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[Adamson All-Boy Academy 02] -The Ruthless Boys (LUXURY)

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Distribuído . 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Psiu, eu sei um segredo. 
 
O mesmo segredo que o Conselho Estudantil - a elite super 
rica e super bonita da Adamson All-Boys Academy - 
também sabe. 
 
Jenica Woodruff, a única garota que já frequentou a 
academia antes de eu aparecer, não se suicidou: ela foi 
assassinada. 
 
Agora, alguém está atrás de mim também, mas não 
importa para onde eu vá, o assassino segue. Minha nova 
escola secundária não é segura e, ao que parece, nem a 
minha antiga. 
 
Não sou membro do Conselho Estudantil, mas depois de 
tudo o que passamos juntos, depois das coisas horríveis que 
vimos, posso muito bem ser. Esses garotos cruéis me 
colocaram sob suas asas. 
 
Church, o líder destemido (e viciado em café). Ranger, o VP 
fodão (e que cozinha pelado). Os gêmeos idênticos 
McCarthy (e entusiastas do MMA). E Spencer, o garoto que 
estava disposto a questionar tudo sobre ele para se 
apaixonar por mim... oh, Spencer. 
 
Assassinato e romance estão no ar na Adamson; Só não 
tenho certeza de qual deles vai me matar primeiro.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Este livro é dedicado ao Dick (Idiota) Supreme. 
Você sempre me protegeu; 
Eu aprecio isso mais do que as palavras 
poderiam dizer. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Nota da autora 
*** Possíveis spoilers *** 
 
The Ruthless Boys (Adamson All-Boys Academy #2) é 
um romance de mistério de harém reverso, 
bully/assassinato no ensino médio. O que isso significa 
exatamente? Isso significa que nossa personagem principal, 
Charlotte Carson, terá pelo menos três interesses amorosos 
até o final da série. Não há muito bullying neste livro, quando 
comparado ao primeiro. Essa história não tolera o bullying, 
nem a romantiza. Os interesses amorosos nessa sequência 
são realmente muito bons (especialmente quando 
comparados aos meus meninos da série The Rich Boys of 
Burberry Prep). 
Qualquer cena de beijo/sexual com Charlotte, também 
conhecida como Chuck, é consensual. Este livro pode ser 
sobre estudantes do ensino médio, mas não é o que eu 
consideraria um jovem adulto. Os personagens são 
peculiares, as emoções reais, a palavra com f é usada muito. 
Tem alguns menores de idade bebendo, situações sexuais, 
menção ao possível suicídio de um personagem paralelo e 
outros cenários para adultos, embora isso continue sendo 
uma leitura bastante leve. 
Charlotte começa como uma pirralha, mas espero que 
você goste do crescimento da personagem nesta série. ;) 
Nenhum dos personagens principais tem menos de 
dezessete anos. Esta história terá um final feliz no terceiro e 
último livro. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Spencer não pode estar morto. 
Este é o único pensamento na minha cabeça enquanto 
eu coloco minhas mãos no meu colo e retorno minha atenção 
de volta para o corpo pendurado na árvore. Esta apenas... lá 
pendurado, a corda roçando no tronco. 
“Você está vivo,” Tobias suspira, olhos lacrimejando 
enquanto ele olha para Ranger. Ele passa a mão por eles e 
funga, tentando recompor-se. É tão uma coisa de menino de 
se fazer, eu tiraria sarro dele se...se... 
“Por que você está segurando a corda?” Ranger pergunta 
enquanto Church corre para onde Micah está de pé, 
ajudando ele a desfazer o nó. 
“Por que você acha que estou segurando ela, cara?!” 
Micah grita de volta, o cabelo vermelho alaranjado dele está 
molhado e grudado na testa. Nós todos estamos tremendo, 
dentes batendo e provavelmente em necessidade urgente de 
atendimento médico. “Estou tentando descer ele.” 
 
 
 
 
 
 
Ranger se mexe como um zombie através da clareira e 
para perto da corda. 
Por favor que não seja o Spencer, eu repito várias vezes 
na minha cabeça, como um tipo de mantra. Que não seja ele. 
Mesmo que eu me sentisse um pouco culpada por desejar 
que fosse outra pessoa, eu não me importo. Eu só quero 
abraçar ele. Por favor, Deus, que ele esteja vivo para que eu 
possa abraçar ele. 
Nós nunca tivemos um abraço, como o que Ranger me 
deu na festa da Twilight Slumber Camp. O olhar na cara de 
Spencer quando ele nos pegou foi tão dura. Sem mencionar 
a expressão de traição que tinha no corredor ontem... 
Não pode terminar assim. 
Não vou deixar. 
Eu me levanto e corro para ajudar com a corda. Ranger 
senta fortemente no chão embaixo do corpo. Está muito alto 
para ver o rosto da pessoa, então eu não fico olhando muito. 
Eu não vou ficar olhando. Olhar não vai mudar o resultado. 
“Eu tenho uma faca,” eu sussurro, pegando a lâmina 
serrilhada que Ranger me deu para me proteger e dando para 
Church. Ele está ofegante, e o rosto dele está tão branco 
quanto um fantasma. Ele não parece com ele mesmo. É 
interessante no entanto, de ver este tipo de expressão estou-
próximo-a-entrar-em-pânico nele. Ele é humano, afinal de 
contas. “Desce ele, por favor. Por favor.” Minha voz começa a 
tremer enquanto eu recuo e espero por Church e os gêmeos 
para cuidar disso. 
Devagar, respeitosamente, eles abaixam o menino para 
o chão. 
 
 
 
 
 
 
E é aí que escuto as sirenes, e nós todos trocamos 
olhares. 
“Vê se é o Spencer, cara,” Tobias geme, colocando o 
rosto nas mãos. “Eu não consigo olhar, só não consigo. 
Micah…” 
“Tudo bem, irmão, vou olhar.” Respirando fundo, ele 
chega perto do corpo, mas um grito de longe corta o momento 
e me faz sentir fraca, eu quase caio. 
 “Chuck!” 
É meu pai chamando. 
“Aqui!” Eu grito de volta, colocando minhas mãos ao 
redor da minha boca e espero enquanto o som de passos se 
aproximam. Meu pai aparece apenas alguns segundos 
depois com vários policiais e paramédicos atrás dele. 
“Oh graças a Deus,” ele suspira, correndo e me puxando 
para um grande abraço. “Oh, Charlotte. Graças a Deus.” Ele 
está tão feliz de me ver que ele esqueceu de me chamar pelo 
meu apelido por um momento. Archie me segura tão perto, 
eu sinto como se tivesse engasgando. Eu saio de perto dele, 
tremendo muito. Tem um paramédico tentando colocar um 
cobertor sobre meus ombros; eu aceito, mas honestamente, 
estou mais preocupada com Spencer do que comigo mesma. 
“Pai,” eu começo, eu aponto para o corpo e fecho meus 
olhos. O resto do Conselho Estudantil está sendo puxado 
para longe também; nós ainda não sabemos quem é. “Por 
favor me diz se é o Spencer Hargrove.” 
“Nós precisamos te levar para o hospital,” pai murmura. 
Ele claramente não está escutando. Neste ponto, no entanto, 
 
 
 
 
 
 
estou muito cansada e com frio para insistir. O bater de 
dentes está me dando uma dor de cabeça. Eu deixo ele me 
conduzir para longe, na parte de trás de uma ambulância 
com Ranger. 
Sem pensar sobre, eu estendo a mão e enrolamos 
nossos dedos juntos. Ele aperta os meus de volta, e nos 
sentamos daquele jeito pelo resto da viagem para a cidade. 
 
 
A polícia está se recusando a liberar o nome do menino 
da floresta. Isto, e Spencer Hargrove está desaparecido. Não 
só ele, no entanto, vários meninos estão se provando difíceis 
de encontrar. Inferno, é férias de primavera. Ninguém está 
surpreso que tem alguns alunos desaparecidos. 
“Se Spencer está morto, eu vou...” Tobias sussurra, 
colocando os dedos dele no vidro na janela da sala do meu 
pai. A respiração dele embaça a janela enquanto ele encosta 
a testa contra o batente. “Bem, merda, eu não sei o que eu 
vou fazer, mas...ele não pode estar morto.” 
“Ele pode estar,” Micah sussurra, sentando do meu lado 
no sofá. Eu olho para ele, percebendo os olhos verdes tristes, 
e o jeito que a boca dele aperta em uma linha fina enquanto 
ele disse aquelas palavras horríveis. 
“Retire essa merda que disse.” Tobias se vira, pronto 
para brigar com o irmão dele. Os gêmeos McCarthy estão on 
e off, desde que chegamos no hospital. Eles realmente 
entraram em uma briga com punhos e tudo na sala de 
 
 
 
 
 
 
exames, e Tobias fez o nariz do Micah sangrar. É claro, que 
foi depois do Micah darum olho roxo no olho esquerdo dele. 
“Por quê?” Micah olha para cima e então se levanta. 
Church e Ranger se levantam no segundo seguinte, ficando 
entre os dois. “Nós temos que encarar os fatos aqui: o menino 
na árvore estava usando roupa de ginástica. Ele tinha cabelo 
prata. Spencer está desaparecido. Por quanto tempo vai 
mentir para si mesmo antes de começar a aceitar?” Os olhos 
do Micah lacrimejam e ele se vira, fazendo carranca. 
Ninguém para ele enquanto sai correndo, 
desaparecendo pelas escadas e indo para um dos quartos de 
hóspedes. Eu deixo ele ir, sentindo esta estranha dormência 
dentro de mim. 
“Vocês dois precisam aprender a parar de descontar as 
suas emoções um no outro,” Ranger sussurra, voz sombria e 
baixa. Ele nivela seu olhar safira com o de Tobias, sombras 
dançando atrás dos olhos dele. “Vocês têm sorte que ambos 
estão vivos.” 
“Nós temos sorte que você está vivo,” Church sussurra, 
o rosto dele impassivo e fechado. Ele não sorriu nem uma 
vez desde que saímos do hospital, nem uma vez. Aquele lado 
sempre alegre dele que estava acostumada a pensar que era 
resultado de tipo, ele ser um psicopata ou algo assim, eu 
tenho quase certeza agora que é real. Depois de ver as 
emoções dele na floresta, não tenho dúvidas na minha mente 
sobre isso. Ele é um indivíduo feliz, mas danificado. 
Agora, no entanto, não há muito para ficar feliz. 
“Eu fico feliz que esteja aqui, Ranger,” eu digo para ele, 
minha voz quebrando. Ele olha para mim, vestido de calça 
de moletom e moletom com capuz. Nós todos ainda estamos 
 
 
 
 
 
 
em recuperação aqui. Nós todos estávamos no segundo 
estágio de hipotermia; nós todos temos sorte de estarmos 
vivos. 
Ele olha para mim, por um bom tempo, e então se vira 
em direção a janela. Ele não fala muito em um dia bom, mas 
depois de tudo que acabou de acontecer? Eu não me 
surpreenderia que ele estivesse sem palavras. 
A porta da frente abre e meu pai entra, óculos 
embaçados da mudança de temperatura, cabelo bagunçado. 
Ele parece como se tivesse envelhecido dez anos nas últimas 
doze horas. 
Eu me levanto do sofá, coração acelerando. Archie 
Carson não é um homem fácil de ler. Eu consigo dizer que 
está chateado, mas ele está escondendo suas emoções. Um 
dia, o cara vai quebrar e perder o controle. Ou inferno, ele 
nunca vai perder o controle? Talvez ele apenas não se 
importe o suficiente sobre algo para se soltar desse jeito? 
“Pai, é o...” 
“Eu não posso contar nada, desculpa.” Ele olha para 
mim com simpatia no rosto dele, mas eu posso sentir minhas 
mãos se fechando em punhos dos meus lados. As lágrimas 
salgadas que eu segurei por tanto tempo ficam nos cantos 
dos meus olhos. Dói; eu estou chorando demais, na maioria 
das vezes no banheiro onde os meninos não podem ver. 
Parece egoísta da minha parte estar triste pelo Spencer 
quando ele era amigo deles primeiro, amigos deles a mais 
tempo. Se você parar para pensar, eu mal conheço o cara. 
Mas tinha algo lá. 
Poderia ter sido algo incrível. 
 
