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Semântica Argumentativa: Estudos dos Sentidos para o Ensino de Língua Portuguesa Michel Marcelo de França W B A 0 62 4_ v1 © 2018 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de infor- mação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. Presidente Rodrigo Galindo Vice-Presidente de Pós-Graduação e Educação Continuada Paulo de Tarso Pires de Moraes Conselho Acadêmico Carlos Roberto Pagani Junior Camila Braga de Oliveira Higa Carolina Yaly Danielle Leite de Lemos Oliveira Juliana Caramigo Gennarini Mariana Ricken Barbosa Priscila Pereira Silva Coordenador Danielle Leite de Lemos Oliveira Revisor Daniela Vitor Ferreira Silva Editorial Alessandra Cristina Fahl Daniella Fernandes Haruze Manta Flávia Mello Magrini Leonardo Ramos de Oliveira Campanini Mariana de Campos Barroso Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) França, Michel Marcelo F814s Semântica argumentativa : estudos dos sentidos para o ensino da língua portuguesa / Michel Marcelo França – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2018. 149 p. ISBN 978-85-522-0657-6 1. Semântica argumentativa. 2. Língua portuguesa. 3. Ensino. I. França, Michel Marcelo. II. Título. CDD 410 2018 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ Thamiris Mantovani CRB: 8/9491 SUMÁRIO Tema 1: Estudo dos significados em língua materna ................ 6 Tema 2: As diferentes abordagens semânticas ......................... 19 Tema 3: Texto e argumentação ................................................... 33 Tema 4: Semântica argumentativa ............................................. 49 Tema 5: Teoria da polifonia ........................................................... 64 Tema 6: Teoria dos topoi ............................................................... 79 Tema 7: Blocos semânticos .......................................................... 93 Tema 8: Semântica no ensino de língua portuguesa ................ 108 A Linguística e suas áreas de estudo e respectivas ramificações cons- tituem um fecundo terreno para investigações, descobertas e incertezas. Diferentemente do campo das ciências exatas, em humanas, especialmente nos domínios da linguagem, a interpretação da subjetividade inerente às relações sociais, culturais, e, portanto, ideológicas, torna a acepção da verdade um processo intangível, dando lugar ao verossímil e ao plausível (FRANÇA, 2015). Nessa perspectiva, em meio a outras disciplinas, como a Semiótica e a Semiologia, figura a semântica como uma das áreas legitimadas à investi- gação do significado dos signos linguísticos e extralinguísticos. Esta disci- plina possui diferentes vertentes que vão das mais tradicionais, como a Estruturalista e a Lógica, às mais vanguardistas, como a Semântica-Argu- mentativa e seus desdobramentos. Embora os manuais de ensino contemplem alguns tópicos semânticos em suas sequências didáticas − como o estudo de sinônimos/antônimos, homônimos/parônimos, hiperônimos/hipônimos, polissemia, conotação/ denotação, funções e figuras de linguagem etc. −, os estudos fonológicos, morfológicos e sintáticos estruturalistas ainda ocupam maior espaço nos livros escolares e na própria prática docente no ensino de Língua Portu- guesa enquanto língua materna. Atenta a essa problemática e às transformações recorrentes do advento das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC), a nova Base Nacional Curricular Comum (BNCC), de 2017, convida-nos a refletir sobre essas questões com vista a uma mudança de paradigma rumo ao ensino APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA participativo, colaborativo e, principalmente, significativo da Língua Portu- guesa. Nesse cenário, a semântica exerce papel de destaque, uma vez que é a disciplina que se ocupa em descrever o sentido e suas determinações. Considerando a relevância da semântica nesse novo cenário educacional que se desenha, é importante que você conheça melhor essa disciplina e se aprofunde em seu estudo. Para isso, nesse percurso, você vai conhecer diferentes vertentes semânticas e seus respectivos pressupostos, além de refletir sobre a aplicabilidade e relevância dessas teorias à melhora qualita- tiva dos processos de letramentos em língua materna. Bons estudos! 1 Estudo dos significados em língua materna 7 Objetivos Específicos • Delimitar o campo de estudo da semântica; • Apresentar a natureza epistemológica do estudo semântico; • Refletir sobre a importância da semântica para o ensino de Língua Materna (LM). Introdução Etimologicamente, a palavra semântica tem sua origem no grego, sēmantiká, o plural neutro de semantikos, cujo sentido é igual a significativo e/ou marcado. Outra possível origem seria a pala- vra grega semainein, verbo que significa mostrar e é derivada da palavra sema, que significa sinal e é sinônima de semîon, que significa signo. Cabe considerar também que a semântica, enquanto área de investigação da Linguística, caracteriza-se pelo estudo do significado dos signos linguísticos (1), sejam eles isolados ou articulados: grafemas, morfemas, palavras, frases e enunciados. A natureza do significado intriga teóricos e pesquisadores de toda ordem, principalmente no que versa sobre o seu grau de realidade. É fato, pois, que este não constitui o objeto a que se refere, mas é a representação psíquica deste, ou seja, uma imagem mental e simbólica, razão pelo qual reflete o conceito e não o objeto em si. Nesse campo de estudo, além de se estudar o significado de unidades linguísticas, são também analisadas as transformações e nuances de sentido a que estão expostos os signos linguísticos, decorrentes fatores alheios à relação dicotômica “significado/significante” proposta por Saussure (2012). Essas transformações e nuances se dão pois a língua e seu uso estão submetidos a questões de ordem situacional, relacional e contextual. A consideração desses fatores externos ao sistema lin- guístico em um estudo semântico depende da perspectiva teórica à qual ele se filia, pois, em uma perspectiva de ordem estruturalista ou de ordem referencialista, os fatores externos não são consi- derados no estudo do sentido. Em razão de sua flexibilidade e expansividade, a semântica por vezes é comparada à semiologia e/ou semiótica (2), cujo objeto de estudo, o signo, é a essência da representação de todo e qualquer 8 fenômeno físico, metafísico, biológico, quí- mico e/ou psíquico, abrangendo, assim, as linguagens verbais e não verbais. 1. Semântica e semiologia/ semiótica: entre dois reinos distintos, mas interconectados A exemplo de outras áreas, a Semântica também não possui vertente única e homogênea. Para além dos pressupostos teóricos e conceituais presentes nos manuais didáticos, de acordo com (FRANÇA, 2009), diferentes linhas de pesquisa de bases epistemológicas (3) distintas ora encontram pontos de convergência, ora se excluem mutuamente. Aristóteles (Estagira, 384 a.C. – Atenas, 322), pai da Retórica, uma das mais antigas ciências da linguagem, herda de seu mestre, Platão, um ensi- namento sobre o Crátilo (4), a respeito da origem das palavras e, subsequentemente, da linguagem. Os estudos de Aristóteles teriam, de acordo com alguns pesquisado- res, inaugurado os estudos linguísticos sobre a significação, sendo, portanto, um estudo embrionário dos signos. Em suas investigações,Aristóteles con- cluiu que o signo é uma espécie de conector das representações intrínsecas e extrínsecas Para saber mais (2) A semiologia: Ciência que se dedica ao estudo dos signos, dos modos que representam algo difer- ente de si mesmo, e de qualquer sistema de comu- nicação presente numa sociedade. Segundo Roland Barthes, análise das definições que são atribuídas às situações sociais tidas como sistemas de signifi- cação; estudo das imagens, dos gestos, dos cos- tumes, das tradições etc. Para saber mais (4) Crátilo (do grego antigo Kratulos): Diálogo platônico no qual Sócrates, seu mestre, é questio- nado por dois homens, Crátilo e Hermógenes, sobre a origem dos nomes à luz de duas reflexões: “con- vencionais” ou “naturais”, isto é, se a linguagem é um sistema de símbolos arbitrários ou se as pala- vras possuem uma relação intrínseca com as cois- as que elas significam. Este texto tornou-se uma referência filosófica no período clássico por cont- er estudos sobre Etimologia e Linguística (SEDLEY, 2003, p. 22-23). 9 entre os seres e o meio, pelo qual a língua passa a ser entendida não como um composto de sons aleatórios e arbitrários, mas como um conjunto convencionalmente significativo, um indicativo da racionalidade humana legitimada pelas tradições. Assume-se, assim, o convencionalismo aristoté- lico e o assentimento do caráter político e social da linguagem (FRANÇA, 2015) Para Saussure (2012), a língua é um sistema de signos que exprime ideias, portanto, a concepção de uma ciência que estude a semiose no bojo das práticas sociais está para além dos domínios da semântica. O que denominou como Semiologia necessitaria interagir com a Psicologia Social e, por conseguinte, com a Psicologia Geral. Ainda no esforço de delimitar a fronteira entre ambas, convencionou-se que a dimensão semântica reserva-se ao estudo dos conteúdos em si, ao passo que a Semiologia (5) e/ou Semiótica (6) à inves- tigação dos processos de significação em linhas gerais. Em outras palavras, a primeira se ocuparia do signo linguístico, a posterior dos signos verbais e não verbais e de suas respectivas semioses (7). 