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é o encaixe de determinada conduta, a qual lesiona bem jurídico ou o expõe a perigo de lesão, de forma significativa, a determinado tipo penal incriminador Tipicidade é gênero, do qual ocorrem duas espécies: formal e material. Para ter a tipicidade gênero precisa ter essas duas espécies. Deste conceito, tem-se que para existir tipicidade penal a seguintes perguntas, nesta ordem, devem ser feitas: 1) a conduta ocorrida se encaixa a algum tipo penal incriminador? Caso a resposta seja NÃO, já se pode afirmar que não existe tipicidade sob o aspecto formal. Caso seja SIM, faz-se outra pergunta: *tipo penal incriminador é uma conduta descrita em lei para a qual se tenha a previsão de uma pena 2) a conduta ocorrida lesiona ou expõe a perigo de lesão, significativamente, o bem jurídico? Caso a resposta seja NÃO, já se pode afirmar que não existe tipicidade sob o aspecto material. Caso seja SIM, agora podemos dizer que existe tipicidade. A TIPICIDADE PENAL, pois, é a junção da tipicidade formal com a tipicidade material. Perceba: a constatação de que existe tipicidade formal (resposta positiva àquela primeira pergunta) não é suficiente para que se diga que há TIPICIDADE PENAL, pois se fará necessário constatar se existe tipicidade material. Jamais será possível haver tipicidade material sem haver a formal, aquela depende desta; é possível, entretanto, haver tipicidade formal e não haver a material? Sim, é possível. Contudo, como explicado acima, neste caso não existe TIPICIDADE PENAL, pois esta é a conjugação da tipicidade formal com a tipicidade material. Quando acontece, então, de um fato ser formalmente típico, mas materialmente atípico? Isso ocorre quando o fato formalmente típico acontece em uma situação onde incide o princípio da insignificância, o princípio da adequação social ou o consentimento do ofendido Princípio da insignificância: incide quando um fato formalmente típico é materialmente atípico porque a lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico é ínfima, irrisória, írrita, insignificante. Isso porque o direito penal deve ser a última ratio, pois só deve ser invocado quando outros setores não forem suficientes a solucionar os conflitos sociais, eis que somente os bens jurídicos relevantes (ameaçados ou ofendidos), merecem a tutela do Direito Penal. Exemplo: C subtrai, para si, uma caneta bic de uma enorme livraria. Este fato é formalmente típico (se encaixa na conduta descrita no artigo 155 do Código Penal), mas é materialmente atípico porque a subtração de apenas uma caneta bic não lesiona, de forma significativa, o bem jurídico patrimônio da livraria. Princípio da adequação social: quando um fato formalmente típico é materialmente atípico porque a conduta praticada é aceita, tolerada pela sociedade. Exemplo: C participa de jogos de azar. Este fato é formalmente típico (se encaixa na conduta descrita no artigo 50 da Lei de Contravenções Penais), mas SERIA materialmente atípico porque esta conduta SERIA aceita pela sociedade. Consentimento do ofendido: o consentimento do titular de um bem jurídico disponível afasta à contrariedade do comportamento à norma jurídica, ainda que a conduta consentida possa, formalmente, estar adequada a um modelo abstrato de proibição. Esses 3 são causas extralegais de exclusão Princípio da insignificância x princípio da adequação social O que eles têm em comum: a) se incidirem ao caso concreto tornarão a conduta atípica materialmente; b) não possuem previsão legal, sendo criação doutrinária; c) são instrumentos de interpretação restritiva do tipo penal. O que eles têm de diferente: a) o conceito; b) a jurisprudência dos Tribunais Superiores, em alguns casos, ACEITA a aplicação do princípio da insignificância e RECHAÇA, sempre, a aplicação do princípio da adequação social. A jurisprudência (STF e STJ) exige como condição para aplicação do princípio da insignificância ao caso concreto duas condições: a primeira é a de que os vetores criados pelo STF estejam, cumulativamente, presentes; a segunda é a de que não haja vedação absoluta, de acordo com a jurisprudência, tomando por base a natureza da infração penal. Quanto à primeira condição, quais são e quanto são estes vetores? São quatro: a) mínima ofensividade da conduta do agente; b) ausência de periculosidade social da ação; c) reduzido grau de reprovabilidade do comportamento e d) inexpressividade da lesão jurídica causada. Ausente qualquer deles não pode haver a aplicação deste princípio. Quanto à segunda condição, a jurisprudência trabalha com dois tipos de vedação de aplicação deste princípio pelo critério de natureza da infração penal. a) vedação absoluta: determinados tipos penais não admitem, de forma alguma, a aplicação do princípio da insignificância. b) vedação relativa: determinados tipos penais admitem, desde que presentes os quatro vetores, a aplicação do princípio da insignificância. Exemplos de vedação absoluta: crimes que possuam violência ou grave ameaça à pessoa, crimes contra a fé pública, crimes eleitorais, crimes tipificados na lei de drogas, crimes tipificados no estatuto do desarmamento, crimes onde haja a incidência da lei maria da penha, crime de contrabando, furto qualificado… Exemplos de vedação relativa: furto simples, crimes ambientais, descaminho… Atenção: no que tange aos crimes contra a administração pública, a orientação dependerá de estarmos considerando a posição do STJ ou a do STF. Superior Tribunal de Justiça: não se aplica o princípio da insignificância em crimes contra a administração pública (súmula 599), exceto em caso de descaminho (art. 334, CPB), sendo considerada, neste caso, como insignificante a quantia que não ultrapasse R$ 20.000,00 (mesmo valor considerado pelo STF); Supremo Tribunal Federal: em regra se aplica, exceto em caso de contrabando (art. 334-A, CPB). As jurisprudências do STF e do STJ não aceitam a aplicação do princípio da adequação social e o STJ, inclusive, possui sumula neste sentido (n° 502): “Presentes a materialidade e a autoria, afigura-se típica, em relação ao crime previsto o art. 184, § 2°, do CP, a conduta de expor à venda CDs e DVDs pirata