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Educação e tecnologia LUCIANA FERREIRA FURTADO DE MENDONÇA 1ª Edição Brasília/DF - 2019 Autores Luciana Ferreira Furtado de Mendonça Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário Organização do Livro Didático....................................................................................................................................... 4 Introdução ............................................................................................................................................................................. 6 Capítulo 1 O papel da técnica e da tecnologia na história da humanidade ................................................................. 9 Capítulo 2 Educação na Sociedadeda Informação ...............................................................................................................31 Capítulo 3 Mídia Impressa e Educação .....................................................................................................................................52 Capítulo 4 O Uso dos Recursos Audiovisuais na Educação ...............................................................................................72 Capítulo 5 O Uso dos Recursos Digitais na Educação .........................................................................................................92 Capítulo 6 Educação Aberta e a Distância ...........................................................................................................................106 Referências .......................................................................................................................................................................129 4 Organização do Livro Didático Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização do Livro Didático. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. Cuidado Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado. Importante Indicado para ressaltar trechos importantes do texto. Observe a Lei Conjunto de normas que dispõem sobre determinada matéria, ou seja, ela é origem, a fonte primária sobre um determinado assunto. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. 5 ORgAnIzAçãO DO LIvRO DIDátICO Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Posicionamento do autor Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado. 6 Introdução “Os tempos são ‘líquidos’ porque tudo muda tão rapidamente. Nada é feito para durar, para ser ‘sólido’.” (BAUMAN, 2007, p. 23). Saiba mais Figura 1. zygmunt Bauman. Disponível em: <https://3.bp.blogspot.com/-uinbD6FL_kI/W1Xwz3ezO4I/AAAAAAAAe7Y/ X0zY0EvOnh4sQ4Hmhg7nlmgjF8jHXa8AACLcBgAs/s1600/zygmunt%2Bbauman.png> Acesso em 3 de dezembro de 2018. Um pouco sobre Zygmunt Bauman Vivemos num mundo cada vez mais dinâmico, fluido e veloz. As informações estão literalmente em nossas mãos e esta facilidade possibilita novas formas de comunicação e interação com as pessoas ao nosso redor. Redimensionamos a noção de espaço e tempo, atualmente com todo o potencial da internet, podemos exercer diversas atividades e relações em espaços geograficamente distantes, tais como: acessar banco (alguns não possuem mais agências físicas somente atendimento online), estudar via ambientes virtuais de aprendizagem, participar de processos seletivos por meio de videoconferência, entre muitas outras ações (SOARES e PERTANELLA, 2013). Mesmo com o uso acentuado e cotidiano de diversas mídias sociais, especialmente por meio dos smartphones e tablets, 34% dos brasileiros ainda não possuem acesso à web, dos que utilizam a rede, a maioria é homem e reside em grandes centros urbanos de acordo com a última Pesquisa Brasileira de Mídia (BRASIL, 2016). Percebe-se que este perfil ainda não reflete o retrato da maioria da população brasileira, no entanto, nos ajuda a refletir sobre a importância deste tema para a formação de um indivíduo consciente dos seus direitos e deveres. Para Greier (2017), vivenciamos uma profunda transformação da sociedade feita por uma comunidade intergeracional, ou seja, as relações propiciadas pelas tecnologias digitais atuais geram novas oportunidades de trabalho, redes fluidas e novas comunidades de aprendizagem aberta para todas as idades. 7 IntRODUçãO Novas alternativas para educação, aprendizado não tradicionais e ambientes de trabalho ganham impulso à medida em que mais pessoas buscam estilos de vida alternativos (...). As pessoas começam a acreditar que são capazes de mudar a humanidade e de acelerar a mudança. É a descolonização de um pensamento fixo. (GREIER, 2017, p. 29-30). Os avanços possibilitados por uma maior conectividade com pessoas, serviços e produtos, inseriu a nossa comunidade num mundo denominado como globalizado. Singer (2000) explica que o termo “globalização” foi utilizado pela primeira vez no final dos anos 1980, tendo como significado a ideia de unificação dos países, possibilitando a integração das culturas mais diversas, línguas, nos trazendo o conceito de “cidadão do mundo”. Este conceito de cidadania planetária (MORIN, 2002) reconhece laços que ligam todos os habitantes do planeta Terra. (...) a partir de uma consciência que reconhece que, independente da nacionalidade e do contexto em que vivemos, estamos todos em um ‘mesmo barco’, habitando um mesmo planeta que necessariamente precisa ser cuidado, reconhecido, valorizado e amado. (MORAES, 2016, p. 2). Para superarmos os desafios vigentes precisamos compreender como este cenário contemporâneo e suas constantes inovações tecnológicas (originadas na eletrônica, microeletrônica, telecomunicações, nanotecnologia, entre outros) estão presentes ou ausentes nos espaços formais de aprendizagem, como os professores e a sua formação estão integrado estas novas necessidades, entre muitas outras questões que são elencadas neste material de estudo. Figura 2. Questões norteadoras para o estudo da disciplina Educação e tecnologia. Como identificar conteúdos relevantes e idôneos numa imensidão de falas que surgem na web? O que seria uma fonte de informação? fidedigna e como identificá-la? Como estabelecer limites em nosso comportamento para que o uso dos aplicativos favoreça a nossa vida? O que é nomofobia? Existem legislações que indicam regras de uso das mídias e tecnologias (relações trabalhistas, sala de aula, entre outros)? Fonte: Elaboração da Autora (2019).8 IntRODUçãO Lembre-se de que você não está sozinho nesta caminhada. Caso tenha alguma dúvida sobre determinada palavra ou conceito, não se intimide, pesquise em dicionários e busque sempre o suporte acadêmico que a universidade proporciona. Juntos iniciamos esta jornada de novas descobertas, portanto, aproveite para embarcar nesta viagem que possui diferentes trilhas que auxiliarão o seu aprendizado! Bons estudos! Objetivos do Livro Didático » Conhecer o papel da técnica na sociedade e a relação entre os seres humanos e as máquinas. » Compreender a importância do material impresso, dos recursos audiovisuais, dos recursos computacionais e digitais no contexto educacional e suas diferentes possibilidades de uso nas práticas pedagógicas. » Analisar o papel da educação na sociedade da informação e as potencialidades das novas tecnologias da informação e da comunicação no processo educativo neste contexto informacional. » Compreender a educação a distância como uma modalidade de ensino, suas especificidades, definições e influência na sociedade informacional. identificando o perfil de cada uma de suas gerações, bem como as novas competências do professor para uma educação aberta, em rede e híbrida. » Conceituar design educacional e design instrucional, analisando sua importância para o planejamento educativo emancipatório. Figura 3. Percurso de Estudo e Aprendizagem da disciplina Educação e tecnologia. Fonte: Elaboração da Autora (2019). 9 Apresentação O homem e a mulher são seres históricos, ou seja, são os autores dos diversos fatos e experiências que compõem esta grande “colcha de retalhos” que forma a história da nossa humanidade. Por sermos históricos, produzimos a todo instante conhecimento, seja para criar novos artefatos e ideias ou para ressignificá-los, assegurando a nossa sobrevivência (VALENTE, ALMEIDA E KUIN, 2017). Com a Revolução Industrial e o uso constante de diversas máquinas e ferramentas, houve uma grande necessidade de se pesquisar novos produtos e formas de agir na sociedade. Este estímulo ao desenvolvimento científico, muitas vezes com o foco no mercado e geração de lucros, ganhou tanta visibilidade que a Unesco (2017) reconhece a capacidade de produzir conhecimento como um dos critérios para distinguir a riqueza e a pobreza de um povo. No entanto, nos enganamos a pensar que a tecnologia somente se faz presente com a criação de máquinas, aplicativos e todo aquele cenário bem típico nos filmes de ficção científica “forma concreta com que a tecnologia é popularmente conhecida” (KENSKI, 2005, p. 17). Ainda permeia nossas mentes um conceito restritivo de tecnologia como algo sofisticado, dominado por robôs e equipamentos com grau de inteligência superior aos homens e mulheres. Nesta unidade de estudo, Tecnologia e Sociedade, compreenderemos que em todas as eras históricas predominaram diferentes tecnologias. Assim, cada momento da nossa civilização foi composto por determinado avanço científico, alterando comportamentos e estruturas sociais. Na capítulo 1 estudaremos a relação existente entre a técnica e a tecnologia na história da humanidade, destacando a evolução social em cada tempo histórico, enfatizando que as inovações científicas são compostas por recursos “ressignificados”, ou seja, recriamos permanentemente novas tecnologias a partir da apropriação das ferramentas já existentes. 