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DIREITO CIVIL - AULA I

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DIREITO CIVIL – FLÁVIO TARTUCE 
AULA I - DATA: 23.03.2021 
 
RESPONSABILIDADE CIVIL 
 
1. Conceitos iniciais relativos à responsabilidade civil. 
O possuidor de um direito se relaciona juridicamente com toda 
coletividade. A lei impõe a essa coletividade um dever jurídico de 
abstenção, isto é, ninguém pode praticar atos que venham a causar 
lesões a direitos patrimoniais ou extrapatrimoniais desse titular. 
A responsabilidade civil surge justamente em face do descumprimento 
obrigacional, podendo ser em decorrência de uma regra estabelecida em 
um contrato ou em decorrência de determinada pessoa ter deixado de 
observar um preceito normativo que regula a vida. 
No primeiro caso, temos a responsabilidade civil contratual ou 
negocial. No segundo caso, temos a responsabilidade civil 
extracontratual ou aquiliana. 
Quanto à origem (Existem duas modalidades): 
a) Responsabilidade civil contratual ou negocial: é aquela relacionada 
ao inadimplemento de uma obrigação prevista em um contrato (arts. 389, 
390 e 391, CC) 
b) Responsabilidade civil extracontratual ou Aquiliana: fundada no 
ato ilícito (art. 186, CC) ou no abuso de direito (art. 187, CC). 
✓ No Código Civil de 1916, a responsabilidade civil extracontratual estava 
baseada em um único conceito: ato lícito (art. 159, CC/1916). 
✓ No Código Civil de 2002, a responsabilidade civil extracontratual está 
baseada em dois conceitos: ato ilícito (art. 186, CC) e abuso de direito 
(art. 187, CC). 
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Seguindo um posicionamento de Direito Civil Constitucional, a função da 
responsabilidade civil será de dar mais concretude às normas 
constitucionais, como a Dignidade da Pessoa Humana (art. 1º, III, CF/88) 
e o solidarismo constitucional (art. 3º, I, CF/88). 
Neste azo, a vítima é a principal personalidade da responsabilidade civil 
da codificação atual. As regras devem ser interpretadas de modo a 
preservar o interesse da vítima. 
Assim, convencionou-se o Princípio da Reparação Integral, segundo o 
qual há necessidade de indenizar todos os danos suportados pela vítima, 
sejam eles materiais, morais, estéticos, vinculados à perda de uma 
chance, etc. 
a) Ato ilícito (art. 186, CC): O ato ilícito é praticado quando alguém atua 
contrariamente ao previsto na norma jurídica, ocasionando uma conduta 
denominada antijurídica ou ilícita (ato ilícito lato sensu). No direito civil, 
o ato ilícito é aquele comportamento que, além de transgredir uma norma 
jurídica, gera um resultado danoso para alguém (ato ilícito stricto sensu). 
Ademais, o ato ilícito pode ser civil, penal ou administrativo. 
O art. 186 do Código Civil prevê o ato ilícito civil puro ou indenizante. Na 
classificação de Pontes de Miranda, há três modalidades de ilícito: 
1º) Ilícito indenizante: relacionado à responsabilidade civil. 
2º) Ilícito nulificante: gera a nulidade do negócio jurídico (art. 166, inc. 
II, CC). 
3º) Ilícito caducificante: gera a perda de direitos, como ocorre na perda 
do poder familiar. 
Previsão legal: CC, art. 186: “Aquele que, 
por ação ou omissão voluntária, negligência 
ou imprudência, violar direito e causar 
dano a outrem, ainda que exclusivamente 
moral, comete ato ilícito.” 
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Onde está escrito “e” no art. 186 do atual Código Civil, estava escrito “ou” 
no Código Civil de 1916 (art. 159). Agora os requisitos são cumulativos, 
sem os quais não seria possível configurar o ato ilícito. A segunda 
diferença é que a codificação atual permite a reparação do dano moral 
puro, sem a necessidade de repercussão patrimonial, ou seja, é o dano 
exclusivamente moral. 
“Ato ilícito civil = violação de um direito (dever) + dano”. Essa é a principal 
mudança na conceituação do ilícito civil, confrontando-se os dois 
códigos. 
