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Laura Costa Santos – 6° Semestre - Medicina CONCEITUAR MATRICIAMENTO E ENTENDER SUA IMPORTÂNCIA NA ATENÇÃO BÁSICA VOLTADA PARA A SAÚDE MENTAL (TEORIA X PRÁTICA). Matriciamento ou apoio matricial é um novo modo de produzir saúde em que duas ou mais equipes, num processo de construção compartilhada, criam uma proposta de intervenção pedagógico-terapêutica. Tradicionalmente, os sistemas de saúde se organizam de uma forma vertical (hierárquica), com uma diferença de autoridade entre quem encaminha um caso e quem o recebe, havendo uma transferência de responsabilidade ao encaminhar. A comunicação entre os dois ou mais níveis hierárquicos ocorre, muitas vezes, de forma precária e irregular, geralmente por meio de informes escritos, como pedidos de parecer e formulários de contrarreferência que não oferecem uma boa resolubilidade. A nova proposta integradora visa transformar a lógica tradicional dos sistemas de saúde: encaminhamentos, referências e contrarreferências, protocolos e centros de regulação. Os efeitos burocráticos e pouco dinâmicos dessa lógica tradicional podem vir a ser atenuados por ações horizontais que integrem os componentes e seus saberes nos diferentes níveis assistenciais. Na horizontalização decorrente do processo de matriciamento, o sistema de saúde se reestrutura em dois tipos de equipes: equipe de referência; equipe de apoio matricial. Na situação específica do Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil, as equipes da Estratégia de Saúde da Família (ESF) funcionam como equipes de referência interdisciplinares, atuando com uma responsabilidade sanitária que inclui o cuidado longitudinal, além do atendimento especializado que realizam concomitantemente. O apoio matricial é distinto do atendimento realizado por um especialista dentro de uma unidade de atenção primária tradicional. Ele pode ser entendido com base no que aponta Figueiredo e Campos (2009): “um suporte técnico especializado que é ofertado a uma equipe interdisciplinar em saúde a fim de ampliar seu campo de atuação e qualificar suas ações”. O matriciamento deve proporcionar a retaguarda especializada da assistência, assim como um suporte técnico-pedagógico, um vínculo interpessoal e o apoio institucional no processo de construção coletiva de projetos terapêuticos junto à população. Assim, também se diferencia da supervisão, pois o matriciador pode participar ativamente do projeto terapêutico. EQUIPES DE REFERENCIA E MATRICIAMENTO É muito comum, quando não se tem a equipe de referência, que o usuário seja responsabilidade de todos os profissionais e, ao mesmo tempo, de nenhum. Cada um se preocupa com a “sua” parte (que é cada vez menor com a especialização e burocratização) e ninguém se preocupa com a “costura” das diversas intervenções num projeto terapêutico coerente e negociado com o usuário e na equipe. Ou seja, supõe-se que o sujeito pode ser fatiado em pedaços e reduzido a diagnósticos, por abordagens profissionais diferentes, e que no fim da “linha de produção”, depois que cada profissional apertou um parafuso, chegar- se-á num usuário integralmente atendido e com seus problemas resolvidos. Não é o que acontece. Um ditado popular ilustra bem esta situação: “cão com muitos donos passa fome”. As equipes de referência propõem um novo sistema de referência entre profissionais e usuários, cujo funcionamento pode ser descrito da seguinte forma: cada unidade de saúde se organiza por meio da composição de equipes, formadas segundo características e objetivos Laura Costa Santos – 6° Semestre - Medicina da própria unidade, e de acordo com a realidade local e disponibilidade de recursos. Essas equipes obedecem a uma composição multiprofissional de caráter transdisciplinar, isto é, reúnem profissionais de diferentes áreas, variando em função da finalidade do serviço/unidade (por exemplo: equipe de saúde da família quando for uma Unidade de Saúde da Família). As equipes podem também se organizar a partir de uma distribuição territorial. Neste caso, os usuários de