Buscar

Curso_Brasil_Paralelo_-_Os_oito_mitos_da_legalização_da_maconha_-_Marcus_Lins (1)

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 91 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 91 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 91 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

E - B O O K B P O S O I T O M I T O S D A L E G A L I Z A Ç Ã O D A M A C O N H A
1
CURSO 
“OS OITO MITOS DA LEGALIZAÇÃO 
DA MACONHA”
 COM PROFESSOR MARCUS VINICIUS LINS 
BONS ESTUDOS! 
O curso Oito Mitos da Legalização da Maconha tem como 
intenção preencher uma lacuna importante na discussão sobre a 
legalização das drogas. Atualmente, vemos apenas um dos lados 
se manistando sobre essa possibilidade. Mas será que a legalização 
é tão simples assim? Será que não tem mais nada a dizer sobre 
esse tema?
A verdade é que legalizar a maconha envolve vários riscos à 
saúde, e muitos interesses financeiros e ideológicos.
SINOPSE
A HISTÓRIA DA MACONHA
AULA 1
E - B O O K B P O S O I T O M I T O S D A L E G A L I Z A Ç Ã O D A M A C O N H A
4
Hoje eu apresentarei, no Núcleo de Formação da Brasil Paralelo, o 
curso “Os oito mitos da legalização da maconha”. É um tema muito polêmico, 
mas é necessário discutirmos, e devemos fazê-lo jogando aberto, abordando 
efetivamente as questões que envolvem essa droga, pois observamos que os 
debates atuais não tratam de todos os aspectos relacionados à legalização. 
Assim que começou o curso, eu fui pesquisar a respeito da 
legalização da maconha, porque senti uma necessidade de compreender 
melhor esta questão. No decorrer dessa busca, foi ficando claro que as 
coisas não eram tão simples como estavam dizendo: um senso comum que 
acabou se formando contagiou aspectos do debate e os deixou para trás, 
e precisávamos resgatá-los porque a legalização afetará você, a sua família, 
a sociedade. Também durante minhas pesquisas, constatei que ainda não 
temos no Brasil literatura a respeito da legalização da maconha. 
O estudo que vou desenvolver aqui com vocês teve como base dois 
principais livros. Eles me serviram como um esqueleto e, a partir deles, fui 
fazendo um paralelo com a realidade brasileira. O primeiro é Os Sete Mitos da 
Legalização1 da Maconha de Kevin Sabet. Ele é um estudioso do tema que 
mora no Colorado, Estados Unidos, e eu o considero hoje a maior referência 
mundial sobre o assunto. Pesquisando na internet, encontrei uma palestra 
dele2 em São Paulo, com tradução simultânea, na qual ele faz referência 
ao livro. Desenvolvi este curso a partir do material dele e acrescentei um 
oitavo mito para tratar especificamente da questão da violência no Brasil, 
pois é um aspecto muito importante para nós. O segundo livro, que dá 
1 SABET, K. Reefer Sanity: Seven Great Myths About Marijuana. Second Edition. United States: Beaufort Books, 
2018.
Kevin Sabet (1979) é Ph.D. e Mestre em Política Social pela Universidade de Oxford. Ele é considerado um dos 
maiores especialistas em políticas de droga e, por sua atuação na área, tornou-se referência mundial em pre-
venção. É co-fundador do Projeto SAM – Smart Approaches to Marijuana.
2 A palestra ocorreu durante o evento “O Impacto da Legalização das Drogas”, organizado pela Associação Pau-
lista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM), no dia 23 de agosto de 2014, no Palácio dos Bandeirantes, em 
São Paulo. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=pKQGG09utss&feature=emb_title. Acesso em: 30 jan. 
2021.
INTRODUÇÃO
E - B O O K B P O S O I T O M I T O S D A L E G A L I Z A Ç Ã O D A M A C O N H A
5
o conteúdo desta primeira aula, escrito por Alex Berenson3, foi um best-
seller nos Estados Unidos. Chama-se Tell Your Children: The Truth About 
Marijuana, Mental Illness, and Violence Hardcover (Fale a Verdade para as 
crianças: sobre a violência, a doença mental e a marijuana). 
Eu não prometo que, no fim deste curso, você terá mudado 
totalmente de ideia — quem sou eu para exigir isso e impor um tipo de 
pensamento —, mas não tenho dúvida nenhuma de que, após assistir a essas 
quatro aulas, você pensará muito, mas muito mesmo, sobre se devemos ou 
não legalizar a maconha no nosso país.
1.1. Estrutura do Curso
Eu preparei o curso para vocês da seguinte forma: 
A primeira aula é a história da maconha. Eu acrescentei este tema 
ao curso por considerá-lo muito importante. Depois que você estuda a 
história da maconha, de como foi evoluindo o uso da maconha, no século 
XX principalmente, fica fácil perceber o arco da narrativa e como ele foi 
moldado com o tempo, sobretudo nos famosos anos 60. Você perceberá 
que tudo o que vivemos hoje foi pensado por alguém lá trás. Não sabemos 
disso, parece que é um dado tirado da realidade quando, na verdade, é algo 
pensado com um objetivo. Essa aula é fundamental para encaixar em todos 
os demais mitos que trato nas aulas seguintes.
A segunda aula iniciarei tratando do uso da maconha no Brasil, do 
levantamento nacional feito para saber qual é a porcentagem de usuários 
no nosso país, para então abordar os mitos. O primeiro mito é o de que 
a maconha realmente não faz mal e não vicia. Será que a maconha é 
inofensiva? Será que não vicia? O segundo mito é sobre o uso medicinal 
da droga. Este tema é muito importante. É necessário legalizar a maconha 
para produzirmos remédios à base de Cannabis? Será que existe maconha 
3 Alex Berenson (1973), ex-repórter do The New York Times, é autor de vários romances. Seu livro Tell Your Chil-
dren: The Truth About Marijuana, Mental Illness and Violence gerou controvérsias devido às suas afirmações de 
que a cannabis causa psicose e violência.
E - B O O K B P O S O I T O M I T O S D A L E G A L I Z A Ç Ã O D A M A C O N H A
6
medicinal? 
Na terceira aula abordarei o terceiro mito: a legalização do álcool e 
do tabaco fortalecem o caso da maconha. Escutamos muito o argumento 
de que se a cerveja e o cigarro são legalizados, por que não a maconha. 
Com isso entramos no estudo do lobby da maconha — há muito dinheiro 
envolvido, não é pouco — no mundo, no Brasil e durante a pandemia. 
Veremos como eles tentam sempre se aproveitar de situações que fragilizam 
a sociedade para vender a ideia de que a legalização da maconha é um 
ganho social. E no fim desta aula tratarei do quarto mito: o imposto da 
maconha legalizada custeará a prevenção e o tratamento dos usuários. 
Quando defendem a legalização alegam, em seguida, que o dinheiro do 
imposto sobre a maconha subsidiará o usuário, porque é uma questão de 
saúde e segurança públicas.
Por fim, na quarta aula, que considero a principal, e é a que todo 
mundo espera, trato do quinto mito: inúmeras pessoas estão atrás das 
grades por portar ou fumar maconha. É o famoso “encarceramento em 
massa”. Será que o fato de a pessoa portar e fumar a maconha a leva a ser 
presa? Falaremos sobre encarceramento e os números de presos. O sexto 
mito: a legalização da maconha diminuirá de forma considerável o poder 
do tráfico de drogas e a violência nas ruas. Este - eu posso garantir - foi 
o argumento que mais ouvi e diante do qual eu efetivamente balançava, 
porque venho de uma cidade muito violenta. Sempre ficava pensando que 
se a legalização diminuir o número de mortes, há um ganho nisso. Eu perdi 
amigos para a violência urbana e, quando perdemos amigos próximos desta 
maneira, esse é um argumento que nos faz pensar. Mas vamos estudar para 
saber se isso de fato acontece. O sétimo mito (este também ouvimos muito): 
Uruguai, Holanda, Portugal e Estados Unidos são exemplos exitosos da 
legalização. Será que eles são? E o oitavo mito (este é o clímax): prevenção, 
intervenção e tratamento sem a legalização estão fadados ao fracasso. 
Quando falamos em como lidar com as drogas, escutamos que só existe 
E - B O O K B P O S O I T O M I T O S D A L E G A L I Z A Ç Ã O D A M A C O N H A
7
um caminho, e este caminho jamais passa pela proibição da venda.
Eu não tenho dúvida nenhuma de que vocês vão se surpreender 
com o conteúdo e de que terão condições de discutir com qualquer pessoa 
sobre a legalização, com dados e informações, fazendo com que o debate 
sobre esse assunto seja muito mais honesto. 
A BREVE HISTÓRIA DA MACONHA 
Como chegamos até aqui? Comochegamos ao ponto de a legalização 
da maconha estar sendo a panaceia para a solução desse problema? 
Estamos vendo um país atrás do outro legalizando — e no caso dos Estados 
Unidos, os estados, pois a lei é estadual. 
A título de curiosidade, a primeira vez que se documentou a 
maconha foi em um guia medicinal chinês escrito há cem anos antes de 
Cristo4. Este manual já advertia que o fumo da maconha fazia com que as 
pessoas ficassem agressivas e vissem demônios. Obviamente não retraçarei 
a história desde então até aqui. Darei um salto para o século XIX, período 
no qual dois países, bastante distintos e distantes, com muito pouco em 
comum, foram muito importantes para o atual debate sobre essa droga. 
2.1. O Caso do México
O primeiro é o México. A planta entrou no país com a chegada dos 
espanhóis que utilizavam as fibras para fazer corda e armamento de navios, 
mas as pessoas que trabalhavam nos portos e os mais pobres passaram a 
fumar a floração. Com o tempo, o uso da maconha foi se espalhando pelo 
México e, no século XIX, os problemas começaram a aparecer. Algumas 
manchetes dos jornais do fim desse século já alertavam sobre os efeitos da 
maconha:
4 Trata-se de uma farmacopeia chinesa também conhecida como Shen-nung Pen-tsao Ching. É o primeiro guia 
de referência abrangente sobre ervas e drogas alguma vez criado.