1 CAPÍTULO O PAPEL DA tÉCnICA E DA tECnOLOgIA nA HIStÓRIA DA HUMAnIDADE 10 CAPÍTULO 1 • O PAPEL DA tÉCnICA E DA tECnOLOgIA nA HIStÓRIA DA HUMAnIDADE Objetivos do capítulo » Compreender o papel da “técnica” e da “tecnologia” para a construção da sociedade em que vivemos. » Conceituar “técnica” e “tecnologia”, identificando novas formas de uso e significados de acordo com as necessidades de cada grupo social. » Analisar a evolução histórica da tecnologia e o papel do homem e da mulher em seu desenvolvimento. » Identificar as principais características da relação homem/mulher com as máquinas, destacando o papel de cada parte para o constante aprimoramento social. O papel da técnica e suas relações na história da humanidade Nos debates e criações artísticas estão sempre presentes as previsões sobre o nosso futuro, uma característica em comum é que teremos uma sociedade altamente tecnológica, com a presença constante de robôs e outros equipamentos sofisticados, com cenários bem típicos daqueles apresentados nas histórias de ficção científica. Se pensarmos nos últimos 10 anos, realmente, contamos com a presença de muitas inovações em nosso cotidiano, algumas até inimagináveis pela maioria da população. Estes questionamentos permeiam o nosso estudo, especialmente, neste tópico, e no final, você será capaz de reconhecer que a tecnologia e a técnica estão em todos os lugares, portanto, “todas as eras correspondem ao predomínio de determinado tipo de tecnologia” (KENSKI, 2005, p. 18). Então vamos começar identificando algumas das ferramentas e recursos, considerados técnicas e/ou tecnologias presentes na história da humanidade a partir do infográfico a seguir? Saiba mais No entanto, o que significa para nós uma “sociedade altamente tecnológica”? Será que já não estamos inseridos neste espaço? Ou será que este espaço sempre estará num futuro? Como nossos antepassados sobreviveram e superaram as dificuldades do seu cotidiano (comida, habitação, saúde, lazer, entre outros)? 11 O PAPEL DA tÉCnICA E DA tECnOLOgIA nA HIStÓRIA DA HUMAnIDADE • CAPÍTULO 1 Figura 4. Infográfico que destaca algumas das tecnologias/técnicas presentes ao longo da história da humanidade. Fonte: Elaboração da autora (2019). Há muitos anos, o homem e a mulher iniciaram seu processo de humanização, evidenciando características denominadas racionais para diferenciarmos os nossos comportamentos dos animais. 12 CAPÍTULO 1 • O PAPEL DA tÉCnICA E DA tECnOLOgIA nA HIStÓRIA DA HUMAnIDADE Você conhece a história dos nossos ancestrais que viviam em cavernas num passado um pouco distante da nossa civilização? Consegue imaginar como eles viviam? Como faziam para enfrentar os desafios encontrados num cotidiano bem diferente do que vivenciamos atualmente? Vamos ajudar você a pensar um pouco sobre esse contexto. Saiba mais Conheça um pouco mais da história da nossa civilização assistindo ao vídeo Homem Pré- Histórico: Vivendo entre as feras. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=sCBMPug_fE8> Figura 5. Homem pré- histórico: vivendo entre as feras. Sinopse: Prepare-se para uma viagem na era da pré-história. Entre 12 e 40 mil anos atrás, o homem moderno já havia se estabelecido em todos os continentes, com exceção da Antártica. Ele convivia com tigres dentes-de-sabre, mamutes e ursos gigantes. Aqui, foram usados os mais modernos recursos tecnológicos e científicos para que se vejam nossos ancestrais vivendo entre as feras e lutando pela sobrevivência da forma mais realista possível. Pedras, ossos, galhos e troncos de árvores foram transformados em ferramentas pelos nossos ancestrais pré-históricos. Com esses materiais procuram superar suas fragilidades físicas em relação às demais espécies. O homem primitivo contava com duas grandes ferramentas: o cérebro e a mão criadora (CHAUCHARD, 1972 apud KENSKI, 2005, p. 20). Figura 6. Ossos e pedras utilizados como ferramentas e adornos na pré-história. Fonte: Mundo Antiguo Disponível: <http://3.bp.blogspot.com/-bncA2o9u7tE/TsG5CIQ35LI/AAAAAAAAAAs/CQ2yhS4qW-Q/s1600/herramientas2. jpg> Acesso em 15 de abril de 2019. 13 O PAPEL DA tÉCnICA E DA tECnOLOgIA nA HIStÓRIA DA HUMAnIDADE • CAPÍTULO 1 Chuva, frio, neve e grandes animais selvagens desafiavam a sobrevivência dos seres humanos e, somente com o uso da sua inteligência e competência, foi possível a construção de recursos que asseguraram a sobrevivência da nossa espécie. Algumas descobertas mudaram a vida pré-histórica e foram idealizadas, construídas por esta população, tais como: fogo, objetosde pedra para caçar e cortar peles, entre outros. Esta “Era” tão conhecida pelas pinturas rupestres, que veio antes da criação da escrita, é chamada de pré-história e é dividida em idade da pedra, do bronze e do ferro. Na Idade da Pedra, os homens – que eram frágeis fisicamente diante dos outros animais e das manifestações da natureza – conseguiram garantir a sobrevivência da espécie e sua supremacia, pela engenhosidade e astúcia com que dominavam o uso de elementos da natureza. (KENSKI, 2005, p. 15). Usavam as cavidades naturais das rochas, copas de árvores e tendas de galhos como “casas”; criavam tintas com alguns minerais coloridos, sepultavam seus mortos em “dólmenes”, aprenderam como obter o fogo, vestiam-se com peles de animais, caçavam e plantavam sua comida todos os dias, pois não tinham como armazenar os alimentos. Este mundo bem diferente deste em que vivemos hoje existiu e nos deixou muitas contribuições e invenções que hoje podem até parecer simples, mas causaram uma revolução à época. Figura 7. Pintura rupestre realizada na parede de uma caverna. Fonte: Portal guia Escolas Disponível em: <http://www.portalguiaescolas.com.br/acontece-nas-escolas/wp-content/uploads/2015/10/lbv-rupestre. jpg> Acessado em 8 de dezembro de 2018. Saiba mais O Museu do Côa, situado em Portugal no Vale do Côa,e constitui-se como o maior conjunto mundial de arte paleolítica ao ar livre, Patrimônio Mundial pela Unesco. Saiba mais Aproveite para navegar pelo Museu Virtual “Arte na Pré – História” e conheça um pouco mais : <http://museusesi.blogspot. com/p/arquitetura-do-egito.html> 14 CAPÍTULO 1 • O PAPEL DA tÉCnICA E DA tECnOLOgIA nA HIStÓRIA DA HUMAnIDADE A “invenção da roda” possibilitou a superação da locomoção e movimentação de cargas que estavam além da capacidade humana. O indivíduo era nômade, e esta nova “tecnologia” permitiu novas práticas e atividades que alteraram a rotina das comunidades desse período histórico e, também, daqueles que vieram depois. Figura 8. Linha do tempo que apresenta a evolução da roda de pedra à roda automotiva. Fonte: Burica Pneus Disponível em: <http://www.buricapneus.com.br/files/noticias/9/b08ec850176fa37a8c82577d4b9c863f.jpeg> Acessado em 10 de dezembro 2018. Ao longo da história do nosso planeta podemos afirmar que o homem e a mulher modificaram tanto a natureza quanto construíram diversas ferramentas para superar as dificuldades que vivenciam em suas relações. Assim, podemos afirmar que “as tecnologias são tão antigas quanto a espécie humana” (KENSKI, 2005, p. 15), em cada época temos uma tecnologia. Você saberia dizer o porquê? Registre a seguir seus comentários sobre a afirmativa da autora Kenski (2005): O processo cotidiano e crescente de inovações somente é possível porque utilizamos o raciocínio, o nosso conhecimento materializado, ou seja, quando o colocamos em prática, origina diversos “equipamentos, instrumentos, produtos, processos, ferramentas, enfim, a tecnologias” (KENSKI, 2005, p. 15). E isso acontece a todo o instante e tempos históricos, não sendo uma marca apenas de um século, pois faz parte do nosso dia a dia. Então podemos afirmar que estamos rodeados de tecnologias? Como você definiria tecnologia? Leia os conceitos de “tecnologia” a seguir: 15 O PAPEL DA tÉCnICA E DA tECnOLOgIA nA HIStÓRIA DA HUMAnIDADE • CAPÍTULO 1 Conjunto de processos, métodos, técnicas e ferramentas relativos à arte, indústria, educação, etc. (Dicionário Michaelis, 2016) As palavras técnica e tecnologia têm origem comum na palavra grega techné, que consistia muito mais em se alterar o mundo de forma prática do que compreendê-lo. Inicialmente, era um processo em que a contemplação científica praticamente não exercia influências (KNELLER, 1978 ) A palavra tecnologia provém de uma junção do termo tecno, do grego techné, que é saber fazer, e logia, do grego logus, razão. Portanto, tecnologia significa a razão do saber fazer (RODRIgUES, 2001). Kenski (2008) conceitua tecnologia de duas formas distintas: por meio da relação existente com técnicas e equipamentos, e por meio das novas tecnologias, levando em conta o conceito de inovação. Fonte: Elaboração da Autora (2019). E aí percebemos que o que nomeamos de tecnologia nos rodeia, a todo o momento, e nem paramos para pensar como são usuais, naturais, ao nosso dia a dia. Vejamos alguns exemplos: Figura 9. Exemplos de tecnologias utilizadas em nosso cotidiano. Fonte: Elaboração da autora (2019). A definição de tecnologia costuma nos apresentar conceituações diferentes, pois está estreitamente relacionada com a história da técnica, do trabalho e da produção do homem e da mulher, estabelecendo relações que alteram o seu contexto e trazendo novos significados para as suas ações, “empregando uma técnica até então inexistente” (VERASZTO et al. 2008, p. 65). A tecnologia existia muito antes dos conhecimentos científicos, muito antes que homens, embasados em teorias pudessem começar o processo de transformação e controle da natureza. Além de ser mais antiga que a ciência, a tecnologia não auxiliada pela ciência, foi capaz de inúmeras vezes, criar estruturas e instrumentos complexos. 