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ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA 1 – Introdução A organização administrativa é a forma por meio da qual o Estado é estruturado. Com base no princípio da legalidade, a organização administrativa é realizada, primordialmente, mediante lei. Todavia, é possível que a Constituição Federal ou a própria legislação autorizem que determinada organização seja feita por meio de decretos ou outros atos normativos O Decreto-Lei 200/67, recepcionado como lei ordinária pela Constituição Federal de 1988, estabelece normas de estruturação da Administração Pública da União, além de consistir em norma geral de observância obrigatória pelos Estados, Distrito Federal e Municípios. O referido decreto- lei somente pode ser alterado por lei ordinária federal. Os princípios setoriais específicos inerentes à organização administrativa, extraídos do art. 6º do DL nº 200/67, são os seguintes: Princípio do planejamento: consiste na determinação de que a Administração Pública conduzirá a sua atuação e organizará a sua estrutura com vistas a promover o desenvolvimento econômico-social do País e a segurança nacional, além dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil (art. 3º, CF) Princípio da coordenação: consiste na determinação de que a estruturação da organização administrativa será realizada por meio de um escalonamento hierárquico (apenas quanto à Administração Direta), por meio do qual as chefias coordenam a atividade realizada pelos seus subordinados. Vale lembrar que, quanto às entidades da Administração Pública indireta, não há hierarquia, há apenas controle finalístico, tutela ou supervisão. Princípio da descentralização administrativa: conforme será melhor estudado adiante, a descentralização consiste na criação de uma nova pessoa jurídica, diretamente por lei ou autorizada por lei, transferindo-lhe a prestação de serviços originariamente prestado pelo Ente Federado instituidor. Objetiva a especialização e a eficiência. Trata-se da “descentralização por serviços ou outorga”. O art. 10 do DL nº 200/67 estabelece que a execução das atividades da Administração Pública Federal deverá ser amplamente descentralizada. Além disso, o §7º do art. 10 possui a seguinte redação, incentivando a execução indireta de serviços por meio de parcerias com a iniciativa privada, vejamos: Princípio da delegação de competência: busca promover eficiência na Administração Pública por meio da extensão de uma competência para órgãos integrantes de uma mesma estrutura hierárquica de forma expressa e transitória. Neste caso, uma autoridade outorga parcela específica de suas atribuições para outro agente público, de forma transitória, precária e não exclusiva. Princípio do controle: trata-se de controle exercido em toda a estrutura administrativa e sobre todas as atividades da Administração Pública. É exercido em todos os órgãos de governo. Além disso, a Administração Pública direta exerce controle finalístico sobre as entidades da Administração indireta por ela instituídas Além desses princípios previstos no decreto-lei, a doutrina aponta para outros dois princípios administrativos que se relacionam diretamente com a organização da Administração Pública: Princípio da especialidade: justifica a necessidade de descentralização dos serviços do Estado e da desconcentração de atividades dentro da estrutura organizacional da Administração Pública. Com isto, promove- se a especialização nas atividades específicas em que os órgãos ou as entidades públicas atuam, o que enseja uma maior eficiência na prestação desses serviços, na medida em que tais órgãos e entidades dedicam todos os seus esforços na execução de uma ou de um número restrito de funções, o que, em tese, faz com que haja um aprimoramento constante nesta atuação. Princípio da subsidiariedade: de acordo com este princípio, o Estado somente deve prestar diretamente serviços que não possam ser prestados de forma satisfatória pela iniciativa privada, gerando uma atuação subsidiária. Sua aplicação mais característica ocorre na intervenção do Estado na Economia. Neste ponto, o Estado somente explorará diretamente atividade econômica de forma subsidiária, quando verificadas as hipóteses previstas no art. 173 da Lei Maior, isto é, quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei 1.1 – Descentralização e Desconcentração Em primeiro lugar, é necessário que o aluno tenha conhecimento de que existem dois tipos de descentralização: a política e a administrativa. A descentralização política é a criação, pelo ente político central, de outros atores políticos com autonomia política e competência legislativa, que reproduzirão, pelo princípio da simetria, a estrutura e as atribuições do poder central A descentralização administrativa é a transferência, pelo ente político federado, de determinada atividade a um outro sujeito, dotado de personalidade jurídica, integrante ou não da estrutura estatal. 1.1.1 – Descentralização administrativa A descentralização pressupõe duas pessoas distintas, quais sejam, o Estado (União, Estados, Distrito Federal ou Municípios) e a pessoa que executará o serviço, por ter recebido essa atribuição do Poder Público A forma mais comum de descentralização é aquela em que o Estado cria uma pessoa jurídica, diretamente por lei ou mediante autorização lei, que passa a integrar a Administração Pública indireta, transferindo-lhe a titularidade e/ou a execução de determinado serviço Existem diversas formas de classificação da descentralização administrativa. A mais adotada na doutrina e cobrada em concursos aponta 3 (três) modalidades: a) Descentralização funcional, técnica, por serviços ou por outorga Quando o próprio estado cria uma pessoa jurídica de direito público ou de direito privado (entidade administrativa) e a ela transfere determinado serviço. Essa modalidade de descentralização pressupõe a edição de uma lei criando a entidade ou, ao menos, autorizando a sua criação, a depender da espécie de pessoa jurídica criada. Normalmente a transferência do serviço ocorre por prazo indeterminado. A transferência da titularidade ou execução do serviço A doutrina é controvertida quanto à transferência envolver a titularidade do serviço público ou apenas a sua execução na descentralização funcional. A primeira corrente entende que, por existir uma lei autorizando ou transferindo diretamente o serviço, a outorga produz a transferência da própria titularidade do serviço público, além da sua execução. A segunda corrente, por sua vez, entende que a titularidade do serviço público permanece sempre com a Administração Direta, não sendo passível de transferência para outra entidade administrativa. Essa corrente é capitaneada por José dos Santos Carvalho Filho Uma terceira corrente doutrinária aduz que a transferência da titularidade ocorre apenas em relação às pessoas jurídicas de direito público, ou seja, para as autarquias e fundações públicas, enquanto, com relação às pessoas jurídicas de direito privado, há somente a transferência da execução do serviço. As correntes mais adotadas em provas de concursos públicos são a primeira e a terceira. Quando se fala em transferência da titularidade do serviço de forma genérica, é recomendável adotar a primeira corrente. Quando a questão faz distinção entre pessoas de direito público e privado da Administração indireta para fins de transferência da titularidade do serviço ou não, o que ocorre, normalmente, em bancas mais técnicas, entendo que a melhor corrente a ser adotada é a terceira b) Descentralização por colaboração ou por delegação Nesta modalidade, o Estado transfere aexecução do serviço para outra pessoa, física ou jurídica, para que esta preste o serviço à população em seu próprio nome e por sua conta e risco, sob fiscalização do estado. Nesta hipótese, a transferência será sempre por prazo determinado. A transferência, neste caso, pode ocorrer por meio de contrato (concessão ou permissão de serviços públicos – Lei 8.987/95 e Lei 11.079/2004) ou por ato unilateral (autorização de serviços públicos). Além disso, envolve apenas a execução do serviço, permanecendo a sua titularidade com o Ente Público, ao contrário do que ocorre com a descentralização funcional ou por serviços, em que, existe parcela doutrinária que leciona a transferência da própria titularidade do serviço público a pessoa jurídica diversa criada para este fim. c) Descentralização territorial ou geográfica É a criação de uma entidade local, geograficamente delimitada, com personalidade jurídica de direito público e capacidades (competências) administrativas genéricas. Trata-se de técnica de descentralização mais comum em Estados Unitários ou, em determinados casos, em Estados Federados cuja federação não seja tão ramificada quanto o Brasil No Brasil, os Territórios Federais, previstos no art. 18, § 2º da Constituição Federal, embora inexistentes na prática, podem ser citados como exemplo. Vejamos o que diz a Carta Magna: A União cria uma pessoa jurídica de direito público com limites territoriais determinados e competências administrativas genéricas Os Territórios são denominados por alguns doutrinadores como “autarquias territoriais” ou “autarquias geográficas” em razão de sua personalidade jurídica de direito público e da criação por meio de lei. Entretanto, estas duas entidades administrativas possuem distinções determinantes: i. as autarquias comuns possuem atuação, em regra, sobre todo o território nacional, enquanto os Territórios Federais atuam apenas