E - B O O K B P O S O I T O M I T O S D A L E G A L I Z A Ç Ã O D A M A C O N H A
8
 “Outro assassinato provocado pela marijuana”
 El Imparcial, 17 de junho de 18975 
“Um maconheiro anarquista”
El Imparcial, 11 de janeiro de 18976 
“Mastigou a orelha da mulher”
Mexican Herald, 19037
As pessoas fumavam e tinham surtos psicóticos:
“Loucos por causa da marijuana”
El Imparcial, 8 de junho 19048 
“Assassinato de um ministro protestante”
El Imparcial, 16 de fevereiro 19069 
“Cidade de Juárez é palco de espetáculo atroz”
El Diario, 3 de janeiro 191310 
5 Home Grown: Marijuana and the Origins of Mexico’s War on Drugs, Isaac Campos, pp. 265, 2014.
6 Op cit., pp. 265.
7 “An August 1903 report from the Mexican Herald offers a case in point: Yesterday morning Corporal Victoriano 
Reyes of the second cavalry arrived at his home in Tacubaya after smoking a ‘marihuana’ cigarette with some 
friend and began to beat his wife because she had not bathed his pet dog. The woman cried for help and then 
the mad soldier bit her, severing her right ear and a large part of the left cheek. At that moment a gendarme ap-
peared on the scene, but Reyes attacked him and bit a large slice of flesh from his arm. The gendarme had to call 
another policeman by firing his pistol and after half an hour’s struggle the rabid corporal was taken in a straight 
jacket to the police station”. Op cit., pp. 99.
“Um relatório do Mexican Herald de agosto de 1903 oferece um caso em questão: Ontem pela manhã o cabo Vic-
toriano Reyes da Segunda Cavalaria chegou em sua casa, em Tacubaya, após fumar um cigarro de maconha com 
um amigo e começou a bater em sua esposa porque ela não tinha dado banho no seu cachorro de estimação. A 
mulher gritou por socorro e o soldado louco a mordeu, arrancando-lhe a orelha direita e grande parte da boche-
cha esquerda. Nesse momento apareceu um militar em cena, mas Reyes o atacou e mordeu uma grande fatia de 
carne do braço. O militar teve de chamar outro policial disparando a sua pistola e, depois de meia hora de luta, o 
cabo raivoso foi levado em uma camisa de força para a delegacia.” (Tradução do transcritor)
8 Op cit., pp. 264.
9 Op cit., pp. 265.
10 Op cit., pp. 264.
E - B O O K B P O S O I T O M I T O S D A L E G A L I Z A Ç Ã O D A M A C O N H A
9
“O raciocínio desaparece de uma maneira absoluta na hora que se 
fuma marijuana”
El País, 7 de abril de 191311 
Podemos observar que, no fim do século XIX e início do século XX, 
já se sabia que a maconha causava muito mal. Os médicos mexicanos, 
preocupados com isso, resolveram realizar uma pesquisa, com oitocentos 
pessoas, sobre os efeitos da maconha. Esse estudo, publicado no Boston 
Medical and Surgical Journal, demonstrou uma correlação persistente 
entre surtos psicóticos e o uso da Cannabis. Foi o primeiro estudo do 
México12, já em 1908. Na época, essa dura reação médica junto à opinião 
pública causou efeito. Os mexicanos de maneira geral não tinham nenhum 
problema em utilizar ervas psicodélicas, pois, nos rituais religiosos, os xamãs 
usavam peyote e sálvia, cujos efeitos são psicotrópicos. Porém, a maconha 
provocava surtos psicóticos. Em virtude da pressão dos médicos e da mídia 
informando os efeitos deletérios da maconha, em 1920, o governo mexicano 
proibiu o seu uso. 
2.2. O Caso da Índia
O outro país, que também no fim do século XIX começava a apresentar 
problemas, é a Índia, então colônia britânica. Diferente do México, há muito 
tempo os indianos tinham o costume de se consumir a maconha, e este 
consumo se dava de três maneiras: o primeiro, o bhang, com baixo teor de 
TCH, que, depois de triturado tudo da maconha, eles misturavam em uma 
bebida e tomavam em eventos religiosos; o segundo, a ganja, o fumo da 
floração da maconha, com alto teor de THC, consumido usualmente; e o 
11 Op cit., pp. 261.
12 “A particularly interesting piece of evidence on this was offered in 1908 by an American physician working in 
a Durango mining camp. In a paper published in the Boston Medical and Surgical Journal and the New England 
Journal of Medicine, Dr. I. S. Kahn argued that cases of hysteria and mania were extremely common around the 
camp”. Op cit., pp. 177.
“Uma evidência particularmente interessante sobre isso foi oferecida em 1908 por um médico americano que 
trabalhava em um campo de mineração em Durango. Em um artigo publicado no Boston Medical and Surgical 
Journal e no New England Journal of Medicine, Dr. I. S. Kahn argumentou que os casos de histeria e mania eram 
extremamente comuns em torno do campo.” (Tradução do transcritor)
E - B O O K B P O S O I T O M I T O S D A L E G A L I Z A Ç Ã O D A M A C O N H A
10
terceiro, o charas, feito a partir da resina da maconha, também chamado 
“haxixe indiano”, contendo altíssimo teor de THC.
 Em 1860, começou uma movimentação de médicos britânicos sobre 
o impacto do uso da maconha nas internações psiquiátricas. Os hospitais 
psiquiátricos estavam muito cheios, e havia uma grande desconfiança 
de que a causa era a maconha. Como isso chamou a atenção, o governo 
britânico pediu um relatório sobre o uso da maconha na Índia. E qual era 
a preocupação do governo britânico? A taxação da maconha era uma 
dos principais fontes de receitas governamentais na Índia e a proibição 
significaria uma perda considerável de dinheiro. Convocaram então uma 
Comissão Indiana das Drogas, composta de quatro britânicos e três indianos, 
para tratar do tema e dar uma resposta à questão da maconha. A decisão 
final: apenas aumentar os impostos para diminuir o consumo sem proibir 
o uso. 
Porém, essa decisão não foi unânime. Dos sete membros, dois 
indianos votaram contra o relatório porque a grande maioria dos médicos 
britânicos consultados era favorável à proibição imediata do ganja e 
do haxixe devido ao alto teor de TCH e à taxação apenas do bhang, cujo 
teor era baixo. Contudo, essas distinções dos três tipos de uso da droga 
foram ignoradas no relatório — o que dava uma falsa impressão de que a 
maconha possuía baixo potencial nocivo — e optaram por taxar tudo. Ou 
seja, o dinheiro falou mais alto (como vocês verão no decorrer das aulas, no 
fundo só o dinheiro importa). Com o passar do tempo, restou provado que 
aumentar a taxação não desencorajou o consumo. Para se ter uma ideia, 
por volta de 1920, 30% das interações nos hospitais psiquiátricos indianos 
tinham relação com o uso da maconha. 
Observa-se, portanto, que esses dois países já mostravam a existência 
de problemas no uso da maconha. Ela não era inofensiva. Porém, o alerta foi 
desdenhado, pois o dinheiro faloumais alto.
E - B O O K B P O S O I T O M I T O S D A L E G A L I Z A Ç Ã O D A M A C O N H A
11
2.3. O Caso dos Estados Unidos
Na década de 1930, a maconha chega nos Estados Unidos e começa 
a fazer barulho. Mas Harry J. Anslinger13, o comissário do escritório federal 
sobre drogas, se antecipa. Para evitar que o problema se tornasse gigante nos 
Estados Unidos, ele alertou sobre os perigos da maconha, apresentando as 
pesquisas que mostravam os efeitos deletérios da maconha e incentivando 
a mídia a publicá-los, com o objetivo de fazer a opinião pública ficar contra 
o uso da maconha e proibir o uso. Em 1937 ele alcança o intento. No dia 
2 de agosto deste ano, o Presidente Franklin Roosevelt14 resolveu multar 
toda pessoa que fumasse maconha nos Estados Unidos, o que equivalia à 
proibição. A impressão que ficou é a de terem vencido essa guerra contra 
a maconha. Ledo engano. A famosa década de 1960 chegou e provou 
justamente o contrário.
Para melhor entender onde a maconha entra nesse contexto, eu 
preciso antes falar um pouco sobre o chamado “marxismo cultural”. Desde o 
século XX, a União Soviética estava incomodada. Por quê? De uma maneira 
bem simples: segundo o marxismo clássico, a sociedade está fundada em 
duas estruturas, a infraestrutura e a superestrutura, e, para criar uma nova 
sociedade totalmente diferente dessa pequeno-burguesa, era necessário 
tomar a infraestrutura (meios de produção, fazendas, fábricas) para que 
a superestrutura (religião, família, direito) viesse abaixo. No entanto, isso 
não aconteceu. Eles tomaram as fábricas e as fazendas e a superestrutura 
continuou como estava. Surge então, na década de 1920, um grupo de 
estudiosos muito inteligentes financiado pelo capitalismo. Esse grupo cria a 
famosa Escola de Frankfurt15, que tinha ligação direta com a União Soviética, 
13 Harry J. Anslinger (1992-1975) foi um Comissário do Serviço de Narcóticos dos Estados Unidos, cargo criado du-
rante a gestão do presidente Herbert Clark Hoover.
14 Franklin Roosevelt (1933-1945), político norte-americano e 32º Presidente dos Estados Unidos. Dentre as suas 
ações contra as drogas, Roosevelt pressionou o presidente Getúlio Dornelles Vargas a proibir a venda de cigarrilhas 
de maconha em nosso país, que eram livremente comercializados. À época, a marca Guarany era a mais vendida.
15 Escola de Frankfurt é uma vertente de teoria social e de filosofia. Inicialmente consistia de cientistas sociais 
marxistas dissidentes que acreditavam que alguns dos seguidores de Karl Marx tinham se tornado repetidores de 
algumas ideias marxistas. Muitos deles admitiam que a teoria marxista clássica não explicava adequadamente o 
turbulento e inesperado desenvolvimento de sociedades capitalistas no século XX. Críticos tanto do capitalismo e 
do socialismo da União Soviética, os seus escritos apontaram para a possibilidade de um caminho alternativo para 
o desenvolvimento social.
E - B O O K B P O S O I T O M I T O S D A L E G A L I Z A Ç Ã O D A M A C O N H A
12
e começa a rever através da teoria crítica (a dialética do esclarecimento), a 
maneira de criar uma nova sociedade. Max Horkheimer16, Herbert Marcuse17 
e outros têm um olhar diferente. Para eles, a questão não é você pegar a 
infraestrutura, e sim a superestrutura. Portanto, estava na hora de começar 
a questionar a família, a religião, de entrar na cultura, infiltrando-se em 
Hollywood e nas editoras. Apenas modificando a superestrutura é que é 
possível mudar a sociedade.