16 CAPÍTULO 1 • O PAPEL DA tÉCnICA E DA tECnOLOgIA nA HIStÓRIA DA HUMAnIDADE Assim, cada indivíduo possui uma maneira de utilizar os objetos, as tecnologias e “(...) aos jeitos ou às habilidades especiais de lidar com cada tipo de tecnologia, para executar ou fazer algo, nós chamamos de técnicas” (KENSKI, 2005, p. 18). E, desta forma, cada geração, cada grupo social, apresentará os seus costumes e hábitos de fazer a sua comida, de estudar, desde comunicar com seus pares, vivenciando uma imensa diversidade de usos. Figura 10. Modo de se alimentar na Índia. Fonte: Mega Curioso Disponível em: <https://img.ibxk.com.br/2014/3/materias/75105885812125123.jpg?w=1040> Acessado em 15 de abril de 2019. Figura 11. vestuário típico das mulheres muçulmanas. Fonte: Dhresource Disponível em: <https://www.dhresource.com/0x0s/f2-albu-g4-M01-29-C9-rBvaEvewOn6AvMxfAAMlying1_E196.jpg/ mulheres-turcas-roupas-mulheres-mu-ulmanas.jpg> Acessado em 10 de dezembro de 2018. As técnicas propiciam ao homem e à mulher usos bem diferentes das ferramentas e recursos disponíveis, como vimos nas imagens acima. Vestuário e alimentação são diferenciados em cada comunidade. Sendo assim, Veraszto et al. (2008, p. 64) afirmam que o grande diferencial do ser humano para os animais: (...) é que o primeiro descobriu que não tem somente o seu corpo como instrumento; muito pelo contrário, o homem aprende que é capaz de criar 17 O PAPEL DA tÉCnICA E DA tECnOLOgIA nA HIStÓRIA DA HUMAnIDADE • CAPÍTULO 1 extensões inéditas para que seus membros possam agir no meio de maneira cada vez mais eficiente. Após esta leitura, você ainda tem a mesma definição de “tecnologia” quando iniciou este estudo? Vamos reler o conceito de tecnologia e técnica: Tecnologia – podemos identificar como um corpo sólido de conhecimentos concebidos a partir das necessidades sociais que alteram os valores e costumes, agregando-se à cultura de determinada comunidade. É considerada uma produção basicamente humana que envolve a capacidade de se criar utensílios, ferramentas, recursos, aparelhos e tecnologias simbólicas ou tecnologias da inteligência (LEVY, 1993), tais como a escrita, a linguagem e sistemas de representação e de pensamento. Técnica – podemos compreender como o conjunto de métodos, processos ou regras que são aplicados em determinada atividade/ação humana, sendo uma habilidade para desempenhar/ realizar determinada função (KUSSLER, 2015). Vamos a exemplos bem interessantes que facilitam a compreensão da nossa distinção diante dos conceitos acima: Figura 12. você sabe utilizar o micro-ondas para descongelar ou cozinhar determinado alimento? Sabe programar um relógio digital, pode ser do seu próprio celular, para despertar em determinado dia e horário? Consegue utilizar um software deedição de planilhas para construir cenários financeiros? Já andou de skate e realizou diversas manobras radicais? Nós não fomos os inventores dos múltiplos objetos apontados, não criamos o aparelho doméstico micro-ondas e nem o skate. Mas podemos utilizá- los e aperfeiçoar o seu manuseio em nosso cotidiano, não é mesmo?! Então consideramos o “objeto relógio” uma tecnologia e a ação de programá-lo de diversas formas para o nosso melhor uso podemos nomear como uma técnica. Atenção Caso a sua resposta tenha sido positiva, prossiga a leitura. Se ainda não compreendeu a finalidade do estudo até aqui realizado, reinicie a leitura com calma e solicite suporte acadêmico a sua comunidade de aprendizagem formada por seus professores, tutores, estudantes e coordenadores. 18 CAPÍTULO 1 • O PAPEL DA tÉCnICA E DA tECnOLOgIA nA HIStÓRIA DA HUMAnIDADE Conseguiu identificar que a tecnologia originou-se a partir do momento em que o homem e a mulher pré-históricos realizaram a primeira modificação na natureza com o objetivo de aprimorar o seu modo de viver e da sua comunidade? Histórico das inovações tecnológicas no campo da informação e da comunicação O uso de inovações tecnológicas, que se aprimoram com o passar do tempo, possibilita aos homens a ampliação da sua dominação, dos seus poderes políticos e econômicos (KENSKI, 2005). A busca pela soberania política e/ou econômica tem sido o principal objetivo e investimento dos países e instituições que utilizam boa parte do seu orçamento em inovação tecnológica, em novos produtos que possam assegurar a manutenção do seu poder sobre os outros que adquirem, como consumidores, diversas ferramentas que alcançam nossos lares. Muitas foram as inovações elencadas ao longo da nossa leitura, mas algumas delas se destacam por sua relevância para a história da própria tecnologia da informação e da comunicação, você consegue pontuar algumas delas? Vamos relembrá-las numa breve linha do tempo: 1837 - 1839 Johannes Gutenberg, com o desenvolvimento da ptrensa para impressão tipográfica possibilitou a primeira grande revolução com a publicação de livros, folhetos e, depois, jornais. Em 1837, foi patenteado o telégrafo, considerado o maior meio de comunicação a longa distância do século XIX e, logo em seguida, em 1839, o artista e pesquisador francês Louis-Jacques-Mandé Daguerre obteve a primeira fotografia. Saiba mais Figura 13. Johannes Gutenberg. Disponível <https://pbs.twimg.com/profile_images/673316523826544640/54EaTlbt_400x400.jpg> Acesso em 09 de dez. de 2018 19 O PAPEL DA tÉCnICA E DA tECnOLOgIA nA HIStÓRIA DA HUMAnIDADE • CAPÍTULO 1 Johannes Gutenberg (1396-1468) foi um inventor e gráfico alemão, sendo o primeiro a usar a prensa e os tipos móveis de metal que revolucionaram a técnica de impressão. Nasceu em Mogúncia, Alemanha, no ano de 1396. Poucos anos após seu nascimento sua família mudou-se para Estrasburgo, onde Gutemberg viveu por mais de vinte anos. Em 1434 já era conhecido como um homem de grande habilidade mecânica, proprietário de uma oficina onde ensinava vários ofícios, entre eles o de talhador de pedra, cortador e polidor de espelhos, ourives etc. Quando Gutemberg nasceu, a impressão de imagens era feita através de carimbos e blocos de madeira que mal permitia produzir textos. Sabe-se, que essa técnica foi usada pelo holandês Laurens Janszoon Closter e, que era antiga no Extremo Oriente. Saiba mais em e-biografia: <https://www.ebiografia.com/johannes_gutenberg/> Figura 14. Primeira fotografia registrada por Daguerre de uma rua em Paris. Fonte: <https://oglobo.globo.com/sociedade/historia/conheca-primeira-fotografia-onde-aparece-um-ser- humano-14468103> 1876 Alexander Graham Bell pesquisou, durante anos, a transmissão de sons por meio da eletricidade e, em 1876, patenteou o telefone. Mas foi Thomas Alva Edison que aprimorou esta última invenção, desenvolveu a produção e distribuição de energia, e patenteou mais de 8 mil inventos (fonógrafo, lâmpada elétrica, gramofone, cinetoscópio, entre tantos outros); Saiba mais Disponível em: <http://www.vantagebroadband.com.au/assets/images/AlexanderGrahamBell.jpg> Acesso em 08 dez. 2018 Alexander Graham Bell nasceu em Edimburgo, na Escócia. Sua família tinha tradição na correção da fala e no treinamento de portadores de deficiência autditiva. Saiba mais sobre Alexander Grahma Bell em: <https://educacao.uol.com.br/biografias/alexander-graham-bell.htm>. 20 CAPÍTULO 1 • O PAPEL DA tÉCnICA E DA tECnOLOgIA nA HIStÓRIA DA HUMAnIDADE 1881 - 1891 O engenheiro eletrônico e físico John Ambrose Flemming trabalhou com Thomas Edison e esta parceria rendeu a criação de geradores e luminárias e, juntamente com o cientista Marconi, pesquisaram e construíram diversos recursos que possibilitaram a base técnico-cientifica para o desenvolvimento do rádio, da televisão, bem como dos primeiros computadores. Saiba mais Disponível em: <http://www.histedbr.fe.unicamp.br/navegando/glossario/verb_b_thomas_alva_edison_arquivos/image001. jpg> Nasceu em 11 de fevereiro de 1847, em Milan, localidade do Estado de Ohio, nos Estados Unidos. Autodidata, em 1863, começou a trabalhar como operador de telégrafo da Western Union Telegraph Company. Saiba mais sobre Thomas Edison em: <http://www.dee.ufrj.br/Museu/edison.html> ] Observa-se que nesse curto período de tempo “novas tecnologias” foram apresentadas à sociedade, alterando modos e comportamento do indivíduo e sua comunidade, com desdobramentos até os dias atuais. Continuando com o nosso “passeio histórico”, destaca-se um novo período que possibilitou novas pesquisas e tecnologias a chamada Guerra Fria. Durante quase 50 anos, o mundo ficou dividido em dois grandes blocos de econômicos, de poder, época conhecida como Guerra Fria. Algumas conquistas científicas que aconteceram nessa época são consideradas essenciais para o desenvolvimento tecnológico vivenciado nas últimas décadas. Vamos conhecê-las? Sugestão de estudo Aproveite para conhecer um pouco mais desta história no site abaixo: <https://historiadigital.org/resumos/resumo-guerra- fria/> Dica de Filme: Dr. Fantástico – (1964) – Dirigido por Stanley Kubrick Sinopse do Filme: Um general americano acredita que os soviéticos estão sabotando os reservatórios de água dos Estados Unidos e resolve fazer um ataque anticomunista, bombardeando a União Soviética para se livrar dos “vermelhos”. Com as comunicações interrompidas, ele é o único que possui os códigos para parar as bombas e evitar o que provavelmente seria o início da Terceira Guerra Mundial. Figura 15. Carta do Filme Dr. Fantástico Fonte: Descafeinado Disponível em: <https://2.bp.blogspot.com/-dyVt70EQflA/ WOmWFGidiiI/AAAAAAAAdX8/ivpMaouG9jsPQfC8cTc2X4bcKHbD_ J17QCLcB/s1600/diDa3VLWtRktVrfHwPhIJHBwoBf.jpg> Acesso em 15 de abril de 2019 21 O PAPEL DA tÉCnICA E DA tECnOLOgIA nA HIStÓRIA DA HUMAnIDADE • CAPÍTULO 1 Figura 16. Linha do tempo com inovações demarcatórias para o desenvolvimento tecnológico contemporâneo.. Fonte: Elaboração da autora (2019). Em 1957, os soviéticos lançaram o primeiro satélite artificial do mundo, o Sputnik 1, e, em 1961, Yuri Gagarin tornou-se o primeiro astronauta a realizar um voo de 48 minutos ao redor do planeta. Em 1958, os Estados Unidos da América criaram a NASA, e, em 1969, conseguiram cumprir o desafio lançado anteriormente, e dois astronautas chegaram até a Lua, pisaram o solo lunar e hastearam uma bandeira do país. Sugestão de estudo Documentário – 40 anos do homem na Lua Especial feito no ano em que se comemorava quarenta anos da chegada do homem a Lua. - Até 20 de julho de 1969, a ida do homem à Lua parecia algo impossível. Uma série especial de três programas com depoimentos de astronautas, engenheiros e chefes da missão conta detalhes do momento. A chegada do homem à lua marcou o século XX. Com o tempo, tecnologias desenvolvidas pela NASA chegaram ao alcance de todos. A comunicação via satélite, tão popular atualmente,já salvou vidas. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=QViKhWgGVgE> Acesso em: 11 dezembro de 2018. Então você pode se perguntar: Mas como esta disputa pelo “espaço sideral” pode propiciar tanto desenvolvimento tecnológico? Uma das respostas possíveis foi a grande conquista ocorrida em 1964, considerada um marco para a humanidade, que foi a transmissão para todo o mundo via satélite dos Jogos Olímpicos do Japão. Esta façanha pôde ser conquistada devido aos dois satélites de comunicações lançados anteriormente. 22 CAPÍTULO 1 • O PAPEL DA tÉCnICA E DA tECnOLOgIA nA HIStÓRIA DA HUMAnIDADE Outra utilidade possibilitada pelo investimento em satélites artificiais, com objetivos bélicos e de espionagem, foi o seu uso para a agricultura, meteorologia e sensoriamento remoto. Figura 17. Faça uma pausa na sua leitura e pesquise inovações relevantes para o seu dia a dia que se originaram a partir de estudos e que têm fins bélicos. Anote seus achados no espaço a seguir: Caso não tenha a oportunidade de realizar a pesquisa, não se preocupe, instigamos você a pensar nestas “inovações”, tão corriqueiras atualmente, que foram criadas para fins bélicos: Café solúvel, antibióticos, fitas adesivas, bancos de sangue, micro-ondas, isopor, entre outros. Com o término da Segunda Guerra Mundial, as chamadas Tecnologias da Informação e da Comunicação “tornam-se importantes meios de comunicação de massa” (CURY & CAPOBIANCO, 2011, p. 5). O infográfico a seguir destaca algumas tecnologias da Primeira Guerra Mundial que foram aprimoradas e utilizadas na Segunda Guerra Mundial e atualmente. Aproveite para refletir sobre como tudo é reaproveitado, ressignificado, possibilitando novos usos e utilidades. 23 O PAPEL DA tÉCnICA E DA tECnOLOgIA nA HIStÓRIA DA HUMAnIDADE • CAPÍTULO 1 Saiba mais Figura 18. Infográfico da Inovação movida à destruição. Fonte: <http://f.i.uol.com.br/folha/mundo/images/14180368.png> Acesso em 2 de dezembro de 2018. As relações entre conhecimento, poder e tecnologias permeiam toda a história da civilização e Kenski (2005, p. 17) ainda ressalta: Enciclopédias, dicionários, livros, revistas e jornais, por exemplo, são criados em contextos definidos e apresentam informações da ótica de seus autores e editores, ou seja, a informação veiculada em jornal, revista ou livro não envolve a totalidade de informações sobre determinado assunto nem pode ser considerada totalmente isenta e imparcial. O autor apresenta sua versão do fato. Notadamente, percebemos a orientação da percepção do autor nos inúmeros jornais, revistas e blogs que lemos. E assim a mesma notícia pode ser compreendida sobre diferentes óticas. Com a globalização, essas relações de poder, que envolvem o tratamento da informação de acordo com a finalidade desejada do autor , possibilita o engajamento do leitor e define o acesso à tecnologia como primordial. Kenski (2005) ainda aponta que as Tecnologias da Informação e da Comunicação, consideradas midiáticas, alteram o nosso modo de sentir e agir, especialmente, sobre como aprendemos novos conteúdos. Essa “nova cultura” que surge é bem diferente dos “produtos” em massa que 24 CAPÍTULO 1 • O PAPEL DA tÉCnICA E DA tECnOLOgIA nA HIStÓRIA DA HUMAnIDADE consumíamos, tais como: jornais, rádios e revistas; eles propiciam uma “personalização das interações com a informação e as ações comunicativas” (KENSKI, 2005, p. 24). Atualmente, podemos escolher as nossas músicas na própria rádio, selecionar as notícias e conteúdos que consideramos mais relevantes para lermos (“chegam” até nós após identificarmos a sua importância), digitalizamos documentos com a câmera do celular, entre outras ações. Sugestão de estudo Leia um pouco mais sobre o assunto. Disponível em: <http://www.ihu.unisinos.br/noticias/505494-qdeuscriaassecas-e-ohomemafomeqdizex-chefeanticorrupcao-do-quenia>. Acesso em 4 de dezembro de 2018. Figura 19. John Gitongo. Fonte: One Org Disponível em: <https://www.one.org/us/person/john-githongo/> Acesso em 15 de abril de 2019. John Githongo, notório líder contra corrupção no Quênia, apontou que “o crescimento no acesso a smartphones leva à criação de redes que são mais amplas, profundas e duráveis do que nunca vimos antes”, possibilitando a união de pessoas com as mesmas necessidades, que podem estar geograficamente separadas, mobilizando-as em ações sociais, possibilitando a participação ativa no governo do seu país (DIALOGANDO VIVO, 2017). A popularização das ferramentas que conhecemos e temos acesso em nosso cotidiano só foi possível , de acordo com Cury e Capobianco (2011), devido às 10 invenções demarcatórias para a história da TIC (Tecnologias da informação e comunicação), são elas: transistor, computador, software Windows, Atari, navegador web, ICQ, Google, MP3, Facebook e smartphone. Para refletir Você reconhece algumas destas “inovações” destacadas? Pense como e quando utilizava cada uma, relembre como era essa época, as roupas, as músicas, como se relacionava com as pessoas, como estudava... Após esta parada para reflexão, prossiga com o seu estudo! 25 O PAPEL DA tÉCnICA E DA tECnOLOgIA nA HIStÓRIA DA HUMAnIDADE • CAPÍTULO 1 Caso não tenha recordação ou vivência com estas tecnologias, que já foram consideradas “novas”, leia a linha do tempo a seguir, bem como suas principais contribuições. Figura 20. Infográfico com as 10 inovações que marcaram a história da Tecnologia da Informação e da comunicação. O transistor, considerado o tijolo da tecnologia, possibilitou a evolução dos eletrônicos. Seus desenvolvedores ganharam o prêmio nobel da Física em 1956, possibilitando a segunda geração de computadores da década 1960. O primeiro computador portátil foi criado em 1981. Anteriormente as máquinas eram enormes e chegavam a ocupar uma sala. Considerado fácil de transportar, ainda pesava 12 quilos, era grande para ser utilizado no colo e necessitava estar conectado a uma tomada todo o tempo. Fundado em 1996 por cinco israelenses, o ICQ era o comunicador de mensagem instantânea que fornecia um número para o usuário e permitia que ele se conectasse a outros para a troca de mensagens. Ao contrário do IRC, em que o usuário se conectava a uma sala, sem saber quem estaria por lá, o ICQ permitia, pela primeira vez, enxergar a disponibilidade de determinado usuário. O Facebook foi lançado em 2004 e hoje é considerado a maior rede virtual do mundo. Um celular que possui todas as ferramentas disponíveis num computador pessoal, possibilitando acesso à web, na palma da mão. O sistema operacional Windows, comercializado e vendido pela Microsoft, é o mais utilizado em todo o mundo por ter facilitado a compreensão da interface gráfica e ter inserido o mouse. Assim, os usuários não precisavam saber os comandos específicos para acessar o sistema, apresentando novidades como: barra de menu, barra de rolagem, ícones e caixa de mensagem. Já o videogame Atari, lançado em 1977, fez sucesso no Brasil e iniciou uma comunidade no mundo dos jogos eletrônicos, possibilitando a geração de novos empregos por meio de uma nova cultura de games. Criado oficialmente em 1998, o Google.com tornou-se líder global no mercado de buscas no início dos anos 2000 e persegue a “modesta” missão de organizar todo o conhecimento humano. Sua invenção mudou o modo como são organizadas as informações na internet e tornou possível aos usuários comuns encontrarem o que desejam no gigantesco emaranhado de informações da internet. Esta forma de compressão de dados possibilitou um novo e eficaz formato de se armazenar áudio digital como qualidade, alterando as condições sociais, comerciais e legais da música. Fonte: Elaboração da autora (2019). Assim, podemos perceber que cada período da nossa história é marcado pela existência de uma “nova tecnologia”, alterando as nossas relações com a economia, a política e a divisão social do trabalho e que influenciam diretamente o nosso modo de pensar e agir,expandindo o que compreendemos como “tecnologia”. As novas condições de interação e manipulação destas novas ferramentas, seja a TV digital ou um jogo interativo, por exemplo, nos propicia um relacionamento diferenciado com as “máquinas”, abordando questões éticas que devem ser debatidas como a suposta substituição de homem e mulher por robôs, bem como o uso da inteligência artificial. Sugestão de estudo Sherry Turkle, que pesquisa o tema “Robôs Emocionais”, dissertou sobre o assunto no TED (Transformation, Education and Design) destacando as experiências apresentadas em seu último livro. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=rv0g8TsnA6c&t=630s>. Acesso em 23 de janeiro de 2019. 