAU; POSKIPARTA; SALMIVALLI, 2014). Importante frisar que em nenhum dos estudos os atos de bullying cessaram, mas os resultados fornecem uma estimativa aproximada do sucesso geral na redução por meio de intervenções de enfrentamento e/ou prevenção. Esse cenário reflete a atenção para o compromisso que os atores envolvidos neste processo devem assumir transformando o bullying em um tema importante para investigações no campo da saúde. As ações de enfrentamento e prevenção nas escolas tem contribuído para empoderamento das pessoas, fortalecimento de vínculos, mudanças de hábitos e melhoria da qualidade de vida dos estudantes (SILVA et al., 2018). Nesse sentido, mediante a importância da temática no contexto do ambiente escolar, observa-se no presente estudo como uma possibilidade de apresentar a temática bullying à comunidade acadêmica, escolar e profissional, bem como suas características, causas e consequências além, das ações de enfrentamento e prevenção que viabilizassem a redução desse tipo de violência. Para tanto é essencial que pais/responsáveis, professores, alunos e profissionais da saúde se apropriem das características do fenômeno bem como as medidas de enfrentamento e prevenção já experenciadas na literatura científica. Portanto, a fim de subsidiar estratégias de prevenção e enfrentamento do bullying escolar, esse estudo objetivou apontar as medidas de enfrentamento e prevenção de bullying no ambiente escolar nasevidências científicas disponíveis na literatura. 4 Dessa forma este estudo tem como pergunta norteadora: Quais são as evidências disponíveis na literatura científica sobre o enfrentamento e prevenção do bullying no ambiente escolar? O estudo servirá de base para adolescentes, professores, responsáveis e profissionais de saúde na busca de intervenções para prevenção e enfrentamento ao bullying no ambiente escolar. Portanto, o objetivo geral da pesquisa é analisar as estratégias de prevenção e enfrentamento do bullying no ambiente escolar disponíveis na literatura científica. Para atingi- lo, elencam-se os seguintes objetivos específicos: (a) Analisar os conceitos e os diferentes tipos de bullying no ambiente escolar; (b) Compreender as causas e consequências associadas ao bullying; (c) Discutir os diferentes processos de inserção do bullying na escola. 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 Conceitos e definições de bullying A expressão bullying têm origem inglesa e refere-se as ações de agredir, aterrorizar, maltratar e intimidar o outro, pelo desejo consciente, repetitivo, por período prolongado e intencional contra um ou mais alunos, pautadas em uma relação desigual de forças, no âmbito escolar (COSTA et al., 2015). Tais comportamentos não apresentam motivações específicas e justificáveis e podem muitas vezes serem confundidas com brincadeiras da faixa etária e assim perpetuar de forma “natural”, a premissa que os mais fortes utilizam os mais frágeis como meros objetos de brincadeira (LISBOA, WENDT, & PUREZA, 2014). O temo bullying ficou caracterizado como uma palavra universal adotada decorrente da dificuldade em traduzi-lo para diversas línguas. Ele recebeu um conceito amplo dado à palavra bullying ter sido considerado como de difícil identificação na terminologia nativa de países como Alemanha, França, Espanha, Portugal e Brasil, entre outros (LOPES NETO, 2005). No Brasil, a expressão bullying foi definida na Lei de Combate a Intimidação Sistemática, em novembro de 2015, como todo ato de violência, seja ela física ou psicológica, que se dá de maneira recorrente e propositada sem motivação aparente, praticado individualmente ou por um grupo, contra uma ou mais pessoas, com o objetivo de amedrontá- la ou atacá-la, ocasionando sofrimento, dor e angústia para às vítimas, em uma relação de total desequilíbrio de forças entre as partes envolvidas (BRASIL, 2015). 5 Já os primeiros estudos científicos sobre a temática foram realizados na Noruega, por Dan Olweus, no início da década de 1990 e serviram de base a outros estudos do mundo inteiro. Os resultados obtidos, por Dan Olweus, têm corroborado com os demais estudos publicados internacionalmente, inclusive no Brasil (AGUIAR; BARRERA, 2017). Nesses resultados, o bullying era considerado apenas como aqueles ataques físicos e verbais realizados de “formas diretas”. Entretanto, com o avançar das pesquisas e do conhecimento sobre a temática, observou-se que existiam outras formas tão quanto importantes que eram realizadas de “formas indiretas”, que se davam de maneira mais sutil, caracterizadas pela ausência de manifestações explicitamente observáveis ou por ação mediada por terceiros e mais frequentes como os comentários difamatórios, calúnia, propagação de boatos e até mesmo exclusão ou organização de exclusão