Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Próximo Lançamento Distribuído . Psiu, eu sei um segredo. O mesmo segredo que o Conselho Estudantil - a elite super rica e super bonita da Adamson All-Boys Academy - também sabe. Jenica Woodruff, a única garota que já frequentou a academia antes de eu aparecer, não se suicidou: ela foi assassinada. Agora, alguém está atrás de mim também, mas não importa para onde eu vá, o assassino segue. Minha nova escola secundária não é segura e, ao que parece, nem a minha antiga. Não sou membro do Conselho Estudantil, mas depois de tudo o que passamos juntos, depois das coisas horríveis que vimos, posso muito bem ser. Esses garotos cruéis me colocaram sob suas asas. Church, o líder destemido (e viciado em café). Ranger, o VP fodão (e que cozinha pelado). Os gêmeos idênticos McCarthy (e entusiastas do MMA). E Spencer, o garoto que estava disposto a questionar tudo sobre ele para se apaixonar por mim... oh, Spencer. Assassinato e romance estão no ar na Adamson; Só não tenho certeza de qual deles vai me matar primeiro. Este livro é dedicado ao Dick (Idiota) Supreme. Você sempre me protegeu; Eu aprecio isso mais do que as palavras poderiam dizer. Nota da autora *** Possíveis spoilers *** The Ruthless Boys (Adamson All-Boys Academy #2) é um romance de mistério de harém reverso, bully/assassinato no ensino médio. O que isso significa exatamente? Isso significa que nossa personagem principal, Charlotte Carson, terá pelo menos três interesses amorosos até o final da série. Não há muito bullying neste livro, quando comparado ao primeiro. Essa história não tolera o bullying, nem a romantiza. Os interesses amorosos nessa sequência são realmente muito bons (especialmente quando comparados aos meus meninos da série The Rich Boys of Burberry Prep). Qualquer cena de beijo/sexual com Charlotte, também conhecida como Chuck, é consensual. Este livro pode ser sobre estudantes do ensino médio, mas não é o que eu consideraria um jovem adulto. Os personagens são peculiares, as emoções reais, a palavra com f é usada muito. Tem alguns menores de idade bebendo, situações sexuais, menção ao possível suicídio de um personagem paralelo e outros cenários para adultos, embora isso continue sendo uma leitura bastante leve. Charlotte começa como uma pirralha, mas espero que você goste do crescimento da personagem nesta série. ;) Nenhum dos personagens principais tem menos de dezessete anos. Esta história terá um final feliz no terceiro e último livro. Spencer não pode estar morto. Este é o único pensamento na minha cabeça enquanto eu coloco minhas mãos no meu colo e retorno minha atenção de volta para o corpo pendurado na árvore. Esta apenas... lá pendurado, a corda roçando no tronco. “Você está vivo,” Tobias suspira, olhos lacrimejando enquanto ele olha para Ranger. Ele passa a mão por eles e funga, tentando recompor-se. É tão uma coisa de menino de se fazer, eu tiraria sarro dele se...se... “Por que você está segurando a corda?” Ranger pergunta enquanto Church corre para onde Micah está de pé, ajudando ele a desfazer o nó. “Por que você acha que estou segurando ela, cara?!” Micah grita de volta, o cabelo vermelho alaranjado dele está molhado e grudado na testa. Nós todos estamos tremendo, dentes batendo e provavelmente em necessidade urgente de atendimento médico. “Estou tentando descer ele.” Ranger se mexe como um zombie através da clareira e para perto da corda. Por favor que não seja o Spencer, eu repito várias vezes na minha cabeça, como um tipo de mantra. Que não seja ele. Mesmo que eu me sentisse um pouco culpada por desejar que fosse outra pessoa, eu não me importo. Eu só quero abraçar ele. Por favor, Deus, que ele esteja vivo para que eu possa abraçar ele. Nós nunca tivemos um abraço, como o que Ranger me deu na festa da Twilight Slumber Camp. O olhar na cara de Spencer quando ele nos pegou foi tão dura. Sem mencionar a expressão de traição que tinha no corredor ontem... Não pode terminar assim. Não vou deixar. Eu me levanto e corro para ajudar com a corda. Ranger senta fortemente no chão embaixo do corpo. Está muito alto para ver o rosto da pessoa, então eu não fico olhando muito. Eu não vou ficar olhando. Olhar não vai mudar o resultado. “Eu tenho uma faca,” eu sussurro, pegando a lâmina serrilhada que Ranger me deu para me proteger e dando para Church. Ele está ofegante, e o rosto dele está tão branco quanto um fantasma. Ele não parece com ele mesmo. É interessante no entanto, de ver este tipo de expressão estou- próximo-a-entrar-em-pânico nele. Ele é humano, afinal de contas. “Desce ele, por favor. Por favor.” Minha voz começa a tremer enquanto eu recuo e espero por Church e os gêmeos para cuidar disso. Devagar, respeitosamente, eles abaixam o menino para o chão. E é aí que escuto as sirenes, e nós todos trocamos olhares. “Vê se é o Spencer, cara,” Tobias geme, colocando o rosto nas mãos. “Eu não consigo olhar, só não consigo. Micah…” “Tudo bem, irmão, vou olhar.” Respirando fundo, ele chega perto do corpo, mas um grito de longe corta o momento e me faz sentir fraca, eu quase caio. “Chuck!” É meu pai chamando. “Aqui!” Eu grito de volta, colocando minhas mãos ao redor da minha boca e espero enquanto o som de passos se aproximam. Meu pai aparece apenas alguns segundos depois com vários policiais e paramédicos atrás dele. “Oh graças a Deus,” ele suspira, correndo e me puxando para um grande abraço. “Oh, Charlotte. Graças a Deus.” Ele está tão feliz de me ver que ele esqueceu de me chamar pelo meu apelido por um momento. Archie me segura tão perto, eu sinto como se tivesse engasgando. Eu saio de perto dele, tremendo muito. Tem um paramédico tentando colocar um cobertor sobre meus ombros; eu aceito, mas honestamente, estou mais preocupada com Spencer do que comigo mesma. “Pai,” eu começo, eu aponto para o corpo e fecho meus olhos. O resto do Conselho Estudantil está sendo puxado para longe também; nós ainda não sabemos quem é. “Por favor me diz se é o Spencer Hargrove.” “Nós precisamos te levar para o hospital,” pai murmura. Ele claramente não está escutando. Neste ponto, no entanto, estou muito cansada e com frio para insistir. O bater de dentes está me dando uma dor de cabeça. Eu deixo ele me conduzir para longe, na parte de trás de uma ambulância com Ranger. Sem pensar sobre, eu estendo a mão e enrolamos nossos dedos juntos. Ele aperta os meus de volta, e nos sentamos daquele jeito pelo resto da viagem para a cidade. A polícia está se recusando a liberar o nome do menino da floresta. Isto, e Spencer Hargrove está desaparecido. Não só ele, no entanto, vários meninos estão se provando difíceis de encontrar. Inferno, é férias de primavera. Ninguém está surpreso que tem alguns alunos desaparecidos. “Se Spencer está morto, eu vou...” Tobias sussurra, colocando os dedos dele no vidro na janela da sala do meu pai. A respiração dele embaça a janela enquanto ele encosta a testa contra o batente. “Bem, merda, eu não sei o que eu vou fazer, mas...ele não pode estar morto.” “Ele pode estar,” Micah sussurra, sentando do meu lado no sofá. Eu olho para ele, percebendo os olhos verdes tristes, e o jeito que a boca dele aperta em uma linha fina enquanto ele disse aquelas palavras horríveis. “Retire essa merda que disse.” Tobias se vira, pronto para brigar com o irmão dele. Os gêmeos McCarthy estão on e off, desde que chegamos no hospital. Eles realmente entraram em uma briga com punhos e tudo na sala de exames, e Tobias fez o nariz do Micah sangrar. É claro, que foi depois do Micah darum olho roxo no olho esquerdo dele. “Por quê?” Micah olha para cima e então se levanta. Church e Ranger se levantam no segundo seguinte, ficando entre os dois. “Nós temos que encarar os fatos aqui: o menino na árvore estava usando roupa de ginástica. Ele tinha cabelo prata. Spencer está desaparecido. Por quanto tempo vai mentir para si mesmo antes de começar a aceitar?” Os olhos do Micah lacrimejam e ele se vira, fazendo carranca. Ninguém para ele enquanto sai correndo, desaparecendo pelas escadas e indo para um dos quartos de hóspedes. Eu deixo ele ir, sentindo esta estranha dormência dentro de mim. “Vocês dois precisam aprender a parar de descontar as suas emoções um no outro,” Ranger sussurra, voz sombria e baixa. Ele nivela seu olhar safira com o de Tobias, sombras dançando atrás dos olhos dele. “Vocês têm sorte que ambos estão vivos.” “Nós temos sorte que você está vivo,” Church sussurra, o rosto dele impassivo e fechado. Ele não sorriu nem uma vez desde que saímos do hospital, nem uma vez. Aquele lado sempre alegre dele que estava acostumada a pensar que era resultado de tipo, ele ser um psicopata ou algo assim, eu tenho quase certeza agora que é real. Depois de ver as emoções dele na floresta, não tenho dúvidas na minha mente sobre isso. Ele é um indivíduo feliz, mas danificado. Agora, no entanto, não há muito para ficar feliz. “Eu fico feliz que esteja aqui, Ranger,” eu digo para ele, minha voz quebrando. Ele olha para mim, vestido de calça de moletom e moletom com capuz. Nós todos ainda estamos em recuperação aqui. Nós todos estávamos no segundo estágio de hipotermia; nós todos temos sorte de estarmos vivos. Ele olha para mim, por um bom tempo, e então se vira em direção a janela. Ele não fala muito em um dia bom, mas depois de tudo que acabou de acontecer? Eu não me surpreenderia que ele estivesse sem palavras. A porta da frente abre e meu pai entra, óculos embaçados da mudança de temperatura, cabelo bagunçado. Ele parece como se tivesse envelhecido dez anos nas últimas doze horas. Eu me