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Matriciamento e Projeto Terapeutico Singular

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Laura Costa Santos – 6° Semestre - Medicina 
 
CONCEITUAR MATRICIAMENTO E 
ENTENDER SUA IMPORTÂNCIA NA 
ATENÇÃO BÁSICA VOLTADA PARA A 
SAÚDE MENTAL (TEORIA X PRÁTICA). 
Matriciamento ou apoio matricial é um novo 
modo de produzir saúde em que duas ou mais 
equipes, num processo de construção 
compartilhada, criam uma proposta de 
intervenção pedagógico-terapêutica. 
Tradicionalmente, os sistemas de saúde se 
organizam de uma forma vertical (hierárquica), 
com uma diferença de autoridade entre quem 
encaminha um caso e quem o recebe, 
havendo uma transferência de 
responsabilidade ao encaminhar. A 
comunicação entre os dois ou mais níveis 
hierárquicos ocorre, muitas vezes, de forma 
precária e irregular, geralmente por meio de 
informes escritos, como pedidos de parecer e 
formulários de contrarreferência que não 
oferecem uma boa resolubilidade. 
A nova proposta integradora visa transformar a 
lógica tradicional dos sistemas de saúde: 
encaminhamentos, referências e 
contrarreferências, protocolos e centros de 
regulação. Os efeitos burocráticos e pouco 
dinâmicos dessa lógica tradicional podem vir a 
ser atenuados por ações horizontais que 
integrem os componentes e seus saberes nos 
diferentes níveis assistenciais. 
Na horizontalização decorrente do processo de 
matriciamento, o sistema de saúde se 
reestrutura em dois tipos de equipes: 
 equipe de referência; 
 equipe de apoio matricial. 
Na situação específica do Sistema Único de 
Saúde (SUS) no Brasil, as equipes da Estratégia 
de Saúde da Família (ESF) funcionam como 
equipes de referência interdisciplinares, 
atuando com uma responsabilidade sanitária 
que inclui o cuidado longitudinal, além do 
atendimento especializado que realizam 
concomitantemente. 
O apoio matricial é distinto do atendimento 
realizado por um especialista dentro de uma 
unidade de atenção primária tradicional. Ele 
pode ser entendido com base no que aponta 
Figueiredo e Campos (2009): “um suporte 
técnico especializado que é ofertado a uma 
equipe interdisciplinar em saúde a fim de 
ampliar seu campo de atuação e qualificar 
suas ações”. 
 
O matriciamento deve proporcionar a 
retaguarda especializada da assistência, assim 
como um suporte técnico-pedagógico, um 
vínculo interpessoal e o apoio institucional no 
processo de construção coletiva de projetos 
terapêuticos junto à população. Assim, 
também se diferencia da supervisão, pois o 
matriciador pode participar ativamente do 
projeto terapêutico. 
EQUIPES DE REFERENCIA E MATRICIAMENTO 
É muito comum, quando não se tem a equipe 
de referência, que o usuário seja 
responsabilidade de todos os profissionais e, ao 
mesmo tempo, de nenhum. Cada um se 
preocupa com a “sua” parte (que é cada vez 
menor com a especialização e burocratização) 
e ninguém se preocupa com a “costura” das 
diversas intervenções num projeto terapêutico 
coerente e negociado com o usuário e na 
equipe. Ou seja, supõe-se que o sujeito pode ser 
fatiado em pedaços e reduzido a diagnósticos, 
por abordagens profissionais diferentes, e que 
no fim da “linha de produção”, depois que 
cada profissional apertou um parafuso, chegar-
se-á num usuário integralmente atendido e com 
seus problemas resolvidos. Não é o que 
acontece. Um ditado popular ilustra bem esta 
situação: “cão com muitos donos passa fome”. 
