Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Raissa Novelli – LAB.HAB. – M.V. Insuficiência Cardíaca Aula 05 – Parte 2 INTRODUÇÃO Síndrome clínica complexa de caráter sistêmico definida como disfunção cardíaca que ocasiona inadequado fornecimento sanguíneo para suprir as necessidades metabólicas teciduais, ou que só consegue fazê-lo com elevadas pressões de enchimento. A IC aguda pode ser: • IC aguda sem diagnóstico prévio (principal causa é o IAM); • IC crônica agudizada; • IC refratária ao tratamento. ETIOLOGIAS Fatores relacionados a descompensação: IC agu- da nova: • IAM; •Arritmias; • Destruição valvar; • Miocardite; •Crise hipertensiva; •Cirurgia cardía- ca. IC crônica agudizada: • Má aderência ao trata- mento; • Medicação inadequada; • Infecção; • Isquemia coronária; • TEP; • Arritmias. Apresen- tações: • Congestão pulmonar; • Congestão sistê- mica; • Baixo débito; • Choque cardiogênico. FISIOPATOLOGIA • Uma disfunção sistólica (diminuição da contra- tilidade) ou diastólica (alteração no relaxamento do miocárdio) na maioria dos casos leva a uma diminuição no DC, que vai gerar: ◦ Diminuição da perfusão renal → Ativação do SRRA (retenção de H2O e Na) → aumento do volume circulante e da pré-carga; ◦ Ativação do SN simpático (Nora- drenalina) → vasoconstrição periférica → Aumento FC → aumento da contratilidade → hipertrofia e remodelamento. • Em alguns casos não há redução do DC, que são as chamadas IC de alto débito, condições de pós-carga diminuída ou hipermetabolismo → inadequada demanda metabólica tecidual. ACHADOS CLÍNICOS Sintomas típicos: • Dispneia, ortopneia, dispneia paroxística noturna, fadiga, intolerância ao exer- cício. Sinais mais específicos: • Pressão venosa jugular elevada, refluxo hepatojugular, B3, im- pulso apical desviado para a esquerda. Pressão de pulso reduzida é sinal de hipoperfusão: • PAS – PAD < 30 indica diminuição do DC. Critérios de Boston: • Diagnóstico definitivo: 8–12 pontos; • Possível: 5–7 pontos; • Improvável: < 4 pontos. Critérios de Framingham: • 2 critérios maiores; ou • 1 critério maior e 2 menores para o diagnóstico. MAIORES MENORES - DPN; - Estase jugular; - Crep- tações; - Cardiomegalia no Rx; - B3; - Refluxo hepatojugular; - PVC > 16cmH2O; - Perda de 4,5 kg após 5 dias de tratamento. - Edema de tornozelos bilate- ral; - Tosse noturna; - Dispneia aos esforços; - Hepatomega- lia; - Derrame pleural; Taqui- cardia (FC>120). CLASSIFICAÇÕES Conforme a fração de ejeção: • IC com fração de ejeção preservada (ICFEp): ≥ 50%; • IC com fração de ejeção reduzida: < 40%; • IC com fração de ejeção intermediária (mid-range ou ICFEi): entre 40 e 49%. Classificação do perfil clínico e hemo- dinâmico do paciente: • Sinais e sintomas de hipoperfusão: hipotensão, pulso fino, sonolência, extremidades frias, oligúria, enchimento capilar lentificado; • Sinais e sintomas de congestão: ortopneia, DPN, distensão jugular, edema, estertores, B3. Classificação de Stevenson: • Perfil A: quente e seco – sem sinais de má- perfusão tecidual e sem sinais de congestão; • Perfil B: quente e úmido (Belém) – sem sinais de má- perfusão tecidual e congestão em repouso; • Perfil C: frio e úmido (Curitiba) – sinais de má- perfusão 2 Raissa Novelli – LAB.HAB. – M.V. tecidual e congestão em repouso; • Perfil L: frio e seco (Soro fisiológico) – sinais de má-perfusão tecidual e sem sinais de congestão em repouso. Sinais de má perfusão Sinais de congestão NÃO SIM NÃO A B SIM L C Obs.: O perfil do paciente com IC, além de ter valor