levanto do sofá, coração acelerando. Archie Carson não é um homem fácil de ler. Eu consigo dizer que está chateado, mas ele está escondendo suas emoções. Um dia, o cara vai quebrar e perder o controle. Ou inferno, ele nunca vai perder o controle? Talvez ele apenas não se importe o suficiente sobre algo para se soltar desse jeito? “Pai, é o...” “Eu não posso contar nada, desculpa.” Ele olha para mim com simpatia no rosto dele, mas eu posso sentir minhas mãos se fechando em punhos dos meus lados. As lágrimas salgadas que eu segurei por tanto tempo ficam nos cantos dos meus olhos. Dói; eu estou chorando demais, na maioria das vezes no banheiro onde os meninos não podem ver. Parece egoísta da minha parte estar triste pelo Spencer quando ele era amigo deles primeiro, amigos deles a mais tempo. Se você parar para pensar, eu mal conheço o cara. Mas tinha algo lá. Poderia ter sido algo incrível. Meus joelhos tremem, e minha garganta parece seca do nada. “Eu falei com a polícia e até eles liberarem o comunicado oficial, eu não tenho permissão de dizer nada a respeito...” “Eu sou sua filha,” eu cuspo, tremendo, meus olhos subindo para os azuis do pai que iguais aos meus. “Sou sua única família. Você sabe o quanto nos importamos com o Spencer. Você não pode pelo menos nos dizer se aquele era o corpo dele, pendurado naquela merda de árvore?” “Charlotte, eu não vou...” ele me chamou pelo nome, mas não importa já que todo mundo naquele quarto sabe meu segredo. Agora nós todos sabemos outro, não é? Tem pelo menos três pessoas que me querem morta e enterrada. E que, pelo menos, um estudante nesta escola que não vai voltar para as aulas depois das férias. “Você não pode quebrar uma regra bem pequena por um segundo? Só um segundo para fazer a sua filha se sentir bem?” Meu temperamento está ardente e eu mal consigo respirar. Church alcança uma mão quente e deixa no meu ombro. A palma da mão seca contra a minha pele, e respiro fundo, uma estranha sensação de calma me lavando. Minha mente vaga de volta para aquela bolsa de água quente e chocolate que ele me trouxe. Que foi um gesto surpreendentemente atencioso para alguém que eu pensei que fosse um psicopata. “Por favor. Só diga sim ou não. Só isso. É tudo que você tem que fazer para mudar nosso mundo.” “Desculpa, Charlotte.” Pai olha para mim por um momento com uma faísca de arrependimento nos olhos dele. “Eu alertei seus pais,” ele acena na direção dos meninos, “e vocês todos vão ter carros vindo buscar vocês. Por favor fiquem aqui até que eles cheguem.” “Eu não vou deixar Charlotte,” Tobias declara, cruzando seus braços fortes e musculosos sobre o peito. Ele saiu do uniforme encharcado para um moletom com zíper da Adamson Academy e calça de moletom iguais, e que merda, com o moletom parcialmente fechado e a calça mais para baixo, a roupa mostra os músculos no peito dele e parte debaixo do abdômen de um jeito que é quase criminoso. Que pena que estou muito preocupada com Spencer para aproveitar. Preocupada. Certo. Tipo preocupada que ele possa estar morto. Eu fecho meus olhos. “Não é sua escolha para fazer, Sr. McCarthy. Desculpe. Sua mãe já enviou um carro.” “Então manda a Charlotte com a gente nas férias,” Church fala, e eu abro meus olhos para ver ele caminhando para frente. Seu rosto é todo para negócios, fechado e ilegível. Ele é um tipo de estátua de mármore, esculpido pelas mãos mais ágeis e habilidosas, mas falta a leve vulnerabilidade que vem como ser humano. Pobre Church. O coração partido dele está escondido debaixo de uma camada de pedra. “Nós podemos passar a próxima semana na Califórnia,” Micah fala, e eu escuto as escadas rangerem enquanto ele desce para ficar de pé na escada. “Tem que ser mais seguro que aqui.” “Não tem nada de perigoso sobre esse campus,” Archie começa, e fico de queixo caído. “Nada de perigoso?” Eu engasgo, tentando manter a minha voz baixa. Gritar dói muito agora. Hipotermia não é brincadeira. “Nem um pouco? Você quer dizer que não ligou para o 911 quando encontrou aquela marca da mão ensanguentada na parede do dormitório?” “Charlotte.” Tem um ponto final no final do meu nome, uma pontuação definitiva marca na conversa que eloquentemente diz todas as palavras que meu pai não pode dizer: cala a boca Chuck, nós não discutimos na frente de convidados. Mas as minhas emoções estão altas em uma onda de medo e melancolia, e tudo que eu posso pensar sobre são as últimas palavras do Spencer para mim. “Nós podíamos ter sido algo, Charlotte, mas eu odeio que mintam para mim. Eu odeio.” “E sobre o segredo, os túneis subterrâneos alagados embaixo da escola?!” Church aperta meu ombro, mas eu ignoro ele. Eu estou muita agitada agora. “Ou o cara morto pendurado por uma corda? E os alunos com hipotermia e alguém que quase se afogou?” Eu levanto meu braço para apontar para o Ranger. “Então, o campus não é perigoso? Você está mentindo.” “Eu acho que seria melhor se Charlotte saísse com um de nós,” Church começa de novo, mas Archie não estava interessado. As narinas dele abertas e o rosto está transformando-se em uma cor roxa/vermelha que eu espero que ele esteja próximo de quebrar. Tenho esperado por isso por anos. “Algumas vezes ações inadequadas levam a más consequências. Mesmo que eu lamente por tudo que vocês estão passando, vocês não deveriam ter entrado naqueles túneis.” Archie pausa para o efeito dramático e me sinto começar a tremer com emoções mal reprimidas. “Minha filha vai ficar comigo, ponto final.” Archie me encara, uma batalha de vontades que eu não vou perder. “Não seria um problema colocá-la em um hotel perto da casa da minha mãe,” Ranger diz, a voz dele dura e áspera de quase se afogar. “A carona devocês deve chegar aqui daqui a pouco. Até lá, eu vou ficar no meu escritório. Independente da amizade de vocês com a minha filha, eu ainda sou o pai dela e ainda sou o diretor dessa escola. Não vai ter mais discussões sobre isso.” Archie exala e toda cor sai do rosto dele, deixando uma calma que me irrita. Ele se vira e vai para o escritório, fechando a porta deixando só uma fresta. Música de jazz sai por ela enquanto eu franzo a testa. Muito. Tanto que minha boca dói. Tanto que eu sinto as lágrimas começar a voltar aos meus olhos. Archie me quer aqui, no campus da morte. Claro que ele quer. Ele é muito egoísta para admitir que algo está errado aqui. Por que ele iria? Isto mancharia sua perfeita ficha de trabalho. Deus o livre ele admitir que as coisas estão fora de controle. “Eu não vou sair se você não vai,” Tobias repete e o irmão dele grunhe da posição dele na escada. “Nem eu,” Ranger declara, mas Church cruza os braços sobre o peito, uma pequena carranca no rosto. Eu me pergunto como os pais deles são ou se discutir com eles, sequer era uma opção. Discutindo com o meu não é, com certeza. Surpreendentemente, os meninos acabam conseguindo o que queriam, e os carros que vieram para eles voltam pelo mesmo caminho que vieram. Pirralhos mimados. Estou com muita inveja. Eu gostaria que meu pai se importasse o suficiente para me deixar ir. Eu só quero me afastar dessa escola estúpida e de toda essa merda. Spencer está morto. Eu tento processar essa frase na minha cabeça, mas ela se recusa a aceitá-la. Não há como entender esse conceito, não há como torná-lo verdade. Eu não quero que seja verdade. Enquanto eu estou deitada na minha cama, repasso várias vezes o cenário, o que a pessoa na árvore usava, o formato do corpo, a cor do cabelo... Não há muitos garotos nessa escola com cabelos cinza-prata. Isso é... exceto Eugene Mathers. Meu humor se anima um pouco e saio da cama, procurando meu laptop. Tirei essa foto da escola para enviar para Monica, e Eugene passou por lá enquanto eu tirava. Deve ter salvo no meu messenger em algum lugar... Abro a parte superior do meu computador e volto para as minhas conversas com Monica (adiciono outra camada de cobertura ao meu bolo da depressão, muito obrigada pelas redes sociais). Aí está. Eu dou um zoom e olho de soslaio para os cabelos de Eugene. É da mesma cor que Spencer, como se ele estivesse tentando copiá-lo e quase conseguiu, mas não o executou tão bem. A versão de plágio em mosaico de um penteado. Há partes que parecem cinzas de idosos em vez de prateadas, como se o estilo fosse mais geriátrico do que de animes. E, tipo, Eugene é um idiota, certo? Eu me sinto meio mal por esperar que ele seja o cara morto, mas também... talvez seja justiça cármica? Começo uma mensagem de grupo com os caras quando ouço uma pedra batendo na minha janela. Mais cedo, meu pai me mandou de volta ao dormitório com Nathan, o segurança assustador, e alguns policiais uniformizados para pegar minhas coisas. Peguei a bolsa com as armas também, então estou totalmente armada quando vou na ponta dos pés até a janela e olho para fora. Mas é apenas o Conselho Estudantil esperando por mim em toda a sua glória, iluminados pelo luar e bonitos, cada um deles. Bem, exceto Spencer, é claro. Meu estômago revirou, e expiro na tentativa de afastar a náusea. Cuidadosamente, abro a porta e ouço os roncos do meu pai. Eu sinto que deveria haver policiais vigiando a casa ou algo assim, mas não há. Há alguns no campus, patrulhando a noite, mas é isso. É como se ninguém levasse esse assassinato a sério. Ou então... eles não acham que o garoto pendurado na árvore foi assassinado? O mais rápido possível, eu troco a blusa e a calça de moletom que estava vestindo para um uniforme novo e limpo. Ainda não quero que toda a escola conheça meu segredo, principalmente depois do que passei recentemente. Claramente, alguém - na verdade, várias