em uma área determinada; ii. as autarquias comuns possuem competências administrativas específicas, prestando um serviço ou uma atividade administrativa específica, ao passo que os Territórios possuem competências administrativas genéricas, prestando, de forma geral, toda a função administrativa. Por outro lado, há parcela doutrinária que entende que a criação de Territórios Federais não é uma espécie de descentralização territorial, tendo em vista que não seriam meras entidades administrativas por possuírem competência legislativa. Para esta corrente, a descentralização territorial não seria admitida no Brasil A classificação de Carvalho Filho Carvalho Filho prefere uma outra classificação para a descentralização, a qual trazemos aqui pela relevância do autor para concursos públicos, qual seja: a) Descentralização legal: que pressupõe a edição de lei (entidades da Administração indireta); b) Descentralização negocial: instrumentalizada por negócio jurídico (concessionárias e permissionárias de serviços públicos). Em nenhum dos casos de descentralização há a presença de hierarquia. As entidades que atuam de forma descentralizada não estão subordinadas à Administração Pública direta, ou seja, não se sujeitam hierarquicamente ao Ente que lhe transferiu o serviço. Nos casos de descentralização funcional há vinculação (e não subordinação), em que a Administração direta exerce o controle finalístico sobre a Administração indireta, também denominado de tutela administrativa ou supervisão (no âmbito federal se denomina supervisão ministerial) O controle exercido deve estar previsto em lei, que definirá os limites e os instrumentos disponíveis para a Administração Pública direta o controle na descentralização por delegação ou colaboração é muito mais amplo do que o controle finalístico da descentralização funcional. Naquele caso, a Administração Pública pode alterar unilateralmente as condições da prestação de serviços, praticar intervenção, extinguir o contrato por interesse público superveniente (encampação), aplicar sanções diretamente sem recorrer ao Poder judiciário, dentre outras prerrogativas. Entretanto, tampouco neste caso de descentralização por colaboração há hierarquia entre o Poder Público e a concessionária de serviço público. Há apenas controle 1.1.2 – Desconcentração A desconcentração é a distribuição de competências entre os órgãos internos sem personalidade jurídica, dentro de uma mesma pessoa jurídica. Este fenômeno decorre do poder hierárquico da Administração Pública, que pode atribuir funções dentro de sua estrutura organizacional, existindo uma relação de subordinação A desconcentração, portanto, cria centros especializados de competência (os órgãos), formados por agentes públicos, dentro de sua estrutura hierárquica. Todo o movimento da desconcentração ocorre dentro de uma mesma pessoa jurídica A desconcentração pode ocorrer no âmbito da Administração Direta (União, Estados, Distrito Federal e Municípios) ou no âmbito da Administração Indireta (Autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista) Determinada atividade pode ser realizada de forma centralizada e desconcentrada quando realizada pelos órgãos da Administração Pública Direta ou de forma descentralizada e desconcentrada, quando realizada pelos órgãos internos das entidades administrativas integrantes da Administração Pública indireta. A doutrina ainda costuma classificar a desconcentração, adotando os seguintes critérios: a) desconcentração em razão da matéria (Ministério da saúde, educação, economia etc.); b) desconcentração em razão do grau ou hierarquia (Ministérios, Secretarias, subsecretarias, superintendências, delegacias etc.); c) desconcentração pelo critério territorial (delegacias regionais, superintendências regionais etc.) 1.2 – Centralização e Concentração A centralização é a técnica de prestação de determinada atividade administrativa diretamente pela Administração Pública direta (União, Estados, Distrito Federal e Municípios), sem envolver outra pessoa jurídica. Quando se diz que há um movimento de centralização, o Poder Público está extinguindo as entidades integrantes da Administração Pública indireta e os negócios jurídicos com a iniciativa privada e retomando a prestação do serviço para si A concentração é a execução das atividades administrativas diretamente pelo Ente Político ou pela entidade administrativa, podendo ocorrer com a extinção de órgãos. É observada com mais frequência em tempos de contenção de gastos, em que se verifica ampla extinção de órgãos públicos, com a retomada de suas atribuições pelos órgãos superiores 1.3 – Entidades Políticas e Entidades Administrativas As entidades políticas, também denominadas de pessoas políticas ou entes federados, são os integrantes do Estado Federado brasileiro, previstos no art. 1º, caput, da CF. Trata-se da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal São entes detentores de autonomia política, consistente na capacidade de auto-organização (por meio da elaboração de suas próprias constituições e leis orgânicas) e pelas competências legislativas próprias, atribuídas diretamente pela Lei Maior As entidades administrativas são pessoas jurídicas de direito público ou de direito privado, que integram a Administração Pública formal (pois assim determina a lei), porém sem dispor de autonomia política e de competência legislativa. São as entidades que integram a Administração Pública indireta, ou seja, as autarquias, fundações, sociedades de economia mista e empresas públicas. Diferem das entidades políticas justamente pela ausência de autonomia política e competência legislativa. Suas atribuições, em sentido contrário, são justamente de execução das leis editadas pelos entes federativosAs entidades administrativas possuem autonomia administrativa, ou seja, possuem capacidade de autoadministração, não estando hierarquicamente subordinadas aos entes políticos instituidores, possuindo atribuição para editar seus regimentos internos acerca de sua organização e funcionamento nos termos e limites estabelecidos em lei. As entidades administrativas são apenas vinculadas (e não subordinadas) aos entes políticos, havendo sobre elas unicamente controle finalístico (tutela administrativa), exercido nos termos e limites da lei e voltado, primordialmente, à verificação da atuação de acordo com as finalidades para as quais foram criadas 1.4 – Administração Direta A Administração Pública direta é o conjunto de órgãos que integram os entes federativos do Estado, ou seja, União, Estados, Distrito Federal e Municípios, cujas atribuições são estabelecidas na Constituição Federal e nas respectivas Constituições Estaduais e Leis Orgânicas. Os entes integrantes da Administração direta possuem autonomia política e capacidade legislativa próprias. Possuem personalidade jurídica de direito público interno e gozam de todas as prerrogativas inerentes à Administração Pública e se submetem a todas as limitações estatais decorrentes da indisponibilidade do interesse público 1.5 – Administração Indireta A Administração Pública indireta é o conjunto de pessoas jurídicas, desprovidas de autonomia política, que são vinculadas à Administração Pública direta, da qual recebem competência para o exercício de atividades administrativas de forma descentralizada. O Brasil adotou o critério formal de Administração Pública, pois somente fazem parte da Administração em sentido formal as entidades que a lei assim considera, independentemente da atividade exercida. Desta forma, compõem a Administração Pública indireta as entidades previstas no art. 37, XIX da CF e no art. 4º, II do Decreto-lei 200/67: a) Autarquias (incluindo as associações públicas – consórcios públicos de direito público); b) Fundações públicas; c) Empresas Públicas; d) Sociedades de economia mista 1.5.1 – Características comuns às entidades da Administração Pública indireta Embora as entidades administrativas, integrantes da administração pública indireta, possuam diferenças determinantes entre si, tendo em vista a existência de finalidades e características próprias, é possível traçar semelhanças entre suas características, sendo importante o estudo conjunto desses pontos em comum Todas essas entidades administrativas (autarquias, fundações públicas, empresas públicas e sociedades de economia mista) possuem personalidade jurídica e patrimônios próprios, consistindo em pessoa jurídica distinta da pessoa instituidora. Ademais, todas essas entidades são dotadas de autonomia administrativa, com poder de autoadministração As entidades da Administração indireta ainda partilham de dois princípios essenciais que fazem parte de seus respectivos regimes jurídicos: o princípio da reserva legal e o princípio do controle. a) Reserva legal (criação e extinção das entidades administrativas) O art. 37, XIX da CF exige a edição de uma lei para a criação das pessoas jurídicas integrantes da Administração Pública indireta: Em regra, a iniciativa do projeto de lei que viabiliza a criação dessas entidades é do Chefe do Poder Executivo, a teor do art. 61, §1º, II, b e e da CF. Entretanto, caso o Poder Judiciário ou o Poder Legislativo decidam por criar uma dessas entidades no âmbito de suas estruturas, a iniciativa de lei será do respectivo representante da instituição O dispositivo constitucional estabelece que: As pessoas jurídicas de direito público (autarquias e fundações públicas de direito público) serão criadas diretamente pela lei, As pessoas jurídicas de direito privado (empresas