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Trabalho de Biomecânica Cinemetria Os procedimentos de cinemetria são amplamente utilizados nos esportes para a analise gestual dos atletas, mas raramente usados paraconsiderar aspectos cognitivos relacionados ao movimentos. O metodo cinemetria pode por exemplo ajudar ao técnico de um time a escolher o melhor batedor de faltas através da cognição relacionada ao chute com o movimento mais eficiente. Apesar dos estudos comprovarem a eficácia dos treinos por repetição que ajudam na melhora dos movimentos e ajuda a ter um domínio maior do movimento, mas com a ajuda cinemetria pode ser melhorado o movimento gestual dos atletas trazendo um melhor nos treinos e jogos, pois relaciona os melhores movimentos para cada ação no treino e no jogo, por exemplo; melhores gestos para zagueiros com saltos e cabeceios, melhor batedor de bola parada, seja pênaltis, faltas ou escanteios, goleiros com velocidade de movimentos para defesas. No aspecto de métodos para avaliação de movimentos variáveis como deslocamento, velocidade, posição, e orientação do corpo e suas portes no espaço. Na parte estratégica a técnica da cinemetria pode ser usada para uma analise tática, realisar estatísticas e para observar o comportamento técnico e motor dos seus atletas e dos adversários. Positivo; Osestudos são feitos com base em dados reais que mostram a eficácia dos treinamentos e ajuda a comissão nas melhores escolhas. Negativo; Por ser um estudo cientifico os treinadores não dão muita atenção para os estudos pois a maioria vem de uma carreira no futebol onde o método de avaliação mais usado é o ´´olhometro´´. Alavancas Nesse artigo sobre alavancas foi estudado o comportamento das alavancas corporais no lance livre no basquete, foi utilizado três participantes com experiência no basquete profissional. Foi comprovado que os desgastes fisiológicos dos atletas comprometem a mecânica do movimento sendo assim quanto maior o desgaste físico maior a perda mecânica do atleta , comprometendo assim a eficácia das alavancas de movimentos para realização do lance livre.para chegar a essa conclusão os atletas foram submetidos aos testes fadigados e também descansados, foi analisado todo movimento feito no momento do arremesso, a empunhadura, a bola, a elevação da bola com os cotovelos em direção a cesta, semi flexão dos joelhos, extensão dos braços e pernas finalizando o movimento com uma flexão de punho para direcionar a bola para a cesta. Ao estudar o comportamento das alavancas no arremesso de lance livre, relacionando a estatura dos participantes com a movimentação dos joelhoes e relacionar desgaste físico dos atletas, ficou comprovado que os movimentos são melhores quando o atleta esta aquecido, portanto o desempenho é melhor no meio do treino quando esse atleta alcança o pico de sua melhor forma. Positivo – O estudo mostra que o desgaste físico tem relação direta com a perda mecânica dos movimentos e mostra que atletas de maior statura sentem menos essa perca por não ter a necessidade de usar os joelhos podendo arremessar sem saltar. Negativo – O estudo não demonstra opções de estratégias que o atleta de menor estatura deve fazer com sua debilidade de performance devido a seu tamanho tendo em vista que o faz com o atleta de maior estatura. Artrocinemetria Nesse artigo foi estudado o desempenho dos jogadores de futebol e futsal com seus membros dominantes e de apoio, foi analisado a velocidade dos movimentos a variação dos movimentos angulares das articulações de joelho, quadril e tornozelo durante o chute com o membro dominante e não dominante para avaliar o desempenho, a velocidade da bola e a velocidade linear das articulações. Os resultados apresentaram melhor desempenho, maior velocidade da bola e menor variação para o membro dominante e maior velocidade linear para o membro não dominante. O estudo também comprova que se os atletas utilizassem mais o membro não dominante teriam um desenvolvimento melhor nos treinos e nos jogos melhorando o seu resultado e o resultado da sua equipe. Positivo – O estudo mostra que se o atleta for treinado desde pequeno como ambidestro as articulações respondem com maior velocidade de movimento melhorando seus resultados e os de sua equipe. Negativo – O estudo mostra apenas os movimentos de membros inferiores e sabemos que os movimentos de membros superiores também influenciam na velocidade e na qualidade do movimento. Antropometria A população de idosos no Brasil cresce de maneira irreversível passando de 30 milhões de indivíduos. Isso mostra de maneira indispensável a relevância de estudos voltados a essa população tendo em vista que esse fenômeno é recente com poucos dados na literatura Brasileira. O envelecimento afeta não apenas o emocional de um individuo mas suas habilidades motoras e sua saúde corporal perdendo significativamente funções de extrema importância para o corpo. Ex: mastigação, visão e audição. A avaliação antropométrica é um importante método de avaliação nutricional pôs além de fornecer informações que refletem o estado de saúde e a qualidade de vida de um individuo tem um baixo custo é um método não invasivo porém para melhores resultados precisa ser feito por avaliadores experientes. Positivo – Mostrar de forma coerente as debilidade do idoso de maneira a não abandonar essa classe da sociedade trazendo luz a grande parte esquecida porem ativa e crescente dos idosos no Brasil. Negativo – apesar de não ser invasivo algumas perguntas podem ser manipuladas pelos entrevistados por causar algum tipo de constrangimento. Ex: perguntas relacionadas a alimentação do individuo. artrocinematica.pdf alavancas.pdf cinemetria.pdf antropometria.pdf Re su m o Palavras-chave 6 Pensamento Plural: Revista Científica da , São João da Boa Vista, v.4, n.2, 2010 Comportamento das Alavancas Corporais no Lance Livre Mário Henrique Breda de Martini, Aldarí Wagner de Souza O presente trabalho teve como objetivo relacionar a perda mecânica com o desgaste fisiológico do atleta, podendo ter uma influência direta e proporcional no seu desempenho. O arremesso do lance livre foi o objeto de estudo através de uma análise cinética. Foram utilizados três participantes com experiência em basquete profissional para análise do arremesso de lance livre. No basquete o lance livre é um dos arremessos mais importantes, sendo decisivo num jogo, e por essa importância é fundamental avaliar se os atletas apresentam um prejuízo significativo no decorrer de um jogo ou treinamento. Para análise do movimento foram estabelecidas cinco fases e, através disso, mensuradas as angulações das alavancas do arremesso, primeiro com os participantes estimulados e também com os participantes desgastados, e assim estabelecer uma comparação da mecânica do arremesso. Uma das características do movimento é a utilização da flexão de joelho como uma alavanca existindo uma influência direta da altura do jogador com a movimentação dos joelhos. Estabeleceu-se, também, que existem alterações na movimentação de membros superiores quando o participante está fatigado. Outro ponto analisado é o padrão de movimento que os participantes apresentam nos dois arremessos, estimulado e fatigado. Conclui-se que o desgaste fisiológico dos atletas causa uma modificação nas alavancas corporais e quanto maior o desgaste, maior é o prejuízo mecânico do arremesso. Lance livre, Fadiga, Alavanca corporal, Biomecânica Autores Mário Henrique Breda de Martini Graduado em Educação Física – Licenciatura, 2008. Graduado em Educação Física – Bacharelado, 2010 pelo Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino - FAE. e-mail: mariodemartini@hotmail.com Aldarí Wagner de Souza Graduadoem Educação Física e Esportes pela UNESP, 1996. Mestrado em Ciências da Saúde pela Universidade de Guarulhos, 2003. Mestrando em Psicologia pela Universidade São Francisco, 2011. e-mail: aldari@fae.br Recebido em 06/dezembro/2010 Aprovado em 15/dezembro/2010 7 Comportamento das Alavancas Corporais no Lance Livre Pensamento Plural: Revista Científica da , São João da Boa Vista, v.4, n.2, 2010 Introdução Num jogo de basquete são executados diversos fun- damentos com o objetivo de marcar o maior número de pontos convertendo os arremessos na cesta adversária. Dentre os fundamentos, Okazaki et al. (2004) apontam o arremesso jump como sendo o mais eficiente e de execu- ção mais complexa. O arremesso jump e o lance livre são executados com a mesma técnica, sendo única diferença a movimentação das pernas. No jump o jogador realiza um salto com exten- são dos membros e a bola perde contato com a mão. Já no lance livre a bola perde contato com a mão quando ocorre extensão total do braço, com extensão da perna, mas sem a realização do salto (TITMUSS, 1991) O arremesso é descrito da seguinte maneira: empu- nhadura da bola com o braço formando um ângulo de 90º; elevação da bola com o cotovelo em direção à cesta; semi-flexão dos joelhos; extensão dos braços e pernas; fi- nalização do movimento com flexão de punho para dire- cionamento da bola (FERREIRA e ROSE, 1987). Segundo Okazaki et al. cols. (2007), as fases de exe- cução do arremesso são ordenadas por posição inicial; elevação da bola, estabilização da flexão de