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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE AGRONOMIA CURSO DE ZOOTECNIA RENATA SCAVAZZA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA DAS PLANTAS MEDICINAIS BABOSA (Aloe vera) E LAVANDA (Lavandula angustifolia): Identificação botânica, uso medicinal e cultivo. PORTO ALEGRE 2021 1 1. BABOSA (Aloe vera) A história da babosa é antiga e se encontra na literatura de diversas culturas. Seu nome provavelmente se origina da palavra arábica “alloeh”, que significa substância amarga e brilhante (FREITAS et al. 2014). É extraído, do centro das folhas, o gel mucilaginoso composto por polissacarídeos, glicoproteínas, antraquinonas, aminoácidos, vitaminas, minerais, etc. (DE OLIVEIRA, 2020) cujos benefícios estão ligados a fins terapêuticos, antimicrobiano, emoliente, anestésico e cicatrizantes, atuando na regeneração do tecido celular e controlando o processo inflamatório (RAMOS; PIMENTEL, 2011). 1.1 Identificação botânica A planta africana popularmente chamada de babosa (ou aloé, aloé-do-cabo, erva-babosa, aloe-de-barbados, caraguatá-de-jardim...) é pertencente à família das Liliáceas e do gênero Aloe (Tabela 1) (BACH, D.B.; LOPES, M.A, 2007). Na literatura é encontrada com as sinonímias Aloe barbadensis Mill., Aloe barbadensis var. chinensis Haw., Aloe perfoliata var. vera L., Aloe chinensis Bak. e Aloe vera var. chinensis Berger (LORENZI et al. 2008). De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), é uma planta xerófita, adaptada para ambientes semiáridos e desérticos. A planta é herbácea de crescimento cespitoso e estolonífero, com cerca de 1 metro de altura (pode chegar a 2). Apresentam abundantes folhas lanceoladas com ápice agudo, grossas e suculentas, cerosas, de cor verde escuro, de margens denteadas-espinhosas medindo de 30 a 60 cm e dispostas em roseta. A inflorescência é do tipo racemo simples ou panícula, as tépalas são vistosas, em formato tubular e apresentam tonalidade branco-amareladas (Figura 1) ou amarelo alaranjadas, com frutos do tipo cápsula. Tabela 1: Taxonomia da Aloe vera Reino Plantae Divisão Magnoliophyta Ordem Liliopsida Classe Liliales Família Xantoroeáceas (Asphodelaceae, Liliaceae) Subfamília Asfodeloideas Gênero Aloe Espécie Aloe vera (com sinonímias científicas) Fonte: Elaborada pela autora com base em Queiroga, V.P. 2019. 2 Figura 1: Aloe vera L. Burm.f. Fonte: Herbário Prof. Jorge Pedro Pereira Carauta (HUNI) da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), [2021]. 1.2 Uso medicinal Em relação as partes utilizadas na terapêutica, a folha é a principal, mas pode ser dividida em duas partes: I) Aloé, é o suco extraído da parte mais externa que flui espontaneamente da folha cortada e possui coloração marrom escuro, além de forte odor e sabor muito amargo, sendo composto principalmente pelas aloínas (babaloína e isobabaloína) (WHO, 1999). Durante os séculos XVIII e XIX foi muito utilizado pelos efeitos catárticos, que são mais fortes do que qualquer outra planta conhecida (FREITAS et al. 2014) mas hoje não é mais recomendado devido aos efeitos colaterais de cólica severa e náusea (WHO, 1999); II) Gel de Aloe Vera, obtido após a eliminação dos tecidos mais externos das folhas, tem aparência viscosa e é incolor constituído principalmente por água e polissacarídeos, além de 70 outros componentes como vitaminas A, B, C e E, enzimas, carboidratos, aminoácidos, etc. (CARVALHO, 2005). É muito utilizado na cosmiatria, na indústria alimentícia e farmacêutica. No uso caseiro (sabedoria popular), as folhas frescas são cortadas na base e colocadas em um recipiente para escorrer o Aloé que, se for de interesse usá-lo, deve ser seco ao sol e, após observada a alteração de cor (amarelo – vermelho – marrom), o bloco seco formado deve ser armazenado em vidros fechados. Após o escorrimento do suco, se retira a casca da folha e a polpa transparente é fatiada e guardada ao abrigo da luz solar, calor, umidade ou em geladeira (UNISANTOS, 2013). É buscada tratar problemas como a anemia, artrite, dor muscular, queimaduras, feridas e doenças de pele, gripe, insônia, inflamações, prisão de ventre e problemas digestivos, por suas propriedades cicatrizantes, e também para