públicas, sociedades de economia mista e fundações públicas de direito privado) terão a sua criação apenas autorizada por lei, somente sendo efetivamente criadas com o registro dos atos constitutivos no órgão de registro competente, na forma como é exigido para a entidades privadas em geral (art. 45, Código Civil) As fundações públicas possuem a situação peculiar de poderem ser criadas sob o regime jurídico de direito público ou de direito privado. No primeiro caso, serão criadas diretamente por lei, possuindo natureza autárquica, razão pela qual parcela da doutrina a denomina de autarquia fundacional ou fundação autárquica. No segundo caso, quando o regime jurídico for de direito privado, sua criação será autorizada por lei e apenas será efetivada com o registro dos atos constitutivos A lei exigida para criação ou autorização da criação dessas entidades é a lei ordinária, uma vez que somente é exigida lei complementar quando a CF dispõe expressamente. Nada obsta, todavia, que o ente público instituidor decida editar uma lei complementar. Entretanto, conforme jurisprudência do STF, uma lei complementar que disponha sobre matéria de lei ordinária, pode ser alterada por esta última espécie legislativa Prevalece o entendimento de que a lei complementar exigida para definir as áreas de atuação diz respeito exclusivamente às fundações públicas, vez que foram mencionadas por último no dispositivo, razão pela qual é a elas que se refere a expressão “neste último caso”. Em virtude do princípio da paridade das formas jurídicas (simetria das formas), a extinção dessas entidades deve ocorrer da mesma forma da sua criação, ou seja, caso se trate de pessoa jurídica de direito público, a extinção será realizada diretamente por meio de lei. Caso seja uma pessoa jurídica de direito privado, a lei autorizará a sua extinção, que será efetivada mediante os atos necessários perante o órgão de registro. b) Controle ou vinculação (tutela administrativa ou supervisão) Outra característica comum a todas as entidades administrativas integrantes da Administração Pública indireta é a ausência de subordinação em relação ao Poder Público instituidor. Não há relação de hierarquia entre o ente federado que editou a lei criando ou autorizando a criação e a entidade administrativa criada A relação dessas entidades com o ente político instituidor é de vinculação. O ente político exerce apenas controle finalístico sobre as entidades de sua Administração indireta, também denominado tutela administrativa ou supervisão. Trata-se de controle previsto na lei e restrito aos limites e às condições por ela definidos, não sendo ilimitado. Consiste em controle da legalidade, pois verifica se a entidade administrativa vem cumprindo a lei instituidora, especialmente a finalidade para a qual foi criada. Em âmbito federal, o controle é exercido pelos Ministérios, razão pela qual é denominado “supervisão ministerial”, previsto no art. 4º, parágrafo único, do DL nº 200/67 De acordo com a doutrina, o controle exercido pode ser subdividido em 3 espécies: i. Controle político: diz respeito à escolha e nomeação dos dirigentes, que é realizada pela autoridade competente de Administração Direta e de forma livre, por se tratar de cargo de livre nomeação e exoneração (cargo público em comissão). Entretanto, excepcionalmente, a CF pode exigir procedimento diferenciado para nomeação e exoneração dos dirigentes, tal como a prévia aprovação pelo Senado Federal, mandato por prazo determinado, dentre outros; ii. Controle administrativo e finalístico: verifica se as entidades administrativas criadas estão atendendo as finalidades que justificaram sua instituição, constante da respectiva legislação. De acordo com os doutrinadores, esse controle é exercido normalmente por meio do recurso hierárquico impróprio;iii. Controle financeiro: trata-se de controle das contas dessas entidades pelos órgãos próprios, especialmente o Tribunal de Contas O controle pressupõe a existência de duas pessoas jurídicas distintas, enquanto a subordinação ocorre na estrutura interna de uma mesma pessoa jurídica. O controle não se presume, depende de lei que o estabeleça e defina os seus limites e procedimentos, ao passo a que subordinação decorre diretamente da estrutura hierárquica dos entes públicos e independe de lei. O controle é condicionado pela lei; a hierarquia, por outro lado, é incondicionada Quando há relação de hierarquia, a subordinação se manifesta, primordialmente, mediante o recurso hierárquico (próprio), admitido independentemente da existência de lei, salvo se houver expressa vedação. Por outro lado, na vinculação, o controle ocorre basicamente mediante os recursos hierárquicos impróprios, assim denominados justamente por inexistir relação de hierarquia 1.6 – A Organização Administrativa em setores: Primeiro, Segundo e Terceiro Setor A classificação da organização administrativa em setores busca suprir uma deficiência nas classificações tradicionais, que não explicam o fenômeno das parcerias do Poder Público com entidades privadas sem fins lucrativos para execução de atividades de interesse social. Busca-se uma classificação que envolva todos os sujeitos que atuam na execução de serviços públicos e de atividades privadas de relevância pública. Assim, surge a classificação em primeiro, segundo e terceiro setor. a) Primeiro setor: Estado (Administração Pública direta e indireta); b) Segundo setor: mercado (concessionárias e permissionárias de serviços públicos); c) Terceiro setor: entidades privadas sem fins lucrativos que atuam objetivando a consecução de interesse público (Serviços sociais autônomos – sistema S, organizações sociais – OS, organizações da sociedade civil de interesse público – OSCIPs, organizações da sociedade civil – OSC etc.) As entidades do terceiro setor também são denominadas entidades paraestatais, tendo em vista que atuam “ao lado” do Estado para consecução das finalidades públicas, isto é, o interesse público. Por isto, é possível dizer que o terceiro setor está localizado entre o Estado e o mercado, envolvendo as entidades “públicas não estatais” 2 – Órgãos Públicos 2.1 – Conceito Unidades integrantes da estrutura de uma pessoa jurídica, que recebem parcela das competências da entidade que integram para exercício de forma especializada, por meio de agentes públicos São o conjunto de competências agrupadas em espécies de núcleos específicos dentro de um ente político ou entidade administrativa A lei 9.784/99, em seu art. 1º, §2º, inciso I, apresenta um conceito legal de órgão público Com a criação de órgãos se objetiva a racionalização das atividades, bem como, a especialização e maior eficiência. A doutrina aponta três teorias acerca da natureza jurídica dos órgãos públicos: a) Subjetiva (“órgão físico” ou “órgão-indivíduo”): identifica os órgãos com os agentes públicos. Os órgãos seriam os próprios agentes públicos. Desaparecendo os agentes, o órgão seria extinto.; b) Objetiva (“órgão jurídico” ou “órgão-instituição”): órgãos seriam apenas um conjunto de atribuições ou unidades funcionais da Administração Pública, não se confundindo com os agentes públicos; c) Eclética: órgãos seriam a soma dos elementos subjetivo e objetivo, isto é, conjunto de atribuições exercido pelos agentes públicos A principal característica do órgão público é a ausência de personalidade jurídica, ou seja, não é um sujeito de direitos e não pode contrair obrigações em nome próprio. Toda a sua atuação é imputada à pessoa jurídica a que pertence. Assim, a atuação do Ministério da saúde em âmbito federal será imputada à União A criação dos órgãos públicos decorre da técnica de desconcentração administrativa, bem como é expressão do poder hierárquico da administração, ficando os órgãos criados subordinados aos órgãos superiores Para provas de concursos públicos de maneira geral, guardem que o exército brasileiro é um órgão da União Federal Por outro lado, determinados órgãos públicos, em situações peculiares, poderão gozar de capacidade processual ativa, ou seja, embora não possuam personalidade jurídica, em certas ocasiões poderão ser dotados de personalidade judiciária para defesa de prerrogativas institucionais 2.2 – Criação e extinção de órgãos públicos Em regra, os órgãos públicos devem ser criados e extintos por meio de lei. Os arts. 48, XI e 84, VI, alínea a, da CF preveem, de forma conjugada, a necessidade de lei para a criação de órgãos na estrutura da Administração Pública O art. 84, XI, a, CF, ao prever hipótese de decreto autônomo do Presidente da República, exclui expressamente a criação e a extinção de órgãos públicos, o que deixa claro a intenção do constituinte de que essas unidades administrativas sejam criadas e extintas exclusivamente mediante lei A iniciativa para o projeto de lei para criação e extinção de órgãos públicos é, em regra, do Chefe do Poder Executivo, nos termos do art. 61, §1º, II, e, da CF. Todavia, em alguns casos a Lei Maior confere a iniciativa de lei aos órgãos independentes para a criação de órgãos públicos em suas respectivas estruturas. É o caso do Poder Judiciário (art. 96, II, c e d, CF) e do Ministério Público (art. 127, §2º, CF), cuja iniciativa pertence aos chefes destas instituições A Carta Magna prevê algumas exceções à reserva legal quanto à criação de órgãos. É o caso da instituição de órgãos no Poder Legislativo, conforme arts. 51, IV e 52, XIII, ambos da CF 2.3 – Teorias acerca da relação entre o órgão e seus agentes públicos Teoria do mandato Diversas teorias buscam explicar a relação entre o