social (OLWEUS, 1997). Em termos práticos do cotidiano escolar podemos evidenciar o bullying nas diferentes expressões e formas diversas que incluem desde colocar apelidos, xingamentos, roubo, agressões físicas e verbais, bater, fofocar, gestos de humilhação, comentários maldosos até isolamento, dentre outros (MALTA et al., 2019). O bullying pode sempre ter existido no ambiente escolar, mas vem sendo estudado com maior ênfase nas últimas três décadas, demonstrando, dessa forma, a importância do desenvolvimento de pesquisas sobre a temática. Em síntese, o que se observa que o bullying deve ser visto como um fenômeno social composto de diversas características importantes e que precisam ser difundidas e conhecidas pelos atores envolvidos nesse processo de enfrentamento e prevenção do bullying, fazendo necessárias ações multiprofissionais que auxiliem na redução desse tipo de violência que tende a crescer cada vez mais caso não haja uma medida de enfrentamento e/ou prevenção (MALTA et al., 2014). 2.2 Prevalência de bullying no ambiente escolar A Organização Mundial de saúde (OMS) considera o bullying como um problema global, presente em mais de 40 países, que aponta uma prevalência de 14% dos adolescentes de 13 anos que referiram já ter sofrido bullying nos últimos dois meses (MALTA et al., 2019) Já no âmbito internacional, apontam a prevalência de bullying existente com uma variação de 2% a 32%. Na Europa a prevalência de bullying permeia em torno de 5%, na América do Norte com 20% e na África com prevalência entre 21 e 40% (TSITSIKA et al., 2014) 6 No Brasil, o bullying no ambiente escolar é considerado um problema de saúde pública (MARCOLINO et al., 2018) devido a sua elevada prevalência e pela gravidade dos prejuízos que pode trazer para suas vidas. Atualmente observa-se uma prevalência que continua elevada em São Paulo (AGUIAR & BARRERA, 2017) demostrando uma prevalência de 24% e em Salvador que demonstrou 63% (NOVA, SENA & OLIVEIRA, 2015) de alunos envolvidos com o bullying. No estudo OLIBONI et al. (2019), em Santa Catarina, essa prevalência é altíssima onde 66% dos alunos pesquisados estão envolvidos com o bullying, assemelhando-se aos resultados obtidos nas investigações de BANDEIRA; HUTZ, (2012) e de NOVA et al., (2015) que encontraram, respectivamente, 67,21% e 63%. Os resultados apontados e reafirmar o posicionamento dos pesquisadores (FLEMING & JACOBSEN, 2010) especializados na área, que consideram que nos países de média e baixa renda a prática de bullying pode variar entre 10% e 60%. A Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PENSE) de 2015 corrobora com os achados e revelou que sofrer bullying por colega da escola atingiu 7,4% dos escolares e 37% destes demonstraram já ter sofrido algum tipo de bullying no ambiente escolar (MELLO et al., 2018). Os achados apontam ainda, a necessidade de medidas de enfrentamento e prevenção urgentes passando a direcionar o foco das instituições escolares para a identificação do bullying como forma de impedir sua propagação. Nesse sentido, se faz necessário maior investimento em estratégias intersetoriais de enfrentamento e prevenção na direção de promoção da saúde e capazes de transformar culturas escolares e contribuírem com enfrentamento da violência escolar (NOVA et al., 2015). 2.3 Características do bullying O bullying apresenta características próprias definidas e que diferenciam de outros tipos de violência por sua intencionalidade, com recorrência prolongada e a assimetria de forças entre os alunos envolvidos nesse processo, sejam no âmbito físico ou psicológico (OLIBONI et al., 2019). Entre as características do bullying, observa-se no tocante às diferenças de sexo, que os resultados apontam acometimento em ambos os sexos sendo mais prevalente no sexo masculino (MELLO et al., 2017), entretanto, existem autores (TEIXEIRA et al., 2013) que referem ser crescente a identificação em meninas no contexto escolar 7 No que diz respeito a estrutura familiar, constata-se que a maioria dos envolvidos com o bullying pertence a famílias nucleares tradicionais compostas por um pai considerado o provedor da casa, uma mãe cuidadora da família e seus filhos, figurando como antigo modelo de família. Esse resultado chama a atenção e segundo BORSA; PETRUCCI, KOLLER, (2015) são comuns as pesquisas apontarem associações com a violência do bullying e as características da família e a forma de relação que estes alunos possuem com seus familiares. Assim, infere-se algumashipóteses a respeito e podem ser levantadas para compreender essa associação como a superproteção, a falta dos pais na vida escolar dos filhos, a falta de jeito para lidar com a repreensão do filho além do baixo convívio afetivo e emocional entres os membros familiares. Essas hipóteses levam