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Aula_1_Multiculturalismo

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MULTICULTURALISMO E EDUCAÇÃO 
INCLUSIVA 
Profa. Radila Fabricia Salles 
Prof. Marcelo dos Santos Matos 
 
2021 
 
 
 
 
AULA 1 
 
 
 
O PROCESSO DE SOCIALIZAÇÃO E ASSIMILAÇÃO DA CULTURA. 
 
Para iniciar nossa disciplina devemos compreender que a cultura não se refere apenas ao 
conhecimento formal que as pessoas adquirem ao longo de suas vidas, mas, também, ao modo 
de vida de um povo – suas crenças religiosas; suas idéias políticas; seus sistemas filosóficos; 
suas teorias científicas; suas atividades econômicas; suas tradições e costumes; seu vestuário e 
culinária; seus papeis sociais e valores 
morais; etc., assim como à rede de 
significados que está por trás dessas 
relações e práticas sociais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A definição de cultura ganha um novo contexto após os escritos de “Culture e Society” do 
teórico dos Estudos Culturais Ingleses Raymond Williams, em 1958. De acordo com Williams há 
uma ligação entre cultura, história e sociedade. Portanto, o multiculturalismo potencializa as 
relações entre esses eixos. 
De acordo com o grupo de Estudos Culturais Ingleses as práticas culturais são objeto de 
estudo a partir de um olhar sobre estas práticas como representações simbólicas e materiais. 
Porém, o âmbito econômico não rege sozinho às determinações sobre a cultura. A questão sobre 
a cultura e, por conseguinte, ao multiculturalismo, a partir de um processo cíclico de transmissão 
e recebimento de influência das relações político-econômicas. Para essa visão se dá o nome de 
“autonomia relativa”. 
Edgar Morin, em 1962, de acordo com Mauro Wolf, foi um dos teóricos que inauguram o 
olhar sobre os Estudos Culturais a partir da definição do objeto de estudo ser a identificação das 
novas formas de cultura da sociedade contemporânea. O multiculturalismo, inserido nesse 
contexto, potencializa a complexidade da análise. Para Morin, a complexidade é uma 
característica do humano. Ao tentar simplificar as coisas cai no erro da superficialidade e 
incompletude. De acordo com o autor francês, a “complexidade do real” é atingida por meio do 
“pensamento multidimensional”. E é a partir desse olhar múltiplo que podemos atingir territórios 
teóricos próximos da complexidade do multiculturalismo que é uma fenômeno da globalização. 
 
SOBRE ÁFRICA E BRASIL 
 
 
Membro da Academia Brasileira de Letras, Alberto da Costa e Silva é diplomata e 
historiador. Foi representante do Brasil na Nigéria por muitos anos e recentemente, numa 
entrevista para a BBC Brasil Costa e Silva fez a seguinte declaração: “Temos que estudar o 
continente africano não como um capítulo à parte, um gueto. A história da África está incorporada 
à história do mundo, porque ela foi parte e é parte da história do mundo. Que a história do negro 
no Brasil não seja isolada, como se o negro tivesse sido um marginal. O negro foi essencial na 
formação do Brasil”. 
Com isso ele mostra que o multiculturalismo é uma questão de reconhecimento também 
sendo que, de acordo com Graça Proença, todas as culturas que buscaram relações recíprocas 
com outras culturas evoluíram suas sociedades, tanto na produção artística como no 
entendimento do mundo. Raymond Williams também corroborava com tal afirmação. 
 
A IDENTIDADE SOCIOCULTURAL DO SER HUMANO (O processo de Socialização) 
 
 
Quando um ser humano nasce, podemos dizer que ele é apenas um corpo biológico 
provido de alguns poucos instintos necessários à sua sobrevivência: chorar ao sentir fome ou 
sede, dor ou frio; sugar o leite materno; realizar necessidades fisiológicas e movimentos motores 
involuntariamente como os de agitar as pernas e os braços em resposta a algum estímulo do 
meio externo, ou virar a cabeça na direção da sonoridade de um barulho, por exemplo. 
Nesta fase inicial de seu ciclo vital, o bebê é extremamente depende da presença de seres 
humanos mais experientes para que tais instintos sejam prontamente atendidos quando de suas 
manifestações. 
Na medida em que vai crescendo e tomando consciência de si e dos outros, o ser humano vai 
interagindo com um mundo que já existia antes dele, e aqueles instintos, tão necessários nos 
primeiros anos de sua vida, vão sendo moldados em função das exigências culturais presentes no 
interior da sociedade em que vive. Aos poucos, vai percebendo que chorar para saciar a fome não 
é mais tão eficiente, porque vai entendendo que existem horários padronizados para a 
alimentação. Percebe também que suas necessidades fisiológicas não podem ser realizadas em 
qualquer lugar, descobrindo, a partir da intervenção de outras pessoas, que existe um lugar 
específico onde tais necessidades podem ser satisfeitas sem constrangimentos. 
Um conjunto variado de outras formas de se comportar lhe vai sendo apresentado, de 
modo a ajustar-se aos padrões culturais predominantes em sua atmosfera social. Dizemos, 
assim, que o ser humano vai ingressando gradualmente num mundo dominado por maneiras de 
pensar, de agir e de sentir anteriores ao seu nascimento, e as quais lhes são transmitidas através 
de um longo processo de aprendizado que o acompanha do nascimento até boa parte de sua 
vida adulta. 
De acordo com este raciocínio, desconstruímos a idéia segundo a qual o comportamento 
humano advém de sua natureza biológica, uma vez que não trazemos em nosso código genético 
– ao contrário dos outros animais – os padrões de comportamento que nos guiarão no percurso de 
nossas vidas em sociedade. 
Não pretendemos, com isso, – como já salientamos na aula anterior – negar a nossa 
estrutura biológica, mas insistir no fato de que os seres humanos constroem suas próprias 
naturezas, ou seja, suas próprias formas de comportamento. 
Embora seja possível dizer que o homem tem uma natureza, é mais 
significativo dizer que o homem constrói sua própria natureza, ou mais 
simplesmente, que o homem se produz a si mesmo. [...] É preciso deixar claro que a 
afirmação segundo a qual o homem se produz a si mesmo de modo algum implica 
uma espécie de visão prometeica do indivíduo solitário. A auto-produção do homem 
é sempre e necessariamente um empreendimento social. Os homens em conjunto 
produzem um ambiente humano [e o repassa às gerações mais jovens], com a 
totalidade de suas formações socioculturais e psicológicas. Peter Berger e Thomas 
Luckmann In: “A construção social da realidade”, Vozes, 1985, p. 72-5. 
Desse modo, dizer que os seres humanos, em conjunto e ao longo da história, produzem 
ambientes humanos e os repassam às gerações seguintes, significa dizer que esse mundo é 
aprendido e interiorizado por meio de inúmeras situações de aprendizagem denominadas de 
socialização1. De acordo com os sociólogos Brigitte Berger e Peter Berger, a socialização é o 
processo pelo qual o indivíduo aprende as regras básicas de seu universo social, assimilando o 
modo de vida de uma determinada sociedade. 
O foco principal de todo e qualquer processo de socialização está na interiorização da 
cultura da sociedade em que nasce e cresce o indivíduo humano. Dito de outro modo: é pela 
socialização que o mundo social – com seus diversos significados, hábitos de vida, regras, 
normas e valores morais, por exemplo – penetra na mente do indivíduo e passa a fazer parte de 
seu mundo interior. Os conteúdos e as formas de socialização não são os mesmos para todas as 
sociedades, uma vez que cada organização social tem uma cultura própria e uma maneira de 
transmiti-la igualmente específica. 
É importante destacar, nesse sentido, que no interior de uma mesma sociedade há 
diferenças nos conteúdos e nas formas de socialização. Quanto a isto, tomemos como exemplo o 
nosso país: indivíduos que nasceram e cresceram na Região Nordeste compartilham um modo 
de vida diferente daqueles que nasceram e cresceram na Região Sul, embora as duas regiões 
façam parte do Brasil. É só observarmos o sotaque que logo identificaremos em qual região foi 
socializado o indivíduo 
 
