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Resenha do livro - O Alegre Canto da Perdiz (Paulina Chiziane) Por, Ana Paula Rios Morais. O livro da escritora moçambicana, composta por uma narrativa em que a oralidade é pura e boa de se ler. Às vezes lia alguns trechos do livro e pensava em marcar aquilo, porém quando se lia novamente discordava totalmente com o que tinha achado. Percebi o quão é interessante o que a autora traz; uma verdade em sua narrativa, pois as características orais são quase sempre muito reprimidas pelos colonizadores. Então, ela de alguma forma vai resistindo essa colonização no próprio formato na qual se escreve. Achei uma frase do livro muito interessante que vai de encontro com isso: “Dizem que sou romancista e que fui a primeira mulher moçambicana a escrever um romance, Balada de Amor ao Vento, mas eu afirmo: sou contadora de estórias e não romancista. Escrevo livros com muitas estórias, estórias grandes e pequenas. Inspiro-me nos contos à volta da fogueira, minha primeira escola de arte." Acho interessante comentar, caso alguém leia o livro sem reparar na oralidade (que acho impossível), vão perceber o quanto os personagens se parecem em uma de suas falas, e isso poderia ser caracterizado como um defeito. Mas acho que não se pode “classificar” como defeito, porque quando o livro tem essa característica da oralidade, as vozes ficam unificadas, é como se alguém tivesse nos contando essa história, e com isso acho que acaba sendo coerente e não uma falta de construção. Nesse livro, Chiziane demonstra-se mais consciente sobre as questões sociais, sobre a colonização. Pois, ao meu ver ela parece apresentar uma ideia de mundo que ela imagina (na qual eu discordo) e também porque ela descreve várias questões de “Ah, ele fez isso, porque era homem”, em vários momentos no livro há passagens em que eles discutem se são mais ou menos pretos e sobre os espaços onde pretos e brancos ocupam. A protagonista (Delfina, uma prostituta com filhos) ela quer passar por um embranquecimento não só da pele que é mencionado no próprio livro, as pessoas tentando embranquecer a pele, ela acha que casando com um homem branco e tendo uma filha mais clara ela vai alcançar os espaços destinados aos brancos. Percebi que nesse livro não tive exatamente o final esperado, achei que ele não terminou bem, mas li com bastante facilidade. Porém, no final percebi que a autora começa a encontrar algumas soluções muito fáceis para as problemáticas que o livro mostra. Percebe-se que no final ela propõe um mundo, uma política na qual não concordo. Mas reconheço que o livro não perde por isso, porém poderia ser melhor abordado. E quando ela usa algumas maneiras, algumas formas de resolver o final, acho que foi resolvido de um jeito que desejou a desejar. Só que percebo um foco muito grande nas mulheres, a Delfina é a protagonista, mas fica visível a presença de outras mulheres, Serafina (mãe dela) e a Maria das Dores (filha dela). Fui lendo e acompanhando essas histórias, vendo os percalços que elas dão na vida e que são completamente ligados à prostituição, à magia, ligados a momentos corriqueiros, e que são recorrentes nessas colonizações que tem a mistura de brancos e negros que mostra bastante a questão dos espaços separados, a questão da miscigenação e como ela é absorvida pela população, a poligamia… tudo isso composto nesse livro, de uma autora moçambicana que aborda a prostituição e mostra também possíveis gatilhos para o estupro, pois quando se trata da colonização se torna estranho não existir uma menção sobre esses assuntos mais pesados, já que era uma prática recorrente (INFELIZMENTE).
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