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Síndromes Hipertensivas da gravidez Texto por:Laura Teixeira @laumilagres Definição Síndrome hipertensiva gestacional é um conjunto de complicações da gestação que se inicia com a pressão arterial elevada e se não tratada em tempo oportuno, evolui para pré-eclampsia, eclampsia e síndrome de hellp, estando entre as principais causas de morbimortalidade materno fetal, em países em desenvolvimento (MOURA, 2011). Etiologia - multifatorial · Quando ocorre a concepção ele começa a caminhar para se implantar como blastocisto no corpo uterino ( duração do trajeto:7 dias), quando ele se implanta ele começa a corroer os vasos adjacentes para poder se desenvolver. · 1º onda de migração trofoblástica (1º trimestre): invasão dos vasos endometriais. · 2º onda de migração trofoblástica ( a partir das 18 semanas até as 22-24 semanas: invasão das células das aa. espiraladas por células do trofoblasto; destruição da camada músculo-elástica. · Migração trofoblástica: trofoblasto corrói as paredes das arteríolas espiraladas (que tem camada muscular elástica) para romper a camada músculo-elástica e tornar esse vasos do leito placentário ( arteríolas), que são responsáveis pelas trocas gasosas de nutrientes entre a mãe e o feto, mais vasodilatados, permitindo maior fluxo materno-fetal. OBS: As arteríolas têm camada muscular elástica -> arteríolas espiraladas bastante vasoconstrictas Teoria da isquemia placentária (é a teoria principal) · Quando isso não ocorre, ou ocorre de maneira incompleta, as artérias espiraladas se tornam mais vasoconstrictas. · Ausência ou segunda onda de migração trofoblástica deficiente · PE por razões imunológicas ou por resistência miometrial · Maior resistência vascular ao fluxo sanguíneo · Com isso, tem-se: menor passagem de fluxo; Hipóxia -> menor nutrição para o feto -> restrição de crescimento fetal; pode gerar infartos placentários Teoria da disfunção endotelial: esses vasos teriam uma lesão do endotelial · Lesão endotelial libera fatores vasoativos, responsáveis pelo aumento da PA, antes da pré-eclâmpsia · Lesão endotelial - > fluxo sanguíneo se torna turbilhonar (sem lesão é laminar) -> desencadeia cascata de coagulação - > formação de trombos ( aumento da adesão plaquetária) · Lesão endotelial diminui produção de substâncias vasodilatadoras ( prostaciclina e óxido nítrico) Teoria Imunológica - Alteração na resposta imune ao aloenxerto (feto - metade da carga genética diferente da mãe) são moduladores pelo sistema HLA - Desequilíbrio com predomínio de linfócitos T helper 2 ( Th2) sobre os T helper 1 (Th1) - Paciente que desenvolverá pré eclâmpsia apresenta diminuição das proteínas HLA-G Teoria prostaciclínica - Gestação normal: aumento de PGI (anti-inflamatório; vasodilatadora) sobre TXA2 (vasoconstrição; agregante plaquetária) responde pela manutenção e até declínio dos níveis tensóricos b · Pré eclâmpsia: desbalanço resulta em aumento da PA, lesão endotelial e hipóxia nos diversos tecidos Classificações HIPERTENSÃO GESTACIONAL/TRANSITÓRIA Definição: surge pela primeira vez após a 20ª semana de gestação, sem sinal/sintoma/alteração laboratorial que caracterize a pré-eclâmpsia (ex: SEM PROTEINÚRIA). Persiste até 12 semanas pós-parto. Conduta: - Reduzir intervalo entre consultas (máximo sete dias). - Alertar sobre sintomas relacionados à hipertensão como cefaléia, distúrbios visuais ou dor epigástrica. - Pesquisar proteinúria (fita) em todas as consultas - SE TIVER PROTEINÚRIA POSITIVA: ENCAMINHAMENTO IMEDIATO PARA PRONTO SOCORRO DA MATERNIDADE DE REFERÊNCIA PARA ALTO RISCO HIPERTENSÃO ARTERIAL CRÔNICA (HAC) Definição: antes da gravidez, ou antes de 20 semanas de gestação ( diagnosticada no primeiro trimestre ou no máximo até 20 semanas, ou diagnosticada durante a gravidez) e não se resolve após o parto HAC LEVE: 90<PAD<100 mmHg HAC MODERADA: 