Atenção: Sem dano, não há ilícito civil nem dever de indenizar (art. 927, 
caput, CC). 
Cuidado: A menção ao dano moral puro não é novidade do Código Civil 
de 2002, pois já estava na CF/1988 (art. 5º, V e X). 
Exemplo: dirigir bêbado, por si só, não é ilícito civil. Entretanto, atropelar 
alguém é ilícito civil e gera o dever de indenizar. O art. 186 do Código 
Civil de 2002 adotou o modelo culposo de responsabilidade subjetiva, 
pois faz referência ao dolo (ação ou omissão voluntária) e também à culpa 
em sentido estrito (negligência e imprudência). 
Conforme art. 935 do CC e interpretação do STJ, somente na hipótese de 
a sentença penal absolutória fundamentar-se na inexistência do fato 
ou na negativa de autoria está impedida a discussão no juízo cível. A 
decisão fundamentada na falta de provas aptas a ensejar a condenação 
criminal não restringe o exame da questão na esfera cível. Além disso, 
para que a sentença criminal produza efeitos no juízo cível, é necessário 
que ela já tenha transitado em julgado. 
ATENÇÃO! 
Ato ilícito = Ato jurídico + Contrariedade ao direito 
Dever objetivo de reparar = Ato jurídico + Contrariedade ao direito + 
Prejuízo 
 
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Ato ilícito: É a conduta humana que infringe a ordem jurídica, violando 
direitos alheios e causando danos pessoais e/ou patrimoniais a uma 
vítima. 
b) Abuso de (do) direito (art. 187, CC) 
Previsão legal: CC, art. 187: “Também 
comete ato ilícito o titular de um direito que, 
ao exercê-lo, excede manifestamente os 
limites impostos pelo seu fim econômico ou 
social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.” 
Nelson Nery Jr e Rosa Maria de Andrade Nery entendem que para a 
configuração do abuso de direito, é necessária ser a conduta praticada 
de maneira excessiva pela pessoa, extrapolando o direito que possui e 
atuando em exercício irregular de direito. Logo, não há de se falar em 
elemento culpa na sua configuração, basta que a conduta extrapole os 
parâmetros expressos no artigo 187 do CC. 
O abuso de direito é um ilícito equiparado (“Também comete ato 
ilícito...”). 
✓ O art. 187 do Código Civil adotou a Teoria dos direitos subjetivos: “o 
meu direito termina onde começa o seu direito” (facultas agendi). Trata-
se do exercício irregular ou imoderado de um direito, presente quando o 
sujeito excede manifestamente três parâmetros: 
• Fim social ou econômico (função). 
• Boa-fé. 
• Bons costumes. 
Os três parâmetros são cláusulas gerais (conceitos abertos). 
Enunciado 413 da V Jornada de Direito 
Civil, que diz: “Os bons costumes previstos 
no art. 187 do CC possuem natureza 
subjetiva, destinada ao controle da 
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moralidade social de determinada época; e 
objetiva, para permitir a sindicância da 
violação dos negócios jurídicos em questões 
não abrangidas pela função social e pela 
boa-fé objetiva”. 
Conceito de Limongi França: o abuso de direito é lícito quanto ao 
conteúdo e ilícito quanto às consequências (ilícito impuro). A ilicitude 
está na forma ou no modo de execução do ato. 
Fórmula: lícito + abusivo(a) = ilicitude. 
Exemplo: greve + abusiva = ilicitude. 
Outros exemplos de abuso de direito: 
• Publicidade abusiva (art. 37, CDC): viola os valores sociais. 
• Abuso no processo (lide temerária, “assédio processual”) (arts. 79 a 81, 
CPC/2015). 
• Abuso no exercício da propriedade ou ato emulativo (“aemulatio”) 
(art. 1.228, §2º, CC e art. 1.277, CC). Assim, ampliou-se o conceito de ato 
ilícito para considerar como fator de indenização por responsabilidade 
civil aquele ato praticado em exercício irregular de direitos, isto é, o ato 
era originariamente lícito, contudo, foi exercido fora dos limites impostos 
para o seu fim econômico ou social, pela boa-fé e os bons costumes. 
