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adolescência intervenção e aprendizagem

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Aline Iris Gil Parra Magnani
Intervenção e
Aprendizagem
Adolescência
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Aprendizagem
Adolescência
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Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-2947-1
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mais informações www.iesde.com.br
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Intervenção e Aprendizagem: Adolescência
Aline Iris Gil Parra Magnani
IESDE Brasil S.A.
Curitiba
2012
Edição revisada
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
© 2008 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor 
dos direitos autorais.
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ 
__________________________________________________________________________________
M176i
 
Magnani, Aline Iris Gil Parra, 1974-
 Intervenção e aprendizagem : adolescência / Aline Iris Gil Parra Magnani. - ed. rev. - 
Curitiba, PR : IESDE Brasil, 2012. 
 108p. : 28 cm
 
 Inclui bibliografia
 ISBN 978-85-387-2947-1
 
 1. Adolescência. 2. Psicologia do adolescente. I. Título. 
12-4809. CDD: 305.23
 CDU: 159.922.8
10.07.12 24.07.12 037251 
__________________________________________________________________________________
Capa: IESDE Brasil S.A.
Imagem da capa: IESDE Brasil S.A.
IESDE Brasil S.A.
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Todos os direitos reservados.
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Adolescência ........................................................................................................................7
Conceitos básicos da adolescência ..........................................................................................................7
Adolescência e a sociedade .....................................................................................................................9
Desenvolvimento e identidade do adolescente ....................................................................17
Desenvolvimento humano .......................................................................................................................17
Desenvolvimento do adolescente ............................................................................................................20
O adolescente e o relacionamento grupal ............................................................................25
Importância das amizades e da família na adolescência ..........................................................................25
Dinâmica dos grupos ...............................................................................................................................27
Técnica: exercício das qualidades ...........................................................................................................28
Família e adolescência .........................................................................................................37
Principais aspectos da vida em família ....................................................................................................37
Tipos de organização familiar ..................................................................................................................38
Relacionamento familiar ..........................................................................................................................39
Quando os filhos ficam sozinhos em casa ................................................................................................40
Violência e adolescência ......................................................................................................45
Índices de violência .................................................................................................................................45
Violência e suas modalidades ..................................................................................................................46
Drogas e adolescência ..............................................................................................................................49
Projeto de vida para nossos jovens ..........................................................................................................51
Bullying ................................................................................................................................57
O que é bullying? .....................................................................................................................................57
Alternativas para a paz na escola .............................................................................................................60
Resiliência ............................................................................................................................67
Noção cultural de resiliência ...................................................................................................................67
O que engendra a resiliência? ..................................................................................................................70
Diferentes formas de encarar as adversidades .........................................................................................71
Desenvolvimento da sexualidade .........................................................................................77
Sexualidade humana ................................................................................................................................77
Adolescente: corpo em transformação .....................................................................................................78
O desabrochar de novos sentimentos e sensações ...................................................................................80
Escola e adolescência ...........................................................................................................87
Surgimento da escola ...............................................................................................................................88
Escola: espaço de aprendizado e socialização .........................................................................................89
Vida escolar e vida social ........................................................................................................................90
Sumário
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Escolha profissional .............................................................................................................95
Momento decisivo ...................................................................................................................................95
Influências X escolha ...............................................................................................................................96
Quem escolhe? .........................................................................................................................................98
Referências ...........................................................................................................................105
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M uitos estudos têm investido nabusca por compreender melhor o fenômeno da adolescência, responsável por incitar muitas discussões acadêmicas, escolares, familiares e em diversas outras instâncias. A compreensão dessa fase tem se mostrado essencial para subsidiar o 
trabalho de professores e de profissionais, bem como para orientar pais e familiares na convivência 
com seus filhos.
O propósito deste livro é promover discussões e reflexões acerca dos aspectos psicológicos, cul-
turais e sociais relacionados à adolescência, destacando comportamentos e condutas próprios dessa 
fase. Espera-se, também, a compreensão das relações interpessoais estabelecidas pelos adolescentes 
no ambiente escolar, familiar e em outros grupos sociais de que fazem parte. Destaque especial será 
dado para a abordagem sobre o processo de ensino-aprendizagem direcionado a adolescentes, bem 
como o papel do educador como um de seus principais partícipes.
No primeiro capítulo discutiremos sobre os diferentes conceitos referentes à palavra adolescên-
cia, que abordam desde os aspectos físico-biológicos – próprios de uma determinada fase etária – até 
questões de cunho social, antropológico e psicológico.
No capítulo dois apresentaremos as etapas do desenvolvimento humano, com ênfase no momen-
to do adolescer, quando a compreensão das mudanças que ocorrem com o próprio corpo – físicas e 
psíquicas – é fundamental para a formação da identidade.
O capítulo três versa sobre a convivência grupal, a dinâmica dos grupos adolescentes e a impor-
tância dos laços sociais para o desenvolvimento e formação da personalidade.
Outras questões-base para a compreensão dessa fase tão especial, como a do relacionamento 
familiar, da presença dos pais, do companheirismo e da amizade encontrados no lar, serão discutidas 
no capítulo quatro.
O tema de discussão do capítulo cinco é a violência, buscando o esclarecimento sobre suas di-
ferentes modalidades, bem como as reais perspectivas dos jovens em valorizar a própria vida, tendo 
em vista as adversidades próprias do mundo de hoje.
No capítulo seis discutiremos um tema que, além de atual, é também fundamental para o traba-
lho dos professores em sala de aula. Estamos falando do bullying, prática de agressão física e verbal 
que ocorre principalmente nas escolas e é calcada nos preconceitos sociais que, em boa parte, são 
trazidos de casa.
O capítulo sete versa sobre resiliência, ou seja, sobre as diversas formas de um indivíduo reagir 
positivamente diante das dificuldades que poderão aparecer ao longo de sua vida. Sabemos que muito 
facilmente os jovens de hoje procuram meios autodestrutivos para se esquivar das frustrações. O tema 
resiliência deve ser trabalhado em sala de aula, pois se acredita no papel do professor como orientador 
de seus alunos no momento em que eles se encontram emocionalmente vulneráveis e propensos a 
tomar decisões equivocadas sobre suas próprias vidas.
Outro tema, motivo de grandes confusões entre os adolescentes, é o da sexualidade. Ele deve 
ser trabalhado em classe por meio de atividades que visem não só o esclarecimento a respeito do fun-
cionamento fisiológico do corpo humano, mas que também tenham como premissa trazer aos alunos 
Apresentação
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o autoconhecimento e o significado socioafetivo do que representa a maturidade e a responsabilidade 
da vida sexual adulta.
No capítulo nove buscaremos comprender o importante papel da escola e do professor na vida 
dos adolescentes, reiterando muitos aspectos vistos ao longo dessa disciplina.
E, por fim, no capítulo dez, traremos à discussão um tema responsável por tirar o sono de muitos 
pais e adolescentes, a escolha profissional, bem como todas suas implicações sociais e familiares.
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Adolescência
Aline Iris Parra Magnani*
Adolescente é adrenalina que agita a juventude, 
tumultua os pais e 
os que lidam com ele. 
Adrenalina que dá taquicardia nos pais, 
depressão nas mães 
raiva nos irmãos, 
que provoca fidelidade aos amigos, 
desperta paixão no sexo oposto, 
cansa os professores, 
curte um barulhento som, 
experimenta novidades, 
desafia os perigos, 
revolta os vizinhos. 
O adolescente é 
pequeno demais para grandes coisas 
grande demais para pequenas coisas.
Içami Tiba
Conceitos básicos da adolescência
O poema acima descreve o adolescente da nossa sociedade de uma maneira 
bastante próxima da que conhecemos. Mas diante dessa descrição fica a pergunta: 
será que o adolescente é mesmo tudo isso?
É difícil responder a essas questões, tendo em vista que a noção de ado-
lescência ainda se encontra pouco definida. Muitos estudiosos da área buscam 
compreender o motivo dessa heterogeneidade de sinônimos atribuídos ao conceito 
adolescente. 
Se buscarmos uma definição de adolescência no dicionário, iremos verificar 
que a palavra é sinônimo de idade entre 12 e 18 anos, ou de juventude 
(WEISZFLOG, 2007). 
Essa primeira definição se refere apenas ao aspecto etário do conceito. Tam-
bém nos remete à palavra juventude, a qual, por sua vez, é sinônimo de período 
da vida entre a infância e a idade adulta. Ou, ainda, adolescência. A gente moça, 
mocidade. Antônimo: velhice. Juventude extraviada: gente moça desencaminha-
da dos bons costumes (WEISZFLOG, 2007). 
Essas definições ainda não apresentam o tema da adolescência com a devida 
clareza, pois apenas entendem que adolescência é uma fase etária da vida que se 
dá entre a infância e a idade adulta.