um território são divididos em grupos, sob a responsabilidade de uma determinada equipe de saúde, denominada equipe de referência territorial. Assim, em uma unidade de saúde mental, de reabilitação, ou em um hospital ou ambulatório de especialidades, são organizadas equipes de referência multiprofissionais com caráter transdisciplinar (variando segundo o objetivo e característica do serviço) que se responsabilizam pela saúde de um certo número de pacientes inscritos, segundo sua capacidade de atendimento e gravidade dos casos. Do mesmo modo, em uma unidade/serviço de saúde da família, que já trabalha com a concepção de equipes de referência territoriais, várias famílias são selecionadas e registradas para ficarem sob a responsabilidade de um médico, enfermeira de família, auxiliares e agentes comunitários de saúde. Nas equipes de referência fica evidenciada a importância de cada trabalhador e a interdependência entre os diferentes profissionais, o que possibilita uma valorização profissional atrelada a resultados, e não somente ao status ou prestígio de determinadas profissões. Por isso as equipes de referência dependem (e são instrumentos) de um modelo de gestão mais democrático, centrado nos resultados para o usuário, e não na produção de procedimentos terapêuticos. O apoio matricial é um arranjo na organização dos serviços que complementa as equipes de referência. Já que a equipe de referência é A responsável pelos SEUS pacientes, ela geralmente não os encaminha, ela pede apoio. A quem a equipe de referência pede apoio? Tanto aos serviços de referência/ especialidades (e/ou aos especialistas isolados) quanto a outros profissionais que lidam com o doente. Os serviços de referência/especialidades que dão apoio matricial passam a ter dois “usuários” sob sua responsabilidade: “os usuários do serviço” para o qual ele é referência e “o próprio serviço”. Isso significa que o serviço de referência/especialidades participa junto com as equipes de referência, sempre que necessário, da confecção de projetos terapêuticos dos pacientes que são tratados por ambas as equipes, e ajuda as equipes de referência a incorporarem conhecimentos para lidar com casos mais simples. Por exemplo: um centro de referência em oncologia pode desenvolver formas de contato com as equipes de atenção básica ou secundária, que implique em participar de reuniões das equipes para discutir projetos terapêuticos de pacientes tratados conjuntamente. Pode, também, fazer seminários para que a equipe incorpore conhecimentos (como tratar determinados aspectos da quimioterapia, por exemplo), realizar atendimentos conjuntos, disponibilizar contatos para situações emergenciais, etc. Sem esquecer que o próprio serviço de referência pode trabalhar internamente com equipes de referência e apoio matricial. Tudo isso ajuda a superar a velha idéia de encaminhamento (e de referência e contrareferência), torna possível o vínculo terapêutico e coloca o tratamento mais próximo do usuário e das equipes que o conhecem há mais tempo. QUANDO SOLICITAR UM MATRICIAMENTO? • Nos casos em que a equipe de referência sente necessidade de apoio da saúde mental para abordar e conduzir um caso que exige, por exemplo, esclarecimento diagnóstico, estruturação de um projeto terapêutico e abordagem da família. • Quando se necessita de suporte para realizar intervenções psicossociais específicas da atenção primária, tais como grupos de pacientes com transtornos mentais. • Para integração do nível especializado com a atenção primária no tratamento de pacientes com transtorno mental, como, por exemplo, para apoiar na adesão ao projeto terapêutico de pacientescom transtornos mentais graves e persistentes em atendimento especializado em um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). • Quando a equipe de referência sente necessidade de apoio para resolver problemas Laura Costa Santos – 6° Semestre - Medicina relativos ao desempenho de suas tarefas, como, por exemplo, dificuldades nas relações pessoais ou nas situações especialmente difíceis encontradas na realidade