ombro e lançamento. Este último, caracterizado pela extensão do cotovelo e flexão do punho. O movimento se encerra pela inércia do lançamento, no qual ocorre a flexão de punho e perda de contato com a bola. Okazaki e cols (2009) mostram as variações angulares nas fases descritas e em toda a realização do movimento de arremesso. As principais angulações das articulações que envolvem o arremesso são: flexão de ombro variando de 120º a 180°; cotovelo com flexão de 60º a 90º e exten- são de 130º até o ponto máximo; punho com hipertensão de 200º e flexão total. Ressalta-se que a movimentação de flexão-extensão das pernas não interfere diretamente na parte principal de arremesso, sendo desconsiderada em alguns estudos. Martins e cols. (2007) destacam a importância do lance livre e mesmo sendo um arremesso mais simples necessita de uma mecânica correta e precisa durante sua execução. Os autores também explicam que durante esse arremesso a flexão de joelho é indiferente devido à estatura dos joga- dores de basquete, quanto mais alto, menor é a movimen- tação das pernas, ficando os membros superiores como motor principal para realização do movimento. Okazaki e cols. (2006) relatam que o equilíbrio durante o arremesso é fundamental para a precisão do movimen- to, no qual o menor deslocamento do centro de gravidade pode ajudar no arremesso, e a inclinação do tronco para a frente causa instabilidade no movimento, atrapalhando a precisão do mesmo. A impulsão através do aumento na amplitude de membro inferior também é de grande impor- tância para melhora do arremesso, pois aumenta as ala- vancas do corpo e permite que a bola saia de uma altura maior em relação à cesta. Durante a atividade física o corpo humano recorre à metabolização de substratos para realização da contração muscular exigida no exercício proposto. O organismo re- corre a três tipos de vias metabólicas: oxidativa, glicolíti- ca e fosfogênica. Essas vias funcionam de acordo com o recrutamento muscular característico do exercício, levando em consideração o tipo de fibra muscular predominante, a intensidade e a duração do exercício. A primeira via metabólica (anaeróbia) a ser utilizada pelo sistema é a fosfogênica, baseada na utilização do ATP- -CP disponível no ambiente intracelular. Ela se caracteriza como uma via de obtenção de energia rápida para exercí- cios de curta duração e grande intensidade. A obtenção de energia por essa via é feita pela degradação de creatina- -fosfato (CP) para nova síntese de ATP e assim continuar o processo de contração (POWERS e HOWLEY, 2000). A segunda via geradora de energia para contração muscular é a glicolítica, que tem sua predominância após os 10 segundos de exercício. Essa via se caracteriza pela quebra simples da glicose (glicogênio), transformando-a em duas moléculas de piruvato. A glicólise é também uma via anaeróbia que gera energia para exercícios intensos de até 90 segundos e o excesso de atividade nesse ritmo pode acarretar o acúmulo de lactato e H+ decorrente da degra- dação da glicose. Esse acúmulo do íon H+ acarreta a fa- diga muscular por acidose, que interfere no suprimento de energia e no processo de excitação e contração da actina e miosina (MCARDLE e cols, 2001). A via aeróbia é utilizada em exercícios de intensidade moderada ou baixa e atividade de longa duração. Para chegar a essa via, o organismo passa pelas outras vias já citadas e permanece na metabolização total da glicose e ácidos graxos após o período de adaptação das outras vias. Powers e Howley (2000), explicam a metabolização da glicose e gordura pelo Ciclo de Krebs. Esse proces- so metabólico, quebra a glicose em piruvato e depois em Acetil-CoA que entra na mitocôndria e se inicia o processo de quebra dos componentes com liberação de hidrogênios para cada reação. Finalizando o ciclo, os hidrogênios pas- sam pela Crista Mitocondrial gerando energia (ATP). No basquete, a via glicolítica e a via aeróbia são as mais utilizadas, prevalecendo a primeira. A fadiga dos jogadores vem da grande demanda energética solicitada para a realização dos fundamentos que exigem força, ve- locidade, coordenação e precisão. Garret Jr e Kirkendall (2003, p.120) afirmam que “um tipo específico de exer- cício resulta em um tipo específico de resposta fisiológica que, se efetuado repetidamente, levará a uma adaptação específica”. Com isso, pode-se definir que o exercício espe- cífico pode gerar uma fadiga muscular específica, no caso, aos atletas do basquete. Para definir e conceituar a fadiga recorreu-se a Ascen- são e cols. (2003) que explicam a fadiga muscular como sendo a incapacidade de geração e manutenção de força e potência durante o exercício físico. Assim a fadiga mus- cular depende diretamente do tipo de exercício, duração e intensidade do mesmo, das fibras musculares recrutadas e também das características do ambiente em que se realiza o exercício. Segundo Santos e cols. (2003), a fadiga muscular pode ser classificada em: aguda, subaguda e crônica. Essas fadi- gas estão relacionadas ao SNC, que faz o controle de toda a contração muscular e dos padrões motores. A fadiga aguda periférica ocorre pela falta de substrato energético para contração muscular impedindo, assim, o funciona- mento da bomba de cálcio e o equilíbrio do potencial de ação (potencial elétrico) pelos íons potássio (K+) e sódio (Na+). A fadiga muscular periférica é decorrente das altera- ções causadas pela liberação e reabsorção da acetilcolina e do cálcio, da depleção do glicogênio e dos metabóli- tos produzidos, isso tudo durante o processo da contração muscular. A fadiga aguda central é decorrente do aumento na concentração do triptofano livre, do 5-HT precursor da serotonina e da diminuição da dopamina. Essas alterações químicas e fisiológicas ocorrem no exercício prolongado e intenso, e causam uma diminuição no rendimento do atle- ta, juntamente com falta de coordenação motora, equilí- Pensamento Plural: Revista Científica da , São João da Boa Vista, v.4, n.2, 20108 MARTINI, M. H. B. de SOUZA, A. W. de brio e velocidade (SILVA e cols., 2006). Os jogadores de basquete podem sofrer esse tipo de fadiga por apresentarem um ritmo forte durante as sessões de treinamento e no jogo. Garret e Kirkendall (2003) ex- põem alguns dados coletados num jogo de basquete, no qual a frequência cardíaca dos homens atinge uma média de 170 batimentos por minuto (bpm)e na maior parte do jogo os atletas mantêm a frequência cardíaca entre 85% e 95% da máxima, podendo variar de acordo com a indivi- dualidade de cada jogador. Uma das causas para a fadiga muscular, além da falta de substratos, são as alterações nas concentrações de cálcio (Ca+²) que influenciam os ciclos de contração- -relaxamento das fibras musculares e assim diminuem a tensão gerada pelas fibras. O cálcio liga a troponina e assim a tropomiosina libera os sítios ativos da actina para união da cabeça pesada da miosina, definindo assim a contração muscular. Com a falta de Ca+2, não acontece esse processo de junção da actina com a miosina e, con- sequentemente, a falha na tensão das fibras (ASCENSÃO e cols., 2003). A contração muscular é a ação motora responsável pela efetuação de qualquer movimento do corpo humano. Para realização da contração, o músculo recorre a me- canismos químicos, mecânicos e para controlar todos os componentes, às ações neurais. Seguindo a estrutura mus- cular, tem-se inserido na musculatura as unidades motoras. McArdle e cols. (2001) explicam que as ações de recru- tamento de unidades motoras são geradas pelo Sistema Nervoso através de estímulos sensoriais. O Sistema Nervoso é dividido em duas aéreas, o Sis- tema Nervoso Central (SNC), constituído pelo cérebro (ce- rebelo) e medula espinhal, e o Sistema Nervoso Periférico (SNP) constituído pelos nervos cranianos e raquidianos. O SNP ainda tem subdivisões como os neurônios aferentes (sensorial) e os eferentes (motor). O primeiro são os re- ceptores e levam os estímulos da periferia até o SNC, e o segundo tem a função inversa, leva a resposta ao estímulo para a periferia. A parte eferente pode ser divida em duas partes, Sistema Nervoso Autônomo (SNA) que é involun- tário e controla os impulsos do músculo cardíaco, lisos e das glândulas. O SNA é dividido ainda em Simpático e Parassimpático. A outra divisão do neurônio eferente é o Sistema Nervoso Somático (SNS), que é voluntário e con- duz os impulsos aos músculos esqueléticos (DANGELO e FATTINI, 2002). O controle geral dos movimentos se dá pelo cerebelo e pela medula espinhal, McArdle e cols. (2001, p.395) diz que o cerebelo “funciona como o centro de controle motor que proporciona a sintonia fina para todas as formas de atividade muscular”. Os mesmos autores dizem também que a medula espinhal é a responsável pela comunica- ção de todo o corpo humano. A área central da medula apresenta os neurônios motores, neurônios sensoriais e os interneurônios. Os motoneurônios da parte aferente se ligam às fibras sensoriais e detectam os estímulos; já os motoneurônios da parte eferente estão conectados à fibra muscular que efetua o movimento desejado. Wilmore e Costill (2001) apontam que o controle neu- ral do movimento precisa de organização estrutural (SNC e SNP), transmissão