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Resumo - reforma protestante

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A quebra do elo...  Lemos & Alves 
 
 
A quebra do elo: as consequências da reforma protestante 
para o fim das mediações sacerdotal 
 
Douglas L. Lemos 1
Adjair Alves 2
 
 
Resumo: 
 
 A Reforma Religiosa do século XVI constituiu-se 
marco decisório na constituição do caráter de homens e 
mulheres, não apenas daquele período, mas da humanidade que 
a sucedera. Um contexto de profunda transformação da 
mentalidade europeia Ocidental, cujas consequências, 
fomentadas pelos ideais humanistas e renascentistas, podem ser 
encontradas em séculos posteriores.. Discutir, as consequências 
em termos das relações de poder encetadas pela fé religiosa 
(reformada), torna-se o objeto do presente artigo, que objetiva 
abordar o período do contexto da Reforma, em seus aspectos 
social, político e religioso. Identificar os desdobramentos do 
processo histórico desencadeado pela publicação das teses 
luteranas, tendo como principal foco de análise, o surgimento e 
 
DIÁLOGOS – Revista de Estudos Culturais e da 
Contemporaneidade – N.° 8 – Fev./Mar. - 2013 
135
                                                            
1 Graduando em História pela Universidade de Pernambuco. 
2 Filósofo e Antropólogo – Professor Adjunto na Universidade de 
Pernambuco. Líder de Grupo de pesquisa credenciado pela UPE e com 
registro no CNPq por nome: ARGILEA – Antropologia, Religiosidade, 
Gênero, Interculturalidade, Linguagens e Educação Ambiental. Atualmente 
vem realizando pesquisas nos temas: Mudança Social, Religiosidade no 
meio urbano e Rural, Gênero, Etnicidade, Antropologia do Meio Ambiente 
e Desenvolvimento Sustentável. 
 
A quebra do elo...  Lemos & Alves 
fortalecimento da doutrina do sacerdócio universal, que se 
constitui o cerne das análises, aqui apresentadas. 
 
Palavras-chave: Reforma, protestantismo, religião, 
sacerdócio, luteranismo. 
 
 
 
A sociedade europeia do século XVI fora, 
forçosamente, retiradas de seu universo interior de acomodação 
cultural e intelectual, e expostas a novos valores que iriam 
produzir efeitos tão profundos que findariam em dividir uma 
Europa que antes estivera, ao menos no aspecto religioso, 
unida pelos laços comuns do cristianismo romano. A 
dissolução não era o objetivo de todos os reformadores, mesmo 
assim, tornou-se caminho inevitável ante o recrudescimento 
das práticas pouco ou nada espirituais da Igreja Católica 
Romana, evidenciadas nas atitudes de seus clérigos. 
Os questionamentos que sobrevieram à religião não 
são obra de um só momento, mas o resultado de um acúmulo 
crescente de conflitos e discordâncias internas que surgiram 
durante os séculos anteriores ao XVI. 
Os cátaros (ou albingenses), no final do século XII, 
maioria no sul da França, propuseram uma existência dualista 
em que o Deus bom, criador da alma humana, e o deus mau, 
criador do mundo visível, conflitavam permanentemente. Para 
eles a matéria era fruto do mal e tudo quanto estivesse ligado 
ao prazer da carne seria obra do maligno. A resposta da Igreja 
foi uma cruzada para a aniquilação dos albingenses. No mesmo 
período, os valdenses, com aproximadamente 35.000 crentes 
no norte da Itália, pregavam uma vida de pobreza e distante dos 
valores materiais, antecipando muitos dos valores dos 
 
DIÁLOGOS – Revista de Estudos Culturais e da 
Contemporaneidade – N.° 8 – Fev./Mar. - 2013 
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A quebra do elo...  Lemos & Alves 
reformados do século XVI, e acabaram sendo excomungados e 
perseguidos. 
Em toda Europa surgiam grupos reacionários guiados 
por lideranças místicas que propunham uma nova experiência 
pessoal com a divindade e questionavam a pouca 
espiritualidade clerical. Catarina de Sena (1347-1380), com 
suas visões, persuadiu Gregório XI a voltar de Avignon para 
Roma em 1377; João de Ruysbroeck (1293–1381) influenciou 
o movimento místico na Holanda e integrava o grupo 
conhecido como Devotio Moderna, ou os Irmãos da Vida 
Comum. Além destes, reformadores como João Wycliffe 
(1328–1384) e João Huss (1373–1415), na Inglaterra, e 
Savonarola (1452–1498), em Florença, se empenharam em 
tentar levar a Igreja aos ideais do Novo Testamento, no que 
fracassaram. A resposta da Igreja a partir do século XII aos 
movimentos considerados heréticos foi a tortura através da 
Inquisição. 
O colapso da irmandade universal – católica era 
iminente e daria origem a uma “nova” fé, a qual se atribuiria o 
valor de reformada. À frente dessa Reforma estava um monge 
agostiniano, Martinho Lutero, profundamente angustiado e 
afligido pela consciência de seus pecados, para os quais não via 
a possibilidade de perdão. A tensão espiritual interior de Lutero 
era, na verdade, um sentimento evidente em muitas pessoas. A 
prática comum, todavia, estabelecida pela Igreja para lidar com 
a questão do pecado e do perdão era a venda das indulgências. 
Quaisquer pessoas poderiam diminuir seu tempo de sofrimento 
no purgatório e encher-se de méritos que contrabalanceassem 
com suas faltas, a ponto de garantir-lhes, por fim, um bom 
lugar nas moradas celestiais. 
A partir da publicação de suas 95 teses (1517), Lutero 
se indispõe publicamente contra a Igreja e demonstra a 
necessidade de mudanças, condenando veementemente a venda 
 
DIÁLOGOS – Revista de Estudos Culturais e da 
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A quebra do elo...  Lemos & Alves 
de indulgências. O Protestantismo emerge dando ênfase a três 
doutrinas principais: a justificação pela fé, o sacerdócio 
universal, a infalibilidade apenas das Sagradas Escrituras; a 
Bíblia. As repercussões dessas pregações seriam tão 
contundentes, que dividiria a Europa entre Protestantes e 
Católicos, motivo pelo qual, manifesta é a necessidade de uma 
sempre nova, aprofundada e investigativa análise do seu 
contexto e desdobramentos. 
Discute-se aí, a participação do indivíduo na 
construção de sua própria identidade e realidade espiritual, o 
que inevitavelmente repercute nas questões políticas daquele 
tempo. Colocada ao alcance de cada homem e mulher, o guia 
da fé cristã – a Bíblia vai dar a cada um deles a oportunidade 
de investigar e questionar o papel dos sacerdotes e reis no 
contexto da vida cotidiana. 
 