100<PAD<110 mmHg HAC GRAVE: PAD igual ou maior que 110 mmHg Encaminhar de imediato para unidade de risco quando: o PAD maior ou igual a 110 mmHg (Pronto Socorro, se sintomática). o Antecedentes obstétricos com presença de: prematuridade, restrição de crescimento fetal, descolamento prematuro da placenta, internações por emergência hipertensiva e/ou eclâmpsia, morte perinatal PRÉ - ECLÂMPSIA Definição: é após 20 semanas de gestação (ou antes, em casos de doença trofoblástica gestacional ou hidrópsia fetal) + proteinúria. Se não tiver proteinúria, a suspeita se fortalece quando o aumento da PA aparece junto com: cefaleia, distúrbios visuais, dor abdominal, plaquetopenia e aumento de enzimas hepáticas. · Classificações da pré eclâmpsia: · Leve/ligeira · Sobreposta à hipertensão crônica: pré-eclâmpsia em mulheres com hipertensão crônica ou doença renal. Nessas gestantes, essa condição se agrava e a proteinúria surge ou piora após 20ª semana de gravidez. Pode ter trombocitopenia e aumento das enzimas hepáticas. · Grave: presença de um ou + critérios abaixo: QUADRO RESUMO Fatores de risco: Condições socioeconômicas ( baixa renda e menor nível educacional); idade materna ( risco aumenta a cada ano); primiparidade; gravidez múltipla pré-eclâmpsia na gravidez anterior; IMC (obesidade); assistência pré-natal ( ausência); doenças crônicas e autoimunes (hipertensão crônica, diabetes insulino-dependente); infecções crônicas (ex: clamídia) Manifestações clínicas: - Leve: PA > 140/90 e <160/110 mmHg, proteinúria. ---> prevalente na primigesta; - Grave: PA > 160/110 mmHg, proteinúria mais evidente, creatinina sérica maior ou igual a 1, 2 mg/dl. OBS: PODE TER EDEMA, MAS EDEMA NÃO É EXCLUSIVO DA PRÉ-ECLÂMPSIA POR SER TAMBÉM FISIOLÓGICO · Edema na gravidez normal = geralmente acontece por aumento da pressão hidrostática quando o útero comprime a VCI ( o peso do útero sobre a VCI faz com que aumente a pressão hidrostática) -> extravasamento de líquido para o interstício. É comum em MMI. · Edema na pré- eclâmpsia: diminuição das pressão osmótica -> não só dos MMI, mas também MMS, mãos e faces. Fisiopatologia: Gestação normal = ‘’fisiológico’’ : · O citotrofoblasto permeia o vaso inclusive na parte interna como se fossem as células endoteliais e percorre as artérias do seu lado externo -> para que a artéria espiralada deixe de ficar espiralada e se torne mais retilínea e dilatada -> fluxo sanguíneo adequado · Alterações induzidas pelo trofoblasto: aumento do calibre das artérias espiraladas e redução da velocidade do fluxo de sangue em seu leito, de forma a permitir adequadas trocas entre a circulação fetal e materna. · Remodelamento da arteríola espiralada ( necessário: síntese de proteínas endoteliais) -> normóxia => a placenta é capaz de produzir substâncias angiogênicas ( VEGF, PIGF) e antiangiogênicas (sFlt-1 e endoglina), e elas tem que estar em equilíbrio para o desenvolvimento gestacional normal OBS: O Óxido nítrico (NO) -é um potente vasodilatador ( relaxa a musculatura lisa da túnica média por meio da guanosina monofosfato cíclico). NO-sintetase: produz NO --> controle funcional: estímulos locais hipoxemia antes ( ex: algum fenômeno que gere hipoperfusão tecidual) para diminuir o tônus vascular + aumento da perfusão sanguínea a fim de reverter a isquemia tecidual Regulação da NO-sintetase: A angiotensina II age nos receptores AT1 e inibe a produção de NO -> causa: vasoconstrição. A angiotensina 1-7 age no receptor, estimulando a produção de NO -> vasodilatação + proteção endotelial secundária Pré- eclâmpsia = ‘’patológico’’ · Com a diminuição da perfusão placentária, a artéria espiralada não fica tão retilínea e dilatada, isso tem como consequência a penetração insuficiente do citotrofoblasto tanto no interior do vaso quanto no adjacente, gerando um baixo fluxo sanguíneo --> hipóxia · Desregulação dos fatores angiogênicos