neuromuscular, função e ativação das unidades motoras e influxo sensorial da atividade muscu- lar. A transmissão neuromuscular é feita pelos neurônios aferentes e eferentes e pelos nervos somáticos ou motoneu- rônios. Esses últimos inervam a fibra muscular e produzem resposta excitatória ativando a musculatura desejada. A ativação das unidades motoras depende do tipo de estimu- lo recebido e da complexidade do movimento, detectado pelos receptores e transmitidos pelos influxos sensoriais. A inervação da musculatura depende, geralmente, da função motora específica do músculo. O número de neu- rônios por fibra muscular se relaciona com a delicadeza, precisão e complexidade do movimento, onde se exige mais trabalho muscular. Quanto maior é o controle motor maior é o número de neurônios por feixe de fibras e quanto mais rústico e de menor precisão, menor é o número de neurônios motores por feixe de fibras musculares (POWERS e HOWLEY, 2000). A unidade motora é a parte do neurônio motor inserida diretamente na musculatura e com os estímulos neurais, podendo ser individuais ou combinados, resultam nas con- trações musculares desejadas. O neurônio motor anterior permite a transmissão dos impulsos eletroquímicos devido à sua estrutura, corpo celular, axônio e dendritos, sendo que a parte mielinizada demonstra maior velocidade de condução dos impulsos. A corrente elétrica percorre todo o conjunto de neurônios até a placa motora terminal descar- regando na fibra muscular (WILMORE e COSTILL, 2001). Sobre a placa motora terminal ou junção neuromuscu- lar, tem-se a ideia de McArdle e cols.?? (2001), de que a junção neuromuscular transmite o impulso que irá desen- cadear a contração muscular sendo que cada fibra muscu- lar possui apenas uma placa motora terminal. O impulso neural é descarregado na fenda sináptica, localizada entre o terminal pré-sináptico e a membrana pré-sináptica, cau- sando uma diferença no potencial de ação resultando na função contrátil através do limiar de excitação. Foss e Keteyian (2000) mostram que quanto maior a força produzida maior é o recrutamento de unidades mo- toras, e assim a corrente elétrica para atingir o limiar de excitação precisa ser maior. A unidade motora apresenta características de contração, tensão e fatigabilidade de acordo com o tipo de fibra em que está inserida. A clas- sificação das unidades motoras é designada da seguinte maneira: contração rápida, fadiga rápida e alta força fi- cam com fibras tipo IIb; contração rápida, força moderada e resistente à fadiga ficam com fibras tipo IIa; contração lenta, resistentes à fadiga e produção de força baixa ficam com fibras tipo I. A geração de força máxima se deve a dois fatores rela- cionados às unidades motoras que são a maior frequência de descarga elétrica e maior recrutamento das unidades. Esse recrutamento ocorre aos poucos, de acordo com a demanda de força, conforme o aumento da força muscular o tamanho dos motoneurônios também aumenta. A fadiga neuromuscular se deve ao tipo específico de exercício e a demanda de contração necessária, podendo ter interferên- cia de fatores energéticos e declínio da função muscular perante o exercício (POWERS e HOWLEY, 2000). Objetivo geral Estudar o comportamento das alavancas do arremesso do basquete. ������� �� �� �� Avaliar a mecânica das alavancas corporais durante o arremesso. Relacionar a estatura dos participantes com a movi- mentação dos joelhos. Relacionar o desgaste físico com a movimentação das alavancas corporais. 9 Comportamento das Alavancas Corporais no Lance Livre Pensamento Plural: Revista Científica da , São João da Boa Vista, v.4, n.2, 2010 Métodos e materiais Participantes Para a realização desta pesquisa foram analisados três (3) voluntários com experiência em basquetebol de nível competitivo. Eles apresentam respectivamente a altura de 1,78 m, 1,98 m e 1,83 m. Os participantes desta pesquisa são todos do sexo masculino, com a idade de 19 anos. Material Para a realização desta pesquisa foram utilizadas 2 (duas) Câmeras digitais, uma Sony e uma Kodak, ambas com a mesma resolução de 5.1 megapixels, 2 tripés de altura regulável, 1 trena com 3 três metros de comprimento da marca Eldourado E, 3 bolas de basquete da marca Pe- nalty com tamanho e peso oficial. A pesquisa foi realizada numa quadra de basquetebol oficial, com 28 metros de comprimento e 15 metros de largura. A cesta posicionada a 3,05 metros de altura. Procedimentos A coleta dos dados para a pesquisa foi feita em duas etapas. A primeira etapa é a filmagem dos arremessos dos jogadores da marcação do lance livre após o aquecimento individual de cada atleta. Terminada a primeira filmagem os atletas fizeram os treinamentos programados. Foi realizado o teste de sal- to horizontal parado a cada período de treinamento para quantificar o desgaste que os participantes tiveram durante o treinamento. No final do treinamento foi filmada mais uma série de arremessos do lance livre de cada jogador. As filmagens foram realizadas em dois ângulos: um frontal para análise da lateralidade e posicionamentoda bola, e outra lateral para detecção das características an- gulares do arremesso. Foram levadas em consideração as articulações de punho, ombro, cotovelo e joelho. A câmera frontal ficou a 6 metros de distância dos participantes e a câmera lateral ficou posicionada a 10 metros de distância do ponto de arremesso. A quantificação do desgaste fisiológico dos participan- tes foi através de uma regra de três simples, consideran- do as três distâncias coletadas no Salto Horizontal Para- do. Após o aquecimento geral no início do treinamento foi feito o primeiro teste SHP denominado de Salto Inicial. No decorrer do treinamento foram realizados outros testes SHP, dos quais o maior valor foi anotado e denominado de Salto Estimulado. Ao término do treinamento, determinado pela fadiga dos atletas, foram realizados os últimos testes SHP denominados de Salto Fatigado. Resultados Os resultados serão exibidos em uma tabela mostrando o desgaste físico de cada atleta e em gráficos, para as ala- vancas corporais: o primeiro com a movimentação do joe- lho durante o arremesso com os jogadores estimulados; o segundo gráfico apresentando a movimentação do joelho com os jogadores desgastados; o terceiro exibe a variação angular do ombro no estado estimulado e o quarto mostra a variação angular do ombro no estado fatigado. Tabela 1: Teste de salto horizontal parado e a porcentagem do desgaste físico SALTOS Participante 1 Participante 2 Participante 3 1º Salto 1,83 m 1,88 m 1,82 m 2º Salto 2,10 m 2,20 m 2,28 m 3º Salto 2,04 m 2,13 m 2,16 m Desgaste 22% 21,80% 26% A Tabela 1 mostra as distâncias que os três participan- tes tiveram durante o teste de salto horizontal parado. O primeiro salto foi realizado antes de iniciar o treinamento, o segundo salto ocorreu na metade do treinamento e o terceiro salto no final do treinamento. Após a obtenção dos dados foi estabelecida a relação entre as marcações indivi- duais e calculado o quanto de desgaste cada participante teve. Gráfico 1: Gráfico da variação angular do joelho no estado es- timulado Como mostra o Gráfico 1, a comparação da variação angular da articulação do joelho com os participantes es- timulados aponta que o participante 2, sendo o mais alto, mantém o joelho com menor flexão em comparação aos outros participantes. O participante 3 apresenta uma ex- tensão contínua do joelho de grande ascendência, sem a flexão na fase 2 como os participantes 1 e 2 para aumento da potência do arremesso. Sobre a flexão de joelho, Okazaki e cols. (2006) rela- tam que a impulsão através do aumento na amplitude de membro inferior é de grande importância para melhora do arremesso, pois aumenta as alavancas do corpo e permite que a bola saia de uma altura maior em relação à cesta. Gráfico 2: Gráfico da variação angular do joelho no estado fa- tigado O Gráfico 2 mostra a variação angular da articulação do joelho dos três participantes durante o arremesso fati- gado e aponta a mesma característica que o arremesso estimulado, sendo o participante 2 o que apresenta maior extensão de joelho em todas as fases do movimento, em relação aos outros participantes. A geração de força máxima se deve a dois fatores rela- Pensamento Plural: Revista Científica da , São João da Boa Vista, v.4, n.2, 201010 MARTINI, M. H. B. de SOUZA, A. W. de cionados às unidades motoras que são a maior frequência de descarga elétrica e maior recrutamento das unidades. Esse recrutamento ocorre aos poucos, de acordo com a demanda de força, conforme o aumento da força muscular o tamanho dos motoneurônios também aumenta. A fadiga neuromuscular se deve ao tipo especifico de exercício e à demanda de contração necessária, podendo ter interferên- cia de fatores energéticos e declínio da função muscular perante o exercício (POWERS e HOWLEY, 2000). GRÁFICO 3: Variação angular do ombro no estado estimulado. O Gráfico 3 mostra todo o movimento do ombro du- rante o arremesso de lance livre dos três participantes es- timulados. Percebe-se que os três participantes fazem uma flexão de ombro (elevação dos braços) constante durante as cinco fases do movimento. O Gráfico 4 exibe a movimentação da articulação do ombro dos três participantes