Enunciado 49: A regra do art. 1.228, § 2º, 
do novo Código Civil interpreta-se 
restritivamente, em harmonia com o 
princípio da função social da propriedade e 
com o disposto no art. 187. 
Questões importantes: 
1ª) O abuso de direito exige dano? Para os fins de responsabilidade 
civil, SIM (art. 927, caput, CC). Para outros fins, NÃO: tutela inibitória, 
por exemplo (art. 497, §único, CPC). 
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2ª)O abuso de direito exige culpa? A posição amplamente majoritária 
afirma que não, pois o art. 187 do Código Civil adotou o modelo de 
responsabilidade objetiva, não se exigindo dolo ou culpa. Basta a 
conduta irregular. (Enunciado n. 37, I Jornada de Direito Civil). 
Enunciado 37, I JDC: “A responsabilidade 
civil decorrente do abuso do direito 
independe de culpa e fundamenta-se 
somente no critério objetivo-finalístico.” 
Dessa forma, o entendimento majoritário na doutrina é no sentido de que 
o abuso de direito é pautado na responsabilidade objetiva, ou seja, 
independentemente de culpa. 
Flávio Tartuce também traz em sua obra o abuso de direito em relação 
ao spam, no denominado direito digital. O spam são mensagens 
eletrônicas recebidas de maneira indesejada sem a solicitação da pessoa. 
O ato de envio constitui abuso de direito, bem como as eventuais 
consequências que isto ocasiona, tendo em vista que o usuário não 
forneceu seu endereço de e-mail, e mesmo assim, recebe variados 
convites para aderir a planos, jogos, serviços, etc. 
O STJ (3a Turma. REsp 1467888-GO, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado 
em 20/10/2016, Info 592) decidiu que caracteriza abuso de direito ou 
ação passível de gerar responsabilidade civil pelos danos causados a 
impetração do habeas corpus por terceiro com o fim de impedir a 
interrupção, deferida judicialmente, de gestação de feto portador de 
síndrome incompatível com a vida extrauterina. 
Em recente caso analisado pelo STJ (3a Turma, REsp 1817845-MS, Rel. 
Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. Acd. Min. Nancy Andrighi, julgado 
em 10/10/2019, Info 658), o Tribunal decidiu que a prática de sham 
litigation (litigância simulada) configura ato ilícito de abuso do direito de 
ação, podendo gerar indenização por danos morais e materiais. Isto é, o 
ajuizamento de sucessivas ações judiciais, desprovidas de 
fundamentação idônea e intentadas com propósito doloso, pode 
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configurar ato ilícito de abuso do direito de ação ou de defesa, o 
denominado assédio processual: 
2. Elementos da responsabilidade civil ou pressupostos do dever de 
indenizar 
São quatro elementos: 
• Conduta humana. 
• Culpa “lato sensu” ou em sentido amplo. 
• Nexo de causalidade. 
• Dano ou prejuízo. 
2.1. Conduta humana 
A conduta humana pode ser fundida com a culpa em um só elemento 
subjetivo, no entender de alguns doutrinadores. No entanto, a conduta 
humana vai ser vista neste tópico separadamente da culpa, para melhor 
tratar sobre o conteúdo. 
A conduta humana pode ser: 
• Por ação (culpa in comittendo) = Regra. 
• Por omissão (culpa in omittendo) = Exceção. Exemplo: omissão de 
socorro. Na omissão, para que o agente responda, é necessário provar: 
1º) Que o ato deveria ser praticado (omissão genérica). 
2º) A omissão em si (omissão específica). 
Ademais, o artigo 942, caput, do CC traz em seu bojo o Princípio da 
Responsabilidade Civil Patrimonial, no qual os bens do responsável pela 
conduta geradora de prejuízo a outrem ficam sujeitos à reparação do 
dano causado. Se a ofensa tiver mais de um autor, todos vão responder 
de forma solidária pela reparação. 
Exemplo de questão de prova (concurso da Magistratura/SP – 2011) 
Um condomínio edilício responde pelo roubo ou pelo furto de veículo 
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praticado no seu interior? Em regra, não, pois não há um dever legal 
de evitar o fato. O STJ entende que o condomínio só responde se houver 
previsão na convenção ou, eventualmente, se houver um 
comprometimento com segurança especializada (STJ – Ag.Rg. no Ag. 