pessoas - estão querendo me pegar. “O que vocês estão fazendo aqui?” Eu pergunto enquanto saio pela porta dos fundos com minha bolsa por cima do ombro e meu laptop debaixo do braço. Eu empurro meus óculos pelo nariz e tremo no ar gelado. Está congelando aqui, mesmo que seja março. Deveria ser primavera; deveria estar quente. Já mencionei o quanto sinto falta do clima da Califórnia? O nordeste é frio o ano todo, juro por Deus. “Vamos procurar Spencer”, Tobias diz, suspirando profundamente. Ele não parece muito esperançoso. “Pelo que sabemos, ele ainda pode estar de mau humor em algum lugar e talvez nem sequer saiba sobre o cara na floresta.” Ranger suspira e bagunça os cabelos escuros com os dedos, fechando os olhos de safira por um momento. Tudo isso deve ser duplamente difícil para ele, considerando como sua irmã morreu. “Veja.” Pego meu computador e mostro a foto de Eugene para os caras. “Ele tem a mesma cor de cabelo que Spencer, certo? Talvez tenha sido Eugene que vimos?” “Por que você tem uma foto de Eugene Mathers no seu laptop?” Micah pergunta, como se ele estivesse todo machucado por isso. Eu dou a ele um olhar estreito. Por mais que eu considere sua pequena centelha de ciúme reconfortante, agora não é a hora. Spencer... Precisamos descobrir o que aconteceu com Spencer. “Eu mantenho todos os meus números na nuvem, então mesmo com um celular novo...” Church tira um Iphone novinho em folha, e eu estreito os olhos. Viu o que eu disse? Substituir meu Iphone por um Samsung foi um golpe proposital. Só passou metade do dia, e ele já conseguiu um substituto para ele mesmo. “Sim, eu ainda tenho o número do Eugene. Eu poderia mandar uma mensagem para ele e ver se eu consigo uma resposta.” Church já está tocando seus dedos na tela. Ele definitivamente tem a vibe de um líder, este carisma natural junto com uma atitude de não- aceito-merda. Ele não faz perguntas; ele apenas age. “Agora nós esperamos. E enquanto esperamos, nós procuramos. Vamos começar pelas cabanas dos funcionários” “Entendido, Sr. Presidente do Conselho Estudantil,” os gêmeos falam, fazendo continência para Church em uníssono. “Oh, é que nem uma aventura dos Hardy Boys. Ou se possível Nancy Drew.” Ross pausa então, o sorriso dele tremendo como se ele estivesse quase perdendo a cabeça. Eu assumo que os meninos já contaram para ele tudo que aconteceu. Isto, e eu tenho quase certeza que ele está pelo menos meio apaixonado por Spencer Hargrove. “Quando eu encontrar aquele menino, eu vou bater na bunda dele com as brochuras de cada cópia, só para garantir.” “Você faça isso mesmo,” Tobias diz com um rolar dos olhos, e Micah zomba. Ele realmente acredita que Spencer morreu, não é? Eu olho para longe porque não aguento a falta de esperança gravada no rosto bonito dele; é demais. Esperança é a coisa com penas, certo? Te dá asas, e eu realmente, realmente poderia usar algumas asas agora mesmo. Cada um dos gêmeos segura uma das minhas mãos, e nós vamos em direção a escuridão sombria da floresta. Eu não gosto muito da ideia de voltar para lá, não depois da merda de ontem a noite. Mas enquanto eu coloco meu computador na minha mochila, eu me lembro que tenho uma faca, meu taser e o que restou do spray de pimenta. Isto, e de jeito nenhum eu vou voltar para aqueles túneis subterrâneos de novo. Nós vamos ficar bem, né? Nós seis juntos. Vai ficar tudo bem. Continue dizendo isso para si mesma, Charlotte. É uma má ideia, e você sabe. A coisa é que Spencer vale a pena. Eu... entraria em milhares de florestas sombrias para encontrar ele. “Você mentiu para mim, e eu odeio que mintam para mim.” O choque e tristeza no rosto dele vai me assombrar o resto da minha vida se eu não encontrar ele. Eu não consigo imaginar aquela sendo a últimainteração que tivemos. “Merda,” eu murmuro, meu pé pisando no molhado embaixo das árvores. Aquela foi uma tempestade feia. O campus inteiro está molhado, alagado com grandes poças que afogam metade da calçada para pedestre. “O que?” Micah sussurra, mas é difícil formular palavras que não sejam palavrões. “Eu só… Spencer e eu… eu não quero que a última experiência que ele teve na vida seja uma briga com os amigos dele. Uma briga que eu comecei porque não contei a verdade.” Micah faz um som, mas ninguém mais reconhece que eu que falei algo. Percebo naquele momento que eu sou uma pessoa egoísta. Tipo muito egoísta. Isto não é sobre mim, nada disso é. Na verdade, eu sou a pessoa que tem menos direito sob Spencer. Química e vibes não fazem um relacionamento. Solto a mão dos gêmeos, eu passo minhas mãos pelo meu rosto enquanto nós paramos perto de uma fila de cabanas. As janelas estão todas escuras, ameaçadoramente e tem várias cabanas que parecem que estão feitas pela metade. Church tira uma chave do bolso dele, sem mais nem menos, e destranca a primeira. “Onde você conseguiu isso?” Eu sussurro enquanto Ranger liga a lanterna que ele estava carregando e passa pelo quarto todo. “Spence?” Ranger grita, sem se importar em manter a voz baixa. Eu me encolho um pouco, mas eu acho que nós fizemos tanto barulho caminhando pela floresta quanto um caminhão dirigindo por uma usina nuclear, então porque se importar em ser sútil agora? “Nós roubamos da sala dos professores,” os gêmeos respondem em uníssono, e eu rolo meus olhos. É um gesto tão normal que eu estou instantaneamente sobrecarregada de culpa. Coisas não deveriam ser normais se o Spencer está… bem, morto. Meu estomago aperta, mas eu empurro para baixo, esperando por Ranger checar a cabana. É apenas um andar com duas camas de solteiro, duas mesas, uma cozinha pequena no canto. Não precisa de revista meticulosa para ver que ninguém está aqui. Nós vamos para a próxima cabana e a próxima e então a próxima. Quando nós chegamos a última, com as lonas sobre a janela e teto, nós encontramos uma janela quebrada nos fundos e um pedaço de madeira pregada cruzando a porta da frente. “Você acha que a tábua foi colocada aqui para impedir os estudantes de entrar?” Eu pergunto enquanto nós circulamos a cabana em grupo. Isto não é um filme de terror, okay. De jeito nenhum que vamos nos separar. “Não.” Ranger aponta a lanterna para os pedaços brilhantes de vidro no chão. “A janela foi quebrada por dentro. Além disso, por que essa cabana? Nenhuma das outras está cobertas com tábuas.” Ranger e Micah ajudam a levantar Tobias pela janela. Estou preocupada o tempo todo que ele se corte, mas ele parece bem, sem sangue ainda. A lanterna varre a sala enquanto Church e Ranger impulsionam Micah depois. “Spencer estava definitivamente aqui”, ele grita, e então há o som de madeira sendo triturada quando a porta da frente é chutada por dentro, arrancando a placa das dobradiças. “Treinamento de MMA”, explica Ranger com um leve encolher de ombros. Eu levanto minhas sobrancelhas, mas não digo nada quando chegamos à frente e encontramos os gêmeos mexendo no lixo no chão. “Embalagens de Doritos, recipientes com sobras do clube de culinária e alguns papéis para enrolar. Essa bagunça tem a cara daquele idiota chapado por toda parte.” Tobias se levanta enquanto Micah joga de lado os cobertores no sofá, procurando... eu não sei, sangue? Sinais de que ele esteve aqui recentemente? Eu não sei. Eu não sou uma boa detetive. Esta cabana é muito melhor do que as outras, maior, de dois andares e com uma enorme cama king-size no último andar. Parece que esse foi o modelo para os projetos de construção iniciados em algumas das outras. Não é de admirar que Spencer goste de ficar aqui. Ou gostava... Por favor, não deixe que isso seja uma frase no passado. Expirando, olho em volta para os outros, mas não há nada de real significado, apenas um pouco de lixo e um carregador de celular deixado na parede. É isso. “Bem, ele definitivamente esteve aqui”, Church diz, encostado na parede perto da porta da frente, o queixo inclinado para baixo, os olhos fechados. Cabelo loiro desliza para frente para cobrir a parte superior do rosto, mas não há muito para ver lá de qualquer maneira. Ele ainda está completamente fechado. “Mas isso não nos diz se ele ainda está vivo.” “Não, mas é um bom começo.” Ranger exala e se vira para nos encarar, colocando as mãos nos quadris. “Spencer esteve aqui. E ele sempre reclama do uniforme da academia, diz que cozinha suas bolas.” Ele me olha e dá um leve encolher de ombros. “Desculpe a linguagem.” “Não, eu entendo. Shorts de ginástica cozinha as bolas. OK. Então, o que isso tem a ver com alguma coisa?” “Bem, depois que ele nos deixou no corredor, ele provavelmente voltou aos dormitórios e pegou uma muda de roupa. O cara que estava pendurado na árvore ainda estava com seu uniforme. De jeito nenhum Spencer ficaria aqui fora e fumaria um baseado nesses shorts.” ‘Você está dando tiro no escuro, cara. Umas bolas suadas não é exatamente a pista inovadora que estamos procurando. Isso não significa nada.” Micah chuta uma lata de refrigerante pelo chão, e ela chia. Chia. Como se não fosse tão velho assim. Trocamos um olhar enquanto ele se abaixa e pega, tomando um gole da lata. Ambas as sobrancelhas sobem. “Cara, isso está fresco. Como super fresco. Ainda está borbulhante.” Ele entrega primeiro a seu irmão, depois a Ranger, eu, Ross e Church. Todos tomamos um gole. Está realmente fresco, como se tivesse sido aberto apenas alguns minutos antes de chegarmos aqui. Meu coração pula no meu peito, mas eu sei que isso não significa nada. Spencer Hargrove não é o único aluno da Adamson que foge para os limites do campus para fumar um baseado. “Eu tentei mandar mensagens de texto para o idiota, mas nenhuma