A Escola de Frankfurt foi crescendo e chega a seu ápice na década de 
60, quando se passa a contestar tudo o que é burguês, ou como costuma 
dizer, tudo o que é branco, hétero, capitalista e opressor. Todos os hábitos e 
costumes do que consideravam o status quo tinham de ser combatidos. E 
qual eram as drogas da burguesia? Cerveja, uísque, cigarro e charuto. E foi 
uma efervescência essa década. Nos Estados Unidos, houve Woodstock e o 
envolvimento na Guerra do Vietnã. Esta era combatida internamente com 
uma propaganda massiva dizendo que era um erro dos Estados Unidos se 
meterem nela. Sabemos que, quando os Estados Unidos saíram da região, o 
comunismo se expandiu e matou milhões de pessoas. Mas a mídia já estava 
tomada e as pessoas acreditavam naquilo que ela dizia. Na França, o Maio 
de 68 com o lema “É proibido proibir”. Tudo tinha de ser diferente. Aquela 
juventude revoltada queria romper com o paradigma burguês. E se vocês 
observarem as fotos de Woodstock, a droga que as pessoas usavam era 
a maconha. A maconha então vira um símbolo da paz (e é até hoje). A 
pessoa que fuma maconha é relaxada, não quer saber de briga, é diferente 
do burguês, do capitalista malvadão, que fica tomando uísque, fumando 
charuto e oprimindo as pessoas. Eles venderam essa imagem e - o pior - 
colou. Eu sempre digo: enquanto as outras drogas têm usuários, a maconha 
tem militantes políticos. Nada disso foi por acaso, foi pensado, e temos de 
16 Max Horkheimer (1895-1973), sociólogo e filósofo alemão, foi um dos fundadores da Escola de Frankfurt. Dentre 
seus trabalhos mais importantes, encontra-se Dialética do Esclarecimento (1947), escrito em colaboração com 
Theodor Adorno.
17 Herbert Marcuse (1898-1998), sociólogo e filósofo alemão, naturalizado americano, pertencia à Escola de Frank-
furt. Em seus escritos, fez críticas ao capitalismo, à tecnologia moderna, ao materialismo histórico e à cultura de 
entretenimento, argumentando que representavam formas de controle social.
E - B O O K B P O S O I T O M I T O S D A L E G A L I Z A Ç Ã O D A M A C O N H A
13
combater isso.
Foi grande o impacto dessa geração dos anos de 1960. Na década de 
70, o número de usuários de maconha começa a explodir. Em 1973, um 
estudo da Gallup informou que 12% das pessoas declararam já ter fumado 
maconha uma vez na vida. Dois anos depois, o número aumentou para 30%, 
e entre jovens de 18 a 24 anos chegou a 50%18. Essa juventude não queria 
saber dos coroas caretas que só oprimiam e queriam guerra, ela queria 
fazer amor e paz, e a maconha era o símbolo disso. O ponto-chave, contra 
o qual brigamos até hoje — e é uma luta árdua, pois é difícil tirar isso do 
imaginário das pessoas —, é que houve uma glamourização da maconha. 
E muitos, à época, se aproveitaram da situação para fazer muito dinheiro.
A revista High Times19 foi um marco na década de 1970. Ela foi criada 
por Tom Forcade20 com uma intenção muito simples: promover a legalização 
da maconha. Com uma tiragem muito alta (500.000 exemplares por mês), 
a High Times foi importantíssima para vender a ideia de que a maconha 
não fazia mal e era a droga da nova geração, uma geração totalmente 
diferente daquela corrupta, burguesa e opressora. 
Mas Tom Forcade pagou um preço pelo uso constante da maconha. 
Em dado momento ele passou a sofrer surtos psicóticos. Numa entrevista 
em 1978, ele reclamou: “As agências governamentais plantaram mulheres 
informantes para me ferrar e informantes em cargos de gerência na High 
Times. Eu tenho passado os últimos dez anos numa prisão — tenho estado 
sob estreita vigilância”. Forcade estava com mania de perseguição. Três 
semanas depois, ele se matou com um tiro na cabeça durante um surto. 
18 “By march 1973, 12 percent of Americans surveyed by Gallup said they had used the drug at least once - a 
tripling in three years. Among young people, use spread even faster. Half off all Americans aged 18 and 24 used 
cannabis by 1975”. Tell Your Children: The Truth About Marijuana, Mental Illness, and Violence, Alex Berenson, p. 
24, 2019.
“Em março de 1973, 12% dos americanos entrevistados pela Gallup disseram que ter usado a droga pelo menos 
uma vez — o triplo em três anos. Entre os jovens, o uso se espalhou ainda mais rápido. Metade de todos os ameri-
canos com idade entre 18 e 24 anos já haviam fumado maconha em 1975.” (Tradução do transcritor).
19 HighTimes: Guide to Growing Giant Plant, August, 2015.Disponível em: <https://archive.org/details/High_
Times_August_2015_USA/mode/2up> Acesso em: 9 fev. 2021.
20 Thomas King Forcade (1945-1978), também conhecido como Gary Goodson, [1], foi um jornalista americano e 
ativista dos direitos da maconha na década de 1970. Além de fundador da revista High Times publicou várias outras 
como Stoned, National Weed, Dealer.
E - B O O K B P O S O I T O M I T O S D A L E G A L I Z A Ç Ã O D A M A C O N H A
14
Os seus amigos da revista, após a cremação, colocaram as cinzas dele 
num cigarro de maconha e foram fumar no topo do World Trade Center. É 
inacreditável, mas essa é a história desse sujeito que foi importante para o 
lobby da legalização da maconha.
Nessa mesma época, outro personagem também muito importante 
para esse lobby estava aparecendo: Keith Stroup21. Em 1970 ele fundou a 
Organização Nacional pela Reforma das Leis sobre a Marijuana (NORML), 
com o objetivo de aumentar a adesão das pessoas à legalização. Até aquele 
momento, apenas 20% dos americanos eram favoráveis (notem como de 
1970 para cá a aprovação foi aumentando, e tudo isso foi estudado, planejado 
e perseguido). A estratégia de Keith Stroup era a de vencer trincheira por 
trincheira. Com um passo de cada vez, eles conseguiriam legalizar as 
drogas, mas não sem um planejamento estratégico. E assim eles fizeram. 
O primeiro passo não era falar de legalização — algo mais difícil naquele 
momento —, e sim descriminalizar a maconha ou fazer com que a pena 
fosse tão pequena que na prática seria uma descriminalização. Isso deu 
certo, inclusive aqui no Brasil.
A revista Times22 publicou, em 1973, uma reportagem mostrando 
que 691 pessoas estavam presas no Texas, cumprindo uma pena alta de 
nove anos apenas por portar maconha (Texas sempre foi duro, e acredito 
que sempre será), porém, a revista esqueceu de informar que somente dois 
estados americanos puniam a posse. De qualquer forma, eles omitiram 
intencionalmente para construir uma narrativa que se repete até hoje: o 
“fracasso da guerra às drogas” e o “encarceramento em massa”. Ou seja, é 
um absurdo prender todo mundo simplesmente por portar maconha, isso 
é uma questão de saúde pública, o usuário é doente e precisa de cuidado.
21 Keith Stroup foi diretor executivo da NORML até 1979, período durante o qual onze estados americanos adota-
ram leis de descriminalização da maconha.
22 [12] “The 1973 Times Magazine article explained that 691 people were imprisoned in Texas on marijuana pos-
session charges, with an average sentence of more than nine years. [...] By 1973, simple marijuana possession was 
a felony in only two states, Texas and Rhode Island”. Op cit., p. 25, 2019.
“O artigo de 1973 da revista Times explicou que 691 pessoas estavam presas no Texas por acusações de porte de 
maconha, com uma sentença média de mais de nove anos. [...] Em 1973, o simples porte de maconha era crime em 
apenas dois estados, Texas e Rhode Island.” (Tradução do transcritor).
E - B O O K B P O S O I T O M I T O S D A L E G A L I Z A Ç Ã O D A M A C O N H A
15
Percebam como isso é importante, como tudo o que vivemos 
atualmente foi planejado por lobistas que se aproveitaram das situações 
da realidade. Eles não estavam trabalhando com a realidade (nunca 
trabalharam) e sim com uma ideologia e uma visão de mundo, associando 
essa droga à ideia de outro tipo de sociedade que não tem nada a ver com a 
sociedade burguesa-capitalista. Eles criaram a narrativa do encarceramento 
em massa. 
Stroup dizia que a maconha não fazia mal, mas não era bem assim. 
Em 1981, em um evento na sua residência, as pessoas ficaram assustadas 
com ele. Ele se balançava tão obsessivamente numa cadeira de balanço 
que ela quebrou, e ele se levantou convencido de que naquele momento 
alguém tentava entrar na sua casa para assassinar sua filha. As pessoas 
tentaram dissuadi-lo de pegar o carro, mas não adiantou. Ele foi até lá e 
“salvou” sua filha. Em outra ocasião na residência dele, com todos os 
convidados já chapados antes do jantar, a esposa deixou o prato principal 
cair no chão e quebrou. Ele também não teve dúvidas: aquilo era um sinal 
para alertá-lo de que um amigo lá presente queria matá-lo e expulsou todos 
de sua casa. Mas as pessoas não falavam — e não falam — a respeito dos 
surtos psicóticos provocados pelo uso da maconha, então ele prosseguiu 
trabalhando.
Em 1976, com a eleição de Jimmy Carter23, Stroup se achou o dono 
do pedaço após sua nomeação como um dos conselheiros sobre drogas 
do governo americano. Essa era a oportunidade de legalizar tudo. Isso é 
importante também porque, desde essa época, fica claro que o objetivo 
que não era legalizar apenas a maconha, mas todas as drogas. Mais uma 
vez repito: elas são o contraponto às drogas usadas pelo status quo. A 
questão deles não é a realidade, pouco importa o que causará à sociedade a 
legalização ou não. Na verdade, eles querem construir uma sociedade com 
novas drogas. Inclusive Stroup já considerava que, em algum momento, eles 
23 James Earl Carter Jr. (1924), político, homem de negócios e filantropo americano, foi o 39º Presidente dos Esta-
dos Unidos de 1977 a 1981.
E - B O O K B P O S O I T O M I T O S D A L E G A L I Z A Ç Ã O D A M A C O N H A
16
mudariam o nome da organização para Organização Nacional de Reforma 
de Leis da Cocaína, pois o próximo passo era a cocaína.
Em dezembro de 1977 ocorre um escândalo que o abalou muito. Na 
festa anual da NORML, em Washington, Bourne24, conselheiro de drogas da 
Casa Branca, e Stroup cheiraram cocaína juntos. Como Stroup não gostava 
de Bourne porque ele apoiava o combate às plantações da maconha 
nos países da América Latina, quando vazou a história, ele aproveitou 
o escândalo e não negou o fato. E Bourne realmente acabou saindo do 
governo. Contudo, esse episódio causou um estrago ao lobby da maconha 
do qual o movimento demorou muito para se recuperar. As pessoas ficaram 
assustadas, foi se tornando claro que a questão não era o encarceramento 
em massa nem a guerra às drogas, e sim a legalização de uma droga para 
posteriormente legalizar as outras. 
Pesquisas realizadas no fim dos anos 7025 indicavam que a 
probabilidade de um jovem que chegava à universidade sem nunca ter 
fumado maconha usar cocaína era de 1/300 — ou seja, de cada 300 jovens 
que nunca tinham fumado maconha, apenas um cheiraria cocaína —, e 
no caso de jovens que já tinham fumado maconha, a chance era de 1/40. 