prognóstico, é muito útil guiar o tratamento durante episódios de descompensação da doença. Classificação de acordo com a gravidade dos sintomas: • Classificação funcional da New York Heart Association (NYHA), baseada no grau de tolerância ao exercício e varia desde a ausência de sintomas até a presença de sintomas mesmo em repouso; • Permite avaliar o paciente clinica- mente, auxilia no manejo terapêutico e tem rela- ção com o prognóstico. Classificação de NYHA I Ausência de sintomas (dispneia) durante atividades cotidianas II Sintomas leves durante as atividades cotidianas III Sintomas desencadeados em atividades menos intensas que as cotidianas ou aos pequenos esforços IV Sintomas aos mínimos esforços ou em repouso EXAMES COMPLEMENTARES Raio-X de tórax: • Índice cardiotorácico > 0,6; • Área cardíaca aumentada; • Sinais de congestão pulmonar; • Derrame pleural. ECG: • Sinais de isquemia miocárdica, sobrecargas ventriculares, arritmias, sinais de pericardite de baixa voltagem; • Se normal: diagnóstico pouco provável. • BNP: • Hormônios provenientes dos ventrículos cardíacos e liberados na circulação em resposta à expansão do volume ventricular e à sobrecarga de pressão nos ventrículos. O aumento de seus níveis guarda relação direta com o grau de insuficiência cardíaca (utilidade no diagnóstico, na avaliação da resposta ao tratamento e como indicador prognóstico da forma congestiva da condição); • >500pg/ml (<100 pg/ml descarta o diagnóstico). Creatinina e ureia: • Creatinina > 1,5mg/dl pior prognóstico. ECOTT: • Mensura função sistólica e pode demonstrar acinesia de paredes específicas, ajudando no diagnóstico da causa da descompensação. POCUS: • Importante em pacientes instáveis hemodina- micamente; • Pode identificar sinais de congestão e alterações cardíacas. Outros: • Hemograma, EAS, Na⁺, K⁺, Cálcio, Magnésio, Glicemia capilar, perfil lipídico, função hepática, TSH, gasometria arterial e oximetria de pulso. DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS • Exacerbação de DPOC ou Asma; • TEP; • Pneumonia (febre, leucocitose, mialgia, dor pleu- rítica); • Pneumotórax (dor torácica súbita, timpa- nismo a percussão, desvio da traqueia); • Dissecção de aorta (dor torácica súbita, diferença de PA entre os membros); • Pericardite ou tamponamento peri- cárdico (edema periférico, distensão jugular, bulhas abafadas, complexo QRS em ECG de baixa voltagem). ABORDAGEM INICIAL A – Avaliação clínica e hemodinâmica Classificação de Stevenson: • Perfil A: quente e seco; • Perfil B: quente e úmido (Belém); • Perfil C: frio e úmido (Curitiba); • Perfil L: frio e seco (SF). B – Boa oxigenação Não usar de rotina se ausência de hipoxemia, pois pode causar vasoconstrição; Se SatO2 < 90%: • CN, máscara de alto fluxo, BiPAP, CPAP, VNI. C – Circulação/Volemia 250 mL de SF 0,9% e reavaliar sinais de congestão → em pacientes perfil L, sem congestão. D – Diuréticos Os diuréticos de alça são os medicamentos de primeira escolha. Provoca venodilatação 15min após sua administração, diminuindo a pré-carga tanto do VD quanto do VE. Também induz diurese aproximadamente 30min após a administração, 3 Raissa Novelli – LAB.HAB. – M.V. com pico em 1 a 2 horas. Como tem meia-vida de 6 horas, deve ser administrada pelo menos duas vezes ao dia. Furosemida: • Dose de ataque 1mg/kg em bolus. • Doenças mais graves, maior hipotensão (reflexo de disfunção do VE); • Cuidado com a hipotensão postural. E – ECG SGARBOSSA: • > 3 pontos indica BRE novo. CRITÉRIOS DE SGARBOSSA SST ≥ 1mm concordante com o complexo QRS em qualquer derivação 6pts Infra de ST ≥ 1mm em V1, V2 ou V3 3pts SST ≥ 5mm discordante com o complexo QRS em qualquer derivação 2pts F – Frequência cardíaca Controle de bradicardia e taquicardia (Marcapasso transcutâneo/ Cardioversão elétrica). G – Garantir a não suspensão das drogas Se faz uso de medicações não suspender. Beta- bloqueador: • Succinato de Metoprolol, Carve- dilol, Bisoprolol; • Se já toma → avaliar gravidade: ◦ Se precisa de inotrópico, instabilidade hemo- dinâmica grave, BAV avançados ou efeito cola- teral, chocado → Suspender; ◦ Descompensação com hipotensão moderada, má perfusão → dimi- nuir a dose (50%) ou suspender; ◦ Descompensação leve, sem hipotensão ou hipoperfusão → manter a dose. • Não iniciarno episódio agudo de ICA – iniciar dose baixa após IECA/BRA, paciente euvo- lêmico, pouco antes da alta hospitalar. IECA/BRA: • Se tomava, devem ser mantidos. Ajustar a dose de acordo com o estado de perfusão, sinais de IR ou hipercalemia; • Suspender se K⁺>5,5 ou Crea- tinina >3 ou aumento de 20% durante a hospital- lização; • Se não tomava não iniciar no momento da apresentação. Maior risco de hipotensão, meia vida prolongada; • Estabilizou: iniciar (dentro de 48 h após a apresentação). Espironolactona: • Se já to- mava manter e monitorar (PA, função renal e íons). H – Heparina Profilaxia de TVP e TEP: • HNF 5.000 UI SC de 8/8 horas; • HBPM 40mg SC de 24/24 horas. TERAPÊUTICA - PERFIL CLÍNICO O tratamento tem como objetivo reduzir o volume de fluidos (diuréticos) e aumentar a contratilidade (inotrópicos), reduzindo a pré-carga e a pós-carga (vasodilatadores). Perfil A: Quente e Seco A maioria dos pacientes não tem necessidade de internação. • Titular medicações de IC e consi- derar diagnósticos diferenciais; • Tratamento específico dos fatores desencadeantes da IC; • Correção de distúrbios hidroeletrolíticos (predis- põem a arritmias); • Digoxina indicada em IC com FA com resposta ventricular rápida (> 150 bpm). ◦ Dose: 0,25-0,5 mg EV em pacientes sem uso prévio (Idosos ou insuficiência renal: 0,0625 a 0,125 mg). Perfil B: Quente e Úmido Diurético EV: Furosemida: • 20-240mg/dia divi- dido por 2/6x por dia; • Na IRC até 500mg por dia; • Se não respondeu → avaliar TFG: ◦ Se > 30ml/min – associar Hidroclorotiazida; ◦ Se < 30ml/min – avaliar hemodiálise. Vasodilatador: • IECA (Captoril) ou Nitrato SL (Monocordil) ; • Se muito congesto usar vasodilatador EV (Tridil ou Nipride). Nitroglicerina: • Assim que PAS>90mmHg. NITROGLICERINA – EV em BIC Apresentação 25mg/5mL e 50mg/10mL Posologia 5 a 20mcg/min – máx de 400mcg/min Diluição 1 ampola 50mg/10mL + 240mL SG 5% [] da solução 200mcg/mL Dose inicial 5 a 10mcg/min ou 1,5 a 3,0mL/h Obs.: Aumentar 5mcg/min a cada 3-5 minutos até efeito desejado. Quando o paciente está grave faz EV, com a melhora muda para vasodilatador oral. 4 Raissa Novelli – LAB.HAB. – M.V. Perfil C: Frio e Úmido Diurético EV: Furosemida: • 0,5 a 1mg/kg em bolus. Caso tenha hipotensão: • Se PAS<70 → Va- sopressor (Noradrenalina BIC 0,2–1,0 mcg/kg/min); • Se PAS 70-90 → Inotrópico (ficar do lado do paciente porque inicialmente pode causar hipotensão): DOBUTAMINA Apresentação 250mg/20mL Dose 2,5 a 10mcg/kg/min Diluição 2 ampolas + 210mL SF 0,9% [] da solução 2000mcg/mL Obs.: Acima de 10mcg pode estimular os receptores alfa (vasoconstrição e taquicardia). • Se PAS > 90 → Vasodilatador (NTG). Paciente em uso de betabloqueador: • Usar Levosimendam (sensi- bilizadores do cálcio) ou