Estado e os agentes públicos que o compõem e manifestam a sua vontade. As três principais teorias são as seguintes: De acordo com esta teoria, o agente público deve ser considerado como um mandatário do Estado, ou seja, um representante cujos poderes foram conferidos por um instrumento de mandato A grande crítica que se faz a esta teoria é que o Estado, sendo uma pessoa jurídica abstrata, não dispõe de vontade própria. Assim sendo, e, considerando que o instrumento de mandato depende de um ato de manifestação de vontade do outorgante, não seria possível aos entes públicos conferirem mandato aos seus agentes Teoria da representação Para esta teoria, o agente público agiria como representante do Estado, tal como os responsáveis por pessoas incapazes (incapacidade civil, como a do menor de idade) Esta teoria não prevalece e sofre críticas por equiparar o Estado ao incapaz. Além disso, por ser o Estado quem edita as leis, seria verificada a incoerência lógica de que o Estado confere representante a si mesmo Teoria do órgão (imputação volitiva) A teoria do órgão, adotada pelo Direito brasileiro, determina que a manifestação de vontade emitida pelo agente público, regularmente investido em cargo público, deve ser considerada como a própria vontade do órgão público a que está vinculado e esta manifestação de vontade, por sua vez, é imputada à pessoa jurídica a que pertence o órgão Quando o agente público emite uma manifestação de vontade, considera-se que foi a própria pessoa jurídica quem se manifestou. Não existem, no caso, vontades distintas. O agente público exterioriza a vontade do órgão público, que, por sua vez, é parte integrante do ente estatal Essa teoria, atribuída ao jurista alemão Otto Gierke, possui o mérito de explicar a responsabilidade civil do ente público por atos praticados por seus agentes. Neste sentido, os danos causados pela atuação dos órgãos,consideram-se como tendo sido causados pelo próprio ente estatal Esta responsabilidade civil tem lugar ainda que o órgão atue por meio de um agente de fato, isto é, aquele que não possui um vínculo formal legítimo com o ente público (por vício ou irregularidade na investidura, funcionário suspenso, dentre outras situações), mas que aparentam serem agentes estatais. Aplica-se, no caso, a teoria da aparência, resguardando a boa- fé dos terceiros que acreditaram se tratar de servidor regularmente investido em cargo público. Todavia, para aplicação da teoria da aparência, o funcionário deve efetivamente aparentar estar legitimamente investido em cargo público e o terceiro prejudicado deve agir com boa-fé O agente de fato não se confunde com o usurpador de função, que é aquele que, dolosamente, se passa por agente público, sem que, de qualquer modo, tenha sido investido em cargo público. O ato do usurpador de função é considerado inexistente e, em regra, não gera responsabilidade da Administração Pública. A usurpação de função é crime previsto no art. 328 do CP 2.4 – Classificações A doutrina classifica os órgãos públicos se utilizando de diversos critérios. Analisaremos os principais critérios, que costumam ser cobrados ou que possuem chances de serem cobrados em provas de concursos públicos Quanto ao enquadramento federativo: a) Órgãos federais: integrantes da Administração Pública Federal. Ex.: Presidência da República, Ministérios, Congresso Nacional etc.; b) Órgãos estaduais: integrantes da Administração Pública Estadual. Ex.: Governo do Estado, Secretarias Estaduais, Assembleia Legislativa etc.; c) Órgãos distritais: integrantes da Administração Pública do Distrito Federal. Ex.: Governo do Distrito Federal, Câmara Distrital etc.; d) Órgãos municipais: integrantes da Administração Pública Municipal. Ex.: Prefeitura Municipal, Secretarias Municipais, Câmara Municipal etc. Quanto à estrutura: a) Órgãos simples ou unitários: são constituídos por um só centro de competências. São órgãos que não possuem subdivisões com atribuições específicas em sua estrutura, ou seja, não subdivididos em outros órgãos, não interessando o número de agentes públicos que o integram; b) Órgãos compostos: reúnem em sua estrutura diversos órgãos, como resultado da desconcentração administrativa. Trata-se de um órgão subdividido em diversos outros. É o que ocorre com os Ministérios e Secretarias Quanto à atuação funcional ou manifestação de vontade: a) Órgãos singulares ou unipessoais: a atuação ou as decisões são de atribuição de um único agente. Não importa o número de agentes públicos que estejam vinculados ao órgão unipessoal, basta que apenas um agente público manifeste vontade em nome do órgão. Ex.: Presidência da República; b) Órgãos coletivos ou pluripessoais: integrados por mais de um agente público que manifestam vontade em nome do órgão de forma coletiva. Ex.: CNJ, CNMP, Congresso Nacional, Tribunais etc. Quanto às atividades preponderantes: a) Órgãos ativos: são os órgãos executivos, responsáveis pela execução concreta das decisões e normas administrativas; b) Órgãos consultivos: responsáveis pelo assessoramento dos demais órgãos públicos. Emitem uma opinião técnica ou jurídica sobre determinado assunto, todavia, não emitem decisões concretas; c) Órgãos de controle: fiscalizam as atividades de outros órgãos. Quanto à posição hierárquica (Hely Lopes Meireles): a) Órgãos independentes: são os órgãos previstos na Constituição Federal e que representam os poderes estruturais do Estado (Poder Executivo, Legislativo e Judiciário), situados no topo da hierarquia na estrutura organizacional do Estado. Também incluem o Ministério Público e os Tribunais de Contas. Não estão subordinados a nenhum outro órgão, estando apenas sujeitos aos controles recíprocos com base na Lei Maior, por meio do sistema de freios e contrapesos b) Órgãos autônomos: estão imediatamente abaixo dos órgãos independentes na pirâmide hierárquica da estrutura do Estado. Possuem ampla autonomia administrativa, financeira e técnica, com alto grau de poder decisório. Desenvolvem as funções de planejamento, supervisão, coordenação e controle c) Órgãos superiores: estão subordinados a uma chefia, porém, possuem certo grau de competência de direção e controle (poder decisório). Não possuem autonomia administrativa nem financeira d) Órgãos subalternos: não possuem qualquer poder decisório. São órgãos de mera execução de decisões superiores. Estão na base da hierarquia da organização administrativa Parte da doutrina propõe uma classificação mais simplificada, com apenas duas espécies de órgãos: órgãos diretivos e órgãos subordinados. Os primeiros com funções de comando e direção e os últimos responsáveis pela execução das decisões dos órgãos diretivos 2.5 – A Excepcional personalidade judiciária Os órgãos públicos não possuem personalidade jurídica, pois não são sujeitos de direitos e obrigações. Seus atos são imputados ao ente político a que estão vinculados. Em regra, não podem celebrar contratos, não podem ingressar com ação judicial nem responder por eventuais obrigações em nome próprio. Quem atua, nestes casos, é a pessoa jurídica Excepcionalmente, é possível que determinados órgãos possam ingressar com ação judicial para defesa de suas prerrogativas institucionais, sendo dotados de capacidade processual ou personalidade judiciária excepcional. São hipóteses reconhecidas pela lei e pela jurisprudência Em primeiro lugar, a lei pode atribuir capacidade processual a determinados órgãos públicos. É o que ocorre no caso do Ministério Público e da Defensoria Pública que, embora sejam órgãos da União ou do Estado, a lei confere atribuição para ingressar com ação judicial nos casos nela previstos. Até aqui, nenhuma novidade. Por outro lado, a jurisprudência estabelece a capacidade processual de determinados órgãos públicos que preenchem os seguintes requisitos cumulativos, independentemente de lei expressa autorizando: a) Órgão de cúpula da hierarquia administrativa; b) Defesa de suas prerrogativas institucionais Em regra, as divergências entre órgãos em posições de subordinação dentro da estrutura hierárquica são resolvidas pelo critério da hierarquia. Todavia, entre órgãos de cúpula, em que não há subordinação, não haveria qualquer remédio para resolução de conflitos, razão pela qual deve-se aplicar o princípio da inafastabilidade da jurisdição (art. 5º, XXXV, CF) e submeter a controvérsia ao Poder Judiciário O STJ pacificou sua jurisprudência por meio do enunciado 525 do STJ, vejamos: Essa capacidade processual excepcional somente se verifica para defesa de prerrogativas institucionais: 2.6 – Capacidade contratual e contrato de gestão Os órgãos não possuem personalidade jurídica própria e, como tal, não podem figurar como parte em negócios jurídicos Entretanto, a CF prevê, em seu art. 37, §8º, hipótese de celebração de “contrato de gestão” entre os administradores do órgão e o “Poder Público”, com a finalidade de ampliação da autonomia gerencial, orçamentária e financeira e, em contrapartida, a fixação de metas de desempenho. Vejamos a previsão em sua literalidade: Como compatibilizar esta previsão constitucional com a característica de despersonalização do órgão público? A doutrina, nesta hipótese, entende que não existe um contrato propriamente dito. Em primeiro lugar porque o ente público não poderia celebrar contrato “consigo mesmo” ou autocontrato, uma vez que, quando o órgão pratica um ato, é o próprio ente federado quem praticou. Em segundo lugar pela inexistência de interesses contrapostos, característica indissociável dos contratos. No caso apenas poderia se