Notem como o usuário de maconha fica mais propenso ao uso de cocaína. 
As chances de ele vir a usar essa droga após entrar na universidade era muito 
maior. Esses estudos estavam assustando muito a sociedade americana. 
Em 1978, o New York Times26 publicou uma reportagem mostrando como 
24 Peter G. Bourne (1939) é médico, antropólogo, autor e funcionário público internacional com experiência em 
vários cargos governamentais de alto escalão. No governo Jimmy Carter, Bourne foi nomeado Assistente Especial 
do Presidente para Assuntos de Saúde e Diretor do Gabinete da Política de Abuso de Drogas. Sob a sua liderança, 
o número de mortes por overdose de drogas caiu para o seu nível mais baixo em 30 anos. 
25 “Other surveys showed that marijuana use strongly predicted cocaine use. A high school senior in 1980 who 
had never used marijuana had only a 1-in-300 chance of using cocaine, according to research from the National 
Institute on Drug Abuse. [...] If he’d smoked more than forty times, he had better than even odds”. Op cit., p. 55, 2019.
“Outras pesquisas mostraram que o uso de maconha prenunciava fortemente o uso de cocaína. Um aluno do úl-
timo ano do ensino médio em 1980 que nunca havia usado maconha tinha apenas uma chance em 300 de usar 
cocaína, de acordo com uma pesquisa do National Institute on Drug Abuse. [...] Se ele já havia fumado, a chance era 
de 1 em 40, muito maior do que a de seus pares.” (Tradução do transcritor)
26 “On March 30, 1978, the NewYork Times reported that in a test, three boys and a girl aged 11 to 14 had bought 
paraphernalia at several shops. ‘No salesman turned down the four customers as being too young, they reported, 
even though they looked barely their ages,’ the Times wrote”. Op cit., pp. 57, 2019.
“Em 30 de março de 1978, o New York Times relatou que em um teste três meninos e uma menina de 11 a 14 anos 
compraram parafernália em várias lojas. ‘Nenhum vendedor rejeitou os quatro clientes por serem muito jovens, 
eles relataram, embora eles aparentassem ter pouca idade’, escreveu o Times.” (Tradução do transcritor)
E - B O O K B P O S O I T O M I T O S D A L E G A L I Z A Ç Ã O D A M A C O N H A
17
era fácil crianças e jovens terem acesso à maconha e seus acessórios. Isso 
foi fatal, e a sociedade americana posicionou-se contra à legalização da 
maconha. Com isso, o movimento teve de dar um passo atrás e se recolheu. 
No início dos anos de 1980, Reagan é eleito. Nancy Reagan cria e 
defende o slogan Just say no (Apenas diga não). Eu era criança e me lembro 
bem dessa campanha. Parecia que estávamos ganhando a guerra contra 
às drogas, mas não. Nessa época o uso do crack aumentava nos Estados 
Unidos, causando grandes males por ser muito mais nocivo que a maconha 
e por gerar violência e guerra entre traficantes. Em 1991, a taxa de crimes 
violentos no país aumentou em 40%, chegando a 25 mil homicídios — um 
recorde para os Estados Unidos. Acharíamos ótimo se no Brasil ocorressem 
25 mil homicídios por ano, mas para os americanos aquilo era realmente 
assustador.
Mas não foi isso que efetivamente mudou as regras do jogo e 
a questão do lobby. Ao mesmo tempo que o crack provocava grandes 
estragos e a maconha era um mal menor, a epidemia da AIDS se alastrava 
pelos Estados Unidos e ceifava muitas vidas, sobretudo a de homossexuais 
e de usuários de drogas injetáveis. Quem vivenciou a década de 1980 sabe 
o quanto foi impactante ver artistas e amigos, do quais sempre gostamos 
e admiramos, adoecendo e morrendo de uma maneira muito dramática. 
Naquela época ser portador do vírus da AIDS era uma sentença de morte. 
Nesse cenário, aparece Ethan Nadelmann27 e muda a história do 
lobby. Ele aprendeu com os que vieram antes, viu onde eles erraram, e 
ele não iria errar. Ele viu que a explosão da violência relacionada ao crack, 
a disseminação do HIV alimentada pelo uso da heroína e as centenas de 
milhares de prisões apontavam para um caminho: guerra às drogas. Mas 
esta guerra era um erro insano, pois levava ao encarceramento em massa 
27 Ethan A. Nadelmann (1957) é o fundador da Drug Policy Alliance, uma organização sem fins lucrativos que tra-
balha para pôr fim à guerra contra as drogas. Descrito pela Rolling Stone como, “A força motriz para a legalização 
da maconha na América”, ele é um crítico e comentador de alto nível das políticas americanas e internacionais de 
controle de drogas.
E - B O O K B P O S O I T O M I T O S D A L E G A L I Z A Ç Ã O D A M A C O N H A
18
enquanto as pessoas morriam. Em 1992, ele se reúne com George Soros28, 
fundador da Open Society e investidor de todos esses tipos de pauta para 
ganhar dinheiro. No entanto, ainda estava faltando o tiro de misericórdia 
para virar o jogo. A Califórnia era um dos maiores epicentros de HIV no 
mundo e também do consumo de maconha. Foi descoberto então que 
fumar maconha aliviava o sofrimento da pessoa que estava morrendo de 
AIDS. Imagine a situação: a pessoa está sofrendo, sentenciada à morte, e 
fumar maconha dava para essa pessoa um pouco de dignidade para que 
morresse sem sentir dor e com algum prazer. Como você vai combater isso? 
O que eles fizeram foi transformar a maconha em um remédio. Essa foi a 
virada, e a partir daí as coisas mudaram. 
Na década de 1970, eles juntaram a legalização da maconha com 
a legalização da cocaína, deu errado, agora eles aliaram a legalização da 
maconha ao remédio, a maconha passou de vilã à heroína que aliava o 
sofrimento das pessoas. Chegamos então na maconha medicinal. Com 
o apoio financeiro massivo, eles conseguem, em 1996, aprovar a Proposta 
15, legalizando a maconha medicinal na Califórnia. Com muito dinheiro de 
lobistas e de George Soros, a proposta venceu com 55% dos votos válidos. 
A narrativa estava pronta, tudo estava se encaixando. E nos anos 2000 
conseguimos fechar o arco: era um erro criminalizar a maconha por causa 
do encarceramento em massa; era um erro fazer guerras às drogas porque 
é uma questão de saúde pública; a maconha não fazia quase nenhum 
mal, e se o álcool e o cigarro eram legais, não havia razão alguma para 
proibir a maconha; agora a maconha era um remédio que, se não resolvia 
o problema, pelo menos aliviava o sofrimento das pessoas, então não podia 
ser algo proibido.
Para finalizar esta aula, vou lhes contar a história de uma senhora 
muito boazinha para que tenham uma ideia de como é complicado ter 
28 George Soros (1930), húngaro, naturalizado americano, é um investidor e filantropo conhecido por apoiar cau-
sas políticas progressistas e liberais, para as quais distribui volumosas doações por meio da Fundação Open Soci-
ety, fundada por ele.
E - B O O K B P O S O I T O M I T O S D A L E G A L I Z A Ç Ã O D A M A C O N H A
19
uma opinião contrária à legalização da maconha. Ela 
chama-se Mary Jane Rathbun29. Pela foto vemos que 
ela parece a vovó do pão de queijo de tão boazinha. 
Em julho de 1992, a Califórnia parou para assistir a um 
xerife truculento do condado de Sonoma, no norte 
da Califórnia, prendendo essa senhorinha simpática 
e frágil que estava fazendo, na casa dela, brownie 
com maconha para levar aos doentes terminais de 
AIDS. Imagine que xerife malvado é este que prende 
uma velhinha frágil fazendo bolinho com maconha para entregar a pessoas 
que estavam morrendo. Como se combate isso? 
O resultado dessa narrativa de guerra às drogas e maconha 
medicinal foi que em apenas cinco anos, seis estados seguiram o mesmo 
caminho da Califórnia e legalizaram a maconha — a saber: Alasca, 
Colorado, Oregon, Nevada e Washington — e atualmente 30 dos 50 
estados americanos permitem a maconha medicinal e nove admitem o 
uso recreativo. E em dezembro de 2020, a Câmara dos Estados Unidos 
aprovou em uma votação histórica o projeto de retirada da maconha da 
lista de drogas nocivas. Esperava-se que o Senado republicano barrasse 
isso, mas parece que também será favorável. Com a remoção da maconha 
do rol de narcótico perigoso, dentro de poucos meses ou um ano, o 
Congresso Americano votará pela legalização em todo país (nos Estados 
Unidos cada estado tem a sua própria legislação). Observem como isso foi 
sendo construído desde o século XIX. 
O objetivo é ir cada vez mais excluindo a maconha da lista dessas 
drogas perigosas em todo mundo. A Comissão para Narcóticos da 
Organização das Nações Unidas aprovou no dia 2 de dezembro de 2020, 
29 Mary Jane Rathbun (1922-1999), popularmente conhecida como Brownie Mary, foi uma ativista dos direitos 
da maconha medicinal. Como voluntária hospitalar no San Francisco General Hospital, tornou-se conhecida por 
cozer e distribuir brownies de maconha a doentes com AIDS. Com o ativista Dennis Peron, ela fez lobby para a 
legalização da maconha para uso médico e ajudou a aprovar a Proposta P de San Francisco (1991) e a Proposta 215 
da Califórnia (1996). Também contribuiu para a criação do primeiro dispensário médico de maconha nos Estados 
Unidos.
Mary Jane Rathbun
E - B O O K B P O S O I T O M I T O S D A L E G A L I Z A Ç Ã O D A M A C O N H A
20
a retirada da maconha para o uso medicinal da lista de drogas nocivas. 
Provavelmente veremos no futuro se alastrar cada vez mais o uso da 
maconha medicinal O percurso é sempre este: primeiro a maconha 
medicinal, depois a recreativa, depois a cocaína e depois as demais 
drogas. Esse é o objetivo, e ele vem em uma embalagem muito bonita. 
Como combatemos isso?Há uma maneira de nos opor? Há, e vou 
mostrar como. Essa é a proposta do curso e, nas próximas aulas, vamos 
responder a esses oito mitos:
(1) A maconha é inofensiva e não vicia.
(2) É necessário legalizar a maconha para produzirmos 
medicamento à base da maconha.
(3) A legalização do álcool e do tabaco fortalecem o caso da 
legalização da maconha.
(4) O imposto da maconha legalizada vai custear a prevenção e o 
tratamento dos usuários.
(5) Inúmeras pessoas estão atrás das grades por fumar ou portar 
maconha.
(6) A legalização da maconha diminui de maneira considerável o 
poder do tráfico, diminuindo a violência na rua.
(7) Portugal, Holanda, Uruguai e Estados Unidos são exemplos 
exitosos da legalização.
