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Instituto de Educação Superior Sumaré ISES - Faculdade Sumaré Uma introdução á Martinho Lutero na obra de Lucien Febvre Rosangela Parcial Rodrigues RA 1220026 Maria Aparecida Ribeiro RA 1222657 Maria Lucia Araujo Albuquerque RA 1224383 São Paulo, 24 de Outubro de 2014 Instituto de Educação Superior Sumaré ISES - Faculdade Sumaré Uma introdução á Martinho Lutero na obra de Lucien Febvre Projeto de Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Instituto de Educação Superior Sumaré – Campus Belém como requisito para elaboração da monografia de conclusão do curso de Licenciatura em História. Professor Dr. Leandro Seawright Alonso São Paulo 24 de Outubro de 2014 SUMÁRIO RESUMO ..................................................................................................................................... 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 5 PRIMEIRO CAPITULO ................................................................................................................ 6 1. Um Homem solitário.................................................................................................................. 6 1.1 O esforço de um homem solitário.............................................................................................. 6 1.2 Antes da viagem de Roma ........................................................................................................ 7 1.3 De Roma às Indulgências ......................................................................................................... 9 1.4 O monástico Lutero................................................................................................................ 10 1.5 O caso das Indulgências ......................................................................................................... 13 1.6 A reação de Lutero................................................................................................................. 14 SEGUNDO CAPITULO .............................................................................................................. 16 2. A maturidade II ....................................................................................................................... 16 2.1 Inquietação Social ................................................................................................................. 16 2.2 – Erasmo, Hutten. Roma ........................................................................................................ 16 2.3 O Idealismo de 1520 .............................................................................................................. 18 2.4 Os Meses em Wartburgo ....................................................................................................... 20 TERCEIRO CAPITULO ............................................................................................................. 25 3 A revolta de um povo................................................................................................................ 25 3.1 Anabatistas e Camponeses ...................................................................................................... 25 3.2 Erasmo é a razão ................................................................................................................... 27 3.3 O casamento com Catarina de Bora ......................................................................................... 28 3.4 Obedecer à autoridade ........................................................................................................... 29 CONCLUSÃO ............................................................................................................................ 30 BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................................ 30 RESUMO Lucien Febvre em Lutero um destino realiza uma biografia total na qual a história de um indivíduo se entrelaça com o destino de uma época no século XVI na Alemanha. A trajetória de Lutero é reconstituída pelo historiador, avaliando e examinando as idéias e os conflitos que levaram a crise do catolicismo, e o problema entre o indivíduo e a coletividade. Portanto ao lermos o livro fica claro entender que as pessoas daquela época não entenderam que Lutero estava mais preocupado com em lutar pela suas convicções e não em revolucionar e fazer uma reforma na igreja católica. Palavra chave: Protestantismo, convições idéias revolucionárias ABSTRACT Lucien Febvre in Luther a destination performs a full biography in which the story of an individual is intertwined with the fate of an era in the sixteenth century in Germany. The trajectory of Luther is reconstituted by the historian, evaluating and examining the ideas and conflicts that led to the crisis of Catholicism, and the problem between the individ ual and the community. So when we read the book it is clear to understand that people of that time did not understand that Luther was more concerned to fight for their convictions rather than revolutionize and make a reform in the Catholic Church. Keyword: Protestantism, convictions revolutionary ideas 5 INTRODUÇÃO Para o avanço do nosso conhecimento histórico nesse livro o autor Lucien Febvre derruba diversos preconceitos, erros de concepção e de compreensão, ele já inicia sua obra citando que ele vai narrar apenas sua opinião e não uma biografia de Martinho Lutero. Para Febvre as dificuldades traçadas por Lutero para colocar em pratica sua convicção real dos fatos, e que o problema não estava afetando somente a ele, mas sim o social que e, talvez o problema essencial dessa história. O Autor pretende reconstituir passo a passo a trajetória de Lutero, examinando as idéias e os conflitos que o levaram à crise do catolicismo, a criação do luterismo e a fundação da Europa moderna. Lucien Febre ao escrever esta história do gênero biográfico, mas com novos olhares, ele incorporou as contribuições de outras ciências humanas, diferente de outras biografias escritas por outros autores. Seu maior objetivo era derrubar as outras obras antiquadas e preconceituosas, nesse período muitos textos foram escritos, varias coisas sobre Lutero, uns produzidos por partidários, outros resultado da ira católica-romana, mas seu maior desafio nessa obra era mostrar a história de Lutero, não como um individuo isolado e atormentado, mas um homem que fez parte de uma das maiores mudanças na crença religiosa. Martinho Lutero, foi denominado o pai da Reforma Protestante, foi um homem do seu tempo, assolado pela angústia e o medo do inferno, ingressou aos 22 anos no convento Agostiniano de Erfurt em 1505, mas não pretendia ser o líder de uma ruptura religiosa, pelo contrário cristão solitário buscava apenas encontrar o remédio para seus males interiores. Lutero não se julgava o construtor de uma nova igreja, lamentava o fato de os camponeses rudes não terem compreendido a sua mensagem de liberdade cristã. Nessa obra Lucien Febvre relata que outros autores do seu tempo tinham a mesma opinião que Lutero criticava os abusos da igreja, mas não era o abusos que o moviam, o que mais lhe interessava era sua salvação pessoal, os seus estudos do evangelhos e das Epistolas de São Paulo não lhe ofereceram novas doutrinas e sim a descoberta individual para seus males. 6 PRIMEIRO CAPITULO 1. Um Homem solitário 1.1 O esforço de um homem solitário O jovem laico Martinho Lutero em 1505 adentrava o convento agostiniano na cidade Erfurt na Alemanha, até então o autor frisa que quando jovem Luterojá não era influenciado pelo catolicismo e que não o pertencia. Nascido em Eisleben, uma cidade saxônia, no condado de Manfield, no dia 10 de Novembro de 1483, a posição e condições de seus pais eram originalmente humildes, portanto suas objeções ao futuro universitário eram grandes, mas ele não os dava ouvidos, pois não compartilhavam dos mesmos interesses, sua parentela ou alguns amigos de condições modestas não influenciavam de nenhuma forma a ser um reformador. Lutero foi prontamente iniciado nos estudos e aos treze anos de idade foi enviado a uma escola de Magdeburgo. E dali Eisenach, na Turingia onde permaneceu por quatro anos, e onde demonstrou as primeiras indicações de sua futura eminência, sua infância por ser humilde não lhe deixava muitas escolhas, esse jovem inquieto e atormentado pedia pra usar, o hábito de lã tosca de eremitas agostinianos, em pouco tempo o trocaria pela toga forrada de professor. No entanto se Lutero não tivesse vivido no convento por mais de quinze anos, não tivesse tido a experiência pessoal e dolorosa da vida monástica, ele não teria sido Martinho Lutero. O autor acredita que não foi por amor ou bondade que Lutero ingressou na vida monástica, teria outro significado para Erasmo ou que julgamos conhecer, um Lutero que efetuasse nas universidades estudo profanos e obtivesse seus títulos de jurista, ele poderia ter sido tudo isso menos o Lutero da história. A história de Lutero não foi uma história divertida ou curiosa que aconteceu no século XV, ter desejado ser monge e tê-lo seguindo intensamente durantes anos e anos e algo que não pode ser apagado de uma hora para outra na vida de um homem, talvez isso explique os volumes fabulosos de muitas hipóteses contraditórias que e contadas nos últimos anos diante de um fato que nada altera a situação. 