ao fato de maiores chances que as vítimas de bullying costumam vir de famílias que superprotegem suas crianças, enquanto que os alunos que realizam o bullying costumam vir de famílias que demonstram carência afetiva no lar e seio familiar (OLIBONI et al., 2019) Estudos (GHOSH, et al., 2016). apontam que devido as características multiculturais e étnico-raciais presentes no território brasileiro podem corroborar como um marcador associado para a ocorrência do bullying entre os alunos. Os resultados dos dados da PeNSE, analisados por Malta et al. (2017), foram identificados diversos aspectos associados ao bullying como trabalho infantil, relações familiares, uso de drogas, solidão e pouco apoio familiar. Já nos estudos (MOOIJ, 2011; FELIX; YOU, 2011) apontam as diferenças de raça, aspectos físicos, condutas individuais, performance escolar, religião e até questões de gênero e orientação sexual são fatores preditores de situações por bullying. Dessa forma pode-se considerar que o bullying implica questões culturais, sociais, econômicas de desigualdade, diversidade, entre outras, refletidas da dinâmica relacional existente nas relações oriundas da escola, da família e da sociedade que se materializam no bullyng (SILVA et al., 2019). Outra característica importante no bullying revela-se quanto aos locais de aparecimento mais comuns no ambiente escolar do bullying. O recreio e a sala de aula demonstram segundo pesquisas como os ambientes de maior ocorrência e, portanto, precisam ser considerados dentro do planejamento das medidas de enfrentamento e prevenção do bullying (TEIXEIRA et al., 2013). O bullying modifica negativamente o clima dentro da escola e propaga aos estudantes uma sensação de incertezas, insegurança e de desordem institucional. Entre os atores envolvidos 8 no bullying, os autores LIMBER; OLWEUS (2010), dividem os envolvidos no episódio de bullying em vítimas, autores, seguidores e os espectadores que por sua vez são subdivididos em apoiantes, espectadores livres e espectadores defensores. Por isso eles acreditam que esse processo envolve a participação de muitos outros alunos, que não somente o autor e o alvo, fazendo com que o bullying seja reconhecido como um fenômeno coletivo. A figura 1 abaixo faz uma análise dos atores envolvidos e é possível observar que eles são divididos em (Quadro 1): Quadro 1 – Classificação dos atores envolvidos no bullying. CLASSIFICAÇÃO CONCEITUAÇÃO A - Estudantes que intimidam Esses alunos protagonizam o bullying, querem intimidar e desempenhar um papel principal e de líder. B – Seguidores ou capangas Esses alunos participam ativamente e são favoráveis em relação ao bullying, mas não desempenham o papel principal e nem o iniciam. C – Apoiadores passivos Esses alunos não participam, mas através do riso ou outra ação passiva apoiam abertamente o bullying. D – Apoiantes passivos ou possíveis intimidadores: Esses alunos são aqueles que não mostram sinais externos de apoio, mas gostam do bullying, E – Espectadores livres Esses alunos diferentemente dos outros acima não se envolvem e não se posicionam, nem participam ativamente em nenhuma direção. F – Possíveis defensores Esses alunos não gostam do bullying, acham que devem ajudar, mas não fazem nada. G – Defensores Eles ajudam ou tentam ajudar e não gostam do bullying. H – Estudante que está sendo intimidado. Esses alunos são aqueles que estão constrangidos, intimidados e em estado de temor. Fonte: Limber; Olweus (2010). Reconhecer esses atores envolvidos no bullying mostra-se extremamente necessário para atuar nos alunos que possuem papel importante nesse processo e podem der possíveis 9 agentes de mudança. Neste contexto, GARANDEAU; POSKIPARTA; SALMIVALLI (2014) reforçam que os alunos expectadores podem apresentar papel importante de moderadores do comportamento entre os demais alunos. Os alunos defensores, possíveis defensores, espectadores livres e apoiantes passivos podem atuar como agentes de mudanças e combatendo o bullying buscando trazer os demais alunos para o lado direito do círculo (Figura 1) e mudar esse cenário de violência no ambiente escolar. Figura 1 – Círculo do Bullying Fonte: Limber; Olweus (2010). Os envolvidos no bullying apresentam características singulares o que o torna um problema complexo, multidimensional que requer investimentos científicos e políticos para a ampliação do foco sobre a questão, além de se caracterizar como um objeto de investigação intersetorial permeado por uma diversidade de formas e tipos (OLIVEIRA et al., 2015). 