 
I. O cenário da Reforma Protestante: uma igreja em 
controvérsias 
 
Muito se discute sobre o caráter sócio histórico e 
filosófico da Reforma Protestante. A questão é, sem dúvida, 
complexa. Reforma como assinala Keith Randel (1995: 8-9): 
foi o termo usado para descrever o “complexo conjunto de 
fatos que durou a maior parte do século XVI, pelo qual uma 
significativa minoria dos membros da Igreja católica foi 
perdida para as novas igrejas protestantes”. Já Earle E. Cairns 
(1995: 224) afirma que, “não é fácil aclarar o sentido do termo 
Reforma”, demonstrando que há que se levar em conta algumas 
particularidades, tais como a situação social e política do 
contexto histórico, que acabou sofrendo interferências do 
movimento não apenas religioso, mas filosófico, no momento 
que se busca sua melhor compreensão. 
 
DIÁLOGOS – Revista de Estudos Culturais e da 
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A quebra do elo...  Lemos & Alves 
Certo é que a Reforma Protestante possui várias 
causas inter-relacionadas, e nenhuma delas por si só pode dar 
uma explicação completa sobre o movimento. A multiplicidade 
de causas que deram força e forma à Reforma Protestante exige 
uma abordagem interdisciplinar, com a análise dos vários 
fatores relacionados. Essa é uma visão mais moderna que tem 
sido usada por historiadores que procuram enxergar os eventos 
de forma mais ampla e buscar compreender os diversos 
aspectos da vida social daquele período. 
Segundo afirma Delumeau (1989: 60), “se tantas 
pessoas na Europa, de níveis culturais e econômicos diferentes, 
optaram pela Reforma, foi por esta ter sido em primeiro lugar 
uma resposta religiosa a uma grande angústia coletiva.” A 
religião, portanto, aparece aí, como característica principal do 
protestantismo e sobre ela recai o fardo histórico,sem que se 
deixe de observá-lo sob outros prismas. 
O pensamento do século XVI contou com os 
elementos da incerteza e da dúvida, contrariamente ao 
pensamento medieval onde as verdades fixadas como eternas 
impunham limites aos homens. Mas o mundo medieval 
desfalecia ante o novo tempo, a era das grandes descobertas, do 
Renascimento italiano, do Humanismo, da ciência; urgia a 
necessidade de uma nova forma de lidar com as questões 
humanas, de uma nova concepção de existência e de 
relacionamento com a natureza, com o divino e com o 
próximo. 
Do ponto de vista cultural, o século XVI, encontra-se 
marcado por uma intensa vida rural. A vida de homens e a 
mulheres europeias estava, essencialmente constituída pelas 
atividades econômicas ligadas ao campo; lavrando o solo e 
cuidando de animais para seu sustento. Um mundo, 
basicamente, dominado por superstições e demônios que 
viviam a espreita, vigilantes, pronto para se apoderar e 
 
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A quebra do elo...  Lemos & Alves 
escravizar a alma humana, levando-a às profundezas do 
abismo. Os grandes poetas como Dante, Virgílio, Cervantes, 
Bocage entre outros, expressam o caráter temerário que 
assolava aquele mundo. A morte era tema presente na 
musicalidade e encenações teatrais; era a senhora, onipotente, 
de quem nenhum ser humano poderia escapar o domínio. 
O crescimento do comércio havia forçado o homem 
europeu a se lançar cada vez mais ao mar. O destino era o 
Oriente e suas desejadas especiarias. Assim, suas embarcações 
deixam a Europa e retornam com ratos infetados que flagelam 
o continente com a “Peste Negra”, desde o mar Mediterrâneo 
até o mar do Norte, levando consigo parte considerada dos 
habitantes. Vez por outra as pestes se repetiam. 
No decorrer do século XIII e início do XIV a Igreja 
Católica estivera dividida. Clemente V havia transferido, em 
1309, o papado de Roma para Avignon, onde permaneceu sob 
influência dos reis franceses até 1377, quando Gregório XI 
retornou a sede da Igreja para Roma, sob os apelos da mística 
Catarina de Sena, pondo fim ao período chamado Cativeiro 
Babilônico. Contudo, no ano seguinte, Urbano VI, não tendo 
entendimento com os cardeais, declarados inimigos seus, viu 
aqueles que o puseram no papado elegerem outro papa, 
Clemente VII, que imediatamente transferiria a sede para 
Avignon mais uma vez. Era o Grande Cisma, e agora a Igreja 
possuía dois chefes. Os europeus, atônitos, teriam que escolher 
a quem obedecer. A situação se agravou quando em 1409, no 
Concílio de Pisa, numa tentativa de unificar novamente o 
papado, os cardeais elegeram Alexandre V como papa 
legítimo. Benedito XIII, em Avignon, e Gregório XII, em 
Roma, negaram-se a reconhecer a decisão do Concílio e 
excomungaram seus membros. Três papas comandavam uma 
Igreja completamente dividida. Somente o Concílio de 
Constança (1414-1418) resolveria este grande impasse. 
 
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A quebra do elo...  Lemos & Alves 
Os acontecimentos denunciavam as consequências da 
triste condição pecaminosa de todos os homens. Assim eram 
vistos os grandes eventos que se desdobravam ante os olhos de 
pessoas quase totalmente desesperançadas. Não se podia 
resistir aos apelos da consciência e todos eram culpados. As 
pessoas estavam perdidas procurando um sentido para a vida. 
Precisavam de esperança, de alimento, de perdão, de disciplina 
e dos cuidados da Igreja. Ao invés de alento recebiam 
indulgências, penitências, excomunhão e interditos. 
Quando o monge agostiniano Martinho Lutero iniciou 
suas pregações sobre a justificação pela fé, mediante a qual 
todas as pessoas poderiam alcançar a salvação pessoal 
exclusivamente pelo ato de crer no sacrifício de Cristo na cruz, 
afirmando que as obras (leia-se jejuns, peregrinações, 
martírios, aquisição de indulgências, etc.) para nada serviriam 
ao pecador quando apresentado diante de Deus, certamente as 
multidões encontravam-se preparadas para receber as suas 
idéias. Camponeses pobres, comerciantes ávidos pelo lucro 
condenado pela Igreja Católica, intelectuais ávidos de uma 
nova teologia, mais próxima dos ideais humanistas, nobres e 
príncipes ansiosos por verem-se livres dos tributos de Roma, 
todos poderiam ver na Reforma Protestante um motivo para 
aceitação, ante suas próprias necessidades. Assim, não 
demorou para que as idéias de Lutero deixassem sua mente 
afligida pela crueldade de seus pecados para alcançarem os 
corações de muitos cristãos igualmente contritos e aflitos. 
 