 
 
 
 
 
Meus joelhos tremem, e minha garganta parece seca do 
nada. 
 “Eu falei com a polícia e até eles liberarem o 
comunicado oficial, eu não tenho permissão de dizer nada a 
respeito...” 
“Eu sou sua filha,” eu cuspo, tremendo, meus olhos 
subindo para os azuis do pai que iguais aos meus. “Sou sua 
única família. Você sabe o quanto nos importamos com o 
Spencer. Você não pode pelo menos nos dizer se aquele era 
o corpo dele, pendurado naquela merda de árvore?” 
“Charlotte, eu não vou...” ele me chamou pelo nome, 
mas não importa já que todo mundo naquele quarto sabe 
meu segredo. Agora nós todos sabemos outro, não é? Tem 
pelo menos três pessoas que me querem morta e enterrada. 
E que, pelo menos, um estudante nesta escola que não vai 
voltar para as aulas depois das férias. 
“Você não pode quebrar uma regra bem pequena por um 
segundo? Só um segundo para fazer a sua filha se sentir 
bem?” Meu temperamento está ardente e eu mal consigo 
respirar. Church alcança uma mão quente e deixa no meu 
ombro. A palma da mão seca contra a minha pele, e respiro 
fundo, uma estranha sensação de calma me lavando. Minha 
mente vaga de volta para aquela bolsa de água quente e 
chocolate que ele me trouxe. Que foi um gesto 
surpreendentemente atencioso para alguém que eu pensei 
que fosse um psicopata. “Por favor. Só diga sim ou não. Só 
isso. É tudo que você tem que fazer para mudar nosso 
mundo.” 
“Desculpa, Charlotte.” Pai olha para mim por um 
momento com uma faísca de arrependimento nos olhos dele. 
“Eu alertei seus pais,” ele acena na direção dos meninos, “e 
 
 
 
 
 
 
vocês todos vão ter carros vindo buscar vocês. Por favor 
fiquem aqui até que eles cheguem.” 
“Eu não vou deixar Charlotte,” Tobias declara, cruzando 
seus braços fortes e musculosos sobre o peito. Ele saiu do 
uniforme encharcado para um moletom com zíper da 
Adamson Academy e calça de moletom iguais, e que merda, 
com o moletom parcialmente fechado e a calça mais para 
baixo, a roupa mostra os músculos no peito dele e parte 
debaixo do abdômen de um jeito que é quase criminoso. Que 
pena que estou muito preocupada com Spencer para 
aproveitar. 
Preocupada. 
Certo. 
Tipo preocupada que ele possa estar morto. 
Eu fecho meus olhos. 
“Não é sua escolha para fazer, Sr. McCarthy. Desculpe. 
Sua mãe já enviou um carro.” 
“Então manda a Charlotte com a gente nas férias,” 
Church fala, e eu abro meus olhos para ver ele caminhando 
para frente. Seu rosto é todo para negócios, fechado e ilegível. 
Ele é um tipo de estátua de mármore, esculpido pelas mãos 
mais ágeis e habilidosas, mas falta a leve vulnerabilidade que 
vem como ser humano. 
Pobre Church. 
O coração partido dele está escondido debaixo de uma 
camada de pedra. 
 
 
 
 
 
 
“Nós podemos passar a próxima semana na Califórnia,” 
Micah fala, e eu escuto as escadas rangerem enquanto ele 
desce para ficar de pé na escada. “Tem que ser mais seguro 
que aqui.” 
“Não tem nada de perigoso sobre esse campus,” Archie 
começa, e fico de queixo caído. 
“Nada de perigoso?” Eu engasgo, tentando manter a 
minha voz baixa. Gritar dói muito agora. Hipotermia não é 
brincadeira. “Nem um pouco? Você quer dizer que não ligou 
para o 911 quando encontrou aquela marca da mão 
ensanguentada na parede do dormitório?” 
“Charlotte.” Tem um ponto final no final do meu nome, 
uma pontuação definitiva marca na conversa que 
eloquentemente diz todas as palavras que meu pai não pode 
dizer: cala a boca Chuck, nós não discutimos na frente de 
convidados. 
Mas as minhas emoções estão altas em uma onda de 
medo e melancolia, e tudo que eu posso pensar sobre são as 
últimas palavras do Spencer para mim. “Nós podíamos ter 
sido algo, Charlotte, mas eu odeio que mintam para mim. Eu 
odeio.” 
“E sobre o segredo, os túneis subterrâneos alagados 
embaixo da escola?!” Church aperta meu ombro, mas eu 
ignoro ele. Eu estou muita agitada agora. “Ou o cara morto 
pendurado por uma corda? E os alunos com hipotermia e 
alguém que quase se afogou?” Eu levanto meu braço para 
apontar para o Ranger. “Então, o campus não é perigoso? 
Você está mentindo.” 
“Eu acho que seria melhor se Charlotte saísse com um 
de nós,” Church começa de novo, mas Archie não estava 
 
 
 
 
 
 
interessado. As narinas dele abertas e o rosto está 
transformando-se em uma cor roxa/vermelha que eu espero 
que ele esteja próximo de quebrar. Tenho esperado por isso 
por anos. 
“Algumas vezes ações inadequadas levam a más 
consequências. Mesmo que eu lamente por tudo que vocês 
estão passando, vocês não deveriam ter entrado naqueles 
túneis.” Archie pausa para o efeito dramático e me sinto 
começar a tremer com emoções mal reprimidas. “Minha filha 
vai ficar comigo, ponto final.” Archie me encara, uma batalha 
de vontades que eu não vou perder. 
“Não seria um problema colocá-la em um hotel perto da 
casa da minha mãe,” Ranger diz, a voz dele dura e áspera de 
quase se afogar. 
“A carona devocês deve chegar aqui daqui a pouco. Até 
lá, eu vou ficar no meu escritório. Independente da amizade 
de vocês com a minha filha, eu ainda sou o pai dela e ainda 
sou o diretor dessa escola. Não vai ter mais discussões sobre 
isso.” Archie exala e toda cor sai do rosto dele, deixando uma 
calma que me irrita. Ele se vira e vai para o escritório, 
fechando a porta deixando só uma fresta. Música de jazz sai 
por ela enquanto eu franzo a testa. Muito. Tanto que minha 
boca dói. Tanto que eu sinto as lágrimas começar a voltar 
aos meus olhos. 
Archie me quer aqui, no campus da morte. Claro que ele 
quer. Ele é muito egoísta para admitir que algo está errado 
aqui. Por que ele iria? Isto mancharia sua perfeita ficha de 
trabalho. Deus o livre ele admitir que as coisas estão fora de 
controle. 
“Eu não vou sair se você não vai,” Tobias repete e o 
irmão dele grunhe da posição dele na escada. 
 
 
 
 
 
 
“Nem eu,” Ranger declara, mas Church cruza os braços 
sobre o peito, uma pequena carranca no rosto. Eu me 
pergunto como os pais deles são ou se discutir com eles, 
sequer era uma opção. 
Discutindo com o meu não é, com certeza. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Surpreendentemente, os meninos acabam conseguindo 
o que queriam, e os carros que vieram para eles voltam pelo 
mesmo caminho que vieram. 
Pirralhos mimados. 
Estou com muita inveja. Eu gostaria que meu pai se 
importasse o suficiente para me deixar ir. Eu só quero me 
afastar dessa escola estúpida e de toda essa merda. 
Spencer está morto. 
Eu tento processar essa frase na minha cabeça, mas ela 
se recusa a aceitá-la. Não há como entender esse conceito, 
não há como torná-lo verdade. Eu não quero que seja 
verdade. 
Enquanto eu estou deitada na minha cama, repasso 
várias vezes o cenário, o que a pessoa na árvore usava, o 
formato do corpo, a cor do cabelo... Não há muitos garotos 
nessa escola com cabelos cinza-prata. 
Isso é... exceto Eugene Mathers. 
 
 
 
 
 
 
Meu humor se anima um pouco e saio da cama, 
procurando meu laptop. Tirei essa foto da escola para enviar 
para Monica, e Eugene passou por lá enquanto eu tirava. 
Deve ter salvo no meu messenger em algum lugar... 
Abro a parte superior do meu computador e volto para 
as minhas conversas com Monica (adiciono outra camada de 
cobertura ao meu bolo da depressão, muito obrigada pelas 
redes sociais). 
Aí está. 
Eu dou um zoom e olho de soslaio para os cabelos de 
Eugene. É da mesma cor que Spencer, como se ele estivesse 
tentando copiá-lo e quase conseguiu, mas não o executou 
tão bem. A versão de plágio em mosaico de um penteado. Há 
partes que parecem cinzas de idosos em vez de prateadas, 
como se o estilo fosse mais geriátrico do que de animes. 
E, tipo, Eugene é um idiota, certo? Eu me sinto meio 
mal por esperar que ele seja o cara morto, mas também... 
talvez seja justiça cármica? 
Começo uma mensagem de grupo com os caras quando 
ouço uma pedra batendo na minha janela. Mais cedo, meu 
pai me mandou de volta ao dormitório com Nathan, o 
segurança assustador, e alguns policiais uniformizados para 
pegar minhas coisas. Peguei a bolsa com as armas também, 
então estou totalmente armada quando vou na ponta dos pés 
até a janela e olho para fora. 
Mas é apenas o Conselho Estudantil esperando por mim 
em toda a sua glória, iluminados pelo luar e bonitos, cada 
um deles. Bem, exceto Spencer, é claro. Meu estômago 
revirou, e expiro na tentativa de afastar a náusea. 
 