(8) A prevenção e tratamento sem a legalização estão condenados 
a falhar.
AULA 2
O PRIMEIRO E 
O SEGUNDO MITOS
E - B O O K B P O S O I T O M I T O S D A L E G A L I Z A Ç Ã O D A M A C O N H A
22
INTRODUÇÃO
 Antes de começarmos a tratar propriamente dos mitos, quero mostrar 
um estudo30 feito na Universidade Federal de São Paulo pelo Ronaldo 
Laranjeira, um dos maiores especialistas do tema aqui no Brasil; ele fez o 
LENAD, que é o Levantamento Nacional de Álcool e Drogas; esse estudo 
mostrou muito sobre o universo da maconha no nosso país, no entanto, esse 
estudo é de 2012 e isso significa que podemos ter uma pequena variação 
do número de usuários no Brasil atualmente. Mas, de qualquer maneira, 
esse estudo é muito importante porque mostra qual é a porcentagem de 
homens e mulheres, e a idade que as pessoas entram e começam a usar a 
maconha. 
 Isso é importante para vermos o número de usuários no Brasil e se, 
pelo número de usuários que há, justificaria a legalização; não é um dos 
mitos listados, mas uma das coisas que mais escuto é que muitas pessoas 
usam maconha Se você vai a algum show de rock — no Lollapalooza ou no 
Rock in Rio — ou se você vai na praia ou em um jogo de futebol, a impressão 
que temos é a de que um número muito grande de pessoas usa, mas será 
que isso é verdade? 
 Nesse estudo que ele fez mostra que 7% das pessoas no Brasil já 
experimentaram a maconha, o que seria — lá em 2012 — cerca de 8 milhões 
de pessoas; e, destes 8 milhões, cerca de 42% utilizaram no último ano, então, 
o número de usuários que teríamos seria o de 3,4 milhões de pessoas. 
 Agora vejamos a prevalência entre quem já utilizou uma vez na vida 
e quem utilizou no último ano: entre adolescentes, 4% já experimentaram 
a maconha e 3% fizeram uso no último ano; acerca das pessoas em geral, 
adultos, 7% das pessoas já utilizaram a maconha e 3% fizeram uso no último 
ano; então, o número está na média de 3%. 
 E entre homens e mulheres? A porcentagem dos homens que usaram 
durante a vida é de 9,2%, já as mulheres, 2,8%; a média é de 7%. No último 
30 Segundo Levantamento Nacional de Álcool e Drogas. Universidade Federal de São Paulo. 2012. Disponível 
em: <https://inpad.org.br/wp-content/uploads/2014/03/Lenad-II-Relat%C3%B3rio.pdf>. Acesso em: 02 fev. 2021.
E - B O O K B P O S O I T O M I T O S D A L E G A L I Z A Ç Ã O D A M A C O N H A
23
ano 4,4% dos homens e 0,5% das mulheres, logo, as mulheres ainda usam 
relativamente pouco a maconha. 
 Por região, o estudo mostrou que dentre as pessoas que fizeram uso 
pelo menos uma vez na vida, há 4,4% na região Norte, 4,1% no Nordeste, 
6,5% no Centro-Oeste, 6,7% no Sudeste e 5,7% no Sul; no último ano, 2,7% na 
região Norte, 2% no Nordeste, 4,2% no Centro-Oeste, 2,5% no Sudeste e 2,1% 
no Sul — particularmente, fiquei impressionado com o Centro-Oeste, pois 
pensava que a região Sudeste seria maior. 
 A próxima estatística é importante porque trata da idade em que a 
pessoa utiliza a maconha pela primeira vez: o estudo mostra que grande 
parte das pessoas utiliza a maconha pela primeira vez antes dos 18 
anos, geralmente, entre os 14 e 18 anos; saber disso é fundamental para 
discutirmos a idade da legalização.
 Esse estudo, que fiz um breve en passant apenas para que tenhamos 
uma noção, mostra que estamos bem comparados a alguns países — ainda 
em 2012 — cuja porcentagem de usuários já era maior. Por exemplo, no 
Canadá seriam 14% de usuários — e eu tenho certeza de que hoje o número 
já é bem maior —, a Nova Zelândia seriam 13% e os Estados Unidos seriam 
10% — esse 10% é de usuários. No Brasil, teríamos na data, apenas 3% de 
usuários. 
 Mesmo que dobrássemos o número de usuários regulares para 
chegar a 6% no Brasil, esse número por si só não justifica a legalização; 
então, se uma pessoa falar que vale a pena legalizar porque muita gente 
fuma, sei que isso é mentira. Isso acontece porque no meio que ela convive 
as pessoas consomem; quem faz universidade sabe que muita gente usa, 
em certos círculos de amigos, no prédio onde você mora, na comunidade 
onde você vive, há focos de uso. Mas mesmo assim, se você pegar o Brasil 
como um todo, o número de usuários é muito pequeno.
 
E - B O O K B P O S O I T O M I T O S D A L E G A L I Z A Ç Ã O D A M A C O N H A
24
 PRIMEIRO MITO: A MACONHA É INOFENSIVA
 Vamos começar agora o primeiro mito da legalização da maconha: a 
maconha é inofensiva e não vicia. 
 Será que isso é verdade? 
 Em relação à dependência, é importante que se diga — e eu aprendi 
isso com o Ronaldo Laranjeira — que ela existe e é bastante comum; cerca 
de 1/3 dos usuários da maconha apresentam algum grau de dependência 
dessa droga. Observem como é grande a porcentagem: cerca de 1/3, e foi 
isso que esse levantamento do LENAD demonstrou. 
 Daqueles 7% que já experimentaram maconha na vida, 42% utilizaram 
no último ano e, destes que utilizaram no último ano, 37% tem algum grau 
de dependência.
 Quais foram as perguntas que essa pesquisa fez entre adultos e 
adolescentes? 
 A primeira pergunta: “Já achou que o uso estava fora de controle?”, para 
adultos, desses que utilizaram, 41% disse que sim; já entre os adolescentes, 
18% disse que sim — adolescentes sempre acham que estão no controle de 
tudo, eu já fui jovem e sei disso. 
 A segunda pergunta: “Já ficou ansioso ou preocupado com a ideia 
de não ter maconha?”, 36% dos adultos disseram que sim e 23% dos 
adolescentes também afirmaram que ficaram preocupados. 
 A terceira pergunta: “Já se preocupou com o uso da maconha?”, 55% 
dos adultos disse que sim e 48% dos jovens confirmaram. 
 A quarta pergunta: “Já quis parar?” Olha que interessante, 77% dos 
adultos que faziam uso regular disseram que sim e 70% dos adolescentes 
também disseram que sim também, quiseram parar e não conseguiram. 
 A quinta pergunta: “Acha difícil ficar sem maconha?” Observamos que 
54% dos adultos e 31% dos adolescentes dizem que sim — uma porcentagem 
bastante alta. 
 Observem que existe sim um grau de dependência e ele é significativo. 
E - B O O K B P O S O I T O M I T O S D A L E G A L I Z A Ç Ã O D A M A C O N H A
25
Então, achar que fumar maconha não traz dependência para a pessoa é 
um erro: sim, a maconha vicia e vicia uma parcela considerável das pessoas 
que usa essa droga de maneira regular, portanto, a legalização vai fazer 
com que surjam mais dependentes dessa droga. Esse mesmo número se 
repete quando pegamos as pesquisas internacionais.
 Agora, um outro aspecto desse mito: a maconha é inofensiva. Alguns 
dizem: “Que isso?! A maconha não faz mal! O cigarro é muito pior para a 
saúde. Eu nunca vi ninguém morrer de overdose de maconha”. Eu também 
nunca vi ninguém morrer de overdose de cigarro, mas não me venham 
dizer que cigarro não faz mal. Mas vejamos se a maconha é inofensiva; 
peguei uma matéria31 do Jornal da Ciência que diz: “Usuários de maconha 
são cinco vezes mais propensos a desenvolver esquizofrenia”. Como já 
mostrei, a maconha causa surtos psicóticos, e isso está demonstrado 
desde o século XIX na Índia — na primeira aula eu citei — e no México. Isso 
é comprovado. 
 Eu fui em uma palestra no Conselho Regional de Medicinado Estado 
do Rio de Janeiro (CREMERJ) e havia uma médica que era diretora ou dona 
de uma clínica de reabilitação; ela falou assim: “Senhores, eu poderia ser a 
primeira a falar que eu queria a legalização porque ia lotar a minha clínica e 
ganhar muito dinheiro com isso, mas não, eu não vou fazer isso porque eu 
sei quantas famílias sofrem, e eu não preciso disso, porque a minha clínica 
já está lotada”.
 Ouvi, em outra situação, um médico falando que se legalizássemos 
a maconha hoje, em pouco tempo não haveria leitos suficientes no SUS 
para receber todo mundo, porque a maconha provoca surtos psicóticos e 
esquizofrenia.
 Qual é discussão hoje? As pessoas que defendem a legalização 
costumam falar que a pessoa não desenvolve esquizofrenia, mas que, 
31 Usuários de maconha são 5x mais propensos a desenvolver esquizofrenia. Jornal Ciência. Disponível em: 
<https://www.jornalciencia.com/usuarios-de-maconha-sao-5x-mais-propensos-a-desenvolver-esquizofrenia/?fb-
clid=IwAR3f0jjTAnvjzKiaRCWeoCkeCiLS5d6tGs5O_f507Ms26G3X-zcc-9bQKyQ>. Acesso em: 02 fev. 2021.
E - B O O K B P O S O I T O M I T O S D A L E G A L I Z A Ç Ã O D A M A C O N H A
26
tão somente, a maconha desencadeará a doença por uma predisposição 
genética. No entanto, li estudos dizendo que não, que podemos pegar toda 
a família da pessoa, cujos membros não tenham predisposição genética 
nenhuma, e, mesmo assim, o indivíduo pode ficar esquizofrênico; então, 
já há estudos nessa direção e essa afirmação de que a droga em si não 
criaria a esquizofrenia não é uma verdade absoluta. 
 Outra notícia32 que a partir de agora será mais e mais comum: 
“Internação por surto psicótico ligado à maconha cresce 30 vezes em 
Portugal”, e ninguém fala disso. Essa aula aqui eu não estou falando 
especificamente de Portugal — falarei mais desse país na última aula —, 
mas observem que o surto psicótico ligado ao uso da maconha cresceu 
trinta vezes em Portugal. A matéria fala o seguinte: 
“Em Portugal, um estudo retrospectivo realizado 
nos hospitais públicos entre 2000 e 2015, relatou um 
aumento de 29,4 vezes no número de hospitalizações 
com o diagnóstico primário de transtornos psicóticos 
ou esquizofrenia associado ao uso da maconha. Esse 
aumento foi atribuído à alteração dos padrões do consumo 
da maconha na população, após a legalização para o uso 
recreativo”. 