1. Cenário teológico e controvérsias 
 
Iniciava-se o século XVI e a Igreja Católica estava 
distanciada da essência cristã de irmandade, de seus 
fundamentos inerentes à entidade religiosa que rogava para si a 
responsabilidade da condução das almas dos homens ao 
 
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contato com o divino para eterna redenção. Seu amontoado de 
dogmas e doutrinas que por vezes conflitavam entre si, em suas 
fundamentações; sua estrutura eclesiástica corrompida pela 
insaciável sede por riqueza e poder; a profanação das liturgias e 
do culto com elementos estranhos à igreja primitiva, além da 
distância imposta aos fiéis por suas regras, dentre as quais, a 
exigência do latim como língua oficial para reza das missas; 
além de uma forma arbitrária, mística e inconsistente de se 
interpretar os diversos acontecimentos da vida humana, dos 
fenômenos naturais, fez com que se levantassem por toda parte 
os clamores por uma reforma geral. 
A verdade é que os problemas arrastavam-se e 
aprofundavam-se havia séculos. Os vários Concílios 
reformadores do século XV evidenciavam isso. Certamente que 
não era apenas contra a religião que se fortalecia o sentimento 
de revolta. Entretanto, a religião tomou o centro do sentido da 
existência e foi condicionante de todo o processo histórico 
ocorrido no ocidente europeu. 
O poder papal pouco a pouco havia se fortalecido e 
desde o início do século XI, Hildebrando já havia reformulado 
a política papal, tendo influenciado cinco pontificados, até se 
tornar ele mesmo um deles. Poderia agora trabalhar 
diretamente pelo seu ideal de governo teocrático em que o 
poder temporal e espiritual deveriam ser exercido pelo Papa 
como vice-regente de Deus. “Ele não queria o poder civil 
dominando a Igreja Romana; ao contrário, era a Igreja que 
devia controlar o poder civil.”, afirma Earle E. Cairns (1995: 
171- 2), o que está perfeitamente evidenciado no Dictatus 
Papae, documento que afirma que a Igreja deve seu 
fundamento somente a Deus, e que somente seu pontífice deve 
ser chamado de ‘Universal’, tendo o papa plena autoridade 
sobre todos os bispos. A pretensão máxima expressa no 
 
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documento é dizer que jamais houve erro na Igreja, e que, de 
acordo com as escrituras, ela jamais errará. 
A consolidação da supremacia papal – o papismo – 
sobre todos os homens era uma pretensão difícil de alcançar. 
Contra a Igreja levantaram-se muitos príncipes de Estados que 
não aceitariam estar absolutamente subordinados à Roma. É 
nesse contexto que surgem os primeiros pregadores 
reformadores de repercussão. 
Na Inglaterra, o Parlamento pôs fim ao pagamento 
anual de mil marcos ao papado, por volta do ano 1353, pois 
desagradava ao povo ter que enviar dinheiro para um papado 
que à época estava em Avignon, sob influência do inimigo 
inglês, o rei da França. Com isso, o jovem pregador João 
Wycliffe (1328-1384) alcança grande prestígio em solo inglês, 
ao se opor à propriedade de bens por parte de líderes 
eclesiásticos. Segundo ele, Deus havia dado a posse e o uso dos 
bens para benefício de Sua glória, não para aumento da riquezaindividual deles. Wycliffe encontrou apoio entre os nobres e 
contou com a ajuda deles. A partir daí sua postura era não 
somente contestatória, mas também revolucionária. Atacou a 
Igreja e o papado. Afirmou que Cristo, e não o pontífice 
romano era o cabeça da Igreja, e que a Bíblia, não a Igreja, era 
a única autoridade tendo todos o dever de voltar aos ideais da 
igreja do Novo Testamento. 
Em 1382 Wycliffe entregou ao povo inglês uma 
tradução do Novo Testamento em sua própria língua, uma 
abominação para Roma, aumentada pela tradução do Velho 
Testamento, feita em 1384, por Nicolau de Hereford. 
Um ponto doutrinário contundente pregado por 
Wycliffe era que durante a ceia não havia a transubstanciação 
do pão e do vinho, tornando-se literalmente o corpo e o sangue 
de Cristo, como ensinava a Igreja, mas que Cristo estava 
representado apenas espiritualmente no ato da comunhão. 
 
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A quebra do elo...  Lemos & Alves 
Entretanto, em 1382 as idéias de Wycliffe foram condenadas 
em Londres, mas ele, a “Estrela D´Alva da Reforma”, como 
mais tarde seria chamado, já tinha conquistado grande prestígio 
junto às camadas populares e já havia influenciado a Revolta 
dos Camponeses em 1381. 
Aluno na Universidade de Praga, onde viria a ser 
reitor em 1404, propondo reformar a Igreja na Boêmia, João 
Huss havia se levantado contra o papado e assimilado bem as 
idéias de Wycliffe. Trouxe sobre si o ódio da Igreja ao não se 
retratar e foi condenado à fogueira durante o Concílio de 
Constança, embora tivesse salvo-conduto do imperador. Seu 
livro De Eclesia, continuaria postumamente sua obra. 
Unindo-se a Wycliffe e a Huss, Savonarola, monge 
dominicano, propondo uma reforma na Igreja e no Estado na 
cidade de Florença, foi enforcado. O período do Cativeiro 
Babilônico havia despertado um sentimento nacionalista anti-
papal e estava difícil conter a sublevação das vozes contrárias à 
Igreja, que parecia desdenhar disso. 
 
 
2. O Nascimento 
 
A Europa, deslumbrada, via o florescer do século 
XVI. Era o tempo da Expansão Marítima e da Revolução 
Comercial, adornadas pela Revolução Cultural, promovida pelo 
Renascimento. 
O movimento denominado de Renascimento 
cultural que se estabelecera desde o século XIV havia dado aos 
europeus, ao findar o século XV, uma nova forma de ver o 
mundo. Este movimento cultural burguês enfatizava uma 
cultura laica, racional, científica, e sobretudo não feudal. O 
Renascimento constituiu-se numa eclosão de manifestações 
artísticas, filosóficas e científicas, que buscavam seus recursos 
 