do trabalho diário. INSTRUMENTOS DO PROCESSO DE MATRICIAMENTO Projeto Terapêutico Singular Interconsulta Consulta Conjunta Visita Domiciliar Conjunta Genograma e Ecomapa PROJETO TERAPÊUTICO SINGULAR Em união de esforços, as equipes ficam responsáveis por criar para cada pessoa em dificuldade psicológica um Projeto Terapêutico Singular (PTS), com o objetivo de estruturar o cuidado a ela através de metas, caminhos e adequações a serem feitas em relação a sua vida e rotina. Ainda que o centro de um PTS seja o indivíduo, sua elaboração conta com a análise e valorização dos contextos familiares e territoriais de cada um. Torna-se muito importante nesses casos o conhecimento dos ambientes, da estrutura da família e dos lugares frequentados pelas pessoas para a construção plena do quadro. São diversas as observações feitas, as ações tomadas em conjunto pelas equipes e suas reuniões, sejam somente de profissionais ou contando com a presença da pessoa e sua família, para o desempenho de um cuidado pleno e especializado em saúde e saúde mental. INTERCONSULTA Como dito acima, a reunião entre especialistas faz parte do leque de atividades propostas pelas práticas de matriciamento e são de extrema importância para o desempenho de cuidados integrais em saúde e saúde mental. A interconsulta é exatamente isso: Um encontro de profissionais de distintas áreas, saberes e visões que permite que se construa uma compreensão integral do processo de saúde e doença, ampliando e estruturando a abordagem psicossocial e a construção de projetos terapêuticos, além de facilitar a troca de conhecimentos, sendo assim um instrumento potente de educação permanente (Ministério da Saúde, 2011). São realizadas quando há a necessidade de serem discutidos casos, formas de intervenção, entre outras necessidades. São espaços de aprendizado e compartilhamento visando o desenvolvimento dos serviços e dos quadros de atendimento em andamento e a serem realizados. CONSULTA CONJUNTA A consulta conjunta acontece quando se faz necessária a resolução de dúvidas a respeito da assistência ou da própria situação da pessoa atendida. A demanda pode partir da pessoa ou mesmo de um familiar próximo. Nesse contexto, reúnem-se profissionais membros das equipes de saúde, seja da família ou da saúde mental, para complementar ou elucidar aspectos desse cuidado prestado e outras questões. A consulta serve como um meio importante na criação de vínculos e confiança entre todas as partes. VISITA DOMICILIAR CONJUNTA O recurso da visita domiciliar faz parte do arsenal terapêutico dos serviços de saúde de base territorial. Supõe-se que centros de atenção psicossocial e equipes de saúde da família competentes realizem, com regularidade, visitas domiciliares a usuários que, por diversas razões – em especial, dificuldade de deambulação ou recusa –, não podem ser atendidos nas unidades de saúde (Ministério da Saúde, 2011). GENOGRAMA E ECOMAPA Dada a importância do estudo sobre o território e a origem familiar da pessoa a ser tratada, genograma e ecomapa são técnicas complementares que permitem o mapeamento da família, das relações e padrões familiares e do território no qual essas relações ocorrem. Laura Costa Santos – 6° Semestre - Medicina Com esses recursos, os profissionais das equipes podem avaliar os recursos e necessidades de cada pessoa, família e região para que o melhor modelo de atendimento possa ser aplicado. São recursos fundamentais e permitem o olhar de um panorama repleto de características, positivas e negativas, da vida do indivíduo. FONTE: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/g uia_pratico_matriciamento_saudemental.pdf https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/e quipe_referencia.pdf ENTENDER O PAPEL DA ATENÇÃO BÁSICA NA ABORDAGEM DA SAÚDE MENTAL E A IMPORTÂNCIA DA EQUIPE MULTIPROFISSIONAL. Os transtornos mentais são doenças multifatoriais, ou seja: envolvem questões biológicas, psicológicas e socioculturais do indivíduo. Assim, o tratamento do transtorno mental envolve muito mais do que a administração de remédios