fatigados. Pode-se observar que os participantes oscilam a elevação dos braços duran- te o movimento, e em comparação com o Gráfico 3, os três participantes têm um grau menor durante a fase 3 e a fase 4, tendo como destaque o participante 3 que apresen- ta uma queda na fase 4, o que não ocorre no arremesso quando estimulados, exibido no Gráfico 3. GRÁFICO 4: Variação angular do ombro no estado fatigado. O desgaste que os jogadores tiveram pelo treinamento causa prejuízos na movimentação. De acordo com Silva (2006), as alterações químicas e fisiológicas causadas pelo exercício acarretam a uma falta de coordenação motora, equilíbrio e velocidade. Ascensão e cols??. (2003) apon- tam que a fadiga muscular leva a uma falha na tensão das fibras musculares, atrapalhando na geração de força e potência durante o exercício. Segundo Santos e cols. (2003), a fadiga aguda periféri- ca ocorre pela falta de substrato energético para contração muscular impedindo, assim, o funcionamento da bomba de cálcio e o equilíbrio do potencial de ação (potencial elétrico) pelos íons potássio (K+) e sódio (Na+). A falta de substratos e a quebra do mecanismo de contração causa- da pelo equilíbrio de cálcio e do potencial de ação atrapa- lham o rendimento e, consequentemente, um prejuízo nas alavancas corporais. � � �������� ����� Com o presente trabalho conclui-se que existe uma relação direta entre o desgaste fisiológico com a perda mecânica nos movimentos, no qual quanto maior o des- gaste apresentado maior é a falha mecânica do movimen- to. O movimento de arremesso do lance livre apresentou uma diminuição significativa na qualidade do movimento de arremesso do lance livre, em relação às alavancas e movimentação dos segmentos fundamentais para melhor precisão do arremesso. O prejuízo em algumas alavancas leva à compensa- ção em outras para minimizar a falha mecânica e conse- guir manter o padrão de movimento. Durante a análise dos resultados observou-se que a experiência na tarefa é fundamental para a execução dos movimentos, pois assim é possível manter o padrão motor geral independente da situação. Como apontado pela literatura, os atletas com maior estatura utilizam menor movimentação das pernas, ou seja, não existe uma grande flexão de joelho como encontra- da em jogadores de menor estatura. Essa característica de movimentação dos membros inferiores para jogadores al- tos se mantém nas duas situações, estimulado e fatigado. Re fe rê nc ia s ASCENSÃO, A; MAGALHÃES, J; OLIVEIRA, J; DUARTE, J; SOARES, J. Fisiolioga da fadiga muscular: delimitação conceptual, modelos de estudo e mecanismos de fadiga de origem central e periférica. Revista Portuguesa de Ciên- cias do Desporto. Portugal, v.3, n.1, 2003, 108-123 DÂNGELO, J G; FATTINI, C A. 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In basketball free throw shooting is one of the most important, being decisive in a game, and this importance is vitalto assess whether the athletes had a significant injury during a game or training. For analysis of the movement were established five stages and, through it, measured the angles of the levers of the pitch, first with the stimulated participants and next with worn-out participants, and therefore establish a comparison of the mechanics of pitching. One of the movement characteristics is the use of knee flexion as a lever and there is a direct influence between the height of the player with the movement of the knees. It was also verified that there are changes in the movement of the upper limbs when the participant is fatigued. Another point discussed is the movement pattern that the participants present in two pitches, stimulated and fatigued. It was conclude that the physiological toll of athletes causes a change in body levers and the greater the damage, the greater the mechanical injury of the pitch. A bs tr ac t MARTINS, A M J; DORST, R R R. Cinemática do Lance Livre do Basquetebol em relação à Antropometria e à Flexibi- lidade. Cascavel, PR: Laboratório de Biomecânica da Faculdade Assis Gurgacz, 2007 MCARDLE, W D; KATCH, F I; KATCH, V L. Fisiologia do Exercício: energia, nutrição e desempenho. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001 OKAZAKI, V H A; OKAZAKI, F H A; RODACKI, A L F; LIMA, A C. Variabilidade inter-individual na estrutura temporal do arremesso no basquetebol. Revista Motriz. Rio Claro, SP: v.15, n.4, 2009, 831-841 OKAZAKI, V H A; RODACKI, A L F; DEZAN, V H; SARRAF, T A. Coordenação do arremesso jump no basquetebol de crianças e adultos. Revista Brasileira de Biomecânica. Curitiba, v.7, n.12, 2006, 15-22 OKAZAKI, V H A; RODACKI, A L F; DEZAN, V H; SARRAF, T A. Diagnóstico da especificidade técnica dos jogadores de basquetebol. Revista Brasileira de Ciência e Movimento. Brasília, v.12, n.4, 2004, 19-24 OKAZAKI, V H A; RODACKI, A L F; OKAZAKI, F H A. Biomecânica do arremesso jump no basquetebol. Revista Digi- tal [online]. Buenos Aires, v.11, n.105, fev., 2007. Disponível em: www.efdeportes.com, acessado em: 12 mai. 2010 POWERS, S K; HOWLEY, E T. Fisiologia de exercício: teoria e aplicação ao condicionamento e ao desempenho. Barueri, SP: Manole, 2000 SANTOS, M G; DEZAN, V H; SARRAF, T A. Bases metabólicas da fadiga muscular aguda. Revista Brasileira de Ciên- cia e Movimento. Brasilia, v.11, n.1, 2003, 07-12 SILVA, A E L; OLIVEIRA, F R; GEVAERD, M S. Mecanismos de fadiga durante o exercício físico. Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano. Santa Catarina, v.8, n.1, 2006, 105-113 WILMORE, J H; COSTILL, D L. Fisiologia do Esporte e do Exercício. São Paulo: Manole, 2001 TITMUSS, D. Guia Prático do Basquetebol. Lisboa: Editorial Presença, 1991 free-throw; fatigue; body lever; biomechanics Key words REV. BRAS. GERIATRIA E GERONTOLOGIA; 2006; 8(1); 9-20 Composição corporal de idosos 201 AAAA A R TI GO S RT IG OS RT IG OS RT IG OS RT IG OS O O O O O RI GI NA IS RI GI NA IS RI GI NA IS RI GI NA IS RI GI NA IS / O / O / O / O / O RI GI NA L RI GI NA L RI GI NA L RI GI NA L RI GI NA L A A A A A RT IC LE S RT IC LE S RT IC LE S RT IC LE S RT IC LE S Palavras-chave: Idoso. Perfil de Saúde. Antropometria. Composição Corporal. Estado Nutricional. Composição corporal de idosos segundo a antropometria Body composition of elderly by anthropometry Resumo Objetivo: Descrever o perfil antropométrico e a composição corporal de ido- sos por meio da antropometria, analisando a aplicabilidade das equações de predição de Petroski (1995) e de Durnin & Womersley (1974). Métodos: Foram avaliados 37 idosos de ambos os gêneros. As medições antropométricas fo- ram realizadas segundo as diretrizes da International Society for the Advancement of Kineanthropometry, e determinaram as variáveis massa corporal, estatura, oito dobras cutâneas e sete perímetros musculares. Calcularam-se índice de massa corporal (IMC), relação cintura-quadril (RCQ), somatório de cinco dobras cutâneas e densidade corporal pelas equações de predição para ido- sos de Petroski (1995) e de Durnin & Womersley (1974) com conversão ao percentual de gordura (%G) pela equação de Siri (1961). Para posterior dis- cussão, aplicou-se o teste t Student (p<0,05). Resultados: As variáveis idade, massa corporal, estatura e IMC não diferiram entre os gêneros. O somatório de cinco dobras cutâneas resultou em eutrofia para ambos os gêneros. A RCQ indicou “risco moderado” para homens e “risco alto” para mulheres, de complicações metabólicas. A equação de Durnin & Womersley (1974) subestimou nos indivíduos do gênero masculino e superestimou no gênero feminino o %G obtido pela equação de Petroski (1995), respectivamente. Por ambas as equações, os indivíduos do gênero feminino apresentaram %G superior aos do gênero masculino. Conclusões: Os indivíduos de ambos os gêneros apresentam elevada adiposidade corporal, especialmente na região 1 Centro Universitário São Camilo, Curso de Nutrição. São Paulo, SP, Brasil 2 Lar Escola São Francisco, Centro de Reabilitação. São Paulo, SP, Brasil Correspondência / Correspondence Anderson de Jesus Moreira Rua Eurico Freitagas, 51 - Jardim Riviera 04925-060 - São Paulo, SP, Brasil E-mail: andersonjmoreira@uol.com.br Anderson de Jesus Moreira1 Humberto Nicastro1 Renata Cereda Cordeiro2 Patrícia Coimbra2 Vera Silvia Frangella1 202 202 202 202 202 REV. BRAS . GERIATR. GERONTOL., 2009; 12(2):201-213 REV. BRAS. GERIATRIA E GERONTOLOGIA; 2006; 8(1); 9-20 Key words: Aged. Health Profile. Anthropometry. Body Composition. Nutritional Status. omental. A equação de Petroski (1995) atendeu de modo satisfatório aos critérios de aplicação utilizados e mostrou ser adequada para a população em questão. Abstract Objective: To describe anthropometric profile and body composition of elderly by anthropometry and evaluate the applicability of Petroski (1995) and Durnin & Womerseley (1974) protocols. Methods: We evaluated 37 elderly individuals of both genders. The anthropometric measurements were performed according to the guidelines of the International Society for the Advancement of Kineanthropometry and established the variables weight, height, eight skinfolds and seven muscle girths. It was calculated body mass index (BMI), waist-to-hip ratio (WHR), sum of five skinfolds and body density by Petroski (1995) and