Isso significaque [os conteúdos e as formas de] socialização varia[m] 
de sociedade para sociedade, ou mesmo de um grupo social para outro 
dentro da mesma sociedade. Pois certos valores, símbolos e significados 
sociais interiorizados por uma criança fazem parte apenas da cultura do 
grupo ao qual ela pertence, ou da sociedade em que ela vive. O costume pelo 
qual as mulheres usam véu para cobrir o rosto em lugares públicos, por 
exemplo, é uma das características de certas sociedades de maioria 
muçulmana do Oriente Médio. Em contraste com ele, saias curtas e decotes 
acentuados fazem parte da indumentária das mulheres nas sociedades 
ocidentais. Pérsio Santos de Oliveira In: “Introdução à Sociologia”, Ática, 
2011, p. 42-3 
 
 
 
1
 O termo socialização também pode ser compreendido como enculturação. Este termo é utilizado como maior frequência nos 
estudos antropológicos. 
O processo de socialização acontece em todos os espaços da sociedade, envolvendo e 
formando os indivíduos como seres socioculturais. Nesse processo, vale destacar a ação de 
alguns agentes de socialização, como a família, a escola, os grupos de amigos, os meios de 
comunicação e a religião, por exemplo. Os agentes de socialização se referem a contextos 
sociais através dos quais a interiorização dos padrões culturais de uma sociedade se realiza, ou 
seja, são espaços privilegiados para a aprendizagem dos modos de ser específicos de grupos 
nos quais se inserem os indivíduos e da sociedade em que vivem. 
O primeiro espaço de socialização é a família, e é nela que aprendemos as primeiras 
regras e valores morais do nosso grupo particular e da nossa sociedade. Na escola, aprendemos 
outras regras, valores e maneiras de comportamento social. A esses aprendizados se somam 
outros, advindos das relações que construímos com os nossos grupos de amigos, da influência 
dos meios de comunicação e da religião. 
Peter Berger e Thomas Luckmann, dois sociólogos já mencionados, diferenciam dois tipos 
de socialização: a primária e a secundária. A socialização primária prepara o indivíduo para 
desenvolver os procedimentos básicos da vida cultural de sua sociedade: regras, normas e 
valores morais comuns à totalidade dos membros de uma mesma organização social. Já a 
socialização secundária diz respeito àqueles aprendizados relacionados ao modo de vida de um 
grupo ou categoria social especificamente. Podemos citar, como exemplo de socialização 
secundária, o aprendizado de uma profissão qualquer, para a qual se faz necessária a 
assimilação das regras, normas e valores que a caracterizam. 
Por fim, é pela socialização que nos tornamos membros de uma determinada sociedade e 
assimilamos sua cultura. É este processo, portanto, que propicia a construção da nossa 
identidade sociocultural, como também nos permite aprender os padrões culturais de outras 
sociedades. 
 
A HUMANIDADE, PRODUTO DE CULTURA. 
 
 
Somos uma espécie humana com sua especialidade própria, a origem da vida foi a mesma 
para todos, porém, ao longo do tempo, cada espécie diversificou e traçou sua história própria. 
“Diferença”; 
A diferença está na Cultura. Somente os humanos fazem CULTURA. 
A cultura traz a idéia da Superioridade. “Somente os Humanos produzem-na; A 
capacidade de raciocínio, a linguagem, construção e uso de ferramentas, postura ereta, 
elasticidade comportamental (modo como os seres humanos comportam-se), é o que fazem dos 
seres humanos singulares e distintos.” 
Entre os animais racionais, não há consenso comum entre. Experiências demonstram a 
capacidade de raciocínio entre animais, outros na área da linguagem. 
A chave para conhecer as origens dos seres humanos está na descoberta da origem da 
cultura. 
 
NA EVOLUÇÃO DA ESPÉCIE HUMANA TEMOS: 
 
 
 HOMO HÁBILIS- homem hábil 
(habilidades, capacidades...) 
 HOMO ERECTUS- homem ereto- os 
responsáveis pelas primeiras evidências de 
fabricação de ferramentas e uso do fogo 
 HOMO SÁPIENS- Humano Moderno, 
homem sábio. 
 