26 CAPÍTULO 1 • O PAPEL DA tÉCnICA E DA tECnOLOgIA nA HIStÓRIA DA HUMAnIDADE No próximo tópico discutiremos a relação que constituímos, e estamos desenvolvendo, com as máquinas, pois para Turkle (2013), a forma com que lidamos com estes recursos tem modificado significativamente quem somos e como agimos em nossa comunidade. As relações seres humanos e máquinas Desde a revolução industrial, quando as primeiras máquinas foram ocupando espaços tipicamente de trabalhadores que exerciam a “força física”, que as queixas sobre esta substituição, tendo como consequência a perda de funções e empregos aumentaram. A interação entre humanos e robôs a cada dia que passa torna-se mais natural, seja para o atendimento ao solicitar uma refeição, para o agendamento de um exame ou para cuidar de um idoso, os chamados robôs emocionais (TURKLE, 2013). A robótica japonesa já domina o mundo, mas, na área de serviços, ainda é uma novidade o uso de robôs na maioria dos países. Os robôs sociais, ou de serviço, são pensados para cuidar, recepcionar ou dar assistência, com aparência humana e agradável. A empresa Nextage apresentou um busto humanoide com câmeras integradas em seus olhos e braços; ele tem capacidade de operar caixas eletrônicos, e já está presente em mais de cem fábricas japonesas. As máquinas podem pensar? O que é uma máquina? O que é pensamento? A criação de “máquinas para pensar” não é algo novo. Os estudos se iniciaram na década de 1950, sendo um projeto audacioso conhecido como “inteligência artificial”. Allan Turing, pesquisador desta área de estudo, logo percebeu que estas perguntas são complexas e nos levam a múltiplas respostas. Ainda buscando solução para os questionamentos elencados acima, o pesquisador buscou o “Jogo da Imitação”, conhecido como Teste de Turing, e esta experiência foi decisiva para o desenvolvimento da ciência cognitiva e, logo em seguida, da inteligência artificial. Para refletir Os “robôs de serviço” ocupam cada vez mais espaço no Japão. Você sabe o que é um “robô de serviço? Já imaginou ser recebido em um hotel por um robô “humanoide” que se comunica em qualquer língua ou dialeto existente neste planeta? 27 O PAPEL DA tÉCnICA E DA tECnOLOgIA nA HIStÓRIA DA HUMAnIDADE • CAPÍTULO 1 Leia a definição que o Dicionário Michaelis (2016) apresenta sobre “máquina”: 1. Aparelho destinado a produzir, dirigir ou transformar uma forma de energia em outra, ou aproveitar essa mesma energia para a produção de determinado efeito. 2. Qualquer equipamento empregado com um fim específico e cuja ação mecânica é capaz de substituir o trabalho humano. 3. Conjunto de peças que determinam o funcionamento de um mecanismo ou engenho. 4. Qualquer instrumento ou ferramenta que se emprega na indústria para a fabricação de um produto. 5. Aparelho elétrico usado nos afazeres domésticos; instrumento, utensílio. 6. Equipamento mecânico, elétrico, eletrônico ou digital operado pelo ser humano. Para Rodrigues (2018), existem algumas fases evolutivas que nos ajudam a compreender a relação do homem/mulher na evolução dos inúmeros dispositivos para a informação e comunicação. A primeira fase é conhecida como a Lei de Newton ou de botões, iniciada com a Revolução Industrial, é constituída de uma relação mecânica entre o homem/ mulher e a ferramenta, centralizada na ação “apertar botões”, uma resposta digital a um estímulo meramente mecânico. Em nossa literatura temos vários exemplos ilustrativos como a famosa cena de Charles Chaplin no Filme Tempos Modernos, em que a ação repetida de apertar parafusos e, posteriormente, com a máquina ultramoderna que otimizaria o tempo de refeição do trabalhador. Figura 21. Cena do filme Tempos Modernos em que o trabalhador, Charles Chaplin, testa uma nova máquina de comer. Fonte: Portal Raízes Disponível: <https://www.portalraizes.com/content/uploads/2016/11/pl-696x365.jpg?width=1200&enable=upscale> Acesso em 3 de dezembro de 2018. 28 CAPÍTULO 1 • O PAPEL DA tÉCnICA E DA tECnOLOgIA nA HIStÓRIA DA HUMAnIDADE Sugestão de estudo Sinopse do Filme: O filme Tempos Modernos (1936) mostra a vida de operários com a Revolução Industrial, em que houve a passagem da produção artesanal, para a produção em série. Os operários se submetiam a uma forma de produção que não era mais de acordo com suas condições físicas e psicológicas, mas, sim, uma forma de produção que visava maior lucro, independente das condições de seus trabalhadores. Figura 22. Filme Tempos Modernos. Fonte: Portal Raízes Disponível em: <http://4.bp.blogspot. com/_44fPDMi1Gzc/S_huqLltygI/ AAAAAAAAFPY/4V2JcVb6Ocs/ s1600/075Moderntimes.jpg>. Acesso em 3 de dezembro de 2018. A segunda fase, a aproximação do significante/significado ou quando meu dedo virou o mouse, introduziu sentimentos humanos na comunicação mediante o computador (CMC). Nesse momento utilizamos o corpo em substituição aos inúmeros “cliques”, comportamentos mecânicos, para acessarmos o que desejamos. Vamos a alguns exemplos: o uso da biometria, jogos virtuais, consoles de videogames que acessam os jogos por meio de movimentos, câmeras fotográficas, uso da voz para acessar comandos e softwares, entre outros. Figura 23. Imagem de uma menina jogando boliche em um videogame. Fonte: Kinect (2011) Disponível em: <https://i.ytimg.com/vi/Wpp7rcu9ndg/maxresdefault.jpg> Acesso em 15 de abril de 2019. Penso, logo executo, é indicada por Rodrigues (2018) como a terceira fase, ainda em desenvolvimento, que possibilitará a execução de comandos somente pelo nosso desejo, pensamento, envolve pesquisas já existentes nomeadas como Brain Computer Interface. Por meio do campo da “Biônica”, estudos que buscam interpretar ondas elétricas cerebrais para 29 O PAPEL DA tÉCnICA E DA tECnOLOgIA nA HIStÓRIA DA HUMAnIDADE • CAPÍTULO 1 execução de ações, como no caso Ian Burkhart, que, mesmo sendo tetraplégico, movimenta suas pernas por meio de um implante. Figura 24. Imagem de Ian utilizando o sistema neurolife, capaz de restaurar a comunicação entre o cérebro e os músculos. Fonte: Reprodução/Ohio State University Wexner Medical Center/ Batelle (2014). As fases citadas nos ajudam a organizar o nosso pensamento e, principalmente, reconhecer como a sociedade se comporta diante da máquina e seus usos. E os cenários, nomeados como distópicos, foram e são criados pelas mídias estabelecendo uma relação competitiva entre as máquinas e seres humanos, não enfatizando a colaboração necessária para que determinado objetivo seja alcançado. O essencial para a nossa reflexão é que o avanço e a descoberta de “novas tecnologias” são certezas que nos orientam, pois vimos ao longo deste capítulo que estas estão presentes em toda a nossa história. A ampliação do seu uso em nosso cotidiano continuará alterando os nossos comportamentos e relações, evidenciando vantagens e desvantagens. No entanto, o que devemos destacar é a necessidade de uma constante formação crítica do ser humano, ampliando o nosso olhar para além dos saberes estáticos, que nos exigem a memorização, para uma educação reflexiva em que as pessoas possam ser criativas, autoras e inovadoras. » Por meio deste nosso estudo compreendemos que não foi somente a “percepção” do ser humano, ao criar novas tecnologias para o seu uso,que originou o surgimento do que denominamos técnica. » As técnicas são ressignificadas por cada grupo social e, portanto, originam novas apropriações e inovações para a mesma ferramenta e ou objeto. Atenção O conceito de distopia foi popularizado em 1868 por John Stuar Mill, sendo o oposto a utopia. Assim, o que é positivo e bom é considerada algo “utópico” e visões negativas e alarmistas como “distópicas”. Como exemplo, as previsões futurísticas que anunciam o domínio do nosso mundo por robôs, que seremos controlados e guiados por eles. 30 CAPÍTULO 1 • O PAPEL DA tÉCnICA E DA tECnOLOgIA nA HIStÓRIA DA HUMAnIDADE » A tecnologia existia muito antes dos conhecimentos científicos, muito antes que homens, embasados em teorias pudessem começar o processo de transformação e controle da natureza. » Por isto que conhecer a história dos nossos antepassados nos ajuda a entender o nosso mundo de hoje, bem como refletir criticamente sobre o processo criador da humanidade, concebendo a tecnologia como algo em constante e veloz mudança, com novos significados e saberes sendo integrados a todo instante, assegurando seu dinamismo e diversidade. » A história da tecnologia está estreitamente relacionada ao desenvolvimento da humanidade e, nas definições lidas, podemos perceber semelhanças entre as definições de ciência e tecnologia. » As palavras técnica e tecnologia são originadas da palavra grega techné, tendo como significado: fabricar, construir, dar à luz. » O conceito de tecnologia pode ser compreendido como o estudo da técnica, ou seja, o estudo da própria atividade do modificar, do transformar, do agir. » Enumeramos as diferenças entre nós e nossos antepassados, especialmente na questão dos costumes e uso de inúmeros artefatos tecnológicos. » Reconhecemos que a sociedade contemporânea possui como marca o acesso mais generalizado às inúmeras tecnologias eletrônicas de comunicação e informação. » Até pouco tempo considerávamos um luxo e sinal de status socioeconômico um telefone fixo em nossa residência e, atualmente, é difícil um indivíduo não ter o seu próprio telefone celular com acesso à internet e a infinidade de aplicativos que asseguram não somente a comunicação, como a locomoção, registro de fotos e vídeos, entre muitas outras ações. » A velocidade com que a comunicação ocorre e as informações são transmitidas, compartilhadas, impõem um novo ritmo de aprendizado e constante adaptação ao novo. » Se antes tínhamos a sirene da escola, da própria fábrica, anunciando o início e término das atividades escolares e profissionais, com as tecnologias da informação e da comunicação que estão à nossa disposição, o nosso conceito de espaço e tempo foi redimensionado. » Vimos que a relação do ser humano com a máquina, conhecida popularmente, também recebeu influência das múltiplas mídias existentes que nos apresentaram cenários futurísticos fantásticos e com o domínio da máquina. » Compreendemos que cada era histórica e suas tecnologias nos proporcionam vantagens e desvantagens, enfatizando a importância de uma educação voltada para a solução de problemas, criativa e que engaje seus estudantes com as questões que nos rodeiam. 