1.102.361/RJ). 
A regra no sistema é a responsabilidade por ato próprio. 
Exceções: a pessoa pode responder por: 
• Ato de terceiro (arts. 932 e 933, CC) 
• Ato do animal (art. 936, CC). Responsabilidade objetiva 
• Fato da coisa (arts. 937 e 938, CC). 
• Produto ou serviço (CDC). 
A voluntariedade diz respeito ao controle da vontade humana na conduta. 
Portanto, não se pode falar em reparação de lesão decorrente de força 
natural, a exemplo das descargas elétricas. 
Por fim, é válido tratar da responsabilidade civil indireta, como exemplo 
dos pais que respondem civilmente pelos atos de seus filhos menores. 
2.2. Culpa “lato sensu” ou em sentido amplo 
A culpa “lato sensu” ou em sentido amplo engloba dois conceitos: 
a) Dolo: ação ou omissão voluntária (ato intencional). 
O dolo é caracterizado pela intenção do agente, que age com o fito de 
prejudicar outrem. Se existir o dolo, deverá ser aplicado o princípio da 
reparação dos danos (artigo 944, CC), isto é, todos os danos suportados 
pela vítima serão indenizados. 
Diante disso, se o dolo estiver presente, em regra, não poderemos tratar 
da culpa concorrente da vítima ou de terceiros. Mas o que seria culpa 
concorrente da vítima? A resposta é encontrada na leitura do artigo 
945 do Código. 
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Na responsabilidade civil, o dolo não é dividido como no estudo do direito 
penal (dolo eventual, dolo não eventual e preterdolo). Portanto, todos os 
conceitos de dolo condicionam ao agente arcar integralmente com o 
prejuízo. 
Observações: 
• “Culpa lata dolus aequiparatur”: a culpa grave equipara-se ao dolo. 
• Para o Direito Civil, havendo dolo ou culpa grave, os efeitos são os 
mesmos, aplicando-se a reparação integral dos danos (art. 944, caput, 
CC). 
• Para o Direito Civil, são irrelevantes os conceitos intermediários como 
o preterdolo e o dolo eventual. 
b) Culpa “stricto sensu” ou em sentido estrito: Chironi definia a culpa 
como a violação de um dever preexistente. No Direito Civil brasileiro, a 
culpa em sentido estrito está relacionada a três padrões de conduta: 
• Imprudência: falta de cuidado + ação (CC, art. 186). 
• Negligência: falta de cuidado + omissão (CC, art. 186). 
• Imperícia: falta de qualificação para o exercício de uma atribuição (CC, 
art. 951) 
Para Sérgio Cavalieri Filho existem três elementos que caracterizam a 
culpa: a) a conduta voluntária com o resultado involuntário; b) a previsão 
ou previsibilidade; e c) a falta de cuidado, cautela, diligência e atenção. 
Considerações: O art. 951 do Código Civil trata da responsabilidade civil 
dos profissionais da área da saúde – Exemplos: médicos e enfermeiros. 
Em regra, essa responsabilidade civil é subjetiva, pois eles assumem 
obrigação de meio (obrigação de diligência). Como exceção a essa regra, 
há a teoria de Demogue, a qual é muito aplicada pelo STJ. Segundo ela, 
se o profissional liberal assumir obrigação de resultado, haverá culpa 
presumida ou responsabilidade objetiva – Exemplo: médico cirurgião 
plástico estético. 
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Questão: Qual a diferença entre culpa presumida e responsabilidade 
objetiva? Tanto na culpa presumida quanto na responsabilidade objetiva 
o ônus da prova é invertido. 
Distinções: 
CULPA PRESUMIDA RESPONSABIIDADE OBJETIVA 
Responsabilidade com culpa 
(subjetiva). 
Responsabilidade sem culpa 
Se o réu provar que não teve culpa, 
ele não responde. 
Se o réu provar que não teve culpa, 
ele responde. Para não responder, 
ele deve provar uma excludente de 
nexo de causalidade. 
 
A culpa presumida era estudada, na vigência do CC/1916, em três 
modalidades: 
• Culpa “in vigilando”: na vigilância – Exemplo: pai em relação ao filho. 