 
 
 
O surgimento do homem se deu através de um processo muito longo no tempo. A postura 
ereta foi determinante. 
Nossa SOBREVIVÊNCIA foi possível pelo desenvolvimento da capacidade de 
SIMBOLIZAÇÃO, a criação de ferramentas, ao uso cada mais aprimorado da linguagem ao 
estabelecimento de regras de solidariedade e de sociabilidade – o que entendemos por cultura. 
O aprimoramento do uso de ferramentas (mãos). Quanto mais sofisticadas as ferramentas, 
maior elaboração mental, e, maior precisão das mãos. 
A postura ereta possibilitou um desenvolvimento da laringe, permitindo a emissão dos 
sons e posterior articulação das palavras. 
Através da fala o (homo erectus) que aprimoramos a fabricação de ferramentas, a 
habilidade manual e a capacidade de nos comunicar. A evolução da linguagem oral permitiu um 
significativo aumento das atividades cooperativas e desenvolvimento de famílias e comunidades, 
trazendo vantagens evolutivas. 
Para Capra “o papel crucial da linguagem na evolução humana não foi a capacidade de 
trocar idéias, mas o aumento da capacidade de cooperar...” 
Para Guertz, “a cultura é produto do humano, mas o humano é também produto da cultura”. 
Ele assegura a sobrevivência dos humanos, à capacidade de articulação e fabricação de 
símbolos. 
 
Questões de Identidade 
Uma das questões principais quando se fala de multiculturalismo é a questão da 
identidade. A relação do “eu” com o mundo, com o outro e com o próprio indivíduo torna-se um 
caminho que passa por várias concepções de identidade. Segundo Stuart Hall essas diferentes 
concepções de identidade são as dos sujeitos do iluminismo, sociológico e pós-moderno. 
A identidade do sujeito do iluminismo tinha como característica o individualismo. O mundo 
girava em torno do “eu” e a identidade era única, do início ao fim da vida. Nesta concepção a 
previsão de formas de pensamento e olhar do mundo se tornam estático e passada de geração 
para geração. 
 
O sujeito do Iluminismo estava 
baseado numa concepção da pessoa 
humana como um indivíduo totalmente 
centrado, unificado, dotado das 
capacidades de razão, de consciência 
e de ação, cujo “centro’ consistia num 
núcleo interior, que emergia pela 
primeira vez quando o sujeito nascia e 
com ele se desenvolvia, ainda que 
permanecendo essencialmente o 
mesmo. (HALL, 2001, p.10) 
 
A identidade do sujeito sociológico se baseia na influência que podemos receber do núcleo 
social de convívio. A identidade é uma só mas pode mudar a partir da mudança do grupo social. 
Neste sentido, a identidade se forma a partir da interação do “eu” com a sociedade a qual estou 
inserido. A relação como os mundos culturais exteriores influenciam a minha identidade que 
mantêm um diálogo contínuo com as diversas identidades que o multiculturalismo proporciona 
contato. Assim, o mundo pessoal e público cria um elo de influências mútuas saindo de um olhar 
individualista do mundo para uma concepção social de identidade do ser no mundo. 
A noção de sujeito sociológico refletia a crescente complexidade do mundo 
moderno e a consciência de que este núcleo interior do sujeito não era 
autônomo e auto-suficiente, mas era formado na relação com “outras 
pessoas importantes para ele”, que mediavam para o sujeito os valores, 
sentidos – a cultura – dos mundos que ele/ela habitava. (HALL, 2001, p.11) 
 
Por fim, a concepção mais contemporânea de identidade é a do sujeito pós-moderno. Nesta 
a abordagem a identidade torna-se o resultado de processos mais complexos sendo inclusive 
inserida numa análise de crise de identidade do sujeito pós-moderno. Isso pelo fato desta 
concepção de identidade ser caracterizada pela existência de multi-identidades e, muitas vezes, 
simultâneas e tendo algumas ainda temporárias. Essa forma fugaz de transformação do ser o 
torna imprevisível. Inaugura uma identidade formada historicamente e não mais biologicamente 
como nas concepções anteriores. 
 
O sujeito previamentevivido com tendo uma identidade unificada e estável, 
está se tornando fragmentado; composto não de uma única, mas de várias 
identidades, algumas vezes contraditórias e não-resolvidas. 
Correspondentemente, as identidades, que compunham as paisagens 
sociais “lá fora” e que asseguravam nossa conformidade subjetiva com as 
“necessidades” objetivas da cultura, estão entrando em colapso, como 
resultado de mudanças estruturais e institucionais. O próprio processo de 
identificação, através do qual nos projetamos em nossas identidades 
culturais, tornou-se mais provisório, variável e problemático. Esse processo 
produz o sujeito pós-moderno, conceptualizado como não tendo uma 
identidade fixa, essencial ou permanente. A identidade torna-se uma 
“celebração móvel”: formada e transformada continuamente em relação às 
formas pelas quais somos representados ou interpretados nos sistemas 
culturais que nos rodeiam. (Ibid. p.12-13) 
 
O sujeito pós-moderno se caracteriza pelo pensamento fragmentado e dentro de uma 
sociedade com as instituições sociais enfraquecidas. Portanto, sua legitimação identitária se dá de 
uma forma multifacetada e temporária caindo no que Hall sublinha como crise de identidade do 
sujeito pós-moderno. Essa concepção se aproxima muito da realidade cultural e da constante 
miscigenação que é a realidade do nosso país. 
 
DIVERSIDADE CULTURAL E PLURALIDADE DE INDIVÍDUOS 
A cultura é constituída pelo conjunto dos saberes, fazeres, regras, normas, proibições, 
estratégias, crenças, idéias, valores, mitos, que se transmite de geração em geração, se reproduz 
em cada indivíduo, controla a existência da sociedade e mantém a complexidade psicológica e 
social 
A cultura mantém a identidade humana naquilo que tem de específico. As culturas 
são aparentemente fechadas em si mesmas para salvaguardar sua identidade singular. Mas, na 
realidade, são também abertas; integram nelas não somente os valores e técnicas, mas também 
idéias, costumes. 
As assimilações de uma cultura a outra são enriquecedoras. 
O ser humano é ao mesmo tempo singular e múltiplo. Dissemos que todo ser humano, tal 
como o ponto de um holograma, trás em si o cosmo. Devemos ver também que todo ser, mesmo 
fechado na mais banal das vidas, constitui ele próprio um cosmo. Trazem em si multiplicidades 
interiores, personalidades virtuais, uma infinidade de personagens quiméricos, uma poliexistência 
no real e no imaginário. 
 
