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TRAUMAS PESSOAIS DE MARY SHELLEY traços notados em The Modern Prometheus

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1 
 
 
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ - UECE 
FACULDADE DE FILOSOFIA DOM AURELIANO MATOS – FAFIDAM 
 
 
TRAUMAS PESSOAIS DE MARY SHELLEY: traços notados em The Modern 
Prometheus. 
Iana Vitória Régis Oliveira ¹ 
Vanessa da Silva Almeida ² 
 
RESUMO 
 
The Modern Prometheus (atualmente chamado de “Frankenstein”) foi o primeiro livro 
publicado pela autora Mary Wollstonecraft Shelley, no qual veio ao público em 1818. A 
obra com todo o seu sucesso foi considerada a pioneira do que hoje chamamos de ficção 
científica. O prezado trabalho a seguir vai abordar a vida da autora em conjunto com a 
obra, mostrando partes onde a autora se esconde através de seus personagens para fazer 
alusões à sua vida pessoal. O objetivo geral é esclarecer como o trauma na vida de alguém, 
especialmente falando da escritora Shelley, pode influenciar diretamente na literatura que 
será redigida, conceituando o assunto sobre traumas segundo a visão Freudiana, 
justificando alguns aspectos nos personagens e acontecimentos em sua obra que ficam 
subentendidos, esclarecendo, dessa forma, para que os leitores possam ter uma ampla 
compreensão a respeito do livro em destaque. 
 
Palavras-chave: Frankenstein. Mary Shelley. Traumas. 
 
1 INTRODUÇÃO 
The Modern Prometheus, nome original da obra, é atualmente conhecido por 
Frankenstein, ele foi escrito em 1817 e publicado um ano depois. O livro é uma obra 
clássica, romântica e de terror gótico que tem como autoria Mary Wollstonecraft Shelley 
(1797-1851), uma escritora britânica nascida em Londres, filha do importante filósofo 
William Godwim e da escritora pioneira do movimento feminista, Mary Wollstonecraft. 
Aos 16 anos, Mary conheceu um poeta chamado Percy Bysshe Shelley, ao qual jurou o 
seu amor e logo fugiram de suas realidades para viverem uma vida juntos. Frankenstein 
2 
 
começou a ser escrito quando a autora tinha 19 anos, na qual se tornou sua primeira obra 
e, logo depois, seguiu uma carreira extensa como romancista. 
O romance de terror gótico consiste no primeiro momento em uma narração com 
foco em 3ª pessoa, narrador heterodiegético, Robert Walton, que conta a história de Victor 
Frankenstein para sua irmã Margareth através de cartas enquanto ele está em uma 
expedição náutica rumo ao Pólo Norte. Porém, grande parte da história é narrada em 1ª 
pessoa pelo próprio Victor, narrador homodiegético em discurso direto, quando capitão 
avista ele em uma balsa no alto mar e o leva para seu navio. Além disso, há a narrativa 
em 3ª pessoa, quando se concede a narração expressão ao “Monstro”, em um discurso 
indireto baseado nas recordações de Frankenstein. 
Escrita há mais de 200 anos, sua obra foi a pioneira e percussora para a história 
do terror e da ficção científica, o livro que faz sucesso até os dias atuais tem alguns traços 
da vida pessoal da autora que muitos leitores não conseguem perceber ou até mesmo 
compreender. Ao desenvolver a relação entre criador (Victor Frankenstein) e criatura 
(Monstro), a ilustre britânica fazia um tipo de metáfora sobre sua própria vida, o que nos 
faz pensar um pouco mais em quais pontos ela se assemelha dentro de sua própria obra 
literária. Além da retratação de seus traumas pessoais, Mary também aborda em seu livro 
questões éticas que ainda hoje são discutidos, tais como a má relação entre os familiares, 
abandono, exclusões sociais, o uso do conhecimento científico e a criação de uma vida 
artificial. 
Alguns críticos e estudiosos defendem que as obras de Mary Shelley são, ao todo, 
ditas como autobiográficas. À propósito, a crítica literária Cathy Bernheim defende que: 
“As obras de Mary Shelley são autobiográficas, pois ela põe a sua família em 
cena: o pai, Shelley, os seus filhos que morreram, a mãe – todos aparecem, 
mais ou menos disfarçados ao longo das páginas, dissimulados pela 
transposição necessária da criação”. (BERNHEIM, 2014, p. 65). 
Tendo em vista essa citação, podemos sustentar a teoria de que há uma relação da 
vida da autora com algumas características em seus personagens e acontecimentos na 
narrativa, nos quais iremos abordar com mais profundidade no tópico a seguir. 
 