• Culpa “in eligendo”: na escolha/eleição – Exemplo: empregador em 
relação ao empregado. 
• Culpa “in custodiendo”: na custódia de animal. 
Essas três modalidades, no Código Civil de 2002, passaram a ser 
hipóteses de responsabilidade objetiva, conforme artigos 932, 933 e 936. 
Portanto, elas foram banidas do sistema como sendo casos de 
responsabilidade por culpa presumida. O Código Civil de 2002 valorizou 
a classificação da culpa quanto ao seu grau (CC, arts. 944 e 945). 
Atenção! A doutrina majoritária entende que não se deve mais falar em 
culpa presumida, hipótese anterior de responsabilidade subjetiva. Assim, 
a culpa in vigilando e a culpain elegendo estão regulamentadas pelo 
artigo 932 do CC. O artigo 933 adota a teoria do risco, isto é, os casos 
mencionados serão de responsabilidade objetiva, não se discutindo 
culpa. 
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Em relação a culpa in custodiendo por ato de animal, o Código prevê, no 
artigo 936, a responsabilidade objetiva do dono do animal, salvo se 
houver situação de culpa exclusiva da vítima e força maior. 
Há 3 modalidades: 
• Culpa “lata” (grave): reparação integral dos danos. 
• Culpa “leve” (média): redução equitativa da indenização. 
• Culpa “levíssima” (menor grau): redução equitativa da indenização 
(maior) - In lex aqulia et levissima culpa venit – No sistema da 
responsabilidade extracontratual, o culpado responde até em caso de 
culpa levíssima. 
O art. 944, § único do CC trata da contribuição do agente causador do 
dano. 
O art. 945 do CC traz a verificação da contribuição causal da vítima para 
reduzir a indenização. 
É possível reduzir a indenização se houver: 
• Culpa concorrente da vítima. 
• Fato concorrente da vítima. 
• Risco concorrente da vítima. 
Essa redução serve tanto para a responsabilidade subjetiva quanto para 
a responsabilidade objetiva. Além disso, é possível verificar o percentual 
de contribuição causal. 
Enunciado 459 da V Jornada de Direito 
Civil: “A conduta da vítima pode ser fator 
atenuante do nexo de causalidade na 
responsabilidade civil objetiva.” 
Enunciado 630 da VIII Jornada de Direito 
Civil: “Art. 945: Culpas não se compensam. 
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Para os efeitos do art. 945 do Código Civil, 
cabe observar os seguintes critérios: (i) há 
diminuição do quantum da reparação do 
dano causado quando, ao lado da conduta 
do lesante, verifica-se ação ou omissão do 
próprio lesado da qual resulta o dano, ou o 
seu agravamento, desde que (ii) reportadas 
ambas as condutas a um mesmo fato, ou ao 
mesmo fundamento de imputação, 
conquanto possam ser simultâneas ou 
sucessivas, devendo-se considerar o 
percentual causal do agir de cada um.” 
Acrescenta-se que, em relação à culpa levíssima, a indenização deverá 
ser reduzida, seguindo o disposto no artigo 945 do CC, já que deve ser 
fixada de acordo com o grau de culpabilidade. 
O enunciado 455 da V Jornada de Direito Civil elucida que: 
Embora o reconhecimento dos danos 
morais se dê em numerosos casos 
independentemente de prova (in re ipsa), 
para a sua adequada quantificação, deve o 
juiz investigar, sempre que entender 
necessário, as circunstâncias do caso 
concreto, inclusive por intermédio da 
produção de depoimento pessoal e da prova 
testemunhal em audiência. 
Ressalta-se a divergência na aplicação dos artigos 944 e 945 para a 
responsabilidade objetiva. No primeiro momento, foi negada a aplicação 
pelo Enunciado 46 da I Jornada de Direito Civil, que dizia: 
A possibilidade de redução do montante da 
indenização em face do grau de culpa do 
agente, estabelecida no parágrafo único do 
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art. 944 do novo Código Civil, deve ser 
interpretada restritivamente, por 
representar uma exceção ao princípio da 
reparação integral do dano, não se 
aplicando às hipóteses de responsabilidade 
objetiva. 