ETNOCENTRISMO E RELATIVISMO CULTURAL 
 
 
1. UM PRECONCEITO RENITENTE 
Etnocentrismo é um preconceito que cada sociedade ou cada cultura produz, ao mesmo 
tempo que procura incutir, em seus membros, normas e valores peculiares. Se sua maneira de 
ser e proceder é a certa, então as outras estão erradas, e as sociedades que as adotam 
constituem “aberrações”. Assim o etnocentrismo julga os outros povos e culturas pelos padrões 
da própria sociedade, que servem para aferir até que ponto são corretos e humanos os costumes 
alheios. 
Desse modo, a identificação de um 
indivíduo com sua sociedade induz à rejeição das 
outras. O idioma estrangeiro parece “enrolado” e 
ridículo; seus alimentos, asquerosos; sua maneira 
de trajar, extravagante ou indecente; seus deuses, 
demônios; seus cultos, abominações; sua moral, 
uma perversão etc. 
É verdade que os povos mais primitivos 
têm uma forte rejeição etnocentrista dos povos 
circunvizinhos. Porém nada se compara com o 
etnocentrismo combinado com o sentimento de 
superioridade que o grupo ou a nação dominante 
dedica aos dominados e oprimidos. Considerá-los sub-humanos, ou seres humanos de segunda 
classe, é pretexto e efeito de uma relação de dominação. 
Decerto, o preconceito etnocentrista nunca é inocente, como certos antropólogos deixam 
entender. É pernicioso, por trazer no seu bojo um elemento da mais alta periculosidade: a negação 
do “Outro” enquanto tal. E nega-o por senti-lo como uma ameaça à sua própria maneira de ser, e 
mesmo ao seu ser. E como a melhor defesa é o ataque, pode partir para a eliminação física do 
Outro. Isso aconteceu, parece, com outras espécies do homo sapiens que nossos antepassados 
enfrentaram na pré-história. Talvez tenha sucedido o mesmo com a população africana a que 
pertenceu “Luzia” - nossa mais recente descoberta arqueológica -, quando levas humanas 
mongólicas invadiram as Américas. Perto de nós, foi a “solução definitiva” que Hitler quis dar ao 
problema judaico e Slobodan Milosevic adotou, em relação aos bósnios e kosovares, com sua 
famigerada “limpeza étnica”. 
Nosso século se destacou por seus etnocídios e massacres. Mas a rejeição do Outro, 
combinada com a dominação, assume também outra forma: não tirar a vida do Outro, mas 
apenas a diferença, ou seja, extirpar-lhe a alteridade que o constitui como Outro, assimilando-o e 
reduzindo-o à imagem e semelhança do Mesmo. Os colonizadores europeus, menos tolerantes 
que os impérios romano e mulçumano, tenderam a homogeneizar as populações que dominavam. 
No mundo ibérico, os judeus foram obrigados a tornar-se “cristãos novos” para salvarem a vida ou 
o patrimônio. 
E ainda há uma forma mais sutil e oportunista de lidar com o Outro: conservar- lhe a 
alteridade, mas, então, fazendo dela pretexto para oprimi-lo. A diferença torna-se título que 
legitima a dominação e exploração, já que demonstra uma degradação da condição humana; por 
isso, merece um estatuto de inferioridade e de discriminação. Por exemplo, maior esforço na 
produção, menor fatia na distribuição, privação do poder decisório; não ter a plenitude dos direitos 
do cidadão; ser considerado como objeto e não como sujeito da história. 
Esse esquema é a matriz básica das diversas formas de opressão ou dominação entre 
sexos, raças, nações. O preconceito etnocentrista, chegado a tal ponto, produz suas ideologias 
que justificam essa “negação do Outro”. Para sua elaboração, não faltam “intelectuais orgânicos” 
que tecem teorias e tratados a serviço da dominação: onde se mistura a pseudociência com uma 
certa grandiloqüência como o apelo a um destino excelso, no verso de Virgílio “Tu regere império 
populos, Romane, memento” ou as tiradas de Kipling sobre “o fardo do homem branco”. São 
ideologias que justificam as práticas de discriminação e as políticas de opressão. 
 
2. IDEOLOGIAS ETNOCENTRISTAS 
 
 
Há toda uma linhagem de ideologias desse tipo, pois diante das mudanças culturais, o 
etnocentrismo tem de recorrer a outras motivações para justificar-se na “consciência social que 
sempre mente a si mesma” (Marx). 
 
a) Na época dos descobrimentos, exaltava-se a supremacia da cristandade e sua missão 
de dilatar “a fé e o império”. Para isso, faziam-se “súbditos del rey” nações e povos livres à custa 
de muito massacre. Os missionários iam com os conquistadores, para extirpar cultos e costumes 
“ímpios e monstruosos”, pois os pagãos estariam sob o poder de Satanás, do qual tinham de ser 
libertados a todo custo, inclusive pela escravidão aos colonizadores. Algumas vozes se 
levantaram contra tal situação, como Bartolomeu de las Casas, mas os poderosos não as 
escutaram. 
b) Depois veio a Época das Luzes, o racionalismo triunfante, o cientismo deslumbrado. O 
que agora desqualifica o Outro não é seu caráter de “incréu” e “gentio”, mas seu atraso em relação 
à civilização ocidental que se autoproclamou a suprema realização do espírito humano. Então a 
motivação colonialista era espargir as Luzes da Cultura e do progresso sobre os continentes 
bárbaros e, em nome disso, a burguesia triunfante européia praticava, nos outros continentes, 
opressão política, pilhagem econômica, destruição maciça das culturas. Massacres memoráveis, 
rebeliões sufocadas em banhos de sangue não conseguiam despertar a indignação das “reservas 
morais” das sociedades que se beneficiavam com a exploração. 
c) Essa ideologia da “Supremacia espiritual do Ocidente” tinha um aliado mais prosaico: o 
racismo, que, embora formulado compretensões científicas, não passava de uma tosca ideologia 
da supremacia da raça branca. As outras raças situavam-se no meio do caminho, entre os 
primatas superiores e o homem europeu, essa sumidade de inteligência e de humanidade. O 
“eurocentrismo” está longe de ser superado: domina até a mentalidade de filósofos e teólogos 
europeus destacados que ainda hoje alinham argumentos para mostrar o que para eles é obvio: 
a superioridade européia 
d) Outra ideologia etnocentrista, que esteve muito em moda como falsa evidência 
pseudocientífica, foi o evolucionismo cultural. Constrói uma escala em que o europeu ou o wasp 
americano ocupam o lugar mais alto, como culminação do processo que percorrem os povos 
inferiores – em etapas ou estágios cujo dinamismo converge para a sociedade e cultura mais 
perfeita. A diversidade de culturas é ilusória; o que sucede é que algumas estão na infância ou 
adolescência da evolução humana – selvagens, bárbaros e civilizados -, sucedem-se como as 
idades do indivíduo. Nada mais natural de que os adultos tutelem populações de cultura infantil e 
que a plena autonomia espere pela maturidade cultural. 
 