falar em convênio, já quese trata de interesses comuns Há duas espécies de contrato de gestão no Brasil. Esta primeira prevista na Lei Maior, que cuida do contrato de gestão interno ou endógeno, a ser celebrado com órgãos internos ou entidades administrativas. O segundo é o contrato de gestão externo ou exógeno, celebrado para firmar parcerias do Poder Público com as organizações sociais (OS), de acordo com a lei 9.367/98 para consecução de objetivos de interesse público 3 – Autarquia 3.1 – Conceito, características e classificações Autarquia é uma pessoa jurídica, submetida ao regime jurídico de Direito Público, criada diretamente por meio de lei para desenvolver atividades típicas de Estado, integrando a Administração Público indireta. São dotadas de autonomia administrativa e financeira e patrimônio próprio, o que lhe confere a prerrogativa de autogoverno O termo “autarquia”, etimologicamente, significa autogoverno O CC, em seu art. 41, estabelece que as autarquias são pessoas jurídicas de direito público interno. Destaque-se que a autonomia administrativa, conforme já estudado, difere da autonomia política, característica exclusiva dos Entes Federados, consistente na capacidade de auto-organização (edição de sua própria constituição ou lei orgânica) e possibilidade de edição de leis. Os exemplos mais usuais de autarquias no cenário nacional são INSS, IBAMA, INCRA, etc. Principais características das autarquias: Regime Jurídico de Direito Público;✓ Criação e extinção diretamente por meio de lei;✓ Personalidade jurídica, patrimônio e receita próprios;✓ Autonomia administrativa e financeira (autogoverno);✓ Atividades típicas de estado (que exigem o exercício do✓ poder de império); Integram a Administração Pública indireta;✓ Vinculadas (e não subordinadas) à Administração direta.✓ A doutrina aponta diversas classificações para diferenciar as autarquias umas das outras. Vejamos os principais critérios. Quanto à vinculação federativa:➢ a) Monofederativas: quando integrantes da Administração indireta de um único Ente Federado (autarquias federais, estaduais, distritais ou municipais); b) Plurifederativas (ou interfederativas): quando integrantes da Administração indireta de mais de um Ente Federado ao mesmo tempo Quanto ao campo de atuação (objeto ou finalidade):➢ a) Autarquias previdenciárias: atuam na gestão dos regimes previdenciários, sejam eles gerais ou próprios; b) Autarquias de fomento: atuam incentivando e/ou subvencionando setores relevantes da sociedade; c) Autarquias profissionais (ou corporativas): atuam no exercício do poder de polícia quanto a diversas profissões, autorizando, fiscalizando e punindo, quando for o caso, os profissionais das áreas fiscalizadas d) Autarquias culturais ou de ensino: normalmente relacionadas às universidades, que possuem um regime jurídico especial em razão da necessária autonomia didática e de ensino; e) Autarquias de controle ou regulação: normalmente relacionadas às agências reguladoras, que atuam regulando, fiscalizando e aplicando sanções relativamente a determinados setores sociais ou econômicos relevantes e específicos da sociedade, dependendo de uma maior autonomia em relação à Administração Pública direta Quanto ao regime jurídico:➢ a) Autarquias comuns: são as autarquias tradicionais, que possuem um regime jurídico idêntico ou similar, para execução de atividades administrativas típicas de estado; b) Autarquias especiais: possuem um regime jurídico que possui diferenças em relação às autarquias comuns, em razão das peculiaridades da entidade a ser criada e das especificidades de seu objeto. 3.2 – Criação e extinção A criação das autarquias ocorre diretamente mediante lei, na forma do art. 37, XIX da CF. Assim, a entidade autárquica passa a existir a partir da vigência da lei, sendo desnecessário qualquer ato posterior para início de sua existência jurídica. Os atos posteriores são de mera organização da autarquia para viabilizar o efetivo exercício de suas atribuições A lei instituidora da autarquia também pode estabelecer as suas finalidades, atribuições e os seus poderes. Entretanto, a reserva legal exigida para a criação, não impede que a lei delegue a ato normativo infralegal (normalmente decreto) o detalhamento de sua estrutura interna A extinção das autarquias, em razão do princípio da paridade (simetria) das formas jurídicas, também deve ser realizada diretamente mediante lei específica, editada com esta finalidade Em regra, a iniciativa do projeto de lei que cria ou extingue essas entidades é do Chefe do Poder Executivo, a teor do art. 61, §1º, II, b e e da CF. Entretanto, caso o Poder Judiciário ou o Poder Legislativo decidam por criar uma dessas entidades no âmbito de suas estruturas, a iniciativa de lei será do respectivo representante da instituição 3.3 – Nomeação dos dirigentes A nomeação dos dirigentes das autarquias deve seguir a regra estabelecida na lei instituidora. A CF, no art. 84, XXV, prevê que é competência privativa do Presidente da República o provimento e a extinção dos cargos da Administração Pública federal, regra que se aplica aos demais Entes Federativos por simetria, devendo os dirigentes das autarquias estaduais e distritais serem nomeados pelo Governador e os dirigentes das autarquias Municipais pelos Prefeitos Em alguns casos, pode ser exigida aprovação do senado do dirigente escolhido pelo Presidente da República (art. 84, XIV, CF). Quanto aos Estados e Municípios, o STF julgou inconstitucional norma de Constituição Estadual que exigisse prévia aprovação da Assembleia Legislativa para que o Governador nomeie os dirigentes de autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista, bem como para que nomeie os titulares da Defensoria Pública e da Procuradoria-Geral do Estado. De acordo com a Corte, a aprovação prévia das nomeações do Executivo estadual ao Legislativo deve sempre seguir o modelo federal De acordo com o STF, a exoneração dos dirigentes cabe ao Chefe do Poder Executivo, não podendo a lei estabelecer hipótese de exoneração direta dos dirigentes pelo Poder Legislativo 3.4 – Objeto: atividades desenvolvidas Umas das principais características das autarquias é o exercício de atividades típicas de Estado. Ao lado da sua criação diretamente por meio de lei, é um dos critérios que a diferencia das demais entidades da Administração Pública indireta O STF possui entendimento consolidado no sentido de que essas atividades típicas de Estado devem ser exercidas por pessoas jurídicas de direito público. Desta forma, o Estado somente pode exercer essas atividades pela Administração direta ou por meio de autarquias ou fundações públicas de direito público (fundações autárquicas). Não é possível o exercício deste tipo de atividade por meio das empresas públicas e sociedades de economia mista que, conforme se verá adiante, são criadas para prestação de serviços públicos ou, excepcionalmente, para exploração de atividade econômica O STF entendeu que os conselhos profissionais não podem ser criados com personalidade jurídica de direito privado, tendo em vista que exercem poder de polícia, devendo possuir natureza autárquica (ADI 1717/DF). O termo “atividades típicas de Estado” é um conceito jurídico indeterminado. Entretanto, é possível extrair uma “zona de certeza positiva”, consistente nas atividades que são consideradas no conceito (ex.: poder de polícia) e uma “zona de certeza negativa”, que são as atividades que, certamente, não são típicas de Estado (ex.: exploração de atividade econômica) 3.5 – Patrimônio: Bens públicos Os bens integrantes do patrimônio das autarquias possuemnatureza jurídica de bens públicos, na forma do art. 98 do CC. Por este motivo, possuem o mesmo regime jurídico dos bens públicos em geral O seu patrimônio inicial é composto pelos bens móveis e imóveis transferidos pelo Ente Público instituidor, os quais passam a pertencer à pessoa jurídica autárquica. Esses bens são reincorporados ao patrimônio do Ente Federado instituidor com a extinção da autarquia. As características especiais dos bens públicos dessas entidades administrativas são: Alienabilidade condicionada (inalienabilidade relativa):➢ A alienação dos bens públicos possui diversas restrições e condicionamentos previstos em lei, decorrentes do princípio da indisponibilidade do interesse público. Os bens públicos de uso comum do povo e os bens de uso especial são inalienáveis enquanto mantiverem essa classificação (art. 100, CC) Porém os bens dominicais da Administração Pública, que são aqueles que não estão afetados a uma finalidade específica relacionada ao interesse público, podem ser alienados respeitadas as condições previstas no art. 17 da lei 8.666/93 (art. 101, CC) Esse dispositivo exige, em regra, para alienação dos bens públicos (a) justificativa; (b) avaliação prévia; (c) licitação (concorrência para os bens imóveis, salvo art. 19 da lei 8.666/93 e leilão para os bens móveis); e (d) autorização legislativa para os bens imóveis. Além disso, os bens de uso comum do povo e os bens de uso especial podem ser desafetados de suas finalidades, tornando-se bens dominicais, momento a partir do qual podem ser alienados. Impenhorabilidade:➢ Os bens públicos não estão sujeitos à penhora para satisfação dos créditos dos particulares em face da Administração Pública. O art. 100 da CF determina que os pagamentos devidos pela Administração Pública Federal, Estadual, Distrital e Municipal decorrente de sentença judicial transitada em julgado será realizado na ordem cronológica de apresentação dos precatórios