7 1.2 Antes da viagem de Roma Segundo Febvre muitos historiadores de comum acordo concentraram sua atenção na figura Reformadora, na doutrina e na obra do homem feito que em 31 de outubro de 1517 obrigou seus compatriotas a se posicionar com tanto fervor uns a seu favor e outros contra ele, também havia muitos amigos e adversários que só se interessavam pelo chefe do partido, pelo fundador da igreja cismatica que estava ali apenas para dogmatizar em sua cátedra de Wittenberg, mas ninguém procurou estudar como se formou esse chefe de partido ou como se constituiu suas doutrinas. Lutero não se dispunha de muitos meios, envolvido na luta cotidiana não teve muito tempo para escrever sobre si mesmo. Na obra do reformador Melanchthon em 1546, ano da morte de Lutero foi acrescentado alguns poucos detalhes, outros reformadores como Amsdorf e Cochlauslimitavam-se a comentar esses textos, outros como recorriam a colher informações das palestras Tischreden dada por Lutero, com base nessas coletâneas, sem dar o trabalho de criticá-las, muitas vezes coletadas pelos ouvintes, foi então o relato oficial hagiográfico que se relatou os anos de juventude de Martinho Lutero. Febvre relata que todos os homens de sua geração conheceram a história de Lutero, mas a maioria dos livros não fazia mais que resumir com maior ou menor imprecisão as grandes monografias de Kostlin. Febre reconhece que o documento era bem redigido e dramático ao extremo, o quadro de uma infância sem amor, alegria ou beleza, Lutero nasceu provavelmente em 1483 em 10 de novembro, véspera do dia de São Martinho na pequena cidade de Eisleben, na Turíngia, a qual retornaria para morrer aos 63 anos mais tarde. Seus pais eram pobres, o pai, mineiro, duro consigo mesmo e com os outros, a mãe uma dona de casa exausta e aniquilada dos afazeres excessivos e pesados, ela não o tratava com ternura ou carinho, mas servia para encher de preconceitos e superstições medrosas a cabeça de uma criança bastante impressionada. Esses pais sem alegrias criaram essa criança em um povoado em Mansfield, habitado por mineiros e mercadores. Esse menino sobre ríspido rigor e punição de mestres incultos aprendeu a ler escrever e orar em latim, com muitos gritos em casa e pancadaria na escola, duro regime para um ser sensível e nervoso. Aos catorze anos de idade, Lutero foi para a cidade grande de Magdeburgo em busca de estudos nas escolas versadas, buscava com os irmãos a vida comum, porem ele se encontrava perdido na cidade desconhecida, obrigado a mendigar o pão de porta em porta, além disso, doente, por lá permaneceu um ano, voltou para casa paterna e em seguida para Cidade Eisenach da Alemanha, onde tinha alguns parentes que não o tratava bem, após alguns 8 sofrimentos, se deparou com uma alma caridosa, uma mulher chamada Ursula Cotta que o cercou de afeto e carinho, ali permaneceu quatro anos, os primeiros quatro anos de felicidade de sua juventude. Sempre por ordem de seu pai em 1501, Lutero partiu para cidade Erfurt onde havia uma universidade próspera, lá estudou com fervor da faculdade de Artes, Bacharel em 1502, tornou-se mestre em 1505, contudo a sombra de uma juventude melancólica que se projetava sobre um destino que permanecia medíocre, posterior foi vitima de uma grande enfermidade grave, uma peste mortífera que por pouco não o matou, essas series de incidentes violentos, atuando sobre a mente inquieta e uma sensibilidade palpitante, tomou uma decisão, desistiu dos seus estudos profanos. Frustrada as expectativas de ascensão social alimentadas por seus pais, assim foi bater a porta dos agostinianos de Erfurt. No convento, Lutero seguia a rigor as regras, em um dos vintes textos escrito entre 1530 a 1546 ele proclamava sua frustração e sua crueldade: “Sim, fui na verdade um monge piedoso. Então estritamente fiel a minha regra que posso afirmar: se algum monge porventura já alcançou o céu pela vida monástica, também eu o teria alcançado. Mas o jogo teria durado mais um pouco: eu teria me esvaído em vigílias, orações, leituras e outros lides” (Febvre;Lucien, 1928,p.30) “Eu não acreditava em Cristo”....”Eu via nele um juiz severo e terrível, tal como é pintado, tronando o arco-iris”“Quantas vezes não me assustou o nome de Jesus!...Teria preferido ouvir o nome do diabo, pois estaria convencido de que teria de cumprir boas ações até que Cristo, por causa delas, se tornasse amigo e favorável”. (Ibid, p.31) Lutero falava de um Deus terrível implacável, vingativo, que contabilizava rigorosamente os pecados de cada um, ele havia entrado no convento para obter a paz e só encontrava duvidas e terror, ele falava de um Deus enfurecido, ele sacrificava seu próprio corpo com penitencias e jejuns, tentava ele forçar a certeza libertadora. Lutero duvidava um pouco mais da sua própria salvação, ele encontrou uma cristandade que entregava seus templos aos maus mestres, nada adiantava os lamentos de seus colegas de miséria, nada era capaz de responder aos soluços do crente ávido de fé viva, cuja a fome era enganada com vãs ilusões, até que em meias tantas turbulências, contradições e descrença, surge o Dr. Staupitz, vigário geral desde de 1503 dos agostinianos de toda a Alemanha, com sua bondade e atenção acabou ganhando a atenção do jovem monge ardoroso. Dr. Staupitz foi o primeiro a pregar para Lutero um Deus de amor, misericórdia e perdão, até aquele momento ele nunca havia conhecido uma pessoa que pudesse falar de Deus com tanto carisma e convicção, convicções essa que envolveu o coração de Lutero completamente. Staupitz lecionava na universidade de Witternberg e em Outubro de 1508 incumbiu Lutero a 9 dar um curso de Ética de Aristóteles, ao mesmo tempo ele continuava com os estudos sagrados na faculdade de Teologia, no ano seguinte se formou em Bacharel em Teologia, ele pregava com sucesso, e se sentia salvo, suas crises e desespero haviam desaparecido, até que em uma reviravolta tudo retornaria novamente. 1.3 De Roma às Indulgências Em 1510 Lutero viajou paraRoma em uma missão de ordem, ele seguia para o centro vivo da cristandade, para cidade dos peregrinos fervorosos. Quando Lutero se viu perturbado, regressou a sua cidade natal, levava em seu coração ódio inexpiável e os abusos que a cristandade escondia, ele os via sobre o céu de Roma. No convento em 1505 a 1510 conseguiu avaliar a decadência do ensino cristão, sentia na alma a pobreza infecunda da doutrina das obras, conseguiu enxergar a imoralidade da igreja, em sua mente, a reforma já estava feita, o claustro de Roma havia tornado Lutero Luterano, mas mesmo assim com todas essas revoltas e indignação ele se calava porque respeitava a igreja, Dr. Staupitz ainda o apoiava e obrigou Lutero a se graduar em Teologia em 1512. Lutero inaugurou dois cursos “epistola aos romanos e salmos”, posteriores começou a moldar para si mesmo uma teologia pessoal. Febvre vai dizer que antigos historiadores não procuraram saber como era fazer sua própria teologia, foi dessas analises e desses estudos sistemático acerca da divindade que surgiu o caso das indulgências. Em 1517 o jovem Lutero de 23 anos estava diante de um terrível escândalo publico, pois com voz vingadora gritou sua indignação aos abusos cometidos pelos traficantes vestidos de hábitos religiosos, pois foi dessa forma que Lutero se referia a todos eles, suas palavras ardorosas ressoavam furiosamente de uma ponta a outra de uma Alemanha saturada de abusos, enojada de vergonhas e escândalos. Lutero proclamava diante de multidões transtornadas a formidável alegria de viver em um século em que se mesclavam o renascimento e reforma, ele lançava de triunfo, indignação e libertação aos quatros canto da Europa, pois não tinha ele nascido dos abusos da Igreja, tantas vezes denunciados no século XV, mas que vinha se agravando a cada dia que passava abusos materiais, simonia, trafico de benefícios e indulgências, vida desregrada dos clérigos e etc. 10 1.4 O monástico Lutero Teólogos, críticos e revisionistas historiográficos se concentraram na biografia de Lutero para revisar suas idéias e o valor delas para a transformação da humanidade. Entre as muitas questões, as principais eram: • Fora mesma a Reforma que marcara, no século XVI, o surgimento dos tempos modernos? • Chamava-se Lutero o parteiro heróico e genial do nosso mundo moderno, ou aquele que geraria, aos poucos e solidariamente, a massa de idéias novas e modernas que com demasiada facilidade se tornara o hábito de acreditar ao velho protestantismo? Assim, de todos os lados, vindos de pensadores diversos, novos problemas se colocaram. Uma imensa obra de revisão, ou mesmo de reconstrução, parecia ser necessária. Perguntamo-nos se simplesmente se é possível fornecer, da história moral e espiritual de Lutero, por enquanto admiremos, sem pretender rivalizar com os psiquiatras de plantão. E já que Lutero, desde o começo, entrelaçou a história de suas crises à de seu pensamento, tentamos compreender o que tal amálgama representava para ele, e como o Pe. Denifle um medievalista bibliotecário do Vaticano no século XIX explica as crises de Lutero. Pe Denifle iniciou seus estudos sobre