DIÁLOGOS – Revista de Estudos Culturais e da 
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A quebra do elo...  Lemos & Alves 
na cultura clássica greco-romana. O homem passava a disputar 
com Deus os espaços e o antropocentrismo foi ponto 
fundamental no período, a contragosto da religião. Era uma 
resposta do novo mundo urbano-comercial aos entraves feudais 
e a ruptura incluía as concepções sobre o divino. 
Os humanistas, deplorando a ignorância e 
exaltando o espírito humano instruído, também propuseram 
uma reforma, embora quase todos eles repudiassem Lutero. O 
mais famoso humanista foi Desidério Erasmo (1466-1536), de 
Roterdã. Na sua obra O Elogio da Loucura (1510), Erasmo 
satiricamente denunciou os abusos da Igreja. Contudo, era 
contrário à revolução que julgava ser pior do que o julgo dos 
tiranos. 
Os humanistas tiveram em comum a contribuição 
que deram aos estudos sobre a Bíblia com o retorno aos textos 
em hebraico e em grego. Era a ‘reforma’ das Escrituras, 
baseada na filologia e nos métodos humanistas de se estudar os 
textos sagrados. 
Erasmo publicou o primeiro Novo Testamento 
Grego em . Outro humanista, Johannes Reuchilin produziu uma 
gramática e dicionário do Velho Testamento, o qual deu o 
título de Rudimentos do Hebraico, permitindo que muitos se 
familiarizassem com a língua hebraica antiga, facilitando o 
estudo do texto original. Mais tarde, esses trabalhos de 
revalorização dos textos antigos acabariam por induzir alguns a 
traduzi-los em sua língua vernácula, dando ao povo a 
possibilidade de fazer leituras e cultos em suas próprias 
línguas, o que provocaria reações da Igreja Católica. Como 
poderia a gente comum ter boa compreensão dos mistérios da 
fé ocultos nos textos sagrados? O simples pronunciar do credo 
do “Pai Nosso” numa língua vernácula era considerado uma 
profanação. 
 
DIÁLOGOS – Revista de Estudos Culturais e da 
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As queixas contra a Igreja avolumavam-se. As 
indulgências se tornaram o ponto de partida da contestação de 
Lutero à Igreja. Após entrar para o claustro agostiniano de 
Erfurt em 1505, onde havia se dedicado ao mais zeloso 
monaquismo, logo foi enviado a recém inaugurada 
Universidade de Wittenberg um território da Saxônia, 
governada por Frederico – o Sábio. Este era um dos sete 
eleitores do Imperador do Sacro Império Romano o qual 
desejava transformar a cidade no centro cultural da Alemanha. 
O Eleitor possuía uma coleção particular de relíquias sagradas, 
cerca de 17 mil que lhe proporcionavam boa renda, quando da 
distribuição de indulgências. Pessoas de todas as partes 
viajavam para a Wittenberg a fim de obter a absolvição de 
pecado. 
O erguimento de outra basílica sob o túmulo de São 
Pedro, no Vaticano, havia sido ordenada pelo Papa Júlio II. Seu 
sucessor, Leão X, deu continuidade ás obras, publicando bula 
sobre indulgências para arrecadação de mais dinheiro para a 
conclusão. Pregadores ávidos passaram a proclamar a nova 
bula por toda a Europa, sob protesto de muitos príncipes que 
viam as escassas economias de seus territórios esvaírem-se 
para Roma. João Tetzel, frade dominicano, era um famoso e 
bem sucedido pregador de indulgências. Lutero contrariava a 
idéia da venda de indulgências como alternativa às penitências. 
Na verdade havia firmado convicção através de seus estudos 
sobre o Novo Testamento de que somente pela fé, e não por 
obras, chegar-se-ia à salvação que era gratuita e fruto da graça 
e dos méritos do Cristo. 
Assim, em 31 outubro de 1517, véspera do ‘Dia de 
Todos os Santos’, dia especial em que a Igreja em Wittenberg 
abriria para receber os fiéis em busca das indulgências de 
Frederico, Martinho Lutero fixa nas suas portas as 95 Teses 
contrárias à venda e questiona o papa perguntando porque o 
 
DIÁLOGOS – Revista de Estudos Culturais e da 
Contemporaneidade – N.° 8 – Fev./Mar. - 2013 
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mesmo, ‘sendo rico como Creso’, não construía a basílica de S. 
Pedro com dinheiro do seu bolso, ao invés de espremer o bolso 
dos pobres. 
Em 1518, Lutero defendeu-se das acusações 
lançadas sobre ele perante sua ordem agostiniana, em 
Heidelberg. Àquele tempo, chegava em Wittenberg o homem 
que seria o considerado 'o teólogo da Reforma’ – Filipe 
Melancton. As idéias de Lutero tiveram rápida aceitação entre 
muitos professores de Wittenberg. Ainda em 1518, com o 
aumento das agitações, foi convocado a comparecer em Roma, 
o que causou protesto por parte de Frederico, que afirmou que 
um súdito seu deveria ser julgado em território alemão, e não 
por italianos, obtendo concessão papal. No outono daquele ano, 
compareceu na Dieta de Augsburg, e defendeu-se diante do 
Cardeal Cajetano, afirmando a autoridade final das Escrituras 
ante assuntos de fé e moral, em detrimento à palavra do Papa. 
Em 1519 Lutero sofreu duro ataque ao enfrentar 
John Eck, poderoso na ortodoxia e grande orador, em Leipzg. 
Eck conseguiu tirar do reformador afirmações de que os 
concílios em geral são falhos; que ele, Lutero, não poderia 
aceitar as decisões papais sem questioná-las; e ainda apoio a 
muitas idéias de João Huss, ‘herege’ condenado pela Igreja 
havia cerca de 100 anos. 
Lutero passou da crítica das práticas da Igreja à 
crítica aos dogmas. Combateuos sete dogmas estabelecidos 
reconhecendo apenas dois: o batismo e a comunhão (Ceia), em 
sua obra intitulada O Cativeiro Babilônico (1520), onde 
também declarava que depois de 1.000 anos em prisão de 
Roma, a religião cristã havia perdido sua pureza, corrompido a 
fé e perdido a moral. 
O Papa havia demorado a reconhecer a força que as 
contestações ganhavam e em junho de 1520, quando publicou 
bula intimando Lutero a retratar-se em até 60 dias e 
 
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condenando todas as suas obras, estudantes em toda Saxônia 
queimavam as obras anti-luteranas e a bula papal. Lutero 
reagiu radicalmente à bula declarando que ela seria a palavra 
de Satã, na boca de seu Anticristo. À Igreja Católica não restou 
mais nada senão a excomunhão. 
Carlos V, Imperador do Sacro Império Romano 
convocou, então, a Dieta de Worms, em 1521, causando grande 
movimento entre autoridades seculares, religiosos e intelectuais 
da época. Frederico orgulhava-se do alcance publicitário que 
sua Universidade havia alcançado. Era crescente o medo de 
que os camponeses se levantassem em rebelião caso Lutero 
fosse condenado. Quando os representantes papais chegaram à 
Worms, espantaram-se juntamente com o Imperador da grande 
popularidade do monge agostiniano. Edith Simon(1971,p.43) 
cita que um representante do Papa lhe escreveu dizendo: “Nove 
décimos do povo gritam “Lutero!” e o décimo restante grita: 
“Abaixo Roma!””. 
Em seu julgamento, quando lhe apresentaram vinte 
de seus livros e lhe perguntaram se ele se retrataria das heresias 
neles contidas, respondeu que ao menos que pudesse ser 
persuadido pelas Escrituras ou pela sua razão, não poderia nem 
desejaria retratar-se de coisa alguma, pois não seria correto agir 
contra a consciência. Lutero deixou a Dieta como um herói 
alemão e Frederico providenciou para que o mesmo fosse 
‘raptado’ e ficasse escondido em uma fortaleza em Wartburg 
por quase um ano. 
A Alemanha cedeu, e por fim cada príncipe pode 
estabelecer sua forma de culto, que agora estava subordinado 
ao poder temporal e à opção de cada governante. A teologia 
luterana transpassou e ultrapassou o Sacro Império Romano 
desaguando nos 13 cantões ou Estados suíços que juntos 
formavam uma confederação. Neles destacaram-se as 
pregações de Ulrich Zuínglio. Roma tratou-lhe com mais 
 