As equipes de referência propõem um novo 
sistema de referência entre profissionais e 
usuários, cujo funcionamento pode ser descrito 
da seguinte forma: cada unidade de saúde se 
organiza por meio da composição de equipes, 
formadas segundo características e objetivos 
Laura Costa Santos – 6° Semestre - Medicina 
 
da própria unidade, e de acordo com a 
realidade local e disponibilidade de recursos. 
Essas equipes obedecem a uma composição 
multiprofissional de caráter transdisciplinar, isto 
é, reúnem profissionais de diferentes áreas, 
variando em função da finalidade do 
serviço/unidade (por exemplo: equipe de 
saúde da família quando for uma Unidade de 
Saúde da Família). 
As equipes podem também se organizar a partir 
de uma distribuição territorial. Neste caso, os 
usuários de um território são divididos em 
grupos, sob a responsabilidade de uma 
determinada equipe de saúde, denominada 
equipe de referência territorial. 
Assim, em uma unidade de saúde mental, de 
reabilitação, ou em um hospital ou ambulatório 
de especialidades, são organizadas equipes de 
referência multiprofissionais com caráter 
transdisciplinar (variando segundo o objetivo e 
característica do serviço) que se 
responsabilizam pela saúde de um certo 
número de pacientes inscritos, segundo sua 
capacidade de atendimento e gravidade dos 
casos. 
Do mesmo modo, em uma unidade/serviço de 
saúde da família, que já trabalha com a 
concepção de equipes de referência 
territoriais, várias famílias são selecionadas e 
registradas para ficarem sob a responsabilidade 
de um médico, enfermeira de família, auxiliares 
e agentes comunitários de saúde. 
Nas equipes de referência fica evidenciada a 
importância de cada trabalhador e a 
interdependência entre os diferentes 
profissionais, o que possibilita uma valorização 
profissional atrelada a resultados, e não 
somente ao status ou prestígio de determinadas 
profissões. Por isso as equipes de referência 
dependem (e são instrumentos) de um modelo 
de gestão mais democrático, centrado nos 
resultados para o usuário, e não na produção 
de procedimentos terapêuticos. 
O apoio matricial é um arranjo na organização 
dos serviços que complementa as equipes de 
referência. Já que a equipe de referência é A 
responsável pelos SEUS pacientes, ela 
geralmente não os encaminha, ela pede apoio. 
A quem a equipe de referência pede apoio? 
Tanto aos serviços de referência/ 
especialidades (e/ou aos especialistas isolados) 
quanto a outros profissionais que lidam com o 
doente. 
Os serviços de referência/especialidades que 
dão apoio matricial passam a ter dois “usuários” 
sob sua responsabilidade: “os usuários do 
serviço” para o qual ele é referência e “o 
próprio serviço”. Isso significa que o serviço de 
referência/especialidades participa junto com 
as equipes de referência, sempre que 
necessário, da confecção de projetos 
terapêuticos dos pacientes que são tratados 
por ambas as equipes, e ajuda as equipes de 
referência a incorporarem conhecimentos para 
lidar com casos mais simples. Por exemplo: um 
centro de referência em oncologia pode 
desenvolver formas de contato com as equipes 
de atenção básica ou secundária, que 
implique em participar de reuniões das equipes 
para discutir projetos terapêuticos de pacientes 
tratados conjuntamente. 
Pode, também, fazer seminários para que a 
equipe incorpore conhecimentos (como tratar 
determinados aspectos da quimioterapia, por 
exemplo), realizar atendimentos conjuntos, 
disponibilizar contatos para situações 
emergenciais, etc. Sem esquecer que o próprio 
serviço de referência pode trabalhar 
internamente com equipes de referência e 
apoio matricial. Tudo isso ajuda a superar a 
velha idéia de encaminhamento (e de 
referência e contrareferência), torna possível o 
vínculo terapêutico e coloca o tratamento mais 
próximo do usuário e das equipes que o 
conhecem há mais tempo. 
QUANDO SOLICITAR UM MATRICIAMENTO? 