Martinho Lutero e sua trajetória, aliais que essas descobertas foi um grande desgosto para os luteranos que colocavam Lutero como um semideus. Expondo fatos que demonstravam um Lutero humano com vícios, alcoólico, que tratava a mulher com certa violência. Contrariamente à infância, supostamente, criada sobre a figura de Lutero. O Pe. Denifle afirma que os pais do monge não eram pobres e não o maltratavam. Acusa-o, ainda, que só leu a Bíblia quando estava já no seio da ordem dos agostinhos, de ter uma fixação na sexualidade, de ser contraditório e de se focar sempre na sua perspectiva. Ninguém jamais acusou Lutero de ter mal vivido em seus anos de convento, quero dizer, de ter infringido seu voto de castidade. O Pe. Denifle restringe de maneira abusiva o sentido de conceito de concupiscência da carne, que Lutero utiliza com tanta freqüência em seus escritos: “ Julgava estar comprometendo a minha salvação assim que sentia a concupiscência da carne, ou seja um mal impulso, um desejo (libido), um ímpeto de fúria, de ódio ou inveja em relação a um dos meus irmãos” (Ibid, p.57) O Pe. Denifle atribui um sentido por demais específico com base nele, compõe um romance pré-freudiano que julga interessante. Lutero, exagerando para si mesmo a gravidade de seus 11 mínimos pecado, constantemente debruçado sobre a própria consciência, ocupado em perscrutar seus secretos movimentos, obcecado, aliás, pela idéia do juízo, nutria sobre a própria indignidade um sentimento tão mais violento e temível que nenhum dos remédios que lhe ofereciam poderia aliviar seu sofrimento. A experiência para Lutera era mais que o suficiente, a vida monástica não bastava para lhe dar paz, os jejuns, as orações prescritas e as meditações eram remédios que serviam para outros que não tinham tamanha sede do absoluto. O fato de Martinho Lutero ter lido obras Gabriel Biel um bibliotecário medievalista do Vaticano, cruzando o conhecimento destas com os ensinamentos de Staupitz, influenciaram- no a criar o pensamento que viria a ser o protestantismo. Lutero defendia o contato com Deus segundo os fatos apontam, dava demasiada importância aos pequenos pecados preocupava-se muito em obter a salvação, a santidade. E por exemplo ensinava, o teólogo da vontade divina, e dela apenas as leis morais extraiam seu sentido e valor. Os pecados eram pecados, e não boas ações, porque Deus assim queria. Quisesse Deus o contrário, o contrário seria: o roubo, o adultério, o próprio ódio de Deus se tornariam ações meritórias. Deus não tem que punir, ou recompensar no homem falhas próprias ou méritos pessoais. Para que boas ações obtenham recompensa, basta que Deus aceite, e ele as aceita quando assim o deseja e como deseja, por razões que escapam a razão dos homens. No plano humano, o homem apenas com suas forças naturais, pelo uso de sua vontade e razão, pode cumprir a Lei pode chegar, enfim, amar a Deus acima de todas as coisas, e assim Lutero se esforçava, fazia de tudo de acordo com a sua natureza, e o impossível para que nascesse dentro essa disposição adequada e suficiente para a infusão da graça por concessão divina de que fala Gabriel Biel, em sua linguagem. Essa doutrina, que ora exaltava o poder da vontade humana, ora a humilhava, escarnecendo perante a insondável onipotência de Deus: ela só mobilizava as forças de esperança do monge para melhor quebrá-las e deixá-lo sufocado em meio à trágica impotência de sua debilidade. Ele estava ávido não por doutrinas, por vida espiritual, paz interior, certeza libertadora em Deus. Preocupado em enfatizar a importância dessa frase de seu pensamento, explica que viu, na expressão de Staupitz, o exato contraponto da afirmação dos “gabrielistas” de que o arrependimento terminava no amor da justiça e de Deus. Entre 1512 a 1514 Lutero decide procurar a salvação através da meditação, frutado acaba por se dar como vencido. È então que faz uma descoberta racional. Ele tem a certeza que e necessário um homem ser justo, mas e impossível sê-lo. 12 Defende que um homem deve aceita seus pecados e pedir a Deus que lhe de o necessário para ultrapassar esses mesmos. Segundo os pensamentos de Lutero, a justiça própria do homem é radicalmente incompatível com a justiça sobrenatural de Deus. Em vão a teologia tradicional distingue entre pecado natural e original. Nas relações do homem com Deus, não existe nada jurídico, tudo é amor, um amor atuante e regenerador, demonstrada a criatura decaída pela terrível majestade. Um amor que a inclina a não perdoar estes pecados, mas a não lhe imputar esses pecados. Deus “ama a todos os seres por si criados”, a Justificação faz desaparecer o pecado, mas deixa a moralidade natural tantoseu papel como o lugar e sua virtude. Para Lutero, ao contrário, a justificação deixa subsistir o pecado e não dá espaço para a moralidade natural. Em linguagem Luterana, todo homem que recebe o dom da fé (pois a fé, para Lutero, não é crença; é o reconhecimento, pelo pecador, da justiça de Deus). Todo pecador que, refugiando-se assim no seio da misericórdia divina, sente a própria miséria, detesta-se e proclama, em compensação, sua confiança em Deus, embora seja simultaneamente justo e injusto, pecadores quanto à verdadeira realidade, mas justos na opinião do Deus misericordioso, justos em nossa ignorância e injustos em nossa ciência; pecadores na realidade, mas justos na esperança. Julgamos que o homem é justificado pela fé, sem as obras da lei. Lutero encontra essa celebre expressão na Epistola aos Romanos (3:28) Já em 1916 rejeita energicamente a interpretação tradicional, em sua pressa palpitante de possuir Deus, passa por cima da lei para ir direto ao Evangelho. Mas, ás vezes ao contrário obcecado pelo sentimento de que uma falsa certeza gera as piores falhas morais, recrimina a Igreja, com veemência por insinuar-se nas ações que ela proclama serem meritórias. A segunda intenção e o cálculo interesseiro; e então, como já se preocupasse tão somente com a moral, Lutero deixa momentaneamente de lado esse apaixonado cuidado com a religião que, ainda há pouco, o arrastava e dominava exclusivamente. 13 1.5 O caso das Indulgências Na obra, Febvre vai sita que em 1517 depois mesmo depois de longo período de reflexão, de sua ideologia, ele não compreendia algumas doutrinas da Igreja para com seus súditos. Defendia que para chegar ao perdão de Deus não seriam necessários pagamentos monetários, mas somente com a confissão e arrependimento dos pecados, se atinge diretamente o reino celestial. Outros pensadores já se haviam oposto às doutrinas pregadas. Jean de Lallier, padre, mestre em Artes e licenciado em Teologia, proclamava que “o papa não tinha o poder de perdoar aos peregrinos, por meio de indulgências, a totalidade do castigo merecido por eles em razão dos seus pecados, mesmo que essas indulgências fossem outorgadas. Então para melhor compreender esse acontecimento Febre vai dizer que se o caso das indulgências foi o prelúdio de todo uma reforma terá então que compreender o que de fato aconteceu durante politicamente. As manobras políticas para as eminentes eleições imperiais em 1519 já estavam em andamento, e o desejo do Papa Leão X de impressionar seus rivais, como os governantes seculares era concluir a construção da Basílica de São Pedro iniciada pelo papa Julio II . A religião e a política tinha estado interligada de forma inextricável, desde de que o imperador Constantino convocará o concilio de Nicéia em 325 na idade média, o papa exercia um poder temporal direto a Igreja imperial, inclui o mandato de proteger a Igreja e a Fé verdadeira, muito embora existissem tensões tanto manifestas quando latentes entre o papado e os imperadores germânico na idade média. Governantes da linha de Hasbsburgo com Maximiliano II e Carlos V levavam a sério o seu deveres religiosos, com isso o Reinaldo de Carlos V foi marcado por um lado, por seu empenho no sentido de alcançar a hegemonia na Europa e por outra, por seu esforço de combater a hegemonia. Desde 1257 certos príncipes tinham reivindicado o direito de eleger o imperador, esse grupo era formado pelo duque da Saxônia, o Margrave de Brandberburgo, e o rei Boêmia, o conde Palatino e os arcebispo de colônia, essa tradição foi codificada na bula de Ouro de 1336, a chamada Magna carta do particularismo alemão, que estabeleceu procedimento ordeiro com vistas a um regime imperial com base federativa, eximia os setes eleitores da jurisdição imperial e exclui a participação papal na eleição. A rivalidade dinástica da época ocorreu entre os Habsburgos e os Hohenzollern, desde 1527, o imperador Maximiliano havia tentado alinhar os eleitores em favor a seu neto Carlos da Espanha, mas a véspera tanto da reforma como das eleições de um novo imperador, o eleitor de Brandberburgo, Joachim era um Hohenzollern. 