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cuidado em virtude da experiência mal sucedida na Alemanha. 
Zuínglio acabou por envolver-se numa guerra civil na Suiça e 
foi morto. Depois dele, Genebra se tornaria baluarte da reforma 
sob o comando de Calvino. 
 
 
II. O conflito entre as doutrinas 
 
Não era a vida desregrada dos que conduziam a 
igreja o foco dos questionamentos e dos debates. A despeito do 
temor da morte e de uma angústia ante a severidade de um 
juízo divino que poderia estar prestes a acontecer, as pessoas 
viviam num estado de ‘apostasia’ geral. A vida incoerente com 
os princípios e dogmas da fé não incomodava tanto mais o 
homem do Renascimento. 
As devassidões e a depreciação da espiritualidade 
da igreja não constituíam o cerne da questão da Reforma. Na 
verdade, no centro do debate e dos conflitos entre os 
reformadores e a igreja romana estavam as doutrinas. Elas 
expressavam o verdadeiro caráter da cristandade católica e 
eram facilmente distorcidas em favor de algum interesse 
particular, ainda que conflitassem entre si. A questão era a 
satisfação de quem detivesse o poder, em menor ou em maior 
grau. 
Os esforços da Igreja de Roma de fundamentar-se e 
justificar-se com base nas bulas papais, nos concílios 
episcopais e na supressão das opiniões já não surtia o efeito de 
outrora. Lutero de logo apontara que os concílios haviam sido 
contraditórios e que se neles fossem reveladas as verdades 
eternas de Deus, não haveria a constante necessidade de um 
concílio ser convocado para debater a decisão de outro anterior. 
A Reforma produziu a partir de suas novas 
doutrinas uma abertura no pensamento e uma transformação no 
 
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comportamento dos reformados. Desde que Lutero apregoou a 
salvação exclusivamente pela fé, de logo Wittenberg sentiu o 
impacto da nova teologia, visto que tiravam do rei seus 
dividendos e da Igreja sua autoridade sobre a salvação. A 
pregação do uso da fé alimentou o espírito daqueles que 
despertavam do sono medieval, ansiosos por novas 
experiências e pelas aventuras. Eram os duros e incontroláveis 
efeitos de uma liberdade que ecoava em cada canto da vida 
social. 
Contudo, a doutrina do sacerdócio universal de 
todos os crentes parece mesmo ter promovido ruptura ainda 
maior, pois colocou o rei, o príncipe, o nobre, o artesão, o 
miserável mendigo urbano diante de Deus, para o desespero 
dos nomeados sacerdotes esvaídos de seus privilégios oficiais. 
 
2.1. O ponto fundamental – A justificação pela fé 
Lutero teve a força de um revolucionário no 
provocar a reforma a partir de suas convicções e necessidades 
pessoais de afirmação e consciência. Filho de pais camponeses 
(Hans e Margaret Luther), em 10 de novembro de 1483, 
véspera do dia de São Martinho, padroeiro da bebida e da 
alegria, Martinho Lutero nasceu na cidade mineira de Eisleben, 
na Saxônia. 
Desde cedo os ensinamentos religiosos fizeram 
parte de sua formação. A vida cotidiana dos saxões era 
impregnada, como não poderia deixar de ser, dos valores 
religiosos de uma Europa dominada pela mentalidade cristã 
católica. Não havia espaço para outras manifestações religiosas 
senão por meio dos sincretismos. Lutero, como muitos outros, 
não escolheu sua religião. Nasceu nela e carregou consigo seus 
fardos e reflexos. Não se via fora do cristianismo e o levava em 
seu próprio nome. Cresceu sob uma disciplina dura, 
fundamentada numa moral que não permitia um mínimo 
 
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vacilo, e foi ensinado que toda transgressão exige uma severa 
pena. Em sua mente estavam claras as consequências da 
desobediência. O castigo viria acintosamente sobre o corpo e 
sobre a alma; o sofrimento diário de uma vida limitada era 
nada perto das tormentas futuras que recairiam sobre os 
perdidos. 
O contexto social em que Lutero nasceu era 
perturbador. De que valeria o gozo que uma vida volátil em 
que a maioria das pessoas raramente tinha sua existência 
contada em meio século, se a morte poderia ser passagem para 
uma realidade contada na casa dos milênios? Decepcionando o 
pai, após alguns meses de estudos jurídicos, Lutero entrou para 
um mosteiro onde passou a viver a realidade das penitências. 
Diz-se que após uma tempestade, temendo ser atingido por 
algum raio, fez promessa a Santa Ana afirmando que se 
sobrevivesse dedicaria seus dias à vida religiosa. 
A partir de seus estudos de teologia, Lutero 
desenvolveu sua crescente preocupação com a salvação e com 
o julgamento de Deus sobre os homens. Dedicou-se 
rigorosamente à prática de orações, vigílias, jejuns e todas as 
formas de penitências. Confessava-se regular e 
minuciosamente. Tais perturbações fizeram com que seus 
superiores o mandassem estudar em Wittenberg. A paz que 
tanto buscava não seria encontrada no seu zelo para com as 
práticas dogmáticas mais sim em seus estudos sobre o Novo 
Testamento. A visita que fez a Roma durante o período que 
esteve no mosteiro o fez questionar a eficácia dos métodos 
adotados pela Igreja para a salvação, nos quais se incluíam as 
indulgências, substitutas das penitências. Lutero logo percebeu 
que as pessoas não estavam adquirindo indulgências por 
estarem de fato preocupadas com sua salvação, mas, ao 
contrário, sem arrependimento,adquiriam tais títulos como se a 
 