resposta.” Church passa a mão pelo rosto. “Ele ainda pode estar chateado conosco. Talvez o telefone dele esteja desligado?” “Ou talvez ele esteja no necrotério e não possa responder”, Micah sussurra, e eu juro, Ranger rosna para ele. “Por que você está tão determinado a ser um idiota pessimista quando o resto de nós está tentando tanto ser positivo?” “Porque eu não quero criar esperanças apenas para ser fodido novamente. Cara, eu... eu não sei como lidar com isso. Quando vi o corpo dele pendurado naquela árvore, eu só queria morrer. Não me faça reviver esse momento. Prefiro… pensar que ele está morto até que se prove o contrário.” Micah fecha os olhos verdes e senta-se com força na beira do sofá. Ele range, como se pudesse sentir mais do que apenas o peso de seu corpo, como se suas emoções e seu estresse fossem pesados demais para aguentar. Há um longo período de silêncio antes de Church se afastar da parede e se endireitar. “Vimos o que precisávamos ver. Vamos levar Charlotte de volta antes que o diretor perceba que ela está desaparecida.” Voltamos para a varanda da frente, mas não consigo resistir a olhar por cima do ombro uma última vez, sentindo falta de Spencer, imaginando onde ele está, e desejando com cada batida do meu coração que eu o veja novamente. Se eu fizer, vou dar-lhe o beijo de uma vida, isso eu prometo. Talvez mais. Sim, provavelmente mais. Os próximos dias são longos e terríveis. Apenas uma hora após a outra, me perguntando quando posso sair de fininho de novo, quando papai pode me dizer alguma coisa, quando a polícia vai encerrar sua investigação. Três dias nesse pesadelo, ainda há pouca notícia e apenas alguns pais irritados para lidar. São quase oito da noite quando papai entra e se senta na mesa do jantar, olhando para minha tigela de macarrão com queijo com um olhar cético. Ele provavelmente acha que é macarrãoinstantâneo, mas mal sabe ele, eu aprendi como fazer isso durante o Clube de Culinária. Spencer foi quem me contou o segredo sobre misturar farinha de rosca com manteiga e polvilhá-las por cima antes de assar. Meus olhos lacrimejam, mas pisco rapidamente para limpá-los. “O que?” Eu pergunto, colocando uma mordida enorme na minha boca e observando meu pai com cautela. Ele não tem sido exatamente o mais próximo, mais como algum tipo de guarda da prisão. Ele me abraçou com força naquele primeiro dia, mas acho que ele tem problemas de intimidade, então é tudo o que tenho. Apenas aquele abraço. E foi apenas okay. Ranger foi quem me mostrou como deveria ser um abraço. “A polícia considerou a morte um suicídio. Eu só quero que você saiba disso.” “Um suicídio?!” Eu grito, acidentalmente jogando um enorme pedaço de macarrão com queijo quente na parede. Papai e eu nos encolhemos, mas não posso evitar. Estou tremendo aqui. “Eles são estúpidos?! Sou uma estudante de dezessete anos e pude ver assassinato escrito por toda a cena. Como uma pessoa poderia pegar uma corda tão alta na árvore e depois se pendurar nela sem haver algum tipo de escada ao redor?” “Charlotte, eu não sou detetive. Só estou lhe dizendo qual foi o resultado da investigação. Se você tiver um problema, pode falar com os policiais envolvidos.” Minha boca está literalmente aberta, e minhas palavras me escaparam completamente. Eu estou sofrendo aqui. “Mas... alguém nos trancou naqueles túneis. Alguém nos queria mortos.” “A porta dos túneis estava fechada e trancada, sim, mas poderia facilmente ter sido um acidente ou uma brincadeira que deu errado.” “E o buraco no teto do quarto do Mark?!” Eu pergunto, levantando-me tão rápido que faço minha cadeira cair. “Isso também foi uma brincadeira?” “Não há buraco no teto do quarto do Mark”, papai diz, e meus olhos se arregalam. O que... que merda?! “Como assim, não há buraco?” Eu sussurro, minha voz baixa e escura. Estou com problemas para processar o que meu pai acabou de dizer. “Havia claramente um buraco lá antes. Eu te contei o que aconteceu.” Bem, parte do que aconteceu. Parte do que eu disse foi mentira. Eu disse ao papai que ouvimos muito barulho no quarto de Mark e abrimos a porta destrancada. Eu não disse a ele que fui atacada no chuveiro. Talvez eu devesse ter? Embora... eu juro, cheire a conspiração aqui. Algo não está certo. “Não sei o que lhe dizer. Não há buraco no quarto dele, Charlotte. E, embora eu concorde que o que aconteceu nos túneis foi horrível, foi o resultado de uma tempestade. Você não deveria estar lá em primeiro lugar.” “Alguém fechou e trancou a porta em nós.” Papai me dá um olhar longo e persistente e suspira. “Talvez. Mas o que você quer que eu faça sobre isso? Eu disse à polícia tudo o que você me disse. A menos que haja algo que você gostaria de adicionar?” O jeito que ele me olha, é bem óbvio que ele sabe que estou me segurando. Acabo devolvendo o olhar, mas não digo mais nada. Se eu fizer, ele pode me enviar para outra escola, como ele prometeu. Até saber o que realmente aconteceu com Spencer, não vou a lugar nenhum. Eu me levanto da mesa e corro para o meu quarto. Quando estou sozinha, no escuro, é quando fica impossível segurar as lágrimas. Deitada na minha cama sozinha, choro no meu travesseiro por horas. Spencer gostava de mim pelo que sou. Ele não conhecia todos os meus segredos e, mesmo quando se tratava de questionar tudo o que achava que sabia sobre si mesmo, estava disposto a arriscar. Quantas vezes na vida uma garota encontra um cara assim? Ugh. Meu travesseiro está molhado das lágrimas e estou toda ranhenta. Mas isso não importa. Tudo o que consigo pensar é em todas as coisas que eu queria falar com Spencer sobre as quais nunca tive chance. Acho que toda essa merda que pintam em placas de madeira é verdadeira, ditados como “Viva todos os dias como se fosse seu último” ou “Você não aprecia o que tem até que o perde.” Com um grunhido, jogo meu travesseiro do outro lado do quarto e ele bate em um copo de água, derramando em tudo. Pego meu computador, envio uma mensagem para Spencer mais uma dúzia de vezes. Eu digo a ele todo tipo de coisa que eu nunca teria coragem de dizer em voz alta. E então adormeço e sonho com o cheiro dele, aquele cheiro de menta e de cedro que faz meu estômago apertar, meu coração disparar e meu corpo esquentar por dentro. Eu talvez nunca sinta esse cheiro novamente. A ideia apenas me mata. Na manhã seguinte, eu nem me incomodo em sair da cama. Pra que? Ainda tenho dois dias de férias de primavera e não tenho para onde ir, nada para fazer. Tudo o que quero é encontrar Spencer, mas com o passar dos dias, minha esperança fica cada vez menor. Se ele estivesse vivo, ele já teria nos mandado uma mensagem. Se ele estivesse vivo, já o teríamos visto, não é? Ele está morto então. É isso aí. Ele está realmente e verdadeiramente morto. Alguma parte de mim esperava que, como em um bom livro, sua morte fosse apenas um suspense, alguma provocação do autor que se resolveria na hora certa. Mas isto não é um livro, é a vida real, e nada é como deveria ser. Não consigo refazer as coisas que não gosto, recomeçar como se estivesse vivendo em um videogame. Não. Eu tenho que aceitar. Eu tenho que aceitar que ele nunca mais voltará. Conectando meus fones de ouvido, encolho-me na cama e coloco a música mais triste que consigo encontrar, como se ouvir os problemas de outras pessoas fizesse com que os meus desaparecessem. Mas não importa o quanto eu chore, parece que não consigo acabar com a melancolia doentia dentro de mim. Não importa quantos suéteres e cobertores eu empilhe em cima de mim, não consigo afugentar o frio. Os meninos passam por aqui, mas o humor deles não está muito melhor. Acabamos sentados juntos no meu quarto vendo um filme idiota. Tobias abre a janela e acende um baseado - provavelmente um de Spencer - e todos nos revezamos expirando pela tela para que meu pai não sinta o cheiro. Bem, todos menos Church. Ele apenas fica quieto e contemplativo na cadeira de balanço perto do armário, mas ele não balança. Ele fica parado como uma estátua que ele se parece tanto, seus olhos cor de âmbar olhando para nada enquanto ele toma um café. “Acho que haverá um anúncio na segunda-feira?” Micah pergunta calmamente, descansando na minha cama. Os gêmeos se sentiram em casa de uma maneira que seria encantadora se eu não estivesse tão triste de luto que sinto que poderia me afogar. Eles estão sentados de cada lado de mim, tornozelos cruzados, mãos cruzadas no peito, de forma idêntica. Eu me pergunto se é apenas força do hábito, como se eles tivessem que praticar sua rotina de gêmeos, ou se eles fazem isso sem querer. “Um anúncio?” Tobias pergunta, zombando, seu cabelo vermelho-alaranjado despenteado, grandes círculos roxos sob os olhos. Ele claramente não esta dormindo. Dormir é a única coisa que me fez passar por toda essa merda em primeiro lugar. “Sobre o 'suicídio'?” Ele faz aspas com os dedos. “Não é Spencer, estou lhe dizendo.” “Se não é o Spencer, onde ele está e por que ele desapareceu completamente das redes sociais? Ele não está respondendo mensagens de texto ou telefonemas, e seus pais não respondem a nenhuma das minhas mensagens.” Micah cospe isso de volta com uma mordida cáustica em sua voz que me faz estremecer. “Isso não significa nada. A mãe do Spencer é impossível de entrar em contato nos melhores dias, e seu pai...” Ranger se detém e encolhe os ombros. Não sei muito sobre o pai do Spencer, exceto que ele é dono de uma empresa farmacêutica. Merda, eu não sei muito sobre o próprio Spencer, muito menos sua família. “E todos sabemos que Jack é uma total perda de tempo.” Jack, hein? Acho que estãofalando do