 Psicóloga e Especialista 
em Psicopedagogia pela Uni-
versidade São Judas Tadeu; 
Mestre em Psicologia na área 
de Fundamentos Psicosso-
ciais do Desenvolvimento 
Humano, pela Universidade 
São Marcos; Professora de 
Graduação no Curso de Pe-
dagogia e em cursos de es-
pecialização lato sensu em 
Psicopedagogia da Univer-
sidade Cidade de São Paulo 
(Unicid).
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Buscando outras definições para o termo em questão, foi realizada uma pes-
quisa com jovens italianos, por psicólogos e pesquisadores da Universidade de Roma. 
Os dados desse estudo foram publicados na obra intitulada A Condição Juvenil. Crí-
tica à Psicologia do Adolescente e do Jovem, em 1980 (COLE, 2003).
Por meio dessa pesquisa, concluiu-se que não existe uma definição precisa 
para as palavras adolescência e juventude. No entanto, boa parte dos estudiosos 
concorda que a adolescência é a fase que vem depois da infância, por volta dos 12 
anos, e termina antes da juventude, por volta dos 18 anos. Contudo, muitos tam-
bém alegam que adolescência e juventude não podem ser vistas como sinônimos, 
pois a primeira antecede a juventude que, por sua vez, corresponde ao início da 
idade adulta.
Mesmo que se entenda a adolescência como um período da vida, afirma-se 
que este não ocorre naturalmente. Explica-se que a adolescência também é um 
constructo social, questão levantada com o estudo de Philippe Ariès, em sua obra 
História Social da Criança e da Família (ARIÈS, 1981). 
Do ponto de vista biológico, quando se passa pela idade mencionada, o cor-
po do indivíduo passa por uma série de transformações. Este conjunto de altera-
ções físicas é chamado de puberdade, também definido como “a série de mudan-
ças biológicas que transformam os indivíduos de um estado de imaturidade física 
para um estado em que eles são biologicamente maduros e capazes de reprodução 
sexual” (COLE, 2003, p. 625).
Um dos primeiros sinais visíveis da puberdade é uma explosão do índice de 
crescimento físico, desencadeado pela produção de alguns hormônios, tais como 
o do crescimento. Nessa fase, os meninos e as meninas crescem mais rapidamente 
do que em qualquer época.
As alteraçõeshormonais mais visíveis são o aparecimento de acnes, pelos 
nas axilas e nas regiões pubianas. Nas meninas, os seios se desenvolvem, o útero 
aumenta e vem a primeira menstruação, conhecida como menarca. Nos meni-
nos, ocorre o desenvolvimento da musculatura, a voz muda (engrossa) e ocorre 
a primeira ejaculação, conhecida como semenarca que, em geral, é espontânea e 
ocorre durante o sono, chamada de polução noturna.
O autor Daniel Becker (1992) afirma que é preciso olhar o adolescente de 
uma perspectiva mais ampla, que inclua não só as transformações biológicas e 
psicológicas, mas também o contexto socioeconômico, cultural e histórico no qual 
esse jovem está inserido.
Como se pode notar há uma grande diversidade de explicações sobre o ter-
mo adolescência, tais como a de abordagem biológica, que abrange informações 
importantes sobre as transformações corporais vividas pelos adolescentes e que, 
com certeza, são essenciais para compreendermos essa fase do desenvolvimento 
do indivíduo. 
Contudo, ainda nos parece importante destacar e aprofundar a definição 
de Becker, que atenta para o caráter social do “adolescer”. Vejamos mais alguns 
aspectos dessa abordagem a seguir.
Adolescência
8
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Adolescência e a sociedade
A adolescência é um termo bastante recente em nossa sociedade e que foi 
se definindo entre os séculos XVIII e XIX. As mudanças sociais e econômicas 
daquele período produziram a necessidade de melhor precisão e delimitação dos 
grupos etários para a regulamentação das leis trabalhistas. Naquela época, os jo-
vens de idade entre 13 e 15 anos eram vistos como crianças e o limite da infância 
estava mais ligado à dependência do indivíduo de sua família do que às mudanças 
biológicas em seu corpo.
Com o surgimento da sociedade industrial, as mudanças começaram a sur-
gir, principalmente nas escolas. Essas instituições se viram obrigadas a se adaptar 
às mudanças culturais do período, instituindo, por exemplo, a separação entre 
a formação primária e a secundária. Dessa forma, acreditava-se ser mais fácil 
educar as massas de operários e camponeses. Essa organização do sistema educa-
cional resultou em alterações de comportamento dos professores ao lidarem com 
seus alunos.
Os alunos mais velhos, que já frequentavam a formação secundária, come-
çaram a ser mais cobrados pelos seus professores. Também se esperavam des-
ses alunos atitudes mais responsivas e comportamentos mais próximos aos dos 
adultos. Dessa forma, a adolescência como grupo etário foi surgindo de forma 
gradual.
Com o avanço da sociedade da fábrica, o mercado passou a necessitar, cada 
vez mais, de mão de obra especializada, fato que estimulou os jovens a se prepa-
rarem para o mundo do trabalho e, consequentemente, tornarem-se adultos.
Na mesma época, houve uma mobilização de educadores, psicólogos, pa-
dres e médicos no sentido de evitarem o trabalho infantojuvenil. Tais profissionais 
alegavam os malefícios do trabalho para o desenvolvimento de crianças e adoles-
centes. Esse embate contribuiu para que, ao longo dos anos, a escola se adaptasse 
a essa nova concepção de indivíduo, que passava por diferentes fases de desenvol-
vimento ao longo da vida. Segundo Cole (2003), nesse momento também ocorreu 
uma extensão do ensino às diferentes camadas sociais. As crianças, habitantes das 
regiões urbanas, que não trabalhavam eram vistas como uma responsabilidade da 
comunidade, e deveriam ser devidamente educadas para não se tornarem desor-
deiras.
Portanto, as escolas públicas foram criadas tanto para aumentar o controle so-
cial sobre as crianças como para lhes ensinar uma profissão. As escolas se tornaram 
locais para supervisionar o desenvolvimento das crianças quando nem os pais, 
nem os empregadores estavam por perto. Nesse mesmo contexto, houve um au-
mento do tempo escolar, expansão da educação secundária e outros fatos que 
contribuíram para o desenvolvimento da noção de adolescência.
É importante ressaltar que a adolescência não ocorre da mesma forma para 
todas as culturas.
Adolescência
9
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O roteiro kikuyu tradicional para o sexo 
entre adolescentes
(WORTHMAN; WHITING apud COLE, 2003 p. 648)
No início do século XX, entre os povos kikuyu do Quênia Central, os 
meninos e as meninas passavam por uma cerimônia de iniciação ou rito de 
passagem, pouco antes do início da puberdade, após a qual os meninos eram 
considerados guerreiros juniores e as meninas consideradas donzelas. Nos vá-
rios anos que se seguiam, as relações sexuais aprovadas entre os rapazes e as 
garotas seguiam um roteiro que diferia muito dos hábitos e costumes de outros 
países como o Brasil.
Além de ajudar suas mães com as tarefas domésticas e a jardinagem, 
esperava-se que as donzelas kikuyu fortalecessem a coesão social do grupo 
entretendo os amigos solteiros de seus irmãos mais velhos. O entretenimen-
to incluía não somente a dança e as festas, mas uma espécie de ato amoroso 
chamado ngweko. Jomo Kenyatta, primeiro presidente do Quênia, após esse 
país conquistar sua independência em 1962, descreveu o ngweko da seguinte 
maneira:
“As meninas visitam seus namorados em uma cabana especial, thingira, 
usada como local de encontro pelos rapazes e garotas [...] As meninas podem 
visitar a thingira a qualquer hora do dia ou da noite. Depois de comer, en-
quanto estão envolvidas em conversas com os rapazes, um dos rapazes muda 
totalmente de assunto para se referir ao ngweko. Se houver mais rapazes do 
que garotas, as garotas são solicitadas a escolher quem elas querem como seu 
companheiro. A escolha é feita da maneira mais liberal [...] Num caso des-
se tipo, não é necessário as garotas selecionarem seus amigos mais íntimos, 
pois isso seria considerado egoísta e insociável [...] Depois dos casais estarem 
montados, um dos rapazes se levanta, dizendo ndathie kwenogora (eu vou me 
esticar). Sua parceira o acompanha até a cama. O rapaz tira toda sua roupa. A 
garota retira a parte superior da sua roupa [...] e mantém sua saia, motheru, e 
seu avental macio de couro, mwengo, que ela puxa para trás entre suas pernas 
e enrola junto com sua saia de couro, motheru. As duas caudas em forma de v 
de seu motheru são puxadas de trás para frente entre suas pernas e presas na 
cintura, mantendo assim o mwengo na posição e formando uma efetiva pro-
teção para suas partes privadas. Nessa posição, os amantes deitam juntos de 
frente um para o outro, com sua pernas entrelaçadas para evitar qualquer mo-
vimento de seus quadris. Eles começam a se acariciar, esfregando os seios e ao 
mesmo tempo se envolvendo em uma conversa erótica até caírem no sono”.