• Nos casos em que a equipe de referência 
sente necessidade de apoio da saúde mental 
para abordar e conduzir um caso que exige, 
por exemplo, esclarecimento diagnóstico, 
estruturação de um projeto terapêutico e 
abordagem da família. 
• Quando se necessita de suporte para realizar 
intervenções psicossociais específicas da 
atenção primária, tais como grupos de 
pacientes com transtornos mentais. 
• Para integração do nível especializado com a 
atenção primária no tratamento de pacientes 
com transtorno mental, como, por exemplo, 
para apoiar na adesão ao projeto terapêutico 
de pacientescom transtornos mentais graves e 
persistentes em atendimento especializado em 
um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). 
• Quando a equipe de referência sente 
necessidade de apoio para resolver problemas 
Laura Costa Santos – 6° Semestre - Medicina 
 
relativos ao desempenho de suas tarefas, 
como, por exemplo, dificuldades nas relações 
pessoais ou nas situações especialmente difíceis 
encontradas na realidade do trabalho diário. 
INSTRUMENTOS DO PROCESSO DE MATRICIAMENTO 
 Projeto Terapêutico Singular 
 Interconsulta 
 Consulta Conjunta 
 Visita Domiciliar Conjunta 
 Genograma e Ecomapa 
PROJETO TERAPÊUTICO SINGULAR 
Em união de esforços, as equipes ficam 
responsáveis por criar para cada pessoa em 
dificuldade psicológica um Projeto Terapêutico 
Singular (PTS), com o objetivo de estruturar o 
cuidado a ela através de metas, caminhos e 
adequações a serem feitas em relação a sua 
vida e rotina. 
Ainda que o centro de um PTS seja o indivíduo, 
sua elaboração conta com a análise e 
valorização dos contextos familiares e territoriais 
de cada um. Torna-se muito importante nesses 
casos o conhecimento dos ambientes, da 
estrutura da família e dos lugares frequentados 
pelas pessoas para a construção plena do 
quadro. 
São diversas as observações feitas, as ações 
tomadas em conjunto pelas equipes e suas 
reuniões, sejam somente de profissionais ou 
contando com a presença da pessoa e sua 
família, para o desempenho de um cuidado 
pleno e especializado em saúde e saúde 
mental. 
INTERCONSULTA 
Como dito acima, a reunião entre especialistas 
faz parte do leque de atividades propostas 
pelas práticas de matriciamento e são de 
extrema importância para o desempenho de 
cuidados integrais em saúde e saúde mental. 
A interconsulta é exatamente isso: 
Um encontro de profissionais de distintas áreas, 
saberes e visões que permite que se construa 
uma compreensão integral do processo de 
saúde e doença, ampliando e estruturando a 
abordagem psicossocial e a construção de 
projetos terapêuticos, além de facilitar a troca 
de conhecimentos, sendo assim um instrumento 
potente de educação permanente (Ministério 
da Saúde, 2011). 
São realizadas quando há a necessidade de 
serem discutidos casos, formas de intervenção, 
entre outras necessidades. São espaços de 
aprendizado e compartilhamento visando o 
desenvolvimento dos serviços e dos quadros de 
atendimento em andamento e a serem 
realizados. 
CONSULTA CONJUNTA 
A consulta conjunta acontece quando se faz 
necessária a resolução de dúvidas a respeito da 
assistência ou da própria situação da pessoa 
atendida. A demanda pode partir da pessoa ou 
mesmo de um familiar próximo. 
Nesse contexto, reúnem-se profissionais 
membros das equipes de saúde, seja da família 
ou da saúde mental, para complementar ou 
elucidar aspectos desse cuidado prestado e 
outras questões. A consulta serve como um 
meio importante na criação de vínculos e 
confiança entre todas as partes. 
VISITA DOMICILIAR CONJUNTA 
O recurso da visita domiciliar faz parte do 
arsenal terapêutico dos serviços de saúde de 
base territorial. Supõe-se que centros de 
atenção psicossocial e equipes de saúde da 
família competentes realizem, com 
regularidade, visitas domiciliares a usuários que, 
por diversas razões – em especial, dificuldade 
de deambulação ou recusa –, não podem ser 
atendidos nas unidades de saúde (Ministério da 
Saúde, 2011). 