2.4 Tipos de bullying Em relação à classificação dos diferentes tipos de bullying observa-se a categorização, mediante a forma de acontecimentos do mesmo, em direto e/ou indireto. A forma direta é aquela ocasionada quando as vítimas são atacadas diretamente pelo agressor e geralmente representada 10 por agressões físicas e verbais e que segundo estudos FEKKES et al. (2005) acontece 4 vezes mais frequente entre os meninos. A forma indireta por sua vez acontece de maneira sútil, caracterizadas pela ausência de manifestações explicitamente observáveis ou por ação mediada por terceiros e mais prevalentes entre as meninas. Pode-se exemplificar a forma direta como agressões físicas, apelidos impróprios, ameaças, humilhações e a na forma indireta observa-se em espalhar mentiras, calúnias, difamação que buscam denegrir a imagem do aluno (AGUIAR & BARRERA, 2017). Ainda nesse sentido, vários autores (WANG; IANNOTTI; NANSEL 2009; 2010) categorizam o bullying em três grandes grupos: em físico, verbal e relacional. No bullying físico, como o próprio nome já evidencia, estão incluídas às diversas formas de agressões físicas diretas como bater, chutar e danos materiais. Já no tipo verbal abarcam as ações no âmbito das ameaças, apelidos, humilhações e insultos e no tipo relacional estão inseridos os comportamentos de exclusão e/ou isolamento social e indiferença (MALTA et al., 2019). Existe ainda nos dias atuais, um outro tipo de modalidade, cada vez mais frequente, denominada cyberbullying, abrange a utilização de artifícios eletrônicos e tecnologias de informação e comunicação como recurso para a adoção de comportamentos de agressão repetida, intencional, deliberados e hostis, de um indivíduo ou grupo que pretende causar danos a outro(s). Essas agressões acontecem por meio de celulares, internet, e-mails, redes sociais, mensagens de texto e até mesmo fotos e “memes” digitais (STELKO, 2012) Consolidando essas tipologias, a lei nº 13.185/2015 (BRASIL, 2015) classifica o bullying em oito tipos que estão representados resumidamente no quadro 2 abaixo: Quadro 2 – Caracterização dos tipos de bullying. FORMAS DE BULLYING TIPOS DE BULLYING DIRETO VERBAL - insultar, xingar e apelidar pejorativamente. SEXUAL - assediar, induzir e/ou abusar. PSICOLÓGICO - perseguir, amedrontar, aterrorizar, intimidar, dominar, manipular, chantagear e infernizar. FÍSICO - socar, chutar, bater. MATERIAL - furtar, roubar, destruir pertences de outrem. VIRTUAL - depreciar, enviar mensagens intrusivas da intimidade, enviar ou adulterar fotos e dados pessoais que 11 resultem em sofrimento ou com o intuito de criar meios de constrangimento psicológico e social. INDIRETO MORAL - difamar, caluniar, disseminar rumores. SOCIAL - ignorar, isolar e excluir. CYBERBULLYING – Postar fotos e arquivos pessoais para denegrir a imagem da vítima. Fonte: Brasil (2015). Observa-se que dentre os diferentes tiposde bullying sofridos pelos estudantes, o bullying psicológico predomina no ambiente escolar (23,3%) seguidos do bullying físico (15%) e virtual (5,5%) (MARCOLINO et al., 2018). Já no estudo de BANDEIRA & HUTZ (2012) os apelidos, xingamentos e agressões são apontados como os achados mais comuns entre os envolvidos e em contrapartida, SANTOS et al. (2014) afirma que o bullying material como a forma menos frequente de agressão bem como o bullying sexual. Acrescenta-se à temática, a agressão verbal de conteúdo homofóbico apresenta como o segundo tipo de bullying mais praticado entre meninos (20%) (OLIBONI, 2019) e o ciberbullying foi admitido por 14 a 23% dos adolescentes (LOPES NETO, 2005) Observa-se a existência de variação entre as pesquisas sugerindo a necessidade de mais pesquisas sobre essas questões relativas aos tipos de bullying que possam contribuir com melhores intervenções e no desenvolvimento de práticas contínuas de prevenção que possam reduzir esse problema de forma eficaz. 2.5 Consequências associadas ao bullying As consequências do bullying, tanto nas vítimas quanto nos agressores, vem sendo evidenciado em curto, médio e em longo prazo e envolvem as esferas da saúde, do processo de ensino-aprendizagem e do desenvolvimento psicossocial (ZEQUINÃO et al., 2017). Alguns estudos (ROMO; KELVIN, 2016; MOORE et al., 2017) nacionais e internacionais evidenciam a tentativa de suicídio, ansiedade, baixa autoestima, problemas com o sono, depressão, cefaleia e diminuição no rendimento escolar e podem repercutir ao longo da vida, tornando vulnerável a saúde e qualidade de vida do envolvidos. MELLO et al. (2017) reforça as consequências oriundas do bullying e avalia que os agressores possuem uma maior tendência a desenvolverem comportamentos de risco para saúde 12 e baixo rendimento escolar e já são identificadas nas vítimas uma tendência para quadros/sintomas depressivos, fobia social, medo, ansiedade generalizada, autoflagelação, pensamentos negativistas, baixa autoestima e transtornos alimentares. Os dados da PENSE corroboram com os achados cujas investigações revelam ainda, como consequências