14 Em 1513 três importantes cargos eclesiásticos estavam vagos: o arcebispo de Magdeburgo, Hallberstadt e Mainz, o eleito Joachim via nessa situação uma oportunidade de fortalecer a casa de Hohenzollern e de influenciar a eleição imperial tendo dois dos setes votos a favor de seu irmão mais jovem Albrecht, porém havia uma dificuldade, o mesmo estava abaixo da idade canônica para ser bispo e nem mesmo para ser sacerdote, além de ser ilegal ocupar mais de um cargo eclesiástico, mas enfim o que o poder do dinheiro não faz? Albrecht negociou com Roma um preço pelo arcebispado, isso, porém ultrapassava as linhas de credito tanto de Joaquim como de Albrecht, mas isso não era problema para o papa Leão X, ele era um homem disposto a negociar um acordo financeiro. A Cúria propôs que Albrecht tomasse um empréstimo da casa bancaria de Jacob Fugger um homem com patrimônio financeiro alto, dono de empresas têxtil e de minerais. Por fim o papa Leão X exigiu uma entrada do total dinheiro que Albrecht tomou emprestado e concedeu a ele o direito de vender as indulgências, com as vendas o lucro seria dividido, metade devia ir para o papado, para financiar a construção da Basílica de São Pedro, e o restante para pagar o financiamento de Fugger. As indulgências podiam ser pregadas somente por dois anos, com isso obteve pouco lucro o suficiente para quitar a metade da divida com o ducado, somente então o dominicano Johann Tetzel subcomissário geral do arcebispado de Mogúncia, pois com voz tonitruante a prometer a seus fies toda uma gama de beneficio incomparável. Tetzel deslocou-se da Espanha para Wittenberg, com intuito de trazer aos fiéis uma “esperança divina”, visto que o julgamento de Deus estaria próximo, recomendando assim, a compra da “passagem” ou livramento do purgatório. Sabald das GeldsimKastenKlimgt. Die Seeleausfegfeuerspringt! (Assim que o dinheiro na caixa tilintar, a alma do purgatório era escapar!) (Ibid, p.103) 1.6 A reação de Lutero Como e mostrado de modo evidente pelas anotações do curso sobre a Epistola aos Romanos, ele realmente se apossou de suas idéias pessoais e nutria por elas, pelo bem que lhe dizia tamanha gratidão, Nelas Lutero encontra informações valiosas e eficácia que se pôs a comunica aos outros, o precioso tesouro que acabava de descobrir, em que primeiro lugar aos estudantes de seu curso, as pessoas mais simples ao seu redor, e aos seus mestres, assim Lutero assumia o papel de chefe da escola. Lutero estava se libertando das doutrinas gabrielisticas e do aristotelismo, após um ano depois residindo novamente um debate “contra a teologia Escolástica” e redigindo para outro candidato as 97 teses que constituem o 15 enunciado das grandes linhas mestras de sua doutrina. Com o mesmo vigor sem complacência, Lutero proclamava seu ódio por Aristóteles, sua metafísica, sua lógica e sua ética, pra Lutero é um erro achar que a teoria da felicidade de Aristóteles não se opõe radicalmente a doutrina Cristã (contra os moralistas). Lutero então conclui explicando seu tema favorito, a oposição fundamental entre lei e a graça: Toda obra da lei, sem a graça tem a aparência de uma boa ação; vista de perto, não de um pecado. Maldito aqueles que realizam as obras da lei: benditos o que realizam as obras da graça. A boa lei que move o cristão, não e a lei morta do levitico; não é o Decálogo; é o de Deus derramado em nossos corações pelo Espirito Santo (Ibid, págs, 106 a 107) Assim argumentou Lutero, e chega o momento de suas idéias enfrentarem a critica dos mestres, aqueles que não deixavam se seduzir de imediato,mas Lutero sabe que os convencera, pois ele tem Deus em seu coração cheio de Fé. As teses sobre as indulgências foram fixada em 31 de Outubro de 1517 na porta lateral da capela do castelo de Wittemberg, Martinho Lutero afixa um cartaz em latim. Por amor a verdade, por zelo em fazê-lo triunfar, as preposições abaixo serão debatidas em Wittemberg, sobre a coordenação do R.P (Reverendo Padre) Martinho Lutero mestre em artes, doutor em Santa teologia e leitor ordinário na Universidade. Rogo aos que não puderem estar presentes no debate oral que intervenham por carta. Em nome de nosso Senhor Jesus Cristos. Amém (Ibid, p.107) Isso foi fixado na véspera de todos os Santos, nessa data muitos peregrinos apareciam na cidade de Wittemberg, a fim de obter perdão, assim eles visitavam as relíquias caras do rei Frederico. A carta afixada por Lutero continha ataques brutais contra o charlatão traficante de coisas santas, contra as indulgências, uma acusação essencial, uma acusação de fundo a oferecer aos pecadores uma falsa segurança. Febvre reconhece em uma das 95 teses uma confissão pessoal de Martinho Lutero, as tese 39ª a 40ª. Tese 39ª – E extraordinariamente difícil, diz ele, mesmo para os mais hábeis teólogos, exaltar simultaneamente, para o povo, a graça da indulgência e a necessidade da contribuição. (Ibid, p.109) Tese 40ª – A verdadeira contribuição procura e amar a penitencia; já a indulgência remete as penitencias e nos inspira aversão em relação a elas. (Ibid, p.109) Para Febvre essas duas teses são bem claras, pois ele vê como Lutero estava consciente e ciente de suas convicções referente a indulgências que agora se juntava a sua concepção de verdadeira religião. Ele esperava que ninguém o apoiasse, esperava ser alvo de critica ou desprezo, mas contrariamente que esperava aconteceu, um grandes números de pessoas se juntaram a ele. 16 SEGUNDO CAPITULO 2. A maturidade II 2.1 Inquietação Social A segunda grande inquietação de Lutero tinha origem doutrinária e o atormentou durante seus anos de formação. Ele não aceitava o principio então dominante no cristianismo, de que a justiça divina se manifestava, no plano terreno, como um julgamento dos atos dos homens. Para Lutero, isso produzia medo e tornava praticamente impossível o sentimento espontâneo de amor a Deus. A indignação de Lutero só se dissipou quando, ao interpretar os Evangelhos, conclui que os homens vivem por uma graça de Deus e que a justiça divina e revelada pela leitura das escrituras, de modo passivo e independentemente dos méritos ou ações de cada um durante a vida. Foi o que ficou conhecido como doutrina da salvação pela fé. Os interesses político-econômicos do imperador, da igreja e dos príncipes emperravam uns aos outros. Os príncipes, menos obrigados ao poder papal do que o imperador vira em Lutero uma possibilidade de se afirmar politicamente contra a autoridade central e de contestar os direitos da igreja sobre riquezas que se encontravam em seus territórios. 2.2 – Erasmo, Hutten. Roma Entre 1517 e 1525 Lutero estava no auge de sua “grande missão” ele fala, prega, ataca e defende-se naquilo que ele acreditava ser sua doutrina. Um homem que atraído e incitado por amigos e inimigos, ora resiste, ora deixa-se levar, sempre lutando e se lançando as suas lutas. Pois bem em 1517 o grande agostiniano não tinha plano formado, sua grande vontade era seguir adiante em sua certeza de sua grande misericórdia alcançada por Deus, pois ele acreditava piemente no que pregava e o que ensinava e isso ele queria ensinar a todos os homens sem distinção de classe ou nacionalidade. Exatamente por esta questão que Lutero se via numa reforma, trabalhando somente por dentro e não por fora, por dentro dos corações das pessoas e se essa dádiva fosse alcançada o resto seria muito mais fácil de conserta. Assim que Lutero se esquecia e essa sua grande ideologia já estava sendo cobiçada por diversos humanista na época, muitos queriam, mas até aquele momento não havia encontrado um ser tão convicto de suas crenças, e além de tudo um homem instruído e educado em grego, em latim, esse sim um homem na Europa desses tempos encarnava poderosamente essas tendências; um homem saudado, reverenciado como um mestre tanto pelos franceses como pelos ingleses, alemães, flamengos, poloneses, espanhóis e pelos próprios italianos um 17 homem de obras latinas na linguagem, universal no espírito, a um só tempo erudito e prático. Os humanistas, os políticos os grandes senhores mais que ninguém conhecia a igreja romana, com suas vigorosas e ocultas motivações, suas influências diplomáticas sobre os soberanos, seus infinitos recursos materiais e morais, longe deles subestimar seu poder cristão, eles estavam ciente que para mudar como queria não poderia ser da maneira filosófica do agostiniano. Mas Lutero era convicto que para fazer triunfar sua filosofia de Cristo, a religião do espírito que ele enunciava e pregava com incontestável convicção seria necessário permanecer no seio da Igreja, trabalhar lá dentro com continuidade, mas sem brutalidade ou alarde, jamais se aparta dela ou deixar-se expulsar por uma violenta ruptura. Quando surgiram os primeiros escritos de Lutero e seu nome passou a ser divulgado de boca em boca por toda a Europa, foram os estudiosos de inicio que se sentiram tocados, os humanistas ficaram pasmos quando opôs á doutrina adulterados dos pregadores de indulgências, sendo assim Frobem o mesmo editor de Erasmo reuniu-os em uma coletânea que precisou reeditar em 1519 e acabaram transformando o monge em “auxiliar de Erasmo”, pois não foi nisso que Lutero se tornou. Erasmo de Roterdã teve grande importância durante a Reforma um teólogo holandês: . No auge de sua fama literária, foi inevitavelmente chamado a tomar partido nas discussões sobre a Reforma. Inicialmente, Erasmo se simpatizou com os principais pontos da crítica de Lutero, descrevendo-o como "uma poderosa trombeta da verdade do evangelho" e admitindo que, "É claro que muitas das reformas que Lutero pede são urgentemente necessárias." Lutero e Erasmo demonstraram admiração mútua, porém Erasmo hesitou em apoiar Lutero devido a seu medo de mudanças na