 Outro estudo33 também: “Como foi demonstrado por vários estudos 
conduzidos por David Ferguson, o uso da maconha pelos jovens está 
inerentemente associado a um altíssimo risco de manifestar sintomas 
negativos para a saúde como psicoses, esquizofrenias e depressão, e essas 
pessoas também são mais suscetíveis a cometer suicídio”. 
32 Internação por surto psicótico ligado à maconha cresce 30x em Portugal. Folha de São Paulo. 19 dez. 2019. 
Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2019/12/internacao-por-surto-psicotico-liga-
do-a-maconha-cresce-30-vezes-em-portugal.shtml?fbclid=IwAR3U67xKcNyY-52Ja-Ymt73ZbunVOXluGh-
jUz9QJjssZqQIU4xUAaXvzNRw>. Acesso em: 02 fev. 2021.
33 Association of Cannabis Use in Adolescence and Risk of Depression, Anxiety, and Suicidality in Young Adult-
hood. JAMA Network. 13 de fev. 2019. Disponível em: <https://jamanetwork.com/journals/jamapsychiatry/fullarti-
cle/2723657>. Acesso em: 02 fev. 2021.
E - B O O K B P O S O I T O M I T O S D A L E G A L I Z A Ç Ã O D A M A C O N H A
27
 Os defensores da legalização falam que a maconha trata a depressão, 
e há — comentarei sobre isso no próximo mito — um componente na 
folha da maconha que, dependendo da dosagem e da maneira como é 
administrado, que pode até sim funcionar como um remédio, mas o uso 
indiscriminado da maconha não; se você fizer esse uso e fumar de qualquer 
maneira e exagerar na quantidade, pelo contrário, vai desencadear sim a 
depressão, surtos psicóticos, esquizofrenia e também a tentativa de suicídio. 
A maconha de inofensiva não tem nada. 
 Outra notícia34: “No Colorado, as internações por ingestão de 
maconha triplicaram”. No Colorado, a droga foi legalizada e desde 2012 
tem aumentado muito a internação pela ingestão da maconha. 
 Esse curso tem tanto conteúdo que não há como vocês não 
rebaterem as pessoas que defendem a legalização; e só estou começando. 
Continuemos.
 Mais um estudo: “Maconha provoca modificações na estrutura 
cerebral e perda de memória de curto prazo”; a maconha afeta a maneira 
como o cérebro se desenvolve. Para um adolescente é sempre mais 
perigoso porque o cérebro dele está em desenvolvimento. “O uso crônico 
da maconha tem sido associado também a uma série de deficiências 
cognitivas, como diminuição da atenção, memória e atividades responsáveis 
pelo planejamento e execução de tarefas”, então, o QI daquele que usa 
maconha diminui. “De acordo com uma pesquisa do governo americano, 
jovens usuários desta droga tem quatro vezes mais chances de estarem 
entre aqueles com as notas mais baixas nas escolas”, portanto, aquele que 
fuma maconha na adolescência, provavelmente terá o seu desempenho 
acadêmico diminuído.
 A data de 20 de abril no horário das 16:20h35 ficou muito conhecida 
entre os usuários de maconha porque há uma história de que jovens na 
34 No Colorado, as internações por ingestão de maconha triplicam. Storia. Disponível em: <https://storia.me/pt/
no-colorado-as-interna-oes-por-ingestao-de-maconha-triplicaram-1fjt/s>. Acesso em: 02 fev. 2021.
35 Em inglês a data representa um jogo de palavra entre os números 4 e 20: 4th April, 4: 20 PM, dito de outro 
modo, 4/20 4:20.
E - B O O K B P O S O I T O M I T O S D A L E G A L I Z A Ç Ã O D A M A C O N H A
28
Califórnia se juntavam sempre às 16h20m para fazer o uso da maconha, 
então virou uma espécie de folclore e existem festivais sempre em 20 de 
abril às 16h20m. O estudo36 de Kevin Sabet, este que é uma referência para 
esse nosso curso, aponta que toda vez que acontecem esses festivais nessa 
data, acontece logo em seguida, quando as pessoas saem de onde elas 
estão e voltam para casa, um aumento de 12% no número de acidentes de 
carro, e as pessoas não falam disso. 
 Em todo país que legaliza a maconha, há um aumento de acidentes 
de trânsito porque a maconha afeta a coordenação motora e isso ninguém 
comenta; as pessoas associam muito o ato de fumar maconha com o mesmo 
uso do cigarro. O que alguém que faz o uso do cigarro costuma fazer? Ele 
acorda, fuma um cigarro, pega o carro e não vai perder a direção do carro por 
fumar cigarro — ele pode ter câncer, mas não vai perder a direção do carro. 
Já aquele que fuma maconha, não só provavelmente terá câncer — como 
eu vou mostrar adiante —, mas também perde a coordenação motora. Isso 
é perigoso. 
 Haverá Lei Seca de manhã para controlar quem fumou ou deixou 
de fumar? Podemos notar que a blitz da Lei Seca para o álcool acontece 
geralmente à noite, porque é perceptível que as pessoas bebem mais à 
noite. Agora, o hábito de fumar maconha é diferente, não segue esse ritmo 
da noite, é um vício que se prolonga pelo dia inteiro e aumenta o número 
de acidentes.
 Além disso, há estudos confirmando que o uso da maconha pode 
causar esterilidade, má formação no espermatozoide, câncer de testículo, 
câncer de pulmão, câncer de laringe; a fumaça da maconha torna o risco 
de câncer de pulmão 20 vezes maior. E as pessoas não falam disso, dizem 
que a maconha é remédio, mas ninguém fala que a fumaça da maconha 
pode tornar o risco de câncer de pulmão 20 vezes maior. 
36 The April 20 Cannabis Celebration and Fatal Traffic Crashes in the United States. JAMA Network. Abr. 2018. 
Disponível em: <https://jamanetwork.com/journals/jamainternalmedicine/fullarticle/2672202>. Acesso em: 02 fev. 
2021.
E - B O O K B P O S O I T O M I T O S D A L E G A L I Z A Ç Ã O D A M A C O N H A
29
 Em relação à fumaça da maconha, uma pesquisa37 canadense 
concluiu que ela: “Contém 50 a 70% de hidrocarbonetos mais cancerígenos 
doque a fumaça do tabaco. A fumaça inalada na maconha tem uma quantia 
de amônia igual à de 20 cigarros e os níveis de cianeto de hidrogênio e de 
óxido nítrico que afetam coração e pulmão apareceram em concentrações 
três a cinco vezes superiores ao cigarro”; esses pesquisadores do Canadá 
disseram que a maconha é tão ou mais prejudicial à saúde do que o 
cigarro. Especialistas da Fundação do Pulmão da Grã-Bretanha38 alertam 
que as pessoas estão subestimando os riscos que o consumo da maconha 
pode trazer para o sistema respiratório, o que se tornou uma tendência 
perigosa e alarmante. 
 Já um trabalho39 do Einstein Medical Center mostra que “o uso 
contínuo de maconha eleva em 26% o risco de AVC e em 10% o de falha 
cardíaca”, e o pesquisador alerta: “Considerando dados pré-clínicos, minha 
previsão é que o uso recreacional pode causar severos problemas à saúde, 
não só ao sistema vascular.”
 É interessante falar nesse termo uso recreacional. Vocês já repararam 
que estão mudando esse termo? Recreacional dá uma ideia só de ficar 
doidão, agora costumam utilizar os termos uso medicinal e uso adulto da 
maconha, mas não se esqueçam de que quem começa a fumar maconha é 
o adolescente de 14 anos. Para os defensores da legalização, não importa 
a realidade, o que importa é a narrativa, importa encaixar isso porque a 
maconha é um símbolo, não é simplesmente uma droga.
 Houve um estudo40 realizado na Suécia no qual os pesquisadores 
avaliaram 45 mil homens que fizeram o serviço militar obrigatório no país 
entre 1969 e 1970 e acompanharam-nos até 2011; a pesquisa não era para 
37 Cannabis and tobacco smoke are not equally carcinogenic. US National Library of Medicine National Insti-
tutes of Heath. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1277837/>. Acesso em: 02 fev. 2021.
38 Malefícios da maconha são subestimados, diz estudo. Estadão. Disponível em: <https://saude.estadao.com.br/
noticias/geral,maleficios-da-maconha-sao-subestimados-diz-estudo,883111>. Acesso em: 03 fev. 2021.
39 Marijuana Use Associated with Increased Risk of Stroke, Heart Failure. American College of Cardiology. 09 
mar. 2017. Disponível em: <https://www.acc.org/about-acc/press-releases/2017/03/09/14/05/marijuana-use-associat-
ed-with-increased-risk-of-stroke-heart-failure>. Acesso em: 03 fev. 2021.
40 Como a maconha afeta o cérebro adolescente. Conselho Federal de Farmácia de Alagoas. 03 maio 2016. 
Disponível em: <http://www.crf-al.org.br/2016/05/como_a_maconha_afeta_o_cerebro_adolescente/>. Acesso em: 03 
fev. 2021.
E - B O O K B P O S O I T O M I T O S D A L E G A L I Z A Ç Ã O D A M A C O N H A
30
falar de maconha, mas para fazer um retrato de tudo: de como era a vida 
dessas pessoas, seus hábitos, e como aquilo as afetava durante o tempo. 
Eles foram acompanhados até 2011 e os pesquisadores registraram 4 mil 
mortes nesses 42 anos; aqueles que haviam feito uso pesado da maconha 
apresentaram risco 40% maior de morrer precocemente. E detalhe: 
nessa pesquisa, eles definiram uso pesado como aquele que tinha 
utilizado maconha 50 vezes durante a vida, mas a maioria das pessoas 
que eu conheço e que usam maconha fumam 50 vezes em uma semana. 
Então, entre aqueles que usam muita maconha, o sistema imunológico 
simplesmente deprime. 
 O estudo também sugere que “o uso da maconha na adolescência 
pode estar relacionado ao maior risco de morte antes dos 60 anos”. Isso 
é impressionante, esse estudo saiu na revista Época41. O uso pesado da 
maconha faz deprimir o sistema imunológico de maneira geral e a pessoa 
simplesmente morre sem saber por que, e eu acredito que isso tem que 
ver com como a maconha do nosso tempo afeta o cérebro.
 Agora, vamos ver como o Conselho Federal de Medicina (CFR) se 
posicionou sobre a maconha; há a matéria42 no site do Conselho Regional 
de Medicina do Pará (CRM-PA) que diz que o Conselho Federal de Medicina 
e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) apoiam o ministro e repudiam 
a regulação do plantio da maconha.