 
 
 
 
 
Cuidadosamente, abro a porta e ouço os roncos do meu 
pai. Eu sinto que deveria haver policiais vigiando a casa ou 
algo assim, mas não há. Há alguns no campus, patrulhando 
a noite, mas é isso. É como se ninguém levasse esse 
assassinato a sério. 
Ou então... eles não acham que o garoto pendurado na 
árvore foi assassinado? 
O mais rápido possível, eu troco a blusa e a calça de 
moletom que estava vestindo para um uniforme novo e 
limpo. Ainda não quero que toda a escola conheça meu 
segredo, principalmente depois do que passei recentemente. 
Claramente, alguém - na verdade, várias pessoas - estão 
querendo me pegar. 
“O que vocês estão fazendo aqui?” Eu pergunto 
enquanto saio pela porta dos fundos com minha bolsa por 
cima do ombro e meu laptop debaixo do braço. Eu empurro 
meus óculos pelo nariz e tremo no ar gelado. Está 
congelando aqui, mesmo que seja março. Deveria ser 
primavera; deveria estar quente. Já mencionei o quanto sinto 
falta do clima da Califórnia? O nordeste é frio o ano todo, 
juro por Deus. 
“Vamos procurar Spencer”, Tobias diz, suspirando 
profundamente. Ele não parece muito esperançoso. 
“Pelo que sabemos, ele ainda pode estar de mau humor 
em algum lugar e talvez nem sequer saiba sobre o cara na 
floresta.” Ranger suspira e bagunça os cabelos escuros com 
os dedos, fechando os olhos de safira por um momento. Tudo 
isso deve ser duplamente difícil para ele, considerando como 
sua irmã morreu. 
 
 
 
 
 
 
“Veja.” Pego meu computador e mostro a foto de Eugene 
para os caras. “Ele tem a mesma cor de cabelo que Spencer, 
certo? Talvez tenha sido Eugene que vimos?” 
“Por que você tem uma foto de Eugene Mathers no seu 
laptop?” Micah pergunta, como se ele estivesse todo 
machucado por isso. Eu dou a ele um olhar estreito. Por mais 
que eu considere sua pequena centelha de ciúme 
reconfortante, agora não é a hora. 
Spencer... Precisamos descobrir o que aconteceu com 
Spencer. 
“Eu mantenho todos os meus números na nuvem, então 
mesmo com um celular novo...” Church tira um Iphone 
novinho em folha, e eu estreito os olhos. Viu o que eu disse? 
Substituir meu Iphone por um Samsung foi um golpe 
proposital. Só passou metade do dia, e ele já conseguiu um 
substituto para ele mesmo. “Sim, eu ainda tenho o número 
do Eugene. Eu poderia mandar uma mensagem para ele e 
ver se eu consigo uma resposta.” Church já está tocando 
seus dedos na tela. Ele definitivamente tem a vibe de um 
líder, este carisma natural junto com uma atitude de não-
aceito-merda. Ele não faz perguntas; ele apenas age. “Agora 
nós esperamos. E enquanto esperamos, nós procuramos. 
Vamos começar pelas cabanas dos funcionários” 
“Entendido, Sr. Presidente do Conselho Estudantil,” os 
gêmeos falam, fazendo continência para Church em 
uníssono. 
“Oh, é que nem uma aventura dos Hardy Boys. Ou se 
possível Nancy Drew.” Ross pausa então, o sorriso dele 
tremendo como se ele estivesse quase perdendo a cabeça. Eu 
assumo que os meninos já contaram para ele tudo que 
aconteceu. Isto, e eu tenho quase certeza que ele está pelo 
 
 
 
 
 
 
menos meio apaixonado por Spencer Hargrove. “Quando eu 
encontrar aquele menino, eu vou bater na bunda dele com 
as brochuras de cada cópia, só para garantir.” 
“Você faça isso mesmo,” Tobias diz com um rolar dos 
olhos, e Micah zomba. Ele realmente acredita que Spencer 
morreu, não é? Eu olho para longe porque não aguento a 
falta de esperança gravada no rosto bonito dele; é demais. 
Esperança é a coisa com penas, certo? Te dá asas, e eu 
realmente, realmente poderia usar algumas asas agora 
mesmo. 
Cada um dos gêmeos segura uma das minhas mãos, e 
nós vamos em direção a escuridão sombria da floresta. Eu 
não gosto muito da ideia de voltar para lá, não depois da 
merda de ontem a noite. Mas enquanto eu coloco meu 
computador na minha mochila, eu me lembro que tenho 
uma faca, meu taser e o que restou do spray de pimenta. 
Isto, e de jeito nenhum eu vou voltar para aqueles túneis 
subterrâneos de novo. 
Nós vamos ficar bem, né? Nós seis juntos. Vai ficar tudo 
bem. 
Continue dizendo isso para si mesma, Charlotte. É uma 
má ideia, e você sabe. 
A coisa é que Spencer vale a pena. Eu... entraria em 
milhares de florestas sombrias para encontrar ele. “Você 
mentiu para mim, e eu odeio que mintam para mim.” O 
choque e tristeza no rosto dele vai me assombrar o resto da 
minha vida se eu não encontrar ele. Eu não consigo imaginar 
aquela sendo a últimainteração que tivemos. 
“Merda,” eu murmuro, meu pé pisando no molhado 
embaixo das árvores. Aquela foi uma tempestade feia. O 
 
 
 
 
 
 
campus inteiro está molhado, alagado com grandes poças 
que afogam metade da calçada para pedestre. 
“O que?” Micah sussurra, mas é difícil formular 
palavras que não sejam palavrões. 
“Eu só… Spencer e eu… eu não quero que a última 
experiência que ele teve na vida seja uma briga com os 
amigos dele. Uma briga que eu comecei porque não contei a 
verdade.” 
Micah faz um som, mas ninguém mais reconhece que 
eu que falei algo. Percebo naquele momento que eu sou uma 
pessoa egoísta. Tipo muito egoísta. Isto não é sobre mim, 
nada disso é. Na verdade, eu sou a pessoa que tem menos 
direito sob Spencer. Química e vibes não fazem um 
relacionamento. 
Solto a mão dos gêmeos, eu passo minhas mãos pelo 
meu rosto enquanto nós paramos perto de uma fila de 
cabanas. As janelas estão todas escuras, ameaçadoramente 
e tem várias cabanas que parecem que estão feitas pela 
metade. Church tira uma chave do bolso dele, sem mais nem 
menos, e destranca a primeira. 
“Onde você conseguiu isso?” Eu sussurro enquanto 
Ranger liga a lanterna que ele estava carregando e passa pelo 
quarto todo. 
“Spence?” Ranger grita, sem se importar em manter a 
voz baixa. Eu me encolho um pouco, mas eu acho que nós 
fizemos tanto barulho caminhando pela floresta quanto um 
caminhão dirigindo por uma usina nuclear, então porque se 
importar em ser sútil agora? 
 
 
 
 
 
 
“Nós roubamos da sala dos professores,” os gêmeos 
respondem em uníssono, e eu rolo meus olhos. É um gesto 
tão normal que eu estou instantaneamente sobrecarregada 
de culpa. Coisas não deveriam ser normais se o Spencer 
está… bem, morto. 
Meu estomago aperta, mas eu empurro para baixo, 
esperando por Ranger checar a cabana. É apenas um andar 
com duas camas de solteiro, duas mesas, uma cozinha 
pequena no canto. Não precisa de revista meticulosa para ver 
que ninguém está aqui. 
 Nós vamos para a próxima cabana e a próxima e então 
a próxima. Quando nós chegamos a última, com as lonas 
sobre a janela e teto, nós encontramos uma janela quebrada 
nos fundos e um pedaço de madeira pregada cruzando a 
porta da frente. 
“Você acha que a tábua foi colocada aqui para impedir 
os estudantes de entrar?” Eu pergunto enquanto nós 
circulamos a cabana em grupo. Isto não é um filme de terror, 
okay. De jeito nenhum que vamos nos separar. 
“Não.” Ranger aponta a lanterna para os pedaços 
brilhantes de vidro no chão. “A janela foi quebrada por 
dentro. Além disso, por que essa cabana? Nenhuma das 
outras está cobertas com tábuas.” Ranger e Micah ajudam a 
levantar Tobias pela janela. Estou preocupada o tempo todo 
que ele se corte, mas ele parece bem, sem sangue ainda. A 
lanterna varre a sala enquanto Church e Ranger 
impulsionam Micah depois. 
“Spencer estava definitivamente aqui”, ele grita, e então 
há o som de madeira sendo triturada quando a porta da 
frente é chutada por dentro, arrancando a placa das 
dobradiças. 
 
 
 
 
 
 
“Treinamento de MMA”, explica Ranger com um leve 
encolher de ombros. Eu levanto minhas sobrancelhas, mas 
não digo nada quando chegamos à frente e encontramos os 
gêmeos mexendo no lixo no chão. 
“Embalagens de Doritos, recipientes com sobras do 
clube de culinária e alguns papéis para enrolar. Essa 
bagunça tem a cara daquele idiota chapado por toda parte.” 
Tobias se levanta enquanto Micah joga de lado os cobertores 
no sofá, procurando... eu não sei, sangue? Sinais de que ele 
esteve aqui recentemente? Eu não sei. Eu não sou uma boa 
detetive. 
Esta cabana é muito melhor do que as outras, maior, de 
dois andares e com uma enorme cama king-size no último 
andar. Parece que esse foi o modelo para os projetos de 
construção iniciados em algumas das outras. Não é de 
admirar que Spencer goste de ficar aqui. 
Ou gostava... Por favor, não deixe que isso seja uma 
frase no passado. 
Expirando, olho em volta para os outros, mas não há 
nada de real significado, apenas um pouco de lixo e um 
carregador de celular deixado na parede. É isso. 
“Bem, ele definitivamente esteve aqui”, Church diz, 
encostado na parede perto da porta da frente, o queixo 
inclinado para baixo, os olhos fechados. Cabelo loiro desliza 
para frente para cobrir a parte superior do rosto, mas não há 
muito para ver lá de qualquer maneira. Ele ainda está 
completamente fechado. “Mas isso não nos diz se ele ainda 
está vivo.” 
“Não, mas é um bom começo.” Ranger exala e se vira 
para nos encarar, colocando as mãos nos quadris. “Spencer 
 
 
 
 
 
 
esteve aqui. E ele sempre reclama do uniforme da academia, 
diz que cozinha suas bolas.” Ele me olha e dá um leve 
encolher de ombros. “Desculpe a linguagem.” 
“Não, eu entendo. Shorts de ginástica cozinha as bolas. 
OK. Então, o que isso tem a ver com alguma coisa?” 
“Bem, depois que ele nos deixou no corredor, ele 
provavelmente voltou aos dormitórios e pegou uma muda de 
roupa. O cara que estava pendurado na árvore ainda estava 
com seu uniforme. De jeito nenhum Spencer ficaria aqui fora 
e fumaria um baseado nesses shorts.” 
‘Você está dando tiro no escuro, cara. Umas bolas 
suadas não é exatamente a pista inovadora que estamos 
procurando. Isso não significa nada.” Micah chuta uma lata 
de refrigerante pelo chão, e ela chia. 
Chia. 
Como se não fosse tão velho assim. 
Trocamos um olhar enquanto ele se abaixa e pega, 
tomando um gole da lata. Ambas as sobrancelhas sobem. 
“Cara, isso está fresco. Como super fresco. Ainda está 
borbulhante.” Ele entrega primeiro a seu irmão, depois a 
Ranger, eu, Ross e Church. Todos tomamos um gole. Está 
realmente fresco, como se tivesse sido aberto apenas alguns 
minutos antes de chegarmos aqui. Meu coração pula no meu 
peito, mas eu sei que isso não significa nada. Spencer 
Hargrove não é o único aluno da Adamson que foge para os 
limites do campus para fumar um baseado. 
“Eu tentei mandar mensagens de texto para o idiota, 
mas nenhuma resposta.” Church passa a mão pelo rosto. 
 