A relação sexual era explicitamente proibida como parte dessa atividade 
sexual pré-conjugal. Na verdade, tanto os rapazes quanto as garotas apren-
diam que, se um deles tocasse diretamente os genitais do outro, eles ficariam 
contaminados e teriam de passar por um dispendioso rito de purificação. Os 
rapazes que não cumpriam essa restrição eram banidos por seus pares. Só com 
o casamento a relação sexual era sancionada.
Vejamos o exemplo:
Adolescência
10
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A partir desse texto, nota-se que os jovens kikuyu se comportam de for-
ma muito diferente dos jovens de nossa sociedade. Nela os jogos de sedução são 
acontecimentos comuns, vividos por todos os indivíduos que passam ou já passa-
ram pela fase da adolescência. No entanto, o povo kikuyu, segundo sua tradição, 
procura cercar essa etapa com vários ritos e crenças, devido à importância do 
momento para a comunidade citada.
Como se pode perceber, cada povo, de acordo com sua cultura, possuiuma 
ideia diferente de adolescência, que será responsável por determinar que tipo de 
exigência será feita aos jovens, de que direitos eles poderão usufruir, bem como 
as maneiras como seu comportamento será interpretado. 
Se os adolescentes vivem em uma sociedade que considera a puberdade 
como início da idade adulta, deles será esperado que já possuam subsídios econô-
micos para viverem sozinhos. Também será esperado que eles sejam legalmente 
responsáveis por suas ações. 
Inversamente, se esses jovens vivem em uma sociedade que considera seus 
jovens ainda crianças, eles serão cuidados por outras pessoas e permanecerão 
isentos de muitas responsabilidades próprias do mundo adulto. No entanto, será 
esperado deles que obedeçam às exigências dos mais velhos como preço por sua 
contínua dependência.
É importante ressaltar que, em nossa cultura, não há um único ritual de 
passagem que marque a fase do final da infância e do início da vida adulta. Os 
acontecimentos biológicos, psicológicos, culturais e sociais são os sinais que de-
terminarão o momento em que um indivíduo deixará de ser criança para se tornar 
um adolescente. 
Em nossa sociedade ainda existe o tradicional hábito de se comemorar o 
aniversário de 15 anos de uma jovem com uma grande festa. Considera-se que ela, 
a debutante, já esteja pronta para ser apresentada à sociedade, pois já é uma moça. 
Esse ritual de passagem, próprio de famílias mais privilegiadas financeiramente, 
encontra-se bastante distante da realidade das jovens da periferia. São muitos os 
casos dessas moças que iniciam sua vida adulta com uma gravidez inesperada ou 
com um emprego para que possam ajudar a pagar as despesas da própria família. 
Não estamos dizendo que isso é uma regra. A situação poderia ser inversa, 
pois jovens da periferia também fazem festas para comemorar os 15 anos e meni-
nas de classe média/alta também engravidam ou trabalham. Entretanto, sabemos 
que o fator econômico é bastante significativo para o desenvolvimento dos nossos 
adolescentes.
Por isso, é importante ressaltar que em nossa sociedade não vemos a adoles-
cência como uma fase bem definida do desenvolvimento humano, mas como um 
período que apresenta suas características e suas implicações na personalidade e 
identidade do jovem.
Ao longo dessa fase, muitos aspectos da personalidade do indivíduo serão 
estabelecidos para sua vida inteira. Por isso, é correto afirmar que a fase que 
Adolescência
11
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antecede a adolescência corresponde a um momento em que as características 
assumidas pelo indivíduo vão determinar a maneira como ele viverá sua adoles-
cência e ingressará no mundo adulto.
Os jovens de classe média, com certeza, possuem um período mais longo de 
preparação. Nesse momento, tomam importantes decisões acerca de sua vida, como 
a escolha de uma carreira universitária. Já o jovem de classe operária pode cursar 
uma escola técnica onde aprenderá um ofício e ingressará no mundo de trabalho 
mais rapidamente. Outros jovens, ainda, nem sequer chegam ao Ensino Médio, pois 
deixam de frequentar a escola para trabalhar e ajudar na renda familiar. Vale lem-
brar, no entanto, que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) garante que 
nenhuma pessoa deverá trabalhar antes dos 16 anos. 
Estudo de caso
Temos jovens com 23, 24 anos de idade que ainda cursam a faculdade, são 
dependentes dos pais e que devem obedecer às normas e regras estabelecidas por 
eles. E temos jovens com 17, 18 anos que já são pais de família, ou, ainda, jovens 
de 15, 16 anos que sustentam a casa com seu trabalho.
Não podemos dizer que o jovem de 15 anos que sustenta sua família e tem res-
ponsabilidades de um adulto ainda é um adolescente, tampouco dizer que o jovem de 
24 anos, sustentado pelos pais, seja um adulto.
Diante das circunstâncias da vida e da forma como se expressa no campo 
social, o adolescente acaba por apresentar uma certa instabilidade emocional, 
ou seja: ora está eufórico, alegre e apaixonado, ora está irritado e isolado.
O filósofo Jean-Jacques Rousseau, em sua obra Emile (COLE, 2003, p. 623), 
ao descrever o adolescente, dá-nos uma ideia bem clara do que estamos dizendo.
Assim como o estrondo das ondas precede a tempestade, também o mur-
múrio das paixões crescentes anuncia essa tumultuosa mudança e uma ex-
citação reprimida nos adverte do perigo que se aproxima. Uma mudança de 
humor, frequentes ataques de raiva, uma perpétua agitação da mente tornam 
a criança quase incontrolável. Ela se torna surda à voz que costuma obede-
cer; é um leão agitado; desconfia do seu tratador e se recusa a ser controlado. 
(COLE, 2003, p. 172)
O jovem está no meio do caminho. Atrás de si tem toda uma infância, mo-
mento em que a família, a escola e os pequenos grupos de amigos deram-lhe 
proteção e segurança. Ao mesmo tempo, ofereceram-lhe um conjunto de valores, 
crenças e referências que formaram sua identidade. Diante de si tem um futuro 
como adulto, adaptado à sociedade, em que segurança e proteção são oferecidas 
pelas instituições sociais – o trabalho, a família – da qual espera-se que o jovem 
seja o protagonista. 
Adolescência
12
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Conclusão
Iniciamos este capítulo com o objetivo de definir adolescência, conhecê-la 
melhor e com isso podermos, como professores, ter subsídios para lidar com nos-
sos alunos adolescentes. É claro que esse é só o ponto inicial de nossas discussões 
e nos próximos capítulos iremos nos aprofundar mais no assunto.
O que é necessário destacar deste capítulo é a definição de adolescência que, 
embora seja um ponto bastante discutido e bastante polêmico entre os especialistas, 
podemos entendê-lo como uma fase que é constituída por várias instâncias (biológi-
cas, sociais e culturais). E que a adolescência é uma construção social e cultural que 
terá suas características específicas dependendo da sociedade em que o indivíduo está 
inserido.
Jovens: protagonistas de mudanças sociais
(AMARAL1, 2007)
Diante de tantas dificuldades, o jovem se vê perdido. A resposta, muitas ve-
zes, é a apatia, esquecendo-se, às vezes, do seu papel de transformador da reali-
dade. 
Nós, jovens, a cada dia somos cercados por problemas sociais que atingem 
toda sociedade. Acredito que os jovens têm um papel fundamental na sociedade 
de promover mudanças, de ser este motor que impulsiona toda a sociedade.
Vivemos um fenômeno chamado onda jovem, isso significa que esta é a 
geração mais jovem de todos os tempos. Mas o que realmente entendemos por 
juventude? Podemos considerar ser uma fase caracterizada por uma série de 
transformações e tomadas de decisões. É nesse período que o jovem começa a 
inserir-se no mercado de trabalho, a idealizar sua profissão, a pensar na cons-
trução de um mundo melhor.
Por ser um elemento novo nessa sociedade e, muitas vezes, não aceitar cer-
tos conceitos e normas estabelecidas, esse jovem é definido por muitos como 
contestador, revolucionário, rebelde. Na verdade, isso se deve ao fato de essa 
fase ser recortada por todas as variantes sociológicas que podemos aplicar ao 
conjunto de uma população, sendo que o jovem, por dificuldades tanto de acei-
tação de si mesmo como do meio que o cerca, torna-se mais sensível às oscila-
ções entre o conjunto das oportunidades ofertadas pela sociedade e o conjunto 
efetivo das oportunidades de realizar uma vida considerada significativa.
Diante de tantas dificuldades, o jovem muitas vezes se vê perdido e sem 
saída. A resposta muitas vezes para o conflito é a apatia diante da realidade. 
Esquece, às vezes, o seu papel fundamental de transformador. Descrentes de 
melhores perspectivas, esses jovens se omitem da participação política.
* FranciscoRodrigo Josino Amaral é estudante, edu-
cador jovem, diretor-presi-
dente do Instituto de Juven-
tude Contemporânea (IJC), 
membro do Coletivo da Rede 
de Jovens do Nordeste – Cea-
rá e militante da Pastoral da 
Juventude do Ceará Política.