doutrina, em seu Catecismo (intitulado Explicação do Credo Apostólico), Erasmo tomou uma posição contrária a Lutero por aceitar o ensinamento da "Sagrada Tradição" não escrita como válida fonte de inspiração além da Bíblia, por aceitar no cânon bíblico os livros deuterocanônicos e por reconhecer os sete sacramentos. Estas e outras discordâncias, como por exemplo, o tema do Livre arbítrio fez com que Lutero e Erasmo se tornassem opositores. O autor vai citar que perante o grande exercito dos humanistas fanáticos, os projetos religiosos de Lutero aproximavam-no do grande humanista que também a ele, como o Erasmo, “ decadência da igreja levava não raro ás lágrimas , que ele sofria a ver o pobre povo alemão oprimido e iludido por um clero ávido. Então Lutero chegara a mesma conclusão do grande teólogo de Roterdã. “Era preciso por um freio nos abusos do papismo e devolver á fé a pureza dos tempos evangélicos” 18 2.3 O Idealismo de 1520 Entender os desejos de um individuo não e uma coisa muito fácil, alguns homens são totalmente dominados, outros se anulam outros se dissolvem em outrem, outros permanecem fechados, outros impenetráveis, inacessíveis, esses e um dos estudos mais acirrados de um historiador para se entender uma causa ou acontecimento. No caso de Lutero ele altamente se emprestou, porque tinha que agir e ninguém age sozinho, sempre polemico, impaciente com qualquer comentário que contradizia referente ao escândalo, seu estilo preferido e sempre estar por cima, ele e dominado por umestupor, por um pavor que lhe dava prazer. Em uma carta que ele escreve ao seu amigo Melanchthon nela ele escreve as seguintes palavras: A força soberana da graça. E eis que ele explica. “Se for pregá -la, não pregue uma graça fictícia, e sim real. Se a graça é real, precisa apagar pecados reais, Deus não salva pecadores imaginários. Portanto, seja pecador e peque fortemente! Porém, mais fortemente ainda, ponha sua fé, sua alegre esperança em Cristo, o vencedor do pecado e da morte”. (Ibid, p.174) Percebe-se nesse pequeno texto o homem tomado pela sua idéia, exaltado de súbito, mas o próprio autor não acredita que Lutero não tenha sido inteiramente tecido por esses prazeres miúdos, mas o que deve ver é a forma exagerada e exaltada de raciocínio que tantas vezes desorientava Lutero, e mais como um monge que acabava de viver anos e anos em um convento, sem contato real com outros homens do mundo, da política, da penosa arte de ganhar a vida, pode ter tanta certeza dos verdadeiros pecados do mundo, o que seria pecar fortemente e não pecar pequeno? No inicio de 1520 começa a acontecer às reações de todo um idealismo de Lutero, em 18 de Janeiro seu mais temível inimigo Johabnnes Eck (teólogo conhecido e respeitado pelos catolicistas) partira para Roma com a intenção declarada de obter, da cúria romana uma condenação que assumia como um caso pessoal, nomeador membro de uma comissão de quatro personagens que incluía ele próprio, assim ele mesmo redigir o texto favorável a sua acusação. Em 15 de junho após longas deliberações consistórios era publicada em Roma a bula “Levanta-te, Senhor”, essa bula porem não excomungou Martinho Lutero, mas se ele jogasse suas opiniões e obras ao fogo ele seria perdoado, Lutero tinha o prazo de sessenta dias para submeter-se, mas o próprio Eck o conhecia bem e sabia que ele jamais se submeteria, em 08 de outubro Aleandro encontrou-se com Carlos V e presidiu um auto fé dos livros e escritos do excomungado. Assim de janeiro a julho de 1520 o circulo foi se fechando em torno de Lutero, e ele foi considerado um herético, mas muitas humanistas alemães sedentos por sede de reforma como Frederico, Ulrich Von Hutten e Erasmo o ajudaram 19 Erasmo escreve uma carta a Leão X e outras cartas engenhosas pedindo a salvação de Lutero, não só a salvação pessoal, mas sim a salvação de uma nova Reforma Cristã. Com tantas pessoas se mobilizando por Lutero e garantido a ele a proteção de Franz Von Sickingen (um cavalheiro alemão, uma das pessoas mais notáveis do primeiro período da Reforma e líder de grandes tropas), ele no começo ficou um pouco constrangido por estabelecer contato direto com um cristão tão envolvido em sua fé. Em 04 de julho de 1520 e enviado uma carta ao monge que vai se difundir por toda a Alemanha, nessa carta esta escrita “Viva a Liberdade”, Lutero sabia que ia sofrer fortes repressões, mas que precisaria lutar e seu grito de liberdade por uma nova Reforma Cristã não poderia ser sufocado. “E iniciado uma nova campanha contra Roma, e publicado em Mogúncia é publicado por Scheffer com outros diálogos o célebre “Vadisco, ou a Tríade Romana”, logo em seguida por violentas escritas “ A sorte esta lançada”, publicado a bula, Hutten dela se apodera e acrescenta vários comentários maldosos e se declara antipapista, ele vai argumenta que a luta não e só por causa de Lutero e sim por toda a Alemanha, ele diz que o Papa não esta puxando a espada somente para Lutero e sim para todo o povo germânico, e nesse momento precioso ele percebe que precisa ampliar seu público e eis que o latim e traduzido para o alemão em panfletos rápidos, violentos que atinge todo povo alemão. Em 10 de Julho de 1520 Lutero registra de maneira definitiva seu desejo de romper com os romanistas, na carta enviada a Roma esta escrito os seguinte dizeres “Não pretendo me reconciliar com vocês” e agindo como verdadeiro revolucionário toma para a si essa preocupação com a liberdade á qual em breve iniciará o tratado da liberdade cristã que dará um novo sentido, e deixa-se levar e se entrega-se aos poucos aos argumentos, aos termas, as invectivas do nacionalismo alemão, anti-romano, tornam-se familiares para ele, assim começa a se inspirar em certas páginas de seu panfleto contra o papado de Roma. Em agosto de 1520 permeiam, anima o Manifesto à nobreza cristã da nação alemão, que ressoa como um toque de reunir todos os germanos contra o inimigo publico. Nesse manifesto contem grandes acusação em regra “ contra Roma, ao papa, á cúria, injurias, abusos da Santa Sé e contra um clero amiúdo e escandaloso, uma exortação a resistência, a revolta de uma Alemanha explorada por papa espoliador e o apelo aos príncipes, aos nobres, aqueles que possuem a força e precisam preserva as liberdades Cristãs, depondo se preciso, um pontífice infiel ou culpado.” Após tantas acusações e reinvidicações foi concedido para todos os cristões o direito de ler a Bíblia e se nutrir da palavra de Deus, posterior vieram declarações de um liberalismo absoluto sobre o direito de cada um de pensar e escrever segundo sua consciência, trazia também o esboço de um programa singular, mais que inconsistente no conjunto de reformas políticos, econômicos 20 e sociais. Esse livro escrito em alemão para o uso de um povo inteiro, ter se esgotado nas livrarias com extraordinária rapidez não foi de se surpreendeu, o livro era endereçado a todo mundo, e todo mundo o comprou, nove em dez alemães estão gritando “Viva Lutero!, e o resto embora não o seguindo juntas-se ao coro para gritar “Morte a Roma”. Lutero continuou sendo o mesmo, o homem do claustro, o homem da torre, o homem que acabou de criar para si mesmo uma certeza a sua medida, o homem que forjou para si, para as próprias necessidades, essa poderosa concepção da justificação pela fé. Roma não ouviu seus argumentos apenas o condenou, Roma não lutava por princípios por ética e sim por interesses para conserva em sua bota uma Alemanha extorquida, por fim era o que Lutero dizia e clamava com sua voz potente e arrastava eco de vozes de cem mil alemães indignados, todos pediam e implorava pela reforma cristã. 2.4 Os Meses em Wartburgo Este é um dos capítulos mais importantes, marcantes e definitivos de Martinho Lutero, pois durante sua estadia num castelo encarapitado nas colinas da Turíngia permaneceu por quase um ano, de 4 de maio de 1521 a 1º de março de 1522, começa dar forma ao seus pensamentos convicto de que não tinha mais retorno, decide aproveitar o que lhe parece positivo e definitivamente negar o resto. Mantém correspondência com alguns aliados, acompanha os movimentos sociais, políticos e religiosos do seu tempo e lugar. Recebe alguns pedidos de padres que queriam se casar e causa um conflito em Lutero, traduz a Bíblia e escreve outros trabalhos dirigidos aos rebanhos distantes. Segundo o autor alguns acontecimentos neste capítulo servirão para pensar no Lutero Luterano, nos acontecimentos ocorridos e ações de segmentos diversos numa Alemanha em transformação, crises e conflitos internos de Lutero quando lhe colocavam alguns dos problemas relacionados à própria Reforma, as diversas maneiras de ver, pensar e de ser do luteranismo. Como o principal protagonista da Reforma, quais eram suas reais intenções e as intenções de quem o seguia e defendia suas idéias? Em suma Lutero só pode ser explicado com o auxilio do próprio, segundo o autor. Havia naquele momento uma Alemanha articulosa em sentidos bilaterais. E é neste cenário que os diversos segmentos desta sociedade insatisfeitos com os príncipes e o papa, que o eleitor Frederico planeja raptar Lutero sem desafiar abertamente o imperador para protegê-lo de seus adversários que estava na Igreja dos papas. Muito bem planejado o rapto que seus inimigos pensavam que Martinho Lutero estava acuado ou fora refugiado na Dinamarca ou naBoêmia. 