Durnin & Womersley (1974) elderly protocols with the conversion to percentage of body fat (%BF) by Siri (1961) protocol. For further discussion, it was applied the Student t test (p<0.05). Results: Age, weight, height and BMI did not differ between genders. The sum of five skinfolds resulted in normal range for both genders. The WHR indicated “moderate risk” for men, and “high risk” for women to develop metabolic complications. The Durnin & Womersley (1974) protocol underestimated in male subjects and overestimated in female subjects the %BF obtained by the equation of Petroski (1995), respectively. For both protocols, female subjects showed higher %BF than male subjects. Conclusions: We conclude that individuals of both genders have high body fat, especially in the abdo- minal region. The Petroski (1995) protocol answered satisfactorily to the applying criteria used and showed to be adequate for this population. INTRODUÇÃO O fenômeno do envelhecimento popu- lacional é observado em países desenvolvi- dos e em desenvolvimento, como resultado de conquistas nas áreas médicas e sociais, e conquistas tecnológicas.1 No Brasil, estima- se uma população idosa de 30 milhões de pessoas em 2025.2 Em diversos países, dentre eles o Brasil, o aumento no número de idosos observado nas últimas décadas tem gerado grande in- teresse em relação às alterações fisiológicas que afetam a conformação física e o declí- nio da capacidade funcional de alguns ór- gãos e sistemas à medida que a idade avan- ça,3-5 pois se sabe que o “envelhecimento sau- dável” melhora não somente a qualidadede vida, como também os custos direcionados aos cuidados à saúde.6 No Brasil, o envelhe- cimento é um fenômeno relativamente re- cente, contudo irreversível diante do com- portamento declinante da fecundidade e da mortalidade registrado nas últimas décadas, que afeta diretamente o estado nutricional do indivíduo por todas as alterações que ocorrem no organismo, tais como diminui- REV. BRAS. GERIATRIA E GERONTOLOGIA; 2006; 8(1); 9-20 Composição corporal de idosos 203 ção dos botões gustativos, redução do olfa- to e da visão, diminuição da secreção salivar e gástrica, falha na mastigação (pela ausên- cia de dentes ou próteses impróprias), cons- tipação intestinal devido à redução da mo- tilidade gastrintestinal.3,7 No tocante à ciência da antropometria, o processo de envelhecimento acarreta alte- rações nos compartimentos corporais, como a diminuição da massa corporal e da estatu- ra, redução da massa livre de gordura (MLG) e modificação nos compartimentos de gor- dura corporal, onde o tecido adiposo peri- férico tende a diminuir e o central, ou omental, a aumentar.8,9 Sabe-se ainda que a avaliação antropométrica periódica pode refletir indiretamente na qualidade de vida da população idosa, uma vez que a força, como resultado do conteúdo muscular pe- riférico, é um indicador de mortalidade em indivíduos saudáveis.10 Neste contexto, a antropometria tem-se mostrado importan- te método de avaliação do estado nutricio- nal, pois, além de fornecer informações das medidas que podem refletir o estado de saú- de e da qualidade de vida, é um método não-invasivo, de fácil e rápida execução e de baixo custo que estima os compartimentos corporais com razoável exatidão desde que realizada por um avaliador experiente.9 O presente estudo tem por objetivo tra- çar o perfil antropométrico e descrever a composição corporal de idosos por meio da antropometria, visto que dados antro- pométricos de referência em âmbito nacio- nal de indivíduos com faixa etária superior a 60 anos são escassos na literatura. Secun- dariamente, o presente trabalho objetiva analisar a aplicabilidade das equações de predição de Petroski11 e Durnin & Womer- sley,12 visto que a primeira é uma equação desenvolvida e validada para a população brasileira e a segunda, apesar de não ter sido desenvolvida primariamente para a popula- ção brasileira, é amplamente utilizada por profissionais no Brasil.13 METODOLOGIA Amostra O presente estudo caracteriza-se por ser transversal com coleta de dados primários. Foram avaliados 37 idosos com idade igual ou superior a 60 anos, sendo 27 do gênero feminino e 10 do gênero masculino. Como critérios de exclusão, foram considerados aqueles que estivessem edemaciados e/ou sem condições físicas para avaliação nutricional. O convite aos indivíduos foi feito verbal- mente e, após esclarecimentos sobre a meto- dologia, risco e objetivos do trabalho, os mesmos ou seus responsáveis assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido. O projeto do estudo foi aprovado pelo Co- mitê de Ética em Pesquisa do Centro Uni- versitário São Camilo com o protocolo nú- mero 003/06 e cumpriu os princípios éticos contidos na Resolução CONEP nº 196/96.14 Avaliação antropométrica As medições antropométricas foram rea- lizadas segundo as diretrizes da International 204 204 204 204 204 REV. BRAS . GERIATR. GERONTOL., 2009; 12(2):201-213 REV. BRAS. GERIATRIA E GERONTOLOGIA; 2006; 8(1); 9-20 Society for the Advancement of Kineanthropometry (ISAK).15 Foram determinadas as seguintes variáveis antropométricas: massa corporal, estatura, oito dobras cutâneas (biceptal, tri- ceptal, subescapular, supra-ilíaca, supra-es- pinal, abdominal, coxa medial e panturri- lha) e sete perímetros musculares (tórax, braço relaxado, cintura, abdominal, quadril, coxa medial e panturrilha). As medidas fo- ram triplicadas por um avaliador experien- te e utilizou-se como resultado a média arit- mética das mesmas. A massa corporal foi obtida por meio de uma balança digital da marca Filizola ®, com capacidade de 150 kg e precisão de 100g; a estatura, por meio de um estadiômetro vertical fixo à balança; a espessura das do- bras cutâneas foi aferida, em triplicata, do lado direito do indivíduo, utilizando-se um compasso científico Lange® com precisão de 1 mm e os perímetros musculares com o auxilio de uma fita antropométrica Gulick ® com precisão de 1 mm. O índice de massa corporal (IMC) foi calculado considerando-se a razão entre a massa corporal (em kg) e a estatura (em metros) ao quadrado (kg/m²) e classifica- do segundo os pontos de corte propostos pela NSI - Nutrition Screening Initiative.16 O perímetro da cintura foi classificado se- gundo a WHO – World Health Organizati- on.17 A relação entre o perímetro da cin- tura e do quadril foi classificada segundo Lohman.18 Para a determinação da composição cor- poral, foi aplicada a equação de predição de densidade corporal (DC) proposta por Petroski,11 com utilização de quatro dobras cutâneas para o gênero feminino (DC = 1,02902361 - 0,00067159 * (Dobra cutânea su- bescapular + Dobra cutânea triceptal + Dobra cu- tânea supra-ilíaca + Dobra cutânea da panturri- lha) + 0,00000242 x (Dobra cutânea subescapu- lar + Dobra cutânea triceptal + Dobra cutânea supra-ilíaca + Dobra cutânea da panturrilha)2 - 0,0002073 * (Idade) - 0,00056009 * (Massa corporal) + 0,00054649* (Estatura)); e para o gênero masculino (DC = 1,10726863 - 0,00081201 x (Dobra cutânea subescapular + Dobra cutânea triceptal + Dobra cutânea supra- ilíaca + Dobra cutânea da panturrilha) + 0,00000212 x (Dobra cutânea subescapular + Dobra cutânea triceptal + Dobra cutânea supra- ilíaca + Dobra cutânea da panturrilha)2 - 0,00041761 * (Idade)). Em caráter compara- tivo, aplicou-se também a equação de DC proposta por Durnin & Womersley,12 que utiliza quatro dobras cutâneas para o gê- nero feminino (DC= 1,1339 - 0,0648 x log10(Dobra cutânea subescapular + Dobra cutânea triceptal + Dobra cutânea supra-ilíaca +Dobra cutânea biceptal)) e para o gênero masculino: (DC= 1,1765 - 0,0744 x log10(Dobra cutânea subescapular + Dobra cutânea triceptal + Dobra cutânea supra-ilíaca + Dobra cutânea biceptal)). Posteriormente, para conversão da DC em percentual de gordura corporal (%G), foi utilizada a equação de Siri:19 (%G = [(4,95 / DC) - 4,50] x 100)). Análise estatística A análise dos dados foi conduzida pelo Software Statistica versão 7.0 e realizada de REV. BRAS. GERIATRIA E GERONTOLOGIA; 2006; 8(1); 9-20 Composição corporal de idosos 205 modo descritivo para todas as variáveis em cada indivíduo do grupo de estudo. Os dados são avaliados pela análise de tendên- cia central (média), variabilidade (desvio padrão) e coeficiente de variação. Para pos- terior discussão, aos resultados obtidos apli- cou-se o teste t Student com nível de signifi- cância adotado de p<0,05. RESULTADOS Na tabela 1, são apresentadas as caracte- rísticas da amostra por meio dos valores médios e respectivos desvios padrão das va- riáveis idade, massa corporal, estatura e IMC dos indivíduos, segundo o gênero. Não houve diferenças estatísticas intergrupos. Tabela 1 - Valores médios, desvios-padrão e coeficiente de variação das características gerais da amostra segundo o gênero (idade, massa corporal, estatura e IMC). São Paulo, 2007. Masculino (n=10) Feminino (n=27)Variável Média + DP CV (%) Média + DP CV (%) Idade (anos) 74,6 + 7,8 10,4 69,0 + 6,6 9,6 Massa corporal (kg) 73,4 + 12,1 16,5 67,9 + 11,7 17,2 Estatura (cm) 166 + 0,04 16,8 152 + 0,05 3,4 IMC (kg/m2) 26,48 + 4,04 27,0 27,28 + 4,93 16,8 Análise descritiva. Dados apresentados em média ± desvio-padrão. DP = desvio padrão; CV = coeficiente de variação; IMC = índice de massa corporal. Sem diferenças estatísticas intergrupos segundo o teste t Student. A média, o desvio padrão e o coefici- ente de variação das variáveis dobras cutâ- neas e perímetros musculares e do soma- tório de dobras cutâneas para avaliação da gordura corporal total (5DC) coletados nesteestudo, segundo o gênero, são refe- ridos na tabela 2. De modo geral, nota-se que, em todos os indivíduos, independen- temente do gênero, as variáveis médias de dobras cutâneas apresentam CV superior em relação ao observado nas médias dos perímetros musculares. 