31 Apresentação O saber não nos torna melhores nem mais felizes. Mas a educação pode ajudar a nos tornarmos melhores, se não mais felizes, e nos ensinar a assumir a parte prosaica e viver a parte poética de nossas vidas (MORIN, 2003, p. 10). Escolher a refeição por um aplicativo, levando em consideração critérios como a distância, o tempo de entrega, o preço e as referências de outras pessoas, já é uma realidade. Podemos comprar um livro pela web, recebê-lo em casa ou na loja física da empresa; também podemos fazer compras de roupas e outros produtos via aplicativos disponibilizados pelos shoppings, ou adquirir objetos de outros países e realizar pagamentos com o uso de pulseiras e relógios. Aprendemos a nos expressar por caracteres, com emoticons e a nos relacionar por meio de sala de bate-papos e, atualmente, aplicativos de relacionamento nos aproximam por nossas semelhanças emocionais ou até mesmo geográficas, por meio de um match. Figura 25. Charge sobre o cotidiano da sala de aula contemporânea. Fonte: gazeta do Povo Fonte: <https://www.gazetadopovo.com.br/blogs/wp-content/uploads/sites/19/import/tirinha_tecnologia_sala_de_aula. jpg> Acesso em 16 de abril de 2019. Na sociedade atual, também conhecida com “sociedade da informação”, ter acesso à informação não é suficiente, é necessário competência para transformá-la em conhecimento, sendo a 2 CAPÍTULO EDUCAçãO nA SOCIEDADE DA InFORMAçãO 32 CAPÍTULO 2 • EDUCAçãO nA SOCIEDADE DA InFORMAçãO educação continuada ao longo da vida, um elemento-chave para que possamos acompanhar e inovar diante deste novo contexto que requer posturas e adaptações. Imagem 26. Convergência de conteúdos, computação e comunicações. Fonte: takahashi (2001). A convergência de conteúdos, computação e comunicações, num período curto, disseminou por meio da internet a conectividade como um fenômeno singular, que tem possibilitado o desenvolvimento de diversos países do mundo (TAKAHASHI, 2001, p. 3). Subjacente a todas aquelas atividades corriqueiras está uma imensa malha de meios de comunicação que cobre países inteiros, interliga continentes e chega as casas e empresas: são fios de telefone, canais de micro-ondas, linhas de fibra ótica, cabos submarinos transoceânicos, transmissões via satélite. Saco computadores, que processam informações, controlam, coordenam e tornam compatíveis os diversos meios. Aglutinando e dando sentido à estrutura física, estão as pessoas que a operam ou dela se utilizam A complexidade das relações é tão vasta que muitas vezes nem nos damos conta da infraestrutura existente para que possamos atuar e interagir com tantos serviços disponíveis. Estes recursos reunidos formam uma verdadeira “superestrada” de conteúdos nomeada como “infovia” ou “supervia” (LEVY, 2003). Neste novo paradigma da sociedade da informação, a difusão de acesso às redes é uma urgência, universalizando os serviços de informação e comunicação para todos os indivíduos, evitando a exclusão digital e a ampliação das desigualdades sociais existentes. Fomentar a universalização de serviços significa, portanto, conceber soluções e promover ações que envolvam desde a ampliação e melhoria da infraestrutura de acesso até a formação do cidadão, para que este, informado e consciente, possa utilizar os serviços disponíveis na rede. (TAKAHASHI, 2001, p. 31) 33 EDUCAçãO nA SOCIEDADE DA InFORMAçãO • CAPÍTULO 2 Sugestão de estudo Figura 27. Livro verde. Fonte: <https://cache.skoob.com.br/local/images//e_p7BzK1PdjWHetMvz2IK32mbcs=/960x720/center/top/ smart/filters:format(jpeg)/https://skoob.s3.amazonaws.com/livros/255364/SOCIEDADE_DA_INFORMACAO_NO_ BRASIL_1343537753B.jpg> Sociedade da Informação no Brasil: Livro Verde No ano de 2000, o Ministério da Ciência e Tecnologia, de forma colaborativa com diversos agentes sociais, organizou metas para a implementação da sociedade da informação no Brasil. O documento contempla um conjunto de ações que tem como objetivo impulsionar o desenvolvimento do nosso país. Os seguintes aspectos são abordados: ampliação do acesso, meios de conectividade, formação de recursos humanos, incentivo à pesquisa e desenvolvimento, comércio eletrônico, desenvolvimento de novas aplicações. (SocInfo, 2001). Neste capítulo, abordaremos o papel da educação na sociedade da informação, conceituando suas principais características, possibilitando, por meio dos dilemas e vantagens apresentados, que você possa refletir sobre a sua importância no contexto atual. Conhecendo as potencialidades disponíveis pelas Tecnologias da Informação e da Comunicação para o processo educacional, esperamos que sua atuação diante destas novas ferramentas seja de forma crítica, significativa e ética. Objetivos do capítulo » Conhecer o contexto históricoque possibilitou a configuração da sociedade da informação, identificando suas principais características. » Identificar o papel da educação diante do cenário desenhado pela socidade da informação, descrevendo as principais oportunidades e desafios para o desenvolvimento integral do ser humano. » Relacionar as características identificadas como próprias da sociedade da informação às necessidades de aprendizado do indivíduo, de forma que possa exercer o seu papel cidadão com protagonismo e criticidade com o uso de múltiplas linguagens. 34 CAPÍTULO 2 • EDUCAçãO nA SOCIEDADE DA InFORMAçãO Características da Sociedade da Informação Figura 28. Smartphone. Fonte: vexels. Disponível em: <https://images.vexels.com/media/users/3/132187/isolated/lists/8479163c107a3a4e3256b5263e63b321- smartphone-na-mao-dos-desenhos-animados.png> Acesso em 15 de abril de 2019. Existem sete bilhões de números de telefones celulares no mundo e 50% da população adulta do planeta tem um smartphone. O percentual será de 75% em 2020. Consequentemente, a rede é uma realidade generalizada para a vida cotidiana, as empresas, o trabalho, a cultura, a política e os meios de comunicação. Entramos plenamente numa sociedade digital (não o futuro, mas o presente) e teremos que reexaminar tudo o que sabíamos sobre a sociedade industrial, porque estamos em outro contexto. (CASTELLS, 2015, p. 2). Aos poucos podemos confirmar que estamos vivendo, em larga escala e com toda velocidade, uma nova era de inovações tecnológicas, denominada por Schwab (2016) como a 4ª Revolução Industrial. As transformações surgem das áreas da Engenharia Genética e Neurotecnologias, ampliando o impacto à segurança geopolítica e a tudo aquilo que consideramos ético, tendo repercussão em como nos relacionamos com nossos pares, trabalho, familiares e a sociedade. Para os estudiosos deste tema não é apenas uma mudança que se refere às inovações tecnológicas, e, sim, uma mudança de paradigma, uma transição para novos sistemas e infraestruturas já alicerçadas pela revolução digital. Observe o infográfico a seguir que destaca as principais características das três revoluções anteriores, evidenciadas como processos históricos transformadores. 35 EDUCAçãO nA SOCIEDADE DA InFORMAçãO • CAPÍTULO 2 Figura 29. Infográfico sobre as Quatro Revoluçõs Industriais. Fonte: <http://engenhariae.com.br/wp-content/uploads/2018/04/grafico-revolucao-industrial.jpg> A primeira revolução, com o apoio das máquinas a vapor, alterou o processo produtivo artesanal para mecânico, com estruturas bem hierarquizadas e ações em série a serem cumpridas de forma mecânica pelos trabalhadores. Sugestão de estudo Figura 30. Cartaz do Filme Os miseráveis. A obra literária Os Miseráveis foi escrita pelo autor francês Victor Hugo, publicada em 1862, e retrata a sociedade francesa do século XIX, tendo como panorama a visão da população pobre. A história já foi adaptada para filmes, séries e teatro. Tenha uma nova perspectiva sobre a Revolução Industrial assistindo à última versão cinematográfica deste clássico, adaptado de um musical da Broadway, que retrata as más condições de trabalho, êxodo rural, desigualdade social, pobreza, bem como o empreendedorismo e a importância do trabalho para o ser humano. A segunda Revolução Industrial destaca-se com a descoberta e o aproveitamento de novas fontes de energias (o petróleo, a água, a eletricidade e, até mesmo, o urânio), ampliou a produção 36 CAPÍTULO 2 • EDUCAçãO nA SOCIEDADE DA InFORMAçãO especializada e em massa, surgindo as esteiras rolantes, de forma a dinamizar todo o processo da linha de montagem, este método de racionalização conhecido mundialmente como Fordismo. Saiba mais Figura 31. Henry Ford. O Fordismo refere-se aos sistemas de produção em massa elaborado pelo maquinista e americano Henry Ford, com o objetivo de aumentar a produção, visando à dimuição nos preços e ao crescimento das vendas. Este modelo segue princípios simples de padronização, sendo que cada operário realizava apenas uma ação da etapa de produção, sem a necessidade da especialização do trabalhador para efetivar a atividade. Fonte: <http://leansixsigmadefinition.com/glossary/henry-ford/.