Adolescência
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Nesse sentido, boa parte da juventude encontra sua forma de resposta pú-
blica, diante desse quadro pela reprodução da violência. A mídia acaba, muitas 
vezes, afirmando o jovem, não pelos espaços públicos que ocupa, mas por ce-
nários mediados pela violência que causa. Não se trata de reduzir o mundo de 
significação juvenil à violência, mas preenchê-lo com suas diferenças, busca 
de diálogos sobre desafios e descobertas, partilhas e solidariedade.
No Ceará, não existem políticas públicas efetivas que consigam cobrir todo 
esse segmento e as que existem são de caráter compensatório, apresentando res-
postas insuficientes, incapazes de resolver a malha da questão social. Não dife-
rente de outros segmentos da sociedade. Desde cedo o jovem enfrenta proble-
mas com a sua inserção no mercado de trabalho, que ocorre de forma prematura 
e este, em resposta, acaba, de certa forma por ser um grande pressionador de 
novos postos de trabalho num mercado que não consegue mais responder a uma 
demanda que cresce cada vez mais. 
Diante dessa realidade, o Projeto Tendas da Juventude, desenvolvido pelo 
Instituto da Juventude Contemporânea (IJC), em sintonia com o Projeto Saia 
do Muro realizará ações diretas junto aos jovens com o objetivo de despertar 
o interesse pela participação política através do fortalecimento da importância 
de votar conscientemente. 
Esse processo dar-se-á por meio de encontros com as lideranças juvenis, 
em visitas diretas às escolas, com simulação de eleições, buscando sempre 
romper com a cultura do voto de cabresto. Além disso, será realizado um 
encontro com os políticos eleitos a fim de que os próprios jovens possam apre-
sentar uma agenda política que conterá propostas de políticas públicas volta-
das para o atendimento de suas necessidades.
1. Por que os especialistas afirmam que é tão difícil chegar a uma definição sobre adolescência?
Adolescência
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2. Defina puberdade.
3. Por que podemos ter jovens passando pela adolescência de formas diferentes, mesmo morando 
em uma mesma sociedade e compartilhando as mesmas crenças e valores culturais?
Adolescência
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Para aqueles que desejam conhecer mais alguns aspectos próprios da adolescência indicamos 
o livro O que É Adolescência?, de Daniel Becker. O livro pertence à coleção Primeiros Passos da 
editora Brasiliense. A leitura é bastante simples, sendo uma ótima opção para o professor trabalhar o 
tema com seus alunos.
1. Os pesquisadores concluem que não existe uma definição precisa para as palavras adolescên-
cia e juventude, pois cada área do conhecimento vê esse fenômeno a partir de uma abordagem 
específica. A medicina vê a adolescência como um processo de maturação física do corpo 
humano. A psicologia vê a fase do adolescer como uma etapa importante da psique em que 
a personalidade começa a ser consolidada. Outras ciências humanas, tais como a história e a 
sociologia, afirmam a influência do contexto sócio-histórico para o estabelecimento da fase 
que conhecemos por adolescência, tendo em vista que em outras épocas ela ainda não existia. 
Por isso, são muitos os pesquisadores que concordam quanto ao fato dessa fase ser fruto de uma 
construção social e, por isso, ser tão difícil de ser delimitada, conceituada em uma única defini-
ção. 
2. Puberdade compreende uma série de mudanças biológicas que tornam os indivíduos maduros 
e capazes para a reprodução sexual. Um dos primeiros sinais mais visíveis da puberdade é 
uma explosão do índice de crescimento físico. Nessa fase, os meninos e as meninas crescem 
mais rapidamente do que em qualquer outra época. Alterações hormonais que acompanham a 
puberdade causam uma ampla variedade de mudanças físicas, tanto nas mulheres quanto nos 
homens. As mais visíveis são o aparecimento de acnes, pelos (axilas, área genital etc.). Nas 
meninas os seios se desenvolvem, o útero aumenta e ocorre a primeira menstruação, conhecida 
como menarca. Nos meninos ocorre o desenvolvimento da musculatura, a voz muda (engros-
sa) e ocorre a primeira ejaculação, conhecida como semenarca que, em geral, é espontânea e 
ocorre durante o sono, chamada de polução noturna. Obs.: se o aluno responder somente usan-
do o primeiro parágrafo está correto, porém, a resposta fica mais completa como está aqui.
3. Porque a adolescência é uma construção social e são vários os fatores que interferem no modo 
como se desenvolve essa fase. Por exemplo: o fator econômico pode determinar se um jovem irá 
ingressar no mundo do trabalho mais rapidamente e logo ter responsabilidades de um adulto. 
Diferentemente, um outro rapaz, por ter uma condição financeira melhor, poderá frequentar 
uma faculdade, mantendo-se financeiramente dependente dos pais e, consequentemente, levan-
do mais tempo para ter as responsabilidades de adulto.
Adolescência
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Desenvolvimento 
e identidade 
do adolescente
Então, um belo dia, a lagarta inicia a construção do seu casulo. 
Este ser, que vivia em contato íntimo com a natureza e a vida exterior, 
se fecha dentro de uma casca, dentro de si. E dá início à transformação que 
o levará a um outro ser, mais livre, mais bonito (segundo algumas estéticas) 
e dotado de asas que lhe permitirão voar.
Daniel Becker
É assim que Becker descreve o processo de metamorfose pelo qual a criança inicia sua entrada no mundo adolescente. Para o autor, é necessário que a criança passe por algumas transformações e que, em alguns momentos, isole-se em seu casulo para poder ingressar na adolescência e chegar, 
finalmente, à idade adulta, momento em que já terá amadurecido, e estará livre e segura.
É claro que todas essas mudanças e passagens estão permeadas por situações que envolvem o 
biológico, o psicológico e o social existente na vida do indivíduo e, para que possamos compreender 
melhor essas etapas, neste capítulo discutiremos o desenvolvimento e a formação da identidade do 
adolescente.
Desenvolvimento humano
O início da vida de cada um de nós é marcado por uma série de acontecimentos físicos, cogni-
tivos e psicossociais que têm seu início no momento em que somos concebidos. Nossa vida começa 
com uma única célula, não maior que a cabeça de um alfinete. Após nove meses, nascemos e incrivel-
mente nos tornamos um organismo complexo, composto por bilhões de células.
A partir daí, muitas transformações passam a acontecer: a cada dia o organismo humano vai se 
aperfeiçoando e caminhando para seu pleno desenvolvimento.
Mas será que o ser humano chega a um momento em que não se desenvolve mais?
Essa é uma pergunta de difícil resposta. Muitos estudiosos afirmam que o ser humano se de-
senvolve por toda sua vida, pois está em constante relação com o mundo e, em cada momento, troca 
experiências e se modifica.
Já para outros estudiosos, o homem chega a seu pleno desenvolvimento quando chega à idade 
adulta.
Uma das mais importantes áreas que discute o desenvolvimento humano é a Psicologia e entre 
seus maiores teóricos está o psicólogo e biólogo suíço Jean Piaget (1896-1980) que trouxe uma enorme 
contribuição para o conhecimento do comportamento humano com suas pesquisas. Entre tais contri-
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buições, pode-se mencionar a compreensão mais profunda acerca do desenvolvi-
mento infantil e juvenil.
Piaget defendeu que o desenvolvimento humano vai muito além do poten-
cial inato da criança. Esse desenvolvimento, em sua maior parte, é ocasionado 
pela relação do indivíduo com o meio externo, que o afeta e o modifica, ao mesmo 
tempo em que esse mesmo indivíduo também é responsável por afetar e modificar 
seu ambiente. Para Piaget, a sociedade tem grande influência sobre o desenvolvi-
mento das crianças, e, o conhecimento que adquirimos resulta na maneira como 
modificamos e transformamos o mundo.
Ainda de acordo com Piaget, as crianças, lutando ativamente para dominar 
seu ambiente, constroem níveis de conhecimento sucessivamente mais elevados. 
Como se pode notar, as circunstâncias ambientais também contribuem substan-
cialmente com o processo de desenvolvimento do indivíduo. Por isso, acredita-se 
que o ambiente/meio é o fator responsável por determinar de que modo e em que 
momento ocorrerão as mudanças na vida de uma criança. 
Esse processo de desenvolvimento é marcado por uma série de estágios cuja 
ordem é a mesma para a grande maioria das pessoas, embora, como já dissemos, 
a idade do início e do término de cada fase possa variar. Eis, a seguir, as fases de 
desenvolvimento propostas por Piaget.
Período sensório-motor: 
recém-nascido e o lactente de 0 a 2 anos
Principais características do período
 Antecede o desenvolvimento da linguagem falada.
 A criança aprende a coordenar seus sentidos com o comportamento motor.
 O mundo é representado por meio de ações, ou seja, o conhecimento 
construído durante os dois primeiros anos de vida é um conhecimento 
físico, de noções sobre as características do objeto. Um bebê descobre 
um objeto do seu ambiente manipulando-o.