2 REFERENCIAL TEÓRICO 
3 
 
2.1 TRAUMAS PESSOAIS E SUA OBRA 
2.1.1 MORTE E NASCIMENTO 
Mary Wollstonecraft Shelley teve uma infância muito bem estimulada por seu pai, 
não foi uma criação muito formal, mas seu pai lhe ensinava sobre os mais variados 
assuntos do cotidiano. O que poucos sabem é que onze dias após o nascimento de Mary, 
sua mãe veio a falecer por uma febre puerperal. Desde então, a autora viveu sua vida com 
um sentimento de culpa interminável pelo falecimento de sua mãe. 
No livro não é muito diferente. 
 Victor Frankenstein é um cientista com um interesse absorvente pelo princípio 
da vida e seu processo natural. Ambicioso pelo desejo de ser grande e alcançar 
uma fama, então ele decide criar a sua própria criatura. Mas o inesperado é que 
ele vai desenvolver o Monstro a partir das junções de pedaços humanos vindo 
de cadáveres dos necrotérios e vasculhando cemitérios, e dessa forma ele 
consegue “vencer” a morte e dar vida a uma nova criatura. No caso, uma vida 
artificial. A criatura criada por Victor é grotescamente grande e feia, e quando 
o cientista se dá conta do que acaba de criar busca um isolamento, e nesse 
espaço de tempo isolado de sua criação, o Monstro foge de seu laboratório. 
(SHELLEY, 1998, p. 52). 
Portanto, assim como a autora que teve a perca da mãe ao nascer, o Monstro 
também veio da morte e isso ganha uma grande correlação com o trauma pessoal da 
autora, onde “a morte” fica perpetuando a história inteira. Assim como no início do 
“nascimento” do Monstro o cientista abandonou-o, Mary também se sentia abandonada 
por sua mãe ter falecido tão cedo e a autora não ter tido chance de se familiarizar com sua 
progenitora. Ademais, também podemos observar o fato de que nessa parte é 
explicitamente retratado a inteligência artificial, pois o criador usa de seu conhecimento 
das ciências anatômicas para dar vida a uma criatura vinda de humanos já falecidos. 
 A morte tem uma retratação muito forte na obra. Além de sua inevitabilidade, 
algumas das mortes eram evitáveis mas resultaram de decisões erradas de Victor 
Frankenstein, sem mencionar o fato de que algumas foram causadas pelo grande desejo 
de vingança do Monstro contra seu criador. 
Elizabeth foi adotada pelos Frankenstein porque seus pais biológicos não 
tinham condições financeiras para sobreviverem. Há um momento na história 
4 
 
em que Elizabeth adoece de escarlatina, com isso, a mãe de Victor, Caroline 
Beaufort, insiste em ser ela mesma a tratar sua filha adotiva. Diante dessa 
decisão, Caroline teve uma morte súbita advinda da doença de Elizabeth. Logo 
depois, seguem-se outras mortes advindas pelo grande desejo de vingança do 
monstro contra seu criador, motivado por um sentimento horrível de abandono, 
solidão, pois não havia ninguém ao seu lado em um mundo totalmente 
diferente de sua realidade, além de que era evidente a vergonha do próprio 
criador a respeito da criatura. Com toda essa angústia e fúria, o Monstro decide 
castigar Victor matando os entes mais próximos, para que ele sinta na pele 
como é estar sozinho no mundo. (SHELLEY, 1998, p. 29). 
Após quatro anos a mãe de Mary ter falecido, seu pai, Godwim, casou-se com 
Mary Jane Clairmont. Mary Jane já tinha dois filhos quando se mudou para a mesma casa 
que Shelley. Mary Shelley tinha muita idolatria em relação ao seu pai, já a sua madrasta 
agia com tratamentos desinteressados e sempre colocou a preferência por seus próprios 
filhos em primeiro lugar, causando um grande desconforto na casa. Algum tempo depois, 
a meia irmã de Shelley cometeu suicídio, gerando um grande impacto em sua vida. 
 Assim como Shelley tinha um grande apego por seu pai, Victor Frankenstein 
também tinha grandes proximidades com seu pai e sua irmã adotiva. Além do mais, a 
mortee o sentido de viver é retratada em sua obra, se assemelhando fielmente ao 
momento em que a meia irmã da autora se questiona sobre a vida e resolve se suicidar. 
Em um dado momento da narrativa, o Monstro passa a questionar sua própria existência 
e sente uma grande vontade de tirar sua própria vida, pois não se enquadrava naquele 
mundo e, além de sua tristeza por sofrer preconceitos por sua aparência e ser excluso 
socialmente até pela pessoa que o criou, o seu criador se recusou a criar uma criatura tão 
horrenda quanto ele para assim o Monstro encontrar algum sentido em sua existência, e 
essa negação resultou em mais angústia, raiva, desprazer, sentimento de vingança. 
 