> Figura 32. O mundo envolvido e consumindo os mesmos produtos. Fonte: Racionalize Blog <https://racionalizeblog.files.wordpress.com/2017/03/cultura-e-globalizacao.jpg> Acesso em 03 de dezembro de 2019. Após a Segunda Guerra Mundial, com a possibilidade de uso da energia nuclear do átomo, da robótica e o advento da internet, marca-se o despontar da Revolução Informacional, ou seja, a 3ª Revolução Industrial. Os destaques são os avanços tecnológicos e científicos desenvolvidos e aplicados na indústria, agricultura, pecuária, comércio e prestação de serviços. Sendo a globalização compreendida como essencial nas relações sociais entre os diferentes países, transpondo as fronteiras continentais por meio da venda e consumo massificado dos produtos. 37 EDUCAçãO nA SOCIEDADE DA InFORMAçãO • CAPÍTULO 2 Figura 33. Fábrica Inteligente na Alemanha. Fonte: O globo Disponível em: <https://s2.glbimg.com/7cEdl3KjpPtfWx7RvHmUV9DLHf4=/0x0:1920x1080/1008x0/smart/ filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2018/2/A/ wHfiJZQYOqq3zogy2Oow/fiat.jpg> Acesso em 16 de abril de 2019. Já a expressão quarta revolução industrial foi criada pelos alemães em 2011 para identificar as “fábricas inteligentes” que utilizam todos os recursos tecnológicos existentes aliados à conectividade. Apresentam sistemas ciberfísicos, integrando máquinas e processos digitais, capazes de tomar decisões e cooperar com os seres humanos. As fábricas inteligentes poderão se autocontrolar, economizando, ao longo do tempo, bilhões de dólares para a economia mundial, acarretando o fechamento de 5 milhões de postos de trabalhos nos 15 países mais industrializados do mundo, dados apresentados no Fórum Mundial de Davos, realizado em 2016. Saiba mais Barômetro Global de Inovação – É uma pesquisa de opinião realizada anualmente, pela empresa GE, com executivos seniores de 23 países engajados com estratégias disruptivas. A primeira edição foi publicada em 2011, sendo sempre organizada em duas partes: os achados-chave e o resultado de apoio. Schwab (2016) reconhece que esta revolução possui o potencial de aprimorar a qualidade de vida da sociedade, promovendo ganhos para a economia mundial. Muitos líderes de diversos países, 70%, estão entusiasmados e acreditam que estamos vivenciando a “4ª Revolução Industrial”, foi o resultado do Barômetro de Inovação Global (2016), pesquisa realizada com 4.000 líderes de 23 países interessados e financiadores das novas tecnologias. Assim, a palavra-chave da atualidade é “disrupção”? Já leu alguma notícia ou artigo sobre este conceito? Dê uma paradinha nesta leitura, busque o significado e anote, com as suas palavras, o que você compreendeu nesta pesquisa: 38 CAPÍTULO 2 • EDUCAçãO nA SOCIEDADE DA InFORMAçãO Agora, vamos fazer uso somente das expressões-chave da sua pesquisa, formando uma “nuvem de palavras”. Preencha o espaço a seguir com as suas palavras e reflita sobre as questões que envolvem o processo disruptivo: Figura 34. nuvem de Palavras construída no aplicativo tagul. Fonte: Elaboração da autora (2019). Saiba mais Você já construiu uma “Nuvem de Palavras”? A nuvem de palavras, também conhecida como nuvem de etiquetas/Tags, é uma excelente ferramenta de estudo. Possibilita “brincar com os dados”, ou melhor, por meio do destaque e análise das palavras de um texto. Aprimora a apresentação dos seus dados, pois você pode escolher a melhor imagem que se adéqua ao destaque das palavras a partir de três características importantes: método heurístico de análise – cada palavra pode ter ser seu tamanho definido pela sua relevância em determinado corpus do texto, estabelecido pelo autor ou sua repetição no texto, apontando caminhos para se interprertaro texto; possui recurso navegacional que possibilita interação ao passarmos o curso em cada palavra; apresentação ou visualização dos dados – destaque dos dados de forma sintética, resumida. Alguns sites gratuitos que permitem a construção: wordle, wordcounter, tagxedo, tagul, wordclouds, word clouds for kids, entre outros. 39 EDUCAçãO nA SOCIEDADE DA InFORMAçãO • CAPÍTULO 2 Saiba mais E como este conceito, “disrupção”, pode afetar ou influenciar o cotidiano educacional? Vamos refletir a partir de uma história real de um produdo considerado inicialmente disruptivo, e, hoje, seu uso alterou a forma de nos relacionarmos com diversas formas de conteúdo: Figura 35. Logo Yoube. Fonte: <https://www.youtube.com/yts/img/yt_1200-vfl4C3T0K.png> Seu primeiro escritório ficava em cima de uma pizzaria, como não tinham recurso financeiro para colocar paredes na sala, separavam os espaços com cortinas, seu primeiro produto lançado foi alvo de risadas, pois era considerado tosco e mal acabado. Os três estudantes, fundadores, tinham como objetivo criar uma plataforma para armazenamento de vídeos caseiros, o primeiro vídeo possuía apenas 19 segundos com um assunto “eletrizante”, uma rápida visita ao zoológico. Somente dois anos depois que o empreendimento começou a apresentar resultados positivos e logo em seguida já era responsável por 65% do mercado de vídeos on-line e, desde então, alterou nossa forma de nos relacionarmos provocando o surgimento de uma nova cultura, possibilitando o surgimento de novos espaços de trabalho e propaganda como os youtubers, entre outros. Fonte: Youtube Outra experiência, que num primeiro instante foi considerada fracassada foi o lançamento das câmeras digitais portáteis que possuíam um padrão de qualidade bem inferior em relação às cameras antigas, com forte rejeição ao seu uso. Normalmente, as inovações disruptivas chegam à sociedade com qualidade inferior aos produtos já existentes e, aos poucos, ganham espaços. Vamos pensar em mais alguns exemplos? Figura 36. Serviços com projetos disruptivos. Fonte: Elaboração da autora (2019). Disponível em: <https://www.underconsideration.com/brandnew/archives/uber_2018_app_icon_before_after.png> <https://cuponomia-a.akamaihd.net/img/stores/original/netflix.jpg> Os serviços destacados alteraram o nosso relacionamento com os produtos em questão. O Uber sensibilizou uma categoria de trabalhadores, levantando pontuações jurídicas sobre a sua validade e aumentando a concorrência neste setor de transporte particular. Recentemente, lançaram uma 40 CAPÍTULO 2 • EDUCAçãO nA SOCIEDADE DA InFORMAçãO nova opção para baratear o custo, em que você pode dividir o valor do seu trajeto, “corrida”, com desconhecidos, compartilhando, assim, o mesmo veículo, contribuindo com a diminuição de veículos e emissão de gases poluentes no trânsito da cidade. Para refletir Aproveite para pensar em como o “Airbnb” e a “Netflix”, inicialmente, foram considerados disruptivos. Busque outros exemplos e relacione-os com as características que estamos conhecendo da sociedade da informação. Se possível, liste suas vantagens e desvantagens. Então, podemos compreender que disrupção é um processo, pois o produto evolui ao longo do caminho, requerendo um modelo de negócio bem diferenciado, com custo mais acessível e alterando a forma com que nos relacionamos com o produto em questão. Figura 37. Estudante em dúvida Fonte: <https://www.oticalider.com.br/media/wysiwyg/rwd2/blog/duvidas.png> E como ficam os países que não possuem acesso a estas tecnologias “de ponta”? Como eles se relacionam ou se organizarão para acompanhar estas transformações? Qual o papel da escola neste cenário de constantes mudanças que nos solicitam uma postura criativa e empreendedora? E o Brasil possui infraestrutura científica, tecnológica, educacional e financeira para acompanhar esta velocidade de inovações? De acordo com Castells (2018), vivenciamos um novo paradigma tecnológico, que pode ser explicado por meio do termo sociedade informacional, reforçando que foi no final do século passado que o termo sociedade da informação foi difundido, juntamente com o conceito de Globalização, também conhecido como Nova Economia ou Sociedade do Conhecimento. A expressão sociedade da informação foi utilizada pela primeira vez pelo economista Fritz Machlup (1993) em substituição ao complexo conceito de sociedade pós-industrial. Para Machlup (1993), o conhecimento é um recurso econômico e seus estudos vislubraram o surgimento de uma nova economia após a Revolução Industrial, ou seja, com o uso intenso dos recursos tecnológicos na sociedade, o papel do ser humano seria reconfigurado. 41 EDUCAçãO nA SOCIEDADE DA InFORMAçãO • CAPÍTULO 2 Atenção Sociedade da informação é uma expressão comumente usada para designar uma forma de organização social, econômica e cultural, que tem como base, tanto material como simbólica, a informação (MATTOS, 2002, p.12). Uma das características presentes no conceito formado de “sociedade da informação” é a constante transformação das dinâmicas sociais propulsadas pelas Tecnologias da Informação e da Comunicação. As seguintes características são destacadas por Castells (2000): Figura 38. Características da Sociedade da Informação. O efeito das novas tecnologias tem alta penetrabilidade Flexibilidade Predomínio da lógica de redes Crescente convergência de tecnologias A informação é sua matéria prima Fonte: Elaboração da autora (2019). <https://www.shutterstock.com/pt/image/1109859014> Neste “novo paradigma”, o ser humano tem como objetivo desenvolver novas tecnologias para atuar na informação e, a partir destas, criar diferentes cenários para a sociedade, interligando todas as atividades que desempenhamos em nosso cotidiano. De acordo com Delors (2010), surge uma nova sociedade mundial que obriga todos os indivíduos e países, local e global, a repensar o vínculo entre educação e política, economia, sociedade e cultura. Castells (2003) atribui como algo realmente “novo” à Sociedade da Informação a reestruturação nas relações de trabalho, poder e entre as pessoas, propiciando o surgimento de uma nova cultura. Esta nova estrutura decorrente das novas relações se configura em forma de “rede”. 