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Farmacologia Camila Abreu – MED 100 Farmacologia do eixo hipotálamo-hipofisário Anatomia do hipotálamo e da hipófise: — Nós temos acima o hipotálamo, que é uma região do diencéfalo, localizado logo abaixo do tálamo. Abaixo do hipotálamo, nós temos a hipófise, glândula com o qual o hipotálamo mantém uma relação anatômica. — A hipófise é uma glândula que vai estar localizada repousando em um acidente ósseo do osso esfenoide, chamado sela turca. Ela é dividida em lobo anterior (adeno- hipófise) e lobo posterior (neuro-hipófise). — Existe também uma região intermediária, que é pouco desenvolvida em seres humanos, mas ainda sim possui alguma importância endócrina e farmacológica. — Essa figura esquemática nos demostra a relação entre o hipotálamo, a hipófise e as glândulas periféricas. Nós podemos perceber que essas três regiões do organismo trabalham de maneira integrada, para tentar buscar a homeostase do nosso metabolismo. Farmacologia Camila Abreu – MED 100 — O hipotálamo pode enviar tanto sinais positivos quanto negativos para a hipófise, que por sua vez pode enviar tanto sinais positivos quanto negativos para as glândulas, ou mesmo para o hipotálamo. As próprias glândulas periféricas podem enviar sinais também para o hipotálamo, muitas vezes inibindo a produção de alguns hormônios ou sinalizadores. MECANISMO DE FEEDBACK — A regulação e a contraregulação do eixo hipotálamo-hipófise-glândulas vai se dar por mecanismos de feedback. — Esse mecanismo regulatório e contraregulatório é muito fino e bastante complexo. Qualquer alteração em qualquer etapa desse mecanismo pode provocar alterações endócrinas importantes no nosso organismo. Feedback positivo (ou anteroalimentação): Os hormônios hipotalâmicos e hipofisários circulam até as glândulas alvo, onde ativam receptores, estimulando a síntese e a secreção hormonal nessa glândula. Níveis circulantes diminuídos atuam como gatilho. — Ocorre quando os níveis hormonais circulantes encontram-se baixos, isso vai fazer com que o hipotálamo e a hipófise enviem sinalizações através de seus hormônios para as glândulas periféricas aumentar a sua produção. Feedback negativo (ou retroalimentação): Com o estímulo das glândulas e o aumento dos níveis hormonais circulantes, recetores do hipotálamo e da hipófise são sinalizados a reduzirem os sinais do estímulo para as glândulas. — Vai se dar quando nós temos níveis hormonais circulantes altos. Isso faz com que haja uma inibição desse estímulo que, tanto o hipotálamo quanto a hipófise, causam nas glândulas. HORMÔNIOS HIPOTALÂMICOS O hipotálamo produz tanto hormônios que irão estimular a produção de hormônios hipofisários, como também irá produzir hormônios que irão inibir a produção de hormônios hipofisários. HORMÔNIOS DA ADENO-HIPÓFISE Hormônios somatotrópicos (GH, prolactina e lactogênico placentário) Hormônios glicoproteicos (TSH, LH, FSH, hCG) Hormônios derivados da POMC (ACTH e MSH) Farmacologia Camila Abreu – MED 100 HORMÔNIOS DA NEURO-HIPÓFISE Arginina-vasopressina Ocitocina HORMÔNIOS SOMATOTRÓPICOS GH (hormônio do crescimento): Sintetizado pelo somatotropos da glândula hipofisária; Secreção pulsátil irregular (máxima à noite); Secreção por toda a vida, variando por fases (a fase da pré-puberdade é a fase onde mais ocorre sua secreção, o máximo do indivíduo); — Ele vai atuar, através da síntese de proteínas, fazendo com que haja crescimento e aumento tanto da massa muscular quanto massa óssea. Estimulada pelo GHRH e pela grelina (hormônio da fome – produzida por algumas células do fundo gástrico e algumas células pancreáticas); Contra-regulador da insulina (ele tem efeitos anti-insulínicos – atuando principalmente pela diminuição da lipólise, ou seja, ele aumenta a degradação do tecido gorduroso, e diminuindo a utilização de glicose como fonte de energia); — O GH por si só não vai promover nenhuma alteração. Ele vai se ligar aos receptores das células periféricas e vai fazer com que algumas células dessas produzam um segundo mensageiro, que é chamado de IGF1 (fator de crescimento semelhante à insulina 1). Esse fator que vai atuar, induzido pelo GH, causando as alterações celulares relacionadas ao crescimento. Inibido pela somatostatina, IGF1 e pelo próprio GH; Afetado por: sono, estresse, exercícios, ingestão de