do bullying o sentir-se sozinho, não ter amigos, ter insônia, faltar as aulas sem avisar aos pais, sofrer ou testemunhar violência física família são fatores associados ao bullying e que afetam e colocam em risco a saúde (SILVA et al., 2019). Essas consequências, aumentam a probabilidade de dificuldade de aprendizagem e consequentemente fracasso e/ou evasão escolar, o abuso de substâncias entorpecentes e os problemas de saúde mental importantes exercendo efeitos negativos sobre a escolarização, saúde e desenvolvimento psicossocial atingindo além das vítimas e agressores as testemunhas da violência (SILVA et al., 2016). Contudo, é importante ressaltar que as crianças e adolescentes não são acometidas de maneira uniforme, mas existe uma relação direta com a frequência, duração e severidade dos atos de bullying. Os adultos que sofreram bullying quando crianças são mais propensas a sofrerem depressão e baixa autoestima. Da mesma forma, quanto mais cedo ocorrer a agressão, maior será o risco de apresentar problemas associados a comportamentos antissociais em adultos e consequentemente à perda de oportunidades, como a instabilidade no trabalho e relacionamentos afetivos pouco duradouros, se tornando uma bola de neve de consequências deletérias do bullying em todas as fases da vida do indivíduo (LOPES NETO, 2005). As consequências comprometem também a relação familiar uma vez que na maioria dos casos os pais não acreditam nos relatos ou suas ações na tentativa de debelar o bullying contra seus filhos não são efetivas o que torna um sentimento de culpa, descrença, indiferença, ira e inconformismo consigo e com a escola (LOPES NETO, 2005). Devido ao efeito nocivo do bullying sobre os envolvidos e à sua alta prevalência, sobretudo nas escolas, o desenvolvimento de programas de intervenção antibullying para crianças e adolescentes tem sido alvo de estudos (SILVA et al., 2017). 3 METODOLOGIA Trata-se de uma pesquisa de revisão integrativa do tipo exploratória. A pesquisa desenvolvida foi de natureza qualitativa, buscando analisar as estratégias de prevenção e 13 enfrentamento do bullying no ambiente escolar disponíveis na literatura científica. Foi realizada através de um levantamento bibliográfico em diferentes plataformas de pesquisa: MEDLINE, PUBMED, LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), BDENF, Index psicologia e IBECS. Em todos as bases de dados procedeu aos seguintes cruzamentos publicados no período de 2016 a 2021 utilizando os termos: bullying AND serviço de saúde escolar AND adolescente AND intervenção educacional precoce. Os critérios de inclusão foram artigos publicados em inglês, espanhol e português e como critério de exclusão, os resumos e aqueles não disponíveis em sua íntegra. Os estudos selecionados foram sumarizados considerando-se as informações referentes ao título, autoria, nome da revista, data de publicação, país no qual os dados foram coletados bem como os objetivos da intervenção, métodos empregados, principais resultados e conclusões. Os resultados da revisão demonstraram a inclusão inicial de 29 artigos elegíveis e que após a leitura criteriosa e mediante os critérios de inclusão e exclusão chegaram ao montante final de 7 artigos para presente revisão. Esses resultados foram apresentados de forma descritiva e analisados criticamente cujo tratamento dos dados propiciou a obtenção de uma visão geral acerca da produção científica na temática investigada e sobre as medidas de prevenção e enfrentamento ao bullying no ambiente escolar. Para análise dos dados, realizou-se várias etapas para poder escolher os artigos finais que se enquadram nos critérios adotados. No primeiro momento foi feita a leitura dos títulos, excluindo os que não estavam condizentes com o tema deste trabalho (filtragem). No segundo momento foi feita a leitura dos resumos que restaram da primeira etapa, e assim, foram excluídos os que não tinham os critérios de inclusão definidos anteriormente (mapeamento da amostra). O último momento foi a leitura de todo o artigo destacando as partes mais interessantes dos resultados de cada trabalho (estudos elegíveis). Os artigos submetidos à esta revisão integrativa foram sistematizados e categorizados através da análise de conteúdo (BARDIN, 2011) onde foram possíveis agrupar e apreender categorias (estratégias baseadas na educação popular, estratégias cognitivas comportamentais e estratégia de breve intervenção) que embasaram a análise das estratégias de prevenção e enfrentamento do bullying no ambiente escolar disponíveis na literatura científica. 