42 CAPÍTULO 2 • EDUCAçãO nA SOCIEDADE DA InFORMAçãO Figura 39. Rede relacional Fonte: Disponível em: <http://eventos.ifg.edu.br/encontropsicologosifs/wp-content/uploads/sites/42/2018/07/cliente- rede1.jpg>. Acesso em 12 de Janeiro de 2019. Uma rede é um conjunto de nós interconectados. A formação de redes é uma prática humana muito antiga, mas as redes ganharam vida nova em nosso tempo transformando-se em redes de informação energizadas pela internet. (CASTELLS, 2003, p. 7). O conceito de “rede” também não é algo novo. A caça e a agricultura também exigiram do ser humano uma cultura em rede, ou seja, as gerações mais novas se apropriavam das informações e conhecimentos adquiridos pelos mais antigos para a melhoria contínua das práticas sociais. Vimos vários exemplos destes aperfeiçoamentos ao longo dos estudos na Unidade 1; sendo assim, as principais vantagens da rede são a flexibilidade e a adaptabilidade inerentes, essenciais para a sobrevivência num contexto em eterna e veloz mutação (CASTELLS, 2002). Sugestão de estudo A Galáxia da Internet: Reflexões sobre a Internet, os negócios e a sociedade (Manuels Castells) Manuel Castels, professor de Sociologia da Universidade de Berkeley – Califórnia, é considerado o principal analista da era da informação e da sociedade em rede, sendo considerado o primeiro e mais importante filósofo do Ciberespaço. No livro indicado, o autor aponta a web como a espinha dorsal da sociedade atual e da nova economia, pontua as contradições criadas e discute as realidades do mundo digital. Figura 40. Manuels Castells. Fonte: <http://sonic.northwestern.edu/ wp-content/uploads/2011/03/Castells. jpg> 43 EDUCAçãO nA SOCIEDADE DA InFORMAçãO • CAPÍTULO2 Hoje em dia conseguimos visualizar, de forma concreta, as redes existentes por meio de estruturas mais explícitas como a própria web e a telefonia móvel, em contraste com fatos históricos passados, em que as organizações utilizavam cadeias de comandos verticalizadas e racionalizadas. Figura 41. Exemplo do pensamento em rede por meio dos aplicativos sociais. Fonte: Whatsrel <http://whatsrel.com.br/post/28/>. Figura 42. Exemplo de rede web. Fonte: Intel <https://www.google.com/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&ved=2ah UKEwiZg4OIvN3gAhVqDrkGHQN-Di8QjRx6BAgBEAU&url=http%3A%2F%2Fwww.ceara.pro.br%2Fintroducao%2FIV- redes%2Fredes02.html&psig=AOvvaw10eMrBklu9mifmFO8IkPvm&ust=1551410281086614> Para Musacchio (2013), a maioria da população mundial já vivencia o cotidiano da sociedade da informação e que o atual desafio é inserir os indivíduos na “sociedade do conhecimento”, tornando-se agente participativo e colaborador nas múltiplas redes sociais, interagindo e produzindo novos saberes, juntamente com a comunidade em que está inserido. 44 CAPÍTULO 2 • EDUCAçãO nA SOCIEDADE DA InFORMAçãO Enfatiza que nosso principal dilema não é apenas encontrar o conteúdo, averiguar a sua validade e fidedignidade, mas construir informações relevantes cognitivamente, elevando intelectualmente os envolvidos. Esta noção de “sociedade do conhecimento” começou a ser discutida na década de 1990 e, nos anos seguintes, logo foi adotada pela Unesco e diversos autores como uma nova alternativa que retrata de forma mais adequada as características que estamos vivenciando. Quadro 1.. Características demarcatórias da sociedade da informação e da sociedade do conhecimento. Sociedade da Informação Sociedade do Conhecimento Acesso democratizado, universalizado e global à informação por meio de recursos eletrônicos. Produção, participação e colaboração por meio das redes sociais Acesso à web a diferentes páginas de informação Autorias compartilhadas Acesso a revistas, clippings, jornais e notícias do mundo inteiro Construção e compartilhamento de novos conteúdos Acesso a bibliotecas virtuais Conectividade Fonte: Musacchio (2013). Posicionamento do autor Vale ressaltar que as diferenças conceituais apresentadas, defendidas por autores diferentes, demonstram a riqueza do estudo e debate, possibilitando a você, estudante, a leitura de concepções que podem aparentar divergências, mas que evidenciam os mesmos dilemas sociais a ser superados pelas sociedade. Saiba mais Caso queira aprofundar o debate, sugerimos a leitura do livro Desafios de palavras: enfoques multiculturais sobre as sociedades da informação. Coordenado por Alain Ambrosi, Valérie Peugeot e Daniel Pimienta, C & F Éditions, 2005. Os dilemas da sociedade da informação Provocação As informações sempre nos cercaram nos mais diferentes espaços. A grande diferença, atualmente, é a acessibilidade por meio das mídias diversas e nos sistemas existentes. Novos dilemas apontam neste novo cenário uma fluidez, ou seja, temos acesso a informações que podem ser transformadas e modificadas em qualquer instante, mas será que somente o acesso é suficiente para o ser humano realizar as inovações sociais que são necessárias a sua emancipação? 45 EDUCAçãO nA SOCIEDADE DA InFORMAçãO • CAPÍTULO 2 A indiferenciação do acesso às informações na internet em relação à identidade, idade e formação nivela todos os usuários e provedores. Não há necessidade de treinamento ou formação específica para acessar e manipular a informação, ao contrário, na internet se dá a ruptura com as fontes estabelecidas do poder intelectual e se abre o acesso e a manipulação da informação, há interação e comunicação direta entre os autores e leitores. Abrem-se espaços também para que todos possam ser atuores e trocar informações e conhecimento com todo o mundo (KENSKI, 2005, p. 51). Diante deste contexto, quais seriam os desafios de uma sociedade que possui abudantemente acesso a informação e aos seus meios de produção? Relacionamos alguns desafios; leia-os com atenção, insira novos comentários originados em seu processo reflexivo, nos espaços em branco: Figura 43. Mural dos desafio. Fonte: Elaborado pela Autora (2019). 46 CAPÍTULO 2 • EDUCAçãO nA SOCIEDADE DA InFORMAçãO Werthein (2000) salienta que os dilemas da sociedade da informação podem ser superados pouco a pouco, e incluem o caráter técnico, econômico, cultural, social, legal, de natureza psicológica e filosófica. Autores mais pessimistas enfatizam os aspectos considerados negativos, tais como: perda de postos de trabalho e qualificação, associados à automação das instituições e ao desemprego; de comunicação interpessoal e coletiva, alteradas e, até mesmo, destruídas pelo uso intensivo das tecnologias da informação e comunicação; de privacidade, em razão da exposição excessiva do cotidiano individual e ideias ; controle da vida pessoal, seja pela comunidade profissional ou familiar, tendo em vista o fácil acesso a dispositivos geolocalizadores e postagens de status em redes sociais. A contínua e acelerada transformação tecnológica ressalta a necessidade de uma sociedade baseada no pilar “aprender a aprender”, que compreende a educação como processo contínuo e para toda a vida. (...) trata-se de investir na criação de competências suficientemente amplas que lhes permitam ter uma atuação efetiva na produção de bens e serviços, tomar decisões fundamentadas no conhecimento, operar com fluência os novos meios e ferramentas em seu trabalho, bem como aplicar criativamente as novas mídias, seja em usos simples e rotineiros, seja em aplicações mais sofisticadas. (TAKAHASHI, 2001, p. 45). Desta forma, as instituições formais de ensino precisam assumir o papel de formadores dos cidadãos para este cenário complexo que se configura nos dias atuais. Por meio de elaboração e implementação de políticas públicas, assegurar um espaço privilegiado à educação, propiciando condições para o seu desenvolvimento, ampliando a sua missão e funções sociais (KENSKI, 2005). A Importância da Educação na Sociedade da Informação Figura 44. O saber na palma das mãos. Fonte: <https://sabernarede.files.wordpress.com/2012/11/bsit-header.png> Uma parte importante da educação tem a ver com informação: sobre o mundo que nos rodeia, sobre os outros e sobre nós mesmos. É certo que informação 47 EDUCAçãO nA SOCIEDADE DA InFORMAçãO • CAPÍTULO 2 e conhecimento não são exatamente a mesma coisa, mas tampouco se deve exagerar tal distinção. Por um lado, o conhecimento sempre implica informação (embora vá alem dela) (...) (TEDESCO, 2004, p. 23-24). Sabemos que ao longo da história da humanidade a informação sempre foi escassa, muitas vezes preservada em sigilo, sendo considerada uma ferramenta de poder, por isso poucos “privilegiados ” tinham acesso. Em contrapartirda, atualmente, convivemos com a facilidade de acessar e adquirir diferentes contéudos. Um exemplo interessante foi o sinalizado pela famosa Biblioteca da Univerisdade de Harvard que levou 275 anos para reunir seu primeiro milhão de livros. Este motivo de orgulho somente foi superado, ao realizar a última contagem, e perceber que somente nos últimos cinco anos conseguiu atingir a aquisição de mais um milhão de livros em versões digitais e impresso. O uso da Biblioteca Digital revolucionou o acesso a múltiplas obras literárias, especialmente as mais recentes e atualizadas, nas universidades, e aponta que encontrar a informação não é mais um dilema. Sendo assim, o papel atual da educação é incluir e conectar todos nesta imensa rede, desenvolvendo suas funções cognitivas superiores, por meio de atividades que possibilitem a solução de problemas, a selecionar, a avaliar e a interpretar o conteúdo, “ (...) evitando, assim, que o ensino fique reduzido ao nível de destrezas elementares” (TEDESCO, 2004, p. 25). Portanto, os espaços formais de ensino compartilham com outros meios o papel de informar. Esta
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