1.1 Histórico do estudo semântico Ao findar do século XIX, foram estabelecidos por Bréal (8) os princípios de uma semântica diacrônica (9), cuja fina- lidade era estudar a semiose das pala- vras, visando observar os mecanismos que regem as suas transformações. Já no início do século seguinte, uma semântica voltada à descrição sincrônica (10) dos significados emerge objetivando delimitar e analisar os Link • (5) Iniciação à Semiologia saussuriana. Di- sponível em: <https://www.youtube.com/ watch?v=c5D1UGk5Qm0> . Acesso em: 08 de fev. 2018. • (6) Iniciação à Semiótica de Peirce: Disponível em: <https://youtu.be/NN-KVLIrVn4>. Acesso em: 08 de fev. 2018. Para saber mais (8) Michel Bréal (1832-1915) foi um linguista francês, o primeiro a estudar cientificamente a polissemia. Para conhecer um pouco do seu estudo, consulte: BRÉAL, Michel. Ensaio de Semântica: ciência das significações. Tradução de Aída Ferrás et al. São Paulo: Pontes, 1992. https://www.youtube.com/watch?v=c5D1UGk5Qm0 https://www.youtube.com/watch?v=c5D1UGk5Qm0 https://youtu.be/NN-KVLIrVn4 10 campos semânticos. Essa abordagem, cujo foco era a taxonomia (11a), não era pautada em critérios imanentes (11b) da linguagem, mas em aspectos associacionistas para o estudo no âmbito do conteúdo (FIORIN, 2008). Em 1957, Hjelmslev propõe as bases para uma semântica estrutural, argumentando que tanto a fonologia quanto a gramática apresentam uma estrutura evidenciada e representada. Tais características legitimariam o processo investigativo, pois o arsenal empregado está logrado à língua. O objetivo da semântica estrutural seria o desenvolvimento de uma investigação imanente, sem categorias de significados fundamentadas em classificação extralinguística, restringindo o escopo investigativo ao nível linguístico e instaurando duas perspectivas semânticas concorrentes: a estru- tural diacrônica e a estrutural contrastiva, cujo escopo era o léxico. Ainda nessa perspectiva, do ponto de vista discursivo, a distinção entre semântica, sintaxe, prag- mática ou mesmo a fonologia mostra-se plausível quando a finalidade é didático-pedagógica, no entanto, na condição de método, a indissolubilidade é mister, posto que a sinergia entre unidades de significação, as regras de combinação entre estas e os usos em determinados contextos situacionais não devem ser tratadas separadamente, já que con- correm à mesma teia de sentidos (12). Para França (2009), para além do enten- dimento sobre a semântica enquanto disci- plina da linguística que se ocupa do sentido e dos seus conceitos mais recorrentes em manuais didáticos - sinônimo, antônimo, parônimo, homônimo, campo semântico, Assimile (9/10) Saussure, em seu Curso de Linguística Geral, propõe que a língua seja estudada a partir da di- cotomia diacronia/sincronia. A diacronia ocupa-se do estudo dos termos sucessivos que se substituem uns aos outros no tempo, e a sincrônica estabelece os princípios de todo sistema sígnico, devendo con- siderar que os fatores constitutivos de todo estado de língua atendem à Gramática (SAUSSURE, 2012). Para saber mais Greimas (1967, p. 125): A descrição de uma estru- tura não é mais que a construção de um modelo metalinguístico, percebido em sua coerência inter- na e capaz de mostrar o funcionamento, no seio de sua manifestação, da linguagem que se propõe de- screver. 11 hipônimo, hiperônimo, campo lexical etc. –, é necessário considerar a existência de um contexto sociocultural que fomenta a dinâmica lexical, operacionalizando a criação de neologismos, emprésti- mos linguísticos, expressões idiomáticas etc., por meio de um processo de concepção que decorre da atividade cognitiva, resultando na concretude da palavra. Nas instâncias extralinguísticas, o político, o social e o cultural são exteriorizados, desnudados por meio das respectivas escolhas lexicais que o usuário da língua faz deste sistema sígnico, cuja natureza é ideológica e, portanto, admitem significados que reportam a algo para além de si mesmo, durante um processo dialógico discursivo em uma dada situação enunciativa, ratificando Bakhtin (2010, p. 37) quando afirma que: O signo é criado por uma função ideológica precisa e permanece inseparável dela. A pala- vra, ao contrário, é neutra em relação a qualquer função ideológica específica. Pode preen- cher qualquer espécie de função ideológica: estética, científica, moral, religiosa. 1.2 O papel da Semântica no ensino de língua materna A distância entre o conhecimento científico produzido nos centros acadêmicos e o disseminado nas instituições de Ensino Superior e Educação Básica, na maioria das vezes, é caracterizada por um hiato intelectual. Os desafios rumo à construção de um modelo educacional inovador e que estimule a criatividade diante das inovações tecnológicas e das novas práticas sociais mediadas por estas. A semântica enquanto ciência não está restrita ao campo dos estudos linguísticos, embora seja natu- ral deste. À guisa de exemplo, cita-se a web semântica (13) que, em colabora- ção com a sintaxe, atua na descrição do significado de construções válidas para a organização de um conjunto de regras que define a forma de uma linguagem, estabelecendo como são compostas as suas linguagens, bem como as normas de com- posição das estruturas básicas (palavras). Dito isto, demonstrar a necessidade da abordagem semântica nas atividades do Link (13) O que é web semântica? Disponível em: <https://www.tecmundo.com.br/web/800-o-que- e-web-semantica-.htm>. Acesso em: 28 jan. 2018. https://bit.ly/2JgVNXq https://bit.ly/2JgVNXq 12 ensino de língua materna é mais que defender a priorização de uma área de estudos linguísticos em detrimento de outra, na verdade, é assumir que os pressupostosteóricos dessa ciência estão enraizados na própria natureza comunicativa humana e em seus respectivos recursos midiáticos. Em consonância com os propósitos teórico-metodológicos da Base Nacional Curricular Comum, os componentes de ensino de Língua Portuguesa (14) enquanto Língua Materna devem contemplar o entendimento das transformações das práticas comunicativas motivadas pelas TDIC (15), das quais assume-se a visão enunciativa-discursiva da linguagem sob o entendimento de que esta é uma ativi- dade interindividual de exercício da cidadania em uma sociedade letrada. FIGURA 1 - Texto sincrético (veja o exemplificando) FONTE: UOL, 2018, on-line. 13 Em consonância com os propósitos teó- rico-metodológicos da Base Nacional Curricular Comum, os componentes de ensino de Língua Portuguesa (14) enquanto Língua Materna devem contemplar o enten- dimento das transformações das práticas comunicativas motivadas pelas TDIC (15), das quais assume-se a visão enunciativa- discursiva da linguagem sob o entendimento de que esta é uma atividade interindividual de exercício da cidadania em uma sociedade letrada. Concluindo, a BNCC sugere a transposição da prática educativa baseada em exercícios de cunho morfológico e sintático para ativi- dades que fomentem a reflexão sobre a lín- gua, contemplando a construção de sentido por meio de análise semântico-discursiva. Questão para reflexão Após todo estudo compartilhado neste material, você teve contato com diferentes vertentes de pesquisa na área de semântica. Baseando-se nestes estudos, construa um texto no qual você apresente uma reflexão sobre como empregar esta ciência no ensino de Língua Portuguesa enquanto língua materna. Exemplificando A interpretação do composto textual desse portal de notícias (figura 1), constitui um território fecun- do à demonstração. Note que são exploradas as cores vermelhas e pretas na composição do con- traste de todos os anúncios e manchetes. Observe que traçado um percurso entre os destaques em vermelho, você terá: “69%”, “Eu quero”, “Lula pode ser preso”, mera coincidência? Talvez, interpretar, atribuir significado, construir sentido sobre a re- alidade, é um processo de escolhas, observação e rearranjos. Um profissional de comunicação e linguagem não faz escolhas ingênuas, até porque nenhum dis- curso é neutro e despido de ideologia. Seria o “eu” o desejo do enunciador? Seria a cifra “69%” uma analogia quantificadora ao percentual de pessoas que supostamente também desejam? A expressão modalizadora “pode ser” atenua o tom do discurso. Ao observar os quadros em preto, traça-se também um paralelo em quem são comunicadas as grande- zas, note: “144,90 e 44,90”; “95”; “23 e 2º”. Seria também fruto do acaso a gradação numérica de- crescente? Seria uma tentativa de construir uma sensação de valores do mais para o menor, sendo o último recaído sobre o seu referente? No quadrante pontilhando em que se encontra o jogador Neymar Júnior é possível notar na direita abaixo um anúncio sobre o mundial na UOL, no su- perior direito o anúncio de outro produto também com a logo UOL. A disposição entre os três enun- ciados é novamente triangular. Nota-se que, após analisar essas diferentes relações enunciativas, um padrão organizacional começa a ser desenhado o que nesse objeto mostrou-se eficiente. É claro que está é apenas uma leitura entre as mui- tas que podem ser feitas. Trata-se apenas de uma exemplificação de leitura e interpretação funda- mentada em pressupostos linguísticos, semânticos e semióticos, a aplicação de um vasto arsenal à prática de leitura. 