Entretanto, na IV Jornada de Direito Civil foi aprovado novo enunciado 
alterando a redação do enunciado 46, suprimindo a parte final que 
tratava da não aplicação da res- ponsabilidade objetiva (Enunciado 380 
do CJF/STJ). Assim diz: 
Atribui-se nova redação ao Enunciado n. 46 
da I Jornada de Direito Civil, com a 
supressão da parte final: não se aplicando 
às hipóteses de responsabilidade objetiva. 
Jurisprudência: 
Exemplo 1: “Pingente de trem” – Culpa ou fato concorrente da vítima 
(REsp 226.348/SP). 
“Surfista de trem” - Culpa ou fato exclusivo da vítima (REsp 
160.051/RJ) 
Exemplo 2: REsp 1.349.894/SP – Teoria do risco concorrente (caso de 
fraude bancária com contribuição causal do preposto do cliente pessoa 
jurídica). 
2.3. Nexo de causalidade 
É o elemento imaterial da responsabilidade civil. É uma relação de causa 
e efeito entre a conduta e o dano (Aguiar Dias). 
✓ É a relação de causa necessária entre a conduta e o dano. 
O nexo de causalidade é constituído do elemento imaterial que liga a 
relação de causa e efeito entre a conduta culposa e o dano suportado. 
Assim sendo, a responsabilidade civil não existe sem a relação de 
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causalidade ente o dano e a conduta do agente. Logo, se a causa não 
possuir relação com o comportamento do ofensor, inexiste relação de 
causalidade apta a fundamentar a obrigação de indenizar. 
O nexo funciona como um “cano virtual” que liga a conduta (”C”) ao dano 
(“D”). 
 
C D 
 
 
 
Questão: O que forma o nexo? • Na responsabilidade subjetiva: o nexo 
é formado pela culpa “lato sensu”, a qual engloba o dolo e a culpa em 
sentido estrito. • Na responsabilidade objetiva: o nexo é formado pela lei 
ou por uma atividade de risco (art. 927, parágrafo único, CC). 
Fatores obstativos do nexo: Funcionam como uma “rolha” dentro do 
“cano virtual”. 
Os fatores obstativos do nexo são também conhecidos como excludentes 
do nexo e se aplicam tanto à responsabilidade subjetiva como à objetiva. 
São fatores obstativos do nexo: 
• Culpa ou fato exclusivo da vítima – Exemplo: fumante (STJ – 
Informativo n. 432). 
• Culpa ou fato exclusivo de terceiro (alguém totalmente estranho à 
relação jurídica; sem culpa do agente) – Exemplo: acidente causado pelo 
criminoso que levou o veículo à mão armada. Neste caso, o dono do 
veículo não responde. 
• Caso fortuito e força maior (art. 393, CC). 
Segundo Orlando Gomes, Sérgio Cavalieri Filho, Pablo Stolze e Rodolfo 
Pamplona: 
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❖ Caso fortuito: evento totalmente imprevisível. 
❖ Força maior: evento previsível, mas inevitável. 
Atenção! A culpa deve ser EXCLUSIVA da vítima ou de terceiros, pois, se 
houver culpa ou fato concorrente, o dever de indenizar permanecerá. 
Conforme visto, a culpa concorrente apenas ABRANDA a 
responsabilidade, isto é, minimiza o nexo de causalidade, incidindo a 
teoria da causalidade adequada. 
Questão: Na prática, como analisar tais conceitos? O STJ tem 
analisado esses conceitos de acordo com a tese de Agostinho Alvim 
(1949). Conforme o autor, somente é caso fortuito ou força maior o 
evento externo, o qual está fora do risco da atividade, o negócio ou do 
empreendimento. O evento interno, que está dentro do risco do 
negócio ou do empreendimento, não é caso fortuito nem força maior. 
Exemplos: Ex. 1: Assalto a ônibus: evento externo. A empresa de ônibus 
não responde (REsp n. 783.743/RJ). 
Exemplos: Ex. 1: Assalto a ônibus: evento externo. A empresa de ônibus 
não responde (REsp n. 783.743/RJ). 
Ex. 2: Assalto a banco: evento interno. O banco responde pelo assalto até 
o estacionamento (REsp n. 1.284.962/MG). Além desses limites, é evento 
externo e o banco não responde (“saidinha”). 