e aumento dos antiangiogênicos -> gera disfunção endotelial dos vasos => DHEG. Nessa disfunção endotelial, essas células endoteliais, na vigência da hipóxia, vão produzir mais fatores vasoconstritoresdo que vasodilatadores => hipertensão (devido perda do controle vasomotor + agressões na microcirculação) · A liberação de endoproteínas semelhantes ao endométrio pelo trofoblasto pode ser insuficiente -> remodelação inadequada das artérias (causas possíveis: baixas concentrações de óxido nítrico, saturação de oxigênio inadequada, fatores imunológicos, genéticos ou ambientais maternos) OBS: O aumento nos níveis circulantes de substâncias antiangiogênicas, + desregulação no sistema renina-angiotensina, comprometem a atividade da NO-sintetase, causando lesão endotelial. O Óxido nítrico (NO) -é um potente vasodilatador ( relaxa a musculatura lisa da túnica média por meio da guanosina monofosfato cíclico) Endotélio lesado - perda da capacidade de produzir óxido nítrico -> desregulação do tônus arterial Os autoanticorpos AT1 agem como agonista do receptor AT1 -> o aumento do nível circulante desses autoanticorpos é considerado um dos elementos que prejudicam a 2º onda de invasão trofoblástica ( ocorre antes da lesão endotelial sistêmica) · Proteinúria: é devido a destruição de podócitos, que compõem a membrana celular. Após isso, há uma diminuição da expressão de proteínas como a nefrina e a podocina → aumenta ainda mais a permeabilidade da barreira glomerular => gera perda progressiva de proteínas através da urina. O sFlt-1 é produzido pela placenta pré- eclâmptica, e ao ser liberado da circulação, age interceptando moléculas de fatores angiogênicos (ex: VEGF, PIGF), fazendo com que essas moléculas não consigam realizar a homeostase endotelial --> lesão endotelial sistêmica. O glomérulo possui podócitos ( função: secreção de moléculas de VEGF - relacionadas com a homeostase do endotélio glomerular). As altas concentrações de sFlt-1 nas pacientes com pré-eclâmpsia agem interceptando o VEGF produzido, impedindo que ele desempenhe suas funções ---> o endotélio glomerular lesado (glomeruloendoteliose) se torna edemaciado e sofre alargamento de suas fenestras -> perda de capacidade de contenção de moléculas proteicas -> excreção de proteínas na urina. Em pacientes com pré-eclâmpsia podem ser encontradas podocitúria. Diagnóstico Diagnóstico diferencial - pré-eclâmpsia e eclâmpsia Complicações · Fígado: isquemia -> disfunção com elevação do nível de transaminases. O edema e/ou a hemorragia focais ou confluentes distendem de sua cápsula, podendo resultar em ruptura hepática com hemorragia maciça. · Coagulopatia: microtrombos de fibrinas entre os sinusoides -> gera além da dificuldade do sangue circular; gera áreas com isquemia - necrose de hepatócitos ( áreas de infarto no fígado) => isso tudo predispões à hemorragia subcapsular e muitas vezes ruptura da cápsula, podendo levar a hemorragia peritoneal, choque e óbito. · Coagulação: ativação e consumo de plaquetas + consumo progressivo e instalação da coagulação disseminada. · Cérebro: pode sofrer isquemia, agravado por sistema difuso -> resultado: eclâmpsia ou acidentes vasculares Tratamento O objetivo do tratamento da pré-eclâmpsia é prevenir as complicações materno-fetais como o descolamento prematuro de placenta, acidente vascular cerebral, edema agudo de pulmão, insuficiência renal, agravamento do quadro clínico para pré-eclâmpsia grave, síndrome Hellp e eclâmpsia. A principal conduta é administração de sulfato de magnésio. · Administração de fármacos anti hipertensivos (ex: alfametildopa) para gestantes com hipertensão grave · Dose baixa de AAS (aspirina) Conduta:encaminhamento imediato para pronto socorro da maternidade de referência para alto risco. Se não for possível a administração de sulfato de magnésio: dose de ataque de sulfato de magnésio + transferência imediata