206 206 206 206 206 REV. BRAS . GERIATR. GERONTOL., 2009; 12(2):201-213 REV. BRAS. GERIATRIA E GERONTOLOGIA; 2006; 8(1); 9-20 As figuras 1 e 2 descrevem os valores médios de %G, massa gorda (MG) e massa livre de gordura (MLG), por diferentes equa- ções, observados nos indivíduos do sexo masculino e feminino, respectivamente. Observa-se que o %G dos indivíduos do gênero masculino calculado segundo Pe- troski11 foi significativamente superior em relação ao valor obtido pela equação de Durnin & Womersley.12 O oposto foi ob- servado nos indivíduos do gênero femini- no, onde o %G calculado por Petroski11 foi significativamente menor em relação ao cal- culado por Durnin & Womersley.12 Conse- quentemente, todas as diferenças estatísti- cas referentes ao %G, com exceção dos in- divíduos do gênero masculino, refletiram em valores significativamente diferentes para a MG. Adicionalmente, na figura 3 foi pos- sível observar que os indivíduos do gênero feminino apresentaram %G significativa- mente superior em relação ao gênero mas- culino, quando comparados os valores ob- tidos pela equação de Petroski.11 Tabela 2 - Média, desvio-padrão e coeficiente de variação das variáveis dobras cutâneas e perímetros musculares dos indivíduos participantes do estudo, segundo o gênero. São Pau- lo, 2007. Masculino (n=10) Feminino (n=27) Variável Média + DP CV (%) Média + DP CV (%) Dobra cutânea triceptal (mm) 11,5 + 4,2 36,7 21,9 + 5,9 27,0 Dobra cutânea biceptal (mm) 8,0 + 2,7 33,9 13,1 + 4,5 34,7 Dobra cutânea subescapular (mm) 17,8 + 7,2 40,3 21,3 + 6,4 29,9 Dobra cutânea suprailíaca (mm) 17,2 + 6,2 36,1 24,7 + 7,8 31,5 Dobra cutânea supraespinal (mm) 14,4 + 5,0 35,0 24,1 + 7,4 30,4 Dobra cutânea abdominal (mm) 21,4 + 7,2 33,9 29,4 + 7,2 24,4 Dobra cutânea coxa medial (mm) 16,9 + 5,6 32,9 24,8 + 7,3 29,4 Dobra cutânea panturrilha (mm) 12,9 + 3,6 27,9 22,3 + 4,8 21,5 �5DC (mm)* 84,8 + 26,8 31,6 122,0 + 27,1 22,2 Perímetro braquial (cm) 30,4 + 3,7 12,1 31,0 + 4,3 13,8 Perímetro da cintura (cm) 96,5 + 9,6 10,0 95,2 + 11,1 11,6 Perímetro abdominal (cm) 94,6 + 7,7 8,1 103,0 + 12,0 11,6 Perímetro do quadril (cm) 99,1 + 10,3 10,4 102,9 + 9,2 8,9 Perímetro da coxa medial (cm) 42,5 + 4,9 11,5 47,3 + 6,4 13,6 Perímetro da panturrilha (cm) 36,2+ 5,4 14,9 37,8 + 4,1 10,8 Perímetro do torácico (cm) 99,3 + 7,9 7,9 95,9 + 7,7 8,0 RCQ** 0,97 + 0,06 5,8 0,92 + 0,05 5,9 Análise descritiva. Dados apresentados em média + desvio-padrão. DP = desvio-padrão; CV = coeficiente de varia- ção; *Somatório de 5 dobras cutâneas. **Relação cintura-quadril. REV. BRAS. GERIATRIA E GERONTOLOGIA; 2006; 8(1); 9-20 Composição corporal de idosos 207 Figura 1 – Valores médios do percentual de gordura (%G), massa gorda (MG) e massa livre de gordura (MLG) dos indivíduos do gênero masculino (n=10) por diferentes equações de predição. São Paulo, 2007. *p<0,05 entre as equações. 20,4 53,0 27,8 * 21,8 51,6 21,9 0 10 20 30 40 50 60 70 %G MG (kg) MLG (kg) U A (U ni da d es A rb itr ár ia s) Petroski (1995) Durnin & Womersley (1974) Figura 2 – Valores médios do percentual de gordura (%G), massa gorda (MG) e massa livre de gordura (MLG) dos indivíduos do gênero feminino (n=27) por diferentes equações de predição. São Paulo, 2007. *p<0,05 entre as equações. 43,9 24,0 35,4 * 26,9 41,0 * 39,6 0 10 20 30 40 50 60 %G MG (kg) MLG (kg) U A (U n id a d e s A rb itr á ri a s) Petroski (1995) Durnin & Womersley (1974) 208 208 208 208 208 REV. BRAS . GERIATR. GERONTOL., 2009; 12(2):201-213 REV. BRAS. GERIATRIA E GERONTOLOGIA; 2006; 8(1); 9-20 DISCUSSÃO Como dito anteriormente, à época dessa pesquisa eram escassos os estudos realizados em âmbito nacional que traçavam o perfil antropométrico e estimam a composição corporal de idosos por meio da antropome- tria com equações previamente validadas. Assim, pode-se considerar este trabalho como pioneiro na linha de pesquisa em questão, sobretudo no tocante ao registro de variáveis antropométricas e predição da composição corporal por equação específica. Do total de idosos avaliados, 73% per- tenciam ao gênero feminino, o que demons- tra que nossos dados condizem com o nú- mero absoluto de mulheres idosas no Brasil quando confrontado com o de homens de 65 anos ou mais. Essa situação decorre da existência de mortalidade diferencial por sexo que prevalece há muito tempo na po- pulação brasileira. Desde 1950, as mulheres possuem maior esperança de vida. Em 1980, enquanto a expectativa de vida para os ho- mens era de 59 anos, para as mulheres era de 65 anos. Já em 1991, essa diferença cres- ceu para sete anos.20 De modo geral, podemos classificar a população deste estudo como eutrófica se- gundo a classificação proposta pelo NSI16 (baixo peso = <22; eutrofia = 22 a <27; sobrepeso = 27 a <30; obesidade = >30), Figura 3 – Valores médios do percentual de gordura (%G) dos indivíduos segundo o gênero por diferentes equações de predição. São Paulo, 2007. *p<0,05 entre os gêneros pela mesma equação de predição. * 35,4 27,8 39,6 21,8 0 10 20 30 40 50 60 Masculino (n=10) Feminino (n=27) % G (p e rc e n tu a ld e g o rd u ra ) Petroski (1995) Durnin & Womersley (1974) REV. BRAS. GERIATRIA E GERONTOLOGIA; 2006; 8(1); 9-20 Composição corporal de idosos 209 considerando que os indivíduos do gênero feminino estão na faixa limítrofe da eutro- fia. Tratando-se de estudos nacionais, nos- sos resultados de IMC são corroborados pelos estudos de Santos & Sichieri,21 nos quais o valor médio de IMC para mulheres de 70 a 79,9 anos foi de 24,5 kg/m2 e para homens de 60 a 69,9 anos de 25,2 kg/m2, e de Menezes & Marucci9 que encontraram IMC médio de 23,7 kg/m2 para mulheres de 70 a 79 anos. Elsangedy et al.8 encontra- ram um valor médio superior em mulhe- res idosas de IMC de 29,92 kg/m2. Contu- do, a divergência deste último em relação ao nosso estudo se deve, em parte, ao fato de que a população estudada não era sau- dável, pois apresentava o quadro de hiper- tensão arterial sistêmica. Já no estudo de caráter internacional de Arroyo et al.,22 os valores de IMC encontrados para homens e mulheres idosas condizem com os apre- sentados em nosso estudo. Apesar de nossos resultados serem um tanto quanto similares a estudos nacionais e internacionais, tal dado deve ser interpreta- do cuidadosamente, visto que as alterações nos compartimentos corporais em decor- rência da idade podem estabelecer um dife- rente diagnóstico, o que interferiria no pla- nejamento de uma intervenção nutricional e/ou física. Como já descrito anteriormente, os métodos duplamente indiretos de avaliação possuem algumas vantagens que os fazem amplamente utilizados. Assim, a tabela 2 tem o importante papel de registrar e esta- belecer medidas antropométricas de referên- cia com razoável exatidão. No contexto in- ternacional, apenas Baumgartner et al.23 rea- lizaram o registro de variáveis antropomé- tricas por meio da antropometria em 98 idosos de ambos os gêneros com idade en- tre 65 e 94 anos e, dentre as variáveis coleta- das, as dobras cutâneas triceptal e abdomi- nal se assemelham aos valores obtidos em nosso estudo. Apesar de as demais medidas diferirem em relação às apresentadas em nosso trabalho, dois pontos similares inte- ressantes foram encontrados: uma maior variação no valor de dobras cutâneas e me- nor variação de perímetros musculares den- tro da amostra. Recentemente, Nicastro et al.24 e Borba et al.25 descreveram uma interessante corre- lação entre diferentes variáveis antropomé- tricas localizadas sobre o mesmo ponto anatômico para compreender a variação te- cidual em alguns compartimentos corporais. Partindo deste princípio,observa-se nessa população variação tecidual acentuada, uma vez que o CV para as dobras cutâneas encon- tra-se alto, ao contrário do apresentado para os perímetros musculares. Mais especifica- mente, é possível observar que na região bra- quial a população estudada, em ambos os gêneros, não se apresenta homogeneidade, uma vez que o perímetro braquial apresenta baixo e a dobra cutânea alto CV, indicando assim uma possível variação tecidual. A mesma análise pode ser feita para a região abdominal, importante para a preven- ção e diagnóstico de comorbidades crônicas como diabetes tipo 2, hipertensão arterial e distúrbios do metabolismo lipídico.26,27 210 210 210 210 210 REV. BRAS . GERIATR. GERONTOL., 2009; 12(2):201-213 REV. BRAS. GERIATRIA E GERONTOLOGIA; 2006; 8(1); 9-20 Para o perímetro abdominal, nota-se que esta variável apresenta baixo CV e que indi- víduos dos gêneros masculino e feminino encontram-se em risco alto para o desenvol- vimento de complicações cardiovasculares segundo a WHO,17 respectivamente. Ao correlacionar tal variável com a dobra cutâ- nea