irmão mais velho do Spencer, o famoso traficante de drogas da Adamson Academy. Soa como um bom cara. “Pedi para minha mãe investigar”, Church começa com um suspiro, “mas ela está em algum tipo de briga com Sheena e não consigo falar com ela. Ela admitiu que há algumas fofocas sobre o suicídio, mas ela não pegou um nome. Os pais querem que a identidade de seu filho seja retida, para que possam ficar de luto.” Olho entre Church e Ranger. Tenho certeza de que Sheena é a mãe do Spencer, mas o que eu sei? É o quão pouco eu realmente conhecia… conheço o cara. “Poucas pessoas gostariam que o nome da criança supostamente suicida fosse arrastada pela lama.” A voz de Ranger é baixa e um pouco grossa, como cascalho rolando ladeira abaixo. Ele é compreensivelmente sensível sobre a coisa toda. Seu cabelo escuro não é tão brilhante como de costume, espetado em ângulos estranhos, como se ele não tivesse tomado banho em dias. Eu não posso culpá-lo. Eu também não tomei. Tenho certeza de que cheiro a asa, mas não me importo. Não importa. “Mm.” Apenas um som de Church, e então ele se levanta para encher o copo de água da jarra na minha mesa. Papai trouxe aqui para nós, e então ele tentou deixar a porta aberta, o que me irritou. Como se eu estivesse fazendo algo sexual depois que meu amigo morresse. Idiota. Além disso, notas para os pais: deixar a porta aberta na verdade não impede os adolescentes de fazer sexo. Nós fazemos sexo. Supere. Bem, a maioria de nós... Ainda tenho que ultrapassar esse limite, mas não é porque papai está respirando no meu pescoço. Eu tomei essa decisão por mim mesma. “Eu não consigo acreditar que amanhã é domingo,” murmuro, odiando que as férias estejam chegando a um fim tão abrupto. As férias de primavera devem ser divertidas. Deveria ser gasto surfando e deitada no sol quente, bebendo, fumando e dançando, saindo, indo a shows na praia. Como eu acabei aqui, gastando-o em uma academia velha e triste enquanto chovia lá fora, e eu chorava todas as noites? Quase sinto falta do meu relacionamento superficial com Cody. Se ele tivesse morrido, tenho certeza de que teria chorado por um dia, mas Monica teria ligado, e estaríamos nas ondas novamente. Parece insensível, mas... é verdade. Acho que nunca me importei com Cody do jeito que me importo com Spencer. Me importava com Spencer? Não. Não, “importo” está certo. O tempo presente ainda está certo. Até eu estar no funeral de Spencer, colocando flores em seu túmulo, vou usar o tempo presente. “Vocês tiveram a chance de verificar o buraco no teto de Eugene?” Eu pergunto, e Ranger balança a cabeça uma vez. “Havia policiais por todo o dormitório. Só podíamos entrar na cozinha e ir direto para os nossos quartos ou o banheiro. Eles pareciam estar limpando antes de sairmos, então talvez hoje à noite possamos dar uma olhada. Ainda estou tendo problemas para entender porque os idiotas que atacaram você se deram ao trabalho de selar aquele buraco. Quero dizer, é apenas estranho pra caralho.” Ele suspira e se levanta, esticando os braços sobre a cabeça. “Minha cabeça está me matando, e eu juro, essa maconha está me deixando paranoico. Vou voltar para o meu quarto para tirar uma soneca. Me acorde quando esse pesadelo acabar.” Ele sai pela porta e Church se levanta para segui-lo sem dizer uma palavra. Quase perdendo um melhor amigo... e possivelmente perdendo outro, o fodeu mesmo. “Ele nunca vai superar isso,” Micah diz, e Tobias zomba. Ele não gosta que seu irmão gêmeo fale sobre Spencer como se já tivesse terminado. “Se o colega de quarto de Spencer se mudou para o exterior, por que ele estava compartilhando com Ranger?” Eu pergunto, o aspecto chato e mundano dessa pergunta me acalma, como se tudo fosse normal, como se as coisas fossem boas novamente. “Church e Ranger deveriam ser colegas de quarto, mas Church gosta do seu espaço. Ele e Spencer trocaram de quarto, mas não é oficial. Eles serão repreendidos se forem pegos.” Tobias faz uma pausa. “Bem, eles teriam sido repreendidos, se Spencer não estivesse-” “Não. Não ouse.” Tobias se vira e olha para o irmão através da largura do meu corpo. “Se você fizer, eu juro por Deus...” “Você vai o que? Me dar outro nariz sangrando? Eu não tenho medo de você.” “Talvez você devesse ter”, Tobias retruca, mas então me sento de repente, ficando entre eles. Eu não aguento mais brigar. “Por favor”, eu sussurro, meus olhos cheios de lágrimas. Minhas mãos começam a tremer no meu colo, e Tobias faz uma careta, inclinando-se para colocar a testa no meu ombro. Uma pequena risada me escapa. Bem, ok, meio soluço e meio risada. “Estou fedendo? Você pode ser honesto.” “Talvez só um pouco”, Tobias murmura, e eu posso senti-lo sorrindo contra a minha pele. “Mas está tudo bem. Eu não me importo. Eu gosto das minhas meninas com um pouco de odor.” “Nojento”, murmuro, empurrando-o para longe de mim. Micah se levanta de repente, como se estivesse chateado, e Tobias e eu paramos para olhar para ele. “Como vocês podem rir e falar assim quando sabem que ele se foi? Eu não... eu não entendo...” Ele se senta pesadamente no banco em frente à minha janela e tira o baseado do velho recipiente de latão enferrujado de Altoids. Ele fuma um pouco e depois encosta a cabeça no batente da janela. “Porque ainda temos esperança. As pessoas vivem das migalhas das coisas, você sabe.” Tobias se senta e se recosta na cabeceira da cama, imitando a pose de seu irmão gêmeo. “E se ele se foi, você sabe que temos que continuar, certo? Nós não apenas desistimos da vida. Nós só temos uma, mano. Temos que viver, independentemente.” Tobias lambe os lábios e desvia o olhar, em direção à porta do armário. “Eu não diria nada por respeito a Spencer, mas eu meio que tenho uma queda por Charlotte. Quando ele voltar, ele pode ter que lutar comigo por seus sentimentos.” “Sério?” Eu pergunto, forçando um sorriso através das lágrimas. “Tenho a sensação de que ele brigaria bem.” “Sim, mas você sabe que eu venho treinando há anos para lutar no ringue. Eu poderia totalmente chutar sua bunda. Quero dizer, ele é scrappy1, mas...” Micah se levanta de novo, jogando o restante dos baseados pela janela na chuva antes de ir embora. Tobias suspira e olha para mim, olhos verdes meio fechados pela fadiga. “Vá com ele. Não quero que ele fique sozinho,” sussurro, e Tobias assente. Ele hesita por um segundo antes de se inclinar para frente e capturar meus lábios com os dele. O beijo é agridoce como o inferno, mas tingido com esse calor desesperado e dolorido, tanto que acabo me agarrando à camisa dele sem nem perceber que me mexi. “Eu também não quero te deixar sozinha,” ele sussurra, se afastando um pouco e me olhando no rosto. Definitivamente, há uma centelha com os gêmeos também. Não tenho certeza de como processá-lo, especialmente diante da tragédia. Meus sentimentos por Spencer estão nublando 1 Scrappy: pequeno e inofensivo, mas suspreendentemente capaz de brigar com qualquer outra pessoa. meu julgamento agora, como se eu não pudesse pensar em Tobias ou Micah quando estou tão preocupada com ele. “Vamos rever... isso”, eu sussurro, apontando para frente e para trás entre nós, “depois que soubermos”. “É justo”, Tobias sussurra, e então ele me beija novamente, deixando o gosto doce de uma paixão do ensino médio junto com a tristeza amarga de um amigo quebrado nos meus lábios. É muito. Fico calma até ele sair, depois corro para o banheiro e ligo a água até ferver. Dói como o inferno, mas eu entro e deixo lavar sobre mim enquanto fecho o ralo e deixo o chuveiro encher a banheira para mim. Eu fico no banho até minha pele ficar enrugada, mas isso não facilita as coisas. Luto é uma merda. É como um pequenodemônio que persegue todos os seus movimentos, não importa o quão rápido você corra, o quão bem você se esconda, o quanto lute contra isso. Está lá, pronto para aparecer a qualquer momento. Envolvendo meus braços em volta dos joelhos, encosto a testa nas pernas e fecho os olhos, deixando a água escorrer até meu corpo parecer pesado demais para aguentar. Quando volto para o meu quarto, fico olhando a tela do meu notebook por um longo, longo tempo, esperando, desejando e orando por aqueles pontinhos de Spencer para me dizer que ele está digitando. Meu coração dispara com o pensamento, mas não importa quanto tempo eu olhe, as coisas não mudam. Minha esperança não o trará de volta à vida, certo? Finalmente, fico desesperada e mando uma mensagem para Monica. Mesmo que as coisas tenham corrido mal, sinto sua falta. É tudo o que eu digo. Porque é a verdade. Perder Spencer está me fazendo perceber quantas coisas na minha vida eu não dei valor. Depois de um momento, mando uma mensagem para minha mãe também, mas sei que ela não será capaz de responder por um tempo. Não são permitidos telefones na reabilitação. Pelo menos, não do tipo que ela vai, esses lugares luxuosos, como um spa, que meu pai paga, apesar de terem se divorciado há anos. Finalmente o sono me leva, mas o Sandman2 deve estar seriamente relaxado quando acordo poucas horas depois com o som da chuva caindo lá fora, estrondo dos trovões de longe. “Porra de tempo de merda do nordeste,” resmungo quando saio da cama, piscando através de grandes círculos brancos enquanto tento forçar meus olhos sonolentos a se concentrar no brilho do meu notebook. Nenhuma mensagem de Spencer. Ou de Monica. Ou da minha mãe. Espero que você esteja dormindo. Aquela é do Tobias. Só isso. E de apenas alguns minutos atrás. Digito uma resposta rápida, vou ao banheiro e faço xixi enquanto espero por uma resposta à minha breve mensagem tempestade me acordou. Eu