psiquiátricos. É importante que o paciente faça acompanhamento psicológico, tenha hábitos de vida saudáveis, desenvolva sua capacidade de sociabilização e sua autonomia. Para um paciente que está com sono desregulado (sintoma muito comum a vários transtornos), manter uma rotina de atividades e praticar exercícios regularmente pode ser tão importante quanto o acompanhamento psiquiátrico. Para isso, é necessário que a equipe que o acompanha disponha de um nutricionista, um educador físico, um psicólogo, etc. POTENCIALIZAÇÃO DO TRATAMENTO PSIQUIÁTRICO Uma equipe multidisciplinar, em resumo, tem a função de potencializar os ganhos obtidos no tratamento psiquiátrico, complementando a abordagem clínica do médico e os benefícios do tratamento medicamentoso. Ela permite que as demandas particulares de cada paciente sejam atendidas, melhorando o quadro como um todo. Um exemplo muito bacana é o tratamento de idosos com transtornos mentais, pois além da própria doença mental eles enfrentam os tradicionais obstáculos da velhice: perda de coordenação motora, problemas de memória e até de metabolismo. Para esse grupo, realizar atividades de estimulação cognitiva, por exemplo, pode melhorar sua qualidade de vida e retardar o avanço de quadros demenciais. MAIS POSSIBILIDADES DE VÍNCULO TERAPÊUTICO Como cada pessoa possui uma história de vida diferente, uma personalidade própria, o atendimento através de uma equipe multidisciplinar aumenta a possibilidade do paciente criar um vínculo com algum dos profissionais que o atende. O estabelecimento do vínculo terapêutico é um dos fatores mais importantes no tratamento de um transtorno mental, pois é ele quem vai viabilizar a continuidade do tratamento, o que evita crises e uma possível cronificação da doença. Às vezes, um paciente que possui dificuldade de expressar seu sofrimento verbalmente em uma sessão de terapia, consegue acessar um sentimento esquecido através de uma oficina de arteterapia ou de musicoterapia, e a partir disso trabalhar aquilo que lhe causa sofrimento. COMO SÃO COMPOSTAS AS EQUIPES MULTIDISCIPLINARES? Não existe uma regra de composição de uma equipe. Quanto mais diversificada, maiores são as possibilidades de abordagem terapêutica. A ideia é que a equipe montada seja capaz de https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_pratico_matriciamento_saudemental.pdf https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_pratico_matriciamento_saudemental.pdf https://holiste.com.br/internacao-psiquiatrica-e-necessaria/ https://holiste.com.br/internacao-psiquiatrica-e-necessaria/ Laura Costa Santos – 6° Semestre - Medicina trabalhar os diferentes aspectos biológicos, psicossociais e subjetivos da pessoa. Esses profissionais devem sempre buscar uma atuação conjunta, integrada, compartilhando seus avanços e informações sobre o paciente. Essa troca permite mais dinamicidade na execução do plano terapêutico, revendo os objetivos e estratégias adotados, adequando-o a cada fase do processo de recuperação do paciente. CONHECER OS PROJETOS DE REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL. Os CAPS seriam definidos como dispositivos comunitários e regionalizados, que oportunizariam um grau de assistência e de reabilitação psicossocial,seguindo os mesmos princípios, por meio do acesso ao trabalho, ao lazer, a educação, a cultura, ao exercício dos direitos civis e ao fortalecimento dos laços familiares e comunitários dos indivíduos em sofrimento mental (Campos e Furtado, 2006). Dentro desse contexto, surgem então as oficinas, inicialmente instauradas na Itália em função da então vitoriosa experiência italiana, como um novo reflexo dos ideais construídos pela Reforma. Estas, que dando contornos ainda mais expressivos às mudanças que a tal Reforma proporcionaria – deixando práticas agressivas e condenáveis do passado para trás, dentre outras coisas – desenvolver-se-iam sob a forma de atividades em que o centro seria, então, o indivíduo e não mais sua “patologia”. Essa nova maneira de pensar os usuários permitiu ás oficinas que se tornassem ferramentas