 Não existe a função simbólica, ou seja, o indivíduo não apresenta o pen-
samento no sentido amplo, nem afetividade ligada a representações que 
permitam evocar pessoas ou objetos na ausência deles.
Nessa fase, a criança elabora o conjunto das subestruturas cognitivas que 
servirão de ponto de partida para as construções intelectuais posteriores.
Período pré-operatório: 
a primeira infância (de 2 a 7 anos)
No período conhecido como primeira infância, que se dá entre as idades de 
2 a 7 anos, a criança adquire a capacidade simbólica. E por meio dessa capacidade 
Desenvolvimento e identidade do adolescente
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o indivíduo torna-se capaz de realizar evocações representativas de um objeto que 
não está presente, ou, de um fato passado. Isso pode acontecer de cinco formas:
 imitação diferida – imitar ou reconstruir uma cena presenciada;
 jogo simbólico – fingir dormir, por exemplo;
 desenho – imagem gráfica de um objeto;
 imagem mental – imitação interior, ou seja, a criança é capaz de repre-
sentar mentalmente (por meio da memória) objetos, experiências percep-
tivas passadas;
 linguagem – evocação verbal de acontecimentos.
Nesse período a criança lida com imagens concretas e estáticas, sendo seu 
pensamento limitado pelos seguintes problemas:
 concretude – a criança só consegue lidar com objetos concretos, por 
exemplo: se você pegar uma maçã, cortar ao meio e perguntar à criança 
quantos pedaços ela tem, ela responderá dois. Agora se você pedir para 
uma criança (nessa faixa etária) que imagine essa operação, ela terá difi-
culdade para responder.
 irreversibilidade – a criança é incapaz de organizar mentalmente objetos, 
por exemplo: você apresenta à criança dois copos com a mesma quanti-
dade de líquidos e coloca o líquido, de um dos copos, em outro recipiente 
mais fino e mais alto. A criança dificilmente irá responder que o líquido 
é o mesmo e o que mudou foi o tipo de copo.
 egocentrismo – o indivíduo não consegue se colocar no lugar de outra 
pessoa, ou seja, a criança acredita que todos pensam como ela e as mes-
mas coisas que ela. 
 centralização – o indivíduo nesse estágio só consegue prestar atenção a 
uma característica do objeto de cada vez, por exemplo: diante de duas 
fileiras de fichas, uma contendo dez fichas (fileira A), bem próximas uma 
das outras, e outra fileira contendo sete fichas (fileira B) organizadas com 
mais espaços entre elas, a criança irá dizer que a fileira B é maior que a 
fileira A, mesmo sabendo que dez é maior que sete.
 raciocínio transdutivo (intuitivo) – a criança raciocina que se A causa B, 
então B causa A.
Período operatório concreto: dos 7 aos 12 anos
No período das operações concretas, o raciocínio da criança se torna lógico. 
Nesse momento, surgem os esquemas para as operações de seriação e de classi-
ficação e ocorre o aperfeiçoamento dos conceitos de causalidade, de espaço, de 
tempo e de velocidade. A criança também já pode focalizar sua atenção nas trans-
formações que ocorrem com o meio a sua volta. O lado egocêntrico da sua perso-
nalidade perde força. Já a lógica regente do raciocínio transdutivo é relativizada, 
pois a criança percebe que ele nem sempre pode ser aplicado em seu cotidiano. 
Desenvolvimento e identidade do adolescente
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A conservação ou o instinto de autopreservação já se faz presente no indi-
víduo, bem como a capacidade de classificar e seriar.
A criança nesse período, ainda que esteja apta às operações de reversibilida-
de e descentralização, é incapaz de aplicá-las a situações abstratas. Nessa fase, a 
reversibilidade cumpre o fim de preparar o indivíduo para o período subsequente.
Período operatório formal: de 12 anos em diante
Essa fase marca o início da adolescência, momento em que o indivíduo 
desenvolve um refinamento intelectual que o torna apto a realizar operações men-
tais, não somente com objetos concretos, mas também com símbolos. Vejamos as 
principais características dessa etapa do desenvolvimento:
 regulação da vida afetiva – surgimento de sentimentos idealistas, ou me-
lhor, o jovem passa a aplicar o critério de pura lógica para julgar os even-
tos humanos. Se é lógico, é bom, é correto; 
 autonomia – começa a surgir a reversibilidade do pensamento, ou seja, o 
indivíduo torna-se capaz de se colocar no lugar do outro e, por isso, passa 
a respeitar os demais;
 heteronomia – ou seja, surgimento dos primeiros sentimentos morais e o 
respeito pelos mais velhos;
 regra – passa a ser vista como um acordo entre duas ou mais pessoas, 
diferentemente das fases anteriores, em que as regras são fixas, a criança 
joga para vencer, sem se preocupar com acordos ou atividades em equi-
pes, em que é necessária a união do grupo. 
 noção de companheirismo, estima, mentira e justiça (certo/errado).
O que vimos até aqui trouxe-nos informações para compreendermos as mu-
danças significativas que ocorrem na vida do indivíduo quando ele chega à ado-
lescência.
Desenvolvimento do adolescente
Como já visto, o desenvolvimento do indivíduo abrange questões de âmbi-
to biológico, psicológico e social. Neste tópico vamos conhecer quais são essas 
transformações e quais suas implicações na vida do adolescente.
Iniciamos por conhecer melhor as transformações ligadas à maturidade bio-
lógica do adolescente.
Geralmente, após os dez anos de idade, a série de mudanças biológicas, 
chamada de puberdade, coloca o jovem em um estado de amadurecimento bio-
lógico que o torna capaz de se reproduzir sexualmente. Esse amadurecimento 
está ligado a uma série de transformações que se iniciam por um sinal químico 
do hipotálamo, localizado na base do cérebro. A partir desse sinal, a glândula da 
hipófise é ativada e aumenta a produção de hormônios do crescimento (COLE, 
2003, p. 626).
Desenvolvimento e identidade do adolescente
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Segundo Cole (2003), além dos hormônios do crescimento, também ocorre 
um aumento na fabricação de dois hormônios gonadotróficos, ou seja, aqueles que 
são produzidos pelas gônadas sexuais (gonad-seeking). Essas gônadas ou órgãos 
sexuais primários correspondem aos ovários, nas meninas, e aos testículos, nos 
meninos. Neles, esse tipo de hormônio estimula os testículos e as glândulas su-
prarrenais a produzirem a testosterona, hormônio responsável pela produção do 
esperma. 
Nas meninas, a liberação dos hormônios de crescimento estimula os ovários 
a produzirem o estrógeno e a progesterona, responsáveis por controlar o processo 
de produção do óvulo até o momento em que é liberado para a reprodução. Vale 
ainda ressaltar que tanto a testosterona como o estrógeno e a progesterona estão 
presentes em ambos os sexos, só que em proporções diferentes. Nos meninos, a 
testosterona é 18 vezes maior do que nas meninas, as quais, por sua vez, possuem 
uma quantidade de estrógeno 8 vezes maior que o sexo oposto.
As diferenças físicas entre homens e mulheres podem nos ajudar a compre-
ender o motivo pelo qual os indivíduos do sexo masculino têm sido, tradicional-
mente, os responsáveis pelos trabalhos mais pesados. Elas também ajudam a expli-
car o bom desempenho dos atletas masculinos, mesmo frente à melhor das atletas 
femininas. Entretanto, em alguns aspectos, as mulheres levam vantagem, exibem 
uma maior capacidade física do que os homens. Isso porque elas vivem mais tem-
po e têm maior capacidade de tolerar o estresse a longo prazo (HAYFLIVK apud 
COLE, 2003).
O ritmo das mudanças da puberdade depende das interações complexas entre 
fatores genéticos e ambientais. Em todas as sociedades, as mudanças biológicas, 
próprias da puberdade, têm um profundo significado social e psicológico, tanto para 
os jovens como para a comunidade em que estão inseridos.
Além das mudanças de caráter biológico, na adolescência também ocorrem 
alterações no modo como os jovens interagem com seus familiares, amigos e co-
legas. De acordo com Cole (2003), esses indivíduos passam por uma profunda re-
organização de seus relacionamentos sociais. Essa reorganização envolve quatro 
mudanças importantes:
 aumento da interação com os amigos e colegas. Nessa fase, os jovens au-
mentam significativamente o tempo que passam com seus colegas, não 
lhes restando muito tempo para passarem com seus familiares;
 diminuição do controle de suas ações por parte dos adultos;
 aumento da aproximação com indivíduos do sexo oposto;
 aumento do número de colegas, amigos e conhecidos, tendo em vista a 
preferência dos adolescentes por compartilhar seus interesses, valores, 
crenças e atitudes.
Como se pode observar, na adolescência é comum o indivíduo vivenciar um 
número bem maior de relacionamentos do que quando ainda era criança. Dessa 
forma, os adolescentes tornam-se mais distantes de seus pais e, geralmente, recor-
rem aos seus colegas e amigos quando precisam de algum conselho ou opinião. 
Desenvolvimento e identidade do adolescente
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Entretanto, a qualidade do relacionamento entre pais e adolescentes está ligada a 
muitos fatores.