também. Você quer vir aqui? 2 Sandman: mestre dos sonhos, bicho-papão. Hesito por um momento e depois digito um sim rápido, vestindo uma capa de chuva pesada, botas e agarrando meu estúpido guarda-chuva emoji que Monica me deu. É o rosto encolhido, sabe, aquele com os dentes? De qualquer forma, ela diz que eu faço essa cara o tempo todo, então era apenas apropriado que eu tivesse um guarda-chuva igual. Pessoalmente, eu odeio, mas foi um presente, então aceitei graciosamente. E, graciosamente, quero dizer que fiz exatamente essa cara. “Ei”, eu sussurro quando abro a porta da frente e encontro Tobias, todo fofo, encharcado e molhado da caminhada subindo a colina. Ele está sozinho, o que eu não gosto. Só porque ele é um cara, não significa que ele esteja melhor vagando pelo campus sozinho. “Você não deveria ter vindo aqui sozinho.” “Eu não vim sozinho.” Ele assente, e eu olho para uma figura à distância. É Micah, com um guarda-chuva decorado com cerejas. Ele está de pé perto do banco na curva da estrada, deixando o irmão ensopado pela tempestade. Que bom. Gêmeos brigando. Saio, fechando a porta suavemente atrás de mim e seguro meu guarda-chuva sobre a cabeça de Tobias. É difícil não encará-lo, com os cabelos vermelho-alaranjados sangrando no rosto, os longos cílios cobertos de água da chuva. Ficamos de mãos dadas e começamos a seguir o caminho, Micah se movendo à nossa frente. Eu não o culpo. Todo mundo sofre à sua maneira. Um frio arrepiante passa por mim quando passamos pela porta dos fundos para os dormitórios. Uma lanterna varre o corredor e Micah nos empurra de volta para uma alcova, parando quando Nathan, o assustador vigia noturno, lança sua luz em direção à porta aberta e xinga. Ele corre na nossa direção, as chaves tilintam, as botas arranhando o chão. “Maldição”, Micah amaldiçoa, procurando no bolso uma chave. Ele abre o armário atrás de nós e entramos com nossos guarda-chuvas molhados. Espero que Nathan não note a poça no chão. Provavelmente ele não vai, porque, sejamos honestos, ele é um segurança muito ruim. Há xingamentos sobre crianças estúpidas e o som da porta se abrindo mais. Micah espreita para ver o que está acontecendo. “Ele está fumando um cigarro do lado de fora da porta.” “Então vamos relaxar aqui até ele sair”, Tobias sussurra de volta, e a porta se fecha. É um espaço muito apertado para ficar preso com dois caras altos. Os gêmeos são altos como o inferno e cheiram bem, como água da chuva fresca misturada com cerejas azedas e pinheiros. Meu batimento cardíaco ganha velocidade, mas é apenas o meu corpo reagindo à proximidade deles. Estou muito quebrada e triste por dentro para realmente ficar excitada ou realmente apreciar o momento. Uma parte inconsciente perversa de mim arquiva esses sentimentos para mais tarde. Nota para si mesma: considere ser a parte suculenta do meio de um sanduíche duplo, com duas fatias de homem gostosos como pão. Eww. Isso foi uma espécie de metáfora grosseira, hein? “Vocês não vão pity-fuck3 hoje de noite, né?” Micah sussurra, e minha cabeça se levanta tão rapidamente que eu bato em seu queixo e ele amaldiçoa apenas em silêncio o suficiente para que eu espere que o idiota do Nathan não escute. “Esse é mais o seu estilo, não é? Pity-fuck?” Tobias fala em um sussurro rouco. “Sim, bem, eu ia dizer, se vocês dois não vão, talvez Charlotte e eu devêssemos.” “Você está assumindo que eu quero”, eu rosno de volta, atingindo-o no peito com a palma da mão. “Eu não estou interessada.” “Você dorme com aquele idiota do Cody, mas não comigo?” Micah pergunta, soando machucado. Agora que penso nisso, ele tem a personalidade de alguém que gostaria de foder para acabar com sua dor... Ainda bem que não existem outras garotas aqui. Esse pensamento me atinge no rosto como um elástico, e acabo franzindo a testa tão profundamente que parece que a expressão está gravada no meu rosto. “Eu nunca dormi com Cody.” “Você namorou com ele por dois anos e nunca dormiu com ele?” Micah engasga, como se ele estivesse além de surpreso. 3 Pity-Fuck: é quando uma pessoa escolhe transar com outra pessoa apenas para fazer com que a outra pessoa sinta-se melhor. É como se ela estivesse dando uma foda para esquecer a situação. “Mano, nós já sabíamos disso,” Tobias fala. “Agora cale a boca antes de sermos pegos.” “Se você não estava dormindo com Cody o tempo todo, com quem estava dormindo?” Micah pergunta, e eu reviro os olhos. Está escuro, então ele não pode me ver, mas pelo menos isso me faz sentir melhor. E então ele entende algo, que me faz contorcer e desejar poder sair desse armário e correr como o inferno. Mesmo que Nathan não me assuste, eu não quero que ele ligue para meu pai e o acorde. Por não ter medo de Nathan, tenho dez vezes mais medo de meu pai. Ele vai me mandar para aquele lugar Everly All-Girls Academy. Ou pior. Talvez ele me mande para um internato militar no deserto, em um pesadelo de cidade como Lancaster ou algo assim. Eu tremo. “Você pode olhar e ver se ele ainda está lá fora?” Eu resmungo, tentando distrair o idiota maior dos dois gêmeos McCarthy. Como alguém poderia confundir Tobias com Micah está além de mim. Tobias tem uma natureza muito mais generosa do que seu irmão idiota. “Ela é virgem,” eles dizem em uníssono, olhando um para o outro por cima da minha cabeça, e juro por Deus que meu corpo inteiro esquenta mais cinco graus com um tipo de raiva auto-justificada. Eu retiro. Tobias nem sabe o significado da palavra generosidade. Ele é apenas um... bem, ele é um porco. “Cara de preservativo”, eu rosno, e os dois meninos sorriem tanto que eu posso realmente ver o branco de seus dentes na escuridão. Finalmente, há o som da pesada portaexterna se fechando, seguida pelo barulho dos pés. Isso é algo que me incomoda seriamente em Nathan: ele arrasta os pés. Ele é tão preguiçoso que nem se importa em levanta-los. Me irrita por algum motivo. “Eu posso ser uma cara de preservativo”, diz Micah, enquanto abre a porta e depois se encosta nela para segurá- la ali. O sorriso em seu rosto é muito mais cruel do que eu já vi, como se sua dor o tivesse despojado de todas as suas partes boas e deixado apenas as coisas ruins para trás. “Mas você é virgem, um pequeno floco de neve branco e puro. Não é de admirar que Spencer estivesse tão interessado; ele pode cheirar esse tipo de coisa, você sabe.” “Micah, isso é o suficiente”, Tobias rosna, entrando entre eu e seu irmão. “Eu sei que você está sofrendo; todos nós estamos. Mas não desconte em Charlotte. Você sabe muito bem que Spencer não era um cão de caça de hímen, então não menospreze ele assim.” Micah franze a testa e se afasta, lambendo o lábio inferior suavemente, como se estivesse tentando recuperar uma parte crucial de si mesmo que não consegue segurar. “Eu sei. Eu sinto muito.” Micah faz uma pausa e empurra o cabelo para trás, pegando um balde cheio de panos velhos de dentro do armário e usando-o para manter a porta dos fundos aberta novamente. “Apenas no caso de ele voltar.” Micah se vira e segue pelo corredor, deixando Tobias e eu em pé no escuro. “Ele não está tão sem esperança quanto finge estar”, diz Tobias, mas eu já sei disso. “Vocês vão me provocar sem piedade por ser virgem?” “Provavelmente.” “Punheta de porra”, eu resmungo, e Tobias ri. É um tipo reservado de som, mas agradeço o esforço. “Isso é... um insulto muito bom, na verdade”, ele diz enquanto subimos as escadas. Ele me leva para o quarto que divide com seu irmão, e eu acho minhas mãos suadas de repente quando entro. É a mesma configuração que vi no quarto de Ranger: duas camas, uma lareira elétrica e cômodas na parede no final do pequeno corredor de entrada. Micah já está enrolado em sua cama, então me sento na de Tobias e finjo não ficar olhando lascivamente enquanto ele puxa sua camisa encharcada sobre a cabeça, revelando um corpo longo e magro, esculpido nos lugares certos. Minha boca está com água e eu enrolo minhas mãos na minha jaqueta para mantê-las firmes. Seus mamilos estão duros, provavelmente da água fria da chuva e tudo mais, mas não posso deixar de me concentrar neles e me perguntar como se sentiriam sob minhas mãos. Cody tinha os mamilos mais feios, eu juro por Deus, como se fossem longos e esburacados e tivessem cabelos pretos encaracolados estranhos crescendo neles. Tobias são... legais. Como, que bom. “Você está me olhando?” Tobias pergunta, fingindo choque enquanto coloca os dedos no peito liso. “Desvie os olhos, sua pervertida.” “Ao checá-lo, você está me checando também. Temos o mesmo DNA, você sabe. Mesmos mamilos, porque claramente você gosta desses, mesmos pés, mesmas mãos... mesmo pau.” “Puxa, obrigada por fornecer informações que eu nunca pedi”, eu resmungo, tirando minha jaqueta e jogando-a de lado em uma pilha molhada no chão. “Você foi criada em um celeiro?” Tobias pergunta, pegando-a e pendurando em um gancho perto da porta. Ele acende a lareira e então, para meu desgosto, não se incomoda em me pedir para virar as costas ou fechar os olhos antes que ele tire a calça de moletom e roupas íntimas molhadas, mostrando todos os tipos de coisas que eu não estava pronta para ver. O pau de Tobias está meio duro e a caminho, er, para cima. “Oh meu Deus, seu saquinho de chá, guarde-o!” Jogo um de seus travesseiros naquela direção, mas mantenho meus olhos focados nas chamas dançantes da lareira. Estou tendo uma sensação louca de déjà vu aqui, pensando em Spencer e Ranger e naquela noite no quarto deles. Isso torna o clima sombrio, bem rápido. Tobias coloca uma calça de moletom limpa e senta-se ao meu lado, o colchão curvando-se