Milrinona (inibidores da fosfodiesterase) como alternativa a Dobutamina. Perfil L: Frio e Seco A maioria dos pacientes se encontram hipo- volêmicos: • Identificar a causa dessa hipovolemia (excesso de diuréticos, restrição hídrica intensa, perdas volêmicas); Reposição volêmica: • Iniciar com 250ml de SF 0,9% e reavaliar → pode ser repetido até restaurar a volemia. Persistência dos sinais de baixo débito → Inotrópicos: • PAS < 90: Dobu- tamina ou Dopamina; • PAS > 90: ◦ Em uso de betabloqueador: Levosimendam ou Milrinona; ◦ Não faz uso de batabloq: Levosimendam ou Milrinona ou Dobutamina. SUPORTE TARDIO Não Medicamentoso Restrição de sódio: • Evidências inconclusivas; • Dieta < 2g por dia (Hipossalina): somente nas formas de IC graves e refratárias ao tratamento; • Recomendação no Brasil seria 6g/dia. Restrição de fluídos: • Evidências inconclusivas; • 1,5 – 2L/dia em caso de IC refratária e hiponatremia (princi- palmente se Na < 125). Atividade física: • Supervi- sionados ou não supervisionados; • Exercícios aeróbicos contínuos; • 100 passos em 10 minutos; • Walking and talking (andar e falar é o ideal). Atividade sexual: • Pode usar Sildenafil/ Tadalafila mas nunca associar com Nitrato. Gravidez: • Suspender IECA/BRA/Espironolactona; • Betablo- queador (preferência por Metoprolol). Antide- pressivos: • Sertralina 1ª escolha e Escitalopram; • Não pode usar Tricíclico. Opióides: • Evitar. 5 Raissa Novelli – LAB.HAB. – M.V. Medicamentoso Na IC sintomática com FE reduzida – 3 medica- mentos: IECA + Espironolactona + Betabloqueador (são drogas que diminuem mortalidade). IECA: Dose inicial Alvo Captopril 6,35mg 2x/dia 50mg 3x/dia Enalapril 2,5mg 2x/dia 10-20mg 2x/dia Ramipril 1,25mg 2x/dia 5mg 2x/dia Lisinopril 2,5mg/dia 30mg/dia BRA: Dose inicial Alvo Losartana 12,5mg 100mg Valsartana 20mg 80-160mg/dia Candesartana 4,0mg 16-32mg/dia Espironolactona: • Dose diária 25-200mg. Beta- bloqueador: Dose inicial Alvo Bisoprolol 1,25mg/dia 10mg/dia Carvedilol 3,125mg 2x/dia 25mg 2x/dia Succinato de Metoprolol 25,0mg/dia 200mg/dia Hidralazina + Nitrato: • Pacientes com Insuficiên- cia renal em substituição ao IECA/BRA. Dose inicial Alvo Hidralazina 25mg 2x/dia 50-100mg 3x/dia Dinitrato de isossorbida 5mg 3x/dia 20-40mg 3x/dia Mononitrato de Isossorbida 20mg 2x/dia 40-80mg 3x/dia Diuréticos: • Sintomático; Digitálicos: • Sintomá- tico (IC + FA). Outras opções Antagonistas dos receptores da Vasopressina: • Tolvaptana – hepatotóxico (IC com sobrecarga de volume com hiponatremia grave persistente Na <120 apesar da restrição hídrica e da terapia medicamen- tosa). Hipoglicemiantes: • Empaglifozina/Dapagli- fozina – inibidores da SGLT2, tem efeito diurético e causam glicosúria (melhora desfecho nos pacientes com IC). Entresto (Sacubitril/Valsartana): • Eleva falsamente os níveis de BNP mesmo na ausência de IC descompensada (solicitar pro-BNP); • Paciente em uso de IECA/BRA + BB + Espironolactona que persiste sintomático – tirar o IECA e esperar 36 horas. FONTE BIBLIOGRÁFICA Medicina de emergência: abordagem prática/ editores Irineu Tadeu Velasco ... [et al.]. - 14. ed., rev., atual. e ampl. - Barueri [SP]: Manole, 2020. Sociedade Brasileira de Cardiologia. Diretriz Brasileira de Insuficiência Cardíaca Crônica e Aguda. Arq Bras Cardiol. 2018; 111(3):436-539 Suporte avançado de vida em insuficiência cardíaca – SAVIC/editores Manoel Fernandes Canesin, Múcio Tavares de Oliveira Jr., Antonio Carlos Pereira-Barreto. – 4.ed. – Barueri,SP: Manoele,2015.
Compartilhar