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 14 Durante o processo de busca foram encontrados 29 estudos publicados. Após serem analisados foram escolhidos 7 artigos como amostra final, dos quais atendiam rigorosamente aos critérios estabelecidos e a objetividade do estudo. Na figura I, segue a representação esquemática do fluxograma da seleção realizada para este estudo. Figura 1 – Fluxograma da captação dos artigos que serão selecionados Fonte: Autoras (2021). Desta Revisão Integrativa, pode-se caracterizar todos os artigos encontrados conforme as bases de dados sendo que na base de dados Medline foram encontrados apenas 1 artigo, na LILACS foram encontrados 5 artigos, na base BDENF foram encontrados apenas 1 artigo. A base de dados LILACS foi aquela que apresentou a maior quantidade de artigos encontrados. Tabela 1 – Caracterização dos artigos encontrados conforme os descritores e base de dados BASE DE DADOS Nª DE ARTIGOS % MEDLINE 1 14,5% BDENF 1 14,5% LILACS 5 71% TOTAL 7 100% Fonte: Autoras (2021). Estudos identificados nos bancos de dados: Lilacs (21), medline(6), BDENF (8), Index psicologia (3), IBECS (2) Total: (29) Artigos para análise mais detalhada (15) N. de estudos incluídos (7) N. de artigos excluídos após a leitura completa (8) N. de resumos e artigos duplicados excluídos, (14) 15 O Quadro 1 abaixo mostra os 7 artigos encontrados caracterizando por autor, ano e título. Dessa forma, percebe-se que 57% dos artigos foram publicados em 2020 e 71% dos artigos publicados foram escritos na língua portuguesa. Quadro 1 - Caracterização dos artigos conforme autor, ano e título. COD. AUTOR ANO TÍTULO A1 Chillemi et al. 2020 A Pilot Study of an Online Psychoeducational Program on Cyberbullying That Aims to Increase Confidence and Help-Seeking Behaviors Among Adolescents. A2 Alencastro et al. 2020 Teatro do Oprimido e bullying: atuação da Enfermagem na saúde do adolescente escolar A3 Brandão Neto et al. 2020 Formação de adolescentes protagonistas para prevenir o bullying em contextos escolares A4 Bottan et al. 2020 Intervenção breve antibullying para adolescentes em escolas públicas A5 Alencastro; Oliveira, Silva 2019 O Teatro do Oprimido no enfrentamento do bullying: uma experiência com adolescentes escolares A6 Silva et al. 2018 Intervenção em habilidades sociais e bullying A7 Vilchis; Reynoso, Rivera 2018 Efectos de un programa de competencias emocionales en la prevención de cyberbullying en bachillerato Fonte: Autoras (2021). No caso da caraterização por tipo de pesquisa, da amostra e dos resultados evidenciados, o Quadro 2 mostra esses dados de forma resumida onde em sua maioria apresentam intervenções realizadas no combate ao bullying. 16 Quadro 2 – Caracterização dos artigos conforme código, tipo de pesquisa, amostra e resultados COD. TIPO DE PESQUISA AMOSTRA RESULTADOS EVIDENCIADOS A1 Estudo transversal de abordagem quanti-qualitativo Amostra de 54 alunos do 9º e 10º ano de escolas secundárias australianas Os resultados sugerem que uma intervenção online tem o potencial de fornecer aos adolescentes uma intervenção gratuita e facilmente acessível que ajude a amenizar o efeito do cyberbullying, promovendo habilidades eficazes de enfrentamento. A2 Estudo quase- experimental Amostra de 232 alunos do ensino médio de 2 escolas públicas de Cuiabá O Teatro do Oprimido representa uma estratégia importante na redução da vitimização por bullying entre adolescentes escolares. A3 Pesquisa de intervenção participativa, de natureza qualitativa Amostra de 12 adolescentes considerado líderes O modelo de intervenção pedagógica oportunizou a participação ativa dos adolescentes, com vistas ao desenvolvimento de competências geradoras de comportamentos pró- sociais, relações empáticas e assertivas, capazes de enfrentar o bullying e transformar o ambiente escolar A4 Estudo experimental controlado Amostra composta de 1.043 estudantes do 5º ao 9º ano de escolas públicas de Porto Alegre/RS Os resultados não indicaram efeito significativo do modelo de intervenção proposto. Uma das hipóteses de tal achado deve-se ao fato de a intervenção ter sido breve, havendo poucos encontros para discussão acerca do tema e ocorrendo com todos os adolescentes, sem focar nos grupos de envolvidos. A5 Estudo de Relato de experiência Amostra de 136 adolescentes estudantes do 1º Ano do Ensino A partir do relato é possível identificar as potencialidades da experiência de intervenções com técnicas teatrais sendo possível ampliar a visão do bullying entre 17 Fonte: Autoras (2021). Diante dos resultados apresentados pode-se observar diversas formas de prevenção e enfrentamento ao bullying cujos resultados são apresentados diante da experiência e realidade de cada local considerando as características sociais, econômicas e culturais. Diversos programas\ações de prevenção e enfrentamento ao bullying vem sendo desenvolvidos e aplicados em escolas de vários países visando reduzir a prevalência do bullying e melhorar a saúde mental e a qualidade de vida dos adolescentes cujos programas consideram as escolas como sistemas dinâmicos e complexos. Foram elencadas, assim, três categorias de discussão sobre o assunto, são elas: Estratégias baseadas na educação popular; Estratégias cognitivo- comportamentais e Estratégias de breve intervenção. 