GENOGRAMA E ECOMAPA 
Dada a importância do estudo sobre o território 
e a origem familiar da pessoa a ser tratada, 
genograma e ecomapa são técnicas 
complementares que permitem o 
mapeamento da família, das relações e 
padrões familiares e do território no qual essas 
relações ocorrem. 
Laura Costa Santos – 6° Semestre - Medicina 
 
 
Com esses recursos, os profissionais das equipes 
podem avaliar os recursos e necessidades de 
cada pessoa, família e região para que o 
melhor modelo de atendimento possa ser 
aplicado. São recursos fundamentais e 
permitem o olhar de um panorama repleto de 
características, positivas e negativas, da vida 
do indivíduo. 
 FONTE: 
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/g
uia_pratico_matriciamento_saudemental.pdf 
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/e
quipe_referencia.pdf 
ENTENDER O PAPEL DA ATENÇÃO BÁSICA NA 
ABORDAGEM DA SAÚDE MENTAL E A 
IMPORTÂNCIA DA EQUIPE MULTIPROFISSIONAL. 
Os transtornos mentais são doenças 
multifatoriais, ou seja: envolvem questões 
biológicas, psicológicas e socioculturais do 
indivíduo. Assim, o tratamento do transtorno 
mental envolve muito mais do que a 
administração de remédios psiquiátricos. É 
importante que o paciente faça 
acompanhamento psicológico, tenha hábitos 
de vida saudáveis, desenvolva sua capacidade 
de sociabilização e sua autonomia. 
Para um paciente que está com sono 
desregulado (sintoma muito comum a vários 
transtornos), manter uma rotina de atividades e 
praticar exercícios regularmente pode ser tão 
importante quanto o acompanhamento 
psiquiátrico. Para isso, é necessário que a 
equipe que o acompanha disponha de um 
nutricionista, um educador físico, um psicólogo, 
etc. 
POTENCIALIZAÇÃO DO TRATAMENTO PSIQUIÁTRICO 
Uma equipe multidisciplinar, em resumo, tem a 
função de potencializar os ganhos obtidos no 
tratamento psiquiátrico, complementando a 
abordagem clínica do médico e os benefícios 
do tratamento medicamentoso. Ela permite 
que as demandas particulares de cada 
paciente sejam atendidas, melhorando o 
quadro como um todo. 
Um exemplo muito bacana é o tratamento de 
idosos com transtornos mentais, pois além da 
própria doença mental eles enfrentam os 
tradicionais obstáculos da velhice: perda de 
coordenação motora, problemas de memória 
e até de metabolismo. Para esse grupo, realizar 
atividades de estimulação cognitiva, por 
exemplo, pode melhorar sua qualidade de vida 
e retardar o avanço de quadros demenciais. 
MAIS POSSIBILIDADES DE VÍNCULO TERAPÊUTICO 
Como cada pessoa possui uma história de vida 
diferente, uma personalidade própria, o 
atendimento através de uma equipe 
multidisciplinar aumenta a possibilidade do 
paciente criar um vínculo com algum dos 
profissionais que o atende. 
O estabelecimento do vínculo terapêutico é um 
dos fatores mais importantes no tratamento de 
um transtorno mental, pois é ele quem vai 
viabilizar a continuidade do tratamento, o que 
evita crises e uma possível cronificação da 
doença. 
Às vezes, um paciente que possui dificuldade 
de expressar seu sofrimento verbalmente em 
uma sessão de terapia, consegue acessar um 
sentimento esquecido através de uma oficina 
de arteterapia ou de musicoterapia, e a partir 
disso trabalhar aquilo que lhe causa sofrimento. 
COMO SÃO COMPOSTAS AS EQUIPES 
MULTIDISCIPLINARES? 