14 Considerações Finais • É importante considerar que há uma linha tênue entre os domínios da semântica e da semiótica, que por vezes promove enganos conceituais, epistemológicos e de finalidade. • A semântica não possui base teó- rica homogênea, uma vez que seus construtos epistemológicos são dis- tintos, sendo ora convergentes, ora divergentes, e/ou mesmo mutua- mente excludentes. • Embora Aristóteles já contemplasse em seus estudos a noção de signo e a importância do significado à linguagem, foi Ferdinand de Saussure que na modernidade forneceu bases teóricas conceituais para o desenvolvimento da Linguística e, consequentemente, da Semântica. • O estudo da Semântica no ensino de Língua Portuguesa enquanto língua materna não se caracteriza como modismo científico, mas como resposta às necessidades comunicativas da contemporaneidade mediadas pela multimodalidade linguística nativa das práticas sociais letradas digitais. Glossário Signo Linguístico: É uma unidade psíquica de duas faces, a união do conceito com a imagem acús- tica. O primeiro, significante (plano da expressão - fonética), que é a parte sensível. O segundo, o significado (ou ideia), é a representação mental de um objeto ou da realidade social em que nos situ- amos, representação essa condicionada por nossa formação sociocultural (SAUSSURE, 2012, p.106). Para saber mais O componente Língua Portuguesa da BNCC (BRA- SIL, 2017, p. 65, on-line) dialoga com documen- tos e orientações curriculares produzidos nas úl- timas décadas, buscando atualizá-los em relação às pesquisas recentes da área e às transformações das práticas de linguagem ocorridas neste século, decorrentes, em grande parte, do desenvolvimento das tecnologias digitais da informação e comuni- cação (TDIC). Assume-se aqui a perspectiva enun- ciativo-discursiva de linguagem, já assumida em outros documentos, como os Parâmetros Curricu- lares Nacionais (PCN), para os quais a linguagem é “[...] uma forma de ação interindividual orientada para uma finalidade específica; um processo de in- terlocução que se realiza nas práticas sociais exis- tentes numa sociedade, nos distintos momentos de sua história” (BRASIL, 1998, p. 20, on-line). 15 Epistemologia: Significa discurso (logos) sobre a ciência (episteme). (Episteme + logos). Epistemologia: é a ciência da ciência. Filosofia da ciência. É o estudo crítico dos princípios, das hipóteses e dos resultados das diversas ciências. É a teoria do conhecimento (ESSER, 1994, on-line). Semiose: Termo introduzido pelo filósofo e matemático norte-americano Charles Sanders Peirce, designando o processo de significação e a produção de significados (CARVALHO, 2016, on-line). Taxonomia: É o estudo científico responsável por determinar a classificação sistemática de dife- rentes coisas em categorias (SIGNIFICADO DE TAXONOMIA, 2018, on-line). Imanente: Que faz parte de maneira inseparável da essência de um ser ou de um objeto; ine- rente. [Filosofia] que está contido na parte da experiência possível, fazendo com que a realidade seja percebida através da utilização dos sentidos; segundo o Kantismo, diz respeito aos concei- tos e/ou preceitos de teor cognitivo. [Filosofia] que se refere à comprovação empírica da realidade (IMANENTE, 2018, on-line). Verificação de leitura QUESTÃO 1-A semântica, entendida como a disciplina que estuda o significado, nas pers- pectivas contextual e contextual-situacional, transcende a investigação da palavra para elementos extralinguísticos tais como: a) a natureza dos signos linguísticos. b) os tipos de signos linguísticos. c) os signos contextuais e relacionais. d) os aspectos contextuais e situacionais. e) a gênese dos signos relacionais. 16 QUESTÃO 2-Aristóteles postula que o signo é uma espécie de conector das representações intrínsecas e extrínsecas, entre os seres e o meio. Nesse sentido, compreende-se que: a) o signo é uma unidade estanque com sentido em si mesma. b) o signo é uma parte do real significado das coisas. c) o signo é fundamentado nas crenças dos interlocutores. d) o signo representa a realidade concreta da mente. e) o signo conecta a natureza material e conceitual da linguagem. QUESTÃO 3-É correto afirmar que a semântica estrutural: I. visa à investigação imanente. II. objetiva um estudo do significado sem elementosextralinguísticos. III. está atrelada à linguística diacrônica. IV. baseia-se na concepção estruturalista da linguagem. Estão corretos apenas os itens: a) I e III. b) I, II e IV. c) I, III e IV. d) I e II. e) II e IV. 17 Referências Bibliográficas BAKHTIN, M. M. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico da linguagem. Tradução de Michel Lahud e Yara Frateschi Vieira, com a cola- boração de Lúcia Teixeira Wisnik e Carlos Henrique D. Chagas Cruz. 14. ed. São Paulo: Hucitec, 2010. BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC, 1998. 107p. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/portugues.pdf>. Acesso em: 07 maio 2018. ______. Base Nacional Curricular Comum. Brasília: MEC, 2017. 65p. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php>. Acesso em: 28 jan. 2018. BRÉAL, M. Ensaio de Semântica. Tradução de Aída Ferrás et al. São Paulo: Pontes, 1992. CARVALHO, Felipe. Semiose e semiótica. In: Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. 23 set. 2016. Disponível em: <https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/semio- se-e-semiotica/34036>. Acesso em: 27 jan. 2018. FIORIN, J. L. Em busca do sentido: estudos discursivos. São Paulo: Contexto, 2008. FRANÇA, M. M. Retórica e discurso publicitário digital: semiose da trilogia Éthos, Lógos & Páthos. 2015. 226 f. Tese (Doutorado em Filologia e Língua Portuguesa) - Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015. FRANÇA, J. M. A semântica e o ensino de língua materna: da necessidade de subsídios teóricos para o professor. Linguasagem, 6 ed, mar. 2009. Disponível em: <http://www.letras.ufscar. br/linguasagem/edicao06/reflexoes_en_li_franca.php>. Acesso em: 26 jan. 2018. GREIMAS, Algirdas J. (1967). Las Relaciones entre la lingüística estructural y la poética. In: SAZBÓN, J. (org). Lingüística y communicación. 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Acesso em: 26 jan. 2018. UOL – O MELHOR CONTEÚDO. Página inicial de 04 de março de 2018. Disponível em: <https://www.uol.com.br/>. Acesso em: 04 de março de 2018. Gabarito QUESTÃO 1-Alternativa D Nas perspectivas contextual e contextual-situacional são considerados elementos extralinguísti- cos como o contexto, a situação e o nível relacional e/ou interpessoal. QUESTÃO 2-Alternativa E O signo é uma espécie de conector das representações intrínsecas e extrínsecas entre os seres e o meio pelo qual a linguagem passa a ser entendida não apenas como um composto de sons aleatórios e arbitrários, mas um conjunto convencionalmente significativo. QUESTÃO 3-Alternativa B A semântica estrutural visa criar um conjunto analítico semelhante ao da Fonologia e ao da Gramática, desenvolvendo uma investigação imanente, sem categorias extralinguísticas, e está a atrelada à abordagem estrutural contrastiva. https://bit.ly/2JGvuXw https://bit.ly/2JGvuXw http://www.aulete.com.br/taxonomia http://www.aulete.com.br/taxonomia http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40601994000100012 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40601994000100012 https://bit.ly/2hQsRod 2 As diferentes abordagens semânticas 20 Objetivos Específicos • Apresentar as diferentes vertentes semânticas e seus respectivos fundamentos; • Explicitar os respectivos construtos teóricos e operacionais de cada escola semântica; • Refletir sobre as diferentes correntes semânticas e seus respectivos representantes. Introdução Conforme já foi visto no capítulo introdutório, a semântica é o estudo dos significados imanentes das palavras, símbolos, imagens, frases, orações, enunciados, em linhas gerais, a investigação do todo que compõem o texto. Você também já sabe que esse campo de pesquisa, do ponto de vista gramatical, está diretamente associado à Sintaxe e à Fonologia. Neste capítulo, você conhecerá um pouco mais sobre as diferentes correntes semânticas, seus fundamentos teóricos e respectivos precursores. Será possível conhecer o objeto de estudo de cada uma dessas abordagens e a forma como cada qual concebe o seu processo hermenêutico. Esperamos que ao final dos estudos deste capítulo você tenha compreendido o porquê da exis- tência de tantas vertentes no campo das pesquisas semânticas e que, principalmente, seja capaz de associá-las às diferentes instâncias da linguagem de que se ocupam. Tais constatações permitirão fazer escolhas conscientes dentro do cabedal teórico à disposição, tornando possível investigar a dinâmica da construção de significado e/ ou sentido, a depender da abordagem empregada, com vistas ao processo de ensino de Língua Portuguesa e os aspectos que se deseja evidenciar em cada etapa dos estudos linguísticos. 1. As Diferentes Escolas Semânticas Como acontece em toda e qualquer área da ciência, a Semântica também possui diferentes ver- tentes epistemológicas e, por conseguinte, abordagens distintas de investigação do significado em níveis díspares, tornando-a uma disciplina ampla e fecunda enquanto instrumento de construção de sentido da palavra ao discurso. 21 Nas diversas escolas de estudos semânticos, entre as principais correntes, podem ser destacadas: a abordagem estrutural de Saussure e Hjelmslev, denominada como semân- tica lógica ou da palavra isolada; a contextual de Pottier; a contexto-situ- acional de Ducrot; e a transformacional de Chomsky (FRANÇA, 2009, on-line). Cada qual com suas contribuições e limi- tações que, em determinados casos, ora contingentes, ora mutuamente excluden- tes, mas que, todavia, compõem um vasto arsenal a serviço das práticas comunicativas letradas mediadas pelos signos linguísticos verbais e não verbais, se considerada como estrutura do magma da Semiótica (1). 