AVATARES DO ETNOCENTRISMO 
O etnocentrismo não é somente esse “ovo de serpente” donde eclode tais ideologias e 
políticas; é também um tema que se presta a variações numerosas em vários registros. É 
camaleônico, recorre a camuflagens e mimetismos: apresenta-se sob formas benignas em que 
parece irreconhecível, ao assumir a aparência de seu contrário. Há maneiras de “valorizar”, de 
“promover” que são mais eficazes para descaracterizar o Outro do que um combate franco. Por 
exemplo, a folclorização, a beleza do morto, de que fala Michel de Certeau, o exotismo, o 
romantismo são variantes da mesma atitude; saborear ou “curtir” a diferença que constitui o 
Outro, como uma curiosidade, como “atração turística”, como espetáculo ou “show” surrealista, 
instigante por ser “insólito”, e mesmo, fantástico. A cultura diferente não é tomada a sério, mas 
como uma diversão dos espectadores que a consomem: e quase sempre as imitações da cultura 
popular criam personagens cômicos, o que vale dizer que, no fundo, considera-se a cultura alheia 
hilariante ou ridícula. Isso ocorre desde os fabulosos relatos de viajantes e missionários, passando 
pelo indianismo romântico de Gonçalves Dias, até as butiques de arte indígena da FUNAI, as 
novelas da TV como Aritana e culmina na indústria turística em que o dinheiro suscita 
contrafações da cultura popular “para inglês ver”. É sempre a mesma atitude etnocentrista que 
aprece interessar-se pelo Outro, mas de fato o desrespeita, ao tomá-lo como espetáculo e objeto 
de consumo e não como sujeito cujas práticas sociais são ricas de sentido e encontram seu 
lugar e compreensão no “conjunto 
complexo” que constituem como elemento de uma cultura. O interesse da antropologia pela 
diversidade de povos e culturas nada tem a ver com essa avidez pelo exótico; sua base é o 
relativismo cultural que considera, como sociedades alternativas e culturas tão válidas quanto as 
nossas, esses povos cuja própria existência questiona nossa maneira de ser, quebrando o 
monopólio, que comumente nos atribuímos, da autêntica realização da humanidade no planeta. 
 
RELATIVISMO CULTURAL 
Enquanto o etnocentrismo é um preconceito, e suas derivações doutrinárias (racismo, 
evolucionismo cultural etc.) são ideologias (consciência falsa e falsa ciência), o relativismo cultural 
pertence à esfera da ciência. 
Por um lado, é resultado de muita pesquisa: surgiu depois que a antropologia adotou 
como método a observação participante; quando quis ir além da etnografia descritiva e da 
etnologia histórica e comparativa e tratou de compreender, isto é, de produzir conceitos, construir 
modelos que dessem conta da diversidade das sociedades e culturas. Não foi pura coincidência 
que outras ciências do homem que então se estabeleciam (lingüística, psicanálise, análise 
marxista das formações sociais) tivessem atitude análoga na abordagem dessas “totalidades 
complexas”, cujas articulações, sintaxe, significação tratavam de detectar. Cada época tem suas 
“revoluções científicas”, suas “rupturas epistemológicas”, deslocando a problemática e exigindo 
nova metodologia que corresponda aos objetos novos que a teoria define. 
Por outro lado, o relativismo cultural é teoria: instrumento de análise e meio de produção 
de conhecimentos, que, aplicando-se a outros conhecimentos (etnográficos, históricos, 
etnológicos), produz conhecimentos novos, fazendo avançar a ciência como tarefa humana jamais 
concluída, de tornar inteligível a 
totalidade do real. Podem também 
chamar, se preferem, o relativismo 
cultural de hipótese de trabalho fecunda, 
um pressuposto ou postulado de base. 
Depois de Popper, isso não tem quase 
importância. Nem por isso deixa de ser 
um ponto de partida teórico, donde se 
formula a problemática e o objeto é 
pensável. Essa “teoria geral da 
relatividade das culturas” modificou 
nosso olhar sobre as sociedades, como a 
relatividade de Einstein nos fez ver de modo novo a natureza física. 
A noção de relativismo cultural abrange três significados 
a) Todo e qualquer elemento de uma cultura é relativo aos elementos que compõem 
aquela cultura, só tem sentido em função do conjunto; que sua validade depende do contexto em 
que está inserido, de sua posição em meio de outros níveis e conteúdos da cultura de que faz 
parte. 
b) As culturas são relativas; não há cultura, nem elemento dela, que tenha caráter 
absoluto, que seja, em si e por si, a perfeição. Será certa e boa para a sociedade que a vivencia e 
à medida que nela se realiza e em que a exprime. Não há, pois, um padrão absoluto para julgar “a 
priori” o certo e o errado, o belo e o feio entre as culturas, pois cada uma traz em si mesma seu 
padrão de medida. 
c) As culturas são equivalentes e, portanto, não se pode fazer uma escala em que cada 
cultura receba uma “nota”, de acordo com o critério que defina o que é mais ou menos perfeito. 
Falsa, portanto, a velha concepção em que a diversidade se alinhava desde uma suposta infância 
até a maturidade humana. O relativismo não é só uma suspensão de juízo, devido a não se 
encontrar critério decisivo para classificar as culturas; é mais que isso: afirma positivamente que 
uma cultura é tão válida como outra qualquer, por ser uma experiência diversa que o ser social faz 
de sua humanidade. As culturas são variantes, alternativas, distintos modos como o verbo “ser 
homem” é conjugado na sincronia do espaço e na diacronia da história. Como a forma verbal do 
indicativo não é mais certa ou errada que a do subjuntivo, nem o nominativo mais correto que o 
acusativo: tudo depende da construção da frase. O mesmo ocorre com as culturas e com seus 
elementos. Essa aproximação entre culturas e linguagem não é da ordem da metáfora; seria, 
antes, da ordem da metonímia, pois estão em relação de todo e parte. Não são apenas as palavras 
que são signos, mas, como Mauss tinha genialmente antecipado, é a totalidade dos elementos 
culturais que pertencem à esfera do signo e que deve ser estudada por uma semiótica. Participam 
daquela “arbitrariedade do signo lingüístico” de que falava Saussure. Já os sofistas gregos 
tinham partido da distinção entre Physis (natureza) e Nomos ou Thesis, todo o resto era 
arbitrariamente posto pela criação cultural. Claro que isso não contradiz a evidência de que há 
sociedades técnica e militarmente superiores a outras etc. Mas nada prova que o etnocida seja 
culturalmente superior à população massacrada; ou que Hitler e seus nazistas, por exemplo, 
sejam superiores às vítimas do Holocausto. 
 