valiosas de cuidado e reinserção social desses indivíduos, pois, mediante o trabalho e a expressão artística, fazendo de seus ambientes espaços de socialização e interação, a base para isso estaria construída. Nelas, o sujeito conquistou liberdade para se expressar, sendo capaz de lidar com seus medos, inseguranças, bem como adquirir aprendizados e realizar a troca de experiências com outras pessoas. Um exemplo claro disso se daria por meio do artesanato, que permitiria a evasão de sentimentos de seus participantes nos mais diversos sentidos. Em fragmento, um especialista faz seu relato sobre sua experiência enquanto convidado, participante e observador de uma das atividades realizadas em oficina: “A T.O. nos convidou a participar das atividades do grupo que ela coordenava, os usuários estavam confeccionando uma ‘colcha de retalhos’: eles desenhavam fatos de sua vida em retalhos de tecido com pincel e tinta de tecido. Esta atividade compreende quatro sessões. Numa primeira, os usuários eram estimulados a exteriorizar seus sentimentos em relação à infância e pintar algo relacionado a ela. Ao final deste dia, conversavam sobre o que haviam desenhado, pensado e lembrado sobre sua infância. Guardavam o material trabalhado e assim sucessivamente nos outros dias, com adolescência, família e o futuro. Ao final, cada um tinha, pelo menos, quatro ‘retalhos’ de sua vida para fazer uma ‘colcha’, que foi costurada por todos, com a ajuda da artesã e da T.O.” (Ministério da Saúde, 2004). Vê-se que a coordenadora, fazendo da oficina uma ferramenta a mobilizar os participantes a construírem materialmente alguma coisa, permitiria a estes também o verbalizar de suas vivências, possibilitando a construção de vínculos com os participantes ali presentes e também sua intervenção no processo de escuta e inclusão dos usuários. Partindo do artesanato, como no exemplo dado, até o uso da musica, da arte, dos esportes e de tantos outros elementos possíveis de se constituírem como temas de oficinas terapêuticas, o usuário seria sempre o foco da atenção desenvolvida, tendo a opção de escolher ou não aquilo que deseja realizar, sabido o importante fato de que nada ali o estaria sendo imposto. Desse modo, constata-se nesses serviços o processo de consolidação de novas práticas em saúde mental, nas quais o sujeito em sofrimento psíquico, que antes tinha uma posição inativa e de exclusão, agora se insere num nível de participação, de trocas e de reconstrução constante de suas relações com o mundo e de seu cotidiano (Rauter, 2000). Nessa perspectiva, as oficinas passariam a cumprir mais de um papel fundamental dentro dos CAPS: tanto como elementos terapêuticos, quanto como promotoras de reinserção social. Laura Costa Santos – 6° Semestre - Medicina Suas ações, passando a envolver atividades que estimulam a produção da subjetividade, permitiriam o resgate da autonomia, a criação de produtos artísticos ou artesanais, o trabalho e a geração de renda, em benefício principal de apenas um grupo objetivo de pessoas: os próprios usuários. (Pinto, 2011). Utilizando-se dos elementos que os indivíduos trariam, o profissional deve ter a capacidade de escutar e perceber o que eles estão querendo dizer. Há aqueles que podem se comunicar pela escrita, pela arte, pela identificação, entre diversos outros elementos (Silva, 2015). A CLASSIFICAÇÃO DAS OFICINAS PELO MINISTÉRIO DA SAÚDE Oficinas expressivas: espaços de expressão plástica (pintura, argila, desenho etc.), expressão corporal (dança, ginástica e técnicas teatrais), expressão verbal (poesia, contos, leitura e redação de texto, de peças teatrais, de letras de musicas), expressão musical (atividades musicais), fotografia, teatro. Oficinas geradoras de renda: servem como um instrumento de geração de renda através do aprendizado de uma atividade específica, que poder ser igual ou diferente da profissão do usuário. As oficinas geradoras de renda podem ser de: culinária, marcenaria, costura, fotocópias, fabricação de velas, venda de livro, artesanato em geral, cerâmica, bijuteria, brechó, etc. Oficinas