1.1 A Escola Estruturalista A semântica estrutural desenvolveu-se baseada nos moldes analíticos e discricionários da Fonologia e da Sintaxe, na busca de conceber um conjunto de categorias e classificações semânti- cas que pudessem limitar a construção de sentido à análise do objeto, desconsiderando os elemen- tos extralinguísticos como unidades de sentido. Nesse sentido, a frase é entendida como uma segmentação lógica, ao passo que o período é entendido como uma fisiologia emocional. A dicotomia saussuriana – eixo paradigmático e sintag- mático – contribui para relação entre as escolhas lexicais e a organização lógica constituída, com vista à construção de sentido durante a operacionalização do sistema linguístico. Resumindo, a língua enquanto um sistema arbitrário de signos à disposição do falante, mate- rializa as intenções comunicativas do usuário à medida que este opta por uma determinada lógica estruturante, entre as diversas possibilidades paradigmaticamente preestabelecidas à organização do conjunto sintagmático, razão pelo qual o significado, embora atrelado ao léxico (palavra/ signo), Link A semiótica parece ainda uma disciplina sem fron- teiras; portanto, nós a abordaremos criticamentepara questioná-la sobre o texto. As respostas par- ciais que obteremos levar-nos-ão a propor outras questões no campo epistemológico. Para nós, a lin- guística é a semiótica das línguas e dos textos. Uma vez que a semiótica e a linguística conheceram des- tinos separados, é preciso examinar suas relações. Disponível em: <http://periodicos.ufpb.br/index. php/actas/article/viewFile/14633/8284>. Acesso em: 04 de fev. 2018. http://periodicos.ufpb.br/index.php/actas/article/viewFile/14633/8284 http://periodicos.ufpb.br/index.php/actas/article/viewFile/14633/8284 22 verdadeiramente, emane da conjectura organizacional em que está inserido. Isso ratifica o entendimento de que a semântica estrutural tem como recurso fun- damental à construção de sentido, uma análise morfossintática na qual a classe e a função dos sintagmas (2a), quando realoca- das na estrutura paradigmática (2b) resul- tam em projeções significativas distintas. 1.2 A Semântica Lógica Baseado no pensamento socrático e pla- tônico, Aristóteles (384-322 a.C.) inaugura a Lógica enquanto ciência, tendo por essência os seguintes estudos: • As definições universais usadas por Sócrates (469-399 a.C.); • O uso da redução ao absurdo de Zenão de Eléia (490-420 a.C.); • A estrutura proposicional e negação de Parmênides (515-445 a.C.) e Platão (428-347 a.C.); • As técnicas argumentativas encontradas no raciocínio legal e provas geométricas. Denominado como órganon (3), o conjunto lógico aristotélico constitui o alicerce dos princípios da semântica lógica, na qual afirma-se que uma proposição é um complexo envolto em dois termos: um sujeito e um predicado, cuja representação se dá, gramaticalmente, por meio de um substantivo. Ao aplicar a teoria de oposição e conversão, o ateniense investigava as relações entre duas proposi- ções contendo os mesmos termos, o que resultou em uma de suas maiores contribuições aos estu- dos desse campo, as proposições combinatórias conhecidas como silogismos (4) Para saber mais (2ab) O estudo da dicotomia dos eixos paradigmáti- co e sintagmático permite o perfeito entendimento das relações entre as escolhas lexicais e a forma pela qual as organizamos no uso da língua com vis- ta à construção de sentido (SAUSSURE, 2012). Exemplificando EX.1 - Além de linda, Maria é uma grande mulher. Adj. Subst. EX.2 - Além de linda, Maria é uma mulher grande. Subst. Adj. No Exemplo 1, conclui-se que Maria é uma pessoa dotada de qualidades e predicativos nobres, pois o adjetivo está anteposto ao substantivo. Já no Ex- emplo 2, com o adjetivo posposto ao substantivo, observa-se que o sentido é de que Maria é uma mulher alta, grande, ou mesmo obesa etc. 23 A seguir, analisemos as próximas proposições à luz dos princípios, em especial, o da oposição/ conversão e sujeito/ predicado: 1. Todos os homens mentem. (premissa maior) 2. Marivaldo é um homem. (portanto/ logo = logicamente) 3. Marivaldo mente. (Por quê?) Porque todo homem mente e Marivaldo é um homem. Com base nos princípios destacados, pode-se inferir que a terceira proposição é verdadeira, pois está fundamentada na premissa maior por contingência (Todos/ Marivaldo é parte do todo porque é da mesma espécie) do sujeito e pelo jogo de oposições e conversões dos predicativos (homens men- tem/ é um homem/ então mente). Em suma, a lógica tinha por objetivo codificar o entendimento sobre a linguagem de forma racional em um único sistema. Até o advento da semântica moderna, especialmente a da palavra, fundada pelo linguista alemão, Jost Trier (1894-1970), o órganon era a única base da lógica hermenêutica (5). Todavia, com o surgimento de novos estu- dos que apresentavam questões de gene- ralidades múltiplas, o modelo aristotélico mostrou-se pouco eficaz, dando início a diferentes abordagens fundamentadas nes- ses preceitos nucleares. À guisa de exemplo destacam-se a teoria da semântica da ver- dade, diálogo dos jogos e a probabilística. 1.3 A Semântica Contextual Tendo como seu fundador o francês Bernard Pottier (1933), a semântica contextual e/ ou compo- sicional estuda a linguagem enquanto meio de comunicação, analisando as palavras em consonân- cia com o contexto particular no qual se dá o processo comunicativo. Nesse sentido, a significado não é determinado apenas pelos seus aspectos elementares de sua natureza sígnica, mas em um Para saber mais (5) Hermenêutica: É a filosofia da interpretação, que foi fundada por Schleiermacher e tem por base a interpretação dos fenômenos humanos mediados pela linguagem. O autor a define como uma arte que deve ser construída sobre a compreensão, ex- igindo conhecimentos de Gramática e de Psicologia (FRANÇA, 2007, p. 26). 24 processo analítico concomitante ao uso da linguagem por parte dos sujeitos em um determinado cenário, onde diferentes domínios da significação se evidenciam nos atos de fala, contingenciando outro domínio dos estudos linguísticos denominado como pragmática. É comum, nos manuais didáticos de ensino de Língua Portuguesa, a presença de tópicos de estu- dos semânticos relativos à denotação/ conotação, sinonímia, antonímia, homonímias, parônimas, hiperonímias/ hiponímias, polissemia, entre outros (FRANÇA, 2009, on-line), destacando que as relações de significação, bem como os tipos de funções oriundas das interações entre elementos/ elementos, elementos/ conjuntos, conjuntos/ conjuntos, constituem nexo entre o composto signifi- cante (expressão) e o significado (conteúdo) do sistema lexical de uma língua. Para efeitos didáticos, pode ser sintetizada à fusão dos modelos conceituais e associativos: mag- mas distintivos dos dois princípios regentes nos estudos semânticos. TABELA 1 - Síntese da wfusão dos estudos semânticos Significado conceitual ou Sentido Conteúdo lógico, cognitivo ou denotativo Significado associativo conotativo sobre aquilo que a linguagem se refere social circunstância social do uso da linguagem afetivo comunica sentimentos/ atitudes do falante refletido associação com o sentido de outra expressão colocacional associação com palavras que atuam no ambiente de outra Significado temático forma pela qual a mensagem é organizada - ordem ou ênfase FONTE: Baseada em Geoffrey Leech - Semantics (1974) / Clariano, 2013. Resumindo, o significado conceitual está atrelado a dois princípios linguísticos: o da descrição dos signos (contrastividade) e o da estrutura, ou seja, fundamentado na dicotomia saussuriana 25 – paradigma e sintagma. Ao passo que o significado temático está associado à orga- nização da mensagem, levando em conside- ração a ordem, foco e ênfase. 1.4 Semântica Contextual-Situacional Fundada por Oswald Ducrot, alicerça-se no princípio de que a argumentação é o fator essencial à construção do sentido, que presente na língua é manifestado por meio dos enunciados. Nesse sentido, cabe recuperar o entendimento postulado pela Semântica Linguística, na qual a enuncia- ção é concebida como um acontecimento que se manifesta historicamente no gradiente do tempo/ espaço, um evento que marca o próprio enunciado, fazendo com que a situação se torne resultado do processo enunciativo. Ao contrário da Semântica Estruturalista, que desconsidera o contexto por se tratar de compo- nente extralinguístico, a Semântica Contextual-Situacional considera-o como elemento linguístico sob o entendimento de que, linguisticamente, não há contexto sem texto e vice-versa. Na perspectiva ducrotiana, a subjetividade do “eu” integra a linguagem na construção do pro- cesso interpretativo, uma vez que o locutor se posiciona ideologicamente a partir do discurso. Por conseguinte, a argumentação é manifestada nas relações subjetivas e intersubjetivas, das quais extrai-se o substrato da ação enunciativa da linguagem, ou seja, as intençõesmarcadas nos pres- supostos e subentendidos. A efeito de comparação, ao estabelecer um paralelo entre Benveniste e Ducrot, constata-se que o primeiro prioriza evidenciar as categorias da enunciação observadas nos enunciados e previstas no sistema, à medida que o segundo descreve a enunciação visando o enunciado, privilegiando o pro- duto, ou seja, o argumento, e não o processo. De acordo com Koch (2011), destaca-se o fato de que em 1978 ao revisar, ou melhor, apre- sentar uma autocrítica sobre a oposição que estabeleceu entre pressuposto e subentendido, são Link (6) O conceito de Significado em Semântica: Signifi- cado e Interpretação. Disponível em: <http://www. academia.edu/3525421/O_conceito_de_Significa- do_em_Sem%C3%A2ntica_Significado_e_Interpre- ta%C3%A7%C3%A3o>. Acesso em: 04 de fev. 2018. http://www.academia.edu/3525421/O_conceito_de_Significado_em_Sem%C3%A2ntica_Significado_e_Interpreta%C3%A7%C3%A3o