21 A Alemanha movida por uma grande efervescência, a sucessão de dramáticos acontecimentos: a eleição imperial e suas peripécias, a sagração do eleito em Aachen; as cenas de Worms; a redação das Cem Queixas da nação alemã por católicos e luteranizantes coligados; enfim a grande recusa de Lutero, sua atitude corajosa e obstinada isso tudo acirra os ânimos ao máximo. E os panfletos de Hutten e de seus partidários, do próprio Lutero e de seus partidários terminara m de provocar furiosamente os espíritos.(Ibid, p.208) Momento importante em que se percebem em Lutero declarações que tranqüilizam os espíritos e ao mesmo tempo ousadias que assustam: “A missa privada deve ser suprimida”. Primeiro no livro que escreve, Lutero mostra que ainda é um religioso devotado. O que chama atenção no livro é a palavra PROTESTO. Lutero já previa quando sugerira o suprimento da missa privada que o chamariam de louco, que o acusariam de falar contra o rito da Igreja, contra as decisões de seus padres, contra as histórias abalizadas e os costumes consagrados. E para os que o acusassem de herético ele argumentaria que nunca o seria. Martinho Lutero se apresentava como uma criatura vinda entre contrariedades e hostilidades. Uma pobre criatura que lutava e se debatia em meio às leis do pensamento por vezes perdendo o rumo. Havia o Hutten e todos os outros, os figurantes e anônimo, os panfletos redigidos pregados as portas. Havia as conversas, as palavras veementes dos amigos de Lutero, o antigo levedo dos ódios sociais, das rivalidades de classe, dos antagonismos de interesse, que fermentava. E é sobre tudo isso, palavras que penetravam nas mentes e corações, tudo isso convergia para o pensamento de um único homem que estava querendo apenas viver a verdade do evangelho sem os velhos ritos desgastados de uma Igreja que não mais respondia aos anseios espirituais de um homem que buscava Deus.As palavras que o monge lançara ao vento criavam uma vida estranha, ativa e como que penetrante, e que se alçavam, e ainda se alçariam por muito tempo, por sobre as mais elevadas, mais santas barreiras, no absoluto.Lutero repetira cem vezes: Nada pode prender a alma humana. Eterna, é ela que domina o mundo. Como se deixaria amarrar de fora para dentro; como poderia escutar outras vozes que não a sua? Papas, concílio doutores, de nada valem. Não conta nem mesmo a própria palavra do Livro Sagrado. Se a alma busca em si, e apenas em si, a verdade, há que encontrá-la. Ela só dominasse as coisas deste mundo na medida em que Deus v inha habitá-la e animá-la. No entanto, isso pouco importava para os homens ávidos que serviam dos próprios lábios de um monge em luta, o embriagante vinho da revolta metódica. Poucos se lhes dava que, ao deitar por terra todas as autoridades, eles reduzissem a pó o sistema das mais arraigadas, das mais veneradas crenças e representações coletivas do seu tempo - Lutero ofereceu-lhes, para que pudesse recriar o ambiente necessário ao livre desenvolvimento de suas concepções, o abrigo de uma Igreja feito de homens embalados pelo sopro de uma mesma inspiração e a ajuda de sua tão bem adaptada doutrina da justificação: maravilhosamente p rop ícia para tranqüilizar, apoiar, congregar, em torno de experiências comuns, aqueles q ue se transformariam, com uma mescla de intrepidez e pesar nos exilados da catolicidade. (Ibid, p.212) 22 Assim, naquela Alemanha nervosa e disposta a comover-se, a ação luterana introduzia um motivo suplementar de inquietação... o misterioso rapto de 4 de ma io terminou de sobre-excitar as mal contidas paixões. (Ibid, p.213) Lutero não pensava em calar-se nem diante do papa nem diante dos reis. Atormentado pelos escrúpulos, mas confiando na força da fonte inesgotável de emoções e convicções patéticas que sente fervilhar em si, esse homem, esse cristão fervoroso, vem proclamar diante do mundo sua ruptura com a Igreja e consumá-la sem fraquejar, se não sem sofrer, em nome de um Deus que ele percebe viver e falar dentro de si, ainda está quente da luta. Há um Lutero que busca resposta sobre seu Deus em si mesmo, mas há a incerteza não só em relação ao futuro, mas ao presente. Quem é ele, naquele reduto que o escondem? Um homem livre ou prisioneiro? Qual será a intenção do eleitor, que fidelidade é a sua e como reagirá o imperador ao saber disso? Sentia na sua solidão todos os apetites possíveis de um ser humano normal, sentia a falta de uma presença amiga, uma carícia, sentia a carne indômita tremer, os apetites e os desejos e todos os pecados que Lutero, em 13 de julho de 1521, em uma célebre carta a seu caro Felipe Melanchthon, reconhece com candura, satisfeitíssimo por denegrir a si mesmo; lá estão as confissões, as “cínicas confissões” de Martinho Lutero, que usam contra ele, ante o olhar entristecido dos luteranos. Um homem sozinho buscando seu Deus, em conflito consigo, sentindo-se fraco e ao mesmo tempo forte para os seus adversários e para aqueles que o protegem. Preocupado com seu sedentarismo faz um questionamento sobre sua ociosidade, sua sedentariedade e como um ser gerador de maus pensamentos. É nos volumosos livros de Grisar que se encontra uma tentativa de levanto completo da produção luterana. O Magnificat adaptado para o alemão e interpretado, que os estrasburgueses verteriam em latim para uso dos franceses; os sermões para domingos e feriados, o Evangelho dos dez leprosos, a sincera admoestação por Martinho Lutero a todos os Cristãos para que se resguardem da insurreição e rebelião, dois escritos sobre os votos monásticos, dois sobre a missa, alguns combates de retaguarda sobre as antigas posições de Worms ou sobre a bula (Ceia do Senhor) além da tradução da Bíblia em alemão, empreendimento de magnífico e furioso impulso. Começando pela tradução do Novo Testamento, iniciada no próprio castelo de Wartburgo em dezembro de 1521, concluída e publicada em setembro de 1522. E um destes maiores combates se deu na tradução inteira da Bíblia para o alemão. Combate com uma língua rebelde, mais precisamente duas línguas, cujas disparidades precisavam conciliar e combinar dentro de si. Ali, a fria, artificial, alambicada língua administrativa, a língua usada desde o 23 século XIV pela chancelaria saxônica. Então, conciliar os dois idiomas, buscar a palavra certa, a formulação verdadeiramente alemã, a que permitiria aos homens As lutas de Lutero contra o diabo, belos combates que falam à imaginação do povo alemão abordarem e compreenderem a palavra de Cristo tal como o filho entende, compreender a palavra de sua mãe. Combates de língua e estilo. Há outros, não menos árduos: os combates de Lutero com um texto que, justamente, nunca passou por simples e fácil de compreender. Seus constantes embates com tantas dificuldades tantas obscuridades que desanimam até os mais doutores. O édito de Worms, de 26 de maio de 1521, transforma-o em inimigo público número um. Qualquer cristão que o encontrasse poderia matá-lo impunemente, sem nada recear além de aplausos. Lutero sentia Deus gritar em sua consciência: “Você está certo, persevere!” Com que estado de espírito, porém, aceitava sua reclusão? Ninguém se pergunta. Cúmplice do próprio rapto, Lutero só podia estar satisfeito com aquela internação. Atrás das espessas muralhas de Wartburgo, respirava aliviado. Não viriam buscá-lo. Não temia pela própria vida. Entretanto, desde o início de seu cativeiro, Lutero acompanhava com inquieta atenção o desenrolar dos acontecimentos em sua querida Wittemberg. Conservava no peito a mais vívida preocupação com o pequeno rebanho que parecia ter-lhe sido mais particularmente confiado. E, já nesta época limitava de bom grado seu horizonte às coisas da Alemanha, em 1º de novembro de 1521, em uma carta a Gerbel, escreve essas significativas palavras: “Nasci para os alemães e quero servi-los”.Não que, passível de um sentimento pessoal, julgue ele que, estando ausente, tudo esteja perdido. Reconhece sem dúvida, ser um bom intérprete do Evangelho; atribui a Deus o mérito de sua maestria; mas existe datada dos meses em Wartburgo, uma série de cartas extremamente tocantes, de uma delicadeza de sentimentos e expressão bastante rara naquele século brutal todas destinada a inspirar a seu Felipe Melanchthon uma autoconfiança que a modéstia deste último, além de certa timidez de erudito temeroso de trocas vulgares, impedia demasiadamente, para o gosto de Lutero, de manifestar. Esse Lutero que não cessa de incentivar Felipe Melanchthon, de exortá-lo a falar e agir como chefe, esse Lutero de Wartburgo, assim como não é um recluso assustado e beato, não é um político temeroso de que ocuparem seu lugar. A imagem que ele apresentava era muitíssimo mais curiosa; a de um idealista impertinente às voltas com duras realidades, com os caprichos, as paixões, as vontades dos homens. De perto, tão de perto quanto é possível, da Turíngia e de seu castelo no bosque, Lutero acompanha o grande trabalho a realizar-se entre os homens. Idéias ousadas, semeadas ao vento pelos inovadores; iniciativas não raro prematuras ou mal calculadas; 24 impaciências, fúrias, excessos das multidões; ele tudo acolhe, tudo pesa, tudo suporta – sem impaciência nem timidez, sem