2.1.2 CRIAÇÃO 
Falando em maternidade, Mary Shelley sempre teve o desejo de gerar uma vida, 
e em meados de seus 17 anos ela teve um filho que morreu logo após o parto, além disso, 
sempre que ela engravidava causava abortos espontâneos lhe gerando uma profunda 
frustração por sua incapacidade de ser mãe. Foram três tentativas seguidos de três abortos, 
mas em sua quarta tentativa ela deu à luz ao seu filho Percy Florence juntamente com um 
5 
 
dos maiores poetas de seu tempo, Percy Bysshe Shelley. Em Frankenstein, o nascimento 
do Monstro é ambiguamente criativo e destrutivo. Criativo por ser uma criatura advinda 
de restos mortais e destrutivo pelo fato da criatura querer se vingar a todo custo de seu 
criador por causa de sua lamentável realidade. Esses traços notados no Monstro e em seu 
criador é claramente visto como uma metáfora sobre a vida da autora, que nasceu da morte 
e teve grandes dificuldades em gestar e gerar vida. 
 
2.1.3 VIDA AMOROSA 
Como já havia mencionado antes, Shelley teve uma infância muito bem 
estimulada por seu pai. Não é surpreendente que com 16 anos ela tenha fugido com o 
magnífico poeta Percy Bysshe de 22 anos. Desde o começo da relação eles tem enfrentado 
muitas desaprovações diante da sociedade, pois haviam fugido de Londres, em 28 de julho 
de 1814 em direção ao Continente, desafiando a vontade do pai de Mary e Percy Shelley 
abandonando a mulher legítima com um filho no colo, o que tornou a vida dos dois ainda 
mais difícil. A esposa de Percy cometeu suicídio algum tempo mais tarde. Depois desse 
acontecido, Mary e Shelley casaram-se. Mas a desaprovação social continuou muito forte 
e isso forçou-os a voltar da Inglaterra. Quando Mary tinha apenas 24 anos, Shelley, seu 
marido, afogou-se deixando-a com uma criança e grandes dívidas. Todos esses 
acontecimentos, dentre outros incidentes, marcaram profundamente a vida dessa jovem, 
que se viu em terra estranha e estrangeira, sozinha, com um amante visionário, uma 
experiência de dois partos e abortos dos filhos. 
Em Frankenstein já é um pouco contrário à realidade da autora. 
Quando Caroline Beaufort, mãe de Victor, conheceu Elizabeth Lavenza, logo 
se encantou e levou-a para casa como sua filha adotiva. Ela tem quase a mesma 
idade de Victor e é a mais bem tratada pela família. Inclusive, o menino Victor 
adorava estar na companhia de Elizabeth ao invés de seus irmãos de sangue. 
Caroline Beaufort e Alphonse, seu marido, criaram as crianças encorajando-as 
a viverem de todas as maneiras imagináveis – como irmãos, primos, amigos e 
até mesmo marido e mulher. Logo, não é espantoso que ao decorrer da 
narrativa Victor tenha se apaixonado por Elizabeth e vice e versa. Tempos 
depois eles casaram em Genebra, mas na noite de núpcias sua esposa é 
estrangulada no leito conjugal pelo Monstro, a criatura perseguia o criador e 
sua família aonde quer que fosse para sanar sua sede de vingança matando 
6 
 