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simples aquisição pudesse lhes garantir o livramento do 
purgatório e por fim a salvação. 
Em 1511, Lutero era professor de Bíblia quando 
recebeu o título de Doutor em teologia. Aos poucos 
desenvolveu o princípio da sola scriptura - apenas a Bíblia era 
autoridade em se tratando de assuntos de religião, fé e moral. 
Ao estudar as cartas do apóstolo Paulo, a frase que 
lhe tomou a atenção foi: “O justo viverá pela fé”. A partir de 
então a mente do monge agostiniano começava a mudar. O 
entendimento que teve foi de que a salvação era possível aos 
homens única e exclusivamente pela fé, e não pelas obras, 
fossem quais fossem. Era a gênese da doutrina da “justificação 
pela fé”, a qual passou a defender arduamente em suas obras. 
Para a Igreja, a salvação era uma dádiva adquirida 
através da confissão, do arrependimento e da expiação, 
mediante penitência. Não era possível encontrar-se a graça de 
Cristo fora da Igreja, pois esta, mediante estabelecimento do 
Cristo, era a única representante legítima de Deus na terra. Seu 
era o dever de mediar o encontro entre os homens e Deus. O 
dever de todo homem era reconhecer na igreja universal o 
único caminho para se obter eterna redenção. 
Lutero combateu todos esses pressupostos. Todo 
grande esforço, ainda que sincero, não era suficiente para que o 
homem se preparasse para o julgamento. Nem a Igreja, nem 
seu Papa, nem os santos poderiam intervir pela salvação 
humana senão a fé que cada um individualmente tivesse nos 
méritos de Jesus Cristo. 
 
2.2. A quebra do elo – o sacerdócio universal 
 
Ao erguer-se a Santa Hóstia, dar-se-ia a 
transubstanciação. O padre detinha, então, em suas mãos, 
literalmente, o corpo de Cristo, um milagre que se dava em 
 
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todas as missas. À frente de todos estava aquele que era o elo, a 
ligação entre este mundo e o divino, entre a realidade humana e 
a transcendental – o padre. Os sacerdotes, bispos, arcebispos, 
cônego, monges, etc. eram homens de estirpe 
privilegiadíssima. Sobre eles recaía a missão de conduzir os 
homens até o Deus Supremo, tornando-se mediadores. 
A figura do sacerdote no cristianismo evidencia sua 
herança judaica. Moisés, o maior e mais eminente profeta 
bíblico, em sua condução do povo pelo deserto, estabeleceu um 
sistema de rituais para o culto a Jeová, as chamadas ‘Leis 
Cerimoniais’, que organizavam a religião de um povo nômade 
em busca de sua ‘terra prometida’ - Canaã. 
A função sacerdotal teve grande importância e 
reconhecimento em toda a história do povo de Israel. Eles eram 
os responsáveis pela manutenção do Santuário, que nos tempos 
do Rei Salomão, tornou-se um edifício imponente e central na 
organização do Estado e na vida das pessoas. Nele se 
concretizavam as formas de adoração e os sacrifícios diários, 
além de outros rituais e festividades, sendo o Sumo Sacerdote o 
maioral entre os demais, visto que ele, e somente ele, poderia 
adentrar num compartimento do Santuário chamado ‘lugar 
santíssimo’ ou ‘santo dos santos’, onde Deus, em sua 
manifestação visível de forte luz, aparecia para julgar e salvar o 
seu povo. 
O cristianismo, incorporando o sacerdócio judaico, 
deu-lhe em contribuição maior perspectiva. A partir da crença 
em Jesus Cristo e em nome dele, todo e qualquer discípulo 
poderia ter acesso direto a Deus. Ao longo do tempo, porém, a 
Igreja de Roma havia de certa forma retomado a característica 
mais forte do judaísmo de exclusivismo dos sacerdotes. O 
papa, então, tomou a condição de ‘pontífice’, ou seja, Sumo 
Sacerdote de todos os cristãos. Não obstante, o status 
acompanhou tal atributo e de certo o líder cristão do ocidente 
 
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europeu concentrou poder e grande autoridade em nome de 
Deus. 
Ainda que a vida pouco ou nada espiritual dos 
‘homens de Deus’ não tenha sido motivo central para a 
Reforma, contribuiu para a depreciação do sacerdócio e deu 
grande força para o discurso protestante. Bebedices, glutonaria, 
avareza, porfias, lascívia, prostituição e os vícios mais diversos 
não eram características estranhas à classe sacerdotal àquele 
tempo. A desvalorização do sacerdócio era visível e 
contundente. Muitos leigos passaram a socorrer as igrejas nos 
locais onde não havia padres ou, por algum tempo, a serviço 
deles. Muitos se perguntavam se o homem comum de vida 
honesta e santa não seria mais autêntico do que um clérigo 
desregrado. 
A descoberta ou entendimento do sacerdócio 
universal provocou o nascimento de uma convicção 
irreversível na mente do Reformador. O Cristo, e não o Papa 
era Sumo Sacerdote diante de Deus. Seus estudos sobre o Novo 
Testamento fê-lo descobrir a seguinte afirmação encontrada na 
Epístola aos Hebreus (cap. 10, versos 19 a 22): “Tendo, pois, 
irmãos, intrepidez para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue 
de Jesus, pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou pelo 
véu, isto é, pela sua carne, e tendo grande sacerdote sobre a 
Casa de Deus, aproximemo-nos, com sincero coração, em 
plena certeza de fé...”. Lutero encontrava a base para sua 
doutrina do sacerdócio universal, alinhada à doutrina da 
justificação pela fé, e nunca mais o mundo seria o mesmo. 
Removiam-se os entraves à libertação dos Estados 
dominados por Roma com o estabelecimento das afirmações 
laicas remodeladas pela própria religião. O Rei poderia, então, 
consultar o próprio Deus e a si mesmo, antes de tomar qualquer 
decisão sobre as questões de seu reino e dos seus súditos, sem 
estar limitado pelas decisões e interpretações da Igreja. No 
 
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plano individual, liberavam-se as populações do arbítrio dos 
padres sobre as coisas de suas vidas. 
 
III. Repercussões do sacerdócio universal 
 
O sistema sacerdotal dominante impunha a todos a 
idéia de uma hierarquia onde Deus havia estabelecido uma 
estrutura extremamente rígida de governo onde os sacerdotes e 
ministros religiosos estariam no topo, sendo a espiritualidade a 
base da vida de todos. O poder temporal, qual seja o dos 
governantes do mundo, estaria subordinado aos ditames do 
sistema espiritual, e na sua temporalidade deveriam proteger, 
respeitar e obedecer aos mediadores de Deus. Diversas 
manifestações populares e revoltas de sacudiram as estruturas 
estabelecidas havia muitos séculos. 
Certamente que a crença numa relação mais 
pessoal com Deus não foi causa exclusiva de tais 
acontecimentos. O sacerdócio de todos os crentes supria, na 
prática e realidade diárias, muito mais as expectativas de 
rompimentos e alteração da realidade social perversa a que 
estavam submetidas a maioria das pessoas. Tal crença 
avantajava-se em influência sobre as mentes, pois envolvia o 
místico e a realidade visível e empírica. O que dizer da 
sensação de poder alcançar a graça divina indo pessoalmente 
até o céu, pela simples oração de fé? 
O sacerdócio universal, proposto e defendido por 
Lutero e seus seguidores abalaria as estruturas da Igreja de 
Roma, poria em lados opostos reis e prelados, e atingiria a 
medula do poder – religioso e secular – na Europa. A salvação 
por meio da fé aliviava a tensão interior de cada homem e os 
libertava das muitas indulgências. A remoção da mediação ia 
muito mais além. 
 