 
 
 
 
 
“Ele ainda pode estar chateado conosco. Talvez o telefone 
dele esteja desligado?” 
“Ou talvez ele esteja no necrotério e não possa 
responder”, Micah sussurra, e eu juro, Ranger rosna para 
ele. 
“Por que você está tão determinado a ser um idiota 
pessimista quando o resto de nós está tentando tanto ser 
positivo?” 
“Porque eu não quero criar esperanças apenas para ser 
fodido novamente. Cara, eu... eu não sei como lidar com isso. 
Quando vi o corpo dele pendurado naquela árvore, eu só 
queria morrer. Não me faça reviver esse momento. Prefiro… 
pensar que ele está morto até que se prove o contrário.” 
Micah fecha os olhos verdes e senta-se com força na beira do 
sofá. Ele range, como se pudesse sentir mais do que apenas 
o peso de seu corpo, como se suas emoções e seu estresse 
fossem pesados demais para aguentar. 
Há um longo período de silêncio antes de Church se 
afastar da parede e se endireitar. “Vimos o que precisávamos 
ver. Vamos levar Charlotte de volta antes que o diretor 
perceba que ela está desaparecida.” 
Voltamos para a varanda da frente, mas não consigo 
resistir a olhar por cima do ombro uma última vez, sentindo 
falta de Spencer, imaginando onde ele está, e desejando com 
cada batida do meu coração que eu o veja novamente. 
Se eu fizer, vou dar-lhe o beijo de uma vida, isso eu 
prometo. 
Talvez mais. 
 
 
 
 
 
 
 
Sim, provavelmente mais. 
 
 
 
 
Os próximos dias são longos e terríveis. Apenas uma 
hora após a outra, me perguntando quando posso sair de 
fininho de novo, quando papai pode me dizer alguma coisa, 
quando a polícia vai encerrar sua investigação. 
Três dias nesse pesadelo, ainda há pouca notícia e 
apenas alguns pais irritados para lidar. São quase oito da 
noite quando papai entra e se senta na mesa do jantar, 
olhando para minha tigela de macarrão com queijo com um 
olhar cético. Ele provavelmente acha que é macarrãoinstantâneo, mas mal sabe ele, eu aprendi como fazer isso 
durante o Clube de Culinária. Spencer foi quem me contou 
o segredo sobre misturar farinha de rosca com manteiga e 
polvilhá-las por cima antes de assar. 
Meus olhos lacrimejam, mas pisco rapidamente para 
limpá-los. 
“O que?” Eu pergunto, colocando uma mordida enorme 
na minha boca e observando meu pai com cautela. Ele não 
tem sido exatamente o mais próximo, mais como algum tipo 
de guarda da prisão. Ele me abraçou com força naquele 
primeiro dia, mas acho que ele tem problemas de intimidade, 
então é tudo o que tenho. Apenas aquele abraço. E foi apenas 
 
 
 
 
 
 
okay. Ranger foi quem me mostrou como deveria ser um 
abraço. 
“A polícia considerou a morte um suicídio. Eu só quero 
que você saiba disso.” 
“Um suicídio?!” Eu grito, acidentalmente jogando um 
enorme pedaço de macarrão com queijo quente na parede. 
Papai e eu nos encolhemos, mas não posso evitar. Estou 
tremendo aqui. “Eles são estúpidos?! Sou uma estudante de 
dezessete anos e pude ver assassinato escrito por toda a 
cena. Como uma pessoa poderia pegar uma corda tão alta 
na árvore e depois se pendurar nela sem haver algum tipo de 
escada ao redor?” 
“Charlotte, eu não sou detetive. Só estou lhe dizendo 
qual foi o resultado da investigação. Se você tiver um 
problema, pode falar com os policiais envolvidos.” Minha 
boca está literalmente aberta, e minhas palavras me 
escaparam completamente. Eu estou sofrendo aqui. 
“Mas... alguém nos trancou naqueles túneis. Alguém 
nos queria mortos.” 
“A porta dos túneis estava fechada e trancada, sim, mas 
poderia facilmente ter sido um acidente ou uma brincadeira 
que deu errado.” 
“E o buraco no teto do quarto do Mark?!” Eu pergunto, 
levantando-me tão rápido que faço minha cadeira cair. “Isso 
também foi uma brincadeira?” 
“Não há buraco no teto do quarto do Mark”, papai diz, e 
meus olhos se arregalam. O que... que merda?! 
 
 
 
 
 
 
“Como assim, não há buraco?” Eu sussurro, minha voz 
baixa e escura. Estou com problemas para processar o que 
meu pai acabou de dizer. “Havia claramente um buraco lá 
antes. Eu te contei o que aconteceu.” Bem, parte do que 
aconteceu. Parte do que eu disse foi mentira. Eu disse ao 
papai que ouvimos muito barulho no quarto de Mark e 
abrimos a porta destrancada. Eu não disse a ele que fui 
atacada no chuveiro. Talvez eu devesse ter? Embora... eu 
juro, cheire a conspiração aqui. 
Algo não está certo. 
“Não sei o que lhe dizer. Não há buraco no quarto dele, 
Charlotte. E, embora eu concorde que o que aconteceu nos 
túneis foi horrível, foi o resultado de uma tempestade. Você 
não deveria estar lá em primeiro lugar.” 
“Alguém fechou e trancou a porta em nós.” 
Papai me dá um olhar longo e persistente e suspira. 
“Talvez. Mas o que você quer que eu faça sobre isso? Eu 
disse à polícia tudo o que você me disse. A menos que haja 
algo que você gostaria de adicionar?” O jeito que ele me olha, 
é bem óbvio que ele sabe que estou me segurando. Acabo 
devolvendo o olhar, mas não digo mais nada. Se eu fizer, ele 
pode me enviar para outra escola, como ele prometeu. Até 
saber o que realmente aconteceu com Spencer, não vou a 
lugar nenhum. 
Eu me levanto da mesa e corro para o meu quarto. 
Quando estou sozinha, no escuro, é quando fica impossível 
segurar as lágrimas. Deitada na minha cama sozinha, choro 
no meu travesseiro por horas. 
 
 
 
 
 
 
Spencer gostava de mim pelo que sou. Ele não conhecia 
todos os meus segredos e, mesmo quando se tratava de 
questionar tudo o que achava que sabia sobre si mesmo, 
estava disposto a arriscar. 
Quantas vezes na vida uma garota encontra um cara 
assim? 
Ugh. 
Meu travesseiro está molhado das lágrimas e estou toda 
ranhenta. Mas isso não importa. Tudo o que consigo pensar 
é em todas as coisas que eu queria falar com Spencer sobre 
as quais nunca tive chance. Acho que toda essa merda que 
pintam em placas de madeira é verdadeira, ditados como 
“Viva todos os dias como se fosse seu último” ou “Você não 
aprecia o que tem até que o perde.” 
Com um grunhido, jogo meu travesseiro do outro lado 
do quarto e ele bate em um copo de água, derramando em 
tudo. Pego meu computador, envio uma mensagem para 
Spencer mais uma dúzia de vezes. Eu digo a ele todo tipo de 
coisa que eu nunca teria coragem de dizer em voz alta. 
E então adormeço e sonho com o cheiro dele, aquele 
cheiro de menta e de cedro que faz meu estômago apertar, 
meu coração disparar e meu corpo esquentar por dentro. 
Eu talvez nunca sinta esse cheiro novamente. 
A ideia apenas me mata. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Na manhã seguinte, eu nem me incomodo em sair da 
cama. Pra que? Ainda tenho dois dias de férias de primavera 
e não tenho para onde ir, nada para fazer. Tudo o que quero 
é encontrar Spencer, mas com o passar dos dias, minha 
esperança fica cada vez menor. Se ele estivesse vivo, ele já 
teria nos mandado uma mensagem. Se ele estivesse vivo, já 
o teríamos visto, não é? 
Ele está morto então. 
É isso aí. 
Ele está realmente e verdadeiramente morto. 
Alguma parte de mim esperava que, como em um bom 
livro, sua morte fosse apenas um suspense, alguma 
provocação do autor que se resolveria na hora certa. Mas isto 
não é um livro, é a vida real, e nada é como deveria ser. Não 
consigo refazer as coisas que não gosto, recomeçar como se 
estivesse vivendo em um videogame. Não. Eu tenho que 
aceitar. 
Eu tenho que aceitar que ele nunca mais voltará. 
Conectando meus fones de ouvido, encolho-me na cama 
e coloco a música mais triste que consigo encontrar, como se 
ouvir os problemas de outras pessoas fizesse com que os 
meus desaparecessem. Mas não importa o quanto eu chore, 
parece que não consigo acabar com a melancolia doentia 
dentro de mim. Não importa quantos suéteres e cobertores 
eu empilhe em cima de mim, não consigo afugentar o frio. 
 
 
 
 
 
 
Os meninos passam por aqui, mas o humor deles não 
está muito melhor. Acabamos sentados juntos no meu 
quarto vendo um filme idiota. Tobias abre a janela e acende 
um baseado - provavelmente um de Spencer - e todos nos 
revezamos expirando pela tela para que meu pai não sinta o 
cheiro. Bem, todos menos Church. 
Ele apenas fica quieto e contemplativo na cadeira de 
balanço perto do armário, mas ele não balança. Ele fica 
parado como uma estátua que ele se parece tanto, seus olhos 
cor de âmbar olhando para nada enquanto ele toma um café. 
“Acho que haverá um anúncio na segunda-feira?” Micah 
pergunta calmamente, descansando na minha cama. Os 
gêmeos se sentiram em casa de uma maneira que seria 
encantadora se eu não estivesse tão triste de luto que sinto 
que poderia me afogar. Eles estão sentados de cada lado de 
mim, tornozelos cruzados, mãos cruzadas no peito, de forma 
idêntica. Eu me pergunto se é apenas força do hábito, como 
se eles tivessem que praticar sua rotina de gêmeos, ou se eles 
fazem isso sem querer. 
“Um anúncio?” Tobias pergunta, zombando, seu cabelo 
vermelho-alaranjado despenteado, grandes círculos roxos 
sob os olhos. Ele claramente não esta dormindo. Dormir é a 
única coisa que me fez passar por toda essa merda em 
primeiro lugar. “Sobre o 'suicídio'?” Ele faz aspas com os 
dedos. “Não é Spencer, estou lhe dizendo.” 
“Se não é o Spencer, onde ele está e por que ele 
desapareceu completamente das redes sociais? Ele não está 
respondendo mensagens de texto ou telefonemas, e seus pais 
não respondem a nenhuma das minhas mensagens.” Micah 
cospe isso de volta com uma mordida cáustica em sua voz 
que me faz estremecer. 
 