Ex. 3: Assalto a shopping center: evento interno até o seu estacionamento 
(REsp n.1.269.691/PB). 
Ex. 4: Ataque de psicopata a shopping (caso Mateus da Costa Meira): 
evento externo (REsp n. 1.164.889/SP e REsp n. 1.133.731/SP). 
Ex. 5: fraudes bancárias praticadas por terceiros são eventos internos. 
Súmula 479, STJ: “As instituições 
financeiras respondem objetivamente 
pelos danos gerados por fortuito interno 
relativo a fraudes e delitos praticados por 
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terceiros no âmbito de operações 
bancárias.” 
✓ Obs.: Tem sido feita uma ressalva à Súmula 479 do STJ quando há 
culpa ou fato exclusivo do consumidor. 
Ex. 6: Assédio sexual em transporte público é evento externo (REsp 
1.833.722/SP e REsp 1.853.361/PB). 
Ademais, as excludentes de nexo de causalidade servem para a 
responsabilidade subjetiva e responsabilidade objetiva, regra geral. 
Contudo, existem situações em que a culpa exclusiva de terceiro não 
afastará a incidência de responsabilidade civil, como no caso de 
transporte de pessoas,no qual o transportador deve responder perante o 
passageiro vitimado (artigo 735, CC). 
Portanto, é importante verificar o risco do empreendimento, ou seja, a 
atividade desenvolvida pelo responsável. Assim, se o fato estiver incluído 
como “risco do negócio”, deve o responsável arcar com as consequências. 
O enunciado 443 da V Jornada de Direito Civil diz que: 
O caso fortuito e a força maior somente 
serão considerados como excludentes da 
responsabilidade civil quando o fato 
gerador do dano não for conexo à 
atividade desenvolvida. 
Finalizando, o STJ editou a Súmula 479 que prescreve a 
responsabilização das instituições financeiras pelos danos gerados por 
fortuito interno relativo à fraude e delitos praticados por terceiros no 
âmbito de operações bancárias. Exemplificando: roubos e furtos de talões 
de cheques, clonagem de cartão e fraude praticada na internet. 
Teorias quanto ao nexo de causalidade: 
• Teoria da equivalência das condições ou do histórico dos 
antecedentes (Teoria sine qua non): todos os fatos correlatos ao evento, 
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diretos ou indiretos, geram a responsabilidade civil. Não foi adotada no 
âmbito do Direito Civil, pois amplia muito o nexo de causalidade. 
Aborda que todos os fatos relativos ao evento danoso geram a 
responsabilidade civil. Para Tepedino, o dano não teria ocorrido se não 
fosse a presença de cada uma das condições que, no caso concreto, foram 
identificadas precedentemente ao resultado. Referida teoria não é 
aplicada atualmente, tendo em vista que amplia muito o nexo de 
causalidade. 
• Teoria do dano direto e imediato (CC, art. 403) (clássica): somente 
são reparáveis os danos que direta e imediatamente decorrem da conduta 
do agente – Agostinho Alvim, Moreira Alves, Gustavo Tepedino e julgados 
STJ e STF. 
Se ocorrer a violação do direito por parte do credor ou de terceiros, haverá 
a interrupção do nexo causal. Logo, inexistirá responsabilização do 
agente. Teoria presente no artigo 403 do Código. Para esta teoria, ganham 
relevo as excludentes totais de responsabilidade. 
• Teoria da causalidade adequada (CC, arts. 944 e 945) 
(contemporânea): Essa teoria surgiu na Alemanha, sendo desenvolvida 
por Von Kries e incrementada por Von Bar. A atribuição da 
responsabilidade civil e a fixação da indenização (“quantum”) devem ser 
adequadas às condutas dos envolvidos (agente e vítima) – Caio Mário, 
Sérgio Cavalieri, Enunciado 47, I Jornada de Direito Civil, e julgados do 
STF e STJ. 
Afirma que deve se identificar a causa que gerou o evento danoso. Tal 
teoria foi desenvolvida por Von Kries e acredita que somente o fato 
relevante ao evento danoso gera a responsabilidade civil. Flávio Tartuce 
também adota esta teoria.

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