O procedimento de pagamento dos créditos em face da Fazenda Pública atende ao princípio do orçamento público, que exige a previsão em lei orçamentária de todas as despesas dos Entes Públicos. Excepcionalmente, os créditos serão pagos por meio de Requisição de Pequeno Valor (RPV), com prazo reduzido de pagamento, sendo que cada ente Federado definirá por meio de lei o limite de valor a ser pago por meio da RPV. Na União, o limite é de 60 (sessenta) salários mínimos Outro fundamento para a impenhorabilidade dos bens públicos são as regras restritivas de alienação desses bens, as quais não permitem a disposição do patrimônio público sem a observância de determinados requisitos, tendo em vista que muitos desses bens estão afetados a uma finalidade pública de interesse coletivo É imprescindível o conhecimento da jurisprudência do STF que entendeu pela inaplicabilidade do regime de precatórios na execução dos débitos dos conselhos profissionais, embora essas entidades sejam espécies de autarquia Imprescritibilidade:➢ Os bens públicos não podem ser adquiridos por meio de usucapião (prescrição aquisitiva) por expressa disposição constitucional e legal, em virtude do regime diferenciado desses bens, que servem, em regra, a uma finalidade de interesse público Assim, os arts. 183, § 3º e 191, parágrafo único da Lei Maior, vedam a aquisição de bens públicos por meio de usucapião. No mesmo sentido, dispõe o art. 102 do Código Civil e a Súmula nº 340 do STF. Vale destacar que esses dispositivos não fazem distinção em relação à categoria do bem, se de uso comum do povo, de uso especial ou bens dominicais. Este é o entendimento atual do STJ e STF, que seguem a literalidade da CF e da lei neste caso. Não onerabilidade➢ De acordo com o art. 1.420 do Código Civil, somente aquele que pode alienar o bem é que pode onerá-lo, ou seja, instituir uma garantia de direito real sobre ele (hipoteca, penhor etc.). Desta forma, tendo em vista o regime dos precatórios previsto no art. 100 da CF, determinando que os débitos dos Entes Públicos devem ser pagos por esta sistemática, não é possível instituir garantia de direito real sobre os bens públicos, haja vista que, em caso de inadimplemento da dívida subjacente, os bens do Estado seriam alienados sem observar as restrições legais e sem obedecer à ordem cronológica dos precatórios 3.6 – Regime de pessoal Os agentes são contratados pelas autarquias por meio de concurso público e são nomeados para ocuparem cargo público. Estes servidores públicos são submetidos ao regime jurídico estatutário, atendendo à regra prevista no art. 39 da CF que estabelece a obrigatoriedade de um regime jurídico único para os servidores públicos da Administração Pública direta e das autarquias e fundações públicas dos Entes Federados Os servidores públicos das autarquias se submetem a todo o regime jurídico constitucional, especialmente o estágio probatório, a estabilidade e vinculação ao regime próprio de previdência social, bem como, ao regime jurídico estabelecido para os servidores públicos por meio de lei do respectivo Ente Federado, que, na União, é a lei 8.112/90 O art. 39 da CF foi alterado pela emenda constitucional nº 19 de 1998, que excluiu a obrigatoriedade do regime jurídico único, podendo cada Ente Federado estabelecer os regimes jurídicos de pessoal a serem utilizado em cada caso, celetista ou estatutário. Com isso, a União editou a lei 9.962/2000 admitindo a adoção do regime de emprego público nas pessoas públicas federais Ainda que, na atualidade, prevaleça a exigência de regime jurídico único estatutário para a Administração direta e para as autarquias, podem existir, nestas entidades, agentes públicos submetidos ao regime celetista 3.7 – Atos e contratos Os atos das autarquias são atos administrativos, que exigem os mesmos requisitos e elementos (competência, finalidade, forma, motivo e objeto) e gozam das mesmas prerrogativas (presunção de legitimidade e veracidade, imperatividade e autoexecutoriedade). Apenas excepcionalmente essas entidades emitem atos de características privadas Os atos administrativos emitidos pelas autarquias estão sujeitos aos mesmos controles dos atos administrativos em geral, tais como o mandado de segurança, ação popular, dentre outros Os contratos realizados pelas autarquias também são contratos administrativos, regidos pela lei 8.666/93, exigindo prévia licitação, ressalvadas as hipóteses legais de contratação direta 3.8 – Responsabilidade Civil As autarquias se submetem ao regime de responsabilidade objetiva previsto no art. 37, §6º da CF, tal como a Administração Pública direta e as entidades privadas prestadoras de serviços públicos, respondendo, independentemente da demonstração de culpa, pelos danos que seus agentes, atuando nesta qualidade, causarem a terceiros Aplica-se, neste caso, a teoria do risco administrativo que, ao contrário da teoria do risco integral, admite a exclusão da responsabilidade objetiva da Administração Pública quando demonstradas a existência das excludentes de responsabilidade, tais como a culpa exclusiva da vítima, caso fortuito e força maior, além da redução da responsabilidade em caso de culpa concorrente No caso de omissão, aplica-se o mesmo entendimento aplicável à Administração direta em geral, qual seja, havendo uma omissão específica, em que o ente público tinha o dever de guarda ou proteção, aplica-se a responsabilidade objetiva 3.9 – Foro processual O foro processual para processo e julgamento das autarquias depende de qual esfera federativa a entidade pertence. Em se tratando de autarquias federais, o foro processual competente para julgamento de eventuais demandas é a justiçafederal, nos termos do art. 109, I, CF, ressalvados os casos previstos expressamente na Lei Maior, como as causas relativas à falência, causas sujeitas à justiça eleitoral e à justiça do trabalho. Tratando-se de autarquias estaduais ou municipais, o foro competente será a justiça estadual 3.10 – Outras prerrogativas As autarquias ainda gozam de outras prerrogativas típicas da Fazenda Pública. Listaremos as mais relevantes Prerrogativas processuais: a) Prazo em dobro para todas as manifestações processuais (art. 183, CPC), salvo para prazos específicos; b) Intimação pessoal, na pessoa do representante da advocacia pública; c) Remessa necessária (art. 486, CPC); d) Isenção de custas processuais, adiantamento de despesas processuais e do depósito prévio para a ação rescisória; e) Créditos cobrados mediante execução fiscal (lei 6.830/80). Prerrogativas fiscais: imunidade tributária recíproca (art. 150, §2º CF). Prescrição quinquenal das dívidas e direitos em favor de terceiros (Decreto 20.910/1932) 3.11 – Espécies de Autarquias especiais Autarquias especiais são espécies de autarquias que, pelas suas peculiaridades, possuem disposições específicas que diferem do regime geral das autarquias comuns 3.11.1 – Autarquias profissionais (conselhos profissionais) De acordo com o STF (ADI 1.717/DF), a atividade de fiscalização das profissões, por envolver o exercício do poder de polícia, somente pode ser exercida por meio de pessoas jurídicas de direito público. Com isto, a Corte entendeu que os conselhos profissionais possuem natureza jurídica de autarquia, possuindo regime jurídico semelhante (mas não idêntico) à essas entidades É certo que os conselhos profissionais atuam limitando e definindo o contorno para o exercício das profissões e ofícios regulados, exigindo licença para o exercício regular da atividade, aplicando sanções e cobrando anuidades, restando evidente o exercício do poder de polícia, razão pela qual devem ostentar natureza pública Gozam das prerrogativas e estão sujeitos às restrições impostas às autarquias em geral, ressalvadas as peculiaridades inerentes aos conselhos profissionais, que serão tratadas neste tópico. Embora se assemelhem às autarquias em geral, existem algumas peculiaridades no regime jurídico dos conselhos profissionais: a) Ausência de subordinação ao regime de precatórios: Os débitos dos conselhos profissionais não serão pagos por meio de precatório, devendo seguir o procedimento comum de pagamento para débitos particulares. Isto porque o STF entendeu pela inaplicabilidade do regime de precatórios na execução dos débitos dos conselhos profissionais, embora essas entidades sejam espécies de autarquia Os conselhos profissionais, apesar de serem autarquias, não participam do orçamento público, não recebendo aporte do poder central. Essas entidades têm autonomia financeira e orçamentária, em virtude de serem remuneradas mediante o pagamento das anuidades dos profissionais a elas vinculados, razão pela qual sua dívida é autônoma em relação ao Poder Público. Desta forma, inserir esse pagamento no sistema de precatório seria transferir a dívida dos conselhos à União b) Ausência de isenção de custas processuais: Conforme visto, as demandas que envolvam os conselhos profissionais devem ser julgadas pela justiça federal, a teor do art. 109, I, CF, por se tratar de autarquias federais. No entanto, ao contrário do que ocorre com as demais autarquias, os conselhos profissionais não gozam de isenção de custas processuais quando atuam perante o Poder Judiciário. Isto porque a lei 9.289/96, que dispões sobre as custas processuais na justiça federal, ao isentar as autarquias dessa despesa processual, ressalvou expressamente as “entidades fiscalizadoras do exercício profissional” (art. 4º, parágrafo único) c) Execução fiscal apenas quando o débito totalizar 4 (quatro) anuidades: Embora os conselhos