todos aqueles que eram próximos de Victor. Ao saber da triste notícia que 
Elizabeth havia sido estrangulada, Alphonse, pai de Victor, morre de desgosto. 
Ao longo de tantas tragédias, o Monstro conseguiu fazer com que Victor 
passasse sua vida percorrendo mundos atrás dele e, dessa forma, Victor se 
sentia sozinho em um mundo estrangeiro, terra estranha, com um grande vazio 
por dentro juntamente com um sentimento de culpa por tanta tragédia ter 
acontecido em torno de sua família. (SHELLEY, 1998, p. 189). 
 
2.2 ASPECTOS CONCEITUAIS 
Como já foi mencionado anteriormente, um exemplo de crítico literário que 
defende o ato de The Modern Prometheus ser um livro autobiográfico, é a ilustre Cathy 
Bernheim. Ela diz que “as obras de Mary Shelley são autobiográficas, pois ela põe a sua 
família em cena: o pai, Shelley, os seus filhos que morreram, a mãe – todos 
aparecem[...]”. (BERNHEIM, 2014). 
Mas, o que é biografia? Segundo a revista Conceito .De (2012), “biografia é a 
história de vida de uma pessoa, onde este vocábulo pode ser usado em sentido simbólico 
ou figurado. Porém, nos casos mais usuais, uma biografia é uma narração escrita que 
resume os principais fatos na vida de uma pessoa”. 
Quando diz que a biografia é uma narrativa que narra os principais fatos na vida 
de alguém, de modo simbólico ou figurado, podemos perceber que em Frankenstein a 
autora deixa em sua obra alguns traços de sua vida pessoal: sobre sua mãe, a meia irmã 
que se suicidou, o apego com seu pai, a má relação com a madrasta, a desaprovação social 
de suas escolhas com seu marido, os filhos que morreram... todas essas situações foram 
retratadas na história de modo disfarçado, sobretudo, o tema “morte” foi muito 
reproduzido, fazendo com que poucos leitores consigam associar os fatos da obra com 
algumas situações da sua vida. Dessa forma, a obra é considerada autobiográfica, pois 
trabalha nas entrelinhas do livro alguns de seus traumas pessoais, fazendo claramente uma 
alusão a sua vida pessoal. 
Em um artigo da Universidade Luterana do Brasil, a autora Isabel Cristina enfatiza 
que: 
7 
 
“O sujeito da autobiografia, ao narrar sobre si mesmo, localiza-se em relação 
a outras narrativas, participando de um diálogo mais amplo com outros campos 
ou contextos sociais. Os autores destacam as experiências de vida no contexto 
de sua produção pela interação social, e enfatizam o modo como estas são 
interpretadas e sedimentadas no curso desta interação. O relato biográfico é, 
portanto, continuamente afetado pela interpretação, seja do próprio sujeito que 
o profere, seja do pesquisador que intervém como mais um interlocutor”. 
(CARVALHO, 2003). 
Desse modo, a obra de Mary Shelley nem sempre é vista como autobiográfica, vai 
depender se o leitor conhece sobre a realidade da autora e de que forma ele vai interpretar 
o conteúdo que não está explícito no texto. Isso faz com que a questão da autobiografia 
nas obras de Mary Shelley seja um ponto a discutir, para que os leitores possam ter uma 
ampla compreensão do que está escrito. 
Ainda segundo Isabel Cristina: 
“A condição narrativa remete a experiência humana para o campo do ficcio, no 
sentido da permanente reelaboração, ou ainda, poderíamos dizer, do auto 
invenção. Nesse sentido, a condição narrativa está presente tanto na 
literariedade da obra artística quanto no percurso do sujeito que se narra para 
salvar-se das paralisias de uma trajetória cristalizada em pontos de trava 
neuróticos. Seja enquanto produtividade cultural ou individual, trata-se de 
tomar o relato biográfico como ato narrativo que proporciona ao sujeito sempre 
uma nova oportunidade de se apresentar, recontar e reposicionar-se, sob os 
limites do desconhecimento de si mesmo”. (CARVALHO, 2003). 
Acredita-se que Mary Shelley tenha sido bastante afetada por muitos incidentes 
em sua vida num curto espaço de tempo, trazendo a ela vários pensamentos sobre 
identidade, dúvidas de si mesmo e o motivo de tantas coisas horrendas terem acontecido 
ao redor dela e de sua família. Nessa busca de se reencontrar, ela coloca em Frankenstein 
situações semelhantes que acontecera consigo mesma, a fim de encontrar respostas que 
sirva como uma espécie de consolo ou até mesmo apenas expressar em palavras como 
realmente se sentia em um mundo naqual não conhecia direito. 
Todos os acontecimentos que marcaram a vida da jovem Shelley podem ser 
traduzidos como traumas, e articulando os aspectos psicológicos e metapsicológicos para 
conceituar o que é um trauma, Freud diz que: 
8 
 