hidratar os cabelos e 3 infecções, abrindo a folha ao meio e fazendo compressa ou batendo no liquidificador e tomando com mel ou simplesmente passando o gel no rosto e cabelo (BATTISTI, C. et al. 2013). Estudos experimentais realizados em animais ou por meio de testes in vitro relatam que a acemanana, polissacarídeo encontrado em grande quantidade no gel de Aloe vera, apresenta ação sinérgica com citocinas responsáveis pela resposta imune, potencializando seu efeito (ZHANG et al, 1996). Ainda se observou que, em concentrações de 2 até 16mg/mL, aumenta significativamente substâncias ligadas à cicatrização, desempenhando papel importante na re- epitelização tecidual e na formação de vasos sanguíneos (JETTANACHEAWCHANKIT et al., 2009), comprovando, então, sua atividade anti-inflamatória e cicatrizante. Pesquisas indicam, inclusive, atividade antineoplásica da aloína, aloe-emodina e da acemanana frente à diversas linhagens de câncer. A babosa também é indicada, comprovadamente, no tratamento de dermatites como a psoríase, (mas não há protocolos de tratamentos estabelecidos), na redução da glicose e do colesterol, no tratamento de asma brônquica, conjuntivite e herpes genital. Se estuda também que possua amplo espectro antimicrobiano atuando em fungos, vírus e em bactérias Gram positivas e Gram negativas (TAMURA et al, 2009) e, também, que aumente a biodisponibilidade das vitaminas C e E (testes feitos em humanos), abrindo margem para sua utilização em suplementos vitamínicos. Devido ao seu poder hidratante a indústria de cosméticos e higiene pessoal faz amplo uso do gel em diversos tipos de formulações, como cremes e sabonetes e, de fato, ele possui mecanismo umectante e efeito na diminuição de rugas com aumento da expressão de pró-colágeno tipo 1 (CHO et al, 2009). 1.3 Cultivo Embora a Aloe vera se origine em clima quente e seco da África, a planta é facilmente adaptável e ocorre naturalmente em todo o mundo: é uma herbácea que cresce em qualquer tipo de solo, mas é melhor adaptada aos leves e arenosos, não exigindo muita água. Deve-se regar pouco no verão, de modo que o solo fique quase seco entre uma rega e outra, e menos ainda no inverno, o suficiente para que as folhas não ressequem. De acordo com Queiroga et al. (2019) a propagação da Aloe vera é feita pelos perfilhos ou rebentos que brotam ao redor da planta- mãe. A melhor época para ser fertilizada é no outono e seu plantio pode ocorrer durante todo o ano (UNISANTOS, 2013). O cultivo da babosa no Brasil é economicamente viável: a cada 8.592 unidades produzidas/ ano é gerado um potencial de rendimento de 30.000 litros/ano, além da possibilidade de redução de custos com a adoção de um sistema de obtenção de mudas, com custos significativamente mais baixos (RAMOS; PIMENTEL, 2011). 4 2. LAVANDA (Lavandula angustifolia) O nome é derivado do latim “lavare” que significa “lavar”, referindo-se ao uso destas plantas aromáticas em banhos (RIVA, A.D., 2012), com seu uso constatado pela ciência há mais de 3 mil anos em sociedades mais antigas. O gênero abrange mais de 30 espécies conhecidas, sendo que algumas são híbridas, conhecidas como lavandins. É cultivada para diversos fins, como ornamental, culinário (vinagres, produtos de panificação, pudins e gelatinas – geralmente inferior a 45 ppm (RIVA, A.D. 2012)) farmacêutico e na medicina popular devido à suas propriedades sedativas, anti-estresse, antidepressiva, antifúngica, analgésica e seu grande potencial como antimicrobiano natural (SILVEIRA, S.M. et al, 2012). 2.1 Identificaçãobotânica Conhecida popularmente por lavanda, lavanda-inglesa, lavanda-verdadeira, lavanda- comum, osmarim ou alfazema, é um arbusto ereto e aromático que chega a 60 ou 70 cm e tem caule, na maioria das vezes, lenhoso. Está presente em altitudes de até 1.500 m, sendo encontrada em toda a região do Mediterrâneo. A taxonomia é apresentada na Tabela 2, suas folhas são opostas, simples, inteiras, dentadas, pinadas ou bipenadas. A inflorescência é uma espiga terminal (Figura 2), simples ou ramificada, com pedúnculo retangular, as flores são sésseis ou apresentam pedicelos curtos, com a corola tubular, variando nas cores violeta, branco e azul escuro (Figura 3). Os cálices (4 a 5 mm de comprimento) também são tubulares, formando um apêndice sobre a corola antes de abrir em algumas seções. Apresenta as seguintes sinonímias botânicas: Lavandula vera DC., Lavandula spica L. e Lavandula officinalis Chaix ex Vill (BARRETT, 1949). Esta planta não está na lista de plantas medicinais e/ou fitoterápicos regulamentados pela ANVISA. Tabela 2: Taxonomia da Lavandula angustifolia Reino Plantae Filo Magnoliophyta Ordem Lamiales Classe Eudicotiledoneas Família Lamiaceae Subfamília Nepetoideae Gênero Lavandula Espécie Lavandula angustifolia (com sinonímias científicas) Fonte: Elaborada pela autora com base em RIVA, A.D. 2012. 