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O entusiasmo dos luteranos e de outros que a eles 
se associaram no movimento protestante sem dúvida promoveu 
grandes mudanças não somente na relaçãodos homens com as 
instituições religiosas, como também dos homens entre si. Ao 
se estabelecerem novas relações, inevitavelmente com elas 
vieram novos símbolos, signos, semióforos. Quando a pregação 
luterana difundiu um conceito de sacerdócio universal, 
verificou-se a quebra histórica de uma mentalidade que 
aceitava passivamente a idéia de que clérigos oficialmente 
ordenados eram, com exclusividade, os que possuíam acesso à 
Divindade. O que se constata nas obras relacionadas ao período 
é uma transformação no comportamento dos homens com as 
instituições sociais como um todo. Contudo, ao se estudar a 
Reforma Protestante, é necessário abster-se do dualismo e 
enfocar as mudanças em si. 
A que se considerar para isso, também, que a 
Reforma não foi em si um movimento orquestrado e 
organizado, de forma a alcançarem todos os pregadores 
reformadores um mesmo propósito. 
 
3.1 O cotidiano e a política 
 
A crença de que todos os crentes tinham acesso à 
Deus deu naturalmente origem a um sentimento de 
independência, que acabou por fazer surgir cristãos 
“independentes”. Não havia obrigatoriedade de se estar 
agregado a qualquer agremiação ou facção religiosa, uma vez 
que individualmente se podia viver uma vida espiritual, guiada 
pela consciência, vontade e entendimento próprios. Isso 
responde à questão do porquê tantas pessoas se engajaram 
particularmente no movimento protestante, passaram a pregar a 
reforma, assimilar as idéias dos líderes, e a buscar desenvolvê-
las. 
 
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De cedo, Lutero havia se empenhado na 
evangelização e sua forma mais comuns de divulgar suas 
convicções e sua teologia foram os sermões. Desse modo 
difundiam-se as doutrinas luteranas que foram rapidamente 
assimiladas pelos seus ouvintes fiéis. Lutero publicou em 1529 
o seu Grande Catecismo, para os adultos, e o Pequeno 
Catecismo, para as crianças. Todos os domingos as famílias 
paravam para as aulas de religião, das quais surgiram as 
contemporâneas Escolas Dominicais, presentes em grande 
parte das igrejas evangélicas. 
Se as idéias de Lutero foram rapidamente 
difundidas e aceitas entre os camponeses, igualmente 
moldaram as suas opiniões e fundamentaram muitas de suas 
reivindicações antigas. Questionou-se, então, o porquê da 
manutenção da obrigação de dar dízimos. Os homens simples 
do campo entenderam que aquela era uma oportunidade de 
transformação de suas próprias vidas. Como, porém, não havia 
uma organização dos revoltosos, os príncipes sem grandes 
dificuldades retomaram o controle de suas regiões, ao custo de 
cem mil camponeses executados (sic). As rebeliões são no 
plano macro, uma expressão do sentimento de independência 
fomentado pela quebra dos privilégios sacerdotais do clero 
ordenado. No âmbito do culto, as pessoas viram-se livres para 
manifestarem suas formas de adoração, o que causou uma 
incontável variedade de propostas de organização das missas. 
A partir da quebra do exclusivismo sacerdotal, 
pessoas simples, homens ilustres, nobres, cavaleiros, todos 
puderam sentir-se habilitados para partilhar os elementos 
sagrados no momento de comunhão da Ceia, sacramento 
reconhecido pelas facções religiosas em conflito, e máxima 
expressão do cristianismo ocidental. 
Muitos príncipes se puseram em guerra em defesa 
da sua fé. Os nobres protestantes reivindicavam direitos ao 
 
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Imperador do Sacro Império. As lutas somente cessariam em 
1555 quando foi assinada a Paz de Augsburgo, dando ao 
protestantismo igualdade legal com o catolicismo e 
estabelecendo que cada Príncipe determinaria a religião de seu 
território, havendo possibilidade de imigração dos súditos de 
confissão religiosa oposta. 
Outra mudança diretamente influenciada pelas 
pregações do sacerdócio universal foi a forma como as pessoas 
passaram a lidar com as Escrituras. A partir da importante 
contribuição dos humanistas para a revisão dos textos sagrados 
nas línguas originais, e a conseqüente tradução nas línguas 
vernáculas, intelectuais de toda Europa puderam experimentar 
reflexões particulares sobre tais textos. A vida política dos 
europeus mudou completamente. Reis e príncipes estiveram 
divididos. Cada reino, província, território determinava sua fé, 
criando um imenso mosaico de influência religiosa. 
Na Inglaterra, o rei Henrique VIII, então defensor 
da Igreja Católica Romana, ansiando divorciar-se de sua esposa 
Catarina de Aragão, que não lhe dava um filho herdeiro, foi 
excomungado, afastando-se em definitivo da Igreja. Henrique, 
então, não se importando com seus atritos com Roma, casou-se 
com Ana Bolena, e conseguiu com aprovação do parlamento 
tornar-se chefe supremo da Igreja na Inglaterra. Enquanto na 
Alemanha, o protestantismo havia se desenvolvido entre as 
camadas populares e tinha conquistado apoio entre os nobres 
até chegar ao Imperador, na Inglaterra o movimento foi 
estabelecido a partir da realeza até alcançar a população. Todos 
se sentiam árbitros de sua fé e o rei parece ter absorvido o 
conceito de liberdade do sacerdócio universal com o intuito de 
justificar seu divórcio. 
 