http://www.academia.edu/3525421/O_conceito_de_Significado_em_Sem%C3%A2ntica_Significado_e_Interpreta%C3%A7%C3%A3o http://www.academia.edu/3525421/O_conceito_de_Significado_em_Sem%C3%A2ntica_Significado_e_Interpreta%C3%A7%C3%A3o http://www.academia.edu/3525421/O_conceito_de_Significado_em_Sem%C3%A2ntica_Significado_e_Interpreta%C3%A7%C3%A3o 26 apresentadas algumas convenções sobre as seguintes terminologias: frase (7), enunciado (8), signi- ficação (9), sentido (10) e enunciação (11). Somado ao conceito de polifonia (12), um dos principais pontos da teoria de Ducrot, por conse- guinte, da Semântica Contextual-Situacional, é a questão revisada sobre pressuposto e subenten- dido, que estabeleceu a significação da frase como propriedade do primeiro, enquanto o segundo ao enunciado e à interpretação que deste se dá, portanto estabelecendo uma distinção entre ambos, sobretudo a distinção entre duas instâncias semânti- cas: a da significação da frase e do sentido do enunciado, evidenciando a relevância dessa vertente semântica para as ciências recorrentes da interpretação (KOCH, 2011). Resumido, embora Ducrot tenha man- tido o princípio estruturalista em sua teoria semântica argumentativa, ratificou o fato de que o sentido de uma entidade linguística está na relação entre os elementos do sistema, motivo pelo qual o sentido de um enunciado deve ser analisado em conformidade com os encadeamentos discur- sivos em que ocorre argumentação, cuja natureza pode ser fragmentada em duas partes: retórica e linguística, articuladas de forma interdependente (DUCROT, 1979). 1.5 Semântica Transformacional Considerado um dos principais nomes da Linguística e da Psicologia do século XX, Noam Chomsky é um dos cofundadores da ciência cognitiva e o proponente de uma das mais polêmicas teorias filo- sóficas da linguagem, denominada como semântica da linguagem natural, cuja essência nunca fora aceita pelas correntes dominantes da área. Ao propor uma abordagem internalista para o estudo da linguagem, enfrentou grande resistên- cia dos linguistas externalistas que defendiam a ideia de que todos os fatos semânticos devem ser Assimile 12. O termo polifonia nasceu da constatação da di- versidade de vozes que podem povoar um mesmo discurso (POLIFONIA, 2018, on-line). 27 explicados a partir das interações entre os usuários da língua em um determinado contexto de prá- ticas sociais, sem considerar, todavia, os processos mentais que operacionalizam a linguagem. As bases internalistas da linguística chomskyana repousam sobre os respectivos argumentos: • A primeira língua de um falante é aprendida naturalmente, não havendo necessidade de ser ensinada. • A semelhança entre os erros cometidos pelos aprendizes da língua, nas mais diferentes culturas. • O fato de que os aprendizes desenvolvem uma determinada competência linguística mínima, em um espaço de tempo relativamente semelhante. • Frente à complexidade das estruturas das línguas naturais, o estímulo linguístico recebido é limitado, não explicando a riqueza da linguagem apresentada em poucos anos de vida. Fundamentado por tais argumentos, Chomsky defende a tese de que as estruturas elementares da linguagem estão assentadas em nosso aparato cognitivo, motivo pelo qual o filósofo propõe o nativismo linguístico, baseado na presunção de que possuímos uma gramática universal inata, que possibilita aprender uma determinada língua. Nessa perspectiva, infere-se que a mente é um composto dividido em diferentes setores e/ ou áreas interligadas que se responsabilizam por atividades díspares, sendo a faculdade da linguagem (deno- minação Chomskyana) a responsável por executar e gerenciar tarefas como a de formulação e inter- pretação de fonemas, compostos semânticos e estruturas gramaticais das mais simples às complexas. De acordo com Chomsky (2000), nascemos dotados desse complexo sistema linguístico, tor- namo-nos aptos a aprendê-lo e desenvolvê-lo, ratificando a tese da existência de uma gramática universal que rege as línguas naturais, possibilitando que diferentes indivíduos as aprendam, visto que em um nível elementar, todas as línguas estão alicerçadas sobre o mesmo princípio, o da facul- dade da linguagem que pressupõe e operacionaliza esse compêndio, permitindo ao usuário modelar as formas que a linguagem pode contemplar. Esse pensamento chomskyanos, culmina com a rejeição das teses de que a linguagem é um cons- truto público, uma propriedade de comunidade e que as expressões da linguagem denotam coisas do mundo, renunciando, portanto, a teoria de que a produção da linguagem ou dos significados 28 condiciona os eventos comunicativos entre os indivíduos. Segundo Chomsky (2000, on-line), geramos os nossos próprios significados e consentimos que os significados dos demais são como aos nossos. Resumindo, comunicamos aos outros os sentidos cunhados em nossas próprias mentes, motivo pelo qual chega-se ao entendimento de que lingua- gem não é usada para representar o mundo, e sim para exteriorizar nossas representações internas e interpretar as pertencentes às outras pessoas durante o processo comunicativo. Em suma, a compreensão do funcionamento da linguagem natural pressupõe, basicamente, que as palavras possuem aspectos de duas naturezas: fonéticas (som) e semânticas (significado), cujo papel é materializar e compartilhar as representações de um indivíduo com outro (os), pois a mente humana é dotada de algoritmos que codificam e decodificam as possibilidades semânticas da pala- vra, desencadeando as ações relativas ao objetivo comunicacional. Questão para reflexão Após todo estudo compartilhando neste material, você pôde conhecer um pouco mais sobre as características das diferentes vertentes semântica. Baseando-se nesses estudos, escolha duas entre as apresentadas e construa um texto no qual apresente uma avaliação contrastiva entre ambas, podendo explicitar o mérito de uma em detrimento de outra. Considerações Finais • A semântica estrutural desenvolveu-se baseada nos moldes analíticos e discricionários da fonologia e da sintaxe, imanente da teoria saussuriana. • A semântica lógica tem como base a lógica clássica aristotélica, que tinha por objetivo codificar o entendimento do discurso de forma racional em um único sistema como base hermenêutica. • A semântica contextual e/ ou composicional estuda a linguagem enquanto meio de comuni- cação, analisando as palavras em consonância com o contexto particular no qual se dá o pro- cesso comunicativo. 29 • A semântica contextual-situacional é alicerçada no princípio de que a argumentação é o aspecto essencial à construção do sentido, cuja essência repousa no enunciado. • A semântica transformacional chomskyana fundamenta-se sobre os respectivos argumentos: (1) a primeira língua de um falante é aprendida naturalmente, não havendo necessidade de ser ensinada; (2) a existência de semelhança entre os erros cometidos pelos aprendizes da língua nas mais diferentes culturas; (3) ao fatoque os aprendizes desenvolvem uma determi- nada competência linguística mínima, em um espaço de tempo relativamente semelhante; (4) observada a complexidade das estruturas das línguas naturais, o estímulo linguístico recebido é limitado, não explicando a riqueza da linguagem apresentada em poucos anos de vida. Glossário Órganon: Do grego organikos, relativo ou pertencente a um órgão/ instrumento relacionado a ergon, trabalho. Conjunto de seis obras aristotélicas (ÓRGANON, 2018, on-line). Silogismos: Do grego syllogismos, originalmente “inferência, cálculo, conclusão”, de syllogizes- thal, “juntar, concluir, chegar a uma premissa”, literalmente “pensar junto”, de syn, “junto”, mais logizesthai, “raciocinar, contar”, relacionado a logos, “raciocínio, cálculo, estudo (SIGNIFICADO DE SILOGISMO, 2018, on-line). Frase: Entidade abstrata suscetível de uma infinidade de realizações particulares. Enunciado: Realizações abstratas particulares oriundos das frases. Significação: Descrição semântica que se dá a uma frase. Sentido: Descrição semântica que se dá a um enunciado. Enunciação: Evento constituído a partir da produção de um enunciado. 30 Verificação de leitura QUESTÃO 1-Analise as afirmações a seguir com relação à semântica estrutural e responda: I – É fundamentada em princípios dicotômicos saussurianos. II – É baseada em moldes analíticos discricionários. III – Pressupõe a concepção de um conjunto de categorias e classificações. IV – A frase é compreendida como uma fisiologia lógica. É correto afirmar que: a) Apenas I, II, III estão corretas. b) Apenas I, III e IV estão corretas. c) Apenas II, III e IV estão corretas. d) Apenas II e IV estão corretas. e) Apenas III e IV estão corretas. QUESTÃO 2-Escolha a alternativa que melhor completa a proposição apresentada a se- guir, com base na semântica estrutural: “A língua enquanto um sistema arbitrário de signos à disposição do falante, externaliza as intenções do usuário (...)” a) ao passo que este renuncia à lógica estruturante. b) ao passo que este reestrutura a dicotomia sígnica. c) ao passo que este opta por uma determinada lógica paradigmática. d) ao passo que este lança mão de um determinada lógica sintagmática. e) ao passo que este reelabora a relação entre significado e significante. 