triceptal, também é possível observar que há uma possível variação tecidual, pois esta última apresenta alto CV. Contudo, apesar de haver esta possível variação, os indivíduos encontram-se de modo geral em risco cardiovascular. Uma das hipóteses para o aumento do perímetro da cintura, princi- palmente em mulheres, refere-se a algumas alterações comportamentais que são carac- terísticas nesta população, como a redução nos níveis de atividade física e uma alimen- tação desequilibrada, as quais contribuem também para o comprometimento do per- fil antropométrico.28 Confirmando o diagnóstico estabeleci- do pelo perímetro abdominal, o valor mé- dio obtido pela RCQ em homens apresen- tou classificação de “risco moderado” e em mulheres “risco alto” para o desenvolvimento de complicações metabólicas, respectivamen- te, segundo Lohman.18 Nossos resultados são confirmados por estudos nacionais21 e internacionais23 que utilizaram esta variável para a avaliação. Segundo Costa,29 o somatório de dobras cutâneas é considerado um excelente indi- cador para estimar a gordura subcutânea, por ser previamente validado para a popu- lação brasileira. Na população de nosso es- tudo, os indivíduos de ambos os gêneros apresentaram classificação “normal” para a somatória, de acordo com Costa.29 Tal diag- nóstico pode ser explicado pelo fato de as dobras cutâneas apresentarem um alto CV em ambos os gêneros, o que consequente- mente se reflete também num alto CV para a somatória de dobras. Portanto, o resulta- do em questão deve ser interpretado cuida- dosamente e de maneira não isolada. Além disso, este é o primeiro estudo que registra o percentual de gordura corporal total por somatório de dobras cutâneas em idosos. As equações de predição são frequente- mente utilizadas na avaliação de indivíduos ou grupos populacionais, sem a realização de validação prévia na amostra que se pro- põe avaliar. Esse procedimento pode impli- car erros sistemáticos e levar à obtenção de estimativas menos confiáveis. Portanto, ve- rificar a validade das equações para a popu- lação que se pretende avaliar é de extrema importância para a obtenção de estimativas mais confiáveis.13 Assim como o somatório de dobras cutâneas, a equação de Petroski11 apresenta validade para a população brasi- leira. Quando analisamos as equações para cálculo do %G, verificamos que há diferen- ça significativa entre as mesmas. Na equação proposta por Petroski,11 há diferença estatística significativa entre ho- mens e mulheres, o que é previsto, pois se sabe que indivíduos do gênero feminino possuem diferenças em termos de distribui- ção dos compartimentos corporais com maior adiposidade glúteo-femoral e menor massa muscular esquelética.30 Entretanto, o oposto ocorre na equação proposta por REV. BRAS. GERIATRIA E GERONTOLOGIA; 2006; 8(1); 9-20 Composição corporal de idosos 211 Durnin & Womersley.12 Quando analisamos as duas equações para o mesmo gênero, ve- rificou-se que Durnin & Womersley12 su- perestimou e subestimou significativamen- te o %G em mulheres e homens, respectiva- mente, em relação ao resultado apresenta- do por Petroski.11 Estudos nacionais que determinam o %G total de idosos por meio do somatório de dobras cutâneas e por equações de pre- dição são escassos. Neste último parâme- tro, nossos resultados podem ser compara- dos a estudos internacionais que utilizaram métodos considerados “padrão-ouro” de avaliação da composição corporal. Baum- gartner et al.23 estimaram a composição cor- poral de idosos saudáveis por meio do mo- delo de quatro compartimentos corporais baseado na hidrodensitometria, diluição de 3H2O e da fóton absorção dual e encontram valor médio de %G de 23,32% em homens e 31,53% em mulheres, valores que se apro- ximam aos obtidos em nosso estudo. Ar- royo et al.22 avaliaram a composição corpo- ral de idosos por DEXA e encontraram %G médio para homens e mulheres com idade inferior a 75 anos de 24,9% e 27,8%, res- pectivamente, dados que se aproximam ao de nosso estudo, sobretudo na população do gênero masculino. CONCLUSÕES A ampliação de estudos de composição corporal e perfil antropométrico em ido- sos utilizando as variáveis dobras cutâneas e perímetros musculares de modo mais abran- gentes favorecem o melhor diagnóstico do estado nutricional desta população, o que facilita o planejamento e a elaboração de uma conduta a ser aplicada. Os resultados observados em nossa po- pulação de estudo sugerem atenção quanto à necessidade de se intervir nutricionalmente na rotina desta população, para que estraté- gias alimentares possam auxiliar na redução dos valores antropométricos elevados, cola- borando assim para a diminuição de riscos de patologias associadas à obesidade. Os valores para classificação do IMC utilizados neste estudo são similares aos propostos pelo Ministério da Saúde,31 demonstrando que os pontos de corte adotados atendem à po- pulação brasileira. Adicionalmente, a equa- ção proposta por Petroski11 para a avaliação do %G, neste estudo, atendeu de modo sa- tisfatório aos critérios de aplicação utiliza- dos e mostrou ser adequada, com base nos estudos internacionais, para a população em relação à equação proposta por Durnin & Womersley,12 indicando uma alternativa positiva e mais próxima da realidade brasi- leira. Contudo, há necessidade de realizar novos estudos que verifiquem a eficiência dessa e de outras metodologias, bem como uma discussão profunda entre a comunida- de científica, antes que sejam adotadas em larga escala. Vale ressaltar que a principal limitação do presente estudo é o baixo número amos- tral, o que impede que sejam realizadas aná- lises estatísticas específicas com estratifica- ção da amostra. Vale destacar, ainda, que a mensuração de medidas antropométricas em 212 212 212 212 212 REV. BRAS . GERIATR. GERONTOL., 2009; 12(2):201-213 REV. BRAS. GERIATRIA E GERONTOLOGIA; 2006; 8(1); 9-20 idosos, principalmente dobras cutâneas e perímetros, sofre interferência do processo de perda de tecido muscular esquelético. Estudos futuros podem ampliar o nú- mero amostral e desenvolver mais análises acerca deste importante e interessante tema. REFERÊNCIAS 1. Mendes MRSSB, et al. A situação social do idoso no Brasil: uma breve consideração. Acta paulista de enfermagem 2005; 8(4): 422-6. 2. Menezes TN, Lopes FJN, Marucci MFN. Estudo domiciliar da população idosa de Fortaleza/CE: aspectos metodológicos e características demográficas. Revista brasileira de epidemiologia 2007; 10(2): 168-77. 3. Fillenbaum GG. The wellbeing of the elderly: approaches to multidimensional assessment. Geneva: WHO; 1984. 4. Guralnik JM, Lacroix AZ. Assessing physical function in older populations. 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Esporte, Campinas, v. 29, n. 2, p. 129-146, jan. 2008 DIFERENÇAS ENTRE O CHUTE REALIZADO COM O MEMBRO DOMINANTE E NÃO-DOMINANTE NO FUTSAL: VARIABILIDADE, VELOCIDADE LINEAR DAS ARTICULAÇÕES, VELOCIDADE DA BOLA E DESEMPENHO FABIO AUGUSTO BARBIERI Graduação em bacharelado e licenciatura em educação física pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) Mestrado em ciências da motricidade humana pela Unesp Membro do Laboratório de Análise Biomecânica (Labio) – Universidade Estadual Paulista (Unesp) Experiência na área de educação física, com ênfase em futebol, futsal, biomecânica e comportamento motor, atuando principalmente nos seguintes temas: aspectos técnicos, táticos, físicos e psicológicos do futebol/futsal e análise cinemática do movimento E-mail: barbieri_rc@hotmail.com PAULO ROBERTO PEREIRA SANTIAGO Graduação em bacharelado em educação física pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) Mestrado em ciências da motricidade humana pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) Professor da Universidade do Estado de Minas Gerais/ Fundação de Ensino Superior de Passos (UEMG/Fesp) Professor da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) Membro do Laboratório de Análise Biomecânica (Labio) – Universidade Estadual Paulista (Unesp) Experiência na área de educação física, com ênfase em métodos de análise biomecânica, atuando principalmente nos seguintes temas: futebol, biomecânica, chute, análise cinemática e padrões cinemáticos E-mail: santiago@rc.unesp.br LILIAN TERESA BUCKEN GOBBI Graduação em licenciatura em educação física e técnico desportivo pela Escola de Educação Física e Desportos do Paraná Graduação em pedagogia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) Mestrado em ciência do movimento humano pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) Doutorado em Kinesiology – University of Waterloo Coordenadora do Laboratório de Estudos da Postura e da Locomoção – Universidade Estadual Paulista (Unesp) Professora assistente doutora da Unesp Experiência na área de educação física, com ênfase em comportamento motor, atuando principalmente nos seguintes temas: desenvolvimento motor, envelhecimento, atividade física, postura e locomoção E-mail: ltbgobbi@rc.unesp.br 130 Rev. Bras. Cienc. Esporte, Campinas, v. 29, n. 2, p. 129-146, jan. 2008 SERGIO AUGUSTO CUNHA Graduação em educação física pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) Mestrado em ciências do esporte pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Doutorado