Não existe uma regra de composição de uma 
equipe. Quanto mais diversificada, maiores são 
as possibilidades de abordagem terapêutica. A 
ideia é que a equipe montada seja capaz de 
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_pratico_matriciamento_saudemental.pdf
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_pratico_matriciamento_saudemental.pdf
https://holiste.com.br/internacao-psiquiatrica-e-necessaria/
https://holiste.com.br/internacao-psiquiatrica-e-necessaria/
Laura Costa Santos – 6° Semestre - Medicina 
 
trabalhar os diferentes aspectos biológicos, 
psicossociais e subjetivos da pessoa. 
Esses profissionais devem sempre buscar uma 
atuação conjunta, integrada, compartilhando 
seus avanços e informações sobre o paciente. 
Essa troca permite mais dinamicidade na 
execução do plano terapêutico, revendo os 
objetivos e estratégias adotados, adequando-o 
a cada fase do processo de recuperação do 
paciente. 
CONHECER OS PROJETOS DE REABILITAÇÃO 
PSICOSSOCIAL. 
Os CAPS seriam definidos como dispositivos 
comunitários e regionalizados, que 
oportunizariam um grau de assistência e de 
reabilitação psicossocial,seguindo os mesmos 
princípios, por meio do acesso ao trabalho, ao 
lazer, a educação, a cultura, ao exercício dos 
direitos civis e ao fortalecimento dos laços 
familiares e comunitários dos indivíduos em 
sofrimento mental (Campos e Furtado, 2006). 
Dentro desse contexto, surgem então as 
oficinas, inicialmente instauradas na Itália em 
função da então vitoriosa experiência italiana, 
como um novo reflexo dos ideais construídos 
pela Reforma. 
Estas, que dando contornos ainda mais 
expressivos às mudanças que a tal Reforma 
proporcionaria – deixando práticas agressivas e 
condenáveis do passado para trás, dentre 
outras coisas – desenvolver-se-iam sob a forma 
de atividades em que o centro seria, então, o 
indivíduo e não mais sua “patologia”. 
Essa nova maneira de pensar os usuários 
permitiu ás oficinas que se tornassem 
ferramentas valiosas de cuidado e reinserção 
social desses indivíduos, pois, mediante o 
trabalho e a expressão artística, fazendo de 
seus ambientes espaços de socialização e 
interação, a base para isso estaria construída. 
Nelas, o sujeito conquistou liberdade para se 
expressar, sendo capaz de lidar com seus 
medos, inseguranças, bem como adquirir 
aprendizados e realizar a troca de experiências 
com outras pessoas. 
Um exemplo claro disso se daria por meio do 
artesanato, que permitiria a evasão de 
sentimentos de seus participantes nos mais 
diversos sentidos. 
Em fragmento, um especialista faz seu relato 
sobre sua experiência enquanto convidado, 
participante e observador de uma das 
atividades realizadas em oficina: 
“A T.O. nos convidou a participar das atividades 
do grupo que ela coordenava, os usuários 
estavam confeccionando uma ‘colcha de 
retalhos’: eles desenhavam fatos de sua vida 
em retalhos de tecido com pincel e tinta de 
tecido. 
Esta atividade compreende quatro sessões. 
Numa primeira, os usuários eram estimulados a 
exteriorizar seus sentimentos em relação à 
infância e pintar algo relacionado a ela. 
Ao final deste dia, conversavam sobre o que 
haviam desenhado, pensado e lembrado sobre 
sua infância. Guardavam o material trabalhado 
e assim sucessivamente nos outros dias, com 
adolescência, família e o futuro. 
Ao final, cada um tinha, pelo menos, quatro 
‘retalhos’ de sua vida para fazer uma ‘colcha’, 
que foi costurada por todos, com a ajuda da 
artesã e da T.O.” (Ministério da Saúde, 2004). 