4.1 Estratégias baseadas na educação popular Observou-se durante a revisão a realização de intervenções e estratégias baseadas na educação popular freiriana. Isso foi explanado por Alencastro et al. (2020) ao realizaram uma intervenção por meio do Teatro do Oprimido, no qual se inspiraram na obra freiriana “Pedagogia do oprimido”. Em seu relato de experiência sobre a implementação dessa intervenção, evidenciou-se que a encenação possibilitou o debate e discussão, promovendo a Médio de uma escola pública estadual de Cuiabá adolescentes, suas consequências e suas formas de enfrentamento A6 Estudo de Intervenção quase experimental Amostra de 522 estudantes do sexto ano de seis escolas públicas de São Paulo As habilidades sociais são importantes em intervenções antibullying e podem fundamentar intervenções intersetoriais na área da saúde, visando favorecer o empoderamento das vítimas mediante a melhoria de suas interações sociais e qualidade de vida na escola. A7 Estudo experimental Amostra de 82 alunos mexicanos do ensino médio O programa produziu um impacto positivo, significativo e um tamanho do efeito mediano sobre as pontuações de cyberbullying em alunos do ensino médio e mostrou eficácia na prevenção e intervenção. 18 emancipação dos sujeitos e proporcionando um ambiente de construção e desconstrução de conceitos, saberes e\ou impressões. Para isso, estimulou-se a participação ativa, a interação entre os participantes, além da sensibilização ao bullying, destacando a as principais situações vivenciadas e os desafios que enfrentavam para superar tal situação. Os resultados demonstraram redução significativa na vitimização direta, agressões físicas e verbais, demonstrando que a intervenção pode auxiliar positivamente nas ações de prevenção e enfrentamento. Nesse sentido, as técnicas de dramatização podem ser úteis para que os adolescentes adquiram diversas habilidades para lidar positivamente com o bullying e de diferentes formas além de que a dramatização favorece a formação de grupos, que protegem e auxiliam na solução das situações de bullying. Corroborando, Brandão Neto et al. (2020) desenvolveram uma intervenção baseada na estratégia participativa de educação em saúde, baseada também na educação popular, agora no método de Círculos de Cultura de Paulo Freire, durante três meses. A estratégia de enfrentamento gerou como frutos algumas estratégias antibullying levantadas pelos adolescentes como teatros, raps, vídeos para debate, jogos de perguntas e respostas, cartazes de divulgação de mensagens antibullying por toda a escola, bem como a criação de espaços para livre expressão de propostas de prevenção antibullying. A partir dessas intervenções, compreende-se que é importante se encorajar os alunos a participarem ativamente da supervisão e intervenção dos atos de bullying. Os programas de prevenção e de enfrentamento devem ir além e envolver, sempre que possível, a comunidade, a família, a organização escolar, as turmas e as práticas pedagógicas, uma vez que a violência se estabelece por meio das relações e se institui um fenômeno grupal (PEREIRA et al., 2011; AHTOLA et al., 2013; SAMPAIO et al., 2015). 4.2 Estratégias cognitiva-comportamental Além das medidas educacionais populares, observou-se também estratégias de intervenção baseadas em programas psicoeducacionais que trabalhavam os aspectos cognitivos e comportamentais,como apresentado por Kerry et al. (2020). Os autores executaram uma intervenção por meio de um programa psicoeducacional baseado em terapia cognitivo- comportamental autoguiado online, para lidar com uma experiência potencial de cyberbullying. Os resultados demonstraram que uma intervenção online tem o potencial de fornecer aos adolescentes uma intervenção gratuita e facilmente acessível que ajuda a amenizar o efeito do 19 cyberbullying. Além disso, promove habilidades eficazes de enfrentamento, indicando aumentos significativos na probabilidade dos adolescentes de usar as habilidades de enfrentamento da autocompaixão e de desafiar o pensamento de inutilidade para lidar com uma experiência de cyberbullying. Corroborando com o exposto acima, Silva et al. (2018) realizaram um estudo quase- experimental com intervenção cognitivo-comportamental baseada em habilidades sociais em estudantes paulistas vítimas de bullying. Foram realizadas 8 sessões que enfocaram habilidades de civilidade, fazer amizades, autocontrole, expressividade emocional, empatia, assertividade e soluções