em ciências do esporte pela Unicamp Livre-docência pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) Professor adjunto da Unicamp Membro do Laboratório de Instrumentação para Biomecânica – Unicamp Experiência na área de educação física, com ênfase em métodos de análise biomecânica, atuando principalmente nos seguintes temas: futebol, biomecânica, chute, análise cinemática e padrões cinemáticos E-mail: scunha@fef.unicamp.br RESUMO O objetivo deste estudo foi examinar a variabilidade do movimento angular das articulações do quadril, joelho e tornozelo durante o chute com o dominante e não-dominante no futsal e também avaliar o desempenho, a velocidade da bola e a velocidade linear destas articulações e do pé durante os chutes. Os participantes realizaram cinco chutes com máxima velocidade com cada membro, que foram filmados por câmeras digitais a 120 Hz, objetivando acertar um alvo de 1 m2 posicionado no centro do gol. As imagens dos chutes foram analisadas no software DVIDEOW e os dados brutos foram suavizados através da função LOESS. Os resul- tados apresentaram melhor desempenho, maior velocidade da bola e menorvariabilidade para o membro dominante; e maior velocidade linear para o lado não-dominante. PALAVRAS-CHAVE: Biomecânica; Variabilidade de Movimento; Assimetria; Chute; Futsal. INTRODUÇÃO O estudo do ato de chutar tem recebido muita atenção dos pesquisadores, e têm sido analisadas as diferentes formas de realização desse movimento em dife- rentes populações e condições. No entanto, é preciso ressaltar o fato do estudo extensivo do chute realizado com o dorso do pé, o qual tem sido analisado em vários aspectos importantes como o desempenho (LEES; NOLAN, 2002), a velocida- de da bola (LUHTANEN, 1994; LEVANON; DAPENA, 1998; NUNOME et al., 2002; SOUSA; GARGANTA; GARGANTA, 2003), análise cinemática do membro de chute (LEVANON; DAPENA, 1998; CUNHA et al., 2002; TOL et al., 2002), a cinemática e força de reação sobre o solo do membro de suporte (BARBIERI; GOBBI; LIMA JR., 2006; WONG et al., 2007) e a variabilidade do movimento de chute (BARFIELD, 1995; DAVIDS; LEES; BURWITZ, 2000; LEES; NOLAN, 2002). Apesar de esse tipo de movimento vir recebendo grande atenção, a maioria dos trabalhos analisa o chute realizado com o membro dominante. Mas, como afirmam Starosta (1993) e Carey et al. (2001), a ambidestria do membro inferior pode contribuir muito para as perspectivas técnicas e táticas de uma equipe ou de 131Rev. Bras. Cienc. Esporte, Campinas, v. 29, n. 2, p. 129-146, jan. 2008 um jogador durante uma partida. Apesar disso, como pode ser observado durante os jogos de futsal e futebol, os jogadores não fazem uso simétrico dos membros, utilizando quase que exclusivamente o membro dominante. De acordo com Carey et al. (2001), a maioria dos atletas não usa seu membro não-preferido durante as ações do jogo, mesmo sendo bem-sucedidos quando o fazem, só ocorrendo o uso em situações consideradas de fácil atuação. Com isso, o rendimento do atleta e da equipe durante a partida é deficitário pela não-utilização semelhante dos membros. Por isso, o interesse nos aspectos que podem influenciar na eficiência do membro não-dominante deve ser evidenciado e analisado, contribuindo para a simetria de desempenho entre os lados no chute. A assimetria entre os lados é uma conseqüência da lateralidade humana. Em geral, a preferência por um dos lados é explicada pela diferenciação em dois hemis- férios cerebrais (MARTIN; MACHADO, 2005; BARUT et al., 2007). Essa diferenciação é responsável pelo funcionamento não equivalente entre os hemisférios, o que causa a dominância de um dos lados. No entanto, mesmo tendo um lado dominante, a preferência pedal durante uma ação depende do papel do membro na tarefa (SADEGHI et al., 2000; GOBBI; GARGANTE; GARGANTA, 2001). De acordo com Martin e Porac (2007), não existe membro inferior dominante, pois um dos membros é usado para suporte enquanto o outro é utilizado para a ação. Dessa forma, para as pes- soas destras o membro direito é dominante para a realização do chute (membro de chute) e não-dominante para o suporte e a estabilização do corpo quando o chute é realizado com o membro esquerdo (membro de suporte). Para as pessoas sinistras ocorre o mesmo, mas de maneira inversa, sendo o membro esquerdo o dominante para a realização do chute. Por essa explanação nota-se que os membros contralaterais são assimétricos desde sua origem. Também se sabe que a diferença na quantidade de prática entre os membros no treinamento de futsal e futebol ocorre desde o início do aprendiza- do, o qual se caracteriza pelo uso quase único do membro dominante pelo prati- cante e causa uma outra assimetria, agora na preparação técnica dos atletas (STAROSTA, 1993; CAREY et al., 2001). Mas, do mesmo modo, tem-se conhecimento de que essas assimetrias podem ser amenizadas ou sanadas pela prática semelhante entre os membros homólogos (HAALAND; HOFF, 2003; TEIXEIRA; SILVA; CARVALHO, 2003). Contudo, ainda não se tem conhecimento de quais são os principais fatores duran- te o movimento de chute que causam essas diferenças entre os lados, e, conse- qüentemente, tem-se dificuldades durante o treinamento de evidenciar aos atletas quais os erros que eles cometem durante a ação e devem corrigir. Dessa forma, alguns pesquisadores têm investigado as principais diferenças existentes entre os membros. Teixeira, Silva e Carvalho (2003) e Haaland e Hoff 132 Rev. Bras. Cienc. Esporte, Campinas, v. 29, n. 2, p. 129-146, jan. 2008 (2003) analisaram as diferenças no desempenho. Existe também a preocupação de outros autores com as diferenças na velocidade da bola e com as variáveis cinemáticas, como a velocidade linear das articulações (MCLEAN; TUMILTY, 1993; BARFIELD, 1995; BARFIELD; KIRKENDALL; YU, 2002; DÖRGE et al., 2002; NUNOME et al., 2006; BARBIERI; GOBBI; LIMA JR., 2006). No entanto, o estudo da variabilidade de movimento dos membros contralaterais é negligenciado, mesmo sendo esse um fator que pode causar deficiências no rendimento. A variabilidade do movimento emerge dos múltiplos graus de liberdades ine- rentes no sistema motor (BERNSTEIN, 1967). Esses graus de liberdade são responsá- veis por uma enorme plasticidade vista no sistema motor e permite à pessoa adap- tar-se mudando o comportamento de acordo com a restrição da tarefa (LI; HADDAD; HAMILL, 2005). Entretanto, quando se realiza uma mesma tarefa várias vezes, tendo o mesmo objetivo, por exemplo, tentar o acerto do centro do alvo no arco-e- flecha, a pequena variabilidade do movimento, desde que ele sempre acerte o alvo ou próximo dele, é de extrema importância para que a pessoa tenha um ótimo rendimento em todas as tentativas. A redução da variabilidade representa maior consistência da ação (TANI, 2000). Dessa forma, pode-se determinar o grau de precisão de uma performance motora quantificando a variabilidade associada com repetitivas tentativas do movimento (DAVIDS; LESS; BURWITZ, 2000). Assim, o objetivo do presente estudo foi examinar a variabilidade do movi- mento das articulações do quadril, joelho e tornozelo do membro dominante e não-dominante no chute do futsal e também avaliar o desempenho, a velocidade da bola e a velocidade linear dessas articulações e do segmento pé. Essas análises sugerem as seguintes hipóteses: 1) o desempenho, a velocidade da bola e as velo- cidades lineares das articulações serão maiores para o membro dominante; 2) a variabilidade do lado dominante será menor que para o membro contralateral. MATERIAIS E MÉTODOS Participantes Participaram deste estudo 19 jogadores destros (Tabela 1) de futsal que fo- ram informados dos procedimentos e os responsáveis assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido aprovado pelo Comitê de Ética da instituição (protocolo n. 1.972). Os participantes foram considerados destros por meio da observação de jogos, sendo analisado qual membro eles mais utilizavam durante as partidas e também pela simples pergunta de qual era o membro de preferência de cada participante. 133Rev. Bras. Cienc. Esporte, Campinas, v. 29, n. 2, p. 129-146, jan. 2008 Procedimentos Os participantes realizaram cinco chutes com cada membro (dominante e não-dominante). Os chutes foram realizados após um apito, com a bola parada a 10m do gol (tiro livre), a qual deveria ser tocada com o dorso do pé. A instrução passada aos participantes foi que realizassem um chute tentando empregar máxima velocidade à bola e com intuito de acertá-la em um alvo de 1m2 colocado no centro do gol. A bola utilizada foi do tamanho e calibração padrão da Fédération Internationale de Football Association (Fifa) para essa idade. Os chutes foram prece- didos por um aquecimento para evitar contusões e realizados em uma quadra ofi- cial de futsal. Foi permitido aos participantes realizarem a corrida de aproximação da maneira preferida. A ordem dos chutes dos participantes foi definida aleatoria- mente, sendo que foram analisados um total de 95 chutes com cada membro. Os participantes foram filmados por quatro câmeras ajustadas com freqüên- cia de 120Hz e shutter a 1/250. As câmeras permaneceram sobre tripés, duas de cada lado, posicionadas
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