proteínas, hipoglicemia, fatores emocionais. Efeitos fisiológicos do GH: Crescimento longitudinal dos ossos; Aumento da densidade óssea; Aumento da massa muscular; Aumento da taxa de filtração glomerular; Estimula diferenciação dos pré-adipócitos em adipócitos (aumento da lipólise); Ações anti-insulínicas, seja nos hepatócitos, nos adipócitos ou nas células da musculatura esquelética; — Essas ações insulínicas vão se dar principalmente pela diminuição da utilização de glicose e o aumento da quebra da lipólise. Interage com seus receptores teciduais: síntese de IGF-1. Excesso de GH: Adenomas de hipófise (tumores benignos secretores de GH); Adultos: acromegalia; — Vai se manifestar pelo crescimento das extremidades (mãos, pés, testa, queixo) e vai estar relacionada à artropatias, desenvolvimento da Síndrome do túnel do carpo, ao aumento de algumas vísceras, macroglossia e quadros de alterações metabólicas, como hipertensão, intolerância à glicose, cefaleia, letargia, sudorese excessiva e apneia do sono. A progressão do quadro geralmente é lenta, sendo o diagnóstico estabelecido tardiamente; Farmacologia Camila Abreu – MED 100 Crianças: gigantismo, pois as epífises ósseas ainda não são fechadas, e esse osso vai crescer de maneira longitudinal, levando à quadros de gigantismo; Diagnóstico: Teste de tolerância oral à glicose: Supressão do GH à níveis < 1 ng/dl Se não suprimir, há excesso de GH. Tratamento do excesso de GH: Em casos de adenomas, o tratamento é a cirurgia de retirada eletiva (via transfenoidal – acesso pela cavidade nasal, ressecando o tecido que está causando essa alteração); Tratamento com radiação tem complicações a longo prazo; Análogos da somatostatina (SST); Antagonistas do GH, que são aquelas drogas que irão se ligar aos receptores de GH, porém não vão transmitir para as células os sinais que o GH transmite. — O tratamento cirúrgico, muitas vezes, está indicado como primeira opção, pois o excesso de GH se dá principalmente pela presença de adenomas, que são tumores benignos que hipersecretam este hormônio e, portanto, fazem com que seus níveis sanguíneos fiquem constantemente elevados, causando todos os distúrbios. — Nos casos dos adenomas, podemos ter também sintomas compressivos. Os macroadenomas crescem comprimindo as estruturas que estão ao redor. A gente tem que lembrar que o quiasma óptico passa logo adiante da hipófise, então o crescimento que cause a compressão do quiasma óptico pode levar o paciente a ter sintomas neurológicos, como a diplopia (visão dupla). Análogos da Somatostatina: Octreotida (Sandostatin e Sandostatin LAR) Via subcutânea (100 mcg) - 3 vezes ao dia Meia vida de 90 minutos Duração de 12 horas Via intramuscular (octreotida LAR) 20 a 30 mg, 1 vez a cada 4 semanas. — A octreotida também tem outros papéis de atuação na prática médica, como para tratamento de hemorragia digestiva, contendo o sangramento, alguns casos de fístulas, principalmente pós-operatórios ou traumáticos do TGI. Lanreotida (Somatomulin autogel) Octopeptídeo Administrada via subcutânea profunda com liberação lenta Farmacologia Camila Abreu – MED 100 Supressão prolongada do GH 1 vez a cada 4 semanas 60, 90 ou 120 mg. Efeitos adversos: TGI (50%) - náuseas, vômitos, diarreia e dor abdominal. 25% micro-cálculos biliares Bradicardia Hiperglicemia ou hipoglicemia Queda de cabelos (rara) Antagonistas do GH: Pegvisomanto (Somavert) Liga-seao receptor de GH, mas não o ativa Administrado via subcutânea Dose de ataque 40 mg, manutenção com 10 a 30 mg/dia Monitorar função hepática, já que a administração dessa droga causa alteração em algumas enzimas hepáticas Efeitos adversos: induz anticorpos (15%), lipodistrofia, náuseas, diarreia. Deficiência de GH: Adultos: diminuição da massa muscular, capacidade de praticar exercícios, diminuição da massa óssea, aumento do risco cardiovascular. Crianças: baixa estrutura, atraso da idade óssea e redução da velocidade de crescimento. Causas: lesões hipofisárias, adenomas, traumas, radioterapia, cirurgia. Diagnóstico: teste de tolerância à insulina (0,1 U/kg) Tratamento da deficiência de GH: Somatotropina (GH recombinante) Hormônio peptídico administrado por via subcutânea (1x/dia) Indicações: deficiência de GH em crianças associada à baixa estatura, síndrome de Turner, síndrome de Noonan, síndrome de