 
 
 
 
 
“Isso não significa nada. A mãe do Spencer é impossível 
de entrar em contato nos melhores dias, e seu pai...” Ranger 
se detém e encolhe os ombros. Não sei muito sobre o pai do 
Spencer, exceto que ele é dono de uma empresa 
farmacêutica. Merda, eu não sei muito sobre o próprio 
Spencer, muito menos sua família. “E todos sabemos que 
Jack é uma total perda de tempo.” 
Jack, hein? Acho que estãofalando do irmão mais velho 
do Spencer, o famoso traficante de drogas da Adamson 
Academy. Soa como um bom cara. 
“Pedi para minha mãe investigar”, Church começa com 
um suspiro, “mas ela está em algum tipo de briga com 
Sheena e não consigo falar com ela. Ela admitiu que há 
algumas fofocas sobre o suicídio, mas ela não pegou um 
nome. Os pais querem que a identidade de seu filho seja 
retida, para que possam ficar de luto.” 
Olho entre Church e Ranger. Tenho certeza de que 
Sheena é a mãe do Spencer, mas o que eu sei? É o quão 
pouco eu realmente conhecia… conheço o cara. 
“Poucas pessoas gostariam que o nome da criança 
supostamente suicida fosse arrastada pela lama.” A voz de 
Ranger é baixa e um pouco grossa, como cascalho rolando 
ladeira abaixo. Ele é compreensivelmente sensível sobre a 
coisa toda. Seu cabelo escuro não é tão brilhante como de 
costume, espetado em ângulos estranhos, como se ele não 
tivesse tomado banho em dias. Eu não posso culpá-lo. Eu 
também não tomei. Tenho certeza de que cheiro a asa, mas 
não me importo. Não importa. 
“Mm.” Apenas um som de Church, e então ele se levanta 
para encher o copo de água da jarra na minha mesa. Papai 
trouxe aqui para nós, e então ele tentou deixar a porta 
 
 
 
 
 
 
aberta, o que me irritou. Como se eu estivesse fazendo algo 
sexual depois que meu amigo morresse. Idiota. Além disso, 
notas para os pais: deixar a porta aberta na verdade não 
impede os adolescentes de fazer sexo. Nós fazemos sexo. 
Supere. Bem, a maioria de nós... Ainda tenho que 
ultrapassar esse limite, mas não é porque papai está 
respirando no meu pescoço. Eu tomei essa decisão por mim 
mesma. 
“Eu não consigo acreditar que amanhã é domingo,” 
murmuro, odiando que as férias estejam chegando a um fim 
tão abrupto. As férias de primavera devem ser divertidas. 
Deveria ser gasto surfando e deitada no sol quente, bebendo, 
fumando e dançando, saindo, indo a shows na praia. Como 
eu acabei aqui, gastando-o em uma academia velha e triste 
enquanto chovia lá fora, e eu chorava todas as noites? 
Quase sinto falta do meu relacionamento superficial 
com Cody. Se ele tivesse morrido, tenho certeza de que teria 
chorado por um dia, mas Monica teria ligado, e estaríamos 
nas ondas novamente. Parece insensível, mas... é verdade. 
Acho que nunca me importei com Cody do jeito que me 
importo com Spencer. Me importava com Spencer? 
Não. 
Não, “importo” está certo. O tempo presente ainda está 
certo. 
Até eu estar no funeral de Spencer, colocando flores em 
seu túmulo, vou usar o tempo presente. 
“Vocês tiveram a chance de verificar o buraco no teto de 
Eugene?” Eu pergunto, e Ranger balança a cabeça uma vez. 
 
 
 
 
 
 
“Havia policiais por todo o dormitório. Só podíamos 
entrar na cozinha e ir direto para os nossos quartos ou o 
banheiro. Eles pareciam estar limpando antes de sairmos, 
então talvez hoje à noite possamos dar uma olhada. Ainda 
estou tendo problemas para entender porque os idiotas que 
atacaram você se deram ao trabalho de selar aquele buraco. 
Quero dizer, é apenas estranho pra caralho.” Ele suspira e 
se levanta, esticando os braços sobre a cabeça. “Minha 
cabeça está me matando, e eu juro, essa maconha está me 
deixando paranoico. Vou voltar para o meu quarto para tirar 
uma soneca. Me acorde quando esse pesadelo acabar.” 
Ele sai pela porta e Church se levanta para segui-lo sem 
dizer uma palavra. Quase perdendo um melhor amigo... e 
possivelmente perdendo outro, o fodeu mesmo. 
“Ele nunca vai superar isso,” Micah diz, e Tobias zomba. 
Ele não gosta que seu irmão gêmeo fale sobre Spencer como 
se já tivesse terminado. 
“Se o colega de quarto de Spencer se mudou para o 
exterior, por que ele estava compartilhando com Ranger?” Eu 
pergunto, o aspecto chato e mundano dessa pergunta me 
acalma, como se tudo fosse normal, como se as coisas 
fossem boas novamente. 
“Church e Ranger deveriam ser colegas de quarto, mas 
Church gosta do seu espaço. Ele e Spencer trocaram de 
quarto, mas não é oficial. Eles serão repreendidos se forem 
pegos.” Tobias faz uma pausa. 
“Bem, eles teriam sido repreendidos, se Spencer não 
estivesse-” 
 
 
 
 
 
 
“Não. Não ouse.” Tobias se vira e olha para o irmão 
através da largura do meu corpo. “Se você fizer, eu juro por 
Deus...” 
“Você vai o que? Me dar outro nariz sangrando? Eu não 
tenho medo de você.” 
“Talvez você devesse ter”, Tobias retruca, mas então me 
sento de repente, ficando entre eles. Eu não aguento mais 
brigar. 
“Por favor”, eu sussurro, meus olhos cheios de lágrimas. 
Minhas mãos começam a tremer no meu colo, e Tobias faz 
uma careta, inclinando-se para colocar a testa no meu 
ombro. Uma pequena risada me escapa. Bem, ok, meio 
soluço e meio risada. “Estou fedendo? Você pode ser 
honesto.” 
“Talvez só um pouco”, Tobias murmura, e eu posso 
senti-lo sorrindo contra a minha pele. “Mas está tudo bem. 
Eu não me importo. Eu gosto das minhas meninas com um 
pouco de odor.” 
“Nojento”, murmuro, empurrando-o para longe de mim. 
Micah se levanta de repente, como se estivesse chateado, e 
Tobias e eu paramos para olhar para ele. 
“Como vocês podem rir e falar assim quando sabem que 
ele se foi? Eu não... eu não entendo...” Ele se senta 
pesadamente no banco em frente à minha janela e tira o 
baseado do velho recipiente de latão enferrujado de Altoids. 
Ele fuma um pouco e depois encosta a cabeça no batente da 
janela. 
“Porque ainda temos esperança. As pessoas vivem das 
migalhas das coisas, você sabe.” Tobias se senta e se recosta 
 
 
 
 
 
 
na cabeceira da cama, imitando a pose de seu irmão gêmeo. 
“E se ele se foi, você sabe que temos que continuar, certo? 
Nós não apenas desistimos da vida. Nós só temos uma, 
mano. Temos que viver, independentemente.” Tobias lambe 
os lábios e desvia o olhar, em direção à porta do armário. “Eu 
não diria nada por respeito a Spencer, mas eu meio que 
tenho uma queda por Charlotte. Quando ele voltar, ele pode 
ter que lutar comigo por seus sentimentos.” 
“Sério?” Eu pergunto, forçando um sorriso através das 
lágrimas. “Tenho a sensação de que ele brigaria bem.” 
“Sim, mas você sabe que eu venho treinando há anos 
para lutar no ringue. Eu poderia totalmente chutar sua 
bunda. Quero dizer, ele é scrappy1, mas...” 
Micah se levanta de novo, jogando o restante dos 
baseados pela janela na chuva antes de ir embora. Tobias 
suspira e olha para mim, olhos verdes meio fechados pela 
fadiga. 
“Vá com ele. Não quero que ele fique sozinho,” sussurro, 
e Tobias assente. Ele hesita por um segundo antes de se 
inclinar para frente e capturar meus lábios com os dele. O 
beijo é agridoce como o inferno, mas tingido com esse calor 
desesperado e dolorido, tanto que acabo me agarrando à 
camisa dele sem nem perceber que me mexi. 
“Eu também não quero te deixar sozinha,” ele sussurra, 
se afastando um pouco e me olhando no rosto. 
Definitivamente, há uma centelha com os gêmeos também. 
Não tenho certeza de como processá-lo, especialmente diante 
da tragédia. Meus sentimentos por Spencer estão nublando 
 
1 Scrappy: pequeno e inofensivo, mas suspreendentemente capaz de brigar com 
qualquer outra pessoa. 
 
 
 
 
 
 
meu julgamento agora, como se eu não pudesse pensar em 
Tobias ou Micah quando estou tão preocupada com ele. 
“Vamos rever... isso”, eu sussurro, apontando para 
frente e para trás entre nós, “depois que soubermos”. 
“É justo”, Tobias sussurra, e então ele me beija 
novamente, deixando o gosto doce de uma paixão do ensino 
médio junto com a tristeza amarga de um amigo quebrado 
nos meus lábios. É muito. Fico calma até ele sair, depois 
corro para o banheiro e ligo a água até ferver. Dói como o 
inferno, mas eu entro e deixo lavar sobre mim enquanto 
fecho o ralo e deixo o chuveiro encher a banheira para mim. 
Eu fico no banho até minha pele ficar enrugada, mas 
isso não facilita as coisas. 
Luto é uma merda. 
É como um pequenodemônio que persegue todos os 
seus movimentos, não importa o quão rápido você corra, o 
quão bem você se esconda, o quanto lute contra isso. Está 
lá, pronto para aparecer a qualquer momento. 
Envolvendo meus braços em volta dos joelhos, encosto 
a testa nas pernas e fecho os olhos, deixando a água escorrer 
até meu corpo parecer pesado demais para aguentar. 
Quando volto para o meu quarto, fico olhando a tela do 
meu notebook por um longo, longo tempo, esperando, 
desejando e orando por aqueles pontinhos de Spencer para 
me dizer que ele está digitando. Meu coração dispara com o 
pensamento, mas não importa quanto tempo eu olhe, as 
coisas não mudam. 
Minha esperança não o trará de volta à vida, certo? 
 
 
 
 
 
 
Finalmente, fico desesperada e mando uma mensagem 
para Monica. 
Mesmo que as coisas tenham corrido mal, sinto sua falta. 
É tudo o que eu digo. Porque é a verdade. Perder Spencer 
está me fazendo perceber quantas coisas na minha vida eu 
não dei valor. Depois de um momento, mando uma 
mensagem para minha mãe também, mas sei que ela não 
será capaz de responder por um tempo. Não são permitidos 
telefones na reabilitação. Pelo menos, não do tipo que ela vai, 
esses lugares luxuosos, como um spa, que meu pai paga, 
apesar de terem se divorciado há anos. 
Finalmente o sono me leva, mas o Sandman2 deve estar 
seriamente relaxado quando acordo poucas horas depois 
com o som da chuva caindo lá fora, estrondo dos trovões de 
longe. 
“Porra de tempo de merda do nordeste,” resmungo 
quando saio da cama, piscando através de grandes círculos 
brancos enquanto tento forçar meus olhos sonolentos a se 
concentrar no brilho do meu notebook. 
Nenhuma mensagem de Spencer. Ou de Monica. Ou da 
minha mãe. 
Espero que você esteja dormindo. Aquela é do Tobias. Só 
isso. E de apenas alguns minutos atrás. Digito uma resposta 
rápida, vou ao banheiro e faço xixi enquanto espero por uma 
resposta à minha breve mensagem tempestade me acordou. 
Eu também. Você quer vir aqui? 
 