profissionais, por possuírem natureza jurídica de autarquia, possuam a prerrogativa de cobrar os seus créditos por meio de ação de execução fiscal, regida pela lei 6.830/80, existe uma limitação a elas impostas quanto à cobrança de anuidades dos respectivos profissionais. A lei 12.514 de 2014, que trata das contribuições aos conselhos profissionais em geral, estabelece que essas autarquias profissionais não poderão executar judicialmente dívidas inferiores a 4 (quatro) vezes o valor da anuidade cobrada dos profissionais (art. 8º). Vejamos: Todavia, que essa restrição não impede o protesto do débito ou outras formas administrativas de cobrança. Por este motivo, o STJ firmou o entendimento que o prazo prescricional para cobrança de anuidades somente se inicia após a dívida do profissional atingir o valor mínimo de 4 (quatro) anuidades, em virtude da teoria da actio nata, uma vez que o direito de ação só nasce para a entidade fiscalizadora após atingir o referido valor. O STJ também possui entendimento de que o art. 8º da lei 12.514/2014 se aplica à OAB, embora esta possua natureza jurídica especialíssima, conforme se verá adiante A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)➢ O STF firmou o entendimento de que a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), embora seja uma entidade fiscalizadora da profissão, não possui natureza jurídica de autarquia e não está, de qualquer modo, vinculada à Administração indireta, podendo contratar empregados pelo regime celetista, sem concursos públicos, além de não incidirem sobre a entidade as demais restrições impostas às pessoas de direito público em razão da indisponibilidade do interesse público A OAB é um “serviço público independente”, não integrando a Administração Pública indireta. É uma categoria ímpar no elenco das pessoas jurídicas existentes, ou seja, uma entidade sui generis no ordenamento jurídico, haja vista que, embora fiscalize os profissionais que exercem a atividade advocatícia, também possui atribuições constitucionais que lhe conferem uma finalidade institucional (e não apenas corporativa como os conselhos de fiscalização), tal como a legitimidade para propor ação direta de inconstitucionalidade Os advogados exercem, nos dizeres do STF, “função constitucionalmente privilegiada, na medida em que são indispensáveis à administração da Justiça [art. 133 da CB/88].” Em razão de suas atribuições diferenciadas, atuando diretamente na defesa da CF e da ordem jurídica, assim como os profissionais vinculados, é necessário que seja dotada de autonomia e independência em relação à Administração Pública, não se sujeitando a relação de controle ou dependência em relação ao Poder Público O STF mantém o entendimento de que a competência para o processo e julgamento de demandas que envolvam a OAB é da justiça federal 3.11.2 – Autarquias culturais ou de ensino – Universidades Públicas As universidades públicas são a perfeita representação da espécie de autarquia cultural ou de ensino. As universidades públicas possuem uma peculiaridade em relação às autarquias “comuns” relativamente à escolha do seu dirigente (o reitor). Enquanto nas demais autarquias o dirigente é designado pelo Chefe do Poder Executivo, nas universidades públicas o reitor é eleito pelos membros da entidade (corpo docente e discente) Não é permitida a sua exoneração ad nutum pelo Chefe do Executivo como ocorre na maioria das autarquias (com exceção daquelas em que o dirigente possui mandato por prazo determinado). Nas universidades públicas o reitor é eleito para cumprir mandato determinado, cujo prazo é definido na lei de criação da entidade Isso é necessário para que as autarquias de ensino possuam maior independência em relação à Administração Pública, a fim de conferir efetividade à disposição constitucionalque confere autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial às universidades (art. 207) As universidades públicas não apenas escolhem seus dirigentes, mas também definem a pedagogia a ser adotada na atividade educacional, sendo vedada qualquer ingerência da Administração direta nesta escolha 3.11.3 – Agências reguladores e agências executivas Trata-se de autarquias com regime jurídico especial. Em razão da complexidade que envolve essas entidades, serão estudadas na próxima aula de forma mais completa 4 – Fundações Públicas 4.1 – Conceito e natureza jurídica O conceito de fundações em geral, abrangendo tanto as fundações públicas quanto as fundações privadas, pode ser definido como uma pessoa jurídica sem fins lucrativos a quem é destinado um patrimônio para atingimento de uma finalidade social definida pelo instituidor A fundação é um patrimônio personalizado (a que é dado caráter de pessoa jurídica), que presta atividade não lucrativa e com um objetivo social e interesse coletivo, tais como a assistência social, educação, cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico, artístico e do meio ambiente, saúde, segurança alimentar e nutricional, dentre outros, conforme dispõe o art. 62, parágrafo único do CC O ordenamento jurídico brasileiro admite a formação de fundações privadas, sendo estudada pelo Direito Civil, além da formação de fundações públicas As fundações públicas dependem de lei para a sua criação, possuindo uma finalidade de interesse público e integrando a Administração Pública indireta. Neste caso, o Poder Público também destina uma parcela de seu patrimônio para criação da fundação e atingimento das finalidades da instituição Exemplos: FUNAI, FIOCRUZ O Decreto-lei nº 200/67, em seu art. 5 º, inciso IV, define fundação pública da seguinte forma: Quanto à natureza jurídica das fundações públicas, não há consenso na doutrina: a) 1ª corrente: possui natureza jurídica de direito público. De acordo com esta corrente, a CF teria dado tratamento às fundações públicas de forma idêntica às demais pessoas jurídicas de Direito público da Administração. Essa corrente não é adotada atualmente, uma vez que o próprio Decreto-lei nº 200/67 estabelece que as fundações públicas possuem natureza jurídica de Direito privado; b) 2ª corrente: possui natureza jurídica de Direito privado. Adota a literalidade do DL 200/67; c) 3ª corrente (majoritária): as fundações podem ser de Direito público ou de Direito privado, a depender da forma de instituição da entidade, que dependerá da opção legislativa e da natureza das atividades por ela prestadas. A 3ª corrente é a adotada atualmente. O STF também adotou a mencionada corrente doutrinária em recente julgamento, mas foi além. De acordo com a Corte Suprema, a qualificação de uma fundação instituída pelo Estado como sujeita ao regime público ou privado depende: a) do estatuto de sua criação ou autorização; b) das atividades por ela prestadas. As atividades de conteúdo econômico e as passíveis de delegação, quando definidas como objetos de determinada fundação, ainda que essa seja instituída ou mantida pelo poder público, podem se submeter ao regime jurídico de direito privado Não basta que a fundação seja criada diretamente por meio de lei que a define como de Direito público, é necessário que sua atividade seja típica de Estado, demandando o exercício de autoridade Estatal. Caso contrário, será considerada como de Direito privado pelo ordenamento jurídico Embora as fundações autárquicas sejam semelhantes às autarquias, a diferença fundamental entre elas, apontada pela doutrina, é o fato de as autarquias constituírem um serviço estatal relevante personalizado, enquanto as fundações autárquicas consistem em um patrimônio personalizado para prestação de atividade de interesse social. Desta forma, a primeira é um serviço personalizado, enquanto a segunda um patrimônio personalizado 4.2 – Criação e extinção As fundações públicas de Direito público são criadas da mesma forma que as autarquias, ou seja, diretamente por meio de lei cuja iniciativa é, em regra, do Chefe do Poder Executivo. A extinção segue o princípio da paridade (simetria) das formas jurídicas Já as fundações públicas de Direito privado, não são criadas por meio de lei, ou seja, sua personalidade jurídica não começa com a entrada em vigor da legislação. Em verdade, a lei apenas autoriza a criação dessas entidades, que serão criadas posteriormente por meio da inscrição dos atos constitutivos no respectivo registro, quando, de fato, iniciará a sua personalidade jurídica A extinção das fundações públicas segue o princípio da paridade das formas jurídicas, devendo se dar da mesma forma de sua criação. Assim as fundações públicas de direito privado terão a sua extinção autorizada por lei e serão efetivamente extintas com os respectivos procedimentos perante o registro competente 4.3 – Objeto: Atividades de interesse social O objeto das fundações, tanto das privadas quanto das públicas, é o exercício de atividade socialmente relevante sem finalidade lucrativa A ausência de finalidade lucrativa não deve ser entendida pela impossibilidade de um balanço de resultados positivo (superávit). A ausência de finalidade lucrativa significa que eventual “sobra” de valores ao final do exercício (receita maior do que despesa) deverá ser reaplicada na entidade, sendo vedada a sua repartição entre fundadores ou instituidores Quanto ao objeto, o art. 37, XIX da CF estabelece que cabe à lei complementar definir as áreas de atuação das fundações públicas. Entretanto, esta lei ainda não foi editada O CC, por outro lado, estabelece as atividades que podem ser exercidas pelas fundações privadas em seu art. 62, parágrafo único: I – assistência