Geralmente, os pais buscam estruturar as realidades de seus filhos com 
aquilo que possuem de melhor para que o jovem se desenvolva como se espera. Já 
os jovens, por outro lado, buscam suas próprias realidades, seus próprios sonhos 
e desejos, e tentam estabelecer certa autonomia de pensamento com relação aos 
seus progenitores. 
Tudo isso gera um grande conflito entre pais e filhos jovens, sendo que estes 
últimos acabam se sentindo presos a dois mundos, quais sejam, o da dependência 
infantil e o da responsabilidade adulta. 
Por mais difícil que seja o diálogo entre pais e filhos e, mesmo que haja bas-
tante resistência dos jovens em acatar as ideias dos mais velhos, vale destacar que 
esse tipo de diálogo possui grande influência na vida do adolescente o qual, numa 
situação de dificuldade, acaba relembrando os conselhos e as conversas familiares 
para tomar decisões importantes. 
Por isso, os pais precisam ser muito cuidadosos com o tipo de relaciona-
mento que estabelecem com seus filhos. Estudos realizados por Andrew Fuligni 
e Jacqueline Eccles em 1993, com alunos do Ensino Fundamental II, mostraram 
que a duração do tempo que os adolescentes destinavam aos amigos dependia de 
como o comportamento de seus pais mudava em resposta ao seu crescimento. Se 
os pais se tornavam mais rígidos à medida que seus filhos iam se aproximando 
da adolescência, estes recorriam mais aos amigos. Em contrapartida, quando os 
pais incluíam seus filhos nas decisões familiares e respeitavam suas ideias, estes 
já passavam menos tempo com seus colegas (COLE, 2003).
Fica claro que os conflitos existentes entre pais e filhos se intensificam com 
o início da adolescência. É importante que os pais fiquem atentos a essas alte-
rações físicas e emocionais de seus filhos e que ambos encontrem uma maneira 
de negociar a independência do jovem, de modo a lhe garantir direitos iguais e 
responsabilidades condizentes com a sua idade para que ele possa se tornar um 
adulto íntegro.
Para os adolescentes, essa é uma fase caracterizada por uma crise de identi-
dade na qual se deparam com questionamentos sobre o corpo, valores existentes, 
escolhas a serem feitas, o que lhes é exigido e o seu lugar na sociedade.
Pouco a pouco o adolescente vai se afastando de sua infância e construin-
do um novo eu. É o início de uma nova organização pessoal e social, cheia de 
rebeldias, rupturas, contestações que exigem uma reflexão sobre os valores que o 
cercam e sobre o mundo.
Desenvolvimento e identidade do adolescente
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Neste esquema, apresentamos as interfaces da temática identidade com os temas transver-
sais dos Parâmetros Curriculares Nacionais como proposta para educadores sugerida por Serrão 
e Baleeiro (1999):
Temática Temas transversais
Meio ambiente Perceber, apreciar e valorizar a diversidade natural e sociocultural, adotando posturas de respeito aos 
diferentes aspectos e formas do patrimônio, étnico e cultural.
Pluralidade 
cultural
Conhecer a diversidade do patrimônio etnocultural brasileiro, tendo atitude de respeito para com as 
pessoas e grupos que o compõem, reconhecendo a diversidade cultural como um direito dos povos e 
dos indivíduos e elemento de fortalecimento da democracia.
Valorizar as diversas culturas presentes na constituição do Brasil como nação, reconhecendo sua 
contribuição no processo de constituição do brasileiro.
Reconhecer as qualidades da própria cultura, valorando-as criticamente, enriquecendo a vivência 
de cidadania.
Valorizar o convívio pacífico e criativo dos diferentes componentes da diversidade cultural.
Saúde Adotar hábitos de autocuidado, respeitando as possibilidades e limites do próprio corpo.
1. Quais são os períodos do desenvolvimento, segundo Piaget?
Desenvolvimento e identidade do adolescente
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2. Cite três mudanças importantes que ocorrem na vida do jovem e que estão associadas aos fato-
res sociais.
Para uma maior compreensão do tema aqui abordado recomendamos o livro Seis Estudos de 
Psicologia, de Jean Piaget, sendo que a primeira edição é de 1967, pela editora Forense Universitária.
1. Sensório-motor; pré-operatório, operatório-concreto e operatório-formal.
2. Aumento da interação com os colegas; diminuição do controle de suas ações por parte dos adul-
tos; aumento da aproximação com indivíduosdo sexo oposto; intensificação dos relacionamentos; 
os adolescentes escolhem amigos que compartilham seus interesses, valores, crenças e atitudes.
Desenvolvimento e identidade do adolescente
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O adolescente e o 
relacionamento grupal
A adolescência marca uma nova fase na vida do indivíduo. Nas culturas ocidentais é o momento dele se preparar para entrar no mundo adulto.Muitos especialistas afirmam que esse é um período caracterizado por uma crise de identi-
dade, quando ocorrem questionamentos relativos ao próprio corpo, aos valores estabelecidos pela 
sociedade, às escolhas a serem feitas, ao seu lugar na sociedade, entre outras questões.
Pouco a pouco, o adolescente se afasta de sua identidade infantil e vai construindo uma nova 
definição de si mesmo. É um período que exige do jovem certa reorganização do seu espaço pessoal 
e social e que, segundo Serrão e Baleeiro (1999, p. 15), inicia-se “com contestações, rebeldias, ruptu-
ras, inquietações, podendo passar por transgressões, chegando a uma reflexão sobre os valores que o 
cercam, sobre o mundo e seus fatos e sobre o seu próprio existir nesse mundo”.
A construção dessa nova identidade é cercada por uma intensidade de sentimentos. O jovem 
começa a se conhecer, a perceber transformações e a questionar valores que foram por muito tempo 
sua base.
Inicia-se um questionamento de si mesmo enquanto um indivíduo dotado de uma personalidade 
quase adulta, com características próprias, fato que acaba por gerar alguns conflitos com a família, 
grupo, cultura e sociedade a que esse jovem pertence.
Nessa mesma fase, o indivíduo tende a fazer do seu grupo de amigos o mais importante do 
âmbito social. Dentre esses, escolhe aqueles que costumam ter os mesmos interesses, gostos, ideias, 
crenças, atitudes e que reafirmam a “nova” personalidade que começa a ser delineada naquele jovem 
com a chegada na adolescência. Por isso, para boa parte dos adolescentes, a lealdade e a intimidade 
se tornam critérios importantes para o estabelecimento de amizades. Cole (2003) afirma que são nas 
conversas íntimas com os amigos que os adolescentes se definem e exploram sua identidade. 
Importância das amizades 
e da família na adolescência
Durante a segunda infância (de 7 a 11 anos), as crianças tendem a formar grupos caracterizados 
por gêneros, ou seja, os meninos só têm amigos meninos e as meninas só se relacionam entre si. É um 
período marcado por disputas e sentimentos hostis entre ambos os sexos.
Quando essas mesmas crianças entram para a adolescência, tudo isso se modifica. O início da 
puberdade é marcado por uma série de transformações na vida, entre as quais podemos citar as mu-
danças físicas, que são as mais evidentes, e as comportamentais, que também são bastante visíveis e 
que geram alterações significativas nos relacionamentos dos nossos jovens.
Pesquisas realizadas nos Estados Unidos concluíram que os jovens que estão entre a 7.ª série do 
Ensino Fundamental e o Ensino Médio passam duas vezes mais tempo com seus pares da escola do 
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que com seus pais. Outra conclusão importante dessas pesquisas é que os grupos 
adolescentes funcionam com menos orientações e controle por parte dos adultos 
(COLE, 2003). Isso se dá porque o distanciamento para com os adultos aumenta 
cada vez mais para que seja possível o desenvolvimento da autonomia do jovem.
Erik Erikson, importante psicólogo que em seus estudos enfatizava o pro-
cesso da formação da identidade, afirmou que para o adolescente desenvolver 
uma identidade sólida é necessário que consiga moldar suas identidades nas es-
feras sociais e individuais, ou como ele mesmo afirmou, o adolescente precisa 
estabelecer a identidade dessas duas identidades (COLE, 2003).
Para Erikson, o adolescente desenvolve sua identidade por meio de um pro-
cesso que depende dos seguintes fatores:
 O julgamento que ele faz dos outros.
 O julgamento que os outros fazem dele.
 Como ele vê o julgamento dos outros.
 Como ele mantém em sua mente categorias sociais importantes quando 
faz um julgamento sobre outras pessoas.
O jovem tem um comportamento mais reflexivo que o leva a se preocupar 
com sua imagem social e sua integração, mas que também considera suas ideias 
e convicções individuais. 
As disputas próprias da infância e os grupos formados exclusivamente por 
crianças do mesmo sexo, na adolescência, dão lugar a grupos heterogêneos e mais 
numerosos que são menos influenciados pelo controle dos adultos. Vejamos no 
Quadro 1 as principais mudanças que ocorrem na vida do adolescente nos aspec-
tos biológicos, comportamentais e sociais:
Quadro 1 – A mudança biossociocomportamental – a transição para a 
idade adulta
Domínio biológico
Capacidade para a reprodução biológica.