 O Conselho Federal de Medicina se posicionou contrário à regulação 
para fins medicinais:
“O Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação 
Brasileira de Psiquiatria (ABP) publicaram, nesta quarta-
feira (22), nota de apoio ao ministro da cidadania, Osmar 
41 Como a maconha afeta o cérebro adolescente. Época. Disponível em: <https://epoca.globo.com/colu-
nas-e-blogs/jairo-bouer/noticia/2016/05/como-maconha-afeta-o-cerebro-adolescente.html#:~:text=O%20uso%20
pesado%20de%20maconha,e%20do%20padr%C3%A3o%20de%20uso>. Acesso em: 03 fev. 2021.
42 AFM e ABP apoiam ministro e repudiam regulação do plantio da cannabis. Conselho Regional de Medicina 
do Estado do Pará. 22 mai. 2019. Disponível em: <http://www.cremepa.org.br/cfm-e-abp-apoiam-ministro-e-repu-
diam-regulacao-do-plantio-da-cannabis/>. Acesso em: 03 fev. 2021.
E - B O O K B P O S O I T O M I T O S D A L E G A L I Z A Ç Ã O D A M A C O N H A
31
Terra, e posicionou-se contrário à regulação do plantio da 
Cannabis com ‘fins medicinais’. O CFM e a ABP também 
alertam que ‘o uso da Cannabis (maconha) ainda não possui 
evidências científicas consistentes que demonstrem 
sua eficácia e segurança aos pacientes. Desse modo, a 
regulação do plantio e uso dessa droga coloca em risco 
esse grupo, além de causar forte impacto na sociedade 
em sua luta contra o narcotráfico e suas consequências’”. 
 Há outra matéria43 sobre a posição da Sociedade Brasileira de Pediatria 
e Associação Brasileira de Psiquiatria: 
“Até o momento não há evidência científica robusta (de 
classes I ou II) para o uso do canabidiol, um dos derivados 
da Cannabis sativa (maconha), no tratamento de 
transtornos clínicos, exceto as crises epilépticas de muito 
difícil controle e que não respondem às terapêuticas atuais. 
Esse é o principal alerta feito pela Sociedade Brasileira de 
Pediatria (SBP) e Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) 
após uma revisão de literatura científica recente dedicada 
ao tema.”
 Hoje, a maconha só é indicada para tratamento de crises epiléticas 
para crianças que não respondem a nenhum tipo de tratamento já existente.
 Já assisti a uma palestra de um médico, no CREMERJ, defendendo a 
legalização, e ele mostrou uma coisa que me impressionou muito, porque 
— é óbvio — eram crianças, e as imagens estavam autorizadas porque eram 
43 Em nota conjunta, SBP e ABP fazem esclarecimentos sobre o uso do canabidiol no tratamento de crianças 
e de adolescentes. Sociedade Brasileira de Pediatria. 22 out. 2018. Disponível em: <https://www.sbp.com.br/impren-
sa/detalhe/nid/em-nota-conjunta-sbp-e-abp-fazem-esclarecimentos-sobre-o-uso-do-canabidiol-no-tratamen-
to-de-criancas-e-de-adolescentes/#:~:text=Painel%20do%20Usu%C3%A1rio-,-,Em%20nota%20conjunta%2C%20
SBP%20e%20ABP%20fazem%20esclarecimentos%20sobre%20o,de%20crian%C3%A7as%20e%20de%20adoles-
centes>. Acesso em: 03 fev. 2021.
E - B O O K B P O S O I T O M I T O S D A L E G A L I Z A Ç Ã O D A M A C O N H A
32
para fins de divulgação científica, nas quais as crianças com crises epiléticas 
severas, não conseguiam falar, não conseguiam fazer nada, só tinham crise 
epilética e nenhum remédio as ajudava; esse médico começa a utilizar o 
óleo da maconha como tratamento. Em três meses a criança leva uma vida 
normal, portanto, eu não tenho dúvidas de que a maconha funciona em 
casos específicos, mas as pessoas querem banalizar. 
 E como os Estados Unidos regulamentam? A FDA só liberou como 
medicamento o Epidiolex, que também é para esse caso, transtornos de 
epilepsia que não responde a nenhum tipo de tratamento. Isso funciona, 
mas será que tudo é remédio?
 Vimos que a maconha vicia e tem um número considerável de 
pessoas viciadas, um terço das pessoas que usam regularmente, e ela faz 
muito mal, portanto, o primeiro mito já está explicado. 
 SEGUNDO MITO: A MACONHA MEDICINAL
 O segundo é o seguinte: ela tem potencial medicinal, mas será que 
precisamos legalizara maconha para produzirmos um remédio à base 
de Cannabis? Será que temos de legalizar a maconha fumada — que todo 
mundo fuma — para transformar isso em um remédio? 
 Pergunto porque é essa a questão; eles pegam casos de crianças 
como essas das quais falei como justificativa para legalizar a maconha 
fumada. A minha resposta é: óbvio que não, é evidente que não temos de 
legalizar a maconha fumada para produzir remédio à base de maconha 
porque, quando um medicamento é feito, ele tem um propósito definido: 
tratar uma doença específica. As doses são ajustadas e os efeitos colaterais 
são controlados — você sabe o que pode acontecer e o que não pode 
acontecer. Há uma dose geralmente pequena por um período e horário 
exato para tomar. Aqueles que querem legalizar a maconha fumada, 
certamente fumarão de maneira descontrolada, não se sabe a quantidade 
de THC e CBD que será consumido, então, isso não passa de um pretexto 
E - B O O K B P O S O I T O M I T O S D A L E G A L I Z A Ç Ã O D A M A C O N H A
33
para aqueles que não precisam. 
 O lobista Keith Stroup, citado na primeira aula, na década de 70 disse: 
“Usaremos maconha medicinal como um disfarce para dar um bom nome 
à maconha”; é isto, eles já preconizavam essa justificativa desde a década 
de 70, mas não tinham ainda a janela de oportunidades que o HIV lhes 
abriu mais tarde: para as pessoas que estavam morrendo e sofrendo muito, 
a maconha dava pelo menos uma sensação de prazer. 
 Estudos mostram que as pessoas que fazem uso da maconha 
medicinal, em sua maioria, são pessoas jovens, na faixa dos 30 aos 40 
anos, que relatam dor na lombar e nas costas. Na Califórnia, simplesmente 
alguém se formava em Medicina, abria uma lojinha na praia, alguém chegava 
e falava: “Estou com uma dor nas costas danada”, ganhava uma carteirinha, 
comprava maconha e saía fumando. Eles querem maconha para isso. 
 Eles se utilizarão do que para justificar? Do sofrimento de uma 
criança, criança essa que necessita de um remédio que efetivamente 
funcione e que temos de fazer de tudo para que ela consiga. Nesse livro 
que trata da história da maconha, essa parte também é mencionada, ele 
mostra que a proporção destes que prescrevem a maconha medicinal é 
gigantesca, então há aquela galera que é realmente ideológica, que vai 
prescrever a chamada maconha medicinal, o remédio fitoterápico, para a 
pessoa fumar. O que ganham com isso? Dinheiro.
 Dentre as mais de 400 substâncias que a maconha possui, há duas 
que são as principais e as mais faladas. 
 A primeira é THC, o Tetra-hidrocanabidiol, uma substância que é 
responsável pela onda da maconha, em que a pessoa alucina, dá aquele 
relaxamento, mas também é a substância que causa a dependência e 
os principais danos. O THC é pesquisado até hoje porque é um potente 
antiemético, atua contra vômitos. Imaginem, naquela época, as pessoas 
com câncer fazendo quimioterapia ou tomando o coquetel anti-HIV, elas 
perdiam o apetite, emagreciam muito, e, com o remédio, melhoravam 
E - B O O K B P O S O I T O M I T O S D A L E G A L I Z A Ç Ã O D A M A C O N H A
34
desses sintomas. É a famosa larica, quem faz o uso da maconha, come até 
tijolo com feijão, porque dá fome mesmo e, portanto, pode ser usado dessa 
maneira. 
 A segunda substância é o CBD, o Canabidiol, que é a principal 
substância, não dá onda, não causa nenhum tipo de dependência e é o que 
causa os maiores benefícios, então, o principal foco no estudo medicinal 
é o CBD, e você não precisa fumar maconha para isso, afinal, você pode tirar 
essa substância da folha da maconha e fazer o remédio, essa é a questão.
 Então, vimos que a maconha ajuda na redução da dor, no controle 
de espasmo, na melhora de apetite, no controle de vômito, na qualidade 
do sono, é um anti-inflamatório intestinal, combate a depressão, ansiedade, 
alívio da pressão no glaucoma, Síndrome de Tourette, artrite, Parkinson, 
Alzheimer. Alguns até poderão dizer: “Acabem com todos os remédios e 
vamos fumar maconha que resolve tudo!” e vocês acham que é brincadeira? 
Há uma matéria do UOL na qual é dito que maconha trata de acne a diabetes 
também, resolve tudo.
 Se pesquisarmos, notaremos que há, inclusive, casas fabricadas com 
tijolos feitos de maconha; a humanidade, para essas pessoas, só precisa de 
uma coisa: maconha. Sobre esse indivíduo que fez uma casa de maconha, 
imagino que coloque fogo na casa só para ficar completamente doidão 
cheirando o resultado. Isso é sério. Pode parecer que é brincadeira, mas o 
tema é tão ideológico — com muita especulação e muito pouca comprovação 
— que as pessoas pegam a especulação e vendem como verdade. 
 Uma prova disso: um estudo44 produzido pela Universidade de New 
South Wales diz: “Novo Estudo diz que maconha medicinal não funciona 
para dor crônica”; a maconha, tão somente, dá uma sensação de torpeza, 
então, quem usa acha que se curou de uma dor crônica, mas apenas 
deixou de senti-la. O mesmo acontece com a bebida alcoólica, quando 
44 Novo estudo diz que maconha medicinal não funciona para dor crônica. Super Interessante. 13 jul. 2018. 
Disponível em: <https://super.abril.com.br/saude/novo-estudo-diz-que-maconha-medicinal-nao-funciona-pa-
ra-dor-cronica/>. Acesso em: 03 fev. 2021.
E - B O O K B P O S O I T O M I T O S D A L E G A L I Z A Ç Ã O D A M A C O N H A
35
alguém bebe muito, pode se machucar e nem sente, há também essa 
sensação de torpeza, mas ninguém diz que devemos beber meia garrafa 
de cachaça para aliviar dor crônica. 
 Vocês entenderam como é o discurso? Sempre buscam um aspecto 
periférico da maconha para justificar o seu uso. Uma matéria45 do UOL 
fala isso: “De acne a diabetes: veja os principais efeitos terapêuticas da 
maconha”, é muita propaganda e, como eu já tenho falado, eles tentam 
imitar sempre os Estados Unidos. 