2 Sandman: mestre dos sonhos, bicho-papão. 
 
 
 
 
 
 
Hesito por um momento e depois digito um sim rápido, 
vestindo uma capa de chuva pesada, botas e agarrando meu 
estúpido guarda-chuva emoji que Monica me deu. É o rosto 
encolhido, sabe, aquele com os dentes? De qualquer forma, 
ela diz que eu faço essa cara o tempo todo, então era apenas 
apropriado que eu tivesse um guarda-chuva igual. 
Pessoalmente, eu odeio, mas foi um presente, então aceitei 
graciosamente. E, graciosamente, quero dizer que fiz 
exatamente essa cara. 
“Ei”, eu sussurro quando abro a porta da frente e 
encontro Tobias, todo fofo, encharcado e molhado da 
caminhada subindo a colina. Ele está sozinho, o que eu não 
gosto. Só porque ele é um cara, não significa que ele esteja 
melhor vagando pelo campus sozinho. “Você não deveria ter 
vindo aqui sozinho.” 
“Eu não vim sozinho.” Ele assente, e eu olho para uma 
figura à distância. É Micah, com um guarda-chuva decorado 
com cerejas. Ele está de pé perto do banco na curva da 
estrada, deixando o irmão ensopado pela tempestade. 
Que bom. Gêmeos brigando. 
Saio, fechando a porta suavemente atrás de mim e 
seguro meu guarda-chuva sobre a cabeça de Tobias. É difícil 
não encará-lo, com os cabelos vermelho-alaranjados 
sangrando no rosto, os longos cílios cobertos de água da 
chuva. Ficamos de mãos dadas e começamos a seguir o 
caminho, Micah se movendo à nossa frente. Eu não o culpo. 
Todo mundo sofre à sua maneira. 
Um frio arrepiante passa por mim quando passamos 
pela porta dos fundos para os dormitórios. Uma lanterna 
varre o corredor e Micah nos empurra de volta para uma 
 
 
 
 
 
 
alcova, parando quando Nathan, o assustador vigia noturno, 
lança sua luz em direção à porta aberta e xinga. 
Ele corre na nossa direção, as chaves tilintam, as botas 
arranhando o chão. 
“Maldição”, Micah amaldiçoa, procurando no bolso uma 
chave. Ele abre o armário atrás de nós e entramos com 
nossos guarda-chuvas molhados. Espero que Nathan não 
note a poça no chão. Provavelmente ele não vai, porque, 
sejamos honestos, ele é um segurança muito ruim. 
Há xingamentos sobre crianças estúpidas e o som da 
porta se abrindo mais. Micah espreita para ver o que está 
acontecendo. 
“Ele está fumando um cigarro do lado de fora da porta.” 
“Então vamos relaxar aqui até ele sair”, Tobias sussurra 
de volta, e a porta se fecha. É um espaço muito apertado 
para ficar preso com dois caras altos. Os gêmeos são altos 
como o inferno e cheiram bem, como água da chuva fresca 
misturada com cerejas azedas e pinheiros. Meu batimento 
cardíaco ganha velocidade, mas é apenas o meu corpo 
reagindo à proximidade deles. Estou muito quebrada e triste 
por dentro para realmente ficar excitada ou realmente 
apreciar o momento. Uma parte inconsciente perversa de 
mim arquiva esses sentimentos para mais tarde. Nota para 
si mesma: considere ser a parte suculenta do meio de um 
sanduíche duplo, com duas fatias de homem gostosos como 
pão. 
Eww. 
Isso foi uma espécie de metáfora grosseira, hein? 
 
 
 
 
 
 
“Vocês não vão pity-fuck3 hoje de noite, né?” Micah 
sussurra, e minha cabeça se levanta tão rapidamente que eu 
bato em seu queixo e ele amaldiçoa apenas em silêncio o 
suficiente para que eu espere que o idiota do Nathan não 
escute. 
“Esse é mais o seu estilo, não é? Pity-fuck?” Tobias fala 
em um sussurro rouco. 
“Sim, bem, eu ia dizer, se vocês dois não vão, talvez 
Charlotte e eu devêssemos.” 
“Você está assumindo que eu quero”, eu rosno de volta, 
atingindo-o no peito com a palma da mão. “Eu não estou 
interessada.” 
“Você dorme com aquele idiota do Cody, mas não 
comigo?” Micah pergunta, soando machucado. Agora que 
penso nisso, ele tem a personalidade de alguém que gostaria 
de foder para acabar com sua dor... Ainda bem que não 
existem outras garotas aqui. Esse pensamento me atinge no 
rosto como um elástico, e acabo franzindo a testa tão 
profundamente que parece que a expressão está gravada no 
meu rosto. 
“Eu nunca dormi com Cody.” 
“Você namorou com ele por dois anos e nunca dormiu 
com ele?” Micah engasga, como se ele estivesse além de 
surpreso. 
 
3 Pity-Fuck: é quando uma pessoa escolhe transar com outra pessoa apenas 
para fazer com que a outra pessoa sinta-se melhor. É como se ela estivesse 
dando uma foda para esquecer a situação. 
 
 
 
 
 
 
“Mano, nós já sabíamos disso,” Tobias fala. “Agora cale 
a boca antes de sermos pegos.” 
“Se você não estava dormindo com Cody o tempo todo, 
com quem estava dormindo?” Micah pergunta, e eu reviro os 
olhos. Está escuro, então ele não pode me ver, mas pelo 
menos isso me faz sentir melhor. E então ele entende algo, 
que me faz contorcer e desejar poder sair desse armário e 
correr como o inferno. Mesmo que Nathan não me assuste, 
eu não quero que ele ligue para meu pai e o acorde. Por não 
ter medo de Nathan, tenho dez vezes mais medo de meu pai. 
Ele vai me mandar para aquele lugar Everly All-Girls 
Academy. Ou pior. Talvez ele me mande para um internato 
militar no deserto, em um pesadelo de cidade como 
Lancaster ou algo assim. 
Eu tremo. 
“Você pode olhar e ver se ele ainda está lá fora?” Eu 
resmungo, tentando distrair o idiota maior dos dois gêmeos 
McCarthy. Como alguém poderia confundir Tobias com 
Micah está além de mim. Tobias tem uma natureza muito 
mais generosa do que seu irmão idiota. 
“Ela é virgem,” eles dizem em uníssono, olhando um 
para o outro por cima da minha cabeça, e juro por Deus que 
meu corpo inteiro esquenta mais cinco graus com um tipo 
de raiva auto-justificada. 
Eu retiro. Tobias nem sabe o significado da palavra 
generosidade. Ele é apenas um... bem, ele é um porco. 
“Cara de preservativo”, eu rosno, e os dois meninos 
sorriem tanto que eu posso realmente ver o branco de seus 
dentes na escuridão. Finalmente, há o som da pesada portaexterna se fechando, seguida pelo barulho dos pés. Isso é 
 
 
 
 
 
 
algo que me incomoda seriamente em Nathan: ele arrasta os 
pés. Ele é tão preguiçoso que nem se importa em levanta-los. 
Me irrita por algum motivo. 
“Eu posso ser uma cara de preservativo”, diz Micah, 
enquanto abre a porta e depois se encosta nela para segurá-
la ali. O sorriso em seu rosto é muito mais cruel do que eu 
já vi, como se sua dor o tivesse despojado de todas as suas 
partes boas e deixado apenas as coisas ruins para trás. “Mas 
você é virgem, um pequeno floco de neve branco e puro. Não 
é de admirar que Spencer estivesse tão interessado; ele pode 
cheirar esse tipo de coisa, você sabe.” 
“Micah, isso é o suficiente”, Tobias rosna, entrando 
entre eu e seu irmão. “Eu sei que você está sofrendo; todos 
nós estamos. Mas não desconte em Charlotte. Você sabe 
muito bem que Spencer não era um cão de caça de hímen, 
então não menospreze ele assim.” 
Micah franze a testa e se afasta, lambendo o lábio 
inferior suavemente, como se estivesse tentando recuperar 
uma parte crucial de si mesmo que não consegue segurar. 
“Eu sei. Eu sinto muito.” Micah faz uma pausa e 
empurra o cabelo para trás, pegando um balde cheio de 
panos velhos de dentro do armário e usando-o para manter 
a porta dos fundos aberta novamente. “Apenas no caso de 
ele voltar.” 
Micah se vira e segue pelo corredor, deixando Tobias e 
eu em pé no escuro. 
“Ele não está tão sem esperança quanto finge estar”, diz 
Tobias, mas eu já sei disso. 
“Vocês vão me provocar sem piedade por ser virgem?” 
 
 
 
 
 
 
“Provavelmente.” 
“Punheta de porra”, eu resmungo, e Tobias ri. É um tipo 
reservado de som, mas agradeço o esforço. 
“Isso é... um insulto muito bom, na verdade”, ele diz 
enquanto subimos as escadas. Ele me leva para o quarto que 
divide com seu irmão, e eu acho minhas mãos suadas de 
repente quando entro. É a mesma configuração que vi no 
quarto de Ranger: duas camas, uma lareira elétrica e 
cômodas na parede no final do pequeno corredor de entrada. 
Micah já está enrolado em sua cama, então me sento na 
de Tobias e finjo não ficar olhando lascivamente enquanto 
ele puxa sua camisa encharcada sobre a cabeça, revelando 
um corpo longo e magro, esculpido nos lugares certos. Minha 
boca está com água e eu enrolo minhas mãos na minha 
jaqueta para mantê-las firmes. 
Seus mamilos estão duros, provavelmente da água fria 
da chuva e tudo mais, mas não posso deixar de me 
concentrar neles e me perguntar como se sentiriam sob 
minhas mãos. Cody tinha os mamilos mais feios, eu juro por 
Deus, como se fossem longos e esburacados e tivessem 
cabelos pretos encaracolados estranhos crescendo neles. 
Tobias são... legais. Como, que bom. 
“Você está me olhando?” Tobias pergunta, fingindo 
choque enquanto coloca os dedos no peito liso. “Desvie os 
olhos, sua pervertida.” 
“Ao checá-lo, você está me checando também. Temos o 
mesmo DNA, você sabe. Mesmos mamilos, porque 
claramente você gosta desses, mesmos pés, mesmas mãos... 
mesmo pau.” 
 