Vê-se que a coordenadora, fazendo da oficina 
uma ferramenta a mobilizar os participantes a 
construírem materialmente alguma coisa, 
permitiria a estes também o verbalizar de suas 
vivências, possibilitando a construção de 
vínculos com os participantes ali presentes e 
também sua intervenção no processo de 
escuta e inclusão dos usuários. 
Partindo do artesanato, como no exemplo 
dado, até o uso da musica, da arte, dos 
esportes e de tantos outros elementos possíveis 
de se constituírem como temas de oficinas 
terapêuticas, o usuário seria sempre o foco da 
atenção desenvolvida, tendo a opção de 
escolher ou não aquilo que deseja realizar, 
sabido o importante fato de que nada ali o 
estaria sendo imposto. 
Desse modo, constata-se nesses serviços o 
processo de consolidação de novas práticas 
em saúde mental, nas quais o sujeito em 
sofrimento psíquico, que antes tinha uma 
posição inativa e de exclusão, agora se insere 
num nível de participação, de trocas e de 
reconstrução constante de suas relações com o 
mundo e de seu cotidiano (Rauter, 2000). 
Nessa perspectiva, as oficinas passariam a 
cumprir mais de um papel fundamental dentro 
dos CAPS: tanto como elementos terapêuticos, 
quanto como promotoras de reinserção social. 
Laura Costa Santos – 6° Semestre - Medicina 
 
Suas ações, passando a envolver atividades 
que estimulam a produção da subjetividade, 
permitiriam o resgate da autonomia, a criação 
de produtos artísticos ou artesanais, o trabalho 
e a geração de renda, em benefício principal 
de apenas um grupo objetivo de pessoas: os 
próprios usuários. (Pinto, 2011). 
Utilizando-se dos elementos que os indivíduos 
trariam, o profissional deve ter a capacidade de 
escutar e perceber o que eles estão querendo 
dizer. Há aqueles que podem se comunicar 
pela escrita, pela arte, pela identificação, entre 
diversos outros elementos (Silva, 2015). 
A CLASSIFICAÇÃO DAS OFICINAS PELO MINISTÉRIO DA 
SAÚDE 
Oficinas expressivas: espaços de expressão 
plástica (pintura, argila, desenho etc.), 
expressão corporal (dança, ginástica e 
técnicas teatrais), expressão verbal (poesia, 
contos, leitura e redação de texto, de peças 
teatrais, de letras de musicas), expressão 
musical (atividades musicais), fotografia, teatro. 
Oficinas geradoras de renda: servem como um 
instrumento de geração de renda através do 
aprendizado de uma atividade específica, que 
poder ser igual ou diferente da profissão do 
usuário. As oficinas geradoras de renda podem 
ser de: culinária, marcenaria, costura, 
fotocópias, fabricação de velas, venda de livro, 
artesanato em geral, cerâmica, bijuteria, 
brechó, etc. 
Oficinas de alfabetização: esse tipo de oficina 
contribui para aqueles usuários que não tiveram 
acesso ou que não puderam permanecer na 
escola possam exercitar a escrita e a leitura, 
como recurso importante na (re) construção da 
cidadania. 
REFLEXÕES CRÍTICAS ACERCA DOS CAPS E DA 
EXECUÇÃO DAS OFICINAS TERAPÊUTICAS 
Não é a simples existência de uma oficina que 
garante o fato de ela estar produzindo novas 
formas de vida; para ela ser terapêutica é 
necessário conectar-se com uma dimensão 
distinta da que habitualmente encontrávamos 
nos tempos anteriores aos da Reforma 
Psiquiátrica (Cedraz e Dimeinstain, 2005). 
Apesar de serem uma ferramenta muito 
importante para o usuário, possibilitando a esse 
a expressão de sensações e sentimentos, assim 
como grande proximidade em relação aos 
profissionais da saúde e também a outros 
indivíduos utilizando os serviços, tem-se que nem 
tudo, em todos os CAPS espalhados pelo Brasil, 
ocorre da forma como deveria. 