Prader-Willi, insuficiência renal crônica, síndrome do intestino curto. Contraindicações: não deve ser administrado em doença crítica aguda (politraumas ou cirurgias que complicaram de maneira grave) e neoplasia ativa. Dose: 25 a 50 mcg/kg via SC 1x à noite Efeitos adversos: papiledema, cefaleia, náuseas e vômitos. Em adultos pode causar edema, mialgia, artralgia. IGF-1 recombinante (mecasermina) Administrado por via subcutânea (1x/dia) Indicações: deficiência de crescimento por mutações dos receptores do GH ou nas vias de sinalização. Menos efetiva que a somatotropina. Contraindicações: não deve ser administrado em adultos com epífises fechadas e em neoplasia ativa. Dose: 40 a 80 mcg/kg via SC 2x por dia Efeitos adversos: lipo-hipertrofia, hipoglicemia, hipertrofia dos tecidos linfóides. Farmacologia Camila Abreu – MED 100 Prolactina (PRL): Sintetizada pelos lactotropos; Atuação predominante em mulheres (gravidez e lactação); Elevação nos ciclos menstruais (ovulação até menstruação); Sucção mamária aumenta o estímulo à secreção (até 10x); Inibido pela dopamina (regulação de predomínio inibitório); Declínio após vários meses da amamentação. Efeitos fisiológicos da PRL: Quase que limitados à glândula mamária; Indução do crescimento e diferenciação dos epitélios ductais e lobuloalveolares. Ativa genes que codificam proteínas do leite Não há síntese de hormônio no local de ação (glândula mamária) Há receptores em vários outros tecidos Outros efeitos ainda pouco conhecidos. Excesso de PRL: Pode resultar de doenças hipotalâmicas e hipofisárias Com frequência causado por adenomas Manifestações: Mulheres: galactorreia, amenorreia, infertilidade. Homens: perda da libido, disfunção erétil e infertilidade. Diagnóstico: RNM de sela turca. Tratamento do excesso de prolactina: Em casos de adenomas, o tratamento é a cirurgia de retirada eletiva (via transfenoidal) Tratamento com radiação Agonistas dos receptores de dopamina (tratamento inicial de escolha): bromocriptina, cabergolina. Bromocriptina (Parlodel) Liga-se ao receptor de dopamina (principalmente D2) Aumento da dopamina inibe a secreção de prolactina Administrado via oral, bem absorvida. Pouco biodisponível (7%) Metabolismo hepático e meia vida entre 2 a 8 horas. Normaliza PRL em 70 a 80%. Diminui o tumor em > 50% dos casos Efeitos adversos: náuseas, vômitos, cefaleia, hipotensão postural, congestão nasal, insônia (melhora com o tempo). Cabergolina (Dostinex) Liga-se ao receptor de dopamina (seletividade D2) Aumento da dopamina inibe a secreção de prolactina Administrado via oral, bem absorvida Metabolismo hepático e meia vida cerca de 65h Normaliza PRL em 80% dos pacientes. Eficaz em induzir remissão. Efeitos adversos: bem menos que a bromocriptina. Náuseas, vômitos, cefaleia, hipotensão postural. Cardiopatia valvar (doses altas). É a droga de escolha. Farmacologia Camila Abreu – MED 100 HORMÔNIOS GLICOPROTEICOS Grupo composto pelo TSH e gonadotrofinas (LH, FSH, CG) TSH: hormônio estimulante da tireoide (tirotrofina) LH: hormônio luteinizante FSH: hormônio folículo-estimulante CG: gonadotrofina coriônica GnRH: estimula as gonadotrofinas TRH: estimula TSH. LH (hormônio luteinizante) Homens Estimula as células de Leydig nos testículos a sintetizar testosterona. Mulheres Estimula células da teca a sintetizar androstenediona Ruptura do folículo durante a ovulação Estimula o corpo lúteo a produzir progesterona FSH (hormônio folículo-estimulante) Homens Atua nas células de Sertoli, estimulando a produção de proteínas e dos nutrientes necessários para a maturação dos espermatozoides Mulheres Estimula a produção de estradiol Estimula a expressão de receptores do LH Estimula o crescimento dos folículos ovarianos Gonadotrofina coriônica (CG) Sintetizada pelo sincíciotrofoblasto Também estimulada pelo GnRH que possui liberação pulsátil Produzida pela placenta apenas em primatas e equinos Atuam nos recetores de LH DISTÚRBIOS DO EIXO HIPOTÁLAMO-HIPÓFISE-GÔNADAS Farmacologia Camila Abreu – MED 100 Hipogonadismo hipogonadotrófico: Deficiência na produção dos hormônios sexuais por distúrbios hipotalâmicos ou hipofisários. Hipogonadismo Hipergonadotrófico: Deficiência na produção dos hormônios sexuais por distúrbios gonadais. Puberdade precoce: Puberdade antes dos 8 anos em meninas e 9 em meninos Infantilismo sexual: Incapacidade de