 
 
 
 
 
“Puxa, obrigada por fornecer informações que eu nunca 
pedi”, eu resmungo, tirando minha jaqueta e jogando-a de 
lado em uma pilha molhada no chão. 
“Você foi criada em um celeiro?” Tobias pergunta, 
pegando-a e pendurando em um gancho perto da porta. Ele 
acende a lareira e então, para meu desgosto, não se 
incomoda em me pedir para virar as costas ou fechar os 
olhos antes que ele tire a calça de moletom e roupas íntimas 
molhadas, mostrando todos os tipos de coisas que eu não 
estava pronta para ver. 
O pau de Tobias está meio duro e a caminho, er, para 
cima. 
“Oh meu Deus, seu saquinho de chá, guarde-o!” Jogo 
um de seus travesseiros naquela direção, mas mantenho 
meus olhos focados nas chamas dançantes da lareira. Estou 
tendo uma sensação louca de déjà vu aqui, pensando em 
Spencer e Ranger e naquela noite no quarto deles. 
Isso torna o clima sombrio, bem rápido. 
Tobias coloca uma calça de moletom limpa e senta-se 
ao meu lado, o colchão curvando-se sob seu peso. Amanhã 
é domingo, o último dia antes da escola começar de novo. 
Parece que estamos em uma contagem regressiva, como se 
Spencer não aparecesse antes, então ele realmente se foi. Ele 
está realmente morto. 
“Vocês tem algum videogame aqui?” Eu pergunto, 
sentindo meus olhos começarem a lacrimejar novamente. 
Tobias coloca o braço em volta da minha cintura e me puxa 
para o colo dele, me apertando perto. O calor do seu peito nu 
penetra em mim, afastando um pouco do frio. É um tipo 
diferente de frio, porém, como uma névoa gelada que eu sei 
 
 
 
 
 
 
que voltará assim que ele me deixar ir. Não é o frio de uma 
noite de tempestade; é o sentimento gelado de uma 
melancolia inquebrável. 
“Temos videogames?” Tobias pergunta quando Micah 
finalmente desiste de tentar ser um idiota distante e se senta, 
puxando seus fones de ouvido sem fio e colocando-os em um 
estojo na mesa de cabeceira. Ele nos observa com olhos 
verdes semicerrados. 
“O que você acha? Claro que nós temos.” 
“Vamos jogar um jogo de corrida ou algo assim. Eu 
preciso de uma distração irracional.” Micah sai da cama e 
coloca algo na tela plana na parede acima da cômoda. Cada 
garoto tem sua própria televisão. Tão mimados. 
Tobias volta a inclinar-se contra a cabeceira da cama, 
ainda me segurando, enquanto eu jogo contra o irmão dele. 
Depois de algumas rodadas, percebo que há lágrimas no meu 
rosto, mas finjo que elas não estão lá. Em vez disso, tento 
aproveitar meu tempo com os gêmeos, limpando a umidade 
das minhas bochechas até rir e depois gritar com Micah com 
raiva do jogo. 
“Você trapaceou nessa última pista!” Eu grito, jogando 
o controle na direção dele. Ele se abaixa e sorri, deixando-o 
cair inofensivamente entre seus travesseiros. 
“Nós sempre trapaceamos”, dizem os gêmeos em 
uníssono. 
“Seus... prepúcios de papel higiênico estúpidos”, eu 
resmungo, e os dois uivam de tanto rir. 
É quando a porta se abre e bate contra a parede. 
 
 
 
 
 
 
Está escuro lá fora e brilhante aqui, dificultando ver 
quem está lá. 
A questão é: o assassino está esperando lá... ou Spencer 
Hargrove voltou dos mortos? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O suspense está me matando, e meu coração está 
batendo tão rápido que me sinto tonta; não consigo me 
mexer por favor, que seja o Spencer, eu penso, colocando 
cada grama de energia dentro de mim no universo. 
Infelizmente, essa cadela nunca me escuta. 
“Sério, uma porta destrancada?” Ranger rosna quando 
ele entra com Church atrás dele, os dois encharcados e 
irritados. “Vocês três têm um desejo de morte?” 
Há essa onda de decepção e tristeza em mim, mas eu 
deixo de lado. Pelo menos não é nenhum dos meus inimigos, 
certo? Mas também... Spencer. Coitado do Spencer. 
“Ranger e eu andamos até a casa do diretor e até 
escalamos a treliça, apenas para descobrir que Charlotte 
estava desaparecida.” Church cruza os braços sobre o peito, 
seu olhar frio e profissional viajando de Micah para mim, 
ainda sentada no colo do Tobias. Ele pisca em rápida 
sucessão, um pequeno pingo de surpresa em um rosto 
pedregoso. Mesmo sabendo que não tenho nada para me 
sentir culpada, deslizo do colo de Tobias de qualquer 
maneira. 
 
 
 
 
 
 
“Você escalou minha treliça?” Eu pergunto, 
momentaneamente satisfeita. Eu nunca tive um cara 
escalando minha treliça antes, piadas de virgens de lado. 
“Mas espere, por que vocês estavam na minha casa, afinal?” 
“Para lhe dar isso”, diz Ranger, entrando na sala com 
Church logo atrás. Ele passa uma caixa com um iPhone 
novinho em folha antes de lançar aquele olhar intimidador 
para os gêmeos. “É uma porra de telefone, como vocês dois 
têm. Verifique suas malditas mensagens.” 
“Nós...” Micah faz uma pausa, empurrando o controle 
para o final da cama. “Sim, nós erramos. Desculpe.” Ele 
coloca o rosto brevemente em suas mãos, e eu tenho que 
desviar o olhar. Nossa pequenabolha de felicidade acabou 
de furar, e a agonia em seu rosto é quase demais para eu 
suportar. 
“Você comprou um telefone para mim?” Eu pergunto 
quando Church se senta no final da cama de Micah, me 
observando atentamente. 
“Não tínhamos certeza de quanto tempo levaria até o 
diretor comprar um novo para você”. 
“Como em, talvez ele não pudesse pagar?” Eu digo 
enquanto ligo o telefone. Não estou realmente tão 
familiarizada com as finanças do meu pai, mas, de qualquer 
forma, sou grata. Ele gasta um braço e uma perna para a 
reabilitação de mamãe, então quem sabe? Talvez as cordas 
da bolsa estejam realmente apertadas agora? “Obrigada,” 
acrescento, antes que os rapazes do Conselho Estudantil 
possam dizer mais alguma coisa. Seguro o telefone contra o 
peito por um momento, fechando os olhos com força. 
 
 
 
 
 
 
“Desculpa ter te assustado,” Tobias diz, e Church 
assente, como se esse fosse o fim da discussão. “Nós 
apenas... nenhum de nós conseguiu dormir.” Ele olha para 
o edredom e pega um fio solto enquanto Ranger encosta o 
ombro na parede, suspirando profundamente. 
“Também. Estou tão cansado que sinto que poderia cair, 
mas...” Ele interrompe porque não há razão para expressar 
o que estamos sentindo, esse pavor assustador de que 
segunda-feira trará notícias e dores que nunca podemos 
lavar. “Eu estava pensando em investigar o sótão e o quarto 
de Mark, ver se não conseguimos encontrar sinais desse 
buraco.” 
“Além disso”, Church começa, fechando os olhos 
brevemente. “Alguém quebrou todas as lâmpadas no 
corredor. Está escuro como o pecado lá fora.” Ele os abre de 
volta e olha para mim. “Elas não estavam assim quando 
saímos.” 
“Isso é tão assustador pra caralho”, Micah rosna, 
esfregando o rosto novamente. “Alguém matou... alguém, e é 
como se fossemos as únicas pessoas no mundo que sabem 
ou se importam.” 
“Quem é responsável por essa bagunça claramente tem 
alguém na polícia,” Church diz, como se estivesse pensando 
nisso há algum tempo. “O que me incomoda é que o conselho 
da escola também não parece tão preocupado.” 
“O que significaria isso, exatamente?” Eu pergunto, e a 
maneira como o Church olha para mim me dá calafrios. 
“Que eles também participam.” Ele faz uma pausa e 
descruza as pernas. “Pelo menos, alguns deles estão.” 
 
 
 
 
 
 
“Por que o conselho da escola quer Charlotte e... quem 
estava lá na floresta morto?” Ranger pergunta, como se ele 
também estivesse pensando nisso há dias. “Não faz nenhum 
sentido. Além disso,” ele me dá um olhar de desculpas, como 
se já estivesse arrependido do que está prestes a dizer, “se 
eles a quisessem morta, qualquer um deles teria dinheiro 
suficiente para, você sabe, contratar alguém.” 
“Você quer dizer, contratar um assassino?” Eu engasgo, 
porque realmente, é essa realidade em que estamos vivendo? 
Um assassino?! Para mim, Charlotte Farren Carson? O que 
eu fiz para justificar ser colocada em uma lista de alvo? “Isso 
é insano.” 
“Insano, mas é verdade,” Church diz, levantando-se e 
passando as mãos na frente do pijama listrado azul e branco, 
limpando a poeira imaginária. “Vou falar com minha mãe 
sobre isso.” 
“Sua mãe...” Ranger começa e suspira. “Conversar com 
sua mãe tem sérias consequências, Church. Você sabe 
disso.” 
“Estou ciente”, responde Church friamente, 
endurecendo a expressão enquanto olha para Ranger. Ele se 
levanta então, e todo mundo segue. Esse tipo de carisma é 
assustador como o inferno. E, no entanto, vou para o 
corredor e subo um lance de escada com o resto dos caras, 
observando os gêmeos puxarem a porta do sótão e subirem 
os degraus. 
“Se cuidem!” Eu chamo, subindo na ponta dos pés e 
mordendo o lábio. Eu mal posso lidar com o que aconteceu 
até agora. Imagine se um dos gêmeos desaparecesse naquele 
sótão assustador e nunca saísse? 
 
 
 
 
 
 
“Cara”, diz Tobias, agachando-se e olhando para nós 
através da porta, o telefone na mão, a lanterna acesa para 
iluminar a escuridão. “Alguém claramente consertou essa 
merda.” 
“Que porra é essa?” Ranger grunhe, passando os dedos 
pelos cabelos e suspirando. Ele troca um olhar com Church, 
e o líder destemido assente. Sem pular, Ranger desce as 
escadas e caminha direto para o quarto de Mark Grandam, 
batendo com o punho na porta. 
Surpreendentemente, ele se abre e lá está ele, um 
sonolento e exausto Mark Grandam, também conhecido 
como Cara do OB. Ele olha estupidamente para nós, uma 
mão enrolada na beirada da porta, uma carranca estampada 
no rosto quase bonito. Tipo, talvez ele fosse gostoso se não 
tivesse a personalidade de uma punheta de porra. 
“O que você quer, Woodruff?” Ele diz, e então Ranger 
está empurrando a porta – com força. Forte o suficiente para 
bater em Mark e mandá-lo tropeçando de volta. “Saia do meu 
quarto, seu maldito psicopata.” 
O drama é demais para eu resistir, então desço as 
escadas com Church logo atrás de mim, Tobias e Micah atrás 
dele. 
“Negócio oficial do Conselho Estudantil”, declara 
Church quando os gêmeos entram e agarram Mark pelos 
braços, puxando-o de volta e empurrando-o em sua cama. 
Church acende a luz e examina a situação com os braços 
cruzados sobre o peito. 
O companheiro de quarto de Mark, um atleta 
irreconhecível, geme e cobre a cabeça com o travesseiro, 
 
 
 
 
 
 
ignorando o que quer que aconteça. Na Adamson Academy, 
você não brinca com o Conselho Estudantil. 
“O que diabos é isso?” Mark rosna quando Ranger pega 
a cadeira da mesa do colega de quarto e fica em pé, puxando 
um canivete de sua calça de pijama para cutucar o teto. “E 
o que o amante de obs está fazendo aqui? Ele não faz parte 
do Conselho Estudantil, a menos que você tenha demitido 
aquele bicha do Ross.” Mark faz uma careta para mim, e eu 
mostro o dedo do meio, empurrando meus óculos pelo nariz. 
Eu quase esqueci que deveria guardar meu segredo. 
Ainda bem que provavelmente pareço uma bagunça com o 
capuz largo da Adamson que eu estava escondendo debaixo 
da jaqueta, minhas calças de moletom manchadas de tinta 
desde então. Ajudei tia Elisa a deixar sua sala roxa. Tenho 
certeza que sou um cara agora, um cara feio, talvez, mas um 
cara. 
“Chame Ross de bicha de novo, e eu serei forçado a 
soltar os gêmeos,” Church diz, sorrindo com um sorriso cruel 
que me garante que ele não está brincando, nem um 
pouquinho. “Agora cale a boca e fique quieto. Vai acabar 
antes que você perceba.” 
“Isso é ridículo,” Mark resmunga, arrancando os braços 
das garras dos gêmeos e fazendo uma careta. “Quando 
Eugene voltar de Cancun amanhã, ele vai acabar com você.” 
Meus ouvidos se erguem, e sinto esse frio horrível 
passar por mim. 
“Você esteve em contato com Eugene?” Eu pergunto, 
sentindo-me começar a tremer com uma onda de adrenalina. 
 