sob seu peso. Amanhã é domingo, o último dia antes da escola começar de novo. Parece que estamos em uma contagem regressiva, como se Spencer não aparecesse antes, então ele realmente se foi. Ele está realmente morto. “Vocês tem algum videogame aqui?” Eu pergunto, sentindo meus olhos começarem a lacrimejar novamente. Tobias coloca o braço em volta da minha cintura e me puxa para o colo dele, me apertando perto. O calor do seu peito nu penetra em mim, afastando um pouco do frio. É um tipo diferente de frio, porém, como uma névoa gelada que eu sei que voltará assim que ele me deixar ir. Não é o frio de uma noite de tempestade; é o sentimento gelado de uma melancolia inquebrável. “Temos videogames?” Tobias pergunta quando Micah finalmente desiste de tentar ser um idiota distante e se senta, puxando seus fones de ouvido sem fio e colocando-os em um estojo na mesa de cabeceira. Ele nos observa com olhos verdes semicerrados. “O que você acha? Claro que nós temos.” “Vamos jogar um jogo de corrida ou algo assim. Eu preciso de uma distração irracional.” Micah sai da cama e coloca algo na tela plana na parede acima da cômoda. Cada garoto tem sua própria televisão. Tão mimados. Tobias volta a inclinar-se contra a cabeceira da cama, ainda me segurando, enquanto eu jogo contra o irmão dele. Depois de algumas rodadas, percebo que há lágrimas no meu rosto, mas finjo que elas não estão lá. Em vez disso, tento aproveitar meu tempo com os gêmeos, limpando a umidade das minhas bochechas até rir e depois gritar com Micah com raiva do jogo. “Você trapaceou nessa última pista!” Eu grito, jogando o controle na direção dele. Ele se abaixa e sorri, deixando-o cair inofensivamente entre seus travesseiros. “Nós sempre trapaceamos”, dizem os gêmeos em uníssono. “Seus... prepúcios de papel higiênico estúpidos”, eu resmungo, e os dois uivam de tanto rir. É quando a porta se abre e bate contra a parede. Está escuro lá fora e brilhante aqui, dificultando ver quem está lá. A questão é: o assassino está esperando lá... ou Spencer Hargrove voltou dos mortos? O suspense está me matando, e meu coração está batendo tão rápido que me sinto tonta; não consigo me mexer por favor, que seja o Spencer, eu penso, colocando cada grama de energia dentro de mim no universo. Infelizmente, essa cadela nunca me escuta. “Sério, uma porta destrancada?” Ranger rosna quando ele entra com Church atrás dele, os dois encharcados e irritados. “Vocês três têm um desejo de morte?” Há essa onda de decepção e tristeza em mim, mas eu deixo de lado. Pelo menos não é nenhum dos meus inimigos, certo? Mas também... Spencer. Coitado do Spencer. “Ranger e eu andamos até a casa do diretor e até escalamos a treliça, apenas para descobrir que Charlotte estava desaparecida.” Church cruza os braços sobre o peito, seu olhar frio e profissional viajando de Micah para mim, ainda sentada no colo do Tobias. Ele pisca em rápida sucessão, um pequeno pingo de surpresa em um rosto pedregoso. Mesmo sabendo que não tenho nada para me sentir culpada, deslizo do colo de Tobias de qualquer maneira. “Você escalou minha treliça?” Eu pergunto, momentaneamente satisfeita. Eu nunca tive um cara escalando minha treliça antes, piadas de virgens de lado. “Mas espere, por que vocês estavam na minha casa, afinal?” “Para lhe dar isso”, diz Ranger, entrando na sala com Church logo atrás. Ele passa uma caixa com um iPhone novinho em folha antes de lançar aquele olhar intimidador para os gêmeos. “É uma porra de telefone, como vocês dois têm. Verifique suas malditas mensagens.” “Nós...” Micah faz uma pausa, empurrando o controle para o final da cama. “Sim, nós erramos. Desculpe.” Ele coloca o rosto brevemente em suas mãos, e eu tenho que desviar o olhar. Nossa pequenabolha de felicidade acabou de furar, e a agonia em seu rosto é quase demais para eu suportar. “Você comprou um telefone para mim?” Eu pergunto quando Church se senta no final da cama de Micah, me observando atentamente. “Não tínhamos certeza de quanto tempo levaria até o diretor comprar um novo para você”. “Como em, talvez ele não pudesse pagar?” Eu digo enquanto ligo o telefone. Não estou realmente tão familiarizada com as finanças do meu pai, mas, de qualquer forma, sou grata. Ele gasta um braço e uma perna para a reabilitação de mamãe, então quem sabe? Talvez as cordas da bolsa estejam realmente apertadas agora? “Obrigada,” acrescento, antes que os rapazes do Conselho Estudantil possam dizer mais alguma coisa. Seguro o telefone contra o peito por um momento, fechando os olhos com força. “Desculpa ter te assustado,” Tobias diz, e Church assente, como se esse fosse o fim da discussão. “Nós apenas... nenhum de nós conseguiu dormir.” Ele olha para o edredom e pega um fio solto enquanto Ranger encosta o ombro na parede, suspirando profundamente. “Também. Estou tão cansado que sinto que poderia cair, mas...” Ele interrompe porque não há razão para expressar o que estamos sentindo, esse pavor assustador de que segunda-feira trará notícias e dores que nunca podemos lavar. “Eu estava pensando em investigar o sótão e o quarto de Mark, ver se não conseguimos encontrar sinais desse buraco.” “Além disso”, Church começa, fechando os olhos brevemente. “Alguém quebrou todas as lâmpadas no corredor. Está escuro como o pecado lá fora.” Ele os abre de volta e olha para mim. “Elas não estavam assim quando saímos.” “Isso é tão assustador pra caralho”, Micah rosna, esfregando o rosto novamente. “Alguém matou... alguém, e é como se fossemos as únicas pessoas no mundo que sabem ou se importam.” “Quem é responsável por essa bagunça claramente tem alguém na polícia,” Church diz, como se estivesse pensando nisso há algum tempo. “O que me incomoda é que o conselho da escola também não parece tão preocupado.” “O que significaria isso, exatamente?” Eu pergunto, e a maneira como o Church olha para mim me dá calafrios. “Que eles também participam.” Ele faz uma pausa e descruza as pernas. “Pelo menos, alguns deles estão.” “Por que o conselho da escola quer Charlotte e... quem estava lá na floresta morto?” Ranger pergunta, como se ele também estivesse pensando nisso há dias. “Não faz nenhum sentido. Além disso,” ele me dá um olhar de desculpas, como se já estivesse arrependido do que está prestes a dizer, “se eles a quisessem morta, qualquer um deles teria dinheiro suficiente para, você sabe, contratar alguém.” “Você quer dizer, contratar um assassino?” Eu engasgo, porque realmente, é essa realidade em que estamos vivendo? Um assassino?! Para mim, Charlotte Farren Carson? O que eu fiz para justificar ser colocada em uma lista de alvo? “Isso é insano.” “Insano, mas é verdade,” Church diz, levantando-se e passando as mãos na frente do pijama listrado azul e branco, limpando a poeira imaginária. “Vou falar com minha mãe sobre isso.” “Sua mãe...” Ranger começa e suspira. “Conversar com sua mãe tem sérias consequências, Church. Você sabe disso.” “Estou ciente”, responde Church friamente, endurecendo a expressão enquanto olha para Ranger. Ele se levanta então, e todo mundo segue. Esse tipo de carisma é assustador como o inferno. E, no entanto, vou para o corredor e subo um lance de escada com o resto dos caras, observando os gêmeos puxarem a porta do sótão e subirem os degraus. “Se cuidem!” Eu chamo, subindo na ponta dos pés e mordendo o lábio. Eu mal posso lidar com o que aconteceu até agora. Imagine se um dos gêmeos desaparecesse naquele sótão assustador e nunca saísse? “Cara”, diz Tobias, agachando-se e olhando para nós através da porta, o telefone na mão, a lanterna acesa para iluminar a escuridão. “Alguém claramente consertou essa merda.” “Que porra é essa?” Ranger grunhe, passando os dedos pelos cabelos e suspirando. Ele troca um olhar com Church, e o líder destemido assente. Sem pular, Ranger desce as escadas e caminha direto para o quarto de Mark Grandam, batendo com o punho na porta. Surpreendentemente, ele se abre e lá está ele, um sonolento e exausto Mark Grandam, também conhecido como Cara do OB. Ele olha estupidamente para nós, uma mão enrolada na beirada da porta, uma carranca estampada no rosto quase bonito. Tipo, talvez ele fosse gostoso se não tivesse a personalidade de uma punheta de porra. “O que você quer, Woodruff?” Ele diz, e então Ranger está empurrando a porta – com força. Forte o suficiente para bater em Mark e mandá-lo tropeçando de volta. “Saia do meu quarto, seu maldito psicopata.” O drama é demais para eu resistir, então desço as escadas com Church logo atrás de mim, Tobias e Micah atrás dele. “Negócio oficial do Conselho Estudantil”, declara Church quando os gêmeos entram e agarram Mark pelos braços, puxando-o de volta e empurrando-o em sua cama. Church acende a luz e examina a situação com os braços cruzados sobre o peito. O companheiro de quarto de Mark, um atleta irreconhecível, geme e cobre a cabeça com o travesseiro, ignorando o que quer que aconteça. Na Adamson Academy, você não brinca com o Conselho Estudantil. “O que diabos é isso?” Mark rosna quando Ranger pega a cadeira da mesa do colega de quarto e fica em pé, puxando um canivete de sua calça de pijama para cutucar o teto. “E o que o amante de obs está fazendo aqui? Ele não faz parte do Conselho Estudantil, a menos que você tenha demitido aquele bicha do Ross.” Mark faz uma careta para mim, e eu mostro o dedo do meio, empurrando meus óculos pelo nariz. Eu quase esqueci que deveria guardar meu segredo. Ainda bem que provavelmente pareço uma bagunça com o capuz largo da Adamson que eu estava escondendo debaixo da jaqueta, minhas calças de moletom manchadas de tinta