social; II – cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico; III – educação; IV – saúde; V – segurança alimentar e nutricional; VI – defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do desenvolvimento sustentável; VII – pesquisa científica, desenvolvimento de tecnologias alternativas, modernização de sistemas de gestão, produção e divulgação de informações e conhecimentos técnicos e científicos; VIII – promoção da ética, da cidadania, da democracia e dos direitos humanos; IX – atividades religiosas Este dispositivo não pode ser aplicado às fundações públicas, uma vez que o CF é uma lei ordinária e a CF exigiu lei complementar para a definição das áreas de atuação dessas entidades De acordo com a doutrina, a omissão do legislador em editar a referida lei complementar não impede a criação de fundações públicas pelos Entes Federados Cada Ente Federado possui autonomia para editar lei complementar definindo as áreas de atuação de suas fundações. Assim, determinado Estado ou Município, a despeito da omissão legislativa a nível nacional, podem definir, por lei complementar, as áreas de atuação das fundações públicas estaduais ou municipais É entendimento da doutrina o de que a referida lei complementar a ser editada para definir as áreas de atuação das fundações públicas será aplicada somente às entidades de direito privado, uma vez que as fundações públicas de direito público se inserem no conceito de autarquia e exercem atividade típica de Estado a ser definida na lei criadora 4.4 – Regime jurídico das fundações públicas de Direito privado As fundações públicas de Direito público se submetem ao mesmo regime jurídico aplicável às autarquias Embora se trate de entidade de Direito privado, as fundações públicas de Direito Privado se submetem a um regime jurídico híbrido, tendo em vista que o regime privadosofre derrogações por parte Direito público, uma vez que essas entidades integram a Administração Pública indireta A primeira característica relevante que difere as fundações públicas de Direito privado das entidades de Direito público é o fato de estarem impossibilitadas de exercerem atividades que exigem o exercício do poder de império estatal, conforme jurisprudência do STF. Além disso, possui algumas outras peculiaridades: Patrimônio➢ O patrimônio das fundações de Direito privado não é composto por bens públicos. Seus bens, ao contrário, são considerados bens privados. O art. 98 do CC deixa claro que são públicos apenas os bens pertencentes às pessoas jurídicas de Direito público, sendo todos os demais bens privados. Por este motivo, em regra, os bens das fundações públicas de Direito privado não gozam das prerrogativas da impenhorabilidade, da inalienabilidade e da não onerosidade. Entretanto, pode ser que alguns de seus bens estejam sendo utilizados diretamente na prestação de serviços públicos e sejam indispensáveis à sua continuidade, sujeitando-se, neste caso, a regras específicas de Direito público, tal como a impenhorabilidade e alienabilidade condicionada ➢ Não sujeição ao regime de precatórios O art. 100 da CF estabelece o regime de precatórios para as “Fazendas Públicas Federal, Estaduais, Distrital e Municipais”. Considerando que somente se inserem no conceito de “Fazenda Pública” as pessoas jurídicas de Direito público, tem-se que as fundações públicas de Direito privado não estão sujeitas ao regime de precatórios Regime de pessoal➢ A contratação será sempre precedida de concurso público, atendendo à regra do art. 37, II, CF, aplicável à toda a Administração Pública, direta e indireta. Entretanto, os funcionários contratados mediante concurso público se submetem ao regime jurídico trabalhista, ou seja, são regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), não incidindo o regime estatutário, ao contrário do que ocorre com as fundações de Direito público. Atos e contratos➢ Por se tratar de pessoa jurídica integrante da Administração Pública indireta, a contratação de obras e serviços e a compra de bens das fundações públicas de Direito privado devem ser precedidos de licitação, conforme art. 37, XXI, CF. Todavia, essas entidades celebram, em regra, contratos privados da Administração. Por outro lado, a natureza jurídica dos atos praticados por essas fundações de Direito privado depende do conteúdo do ato. Caso seja editado em procedimento administrativo, como por exemplo em um concurso público ou licitação, será considerado ato administrativo para todos os fins, inclusive para utilização dos instrumentos de controle (ação popular, mandado de segurança etc.). Caso se trate de procedimento ou conteúdo eminentemente privado, o ato terá natureza jurídica privada. Foro processual➢ As demandas envolvendo as fundações públicas federais, sejam de Direito público ou de Direito privado, serão processadas e julgadas pela Justiça Federal, a teor do art. 109, inciso I da CF, tendo em vista que o dispositivo não fez qualquer distinção relativa à natureza jurídica desta entidade. Entretanto, a Lei Maior faz ressalvas em relação a determinadas matérias, tais como as causas sujeitas à Justiça do Trabalho e Eleitoral, bem como as causas de falência, dentre outras. Por outro lado, as causas envolvendo as fundações públicas estaduais e municipais, qualquer que seja o regime jurídico adotado, serão julgadas pela Justiça Estadual Responsabilidade civil➢ As fundações públicas de Direito privado, em regra, respondem apenas subjetivamente pelos danos causados por seus agentes atuando nesta qualidade. Apenas se prestadoras de serviços públicos é que responderão objetivamente, nos termos do art. 37, § 6º, CF. Isto porque o dispositivo estabelece a responsabilidade objetiva apenas para as entidades de Direito público ou entidades privadas prestadoras de serviços públicos. Impossibilidade de cobrança das dívidas por meio de➢ execução fiscal (lei 6.820/80); Impossibilidade de serem sujeitos ativos tributários➢ (art. 119, CTN); Gozam de imunidade tributária recíproca (art. 150, § 2º,➢ CF); Não gozam das prerrogativas especiais da fazenda pública➢ no processo civil 4.5 – Controle e inaplicabilidade da fiscalização do Ministério Público (art. 66, CC) As fundações públicas, tanto de Direito público quanto de Direito privado, por serem integrantes da Administração Pública indireta, sofrem o controle finalístico (tutela administrativa ou supervisão ministerial) por parte da Administração Pública direta, não havendo qualquer tipo de hierarquia ou subordinação entre elas. O que existe é apenas uma vinculação Além do controle finalístico, também sofrem controle por parte dos Tribunais de Contas dos respectivos entes federados a que estão vinculadas, conforme art. 71, II, CF. Por outro lado, surgiu o questionamento se, além desses controles, essas entidades ainda sofreriam a fiscalização pelo Ministério Público prevista no art. 66 do Código Civil para as fundações privadas: Prevaleceu o entendimento de que as fundações públicas não sofrem controle por parte do Ministério Público previsto no referido dispositivo. Isto porque a disposição do CC é específica ao mencionar apenas as fundações privadas, que, caso não fossem fiscalizadas pelo parquet, não sofreriam qualquer outro tipo de controle, o que seria inadmissível, tendo em vista se tratar de entidades sem fins lucrativos e voltadas para interesses sociais relevantes O MP pode (e deve) atuar caso tenha conhecimento de qualquer irregularidade ocorrida no âmbito das fundações públicas 5 – Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista (Empresas Estatais) 5.1 – Introdução “Empresas estatais” é a expressão utilizada para designar todas as entidades civis e comerciais que se encontram sob o controle acionário do Estado, englobando, principalmente, as empresas públicas (EP), as sociedades de economia mista (SEM), suas subsidiárias e as demais sociedades controladas pelo Poder Público Com a edição da lei 13.303/2016, foi estabelecido um conceito legal para as empresas estatais que, de certo modo, também definem algumas de suas características, vejamos: Exemplos de empresas públicas: BNDES, ECT, CAIXA Exemplos de sociedades de economia mista: PETROBRAS, BANCO DO BRASIL Existem diferenças fundamentais entre as empresas públicas e sociedades de economia mista. Entretanto, o regime jurídico aplicável a essas entidades privadas é bastante semelhante, possuindo apenas diferenças pontuais Podem existir empresas estatais que não integram a Administração Pública indireta, como é o caso de empresas cujo controle acionário passou para o Ente Federado, todavia, não foram observados os requisitos para criação das sociedades de economia mista ou empresas públicas, tal como a autorização legislativa Tais entidades estatais se submetem ao controle do Tribunal de Contas (art. 71, II, CF), bem como, seus empregados se submetem à vedação constitucional de acumulação de empregos e funções (Art. 37, XVII, CF), que dispõe expressamente sobre as “sociedades controladas” pelo Poder Público As sociedades em que o Poder Público é acionista minoritário não são consideradas empresas estatais, ainda que recebam influência do Estado por meio das ações de classe especial, denominada golden share (art. 17, §7º, Lei 6.404/76). Neste caso, as ações de titularidade do Poder Público são consideradas bens móveis e, em regra, estão sujeitas às restrições de venda de bens públicos previstas na lei 8.666/93 Para que o ente estatal adquira participação societária em empresas privadas é necessária
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