de alfabetização: esse tipo de oficina contribui para aqueles usuários que não tiveram acesso ou que não puderam permanecer na escola possam exercitar a escrita e a leitura, como recurso importante na (re) construção da cidadania. REFLEXÕES CRÍTICAS ACERCA DOS CAPS E DA EXECUÇÃO DAS OFICINAS TERAPÊUTICAS Não é a simples existência de uma oficina que garante o fato de ela estar produzindo novas formas de vida; para ela ser terapêutica é necessário conectar-se com uma dimensão distinta da que habitualmente encontrávamos nos tempos anteriores aos da Reforma Psiquiátrica (Cedraz e Dimeinstain, 2005). Apesar de serem uma ferramenta muito importante para o usuário, possibilitando a esse a expressão de sensações e sentimentos, assim como grande proximidade em relação aos profissionais da saúde e também a outros indivíduos utilizando os serviços, tem-se que nem tudo, em todos os CAPS espalhados pelo Brasil, ocorre da forma como deveria. Um dos aspectos que se faz necessário o levantamento diz respeito ao mau planejamento das atividades de oficinas, que de algo a ser realizado com objetivos terapêuticos bem estruturados, acaba sendo reduzido a momentos de simples ocupação de tempo por parte dos indivíduos ali presentes. Outro aspecto de bastante relevância diz respeito ao fato de que ainda está presente em alguns serviços a ideia de que se deve partir dos técnicos e profissionais exclusivamente a iniciativa de realização de qualquer que seja a atividade, enquanto que os usuários ocupam o lugar de expectadores ou consumidores das propostas, mantendo as relações de hierarquia, contrapondo-se essa atitude aos princípios reformadores. A ideia fundamental das oficinas seria a de construir de forma coletiva , olhando para as angústias e para a vida dos indivíduos usuários, espaços de desenvolvimento e recuperação psicossocial. Um ponto interessante para esse debate se reflete também no fato observado de que valores conservadores construídos como ”certos” na sociedade seriam transmitidos para o usuário como a forma mais adequada de se ser e de se agir, sem que se pensassem sobre determinados assuntos. Por exemplo: fala-se sobre sexualidade, abordando apenas a heterossexualidade; fala- se sobre autonomia, enfatizando apenas a capacidade de se manter uma casa limpa e organizada (Cedraz e Dimeinstain, 2005). Nesse sentido – e aqui aparece a problemática – parece se perder um pouco a ideia e a essência do que significaria a produção da autonomia do usuário que, sendo um dos objetivos principais dos CAPS, segundo o Ministério da Saúde (2004), ficaria em alguns casos mais distante do que deveria. Por fim, têm-se também os casos em que se entendem mal as queixas dos usuários, como se estas fossem recorrentemente reflexos de suas dificuldadespsicológicas, mesmo quando o usuário vive em contexto em que tais queixas seriam bastante compreensíveis. Cedraz e Dimeinstain (2005) nos mostram em relato de campo o exemplo de uma mãe, que dizendo sentir muita angústia e insônia por Laura Costa Santos – 6° Semestre - Medicina conta do envolvimento de seus filhos com o comércio ilegal de drogas, ao ser abordada por um dos coordenadores da oficina em desenvolvimento, teria sido orientada por ele a procurar novamente a psiquiatra, tendo lhe dito que sua situação poderia estar vinculada a baixa quantidade de medicamentos ansiolíticos, algo absolutamente contrário as demandas da própria instituição CAPS. São práticas que precisam ser constantemente analisadas, assim como o preparo dos profissionais, a infraestrutura dos espaços dos CAPS, dentre outras coisas também muito importantes. AS OFICINAS TERAPÊUTICAS COMO FERRAMENTAS DE INSERÇÃO E RECUPERAÇÃO DO USUÁRIO Dadas às discussões e informações levantadas, conclui-se que as oficinas terapêuticas representariam um importante reflexo dos ideais levantados pela Reforma Psiquiátrica, principalmente no que concerne aquele que coloca o indivíduo e sua experiência no centro, fazendo dele o foco dos tratamentos. As oficinas terapêuticas seriam mecanismos em que os pacientes, através da