desde então. Ajudei tia Elisa a deixar sua sala roxa. Tenho certeza que sou um cara agora, um cara feio, talvez, mas um cara. “Chame Ross de bicha de novo, e eu serei forçado a soltar os gêmeos,” Church diz, sorrindo com um sorriso cruel que me garante que ele não está brincando, nem um pouquinho. “Agora cale a boca e fique quieto. Vai acabar antes que você perceba.” “Isso é ridículo,” Mark resmunga, arrancando os braços das garras dos gêmeos e fazendo uma careta. “Quando Eugene voltar de Cancun amanhã, ele vai acabar com você.” Meus ouvidos se erguem, e sinto esse frio horrível passar por mim. “Você esteve em contato com Eugene?” Eu pergunto, sentindo-me começar a tremer com uma onda de adrenalina. Mark apenas revira os olhos para mim, claramente não pretendendo responder à minha pergunta. Micah o agarra pela camisa e o puxa para frente, para que eles fiquem cara a cara. “Só é preciso um simples sim ou não, idiota”, ele late, e eu posso ver os músculos em seus braços tensos. Micah McCarthy não tem medo de começar uma briga, especialmente se ele sente que está de alguma forma ajudando um amigo fazendo isso. Esses garotos do Conselho Estudantil são mais cruéis do que eu pensava. “Porra, cara, pare. Não, eu não conversei com Eugene. Nós não somos meninas. Não precisamos fofocar por mensagem o dia todo.” Um suspiro de alívio me escapa, e decido, no interesse de acabar logo com isso, que não vou mencionar sua pequena brincadeira misógina. Mark empurra Micah para trás com tanta força que o atleta idiota bate a cabeça contra a parede e solta uma série de maldições coloridas. Church, enquanto isso, apenas observa tudo se desenrolar da parede perto da porta, enquanto Ranger pega o telefone e tira muitas fotos. “Nós terminamos aqui,” Church declara, e os gêmeos se afastam de Mark. Saímos da sala em grupo e eu me encolho quando a porta se fecha com tanta força atrásde nós que pequenos pedaços de gesso caem do teto no corredor. O salão muito, muito escuro. As luzes da sala comunal do andar de baixo estão acesas, mas está escuro como o tom aqui em cima. Olho de volta para o meu quarto no último andar e tremo. Fico feliz por não estar lá sozinha, mesmo que morar com papai seja uma verdadeira forma de inferno. A única vantagem recentemente é que ele não desconecta o Wi-fi à noite. Suponho que seja uma forma de compaixão, vinda dele. “Havia uma emenda óbvia lá,” Ranger murmura enquanto nos leva de volta ao seu quarto. Dele e Spencer. Bem, tecnicamente, acho que é o quarto do Church, mas... Assim que entramos e vejo a cama de Spencer, ainda desarrumada desde o último dia em que ele esteve aqui, meus olhos se enchem de lágrimas. Percebo que estou atraída pelos lençóis cinza carvão e acabo rastejando embaixo deles enquanto ouço os meninos conversando. Os gêmeos percebem e trocam um olhar, parando ao lado de Church enquanto Ranger se senta pesadamente na beira da cama. “Havia um buraco ali, e alguém o consertou. Também fez um ótimo trabalho. É quase invisível.” “Então, quem está atrás de mim é algum tipo de especialista em construção, então?” Eu pergunto, esfregando a ponta do meu nariz. Há uma enxaqueca chegando, eu posso sentir. “Mark é culpado,” dizem os gêmeos em uníssono, olhando um para o outro antes de voltar para a sala. Eles apontam um para o outro. “Nós podemos sentir isso.” “Por que você diz isso?” Church pergunta sem problemas, mas menos como ele discorda deles e mais como ele quer ouvir seus pensamentos independentes antes de se decidir. “O buraco foi do sótão para o quarto dele. E então foi coberto com tanta habilidade. Porque se importar? A menos que você queira remover a ideia de qualquer conexão entre você e os ataques.” Tobias encolhe os ombros e Micah continua por ele. “Eu acho que um dos idiotas usando capuz poderia ser Blaine” - estou assumindo que Blaine é o colega de quarto de Mark até que eu saiba o contrário – “mas vamos lá, Mark é um waffle total, completo com xarope de bordo.” Eu levanto minhas sobrancelhas. Uau. Um insulto digno de Chuck em sua insanidade. Eu vou levar. Parece apropriado de qualquer maneira. “Se ele é um dos meus atacantes, então há pelo menos mais dois,” acrescento, sentindo a exaustão cravar suas unhas em mim e aguentar uma vida preciosa. Eu quero Spencer de volta. Quero o Clube de Culinária e assar bolos e até... até o leve bullying, quero tudo de volta ao que era. “Porque ouvi claramente um grito masculino quando atingi o primeiro cara com spray de pimenta, e um grunhido masculino quando bati no segundo com o pé de cabra.” Eu olho para os quatro rostos me encarando. “Na Everly, um dos meus atacantes era menina.” “Vamos ficar de olho no Mark,” Church diz, fechando o rosto neste vazio escuro. Eu não gostaria de estar do lado ruim dele. Inferno, fiquei um pouco e não foi bonito. Mesmo assim, sua ira foi apenas por causa da minha atitude. Imagine se ele pensasse que eu fosse machucar ou matar seu amigo? Eu não duvidaria que esse cara esfaquearia alguém. “E talvez ele nos leve aos outros dois.” “Ou para Spencer,” Ranger sugere, e a sala fica em silêncio. Estamos todos sentindo tanta falta dele naquele momento. Quando levanto seus lençóis e fecho meus olhos, respirando aquele cheiro de menta e aroma de cedro, sei que não estou saindo deste local, não hoje à noite. “Posso dormir aqui?” Eu pergunto. Ranger nem leva um segundo para responder. “É claro que você pode,” ele sussurra, e então eu me enrolo e choro baixinho quando a luz é apagada, a lareira elétrica acesa e o som suave da porta se fechando pontuando os gêmeos e Church saindo da sala. “Vou tomar alguns comprimidos para dormir. Você quer algum?” Eu balancei minha cabeça; palavras são muito difíceis agora. Lá fora, a tempestade se agita ainda mais. Eu tento o meu melhor para não pensar nisso como um presságio. Não funciona. Apesar do meu nível de fadiga, não parece que vou adormecer por muito, muito tempo. Em vez disso, fico deitada ali com o som da tempestade e o sussurro sombrio dos meus pensamentos como companhia. Ranger adormece primeiro, o som suave de sua respiração um som reconfortante junto com o crepitar da lareira e a chuva forte do lado de fora da janela. Eu fico deitada na cama de Spencer, bebendo seu perfume e segurando seu travesseiro perto do meu rosto, desejando que fosse ele que eu estivesse segurando. Ou seja, se ele me deixasse. Se ele não tivesse desaparecido, como as coisas acabariam? Ele teria sido capaz de me perdoar por mentir? Certamente ele perdoaria o resto do Conselho Estudantil. Quero dizer, eu não sei muito sobre a história deles, mas parece que eles são amigos há um tempo. Finalmente, eu adormeço e deixo meus sonhos me levarem para uma escola que não é essa escola, mas você sabe, ainda é do tipo louco de sonho. Possui grandes colunas e murais brancos que não se parecem com as paredes de pedra e vigas de madeira da Adamson. Spencer está lá, e os gêmeos, todos eles jogando aquele jogo estúpido de corrida no meu quarto. Church e Ranger aparecem mais tarde com filhotes de golden retriever nos braços, e é aí que eu sei que desapareci completamente em la-la-land. Então um dos filhotes dos sonhos acaba mijando em mim, e eu me vejo ensopada; começo a acordar, me sentindo estúpida por estar com tanta raiva de um cachorro dos sonhos. Ao piscar até acordar, percebo que há alguém subindo na cama comigo, alguém que está molhado, assim você sabe, o sonho sobre o filhote mijando. “Whoa”, a pessoa diz enquanto eu empurro a neblina do sono. “O que diabos você está fazendo na minha cama?” Meus olhos se arregalam, e eu me sento, colocando as costas contra a parede enquanto olho em choque o garoto de cabelos prateados que está olhando de volta para mim. Vou te dar uma dica: não é Eugene Mathers. “Que porra é essa?” Eu sussurro, sentindo-me começar a tremer. Sinto que estou olhando para um fantasma aqui, o fantasma de Spencer Hargrove, que por acaso está sentado cautelosamente na beira da cama, olhando para mim como se não tivesse certeza do que pensar da minha presença. Francamente, eu também estou meio assustada com ele. “Por que você está na minha cama, Chuck? Ou devo dizer Charlotte?” Ele parece bravo comigo, mas cansado também. E ele está todo molhado da tempestade. Seus olhos turquesas brilham no brilho amarelo alaranjado da lareira. “Você está vivo?” Eu sussurro de volta, tentando engolir o nó duro na minha garganta. “Por favor, me diga que não estou sonhando. Não aguentaria a decepção.” “Vivo?” Spencer pergunta, olhando para mim como se eu tivesse perdido a cabeça. “Claro que estou vivo. Que tipo de pergunta idiota é...” Não há como me parar. Eu dou um passo à frente e passo meus braços em volta dele, apertando-o o mais forte que posso, enterrando meu rosto na curva de seu pescoço. Lágrimas rolam livremente pelo meu rosto, encharcando-o ainda mais. E caralho, ele cheira tão bem. Tão bom. “O que está acontecendo?” Spencer pergunta, sua voz cansada e grogue. Ele endurece no começo, mas talvez tem algo sobre o jeito que eu estou segurando ele que solta um pouco dessa raiva. Lentamente, tentativamente, ele coloca os braços em volta da minha cintura e me abraça de volta. “O que está acontecendo? O que eu perdi?” “Onde você estava?” Eu sussurro com uma voz rouca. Ranger está fora, mergulhado em pílulas para dormir. Eu provavelmente deveria tentar acordá-lo. Church e os gêmeos também. Mas parece que não consigo largar esse garoto, por mais que eu tente. “Esta semana inteira foi um inferno. Todos pensamos que você estava morto.” “O que? Eu disse a vocês que estava respirando. Meu
Compartilhar