 Na primeira aula tivemos notícia da narrativa construída nos Estados 
Unidos que, mais tarde, será importada para o Brasil; qual é uma das 
primeiras ideias que eles têm? Vamos utilizar a maconha para combater a 
dependência dos opiáceos; porque os Estados Unidos têm um problema 
muito sério com os opiáceos, remédios para dor crônica — a maioria desses 
artistas que morrem atualmente, notamos que a causa são estes remédios. 
Os pesquisadores notaram que a parte dos Estados Unidos que usava 
muita maconha não usava opiáceo, e a parte que usava opiáceo não usava 
maconha — não na mesma quantidade. Qual é a conclusão automática? 
Quem usa maconha não usa opiáceo e, considerando que opiáceos têm 
risco de overdose e morte, é melhor usar maconha para combater esses 
riscos. O que aconteceu? Aquilo que era só um momento, a crise do opiáceo 
estava avançando, depois de um tempo eles não disseram mais nada porque 
ficou comprovado que não havia esse contrabalanço entre os opiáceos e 
a maconha, mas esse mito continuou, e começaram o mito no Brasil com 
uma nova roupagem.
 O Brasil tem um problema muito sério de crack, então, o que esse 
pessoal pensou? Já vimos que quem fuma maconha não fuma crack, e 
quem fuma crack não fuma maconha. Notem que pode até ser assim, 
mas é, mais uma vez, especulação sem comprovação. Logo saiu um 
45 De acne a diabetes: veja os principais efeitos terapêuticos da maconha. UOL. 13 dez. 2019. Disponível em: 
<https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2019/12/13/de-acne-a-diabetes-veja-os-principais-efeitos-tera-
peuticos-da-maconha.htm>. Acesso em: 03 fev. 2021.
E - B O O K B P O S O I T O M I T O S D A L E G A L I Z A Ç Ã O D A M A C O N H A
36
estudo realizado pela FAPESP que diz: “Estudo contesta uso da maconha 
no tratamento de dependência de cocaína”; aqui trata da cocaína, mas 
eles também falam do crack, porque eles queriam fazer a mesma coisa, 
apesar de já observarem que não funciona, eles usam sempre a maconha 
para tudo justificar.
 Saiu há pouco tempo uma matéria46 que diz: “Cientistas estudam 
meios de Cannabis ajudarno tratamento contra COVID-19 no Canadá”. 
Acreditam nisso? Quantos porcentos será que a maconha dá de eficácia? 
 Outra pesquisa: “Igor e Olga Kovalchuk, ambos professores de Biologia 
da Universidade de Lethbridge na província de Alberta, escreveram um 
artigo afirmando que extratos específicos da planta são promissores como 
um tratamento adicional para a doença provocada pelo novo coronavírus. 
Além de professor, Igor também é CEO da empresa de pesquisa Pathway RX, 
voltada para o desenvolvimento de terapias personalizadas de Cannabis”. 
Ou seja, tratam tal indivíduo como pesquisador, mas se esquecem de que 
ele é um CEO doido para ganhar dinheiro com isso. O que ele quer fazer? 
Um cepacol de maconha, porque eles alegam que o seu uso tira toda a 
carga viral do COVID-19, mas a manchete diz: “Cientistas estudam meios 
da cannabis ajudar o tratamento…”; é sempre de uma maneira periférica, é 
sempre de uma maneira especulativa, sem comprovação, é sempre para 
colocar na mídia que a maconha faz bem para acne, COVID-19, diabetes, 
tudo. 
 Quando estamos com dor de cabeça, é uma determinada substância 
que tomamos, quando estamos com crise alérgica, é outra substância; para 
qualquer problema de saúde, é recomendada uma substância específica 
para esse mal, mas já repararam que com a maconha não? A maconha serve 
para tudo. Esse tipo de discurso tem de despertar em nós, no mínimo, uma 
desconfiança, não podemos considerar que é real. Ela tem um potencial? 
46 Cientistas estudam meios de cannabis ajudar no tratamento contra Covid-19, no Canadá. Extra. 21 maio 
2020. Disponível em: <https://extra.globo.com/noticias/saude-e-ciencia/cientistas-estudam-meios-de-canna-
bis-ajudar-no-tratamento-contra-covid-19-no-canada-24439576.html>. Acesso em: 03 fev. 2021.
E - B O O K B P O S O I T O M I T O S D A L E G A L I Z A Ç Ã O D A M A C O N H A
37
Claro que tem! Para tudo? Evidentemente que não. 
 Outra pesquisa47: “Estudo questiona eficácia de derivados da 
maconha para o uso psiquiátrico”. O que eles concluíram? “Notável 
ausência de evidência”; quando eles falam que a maconha será importante 
para o uso psiquiátrico, não é verdade. 
 Também “Publicado nesta segunda-feira na revista médica The 
Lancet Psychiatry: ‘Há escassa evidência para sugerir que os canabinoides 
melhoram os transtornos de depressão’”. Muito pelo contrário, já foi 
comprovado, em outras pesquisas, que o uso da maconha faz com que a 
pessoa fique deprimida. Mas claro, eu não estou dizendo que se pegarem 
uma pequena quantidade de CBD e realizarem um estudo por um 
determinado período, não possa funcionar, pois o sistema canabinoide do 
cérebro trabalha com a variação do humor, pode ser que isso tenha algum 
efeito. Mas isso não acontece legalizando e fumando maconha, isso é só 
um pretexto e, no jornal, consta isso, que há uma “notável ausência”.
 Apesar de muitos falarem que o Brasil não regulamentou maconha, na 
verdade, nós já a regulamentamos no dia 3 de dezembro48 de 2019, quando 
a ANVISA regulamentou a chamada maconha medicinal. Mas tenho de 
deixar claro: não existe maconha medicinal, o que existe são remédios à 
base de canabinoides; a maconha medicinal é só um pretexto que Keith 
Stroup já falava na década de 70. 
 Então, quando alguém falar para você sobre a maconha medicinal, 
saiba que não existe a maconha medicinal. Qualquer um pode tomar um 
remédio para dor à base de morfina, e nem por causa disso você vai fazer uso 
do ópio, simples assim. Osmar Terra fala que o veneno de cobra é utilizado 
para controlar pressão, mas ninguém anda por aí com uma cascavel no 
bolso. É o mesmo raciocínio. 
47 Estudo questiona eficácia de derivados da maconha para uso psiquiátrico. O Globo. Disponível em: 
<https://oglobo.globo.com/sociedade/estudo-questiona-eficacia-de-derivados-da-maconha-para-uso-psiquiatri-
co-1-24047998>. Acesso em: 03 fev. 2021.
48 São Francisco proíbe fumar tabaco em apartamentos; maconha está liberada. UOL Notícias. 4 dez. 2020. Di-
sponível em: < https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2020/12/04/sao-francisco-proibe-fumar-ta-
baco-em-apartamentos-maconha-esta-liberada.htm>. Acesso em 15 fev. 2021.
E - B O O K B P O S O I T O M I T O S D A L E G A L I Z A Ç Ã O D A M A C O N H A
38
 E como foi a regulamentação? Foram regulamentados medicamentos 
com concentração de THC menor do que 0,2%, então, é muito pouca a 
concentração de THC; já os produtos com concentração de THC superior 
a esta porcentagem só poderão ser prescritos a pacientes terminais; neste 
caso, nota-se a questão da dignidade da pessoa humana, que é a mesma 
situação das pessoas que morriam em virtude do HIV. Isso é justo, quero 
colocar assim, pois não serei radical. Há também permissão legal para o 
caso de aqueles que tenham esgotado todas as alternativas terapêuticas 
de tratamento, o caso das crianças epiléticas citadas, que não tem mais 
alternativas e seu uso melhora a situação. Todos os remédios são distribuídos 
com receita, então não adianta mandar manipular nem plantar em casa. 
Essa questão de plantar em casa, tentam empurrar o tempo inteiro, tem 
um impacto muito negativo, mas não vamos tratar disso agora.
 Após a regulamentação da ANVISA, tivemos a PL 399/2015 retirada 
da pauta, pois este Projeto de Lei consistia na legalização da maconha, 
principalmente da maconha medicinal, em clubes de maconha — um 
negócio horroroso. 
 Esse estudo de que estou tratando contribuiu com todos aqueles que 
trabalham nessa área e achei muito legal o que eles fizeram, porque a equipe 
do Ministério da Saúde percebeu que existem crianças que precisam desse 
remédio e que estes remédios precisam chegar a essas crianças; eles não 
apenas facilitarão a importação dos remédios, como também pegarão a 
lista de 8.000 crianças que precisam — não é um número muito grande — 
e darão de graça pelo SUS, assim, cala-se esse lobby que quer facilitar o uso 
da maconha utilizando-se dessas crianças que efetivamente precisam para 
forçar uma legalização. Então, cala-se essas pessoas e se disponibilizam os 
remédios com base na Cannabis para quem efetivamente precisa.
 A maconha medicinal é uma falácia, não existe maconha medicinal, não 
precisamos legalizar a maconha para ter os benefícios terapêuticos da Cannabis. 
AULA 3
O TERCEIRO E 
O QUARTO MITOS
E - B O O K B P O S O I T O M I T O S D A L E G A L I Z A Ç Ã O D A M A C O N H A
40
INTRODUÇÃO
Sejam bem-vindos à terceira aula sobre os oito mitos da legalização 
da maconha. Nesta aula, apresentarei o terceiro mito: a legalização do 
álcool e do tabaco fortalecem o caso da legalização da maconha. É muito 
comum, quando se fala sobre a legalização, ouvir alguém dizer: “Pare de ser 
hipócrita! Se o cigarro e o álcool são legalizados, por que a maconha não é 
legalizada, já que ela não faz mal e não vicia?”.
A LEGALIZAÇÃO DO ÁLCOOL E CIGARRO
Já vimos que a maconha vicia e não tem nada de inofensiva, mas não 
é esse aspecto que quero abordar. Trarei aqui uma reportagem que saiu em 
maio de 2018 em O Globo, cuja manchete dizia: “Álcool e tabaco são mais 
danosos do que qualquer outra droga, diz estudo49”. Vamos analisar o que 
diz a manchete. O álcool, como droga em si, tem mais potencial ofensivo do 
que a cocaína? Sabe-se que não. O tabaco causa mais danos do que o crack? 
Também se sabe que não. Ora, então por que a manchete diz isto? Simples: 
elas são mais danosas porque são legalizadas, as pessoas têm mais acesso a 
estas drogas. Pessoas do lobby costumavam dizer, embora tenham parado, 
porque agora ficou muito feio para eles, que quando se legaliza, o número 
de consumidores não aumenta, mas apenas aparecem os que fumavam 
escondidos, que agora podem comprá-la — isso é uma mentira da qual mais 
adiante tratarei. A verdade é que a população consome mais droga quando 
é legalizada, e quanto maior o consumo da droga, independentemente 
se em si é mais danosa ou

Outros materiais