31 QUESTÃO 3-Escolha a alternativa que apresenta a informação correta com relação à Se- mântica Lógica. a) A semântica lógica é fundamentada no princípio dicotômico saussuriano da língua/ fala. b) A semântica lógica possui seu alicerce no conjunto lógico aristotélico, denominado órganon. c) A semântica lógica concebe que o significado não é determinado apenas pelos aspectos elementares de sua natureza sígnica. d) A semântica lógica baseia-se nos processos semióticos, oriundos das relações sociais. e) A semântica lógica é um desdobramento metodológico da semiótica greimasiana. Referências Bibliográficas CHOMSKY, N. New horizons in the study of language and mind. Cambridge: Cambridge University Press, 2000. Disponível em: <https://academiaanalitica.files.wordpress. com/2016/10/noam-chomsky-new-horizons-in-the-study-of-language-and-mind.pdf>. Acesso em: 07 de fev. 2018. DUCROT, O. Princípios de semântica linguística (dizer e não dizer). São Paulo: Cultrix, 1979. FRANÇA, M. M. O computador no Ensino-aprendizagem Presencial de Língua Inglesa na Formação de Professores. Dissertação de Mestrado – Programa de Pós-graduação em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem, PUC-SP, 2007. FRANÇA. J. M. A semântica e o ensino de língua materna: da necessidade de subsídios teórico para o professor. Linguagem, edição 06, n.p., mar. 2009. Disponível em:<http:// www.letras.ufscar.br/linguasagem/edicao06/reflexoes_en_li_franca.php>. Acesso em: 28 nov. 2017. KOCH, I. G. V. Argumentação e Linguagem. 13. ed. São Paulo: Cortez, 2011. LEECH, Geoffrey. Semantics (1974). In: CLARIANO, Tiago. O conceito de Significado em Semântica: Significado e Interpretação. 2013. Disponível em: <http://www.academia. edu/3525421/O_conceito_de_Significado_em_Sem%C3%A2ntica_Significado_e_Inter- preta%C3%A7%C3%A3o>. Acesso em: 04 de fev. 2018. https://bit.ly/2LLqXnn https://bit.ly/2LLqXnn https://bit.ly/2yaS49k https://bit.ly/2yaS49k https://bit.ly/2JIhJre https://bit.ly/2JIhJre https://bit.ly/2JIhJre 32 ÓRGANON. In: Dicionário Informal, 2018. Disponível em: <https://www.dicionarioin- formal.com.br/%C3%B3rganon/>. Acesso em: 07 de fev. 2018. POLIFONIA. In: Infopédia, 2018. Disponível em: <https://www.infopedia.pt/$polifonia>. Acesso em: 05 de fev. 2018. SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de linguística geral. 28. ed. São Paulo: Cultrix, 2012. SIGNIFICADO DE SILOGISMO. In: Significados, 2018. Disponível em: <https://www.signi- ficados.com.br/silogismo/>. Acesso em: 07 de fev. 2018. Gabarito QUESTÃO 1-Alternativa A - A frase deve ser entendida como uma segmentação lógica, ao passo que o período à fisiologia lógica. QUESTÃO 2-Alternativa C - A língua, enquanto um sistema arbitrário de signos à disposi- ção do falante, explicita as intenções no instante em que este faz opta por uma determi- nada estrutura paradigmaticamente pré-estabelecidas. QUESTÃO 3-Alternativa B – Denominado como órganon, o conjunto lógico aristotélico constitui o alicerce dos princípios da semântica lógica. https://bit.ly/2l2JWyt https://bit.ly/2l2JWyt https://bit.ly/2Jw6ztF https://bit.ly/2sRKT0P https://bit.ly/2sRKT0P 3 Texto e argumentação 34 Objetivos Específicos • Apresentar as diferentes concepções entre texto, enunciado e discurso; • Refletir sobre o papel da argumentação no discurso; • Explicitar alguns dos princípios da argumentação. Introdução À medida que avançamos em nossos estudos semânticos, você já deve ter percebido que as abordagens e seus respectivos objetos de pesquisa vão se amplificando e se sofisticando. O limites e recursos teóricos, de uma vertente com relação à outra, tornam-se mais claros e perceptíveis, ao passo que os processos investigativos que compõem seus respectivos conjuntos analíticos vão sendo desenvolvidos. A semântica contemporânea, em distinção às correntes mais ortodoxas, caracteriza- se pelo interesse nas relações entre a linguagem e o pensamento. A concepção de que a linguagem é um mero instrumento de expressão dos nossos pensamentos é acrescida dos seguintes predicati- vos: moldura e conectivo de ideias durante o processo de interpretação dos enunciados, por parte dos interlocutores, o que permite conceber o significado como sendo o resultado da associação dos elementos sígnicos da linguagem. A compreensão dos enunciados não é função exclusiva de um pro- cesso analítico das estruturas linguísticas, a percepção da situação em que nos encontramos é fator extralinguístico determinante para acepção dos pressupostos e subentendidos negociados na tessi- tura argumentativa do texto, ou seja, assimilar o contexto. É compreender, portanto, que o sentido é construído a partir da análise das relações dialógicas manifestas nos processos de argumentação cuja natureza repousa sobre os fenômenos polifônicos e de intertextualidade nos quais cada texto se conecta a outro, atribuindo-lhes novas significações e rearranjos semânticos. 35 1. Texto, enunciado, discurso Os linguistas, quando fazem referência às produções verbais, lançam mão de diferentes ter- mos para exemplificação desses fenômenos comunicativos. Por vezes recorrem à palavra texto, ora enunciado e/ ou discurso, embora esses recebam definições distintas entre si, e nesse cená- rio podem assumir conotações semelhantes visto que são materializados por meio da linguagem (MAINGUENEAU, 2005). De acordo com Fontanille (2007), o texto é objeto de estudo da Linguística (a gramática de texto ou linguística textual e, recentemente, da semântica textual, que se ocupa de qualquer manifesta- ção semiótica de natureza verbal). Nesse sentido, a palavra texto deve ser empregada no sentido de produção verbal oral ou escrita, estruturada eperpetuada para além de seu contexto original de produção. Em muitos casos, não é produzido por um único locutor, podendo assumir diferentes categorias de hierarquização entre os interlocutores de forma heterogênea e multimodal, permitindo a associação de signos linguísticos e icônicos em um mesmo contexto. Ao recorrer ao termo enunciado, renuncia-se aos valores conceituais que esse possui e que o dife- rencia dos demais. Em linha gerais, considerado como a marca linguística do ato enunciativo, pode ser definido como uma unidade elementar da comunicação verbal, ao passo que ainda há àqueles que o consideram em oposição à frase cujo contexto seria o elemento distintivo. O termo enunciado também é empregado para representar uma estrutura verbal que compõe uma unidade específica de comunicação plena, em uma determinada esfera discursiva, na qual a orientação comunicativa a ela está atrelada, tornando seu entendimento semelhante ao conceito de texto. No que se refere à noção de discurso, em linhas gerais, o termo pode assumir diferentes acepções como, por exemplo: enunciados solenes (o governador fez um discurso), sinônimo de falácias (O que sai da boca dele é só discurso), ou mesmo para caracterizar o uso restritivo da língua (discurso jurí- dico, publicitário, capitalista etc.). Nesse sentido, seu emprego é ambíguo visto que pode representar 36 tanto o sistema que permite a construção de um conjunto textual, bem como o composto resultante desta produção (MAINGUENEAU, 2005). Resumindo a questão, seja o discurso um conjunto de frases, proposições organizadas e/ ou produto da enunciação, estará sob enfoque das linguísticas textual e enunciativa, ou mesmo da retórica e da pragmática, indiferentemente da abordagem, pois sempre estará atrelado ao campo do estudo das ideias, cuja expressão se dá por meio da linguagem e, por conseguinte, pela argumentação. Portanto, fecha-se aqui a reflexão com o seguinte entendimento: quando em situa- ções específicas deve-se usar o termo texto para tratar de unidades verbais oriundas de um gênero discursivo, e enunciado quando a situação pressupor a análise da frase ins- crita em um contexto particular. 1.1 Discurso e Argumentação As relações humanas de toda natureza são mediadas também por signos diversos que relacionam as experiências sociais. A semântica ocupa-se da relação do homem com a linguagem e da repre- sentação de mundo dela constituída. Ao passo que a interação social dos indivíduos, na e pela lin- guagem, é do escopo da pragmática. É pela argumentatividade que a língua é aplicada na interação social, dotada de valores que per- mitem ao homem julgar, avaliar, criticar, escolher, definir uma razão legitimada. Já o discurso tem, na ação verbal, a negociação das intencionalidades dos interlocutores, promovendo a disputa das ideias e a dinâmica influindo sobre o comportamento do outro. Assim, a argumentação visa promover assentimento à adesão dos espíritos (2) e, portanto, pressu- põe a existência de uma relação de natureza intelectual, pois o plano das interações sociais e processos deliberativos fundamentam-se nessa máxima. Argumentar implica respeito às condições prévias de juízo compartilhado em uma determinada sociedade e em suas diferentes esferas do conhecimento. Link FIORIN, J. Conceito de enunciação. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=RQzJaFYiqhc. Acesso em: 13 fev. 2018. https://www.youtube.com/watch?v=RQzJaFYiqhc 37 Para Bakhtin (1997), o signo não constitui uma entidade meramente linguística como para Saussure (2012). Argumentar é orientar o discurso na direção de determinadas conclusões. O dis- curso subjaz o ato linguístico fundamental da comunicação, a expressão da ideologia. O russo, ao fundar as bases do estudo em enunciação, efetiva o signo linguístico como um signo sócio-ideológico, argumentando que: “A língua vive e evolui historicamente na ‘comunicação verbal concreta’, não no sistema linguístico abstrato das formas da língua nem no psiquismo individual dos falantes” (3) (BAKHTIN, 1997, p. 124). Nesse sentido, o discurso em sua acep- ção mais ampla é a representação da ideo- logia, ratificando o status de mito sobre sua condição de neutralidade. Seja ele culto ou ingênuo, irá expressar uma visão de mundo compartilhada enunciada a partir de seu lugar (Topoi) (4). A argumentação manifesta no discurso é a comunicação das intenções entre os interlocutores no processo de negocia- ção de ideias, valores e princípios de toda natureza nas práticas sociais letradas, inclusive as praticadas na ciber- cultura e seus respectivos gêneros textu- ais emergentes, conforme observado por Marcuschi (2004, p. 17): Os gêneros como texto situ- ado histórica e socialmente, culturalmente sensível, recor- rentes “relativamente está- vel” do ponto de vista estilís- tico e composicional, segundo Assimile 3. Crítica de Bakhtin ao signo saussuriano. O signo linguístico de Saussure (2012, p. 106) une não uma coisa e uma palavra, mas um conceito a uma imagem acústica,é, pois, uma entidade psíqui- ca de duas fases: conceito/ imagem acústica, sig- nificado e significante. O signo bakhtiniano é, de natureza sócio-ideológi- co, concebido por meio das relações dialógicas nas múltiplas esferas sociais. Para saber mais 4. SEMÂNTICA E ARGUMENTAÇÃO: DIÁLOGO COM OSWALD DUCROT. A teoria dos Topoi é apresentada como um modelo alternativo a uma semântica ba- seada no conceito de condições de verdade. MOU- RA, Heronides Maurílio de Melo. SEMÂNTICA E AR- GUMENTAÇÃO: DIÁLOGO COM OSWALD DUCROT. DELTA [online]. 