Um dos aspectos que se faz necessário o 
levantamento diz respeito ao mau 
planejamento das atividades de oficinas, que 
de algo a ser realizado com objetivos 
terapêuticos bem estruturados, acaba sendo 
reduzido a momentos de simples ocupação de 
tempo por parte dos indivíduos ali presentes. 
Outro aspecto de bastante relevância diz 
respeito ao fato de que ainda está presente em 
alguns serviços a ideia de que se deve partir dos 
técnicos e profissionais exclusivamente a 
iniciativa de realização de qualquer que seja a 
atividade, enquanto que os usuários ocupam o 
lugar de expectadores ou consumidores das 
propostas, mantendo as relações de hierarquia, 
contrapondo-se essa atitude aos princípios 
reformadores. 
A ideia fundamental das oficinas seria a de 
construir de forma coletiva , olhando para as 
angústias e para a vida dos indivíduos usuários, 
espaços de desenvolvimento e recuperação 
psicossocial. 
Um ponto interessante para esse debate se 
reflete também no fato observado de que 
valores conservadores construídos como 
”certos” na sociedade seriam transmitidos para 
o usuário como a forma mais adequada de se 
ser e de se agir, sem que se pensassem sobre 
determinados assuntos. 
Por exemplo: fala-se sobre sexualidade, 
abordando apenas a heterossexualidade; fala-
se sobre autonomia, enfatizando apenas a 
capacidade de se manter uma casa limpa e 
organizada (Cedraz e Dimeinstain, 2005). 
Nesse sentido – e aqui aparece a problemática 
– parece se perder um pouco a ideia e 
a essência do que significaria a produção da 
autonomia do usuário que, sendo um dos 
objetivos principais dos CAPS, segundo o 
Ministério da Saúde (2004), ficaria em alguns 
casos mais distante do que deveria. 
Por fim, têm-se também os casos em que se 
entendem mal as queixas dos usuários, como se 
estas fossem recorrentemente reflexos de suas 
dificuldadespsicológicas, mesmo quando o 
usuário vive em contexto em que tais queixas 
seriam bastante compreensíveis. 
Cedraz e Dimeinstain (2005) nos mostram em 
relato de campo o exemplo de uma mãe, que 
dizendo sentir muita angústia e insônia por 
Laura Costa Santos – 6° Semestre - Medicina 
 
conta do envolvimento de seus filhos com o 
comércio ilegal de drogas, ao ser abordada por 
um dos coordenadores da oficina em 
desenvolvimento, teria sido orientada por ele a 
procurar novamente a psiquiatra, tendo lhe dito 
que sua situação poderia estar vinculada a 
baixa quantidade de medicamentos 
ansiolíticos, algo absolutamente contrário as 
demandas da própria instituição CAPS. 
São práticas que precisam ser constantemente 
analisadas, assim como o preparo dos 
profissionais, a infraestrutura dos espaços dos 
CAPS, dentre outras coisas também muito 
importantes. 
AS OFICINAS TERAPÊUTICAS COMO FERRAMENTAS DE 
INSERÇÃO E RECUPERAÇÃO DO USUÁRIO 
Dadas às discussões e informações levantadas, 
conclui-se que as oficinas terapêuticas 
representariam um importante reflexo dos ideais 
levantados pela Reforma Psiquiátrica, 
principalmente no que concerne aquele que 
coloca o indivíduo e sua experiência no centro, 
fazendo dele o foco dos tratamentos. 
As oficinas terapêuticas seriam mecanismos em 
que os pacientes, através da manipulação de 
objetos, de recursos artísticos, artesanais, 
dinâmicas de grupo, jogos, teatros, entre outros, 
e acima de tudo através da socialização com 
outros pacientes podem trabalhar seus 
conteúdos emocionais, expressando-os (Silva, 
2015). 
Propiciando um espaço para autonomia e a 
politização dos indivíduos, as oficinas são 
reconhecidas por permitir a aliança entre 
muitos aspectos necessários para a 
recuperação psicossocial dos indivíduos. Os 
CAPS se beneficiariam enormemente de suas 
produções, sempre que bem estruturadas. 