de problemas interpessoais. Os autores observaram que o grupo intervenção melhorou significativamente as habilidades sociais e houve a diminuição da vitimização demonstrando a importância das intervenções antibullying. Somando à temática, Vilchis; Reynoso, Rivera (2018) encontraram em seu estudo quase-experimental por meio da intervenção com um programa de competências emocionais focando o cyberbullying em alunos mexicanos que a aplicação do programa de competências emocionais produziu impacto positivo e significativo sobre o cyberbullying em alunos do ensino médio, bem como as consequências do bullying, reduzindo a vitimização. Ressalta-se, desse modo, a necessidade de implementar medidas de prevenção e enfrentamento que trabalhem para além do currículo escolar, mas que envolvam questões morais, culturais e valores da escola e comunidade como um todo. Observa-se, portanto, que as ações de prevenção e enfrentamento também diminuam as consequências causadas pelo bullying combatendo a evasão escolar, depressão, fobia escolar e social e até mesmo a tentativa de suicídio o que reduz consideravelmente a possibilidade dos adolescentes adotarem comportamentos violentos e\ou reproduzirem a violência (MOREIRA; BASTOS, 2015). 4.3 Estratégias de breve intervenção Entretanto, apesar dos resultados positivos das estratégias já apontadas anteriormente no combate ao bullying, observa-se que intervenções breves não apresentaram resultados significativos como demonstrado por Bottan et al. (2020). Em seu estudo experimental controlado, realizaram uma intervenção breve, em dois encontros com duração de 90 minutos cada, por meio de aula expositiva e dialogada e dinâmicas, onde abordavam questões relacionadas ao bullying, ao preconceito e vitimização. Os autores não encontraram efeitos 20 significativos no modelo de intervenção proposto. Como hipótese afirmam que o pequeno número de encontros, o fato da intervenção ter sido breve e ter ocorrido em todos os adolescentes sem focar nos grupos envolvidos com o bullying pode ter influenciado os resultados. Como o bullying é complexo, de difícil solução e uma tarefa árdua para sua eliminação, é preciso que o trabalho seja continuado e não breve ou pontual. De todo modo, frisa-se a manutenção de diferentes pesquisas e ações para seu enfrentamento, na esperança de se obter numa sociedade mais justa. As ações tem se mostrado simples e de baixo custo, podendo ser inseridas no cotidiano das escolas (SILVA, 2010, p. 175). Pode-se perceber que as ações de prevenção e enfrentamento ao bullying identificadas nesta revisão são desenvolvidas visando realizar alterações no ambiente escolar, implantação de ações de forma a promover uma cultura de paz na escola, sensibilização e autorreflexão sobre as situações de conflito. Observa-se, ainda, que essas ações visam por outro lado realizar intervenções individuais, como o estímulo a reflexões filosóficas e vivências de valores nas escolas, desenvolvimento de um programa de treino em competências sociais e emocionais, promoção de atividades para redução do comportamento de bullying e promoção de regras de convivência, habilidades sociais e intervenções individualizadas com alunos. 5 CONCLUSÃO A presente pesquisa teve como objetivo analisar as estratégias de prevenção e enfrentamento do bullying no ambiente escolar disponíveis na literatura científica. A partir das análises realizadas, conclui-se que os programas de prevenção e enfrentamento ao bullying devem ser intersetoriais, com foco no desenvolvimento de sentimentos de empatia e solidariedade, além do fortalecimento das relações entre pares. As intervenções, portanto, necessitam de um conjunto de ações que alcancem uma ampla participação. O presente estudo demonstra a importância e efetividade das intervenções, o que contribui para produção do conhecimento científico no campo do bullying em ambiente escolar. Apropria-se, então, de novas teorias e práticas de prevenção e enfrentamento. Desse modo o envolvimento de todos os atores envolvidos nesse processo, tais como, alunos, professores, comunidade, faz-se necessário para a eficaz implantação de ações de prevenção e enfrentamento do bullying. A participação e construção coletiva tende a estabelecer diretrizes e ações mais coerentes com a realidade escolar. O presente estudo encontrou, como 21 limitação, uma restrita literatura que compare as medidas de prevenção e enfrentamento ao bullying. 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGUIAR, L. G. F.; BARRERA, S. D. Manifestações de Bullying em Diferentes Contextos Escolares: um Estudo Exploratório. Psicologia: Ciência e Profissão Jul/Set. 2017 v. 37 n°3, 669-682. https://doi.org/10.1590/1982-3703002922016 ALENCASTRO, L. C. 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