CONSEQUÊNCIAS E REPERCUSSÕES DO RELATIVISMO CULTURAL 
 
 
Como se pode prever, suas consequências são diametralmente opostas às do 
etnocentrismo e suas repercussões são múltiplas. Vejamos algumas. 
a) Respeito sincero pela cultura e sociedade dos outrospovos. Não só está longe de tomar 
os costumes alheios como bizarros e grotescos, como faz o etnocentrismo (e a indústria 
turística), mas os considera comportamentos tão dignos como outros quaisquer, e tanto mais 
interessantes e capazes de nos ensinar algo de novo sobre o homem e a sociedade, quanto 
maior sua diferença em relação aos nossos. Como o lingüista encontra tanto mais interessante e 
instrutivo um idioma quanto mais diverso dos conhecidos. 
b) Um cuidado extremo com a objetividade. Cada traço cultural deve ser estudado no 
contexto da cultura a que pertence e não em referência à do observador. Para isso, tenta-se 
imergir na cultura diferente, para captar o sentido que a organiza. Nossa própria terminologia 
deve ser abandonada, por exemplo, nas relações de parentesco e em outros campos. Xamã não 
é o mesmo que feiticeiro, exu não é diabo, tupã não é Deus; totem e tabu não tem tradução. 
c) Recusa de interferir e de modificar costumes e tradições de um povo. Não tem sentido 
ensinar a um povo a “ser gente”: trata-se de aprender com ele – tal como se aprende um novo 
idioma -, o léxico e a sintaxe de sua cultura, descobrir-lhe os valores na beleza dos ritos, nas 
nuanças da língua, na narrativa dos mitos, no discurso dos sábios, no relacionamento entre 
parentes e amigos, ou entre o homem e a natureza, até que se revele por dentro esse conjunto 
peculiar onde tudo faz sentido, onde o ser humano se realiza de maneira diferente, mas não 
menos humana que a nossa. Possivelmente, até de modo mais harmonioso em suas dimensões 
básicas e estruturantes: relação homem/natureza e relação homem/homem. 
 
Outros “efeitos colaterais” ou repercussões podem ser atribuídos ao relativismo 
cultural: 
- O anti-colonialismo. Claro que os movimentos de libertação nacional não possuem como 
causa (ou fator) predominante um conceito da antropologia. Mas esse lhes deu importante 
contribuição, pelo menos à medida que tornou ilegítima, diante da opinião pública, a dominação 
colonial e ajudou a armar a luta ideológica – que dá suporte à luta política – entre os militantes da 
libertação; 
- O problema das minorias étnicas. É um problema análogo ao anterior. Sem dúvida, a 
nova valorização das culturas diferentes deu força ao movimento contra a opressão cultural que 
as maiorias exercem contra povos minoritários dentro de fronteiras nacionais (bascos, curdos, 
armênios etc); 
- Movimentos contra a discriminação. Nisso os negros americanos foram pioneiros na sua 
luta exemplar contra o preconceito racista. Mas qualquer forma de discriminação fica fragilizada à 
medida que se aprende a valorizar, ou pelo menos a respeitar, a multiforme diversidade humana. 
Surgiram também, com força, as subculturas e a contracultura, pois os padrões da sociedade 
ocidental são questionados em comparação com outra organização da vida individual e social, 
atestada por povos e culturas diferentes; 
- A luta pela libertação da mulher. Os estudos feitos sobretudo por antropólogas 
americanas mostraram quanto era preconceituosa e absurda a situação da mulher em nossas 
sociedades e como era urgente sua conquista da plena igualdade e do respeito por sua 
diversidade; 
- Novo rumo das missões. Missionários católicos foram muito influenciados pela 
Antropologia para corrigir o tradicional proselitismo que identificava evangelização com destruição 
radical das culturas diferentes, e adotaram a linha da assim chamada “inculturação”. 
 