1998, vol.14, n.1, pp.169-183. ISSN 0102-4450. http://dx.doi.org/10.1590/S0102- 44501998000100008. Acesso em: 19 fev de 2018. http://www.scielo.br/cgi-bin/wxis.exe/iah/?IsisScript=iah/iah.xis&base=article%5Edlibrary&format=iso.pft&lang=i&nextAction=lnk&indexSearch=AU&exprSearch=MOURA,+HERONIDES+MAURILIO+DE+MELO http://www.scielo.br/cgi-bin/wxis.exe/iah/?IsisScript=iah/iah.xis&base=article%5Edlibrary&format=iso.pft&lang=i&nextAction=lnk&indexSearch=AU&exprSearch=MOURA,+HERONIDES+MAURILIO+DE+MELO http://dx.doi.org/10.1590/S0102-44501998000100008 http://dx.doi.org/10.1590/S0102-44501998000100008 38 a visão bakhtiniana (Bakhtin, 1979), servindo como instrumento comunicativo com propósi- tos específicos (Swales, 1990) e como forma de a ação social (Miller 1984), é fácil, perceber que um novo meio tecnológico, na medida que interfere nessas condições, deve também interferir na natureza do gênero produzido. Segundo Perelman (2014), grande parte dos textos dos gêneros de publicidades e propaganda visa atrair a atenção do enunciatário em meio a sua indiferença, sendo essa uma condição indispen- sável à argumentação e, por conseguinte, à persuasão. Para Charles Perelman, que foi filósofo do Direito, um dos mais importantes teóricos da Retórica e da Nova Retórica e Argumentação no século XX, a persuasão constitui um ato diferente ao de con- vencer. O primeiro busca o assentimento, o desejo do interlocutor por meio de argumentos plausí- veis, verossímeis e de caráter ideológico, subjetivo e temporal, dirigido a um auditório (enunciatá- rio) particular. O segundo objetiva atingir a razão por meio do raciocínio lógico e provas objetivas de natureza demonstrativa e atemporal (conclusão decorrente de premissas = raciocínio lógico-mate- mático), comumente empregado com vista a um auditório universal. A distinção entre o ato de persuadir e convencer instaura diferentes categorias e tipos de argu- mentos, que visam estabelecer relações de certezas por meio de processos indutivos e os que con- duzem às inferências lógico-dedutivas por associação. Nesse cenário, o discurso torna-se objeto central de diversas vertentes da linguística moderna, dentre as quais está a Análise do Discurso, A Teoria de Texto (5) e a Semântica Argumentativa, que de acordo com Koch (2011, p. 19) “[...] preocupa-se com a construção deuma macrossintaxe do discurso, postula uma pragmática integrada à descrição linguística [...]”, uma espécie de nível interme- diário entre o sintático e o semântico, criando um complexo linguístico estruturado em três níveis indissoluvelmente interligados. Para saber mais 5. Distinção entre Linguística do texto e Teoria do Texto. Disponível em: <https://periodicos.ufpe.br/ revistas/INV/article/view/231381>. Acesso em: 13 de fev. 2018. https://periodicos.ufpe.br/revistas/INV/article/view/231381 https://periodicos.ufpe.br/revistas/INV/article/view/231381 39 A autora ainda argumenta que um discurso, para ser bem estruturado, deve estar fundado sobre o implícito e o explícito, sendo que os elementos indispensáveis a sua compreensão devem atender às condições de progresso e coerência, possuindo a capacidade intrínseca de produzir comunicação, constituindo-se enquanto um texto. Em suma, evidencia-se a concepção de que o processo de semiose, ou interpretação de códigos de um mesmo sistema linguístico, pressupõe a dimensão sintática da linguagem que se refere às relações dos signos entre si; a dimensão semântica, que diz respeito às relações entre os signos ou complexos de signos e os objetos por eles designados; e a dimensão pragmática, que trata das rela- ções entre os signos e os seus utilizadores. A noção de texto, nessa abordagem, caracteriza-se pela textualidade (tessitura) que transcende à junção estruturada das frases, rumo às redes de relações intertextuais que revelam a conexão entre as ideias, as intenções e as unidades linguísticas enunciativamente encadeadas, constituindo a essência da argumentação por meio de unidades semânticas, entendidas aqui como entidades de significado, conteúdo e expressão e não meramente morfossintáticas. Resumindo, o processo de semiose, ou interpretação de um sistema linguístico, deve perceber a dimensão sintática da linguagem concernente às relações dos signos entre si; o nível semântico, como instância das relações entre os signos ou complexos de signos e os objetos por eles designados; e, por fim, o plano pragmático na qual as relações entre os signos e os seus usuários se materializam. Cabe ainda destacar que o componente que produz o significado diz respeito à semântica, enquanto o significado final, à análise do significado literal, mais os fatores extralinguísticos, repou- sando sobre os domínios da pragmática (TRUJILLO, 2012). 1.2 Intertextualidade Materializado por meio das relações sociais, tanto o signo ideológico, quanto o linguístico, são moldados pelas marcas culturais de uma época e de um grupo social determinado, estabelecendo uma conexão direta entre as unidades imanentes das formações sociais, ideológicas e, por conse- quência, das discursivas. Uma vez que os signos são criados por convenção social e consubstanciam 40 em si os valores compartilhados, atribuídos por um determinado grupo, toda atividade linguística é um processo de atividade mental coletiva. Bakhtin (1997), em sua teoria da enunciação, propõe que a língua deve ser investigada em seus contextos concretos de uso, situando os sujeitos envolvidos historicamente (contextos imediatos e amplos) e configurando os usos da linguagem ou enunciados, sendo que a situação social mais ime- diata e o meio social mais amplo determinam a estrutura da enunciação. Isso porque os usos de lin- guagem, sejam textos escritos ou orais, implicam essencialmente uma interação verbal, que pressu- põe a existência básica de interlocutores com objetivos persuasivos distintos. A natureza dialógica dos signos configura e reconfigura as relações sociais à construção de pro- cessos subjetivos de interpretação, que interconectam textos e outros discursos produzidos e que produzem os sujeitos sociais, assim evidenciando a condição de indissolubilidade da unidade crono- trópica tempo/ espaço e do seu papel na tessitura dos arranjos intertextuais polifonicamente entre- laçados no magma do discurso. Embora a enunciação seja um fenômeno singular, a cada novo enunciado há uma referência implícita a discursos que foram internalizados no indivíduo, motivo pelo qual a enunciação é conce- bida a partir da relação dos sujeitos consigo e com os demais membros de uma mesma sociedade, ratificando a essência dialógica do texto manifesta entre os interlocutores e pelo diálogo com outros textos. Em síntese, o signo linguístico, ao assumir sua condição sócio-ideológico, portanto de natureza dialógica, afasta-se da concepção de entidade abstrata, neutra e monológica, para assumir um sta- tus de locus de múltiplas vozes, uma espécie de entidade intertextual e fundamentalmente polifônica. 41 FIGURA 1 - Intertextualidade no tempo/ espaço FONTE: AS CHARGES…, 2013, on-line. 1.2.1 Argumentação O objetivo de toda argumentação é promover ou ampliar o assentimento e/ ou a adesão à tese apre- sentada. É fato que, quando eficaz, o processo argumentativo conduz à persuasão ou mesmo à disposição para ação que, em linhas gerais, sempre objetiva e modificar o estado de coisas preexistentes. O uso da argumentação implica renunciar a força, em detrimento da conquista da atenção e do apreço à adesão do enunciatário à causa defendida de forma racional, promover a comunidade dos espíritos com vista à valorização da liberdade dos juízos e o aceito dos pressupostos dialogicamente negociados na situação argumentativa. 