“Pode-se mesmo dizer que o termo "traumático" não tem outro sentido que 
econômico. Chamamos assim a uma experiência vivida que leva à vida da 
alma, num curto espaço de tempo, um acréscimo de estímulos tão grande que 
sua liquidação ou elaboração, pelos meios normais e habituais, fracassa, o que 
não pode deixar de acarretar perturbações duradouras no funcionamento 
energético”. (FREUD apud FULGENCIO, 2004). 
Assim, podemos ver que a justificativa de muitas cenas e características dos 
personagens em The Modern Prometheus são acarretados pelo semblante traumático que 
a autora carrega. 
 
3 CONCLUSÃO 
Diante de toda essa fundamentação teórica, podemos perceber que há vários 
indícios de uma relação pessoal da autora em seu livro. Quando estudamos o que se está 
propondo nas entrelinhas da obra, vemos que há muito mais a dizer do que mesmo aquelas 
palavras que estão escritas construindo um sentido que o leitor apenas quer ver. É notório 
que a autora ao escrever esse livro, naquela noite de verão atípico com seus amigos, faz 
uma alusão à sua vida muito bem-criada, o que não nos surpreende que esta grande 
narrativa tenha se tornado uma das pioneiras da ficção científica. Portanto, além de ser 
uma grande obra, é também uma grandiosa autobiografia sobre Mary Shelley, uma jovem 
que mesmo tendo sofrido grandes incidentes traumáticos em sua vida, não deixou de usar 
desses traumas para seguir sua extensa carreira como escritora romancista. 
 
REFERÊNCIAS 
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Folha, 1998. 
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educacional. Revista Temas em Educação, João Pessoa, jan. - Jun. 2014. 
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<https://www.ebiografia.com/mary_shelley/>. Acesso em: 20 de mar. De 2020. 
FERREIRA, Cid; NESTAREZ, Oscar. Criador e criatura: o poder de Mary Shelley e 
seu Frankenstein. Revista Galileu, 08 de março de 2018. Disponível em: 
<https://revistagalileu.globo.com/Cultura/noticia/2018/03/criadora-e-criatura-o-poder-de-mary-
shelley-e-seu-frankenstein.html>. Acesso em: 15 de mar. De 2020. 
https://www.ebiografia.com/mary_shelley/
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https://revistagalileu.globo.com/Cultura/noticia/2018/03/criadora-e-criatura-o-poder-de-mary-shelley-e-seu-frankenstein.html
9 
 
RAMOS, Thaciane R. Mary Shelley – biografia da escritora. InfoEscola, 2015. 
Disponível em: < https://www.infoescola.com/escritores/mary-shelley/>. Acesso em: 15 de 
mar. De 2020. 
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em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-83332011000200013>. 
Acesso em: 23 de mar. De 2020. 
MORAES, Ricardo C. Frankenstein. Página do Ricardo, jul. De 2009. Disponível em: 
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CONCEITO de biografia. Conceito .de, 2012. Disponível em: 
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FULGENCIO, Leopoldo. A noção de trauma em Freud e Winnicott. PePsic, 2004. 
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CARVALHO, Isabel C. Biografia, identidade e narrativa: elementos para uma 
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https://conceito.de/biografia
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S151724302004000200003
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010471832003000100012

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