EQUIVALÊNCIA NA DIFERENÇA: AS SOCIEDADES SÃO ALTERNATIVAS 
 
 
a) O problema. - Sem dúvida, o conceito de relativismo cultural parece um paradoxo e é 
criticado por muitos pensadores (sobretudo europeus, que não suspeitam que suas falsas 
evidências têm raízes num irredutível etnocentrismo). Devem-se esclarecer, pois, algumas 
dúvidas e acrescentar mais elementos para sua compreensão. 
Se uma sociedade não é superior à outra, como pode dominá-la com tanta facilidade? 
Nega-se que haja progresso na história humana e que esse chegue desigualmente às diversas 
sociedades? É evidente que, em determinado ponto ou aspecto, uma sociedade leva vantagem 
sobre outra, e a própria diferença implica que alguns traços estejam acentuados em umas e 
obliterados em outras. Ninguém pode negar que a civilização industrial tem uma tecnologia 
avançada como jamais existiu e que, entre as diversas sociedades de que se compõe, há grandes 
desníveis tecnológicos. Mas isso não garante que no conjunto – ou seja, como sociedade 
humana – ou na qualidade de vida, entendida como “quantum” de felicidade e bem estar pessoal e 
social que proporciona a seus membros, essa civilização seja superior a outras que existiram na 
história ou que ainda persistem em suas margens. 
b) Uma analogia. – Quanto ao “progresso”, deve-se abandonar a idéia atrasada de que se 
trata de uma marcha em linha reta e implacável, como a “grande cadeia dos seres” do antigo 
evolucionismo. Acontece que, em biologia, a orogêneses foi abandonada, porque os seres vivos 
se “especiaram” em forma de radiações sucessivas, divergindo por caminhos diversos de 
adaptação externa (ao nicho ecológico) e adaptação interna (reformulando órgãos e funções). 
As sociedades também se especiaram, analogamente, em culturas diversas, cada uma 
desenvolveu uma especialização particular, e o resto do “organismo” social foi reordenado em 
função disso: como entre os homínidas, esqueleto e músculos foram reajustados para a posição 
ereta e a marcha bipedal. 
c) As civilizações em que vivemos são um episódio recente na história do homem no 
planeta: da ordem do último 0,5 por cento de sua duração como espécie. Especializaram-se na 
desigualdade entre seus membros, criando uma diferença de potencial que permitiu a 
acumulação de capital e exigiu a constituição de um “Estado” para garantir a ordem fundada na 
desigualdade. Por sua vez, esse acúmulo de capital e de poder possibilitou as maravilhas da 
civilização – palácios, pirâmides, acrópoles, exércitos e naus. Havia recursos disponíveis e 
estruturas organizacionais que os orientassem para fins pré-fixados. Populações cada vez mais 
numerosas foram sendo englobadas num mesmo complexo político-econômico, e a sucessão de 
impérios era também cumulativa pela anexação de povos, territórios e a pilhagem de recursos 
dos vencidos. Vemos, assim, as civilizações baseadas em três pilares: no econômico, a 
acumulação de capital; no social, a divisão em classes (dominada/dominante, senhores e 
escravos); no político, o “Estado” enquanto monopólio da coerção legítima. Podemos considerar 
a civilização uma síndrome sociocultural que constitui uma mutação básica, uma radiação 
adaptativa em direção a um rumo particular que tomou a história humana, o que acarretou muitos 
arranjos e reajustes estruturais – alguns, “desumanos” mas também essas criações de grande 
brilhantismo que vêm à nossa mente quando falamos em “civilizações”. 
Os povos que não tomaram esse rumo continuaram seu caminho de distribuição em lugar 
de acumulação de riquezas; de igualdade e solidariedade em vez de dominação de classe; de 
autodeterminação das unidades familiares em lugar da coerção pelo poder soberano do “Estado” 
que a todos subjuga. Esse tipo de organização social chegou a ser denominado “Sociedade 
contra o Estado” para significar que toda sua estruturação foi agenciada para excluir a dominação 
do poder político e deixar espaço à liberdade individual e familiar. 
Por outro lado, as sociedades chamadas “primitivas” se especializaram na busca da 
harmonia entre o homem e a natureza: num prodígio de adaptação, o esquimó prospera no círculo 
polar ártico, as tribos do deserto africano sobrevivem em desertos onde “civilizados” não 
agüentariam uma semana. É incalculável quanto isso exige de conhecimento minucioso da terra, 
da fauna e da flora, e de sua utilização técnica, alimentar e medicinal. Especializaram-se também 
em relações humanas, sobretudo na organização desistemas complexos de parentesco e aliança, 
unindo indivíduos em famílias, famílias em linhagens, clãs, aldeias e tribos. 
Organização de alta eficiência, que por vezes é objeto de reflexão explícita do grupo, a 
ponto de Lévi-Strauss chamar os aborígenes australianos “fundadores das ciências do homem e 
precursores de modelos matemáticos em antropologia”. 
 
O QUE É DIVERSIDADE CULTURAL? 
Para Anete Abramowicz (2006, p12) “diversidade pode significar variedade, diferença e 
multiplicidade. A diferença é qualidade do que é diferente; o que distingue uma coisa de outra, a 
falta de igualdade ou de semelhança”. Nesse sentido, podemos afirmar que onde há diversidade 
existe diferença. 
Marisa Vorraber Costa (2008) 
afirma que a diferença não é uma 
marca do sujeito, mas sim uma marca 
que o constituem socialmente, e se 
estabeleceu como uma forma de 
exclusão, ser diferente na educação 
ainda significa ser excluído e/ou ser 
subrepresentado nas instâncias sociais. 
Reconhecer que somos 
diferentes para estabelecer a existência 
de uma diversidade cultural no Brasil, 
não é suficiente para combater os estereótipos e os estigmas que ainda marginalizam milhares 
de crianças em nossas escolas e milhares de adultos em nossa sociedade. Maria Vera Candau 
(2005) afima que: 
“Não se deve contrapor igualdade a diferença. De fato, a igualdade não está oposta à 
diferença, e sim à desigualdade, e diferença não se opõem à igualdade, e sim à padronização, à 
produção em série, à uniformidade, a sempre o “mesmo”, à mesmice”. (CANDAU, 2OO5, p. 19). 
Reconhecer a diferença é questionar os conceitos homogêneos, estáveis e permanentes 
que excluem o ou a diferente. As certezas que foram socialmente construídas devem se fragilizar 
e desvanecer. Para tanto, é preciso desconstruir, pluralizar, ressignificar, reinventar identidades e 
subjetividades, saberes, valores, convicções, horizonte de sentidos. Somos obrigados a assumir 
o múltiplo, o plural, o diferente, o híbrido, na sociedade como um todo (CANDAU, 2005). 
Falar sobre diversidade não pode ser só um exercício de perceber os diferentes, de tolerar 
o “outro”. Antes de tolerar, respeitar e admitir a diferença é preciso explicar como essa diferença é 
produzida e quais são jogos de poder estabelecido por ela. Como nos alerta Tomaz Tadeu da Silva 
(2000), a diversidade biológica pode ser um produto da natureza, mas o mesmo não se pode dizer 
sobre a diversidade cultural, pois, de acordo com autor, a diversidade cultural não é um ponto de 
origem, ela é em vez disso um processo conduzido pelas relações de poderes constitutivos da 
sociedade que estabelece “outro” diferente do “eu” e “eu” diferente do “outro” como uma forma de 
exclusão e marginalização. 
Como alerta-nos Marisa Vorraber Costa (2008), identidade e diferença são inseparáveis, 
dependendo uma da outra. Elas são produzidas na trama da linguagem, a identidade e a 
diferença são construídas dentro de um discurso, por isso precisamos compreendê-las como são 
produzidas em locais históricos e institucionais por meio do discurso. 
Foucault argumenta que: 
[...] são os discursos eles mesmos que exercem seu próprio controle; procedimentos que 
funcionam, sobretudo, a título de princípios de classificação, de ordenação, de distribuição, como 
se tratasse desta vez, de submeter outra dimensão do discurso: a do acontecimento e do acaso.” 
( FOUCAULT, 2002 p.21) 
 