42 Entre as premissas da argumentação repousa o fato de que é necessário haver um acordo entre os interlocutores sobre o que pode ser aceito do ponto de vista do raciocínio, subsequentemente, a maneira pela qual serão desenvolvidos no processo de conexão (intertextualidade) e/ ou mesmo de desconexão por incipiência nos elos temáticos. À argumentação, contemplados os fatos, verdades e presunções ensejados no acordo entre os interlocutores, cabe incluir os valores, as hierarquias e os lugares do preferível, a fim de que se possa delimitar os argumentos cabíveis em um auditório universal e os reservados ao convencimento e à persuasão de grupos específicos. A concordância de um valor implica em aceitar a condições para que um objeto, ser ou ideia possa exercer influência sobre o processo argumentativo de forma determinada, deliberando a respeito da validade de um determinado ponto de vista e se é aplicável de forma universal ou particular. Em linhas gerais, a argumentação baseada em valores pressupõe uma distinção entre os abstratos e os concretos. O primeiro está à justiça e à veracidade, ao passo que o segundo ao caráter único e particular derivado de uma experiência humana singular por excelência (PERELMAN; OLBRECHTS-TYTECA, 2014). No que diz respeito às hierarquias, podem ser interpretadas sob dois aspectos característicos: as concretas, expressas nas relações de capital entre os homens e os outros seres; e as abstratas, nas comparações de superioridade entre o justo e o útil. Entre os princípios mais usuais hierarquizantes está a quantificação de algo baseada na preferência concedida a um dos dois valores. Em oposição, estão as hierarquias heterogêneas, cujos valores abstratos não implicam independência ou excluem sua relativização ou subordinação. Por fim, à questão dos lugares, os Topoi, dos quais derivam os tópicos, ou tratados legitimados ao raciocínio dialético (6), podem ser designados como categorias sobre as quais se podem classificar os argumentos. Aristóteles distinguia os lugares comuns dos específicos, sendo que o primeiro pode- ria atender a quaisquer ciências sem que houvesse relação de dependência; enquanto o segundo como próprio de uma ciência particular (PERELMAN; OLBRECHTS-TYTECA, 2014). 43 1.2.2 Argumentação e Intertextualidade Em linhas gerais, considerada como uma atividade estruturante do discurso, a argumentação consiste na apresentação e organização dos argumentos e raciocínios por meio dos quais se objetiva alcançar determinados resultados. Também entendidacomo um modo de interação humana, na qual aquele que argumenta, visa interferir sobre as representações ou convicções do outro, buscando modificá-las ou aumentar a adesão. A função argumentativa da linguagem tem sido explorada pela Semântica Argumentativa, que eviden- cia as marcas nas estruturas dos enunciados como elementos de valor argumentativo, destacando que uma frase não se refere apenas às informações que ela veicula, mas pode comportar signos e expressões que orientam a argumentação como forma de ação que se inscreve sobre o outro e sobre o mundo. Nesse sentido, a atividade estruturante do discurso encontra, na intertextualidade, uma forma de encadeamento argumentativo fundamentado no diálogo entre textos, recuperando vozes contin- gentes ou divergentes, que permitem aos interlocutores expressar-se, apresentando diferentes pon- tos de vista acerca do mundo e posicionando-se diante da realidade. Portanto, a intertextualidade enquanto atividade argumentativa, é ideologicamente mar- cada, presumindo sempre uma intenção e ressignificando a palavra do outro de novas signifi- cações. Para Bakhtin (1981), o texto constitui-se sobre múltiplas relações dialógicas com outros textos, congregando modalidades textuais, discursivas e polifônicas nas quais coexistem outras vozes e consciências. Em suma, a intertextualidade explicita a dinâmica relação dialógica de cada texto em relação aos outros, no constante processo diálogo entre as obras e cada voz e/ ou novo conjunto de vozes que ressignificarão as anteriores, construindo-lhes novas significações e rearranjos semânticos argu- mentativos no gradiente do tempo. Enquanto recurso de argumentação, a intertextualidade sempre é evocada quando a utilização da palavra do outro servir de argumento a uma determinada tese em questão. Seja qual forma a modalidade de referencialidade - citação, alusão, paráfrase etc. - essas conjecturas sempre revelam 44 ou revelarão aspectos argumentativos do discurso e, sobretudo, auxiliam os interlocutores durante o processo de leitura e produção de textos. Questão para reflexão Após todo estudo compartilhando neste material, você pode conhecer um pouco mais sobre as noções de texto, enunciado e discurso no processo de argumentação. Baseando-se nesses estudos, você irá analisar o objeto a seguir à luz do escopo oferecido, articulando os pressupostos semânticos argumentativos subentendidos. Elabore um pequeno texto que traduza a ideia vinculada à Figura 2 (Terras Tupiniquins). FIGURA 2 - Terras Tupiniquins FONTE: O autor, baseado em imagens disponíveis em: <https://goo.gl/yxESgL>. Acesso em: 14 de fev. 2018. https://goo.gl/yxESgL 45 Considerações Finais • Os termos texto, enunciado e discurso podem ser empregados como sinônimos quando não há compromisso teórico específico que impeça que uso. Do contrário, faz-se necessário observar- mos distintos respectivos conceitos que os caracterizam como entidades heterogêneas. • A argumentação visa promover assentimento à adesão dos espíritos e, portanto, pressupõe a existência de uma relação de natureza intelectual, pois o plano das interações sociais e proces- sos deliberativos fundamentam-se nessa máxima. • A intertextualidade é construída por meio das relações sociais nas quais tanto o signo ideoló- gico, quanto o linguístico, são moldados pelas marcas culturais de uma época e de um grupo social determinado, estabelecendo uma conexão direta entre as unidades imanentes das for- mações sociais, ideológicas e, por consequência das discursivas. • A intertextualidade é recurso à argumentação sempre que evocada a palavra do outro a título de argumento em uma determinada situação enunciativa. Glossário Adesão dos espíritos: Conceito aristotélico relativo ao processo argumentativo no estudo da Retórica e Argumentação, proposto por Perelman e Olbrechts-Tyteca (2014). Dialética: O termo grego designa igualmente a divisão lógica – sentido também platônico – que chega a descobrir, gradualmente, os conceitos fundamentais ou ideias; evoca-se naturalmente a propósito de Platão uma dialética ascendente (parte do concreto para chegar a uma ideia do bem) e uma dialética descendente (retornando da contemplação do bem à contemplação do cotidiano) (DUROZOI; ROUSSEL, 1990, on-line). Ressignificar: Mudar a estrutura de referência para lhe dar um novo significado, o mesmo que remodelar e/ ou ressemiotizar. 46 Verificação de leitura QUESTÃO 1-Analise as afirmações a seguir, considerando a concepção de texto à luz da teoria da enunciação bakhtiniana e responda: I. O texto é objeto de estudo da linguística textual e da gramática de texto. II. O texto é um conjunto polifônico estruturado de forma argumentativa. III. O texto é um conjunto de sintagmas paradigmaticamente estruturadas. IV. O texto é um conjunto de frases sintaticamente organizadas. É correto afirmar que: a) Apenas I, II, IV estão corretas. b) Apenas I, III estão corretas. c) Apenas III e IV estão corretas. d) Apenas II está correta. e) Apenas III está correta. QUESTÃO 2-Escolha a alternativa que melhor completa a proposição apresentada a se- guir, com base na Semântica Estrutural: “O termo enunciado também é empregado para representar uma estrutura verbal que compõe uma unidade específica de comunicação plena”: a) Quando em uma orientação discursiva, na qual a comunicação a ela está atrelada. b) Quando em uma determinada esfera discursiva, na qual a orientação comunicativa a ela está atrelada. c) Quando em uma determinada esfera discursiva, na qual a enunciação a ela está atrelada. d) Quando em uma determinada enunciação, na qual a esfera comunicativa a ela está atrelada. e) Quando em uma determinada esfera discursiva, na qual a orientação e a argumentação a ela estão atreladas. 47 QUESTÃO 3-Escolha a alternativa que apresenta a informação correta com relação ao signo bakhtiniano. a) Constitui-se como uma unidade de cunho estrutural. b) Constitui-se como uma entidade embutida de significado e não de significante. c) Constitui-se por meio das relações dialógicas. d) Constitui-se sobre a concepção monológica da língua. e) Constitui-se por meio das relações dicotômicas. Referências Bibliográficas AS CHARGES e os contos de fadas. In: A magia das histórias infantis. 21 jan. 2013. Disponível em: <http://amagiadashistoriasinfantiss.blogspot.com.br/2013/01/as-charges-e-os-contos-de- fadas.html>. Acesso em: 13 fev. 2018. BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem. 8. ed. São Paulo: Hucitec, 1997. ______. Problemas da poética de Dostoievski. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1981. DUROZOI, F.; ROUSSEL, A. Dicionário de Filosofia. 5 ed. São Paulo: Papirus, 1990. Disponível em: <https://goo.gl/5kzZuX>. Acesso em: 13 de fev. 2018. FONTANILLE, J. Semiótica do Discurso. São Paulo: Contexto, 2007. KOCH, I. G. V. Argumentação e Linguagem. 13. ed. São Paulo: Cortez, 2011. MAINGUENEAU, D. Análise de Textos de Comunicação. 4 ed. São Paulo: Cortez, 2005. MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais emergentes no contexto da tecnologia digital. In: MARCUSCHI, L. A. & XAVIER, A. C. (Orgs.) Hipertexto e gêneros digitais. Rio de Janeiro: Editora Lucerna, 2004. PERELMAN, C.; OLBRECHTS-TYTECA, L. Tratado da argumentação. 3 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2014. SAUSSURE, F. Curso de linguística geral. 28 ed. São Paulo: Cultrix, 2012. TRUJILLO, A. Semântica, Pragmática e Tradução. Revista Intertexto, v. 5, n. 2, p. 1-20, 2012. https://bit.ly/2l2s7iS https://bit.ly/2l2s7iS https://goo.gl/5kzZuX 48 Gabarito QUESTÃO 1-Alternativa D À teoria da enunciação bakhtiniana, o texto é conjunto polifônico, no sentido de que congrega várias vozes (outros textos e discursos) na tessitura argumentativa. QUESTÃO 2-Alternativa B O termo enunciado também é empregado para representar uma estrutura verbal, que compõe uma unidade específica de comunicação plena, em uma determinada esfera discursiva, na qual a orienta- ção comunicativa
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