5 Figura 2: Lavandula angustifolia Fonte: BioDiversity4All, [2021]. Figura 3: Lavandula angustifolia branca. Fonte: Mundo Ecologia, [2021]. 2.2 Uso medicinal No conhecimento popular, os ramos e folhas é que são mais utilizados, no chá por infusão ou na salada para tratar principalmente dor de cabeça, menopausa e pressão alta (BATTISTI, C. et al. 2013), servindo também como repelente de insetos. Já na área comercial, as plantas são utilizadas principalmente para obtenção do óleo essencial (OE) através da destilação de folhas e flores. As plantas de Lavandula angustifolia possuem cerca de 0,5% a 1,5% de OE, sendo composto por terpenos, acetatos, álcoois, ésteres, aldeídos, etc. (RIVA, A.D., 2012) bastante utilizado na aromaterapia pelos efeitos neurológicos (atua como depressor do SNC) benéficos no alívio dos sintomas de estresse e depressão. Estudos científicos estão sendo cada vez mais realizados a fim de comprovar, verificar ou conhecer as propriedades terapêuticas, sendo relatados efeito antiespasmódico, analgésico, ansiolítico (GNATTA et al, 2011), pesticida e antimicrobiano (CAVANAGH et al, 2002), inclusive com atividade antibacteriana 6 sobre inúmeras espécies de bactérias nocivas para a saúde humana, como a Salmonella sp. Escherichia coli, Candida albicans, cepas de Staphylococcus aureus meticilina-resistentes (MRSA) (ROLLER, S. et al, 2009), possuindo também atividade antifúngica (DAFERERA, D.J. et al, 2000) em relação a fungos de pele. Por apresentar efeitos no SNC, o uso interno é criterioso, devendo evitar seu uso prolongado. Pode-se afirmar que os efeitos adversos ou tóxicos dependem da via de administração, a via oral apresenta maiores riscos principalmente se os óleos possuírem maior teor de compostos insaturados (considerados tóxicos) (OLIVEIRA F. et al. 2000) 2.3 Cultivo A Lavandula angustifolia é altamente resistente à adversidades ambientais, tolerando certa negligência no cultivo, mas para que alcance bons resultados – visto que os constituintes do OE podem variar consideravelmente (SILVEIRA, S.M. et al, 2012), é imprescindível que sejam atendidos dos requisitos básicos: cultivo a pleno sol e boa drenagem do solo (RIVA, A.D., 2012), ou seja, se desenvolve bem em terra úmida e aerada, com bastante luz solar e em clima temperado. O ideal é colocar a sua volta argila ou casca de pino, para manter a umidade. Pedras, com o calor, podem acabar queimando a planta (UNISANTOS, 2013). Ela tolera bem o clima seco e invernos rigorosos, vento e até neve, se o solo for bem drenado. A propagação de L. angustifolia por sementes é geralmente lenta, além de apresentar variações em diferentes características do genótipo de interesse, como na taxa de crescimento e na composição do óleo essencial (MACHADO, M.P. et al. 2013). No Brasil, a propagação vegetativa por estacas é a forma mais utilizada pelo baixo custo e bons resultados. A densidade de plantio utiliza distância entrelinhas de 1,5 a 1,8 m e uma distância entre plantas de 0,5 m, abrangendo cerca de 10 a 12 mil plantas/ha. 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BACH, D.B.; LOPES, M.A. Estudo da viabilidade econômica do cultivo da Babosa (Aloe vera L.). Ciênc. agrotec., Lavras, v. 31, n. 4, p. 1136-1144, jul./ago., 2007. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/cagro/a/FP6mhg3dn7L9NYdzMzPCjrb/?format=pdf&lang=pt> Acesso em 26 nov. 2021 BATTISTI, C. et al. Plantas medicinais utilizadas no município de Palmeira das Missões, RS, Brasil. R. bras. Bioci., Porto Alegre, v. 11, n. 3, p. 338-348, jul./set. 2013. 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