para unidade de cuidado de saúde de nível superior. Prevenção para grupos de risco - grau A de recomendação · Suplementação com cálcio (carbonato de cálcio, 1.000-2.000 mg/dia) · Uso de pequenas doses diárias (50-150 mg) de aspirina SÍNDROME HeLLP ( EMERGÊNCIA OBSTÉTRICA) - Agravamento da pré-eclâmpsia grave ( h = hemólise, EL = aumento de enzimas hepáticas [elevate enzimes] e LP = plaquetopenia [low platelets]) · Plaquetopenia em pacientes com pré-eclâmpsia: pensar na síndrome HELLP. · Muitos casos com sintomatologia vaga: mal-estar, sintomas inespecíficos parecidos com resfriado, dor generalizada, náuseas e dor epigástrica. A proteinúria pode estar ausente · Diagnóstico essencialmente laboratorial · Principais complicações: hemorragias, oligúria, insuficiência renal aguda, edema agudo de pulmão, necessidade de hemotransfusão e óbito materno. · Tratamento: apenas parto (independente da IG) e remoção dos vilos coriônicos - nenhum tratamento específico está disponível devido ao desconhecimento exato da fisiopatologia dessa síndrome · Sulfato de magnésio para prevenir convulsão ATENÇÃO: SUSPEITAR DE SÍNDROME HELLP NA GESTANTE COM PRÉ - ECLÂMPSIA E PLAQUETOPENIA ECLÂMPSIA (EMERGÊNCIA OBSTÉTRICA) Definição: convulsões tônico-clônicas generalizadas em mulher com qualquer quadro hipertensivo, não causada por epilepsia ou outras doenças convulsivas. Podem ocorrer na gravidez, no parto e no puerpério imediato (48H depois do parto). OBS: tônica ( perda de consciência, corpo enrijecido); clônica ( contração e contorção das extremidades do corpo). OBS 2: Incidência de morte materna nas mulheres com eclâmpsia. A mortalidade perinatal é, igualmente, elevada. ATENÇÃO: IMINÊNCIA DE ECLÂMPSIA: cefaleia, turvação visual, escotomas, epigastralgia, náuseas, vômitos e confusão mental Fatores de risco = iguais ao da pré-eclâmpsia Fisiopatologia As etapas de uma convulsão eclâmptica são: 1. Fase premonitória / halo: · Dura 10 a 20 segundos: os olhos rolam ou ficam fixos, há contrações involuntárias dos músculos da face e mãos 2. Fase tônica: · Dura até 30 segundos => espasmos musculares violentos, punhos contraídos, MMI e MMS rígidos. Há espasmo no diafragma, parando a respiração -> cianose. As costas podem estar arqueadas, os dentes cerrados e os olhos ficam salientes. 3. Fase clônica: · Duração: entre 1 a 2 minutos -> contração violenta e relaxamento dos músculos; aumento da salivação que causa ‘’espuma’’ na boca ( risco de aspiração); respiração profunda e barulhenta; congestionamento e edema da fase 4. Coma: · Duração: minutos ou horas -> mulher muito inconsciente, e frequentemente, tem respiração ruidosa. A cianose desaparece mas a face pode permanecer edemaciada e congestionada. Podem ocorrer mais convulsos · A mulher pode morrer após uma ou duas convulsões Efeitos na mãe e no feto -> espasmo generalizado das arteríolas afeta a maioria dos órgãos, causando falência deles e colocando em risca a vida materno-fetal · Mãe: · Feto Conduta • Internação da paciente com assistência intensiva • Garantir permeabilidade das vias aéreas; aspiração de secreções; Oxigênio sob cateter nasal. • Cateterismo venoso e vesical com controle horário da diurese. • Contenção da paciente no leito e proteção da língua durante a convulsão. • Avaliação laboratorial: o De urgência: coagulação sanguínea (TAP, PTT, fibrinogênio), série vermelha e plaquetas. o Complementar conforme rotina laboratorial da Pré-Eclâmpsia Sem Critérios de Gravidade. • Hidralazina parenteral e Sulfato de Magnésio • Tratamento das complicações clínicas, como o Edema Agudo de Pulmão, se presente. • Interromper a gestação 4 horas depois de estabilizado o quadro clínico, em qualquer idade gestacional. • Manter o tratamento até 48 a 72 horas após o parto. Prevenção - mesmo da pré-eclâmpsia, principalmente sulfato de magnésio.
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