iniciar a puberdade na época esperada Infertilidade: Incapacidade de conceber após 12 meses de relações não protegidas. Análogos agonistas do GnRH: Peptídeo sintético com sequência nativa do GnRH; Meias-vidas mais longas que o GnRH nativo; Puberdade precoce: administração contínua, pois por algum motivo, o SNC para de bloquear o hipotálamo, e o hipotálamo começa a liberar GnRH de maneira pulsátil, que é a maneira fisiológica da liberação desse hormônio, e estimula, assim, o início da puberdade. Quando administrado de maneira contínua, eu vou fazer feedback negativo, fazer down-regulation dos meus receptores de GnRH e, assim, a ação do GnRH na hipófise vai estar diminuída; Infantilismo sexual: administração intermitente/pulsátil, pois vai simular o estimulo que o hipotálamo faz na hipófise, pra poder desencadear o aparecimento dos carácteres sexuais secundários, através da produção de hormônios sexuais; Endometriose: administração contínua; Oncologia: tumores que respondem à estímulo hormonal (próstata e mama). Efeitos adversos: são bem tolerados no geral. Diminuição da densidade óssea, disfunção erétil nos homens e ressecamento e atrofia vaginal nas mulheres (ocorrem mais no uso prolongado) Formulações: Implantes subcutâneos: histrelina, gossorrelina, nafarrelina. Spray nasal: triptorrelina Leuprorrelina: SC, IM e oral. Análogos antagonistas do GnRH: Ganirrelix (Orgalutran), Cetrorrelix (Cetrotide) e Degarrelix (Firmagon) Administração via subcutânea Biodisponibilidade > 90% Indicações: Impedir elevação do LH e estímulo à ovulação prematura. Endometriose (extra-bula) Pacientes com câncer avançado de próstata (Degarrelix) Efeitos adversos: ondas de calor, ganho ponderal, reações locais, diminuição da densidade óssea. Farmacologia Camila Abreu – MED 100 Gonadotrofinas naturais e recombinantes: Tecnologia do DNA recombinante TSH, LH e hCG Uso diagnóstico: determinação de gravidez (fração beta da hCG) e determinação do momento da ovulação (pico do LH) Uso terapêutico: Infertilidade masculina: hCG via intra-muscular Criptorquidia: hCG via intra-muscular (até 2 anos de idade) HORMÔNIOS DA NEURO-HIPÓFISE OCITOCINA Estimula as contrações uterinas (3º trimestre de gestação) Atua na contração do mioepitélioque circunda os canais alveolares da glândula mamária (ejeção do leite) Estímulos: dilatação do colo uterino, sucção da mama, estradiol, dor, desidratação, hemorragia. Inibição: relaxina (peptídeo ovariano), etanol, progesterona (antagoniza o efeito da ocitocina) Atuação no SNC em pesquisa. Uso clínico: Indução do trabalho de parto: fármaco de escolha para indução do parto em mulheres com amadurecimento apropriado do colo uterino Trabalho de parto disfuncional (parto não progride) Prevenção da hemorragia pós-parto: ajuda a manter a contração e o tônus do útero após o parto. Vasopressina (ADH) Principal hormônio que regula a osmolaridade do líquido corporal Vasopressina sintética e desmopressina Receptores: V1a (vasos), V1b e V2 (células epiteliais dos túbulos renais) Aplicações terapêuticas da vasopressina e congêneres: Mediadas pelo receptor V1 (vasopressina) Mediadas pelo receptor V2 (desmopressina) Contração da musculatura lisa: vasoconstrição (receptor V1) Administração: IV, SC, IM, intra-nasal. Indicações: sangramento de varizes esofágicas, choque refratário à noradrenalina, cistite hemorrágica, PCR (já fez parte do protocolo) Efeitos adversos: Relacionados ao receptor V1: isquemia por vasoconstrição, náuseas, urgência para defecar, cólicas. Relacionadas ao receptor V2: intoxicação por água. Desmopressina Conservação da água endógena (receptor V2) Administração: IV, SC, oral e intra-nasal Indicações: Tratamento do diabetes insípido de origem central Tratamento da doença de Von Willebrand Efeitos adversos: Relacionados ao receptor V2: intoxicação por água Farmacologia Camila Abreu – MED 100 Antagonistas da vasopressina: Chamado de “aquaréticos” Aumentam a secreção de água livre com pouca atuação nos eletrólitos Indicação terapêutica: síndrome da secreção inapropriada de ADH (SIADH) Tolvaptana, Conivaptana. Efeitos adversos: efeitos no TGI, cefaleia, hiperglicemia, lesão hepática (tolvaptana), poliúria, desidratação, hipotensão, tontura, sede, xerostomia. Cuidado com a correção rápida da hiponatremia.
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