3.2 A Fé 
 
 
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Ao se analisar as repercussões da doutrina do 
sacerdócio de todos os crentes, uma das maiores evidências de 
sua magnitude está revelada no surgimento de idéias e 
conceitos divergentes entre os reformados. Nunca houve 
consenso entre os mesmos e isso é uma característica clara do 
individualismo alcançado à época, resultado de muitos fatores 
sociais e políticos, mas religiosamente representado pelo 
sacerdócio universal. A disputa teológica evidenciou a 
inquietude espiritual dos reformados e ainda no início do 
movimento, Lutero sofreu dura competição. 
Carlstadt e Zwilling, discípulos seus promoveram 
um grande levante em toda a Alemanha. Carlstadt preferia as 
experiências místicas pessoais e um relacionamento mais direto 
com o divino que o aprofundamento da compreensão das 
Letras, dando as Escrituras importância secundárias. Ele 
insistia num movimento interior do espírito humano que 
transforma e leva o eleito pelo caminho da deificação, para o 
desespero de Lutero, para quem a salvação era alcançada por 
uma revelação e redenção exteriores. 
Lutero, em 1522 fez com que os agitadores fossem 
expulsos de Wittenberg e com seus sermões conseguiu conter 
as violências. Considerava que as pessoas não estavam 
preparadas para mudanças radicais, pois não poderiam 
compreender bem os propósitos. Contudo, outros luteranos 
levaram a diante uma revolução não pretendida por Lutero. 
Hutten e Sickingem, em 1522, iniciaram um 
levante por toda a Alemanha para difundir por todos os cantos 
aquilo que consideravam os valores da verdadeira fé. Tentaram 
tomar as terras do Eleitor de Treves, mas o movimento 
malogrou e ambos foram mortos. Ainda outros “profetas” se 
levantariam provocando grande agitação popular. 
Os profetas de Zwickau são um dos exemplos mais 
notórios que podemos ter de como se processou na mente das 
 
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lideranças que surgiram a idéia de uma autonomia religiosa e 
de uma compreensão particular de Deus. Esses pregadores que 
ensinavam um novo batismo, de adultos, ficaram conhecidos 
como “anabatistas”. Eles instavam o povo a rebelar-se e 
tomaram algumas cidades alemãs. A Alemanha foi tomada por 
camponeses, artesãos, padres e monges renegados.Lutero 
respondeu com um artigo nominado Exortação à Paz (abril de 
1525). 
Um anabatista chamado Melchior Hofman, pregou 
nos países do Báltico. Para ele, o fim do mundo estavaàs 
portas, marcou a data do grande acontecimento para o ano de 
1533; contudo, Strasburgo seria a “Nova Jerusalém”. Dois 
discípulos seus empenharam grande esforço para aniquilar o 
mundo pecador. João Matthijs e João de Leiden tomaram o 
poder em Münter (Vestfália) no ano de 1534. Leiden se tornou 
“rei da nova Sião” e pretendia conquistar toda a terra. Foram 
torturados e mortos pelas tropas do bispo que retomaram a 
cidade em 24 de junho de 1535. A divisão protestante seguia e 
a proliferação de pregadores independentes esfarelou o 
movimento. Para Lutero, os líderes políticos deveriam conter 
as revoltas e fazer cessar as “abominações” que se faziam em 
nome de Deus. A liberdade cristã era substituída, assim, pela 
Igreja de Estado. Para Lutero só havia importância na 
“liberdade espiritual”. 
Grandes líderes reformistas estavam, por vezes, em 
lados opostos. Lutero esteve sempre contido pelo seu temor e 
respeito para com as autoridades, reflexo, talvez, do grande 
conflito interno pelo qual passou grande parte de sua vida. Fez 
para si muitos amigos. Avolumaram-se, contudo, seus 
inimigos. 
A teologia dividiu a Alemanha e o mundo europeu. 
O Imperador do Sacro Império havia alimentado a esperança de 
conseguir uma conciliação, na Alemanha, entre Católicos e 
 
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Protestantes. Esperou chegar a um acordo em 1530, em 
Augsburgo. Lutero estava refugiado e Melanchton o 
representou. Apresentou uma Confissão protestante onde 21 
dos 28 artigos falavam sobre pontos comuns da fé Católica e 
Protestante. Combatia, o papado, e os abusos e leis humanas. 
Melanchton fez concessões que foram desaprovadas por 
Lutero. Mesmo assim, Carlos V rejeitou as Confissões. A 
cristandade européia seguiria dividida. Aos poucos, muitos 
reinos e principados buscariam livrar-se de sua subserviência à 
Roma. A Inglaterra, adiante de todas, transformou a Igreja num 
braço do Estado, sendo o rei o líder dos cristãos em seu país. 
Outros, contudo, permaneceram fiéis ao Papa e ao Catolicismo. 
A propósito da nova teologia desenvolvida por 
Lutero e seus associados, e ainda por muitos outros homens 
que vieram a ser lideranças religiosas e políticas em seus 
países, nunca mais a cristandade pode experimentar, ainda que 
externamente, uma unidade semelhante àquela expressada nos 
tempos feudais. A crença no sacerdócio universal foi, portanto, 
o meio que a Reforma encontrou para expandir-se e conquistar 
muitos corações e mentes ávidas por liberdade. A 
multiplicidade de conceitos teológicos cristãos advindos da 
liberação do pensamento resultou numa verdadeira renovação 
do cristianismo como um todo. Num mundo mutante a religião 
não poderia permanecer estagnada. A união, contudo, 
permanece como desafio ante o enraizamento do 
individualismo estabelecido em todas as sociedades modernas. 
Num mundo de expansões territoriais, comerciais, 
culturais, científicas, etc., a religião cristã teve seu viés na 
doutrina do sacerdócio universal. Lutero foi expressão religiosa 
das mudanças que toda a sociedade européia vivia. Sobre os 
escombros do mundo feudal, ergueram-se novos pilares e uma 
nova sociedade foi preparada pelo espírito inquieto do ser 
humano. Lutero não era um herói. Era apenas um homem em 
 
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A quebra do elo...  Lemos & Alves 
expansão, de idéias em expansão, vivente num mundo exterior 
que o afligia e o condenava. No seu interior, somos levados a 
crer que pretendeu apenas sua salvação. Mas foi o arquiteto de 
uma obra muito maior que ele mesmo. 
Afirma Delumeau (1989, p.113) que no enterro de 
Lutero (1546), Melanchton citou com um paradoxal a-
propósito uma sentença de Erasmo: “Deus deu ao mundo um 
rude médico.” 
 
REFERÊNCIAS 
CAIRNS, Earle E.. O cristianismo através dos séculos: uma 
história da igreja cristã. Tradução de Israel Belo de Azevedo. 
2. ed. São Paulo: Vida Nova, 1995. 508p. 
DELUMEAU, Jean. Nascimento e afirmação da reforma. 
Tradução de João Pedro Mendes. São Paulo: Pioneira, 1989. 
384p. (Série Nova Clio; 30). 
RANDELL, Keith. Lutero e a reforma alemã. São Paulo: 
Ática, 1995.112p. (Série Princípios; 248) 
SIMON, Edith. Reforma. Tradução de Pinheiro de Lemos. Rio 
de Janeiro: Livraria José Olímpio, 1971. (Biblioteca de História 
Universal LIFE) 
 
 
DIÁLOGOS – Revista de Estudos Culturais e da 
Contemporaneidade – N.° 8 – Fev./Mar. - 2013 
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