Desenvolvimento de características sexuais secundárias.
Alcance do tamanho do adulto.
Domínio comportamental
Realização de operações formais em algumas áreas (pensamento sistemático).
Formação da identidade.
Domínio social
Relações sexuais.
Mudança para a responsabilidade fundamental por si mesmo.
Início da responsabilidade pelas próximas gerações.
(C
O
LE
, 2
00
3,
 p
. 7
08
)
O adolescente e o relacionamento grupal
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Mesmo que nesse momento os jovens de sexos opostos se relacionem mais 
facilmente, ainda boa parte de suas amizades mais próximas continua sendo do 
mesmo sexo. Quanto à qualidade dessas amizades, as meninas costumam ter um 
relacionamento mais intenso e ciumento. O contato ocorre com bastante frequên-
cia, seja via telefone, seja pelas conversas online. As meninas também costumam 
seguir o comportamento das amigas e procuram sempre fazer e ter o que a outra 
amiga faz e tem. Segundo Cole (2003, p. 638), esse comportamemto expresso em 
uma intensa competição entre as meninas tende a diminuir no final da adolescên-
cia. Segundo o autor, “as meninas tendem a ser menos assombradas pelo medo de 
serem abandonadas e traídas”. 
Diferentemente das meninas, os meninos têm amizades menos íntimas e 
mais numerosas. Nesse momento, estão mais preocupados em estabelecer sua in-
dependência com relação aos pais e outros adultos. Segundo Cole (2003), as ami-
zades dos meninos não são permeadas por sentimentos elevados e pela preocupa-
ção com os outros, ou seja, estão mais preocupados com seus planos individuais 
do que com a opinião dos colegas.
Dinâmica dos grupos
Nossa vida está marcada pela convivência em grupo. O tempo todo estamos 
nos relacionando, trocando ideias, aprendendo coisas novas, conhecendo outras pes-
soas, ou seja, nunca ficamos completamente sozinhos. Raramente encontraremos 
pessoas que vivam totalmente isoladas. Vivemos em grupo!
Para que a convivência entre as pessoas seja harmoniosa, tendo em vista as 
diferenças dadas entre seus componentes, são criadas normas e regras de forma 
a regular a vida em sociedade. Devido a isso, sabemos qual horário em que deve-
mos chegar ao trabalho e até que horas temos de trabalhar. Se eu vou a uma sessão 
de cinema, programo-me para chegar no horário porque sei que ela começará às 
20h, estando eu lá ou não.
Durante toda a vida participamos de vários grupos. Quando crianças, nosso 
grupo social é mais limitado, formado pelos nossos familiares e poucos amigos. 
Quando a vida escolar inicia, geralmente, o grupo de amigos aumenta.
Uma característica interessante dos grupos é que eles podem ser divididos 
em grupos que são formados pela convivência com pessoas que não escolhemos 
ter ao nosso lado, como os que se encontram nas salas de aulas, por exemplo. Esse 
tipo de grupo possuiuma solidariedade mecânica, designação oriunda da área 
da Psicologia Social para se referir ao grupo cujos integrantes não escolheram se 
agrupar por opção própria.
Há outro tipo de agrupamento, mobilizado pela solidariedade orgânica. 
Nele, seus integrantes optaram por estarem juntos, devido às afinidades, ideias e 
interesses, tais como ocorrem com as “panelinhas”, formadas em salas de aula, 
que podemos chamar também de subgrupos, pois foram formados a partir da 
existência de um grupo maior, nesse caso, a sala de aula.
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Vale notar que os grupos geralmente são de solidariedade orgânica, pois 
são formados por pessoas que compartilham as mesmas ideias ou têm objetivos 
parecidos.
Serrão e Baleerio (1999, p. 139), de maneira bem simples e direta, descre-
vem a experiência proporcionada pela fase inicial de formação de um grupo: 
Quando um grupo se inicia, todos chegam trazendo o que é seu. Desconfiados, apre-
ensivos, alegres, interessados, observadores, distraídos, esperançosos, temerosos, tími-
dos, expansivos, silenciosos, resistentes, eles vêm se aproximando em busca de algo, 
cada um com seu jeito, sua forma, seu temperamento, sua história de vida, seu dese-
jo, seu destino. Mãos soltas e olhares inquietos, começam a ver outros seres, outros 
olhos, e ao se darem as mãos somam afetos, alegrias, preocupações, carinhos, medos. 
Um grupo se forma quando todos encontram nele seu lugar, lugar flexível, garantindo a 
cada um sua importância, seu significado. Eu, você, o outro – nós. 
Diante das ideias trazidas até aqui, é importante ressaltar que para o educa-
dor ter um bom relacionamento, uma boa dinâmica grupal com seus alunos ado-
lescentes, é preciso estar atento a todas as especificidades que o jovem encontra 
no decorrer dessa fase e que são fundamentais para a construção de sua identida-
de e da convivência em sociedade.
Um jovem pertence a um grupo quando percebe que suas ideias são respei-
tadas e valorizadas. Com certeza teremos um fortalecimento em sua autoestima, 
o que o ajudará a conviver com pessoas diferentes em vários contextos.
A seguir apresentaremos uma sugestão de atividade que o educador poderá 
trabalhar em sala de aula com seus alunos, objetivando fortalecer os relaciona-
mentos grupais.
Técnica: exercício das qualidades
Objetivos: conscientização das qualidades positivas existentes no grupo; 
perceber as qualidades do outro e expressá-las; avaliar suas qualidades pessoais.
Material: tiras de papel e lápis.
Desenvolvimento I
O facilitador (quem desenvolverá a atividade) deve:
1. dispor um grupo em círculo, sentado;
2. distribuir para cada participante duas tiras de papel em branco. Solicitar 
que pensem no vizinho da direita e da esquerda, procurando uma qua-
lidade positiva que chama mais atenção de forma positiva na feição ou 
comportamento de cada um dos dois colegas;
3. pedir que cada qualidade seja escrita em uma tira individualmente. Não 
identificar. Dobrar;
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4. o facilitador recolhe todos os papéis, embaralha e redistribui (dois papéis 
para cada participante);
5. solicitar que cada um assuma os papéis recebidos como se tivessem sido 
escritos por si, procurando no grupo quem possui as qualidades neles 
expressas;
6. pedir que cada participante leia em voz alta as qualidades que tem nas 
mãos, dando-as à pessoa que julga possuí-las e justificando o motivo de 
sua escolha;
7. pedir que cada um comente as qualidades recebidas;
8. pedir que cada pessoa, em ordem no círculo, diga as qualidades que es-
creveu inicialmente para os seus vizinhos;
9. plenário – compartilhar com o grupo o que mais lhe chamou a atenção 
na atividade.
Desenvolvimento II
1. Grupo em círculo, sentado;
2. cada pessoa recebe duas tiras de papel nas quais deve descrever, com 
letra de forma, sem se identificar, uma qualidade do seu vizinho da es-
querda e outra do da direita;
3. dobrar cada tira e entregar ao facilitador, que deve misturá-las, redistri-
buindo-as;
4. cada pessoa recebe duas novas tiras com qualidades que deve assumir 
como tendo sido escritas por si;
5. olhar o grupo e escolher duas pessoas a quem dar cada uma das quali-
dades que tem nas mãos. Ao dar a qualidade, explicar o motivo de sua 
escolha;
6. após a entrega de todas as qualidades, cada participante comenta o que 
recebeu;
7. o facilitador pede ao grupo que se ponha de pé em círculo, segurando as 
qualidades recebidas;
8. um voluntário inicia o jogo dizendo em voz alta umas das qualidades 
recebidas, entregando-a a um companheiro da roda que julga possuir a 
mesma qualidade. Este entrega a outro que também possui essa carac-
terística, até que se esgotem todos os que possuem essa qualidade. O 
último a coloca no centro do grupo;
9. outro voluntário inicia o mesmo processo até que todas as tiras tenham 
passado por aqueles que possuem a qualidade expressa no papel;
10. terminado o jogo, sentar em círculo, dar as mãos e fechar os olhos;
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11. o facilitador orienta o grupo para uma reflexão pessoal:
a. o que é preciso trabalhar em si mesmo para melhorar o funcionamento 
grupal?
b. que propósito de mudança é possível construir em si?
12. abrir os olhos e dizer em voz alta para o grupo o seu propósito;
13. fechamento: de mãos dadas, pedir para que cada um complete a frase: 
“Quero dizer que hoje eu...”.
Comentário
Trabalhar com qualidades é referenciar positivamente o grupo. Essa é uma 
atividade que permite ao facilitador captar o perfil do grupo e suas possibilidades. 
Na realização desse trabalho, é essencial perceber como os alunos se atribuem 
qualidades e se eles realmente se conhecem. Um grupo só pode possuir um per-
feito funcionamento se há um conhecimento mútuo entre seus integrantes. Iden-
tificando as potencialidades de cada um, cada membro poderá contribuir melhor 
para o convívio entre seus colegas.