manipulação de objetos, de recursos artísticos, artesanais, dinâmicas de grupo, jogos, teatros, entre outros, e acima de tudo através da socialização com outros pacientes podem trabalhar seus conteúdos emocionais, expressando-os (Silva, 2015). Propiciando um espaço para autonomia e a politização dos indivíduos, as oficinas são reconhecidas por permitir a aliança entre muitos aspectos necessários para a recuperação psicossocial dos indivíduos. Os CAPS se beneficiariam enormemente de suas produções, sempre que bem estruturadas. Nesse sentido, além do bom preparo de toda a equipe multidisciplinar, tem-se que o espaço das oficinas terapêuticas precisa ter seus objetivos bem traçados, porque além de um momento de fala e voz para os pacientes com transtornos mentais, as oficinas precisam fazer sentido para a realidade de cada um, ajudando-os a construir novas trajetórias, na mesma medida em que desconstrói também preconceitos e estigmas. FONTE: https://blog.cenatcursos.com.br/as-oficinas- terapeuticas-uma-abordagem-alternativa-dos- caps-em-favor-da-saude-mental/ COMPREENDER O PROJETO TERAPEUTICO SINGULAR E OS PASSOS PARA SUA ELABORAÇÃO. O Projeto Terapêutico Singular (PTS) é um conjunto de propostas de condutas terapêuticas articuladas para um indivíduo, uma família ou um grupo que resulta da discussão coletiva de uma equipe interdisciplinar com Apoio Matricial, se esse for necessário. O Projeto Terapêutico Singular (PTS) pode ser realizado conforme os passos a seguir: 1 – Diagnóstico: delineamento da situação problema, identificando os aspectos sociais, psicológicos e orgânicos que influenciam no caso. É importante, nessa etapa, identificar os sujeitos envolvidos, as vulnerabilidades e a rede de apoio existente, e não apenas os aspectos clínicos do caso. A elaboração de um genograma e ecomapa mostra-se como uma boa ferramenta para registro gráfico da situação problema quando esta se tratar de um caso individual e não comunitário. 2 – Definição de metas: após a descrição do caso e levantamento dos pontos a serem trabalhados, é importante que a equipe trabalhe com metas a serem alcançadas a curto, médio e longo prazo. Essas metas devem ser negociadas com o sujeito do PTS e demais pessoas envolvidas. 3 – Divisão de responsabilidades: as tarefas de cada um devem ser claras, incluindo do sujeito do PTS. Definir também um profissional que será responsável pelo maior contato entre o caso e a equipe de saúde é uma estratégia que pode facilitar a continuidade da assistência, além da reavaliação e reformulação de ações do PTS. 4 – Reavaliação: momento onde a equipe fará a discussão do caso, verificando o que teve êxito e o que precisa ser reformulado para ter melhor resposta. A periodicidade da reavaliação deve ser definida pela equipe interdisciplinar no planejamento das ações. Para o sucesso do PTS é importante que a equipe interdisciplinar construa um vínculo com o sujeito do projeto, além de envolvê-la nas Laura Costa Santos – 6° Semestre - Medicina decisões sobre as ações a serem realizadas (princípio da clínica ampliada). O Projeto Terapêutico Singular é um trabalho realizado pela equipe interdisciplinar de saúde com vistas ao acompanhamento de um caso específico que envolve um sujeito ou uma comunidade. O caso trabalhado em um PTS deve ser eleito pela equipe considerando a necessidade de atenção ampliada à situação. Geralmente, são situações onde já foram tentadas ações pontuais e não se atingiu o resultado esperado devido a certa dificuldade em sua condução. Também são trabalhadas as vulnerabilidades do indivíduo ou comunidade. FONTE: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/g uia_pratico_matriciamento_saudemental.pdf pag 26 https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_pratico_matriciamento_saudemental.pdf%20pag%2026 https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_pratico_matriciamento_saudemental.pdf%20pag%2026 https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_pratico_matriciamento_saudemental.pdf%20pag%2026
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