Nesse sentido, além do bom preparo de toda a 
equipe multidisciplinar, tem-se que o espaço 
das oficinas terapêuticas precisa ter seus 
objetivos bem traçados, porque além de um 
momento de fala e voz para os pacientes com 
transtornos mentais, as oficinas precisam fazer 
sentido para a realidade de cada um, 
ajudando-os a construir novas trajetórias, na 
mesma medida em que desconstrói também 
preconceitos e estigmas. 
 FONTE: 
https://blog.cenatcursos.com.br/as-oficinas-
terapeuticas-uma-abordagem-alternativa-dos-
caps-em-favor-da-saude-mental/ 
COMPREENDER O PROJETO TERAPEUTICO 
SINGULAR E OS PASSOS PARA SUA ELABORAÇÃO. 
O Projeto Terapêutico Singular (PTS) é um 
conjunto de propostas de condutas 
terapêuticas articuladas para um indivíduo, 
uma família ou um grupo que resulta da 
discussão coletiva de uma equipe 
interdisciplinar com Apoio Matricial, se esse for 
necessário. 
 
O Projeto Terapêutico Singular (PTS) pode ser 
realizado conforme os passos a seguir: 
1 – Diagnóstico: delineamento da situação 
problema, identificando os aspectos sociais, 
psicológicos e orgânicos que influenciam no 
caso. É importante, nessa etapa, identificar os 
sujeitos envolvidos, as vulnerabilidades e a rede 
de apoio existente, e não apenas os aspectos 
clínicos do caso. A elaboração de um 
genograma e ecomapa mostra-se como uma 
boa ferramenta para registro gráfico da 
situação problema quando esta se tratar de um 
caso individual e não comunitário. 
2 – Definição de metas: após a descrição do 
caso e levantamento dos pontos a serem 
trabalhados, é importante que a equipe 
trabalhe com metas a serem alcançadas a 
curto, médio e longo prazo. Essas metas devem 
ser negociadas com o sujeito do PTS e demais 
pessoas envolvidas. 
3 – Divisão de responsabilidades: as tarefas de 
cada um devem ser claras, incluindo do sujeito 
do PTS. Definir também um profissional que será 
responsável pelo maior contato entre o caso e 
a equipe de saúde é uma estratégia que pode 
facilitar a continuidade da assistência, além da 
reavaliação e reformulação de ações do PTS. 
4 – Reavaliação: momento onde a equipe fará 
a discussão do caso, verificando o que teve 
êxito e o que precisa ser reformulado para ter 
melhor resposta. A periodicidade da 
reavaliação deve ser definida pela equipe 
interdisciplinar no planejamento das ações. 
Para o sucesso do PTS é importante que a 
equipe interdisciplinar construa um vínculo com 
o sujeito do projeto, além de envolvê-la nas 
Laura Costa Santos – 6° Semestre - Medicina 
 
decisões sobre as ações a serem realizadas 
(princípio da clínica ampliada). 
O Projeto Terapêutico Singular é um trabalho 
realizado pela equipe interdisciplinar de saúde 
com vistas ao acompanhamento de um caso 
específico que envolve um sujeito ou uma 
comunidade. O caso trabalhado em um PTS 
deve ser eleito pela equipe considerando a 
necessidade de atenção ampliada à situação. 
Geralmente, são situações onde já foram 
tentadas ações pontuais e não se atingiu o 
resultado esperado devido a certa dificuldade 
em sua condução. Também são trabalhadas as 
vulnerabilidades do indivíduo ou 
comunidade. 
 FONTE: 
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/g
uia_pratico_matriciamento_saudemental.pdf 
pag 26 
 
 
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_pratico_matriciamento_saudemental.pdf%20pag%2026
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_pratico_matriciamento_saudemental.pdf%20pag%2026
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_pratico_matriciamento_saudemental.pdf%20pag%2026

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