medo covarde, com toda a sinceridade e largueza de espírito. O recluso tem, aliás, mesmo sem querer, muito que fazer. Naqueles meses do verão e do outono de 1521, os acontecimentos andam a passos largos. Por toda parte há tumultos, gritos, rixas, palavras violentas e desmedidas, um estardalhaço de sedição. Agitada por centenas de panfletos anticlericais, sobre-excitada por sacerdotes dissidentes e religiosos rompendo a clausura, a multidão parece dar início, aqui e ali, a uma violenta revolução contra o clero. Em Erfurt, em junho, alguns bandos atacam, pilham e devastam as residências dos eclesiásticos. Seu exemplo é seguido, os incidentes se multiplicam por toda parte. As pessoas pacatas se assustam, falam em exemplos necessários, em repressão. Lutero resiste á correnteza, ele não protesta o Evangelho não estará comprometido se um dos nossos pregadores for contra a moderação, e aqueles que, por uma causa assim, se deixarem desviar da Palavra não estarão interessados na Palavra, mas na excitação da Palavra... Falar mal de um predicador de ímpio: pecado menor do que aceitar, sem revolta, sua doutrina. O fato é que, cada vez mais, por iniciativa cujo controle escapa a Lutero, uma enorme pergunta é colocada, pela ação prática, à especulação teórica: será legítimo efetuar a reforma por meio da violência, contribuir com a força para a vitória de Cristo sobre o Anticristo Romano? Centenas de luteranos, nas cidades, opinam que sim, com sua atuação. Lutero responde que não: mas poderá manter sua posição por muito tempo? Reformador: quando isso se cumpre; quando Lutero realmente se apropria das idéias que lhe foram como oferecidas por outrem; quando as mobiliza como suas, em toda a acepção do termo então ocorre uma explosão repentina, um desses saltos bruscos. Eis que o hesitante do início, o indeciso, o inquieto ultrapassado cheio de audácia os que o puseram em movimento. Lutero denunciou o poder secular e as nobrezas deveriam exercer sua autoridade regular, cada príncipe e cada senhor em seu domínio. O poder secular e a nobreza deveriam exercer sua autoridade regular, cada príncipe e cada senhor em seu domínio. A história de Lutero e do Luteranismo para poder discernir já então, naquele apaixonado esforço e anexação, o germe de fragilidade e morte que viria a destruir tudo. Mas o que se pode dizer e desde já diz tudo. Pois o que avulta da alma ardorosa desse grande visionário, desse grande lírico cristão é um poema, e não um plano de ação. 25 TERCEIRO CAPITULO 3 A revolta de um povo 3.1 Anabatistas e Camponeses Havia na sociedade muitos luteranos, uma sociedade que se desenvolveu dentro de um moralismo farisaico. Uma fé visionária animava alguns protagonistas desta época. Entre esses personagens estavam o Príncipe Eleitor, Frederico, que, sugerira a Lutero ficar em Wartburgo, porque corria perigo por se expor demais, Carlstadt, Melanchon, camponeses e os Anabatistas. A questão era: o que queriam estes protagonistas que via em Lutero um instrumento de transformação histórica na Alemanha através do movimento religioso? E o que pensava e desejava Lutero no fundo da sua alma? Onde começava as contradições do pensamento de Lutero e uma sociedade que desejava mudanças? Qual o interesse de um Príncipe Eleitor proteger Lutero num castelo? Primeiro, ao estudar a personalidade de Lutero, descobre-se um homem em conflito, um homem que trazia dentro de si duas almas. O povo que o seguia, e o queria mais do que um reformador, foi forçado a mudar seus projetos. O relacionamento com os protagonistas que o seguia parecia mais complicado do antes. Lutero ao visitar as massas que o seguiam reassume sua liderança sobre eles. Lutero ainda convicto de que queria apenas falar da salvação pela fé e as massas com interesses diversos levaram a esta contradição. Nem Lutero era capaz de voltar atrás e nem eles seriam capaz de imitá-lo. Martinho Lutero voltando outra vez para Wittemberg escreve ao eleitor dizendo que não precisava de proteção de homens e que Deus o guardava. Oferecia sua vida em sacrifício, saia sozinha, sem armas, sem guarda-costas, sonhando seu sonho de justificação pela fé. Contrariou enfim o desejo de Frederico ao voltar com pressa para Wittemberg. As ações do protagonista que estavam encantados por Lutero, entre eles Thomas Muntzer, um padre iluminado, apoiado pelos artesãos tentara instaurar "o Reino de Cristo". Desejava um reino sem reino, sem magistrado, sem autoridade espiritual ou temporal, e também sem lei e sem Igreja, nem culto, e cujos súditos livres, resgatassem as escrituras e vivendo uma vida comunitária onde repartiriam tudo. Zwickau, um magistrado, reagiu duramente, mandou prender e acabou com o movimento, este padre, um dos protagonistas e simpatizantes das idéias de Lutero também não tinha entendido nada do que Lutero vinha pregando. Nicolas Storch, Thomas Drechsel e Marcus Thomae, que faziam parte deste movimento do padre, trazem apóstolos passaram a cumprir sua missão de homens de Deus repletos das 26 graças de Deus e do Espírito Santo. Mas, logo houve um estranhamento de suas doutrinas, referiam a Lutero com desprezo, discursavam contra as ciências, apologia ao trabalho manual, além de incitações de quebra de imagens, que mexeriam com o povo de crenças tradicional da Igreja Católica. Carlstadt aderiu aos movimentos deles e em pouco tempo estes profetas arremessando contra a Igreja saquearam-na. Baseados no texto Bíblico que diz: Não fará para ti imagens de escultura" quebraram e saquearam tudo na Igreja. Melanchthon não sabia mais o que fazer, chamou Lutero para resolver aquele caos. Queria que não corresse sangue por causa desses profetas que queria resolver as coisas a seu modo. Todo o povo, homens, mulheres, crianças, todos viam em Lutero um herói. Os eruditos eram entusiastas e animados por Lutero. Viam em Lutero como um gênio para seduzir e dominar, descobriram em Lutero um herói. Mal Lutero partira e eles começaram a trabalhar contra ele, Feudo de Carlstadt, juntou o povo diante da casa do Magistrado e começou a insultá-lo. Artesãos e um sapateiro falavam mal de tudo, isso causou em Lutero uma impressão violenta. Lutero teria se recolhido, mas tomou decisões e agiu, ele tinha de um lado, um grupo de príncipes católicos ameaçando-o, perseguindo-o e cerceando seus escritos. Nas cidades burguesas influentes, letrados de outras terras, que no início haviam apoiado Lutero, agora estavam com Erasmo. Os extremistas criticavam Luteropor não ir até o fim do pensamento. Acusavam-no de preservar demais seus ritos, práticas, sacramentos do catolicismo. Desejam que Lutero construíssem com eles, na Terra o Reino de Cristo. No entanto havia ainda um pequeno exército de fieis luteranos, mas preocupados porque achava que Lutero os abandonara. A questão era, diante da Igreja que eles tinham abandonado por causa de Lutero, porque tardava Lutero de erguer uma nova Igreja? Uma Igreja clara, vasta, espaçosa, moderna, a igreja deles, com uma bela ordem estabelecida, cerimônias perfeitamente regradas, dogmas definidos, ritos uniformes. Mas, Lutero estava preocupado só com uma coisa, a palavra, sua missão neste mundo. Dizia ele que a palavra não se aplicava aos problemas do século. O Evangelho não trata de assuntos temporais, nem de saber se a justiça reina neste mundo, sofrer, padecer, suportar a injustiça, carregar sua cruz, isso ao contrário, ele ensinava aos cristãos. É esse seu destino humano, que ele deve aceitar ou não de coração dócil. Dizia Lutero que o maior erro de Carlstadt foi dar a entender ao povo que a essência do cristianismo deve ser buscada na destruição de imagens, na supressão dos sacramentos, na oposição ao batismo. Os verdadeiros crentes realizam seu ofício divino em espírito. Como fica o Estado, a política e os príncipes? Visto que os Anabatistas tratam delas, por sua vez, com o espírito de intransigente e violência. Como anunciador da Palavra, ele 27 despreza os poderosos deste mundo. Não esconde do povo nenhum de seus vícios, exações ou mesmo crimes. Prevê as revoltas, por toda parte havia um povo agitado e de olhos abertos. Lutero insistia colocar em oposição, a vida espiritual e a vida material. Continuava a definir o ser humano como a soma de um cristão com um mundano. O mundano, sujeito as dominações, submisso aos príncipes, obediente as leis. O cristão libertado das dominações, livre, de fatos, sacerdote e rei. Porém, se umas crises suscitassem nas consciências um violento conflito entre sentimentos cristãos e deveres mundanos, poderiam essa sutil distinção resistir à provação? Os camponeses se encarregaram de dar esta resposta. Martinho Lutero teria renegado a guerra dos camponeses? Talvez sim, talvez não. Lutero foi visto como líder da sedição. Acham que suas doutrinas tinham provocados este conflito, apontava que ele era o defensor dos oprimidos, o patrono dos revoltosos. Mas afinal, o que queria Lutero? Examinar o que há de justo ou injusto nos pedidos dos camponeses? Ser juiz de um desacordo político-social? De forma alguma. Queria apenas tratar de um ponto de religião. A revolta dos camponeses era como um raio súbito. Lutero viu como era de foice na mão e lança em riste, o homem do povo, miserável, inculto e grosseiro, que não se conformava. Prometer os frutos da vida cristã pareceria para os camponeses um sarcasmo. Uma fé visionária que animou alguns gênios heróicos. Seu corpo, porém permanece na terra. O cidadão é só do Céu, a cidade terrestre não aspira a dirigir nem melhorar. 