Quando um grupo se forma, seus integrantes trazem para esse âmbito 
suas subjetividades, histórias, ideias, hábitos e preferências. A maioria das pes-
soas busca algum grupo com o qual se identifica e que, ao mesmo tempo, lhe dá 
uma identidade e um lugar para pertencer, pois “é no grupo que o adolescente 
reconhece o igual e o diferente, as limitações e as possibilidade, as simpatias 
e as antipatias, os afetos e os desafetos, tendo de aprender a lidar com essas 
questões, suportando frustrações, compartilhando sentimentos, comunicando- 
-se” (SERRÃO; BALEEIRO, 1999, p. 140).
Atividades como a que se encontra sugerida aqui podem ser feitas sempre 
que for necessário evidenciar no grupo aquilo que ele tem de positivo e, a partir 
daí, propor ações que o ajudem a alcançar os objetivos estabelecidos.
O facilitador deve estar atento ao fato de alguns adolescentes receberem um 
maior número de qualidades que outros. Ocorrendo sentimentos de desconforto, o 
educador deve possibilitar a expressão desses sentimentos e facilitar o acolhimen-
to pelo grupo. Para aplicar essa dinâmica, sem riscos de interferências prejudiciais 
ao estabelecimento dos vínculos interpessoais, é necessário que já exista certo 
nível de integração grupal (Projeto Memorial Pirajá apud SERRÃO; BALEEIRO, 
1999, p. 160).
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Vínculos imaginários
Por meio de tribos urbanas, ídolos e modismos, os adolescentes exercitam as relações socioa-
fetivas,criam códigos de comunicação e atitudes, mas, ao se igualarem aos seus pares para se 
diferenciarem dos demais, deparam-se com imagens ilusórias que podem favorecer os compor-
tamentos de risco e o acirramento das divergências sociais
(OLIVEIRA, 2007, p. 21-29)
Na adolescência o desenvolvimento psíquico é marcado por processos de transformação de-
finidores do modo de organização pessoal na vida adulta. Estes envolvem conflitos e crises, que 
ocorrem em meio a um movimento psíquico de natureza pendular. Ora os adolescentes se fundem 
imaginariamente a outro ou a um grupo, identificando-se com ele de modo passional, passando a 
adotar seus valores, crenças e perspectivas, ora buscam identidade própria por meio da separação 
simbólica, que contempla a diferenciação ativa em relação aos outros sociais mais significativos 
e a conquista de maior autonomia subjetiva e social. O gradual afastamento do adolescente em 
relação às figuras parentais e aos educadores demanda que o adolescente encontre na sociedade 
outros modelos e valores sólidos nos quais possa se apoiar até a consolidação da identidade.
Entretanto, os valores sociais contraditórios e as ambiguidades nas referências sociais e 
institucionais, típicas de nosso tempo, privam o adolescente de sistemas normativos que orien-
tem sua conduta individual e grupal e de matrizes de identificação que norteiem o processo de 
formação de sua identidade. Mas como isso se reflete nas formas de vida do adolescente con-
temporâneo?
Guardadas algumas diferenças de gênero, de classe e de grupos, a conquista da individuali-
dade e da autonomia passa pela progressiva apropriação do espaço público, ou seja, pela transição 
dos espaços privados, protegidos e regrados da casa e da escola para o cenário polifônico, contra-
ditório, plural das ruas. Agora, as relações socioafetivas do adolescente não são mais direcionadas 
pelas escolhas dos pais ou restritas às alternativas disponíveis no cenário social mais próximo. Os 
vínculos se constituem por meio de novas práticas sociais e sistemas de atividades que ele passa a 
integrar, com outros parceiros e grupos.
Dado o maior distanciamento entre os adolescentes e suas famílias, os pares de mesma idade 
passam a ter papel preponderante como mediadores dos processos de socialização. Entre eles, os 
jovens tendem a se sentir menos exigidos a negociar as diferenças de pontos de vista. Os grupos 
adolescentes costumam ser mais tolerantes e ter uma estrutura normativa mais flexível do que a 
família e a escola, favorecendo o acolhimento de sentimentos e visões de mundo que seriam nelas 
rejeitados. Desde que não se violem as normas internas do grupo, as características subjetivas do 
adolescente são em geral mais respeitadas por seus semelhantes do que pelo mundo adulto.
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Ensaio social
Os processos associados à constituição da identidade adolescente formam o objeto da aten-
ção do psicanalista alemão Erik Erikson (1902-1994), que emigrou para os Estados Unidos e se 
tornou um dos precursores da psicologia do ego. Ele observou que, nesta fase da vida, profundas 
mudanças biopsicossociais levam o sujeito a passar por uma grande reorganização psíquica. Tudo 
começa com os eventos da puberdade, que, ao promoverem um crescimento físico veloz e mudan-
ças nas formas do corpo, impõem uma recomposição da autoimagem. Depois, novas exigências 
sociais recaem sobre o adolescente, uma vez que ele deixa de ser considerado um membro imaturo 
e infantil da comunidade familiar. Instaura-se também uma transformação na qualidade das rela-
ções socioafetivas, determinada pela realidade do corpo erotizado e pela maturidade reprodutiva. 
Tudo culmina na mudança dos significados antes atribuídos à família: com a superação da depen-
dência passa a perseguir mais liberdade e autonomia.
A experimentação de diferentes papéis oferece a ele matéria-prima para a gradual construção 
de uma nova identidade. Dessa forma, as interações grupais constituem um contexto oportuno 
para o ensaio e a vivência de personagens. A função dos grupos no processo de desenvolvimento 
global dos jovens tem sido objeto de investigação, com vistas a compreender os limites e as possi-
bilidades de sua influência sobre o sujeito. Sabemos que, para entender o efeito subjetivo das expe-
riências de socialização nos grupos de mesma idade, é preciso analisar a qualidade e a intensidade 
das relações socioafetivas nelas estabelecidas.
Podemos notar que, na atualidade, prevalece entre os adolescentes a tendência à integração 
a um número maior de comunidades, grupos e agrupamentos, não obstante o caráter mais frouxo 
e frágil dos vínculos sociais neles constituídos. Talvez fique mais fácil compreender o impacto 
dessas mudanças nos modos de socialização adolescente pela distinção entre grupos contratuais e 
agrupamento, feita a seguir.
Grupos acontratuais
Em gerações passadas, o trabalho realizado ao longo da infância pelas instituições educativas 
(em especial, a família e a escola), no campo da formação de valores, baseava-se no modelo hierár-
quico de transmissão cultural. Neste, as regras do jogo social eram claramente apresentadas, desde 
o berço, no mundo privado da família, caracterizando o núcleo da socialização primária. Ao chegar 
à adolescência, o sujeito já havia internalizado o padrão moral de sua comunidade e podia se valer 
do maior discernimento cognitivo e da autonomia conquistados para agir em consonância com esse 
padrão.
Naquele contexto, as relações sociais nos grupos de pares tendiam a reproduzir os modos 
de socialização dominantes. Raramente se tratavam de grupos espontâneos; a maior parte deles 
contava com a presença de um adulto para regular as interações, constituindo um espaço interme-
diário entre a família e a esfera pública.
A experiência social nesse tipo de grupo desde a infância era encorajada pelas famílias, por pro-
porcionar o treinamento social considerado indispensável para que cada um desenvolvesse as aptidões 
subjetivas e sociais necessárias ao trabalho e ao mundo produtivo adulto. Incluem-se nesse modelo de 
socialização os grupos de escoteiros, as equipes esportivas, os grupos jovens de caráter religioso etc.
O coordenador, em geral mais velho (líder escoteiro, treinador esportivo, orientador espiri-
tual), era alguém com quem o adolescente desenvolvia uma relação de confiança e apego, de tal 
modo que ele logo passava a desempenhar a função de modelo de identificação alternativo aos 
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pais, suprindo o adolescente com os recursos fundamentais para a definição de sua identidade 
adulta. A empatia que permeava os vínculos estabelecidos e a natureza simbólica dos objetivos 
que orientava a sinergia desses grupos, tudo contribuía para transformá-los em espaços privilegia-
dos para promover a adesão dos adolescentes aos valores consolidados na comunidade.
Nesse tipo de grupo, que se pode caracterizar como contratual, na medida em que a inserção 
nele significa a aceitação da pauta normativa sobre a qual ele se assenta, o sentimento coletivo é 
constantemente reforçado e a continuidade do grupo na linha do tempo é desejada, demandando 
assim o investimento pessoal de cada um dos seus membros.
Valores em crise
Hoje assistimos a uma redução do papel da família na socialização primária da prole. Crian-
ças e adolescentes são muito mais expostos à vida pública, por meio da mídia e da participação 
mais precoce na escola e em práticas sociais da comunidade. Muito cedo, eles são afetados pelas 
contradições presentes no campo social. Instituições outrora hegemônicas perdem a força como 
matrizes de socialização de valores.

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