 
 
MULTICULTURAL X MULTICULTURALISMO 
 
 
O que é MULTICULTURAL? 
É um termo qualificativo. 
Descreve as características sociais e os problemas de governabilidade apresentados por 
qualquer sociedade na qual convivem uma diversidade de comunidades que tentam construir 
uma vida em comum, sem perder a identidade original. 
Parte da concepção - uma das principais características das sociedades modernas/pós- 
modernas é a complexidade, a diversidade e a presença de múltiplos interesses e grupos sociais. 
Diferentes estilos de vida e valores diversificados. O que significa MULTICULTURALISMO? 
Corrente de pensamento crítico contemporâneo. 
Conectado aos debates sobre a diversidade cultural presente nas sociedades 
contemporâneas. 
Refere-se às estratégias e as políticas adotadas para administrar problemas de – 
diversidade e multiplicidade geradas pelas sociedades multiculturais. 
As principais críticas que fundamentam as o debate multicultural são: 
- Em relação a conceito de direito do 
liberalismo clássico. 
- Em relação à visão unidimensional do 
marxismo ortodoxo. O debate multicultural e a questão 
da diferença: 
Para entendê-lo, é necessário compreender, 
analisar, contextualizar os contextos históricos 
associados a uma tomada de consciência coletiva 
opositora a toda forma de “etnocentrismo”. 
 
Pontos de partida: 
Interpretar as relações sociais como relações 
interculturais – são as vivências culturais que moldam as interações sociais. 
E em como o Estado e a sociedade irão dialogar - criar mecanismos de promoção da 
inclusão social. 
Questionamento de análise teórica: 
Como garantir a unidade política e a igualdade de direitos para cidadãos cujas origens, 
crenças e valores fundamentais são tão diversos? 
Parte desse debate está vinculada a Declaração dos Direitos Humanos ONU, de 1948. 
 
Define os direitos humanos como direitos individuais e coletivos. 
Agenda internacional dos países membros a necessidade de incluir em suas constituições 
direitas vinculadas ao reconhecimento da diferença e dos particularismos. 
Com isso, inicia-se um debate encalorado no âmbito dos direitos humanos sobre: 
 
 
Universalidade X Particularismos 
Na arena política, o multiculturalismo assume a forma da política da diferença. 
Com ações voltadas para a inclusão dos grupos sociais numa reflexão política contrária a 
lógica do individualismo. 
Define-se por um sentido de identidades compartilhadas. 
Formada de indivíduos com consciência coletiva, mas que possui sua individualidade 
preservada. 
O multiculturalismo parte da seguinte postura política: 
A prática de reivindicar direitos de forma coletiva desestabiliza e coloca em xeque a 
filosofia liberal clássica que fundamenta o direito moderno. 
O que é GRUPO POLÍTICO no multiculturalismo? 
 
 
Direitos individuais X Direitos coletivos 
Assim, O multiculturalismo se opõe a premissa do pensamento liberal, ao afirmar a 
relevância e a legitimidade dos grupos na arena política. 
Como ocorre a disputa pelo poder entre os grupos sociais, partindo do pressuposto que 
não existe uma condição de homogeneidade em se tratando de interesses? 
Existem: 
Disputa pelo poder entre os diversos grupos identitários. 
E nesse rol, encontram-se grupos que sofrem maior pressão e opressão sociais que 
outros. 
A forma de mensurar ou de detectar a dominação se dá a partir: 
Análise das dificuldades de participação política desses grupos nos debates e em 
processos de decisão nacional e internacional. 
Foco de debate do multiculturalismo: 
A abordagem pela ótica da justiça e da inclusão. Falta de um debate mais aprofundado 
sobre: 
Disputa de poder e as relações de dominação nas sociedades contemporâneas por uma 
perspectiva da teoria política crítica. 
Três críticas a perspectiva multicultural: 
1- debate teórico que tentam determinar os grupos que merecem acessar os direitos 
compensatórios. Determinar aqueles que vivem maior ou menor opressão. 
2- relação entre diferença e igualdade. 
Ressalta as vantagens da diferença – como uma forma de barganhar recursos políticos e 
políticas públicas do Estado. Prefere reforçar o debate em torno da diferença e não aborda a 
questão da igualdade. 
3 - acomodação entre os direitos de grupos e os direitos individuais. Opressão de um 
grupos social sobre outros grupos. Opressão dos grupos sociais em relação ao indivíduo. Diante 
das críticas e dos limites da teoria multicultural e da concepção teórica pós moderna, intelectuais 
esforçaram-se em introduzir novos elementospara incrementar o debate. Dada uma conotação 
mais crítica ao debate multicultural. 
 
Direitos humanos e multiculturalismo 
 
Uma frequente reflexão dos direitos humanos é de sua manutenção das diferenças culturais e 
um resultado que englobe a universalização humana dentro de um parâmetro democrático de 
participação como agentes ativos nas formulações destes direitos surgidos na modernidade. 
Neste contexto de olhar crítico perante a sua constituição, os direitos humanos, de acordo com o 
material didático do circuito difusão de cinema (p.7) com esta temática, do Ministério do Turismo de 
2021, é definido assim: 
“São garantias que protegem os indivíduos e grupos contra ações que limitam as liberdades 
fundamentais e/ou ferem a dignidade humana. A construção desses direitos é fruto de um longo 
processo histórico permeado por violações de vários tipos. 
Os Direitos Humanos são inspirados no princípio de respeito e dignidade a todos os indivíduos. 
Todo ser humano possui direitos fundamentais, independente de cor, gênero, etnia, orientação 
sexual, língua e religião.

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