3.2 Erasmo é a razão Lutero sobrevive, necessita apenas adequar-se há algumas formas, e com isso o autor vem destacar, certas atitudes e algumas relações do Lutero em 1525. Estava ele tocado, porém não era de seu feitio romper, com aquelas pessoas que estavam irritadas e unid as para acabarem com sua obra, mesmo cansado não se intimidou, foi à luta para enfrentar e provar que tinha razão de que o Cristo que ele pregava era único e verdadeiro, isso deu força para que ele se proteja contra os que o atacavam. Em 1523 e 1524, Lutero se encontrava em uma situação desagradável e passava por várias dificuldades, mas apesar do preferido do saxônio não enviar-lhe ajuda, Lutero se defende como pode, apesar de não está só, pois todos aqueles que cortam relacionamento com a Roma recorrem a Wittenberg, para ver “o homem da Fé”, pois aquelas pessoas, mulheres freiras acreditavam que estando junto de Lutero, estavam de algum modo seguras e amparadas e é o que ele tenta fazer. 28 Após enfatizar com dificuldade o comportamento de Frederico, Lutero escreve a Spalatino para questioná-lo se está dando ou não o prejuízo ao príncipe, pelo contrário possa ser que não vejam mais quando não lucram, com esse levante do evangelho, além da salvação de suas almas? Porém, que pode ser notado em meio a essas cartas, é o quanto Lutero se dedicou e não obteve retorno algum. Mas Lutero continua com sua teimosia e sua idéia fixa contra os espiritualistas místicos e proclama um ataque. Por volta do fim de 1524, e começo em 1525, onde faz duas críticas contra o sacramento às imagens e os profetas celestes, mas ainda em 1524, fala dos fieis de Estrasburgo das tentações, de suas ilusões que teve inicialmente em defender e assumir legalmente a tese em que há apenas pão e vinho no santíssimo sacramento e concluir um ato decisivo ao papismo. No texto é muito denso e Martinho Lutero está envolvido demais, para se dar conta que estava enganado e o que lhe prendia era o seu instinto religioso, mas não era preciso mudar nada e sim consultar a razão, já não haverá mistério algum para crer, era essa razão que o crente Lutero e não chefe investia cegamente assim que o avistava. Com essa mesma consciência que Lutero persegue em Erasmo, pois a razão era inimiga de todo o misticismo que era compreendido pela intuição, pois não há artigo de Fé mais seguro que a razão, porem ambos tinham certa proximidade, pois almejavam a reforma da igreja, mas foram as contemporâneas que notaram um choque brutal entre ambos “arbítrios”, o servo e o livre, onde ocorre o rompimento definitivo entre os humanistas e a Lutero com seu sentimento cristão. Lutero não aceitava o título de chefe, pois se fosse teria feito algo para evitar esse rompimento ao invés de se levantar contra Erasmo e não se dava conta que sua ideologia que o induzia por força maior estava fazendo dele um conservador, já não se importando com as teses que até então iam contra a sua opinião para possibilitar, integrá-los e sustentar o seu sentimento, muito pelo contrário estava empobrecendo e se afastando do mesmo, longe de tentar apaziguar sent ia prazer e transformar a si mesmo e aos outros com intimidação e injurias. 3.3 O casamento com Catarina de Bora Em 1525 Lutero choca o mundo quando casa-se com Catarina de Bora, freira que largou o hábito, ele em tempos passados afirmava que nunca iria se casa, mas com o tempo mudou sua opinião. Essa união para os contemporâneos era um tanto obscura, pois Lutero nunca demonstrou em seus escritos algo a confirmação por Deus em sua união com Catarina. Será que Lutero tinha se tornado um covarde contra seus princípios? Com seu casamento repentino com Catarina, houve um grande distúrbio nesses tempos agitados. Segundo o autor Lucien Febvre, Lutero se encontrava acordado sem rumo, em meio a um sonho se vê acordado 29 rodeado por rivais ofensivos, porem há algo maior, mais forte, expressado na carta endereçada a Schuldorp, dizendo que se casou para zombar do diabo, dos príncipes, bispos que criam empecilhos para que isso não ocorra. 3.4 Obedecer à autoridade Nota-se como foi desprovida a tradução do fato real que foi apresentado à história tradicional, Lutero foi obrigado a abrir mão do ataque agressivo para seguir o mesmo caminho dos homens e dos fatos, fingindo para si mesmo a dimensão do seu recuo de atitude firme, contra os opositores que estão pressionando-o, mas e como ficava suas idéias, sua doutrina, as afirmações de tempos passados? Lutero sem duvida, com toda sua alma, frente a frente com sua consciência jurava “não se retratar”, e assim estava sendo sincero consigo mesmo e com Deus. Lutero exige que os rapagões e os cabeças duras, obedeçam sem reclamarem, sem hesitarem, alegando ser proibido questionar aquilo que Deus ordenou, e diz simplesmente que obedeçam.Deixando uma série de restrições, referindo- se ao cristão livre, que tem o Estado que é uma instituição divina e não existe nada mais importante, legitimando plenamente em Deus do que o poder dos príncipes. Lutero após 1525 escreve outro texto, dessa vez de maneira mais brutal. ``Os príncipes do mundo, deuses; o vulgo, Satã”. Como, então, se revoltar? Quem ousaria? Em nome de quê? Não, não, `` Mais vale os tiranos cometerem mil injustiças contra o povo do que o povo, uma única injustiça contra os tiranos``. (Ibid, pg 290) Após 1525 Lutero recorre à imposição da mecânica das leis, ação repressiva das autoridades. Segundo Lucien Febvre, Lutero já não escreve mais em latim, pois ele já não se dirige a cristandade, e sim, a Saxônia Luterana. Homens daquele tempo tentam explicar os pensamentos profundos de Lutero, que estão rumo a um além drástico, pois os profetas aburguesados encontram-se domesticados. Em 1532, Lutero afirma que o casamento é à base da economia, da religião e da política. Mas segundo Febvre, existe um grande problema, pois Lutero no início de seu percurso, declarava que o casamento era um pecado, portanto o monge se encontra em conflitos com suas própria opiniões. Segundo Felipe Melanchthon, (reformador alemão, amigo de Lutero e apos sua morte se converteu no principal líder luterano) se distanciou de Lutero, falava de uma penitência, de uma preparação moral, que é associada a lei e a razão natural. Para o autor, foi a partir dessas idéias Melanchthonianas que se abriu espaço para a igreja Luterana, substituindo as idéias do Mestre, para a teologia de Melanchthon que nada mais foi, que uma adequação do pensamento luterano, para beneficiar a burguesia. Segundo Lucien Febvre no período de 1525, a principal bandeira na qual o 30 Reformador conseguiu unir a Alemanha, foi o descontentamento com o papado que uniu camponeses e príncipes, foram as altas tributações que Roma induzia as católicos daquela época. E é dentro deste espaço de forte introdução da igreja Romana que Martinho Lutero escreverá, organizará e denominará de Doutrina dos Dois Reinos, onde o Deus é cheio de amor, misericórdia e justiça, já o secular é o reino da severidade e ira, onde neste se condena, castiga e julga, para punir os maus e proteger os justos. Para Febvre, Lutero entende que o reino do mundo é onde pode e deve ser aplicadas duras penas, para garantir o bem estar e a ordem social, e, portanto, apoiará abertamente que os príncipes usem de seu poder secular para castigar aqueles que se posicione contrário ao Estado. E é com este pensamento de homem conservador, que segundo Lucien Febvre, Martinho Lutero condena o movimento dos camponeses, liderado por Thomas Muntzer, deixando milhares de camponeses mortos. Portanto devemos ressaltar que Lutero naquele período, foi considerado um herege, porém não foi para a fogueira, muito pelo contrário, recebeu o apoio do príncipe Frederico da Saxônia e de muitos outros, que viram em Lutero uma forma de romper com o catolicismo e poderem contestar as riquezas da igreja que neste contexto,era a maior detentora de terras, e assim se libertando das tributações impostas por Roma. CONCLUSÃO O autor e historiador Lucien Febvre expõe nesse livro a vida do fundador da igreja luterana, em que a história de um individuo se entrelaça com o destino de uma época, e os acontecimentos que levaram a sua edificação. O autor não expõe somente os acontecimentos da vida de Lutero, ele vai expor também a sua parte psicológica e o que o levou a tomar certas atitudes em sua vida. Martinho Lutero não foi um herói por ter realizado uma reforma religiosa e sim por ter desafiado as duas autoridades máximas em sua época, como o Papa e o imperador Sacro Império Romano Germânico. O livro apresenta Lutero como um homem normal, que tem pensamentos e atitudes contraditórias como qualquer outro ser humano, diferente de algumas pessoas religiosas que o consideravam como uma imagem semidivina. O livro apresentou para nós uma boa leitura, com dificuldade para interpretar algumas passagens, mas estava dentro da nossa área acadêmica. BIBLIOGRAFIA FEBVRE, Lucien. Martinho Lutero, Um destino. São Paulo: Editora Três Estrelas, 2009 31
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