 
 
 
 
 
Mark apenas revira os olhos para mim, claramente não 
pretendendo responder à minha pergunta. Micah o agarra 
pela camisa e o puxa para frente, para que eles fiquem cara 
a cara. 
“Só é preciso um simples sim ou não, idiota”, ele late, e 
eu posso ver os músculos em seus braços tensos. Micah 
McCarthy não tem medo de começar uma briga, 
especialmente se ele sente que está de alguma forma 
ajudando um amigo fazendo isso. Esses garotos do Conselho 
Estudantil são mais cruéis do que eu pensava. 
“Porra, cara, pare. Não, eu não conversei com Eugene. 
Nós não somos meninas. Não precisamos fofocar por 
mensagem o dia todo.” Um suspiro de alívio me escapa, e 
decido, no interesse de acabar logo com isso, que não vou 
mencionar sua pequena brincadeira misógina. 
Mark empurra Micah para trás com tanta força que o 
atleta idiota bate a cabeça contra a parede e solta uma série 
de maldições coloridas. 
Church, enquanto isso, apenas observa tudo se 
desenrolar da parede perto da porta, enquanto Ranger pega 
o telefone e tira muitas fotos. 
“Nós terminamos aqui,” Church declara, e os gêmeos se 
afastam de Mark. Saímos da sala em grupo e eu me encolho 
quando a porta se fecha com tanta força atrásde nós que 
pequenos pedaços de gesso caem do teto no corredor. O salão 
muito, muito escuro. As luzes da sala comunal do andar de 
baixo estão acesas, mas está escuro como o tom aqui em 
cima. 
Olho de volta para o meu quarto no último andar e 
tremo. 
 
 
 
 
 
 
Fico feliz por não estar lá sozinha, mesmo que morar 
com papai seja uma verdadeira forma de inferno. A única 
vantagem recentemente é que ele não desconecta o Wi-fi à 
noite. Suponho que seja uma forma de compaixão, vinda 
dele. 
“Havia uma emenda óbvia lá,” Ranger murmura 
enquanto nos leva de volta ao seu quarto. Dele e Spencer. 
Bem, tecnicamente, acho que é o quarto do Church, mas... 
Assim que entramos e vejo a cama de Spencer, ainda 
desarrumada desde o último dia em que ele esteve aqui, 
meus olhos se enchem de lágrimas. Percebo que estou 
atraída pelos lençóis cinza carvão e acabo rastejando 
embaixo deles enquanto ouço os meninos conversando. 
Os gêmeos percebem e trocam um olhar, parando ao 
lado de Church enquanto Ranger se senta pesadamente na 
beira da cama. 
“Havia um buraco ali, e alguém o consertou. Também 
fez um ótimo trabalho. É quase invisível.” 
“Então, quem está atrás de mim é algum tipo de 
especialista em construção, então?” Eu pergunto, esfregando 
a ponta do meu nariz. Há uma enxaqueca chegando, eu 
posso sentir. 
“Mark é culpado,” dizem os gêmeos em uníssono, 
olhando um para o outro antes de voltar para a sala. Eles 
apontam um para o outro. “Nós podemos sentir isso.” 
“Por que você diz isso?” Church pergunta sem 
problemas, mas menos como ele discorda deles e mais como 
ele quer ouvir seus pensamentos independentes antes de se 
decidir. 
 
 
 
 
 
 
“O buraco foi do sótão para o quarto dele. E então foi 
coberto com tanta habilidade. Porque se importar? A menos 
que você queira remover a ideia de qualquer conexão entre 
você e os ataques.” Tobias encolhe os ombros e Micah 
continua por ele. 
“Eu acho que um dos idiotas usando capuz poderia ser 
Blaine” - estou assumindo que Blaine é o colega de quarto 
de Mark até que eu saiba o contrário – “mas vamos lá, Mark 
é um waffle total, completo com xarope de bordo.” 
Eu levanto minhas sobrancelhas. Uau. Um insulto 
digno de Chuck em sua insanidade. Eu vou levar. Parece 
apropriado de qualquer maneira. 
“Se ele é um dos meus atacantes, então há pelo menos 
mais dois,” acrescento, sentindo a exaustão cravar suas 
unhas em mim e aguentar uma vida preciosa. Eu quero 
Spencer de volta. Quero o Clube de Culinária e assar bolos e 
até... até o leve bullying, quero tudo de volta ao que era. 
“Porque ouvi claramente um grito masculino quando atingi 
o primeiro cara com spray de pimenta, e um grunhido 
masculino quando bati no segundo com o pé de cabra.” Eu 
olho para os quatro rostos me encarando. “Na Everly, um dos 
meus atacantes era menina.” 
“Vamos ficar de olho no Mark,” Church diz, fechando o 
rosto neste vazio escuro. Eu não gostaria de estar do lado 
ruim dele. Inferno, fiquei um pouco e não foi bonito. Mesmo 
assim, sua ira foi apenas por causa da minha atitude. 
Imagine se ele pensasse que eu fosse machucar ou matar seu 
amigo? Eu não duvidaria que esse cara esfaquearia alguém. 
“E talvez ele nos leve aos outros dois.” 
“Ou para Spencer,” Ranger sugere, e a sala fica em 
silêncio. Estamos todos sentindo tanta falta dele naquele 
 
 
 
 
 
 
momento. Quando levanto seus lençóis e fecho meus olhos, 
respirando aquele cheiro de menta e aroma de cedro, sei que 
não estou saindo deste local, não hoje à noite. 
“Posso dormir aqui?” Eu pergunto. 
Ranger nem leva um segundo para responder. 
“É claro que você pode,” ele sussurra, e então eu me 
enrolo e choro baixinho quando a luz é apagada, a lareira 
elétrica acesa e o som suave da porta se fechando pontuando 
os gêmeos e Church saindo da sala. “Vou tomar alguns 
comprimidos para dormir. Você quer algum?” Eu balancei 
minha cabeça; palavras são muito difíceis agora. 
Lá fora, a tempestade se agita ainda mais. 
Eu tento o meu melhor para não pensar nisso como um 
presságio. 
Não funciona. 
Apesar do meu nível de fadiga, não parece que vou 
adormecer por muito, muito tempo. Em vez disso, fico 
deitada ali com o som da tempestade e o sussurro sombrio 
dos meus pensamentos como companhia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ranger adormece primeiro, o som suave de sua 
respiração um som reconfortante junto com o crepitar da 
lareira e a chuva forte do lado de fora da janela. 
Eu fico deitada na cama de Spencer, bebendo seu 
perfume e segurando seu travesseiro perto do meu rosto, 
desejando que fosse ele que eu estivesse segurando. Ou seja, 
se ele me deixasse. Se ele não tivesse desaparecido, como as 
coisas acabariam? Ele teria sido capaz de me perdoar por 
mentir? Certamente ele perdoaria o resto do Conselho 
Estudantil. Quero dizer, eu não sei muito sobre a história 
deles, mas parece que eles são amigos há um tempo. 
Finalmente, eu adormeço e deixo meus sonhos me 
levarem para uma escola que não é essa escola, mas você 
sabe, ainda é do tipo louco de sonho. Possui grandes colunas 
e murais brancos que não se parecem com as paredes de 
pedra e vigas de madeira da Adamson. Spencer está lá, e os 
gêmeos, todos eles jogando aquele jogo estúpido de corrida 
no meu quarto. Church e Ranger aparecem mais tarde com 
filhotes de golden retriever nos braços, e é aí que eu sei que 
desapareci completamente em la-la-land. 
 
 
 
 
 
 
Então um dos filhotes dos sonhos acaba mijando em 
mim, e eu me vejo ensopada; começo a acordar, me sentindo 
estúpida por estar com tanta raiva de um cachorro dos 
sonhos. 
Ao piscar até acordar, percebo que há alguém subindo 
na cama comigo, alguém que está molhado, assim você sabe, 
o sonho sobre o filhote mijando. 
“Whoa”, a pessoa diz enquanto eu empurro a neblina do 
sono. “O que diabos você está fazendo na minha cama?” 
Meus olhos se arregalam, e eu me sento, colocando as 
costas contra a parede enquanto olho em choque o garoto de 
cabelos prateados que está olhando de volta para mim. 
Vou te dar uma dica: não é Eugene Mathers. 
“Que porra é essa?” Eu sussurro, sentindo-me começar 
a tremer. Sinto que estou olhando para um fantasma aqui, o 
fantasma de Spencer Hargrove, que por acaso está sentado 
cautelosamente na beira da cama, olhando para mim como 
se não tivesse certeza do que pensar da minha presença. 
Francamente, eu também estou meio assustada com 
ele. 
“Por que você está na minha cama, Chuck? Ou devo 
dizer Charlotte?” Ele parece bravo comigo, mas cansado 
também. E ele está todo molhado da tempestade. Seus olhos 
turquesas brilham no brilho amarelo alaranjado da lareira. 
“Você está vivo?” Eu sussurro de volta, tentando engolir 
o nó duro na minha garganta. “Por favor, me diga que não 
estou sonhando. Não aguentaria a decepção.” 
 
 
 
 
 
 
“Vivo?” Spencer pergunta, olhando para mim como se 
eu tivesse perdido a cabeça. “Claro que estou vivo. Que tipo 
de pergunta idiota é...” 
Não há como me parar. Eu dou um passo à frente e 
passo meus braços em volta dele, apertando-o o mais forte 
que posso, enterrando meu rosto na curva de seu pescoço. 
Lágrimas rolam livremente pelo meu rosto, encharcando-o 
ainda mais. E caralho, ele cheira tão bem. Tão bom. 
“O que está acontecendo?” Spencer pergunta, sua voz 
cansada e grogue. Ele endurece no começo, mas talvez tem 
algo sobre o jeito que eu estou segurando ele que solta um 
pouco dessa raiva. Lentamente, tentativamente, ele coloca os 
braços em volta da minha cintura e me abraça de volta. “O 
que está acontecendo? O que eu perdi?” 
“Onde você estava?” Eu sussurro com uma voz rouca. 
Ranger está fora, mergulhado em pílulas para dormir. Eu 
provavelmente deveria tentar acordá-lo. Church e os gêmeos 
também. Mas parece que não consigo largar esse garoto, por 
mais que eu tente. “Esta semana inteira foi um inferno. 
Todos pensamos que você estava morto.” 
“O que? Eu disse a vocês que estava respirando. Meu

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